quarta-feira, 27 de junho de 2012

Intelectuais e artistas defendem asilo político para Assange - por David Brooks - La Jornada

Intelectuais e artistas defendem asilo político para Assange

Noam Chomsky, Michael Moore, Tariq Ali, Oliver Stone e Danny Glover, entre outros, entregaram segunda-feira (26) carta à embaixada do Equador em Londres, pedindo que seja concedido asilo político a Julian Assange, fundador do Wikileaks. Os signatários da carta defendem que se trata de um caso claro de ataque contra a liberdade de imprensa e contra o direito do público de conhecer verdades importantes sobre a política externa, além de uma séria ameaça à saúde e ao bem-estar de Assange (no caso de uma extradição para os Estados Unidos).

Nova York - Um amplo leque de intelectuais, artistas, cineastas e escritores de várias partes do mundo solicitaram ao governo do Equador que conceda asilo a Julian Assange, Fundador do Wikileaks, que se encontra refugiado na embaixada desse país em Londres.

Noam Chomsky, Michael Moore, Tariq Ali, Oliver Stone, o ator Danny Glover, o comediante Bill Maher, Daniel Ellsberg, ex-analista militar famoso por divulgar os Papeis do Pentágono durante a guerra do Vietnã, e Denis J. Halliday, ex-secretário geral assistente da Organização das Nações Unidas, entre dezenas de outras personalides, assinaram a carta de apoio ao pedido de Assange de asilo político, a qual foi entregue segunda-feira (26) à embaixada do Equador em Londres.

Afirmaram que por se tratar de um caso claro de ataque contra a liberdade de imprensa e contra o direito do público de conhecer verdades importantes sobre a política externa, e porque a ameaça à saúde e ao bem-estar é séria, pedimos que seja concedido asilo político ao senhor Assange.

O fundador do Wikileaks ingressou na sede diplomática equatoriana a semana passada para evitar sua extradição para a Suécia. Os signatários da carta entregue ontem concordam com o agora fugitivo (rompeu as condições de sua detenção domiciliar ao entrar na sede diplomática) que há razões para temer sua extradição, pois há uma alta probabilidade de que, uma vez na Suécia, seja encarcerado e provavelmente extraditado para os Estados Unidos.

O governo de Barack Obama realizou um processo conhecido como grande júri para preparar uma possível acusação legal criminal contra Assange, ainda que o procedimento seja secreto até emitir sua conclusão. Além disso, meios de comunicação relataram que os departamentos de Defesa e de Justiça investigaram se Assange violou leis penas com a divulgação de documentos oficiais.

Os signatários sustentam que esta e outras evidências mostram a hostilidade contra Wikileaks e seu criador por parte do governo estadunidense, e que se ele fosse processado conforme a Lei de Espionagem nos Estados Unidos poderia enfrentar a pena de morte. Além disso, acusam o tratamento desumano ao qual foi submetido Bradley Manning, o solado acusado de ser a fonte dos documentos vazados para Wikileaks.

“Reivindicamos que seja outorgado asilo político ao senhor Assange, porque o ‘delito’ que ele cometeu foi o de praticar o jornalismo”, afirmam na carta. Assange revelou importantes crimes contra a humanidade cometidos pelo governo dos Estados Unidos. Os telegramas diplomáticos revelaram as atividades de oficiais estadunidenses atuando para minar a democracia e os direitos humanos ao redor do mundo, acrescentam.

A carta, entregue por Robert Naiman, diretor da organização estadunidense Just Foreign Policy, autora da iniciativa, foi acompanhada de outra petição assinada por mais de 4 mil estadunidenses que solicitam que o governo do Equador conceda asilo a Assange.

A íntegra da carta pode ser vista em justforeignpolicy.org/node/1257.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Mohammed Morsi toma posse no Egito - por Latuff

Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

Hipótese sobre a estratégia dos EUA - Por Flavio Lyra*

Ao estimular deposição de Lugo, Casa Branca pode ter procurado cercar Brasil e Argentina, além de criar contencioso em Itaipu

Só ingênuos podem admitir que o golpe parlamentar que destituiu o presidente Lugo do Paraguai, no dia de ontem, não tem o dedo do Pentágono. Essa nova modalidade de golpe, inaugurada em Honduras em 2009, que destituiu o presidente Zelaya, articulada na base aérea que os Estados Unidos mantém naquele país centro-americano, teria sido mais uma vez aplicada com sucesso, ao menos, por enquanto.

É uma grande coincidência que tais fatos ocorram contra governos de esquerda que tentam realizar reformas em favor dos segmentos mais pobres da população, particularmente reformas agrárias. Tanto Zelaya, quando Lugo vinham tentando melhorar o acesso à terra a camponeses secularmente explorados por grandes latifundiários e realizar ações de proteção social aos segmentos mais pobres da população.

Não surpreende a atitude ambígua que o governo dos Estados Unidos adotou, inicialmente, no caso de Honduras e, posteriormente, favorável à substituição do presidente Zelaya. Agora, a história repete-se com o governo dos Estados Unidos achando que a destituição abrupta do presidente Lugo respeitou as regras do jogo democrático, quando nitidamente tratou-se de um conluio dos partidos derrotados na última eleição para livrar-se de um presidente vinculado a causas populares.

É muito provável que o pequeno Paraguai se dispusesse a confrontar as regras do Mercosul e da Unasul, entrando em conflito com seus dois vizinhos Argentina e Brasil, se não contasse com o estímulo e proteção do governo norteamericano. Certamente, que os governos do Brasil e da Argentina vacilaram claramente ao não acompanharem o desenvolvimento da conjuntura política no Paraguai, mormente quando se sabe que Washington estreitou muito suas relações com o Chile, depois do governo direitista de Piñera, e vinha realizando gestões para construir uma base militar no Paraguai. Tem sido denunciada a intenção de estabelecer um cerco a Brasil e Argentina.

Do ponto de vista da oligarquia paraguaia nada mais conveniente do que buscar apoiar-se no grande irmão do Norte para manter seus privilégios em desfavor da maioria do povo paraguaio, pois certamente não contaria com a boa vontade de Brasil e da Argentina, cujas políticas econômicas têm forte conteúdo social.

Agora, o problema está criado, pois estamos ameaçados em interesses muito concretos como é a manutenção dos acordos regionais do Mercosul e da Unasul, sem contar que existe a empresa binacional de Itaipu, importante fornecedora de energia para o Brasil, construída na fronteira entre Brasil e Paraguai.
Washington pode muito bem estar contando com o isolamento do Paraguai, no âmbito da região, para estreitar suas ligações com esse pequeno país e transformá-lo em ponta de lança contra as pretensões de maior autonomia de Brasil e Argentina.

No mundo atual, em que é notória a ação intervencionista generalizada, explícita e oculta, das grandes potências, especialmente dos Estados Unidos, nos países mais frágeis, especialmente os mais dotados de recursos naturais estratégicos, qualquer descuido dos organismos responsáveis pela segurança interna em relação ação dos órgãos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e outras potências pode acarretar funestas conseqüências para a segurança nacional.

Não me admiraria se algum dia vier a ser constatado que a crise do “mensalão”, durante a qual foi ensaiada uma tentativa de golpe, visando a destituição do presidente Lula, tenha contado com o apoio dos Estados Unidos. O denunciante do esquema, o deputado federal Roberto Jeferson, conhecido por sua atuação em episódios obscuros, poderia muito ter sido cooptado pelo departamento de Defesa dos EUA, para dar a sua denúncia o teor que assumiu. Suspeito fortemente que o que se denominou mensalão foi uma das operações, ilegais, porém freqüentes, com que tem sido financiadas as campanhas eleitorais no país, mediante o uso de “caixa 2” de empresas privadas ou públicas.

Não há por que não admitir que as ações que os Estados Unidos e as grandes potências vêm realizando de desestabilização dos governos de vários outros países, como acontece no Oriente Médio, inclusive com o fornecimento de armamento, não possam estar em vias de acontecer na América do Sul. Portanto, senhores governantes, não nos deixamos enganar pela cordialidade aparente dos ministros e governantes das grandes potências. Seus interesses, como tais, estão sempre em primeiro lugar e eles não hesitam em mobilizar meios, nem sempre os mais lícitos, para defendê-los.

Os Demóstenes Torres, Carlinhos Cachoeira e muitos outros infiltrados nas altas esferas do poder público e do setor privado e da grande imprensa, são candidatos naturais a montar esquemas de desestabilização dos governos democráticos, em associação com os serviços secretos das grandes potências e grupos políticos internos ameaçados em seus privilégios. É preciso combatê-los com toda a energia, sob pena de “só fecharmos a porta depois que o ladrão esteja dentro de casa”.

Flávio Lyra é economista e ex-técnico do IPEA. Cursou doutorado de Economia na Unicamp. 
Fonte: http://www.outraspalavras.net/

segunda-feira, 25 de junho de 2012

A tranquila vida dos torturadores da ditadura militar no Brasil - por Latuff

Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

“Não plantamos por lucro, mas para preservar nosso território”, diz ativista palestino – por João Novaes

“Não plantamos por lucro, mas para preservar nosso território”, diz ativista palestino

Taha Rifai conta uma história de resistência de agricultores contra décadas de abusos e invasões

Além de partilhar com as tradicionais lutas e desafios das organizações camponesas espalhadas por todo o mundo, os trabalhadores agrícolas nos territórios ocupados da Palestina são obrigados a lidar com o desafio de uma ocupação estrangeira que, ao longo de décadas, tem minado a economia local e gerado conflitos em razão da expansão contínua das colônias israelenses. A situação chegou a um ponto em que insistir em se manter como agricultor deixou de ser um meio de vida, mas uma forma de resistência para se preservar o território e a identidade de um povo.

Esta é a situação relatada por Taha Rifai, diretor da UAWC (sigla em inglês para União dos Comitês de Trabalhadores Agrícolas palestinos), uma das mais antigas associações de agricultores da região, fundada desde 1986.

Praticamente toda a área arável da Cisjordânia está sob total controle israelense. Nesse cenário, agravado pelos bloqueios e expansão das colônias, a situação dos trabalhadores rurais é quase insustentável. “Todo agricultor palestino vive em situação precária, é quase impossível obter lucro nesse setor. Somos todos endividados e nosso mercado não tem potencial. Mas continuamos a trabalhar nas terras. Porque se as abandonarmos, elas serão confiscadas [por Israel] assim como nossa identidade. Continuamos na agricultura não apenas como meio econômico, mas como estratégia para proteger nosso território”, explica.
Taha Rifai participou da Marcha dos Povos, que reuniu 100 mil pessoas nas ruas do Rio de Janeiro

Rifai esteve no Rio de Janeiro para participar da Cúpula dos Povos, que se encerrou neste sábado (23/06) como convidado da Via Campesina, e concedeu uma entrevista à reportagem de
Opera Mundi durante uma manifestação de cem mil pessoas contra as decisões da Rio+20 e a ascensão do conceito da economia verde – sendo a soberania alimentar uma das alternativas apresentadas. Mas, para Rifai, não é possível haver soberania alimentar sem a soberania de um povo em relação à sua própria terra – e muito menos à água ou ao próprio mercado interno.

“A Palestina é, essencialmente, uma terra agrícola. E a agricultura é nossa principal fonte de renda. Não temos como desenvolver indústrias em razão das restrições israelenses”, explica.  O principal produto de exportação é, de longe, o azeite de oliva, voltado para o mercado exterior, em especial os países árabes, europeus e o Brasil em um nível considerado simbólico. “Chegamos à Coreia do Sul e agora esperamos agora expandir para a Alba”, afirma.

No entanto, não só as exportações, mas o próprio ato de plantar em terras palestinas está se tornando cada vez mais simbólico, segundo o ativista. Isso porque há gerações tem ocorrido uma massiva ocupação de terras e expulsão dos residentes. “É muito difícil encontrar as terras que nossos tataravós plantaram e ver alguns colonos simplesmente chegarem e as tomarem. A intenção deles não é apenas tomar a terra, é mudar nosso conceito de terra natal. Eles apagam os vestígios do que havia antes e a transformam em outra coisa”.

A situação, segundo Rifai, é ainda mais critica para os camponeses que vivem próximos às colônias de ocupação. “Em muitos desses locais, durante centenas de anos tivemos oliveiras, que agora estão perto das colônias ou do muro de separação. Os colonos são muito agressivos e atacam os fazendeiros palestinos. Assim, impedem nosso acesso às nossas próprias terras fazendo com que as oliveiras sequem e morram. Dessa maneira fica muito mais fácil para eles confiscarem-nas depois”, explica.

Para Rifai, é uma situação única, pois os agricultores não tem qualquer proteção legal e a violação dos direitos humanos contra eles é uma constante.

Além dos colonos, há ainda mais um fator que pesa a favor do confisco das terras: as ações do exército israelense. “Basta um soldado de qualquer patente dar uma ordem alegando que você está plantando em uma zona militar e você está impedido de entrar em suas terras.  Depois elas são desapropriadas”, conta Rifai.

Esta realidade, depois das duas intifadas, tem se degradado a cada ano. “Porém, optamos por resistir pacificamente, assim conseguimos escancarar a cara feia do regime”.

Dificuldades
Outro fator que dificulta muito o cultivo nas terras palestinas é o acesso à água, controlado por Israel. “Não temos o suficiente para nossos cultivos. Roubam a água de nosso subsolo e a direcionam para eles. Dos territórios palestinos, o governo tira anualmente 625 milhões de metros cúbicos de água e dá aos palestinos apenas 25 milhões de metros cúbicos”, afirma.
Palestino trabalhando em agricultura perto do Muro da Separação na cidade de Qalqilyia, na Cisjordânia 

Se, depois disso, eles ainda conseguem realizar uma colheita de sucesso, podem ter ela toda destruída pelas restrições de mobilidade. “Nossos produtos, depois de tanta dificuldade para serem cultivados, são impedidos de chegar aos mercados. Eles chegam aos pontos de controle frescos e são destruídos ou apodrecem lá, após horas, às vezes dias de espera”. Ele conta que, quando se chega a períodos difíceis como a Intifada, todos os produtos são barrados, especialmente no Vale do Jordão.

“E, para piorar, tem a falta de regulação do mercado. Os produtos israelenses chegam a nossos mercados sem qualquer proteção e destroem nossa concorrência com preços mais baixos. Depois que eles nos quebram, sobem esses preços de maneira estratosférica e obtêm um tremendo lucro”, diz.

Nesse cenário, Rifai considera muito difícil que, no futuro, a “solução dos dois estados” consiga ser efetivada no futuro. “Com todas essas colônias, muros, pontos de controle e enclaves, não há possibilidade de um estado palestino viável. Os procedimentos de Israel enterram o caminho para a possibilidade de um Estado palestino. Porém, podemos sonhar com um estado democrático para todos, onde judeus, muçulmanos, e cristãos tenham todos direitos e deveres. Isso é mais realista do que os dois estados. Não porque uma ideia seja certa e a outra errada. Estou falando da realidade, pois, todo o território palestino está cortado”.

Fonte: http://operamundi.uol.com.br/

Com golpe contra Lugo, Paraguai volta a ser o latifúndio que sempre foi - por Latuff

Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

[EUA] O que faria a Emma Goldman? - por ANA

[EUA] O que faria a Emma Goldman?
No seu livro mais recente, “Emma Goldman: A Revolução como forma de vida”, Vivian Gornick examina a vida e o pensamento da grande anarquista e dissidente americana. David Johnson, editor da Web BR, falou com ela, na semana passada [17 de outubro de 2011], acerca do seu novo livro e da psicologia dos radicais e dos protestos do Occupy Wall Street.

David Johnson > Antes de escrever o livro já era admiradora da Emma Goldman? Conhecia muito acerca dela?
Vivian Gornick < Conhecia-a na forma de clichê, a de uma criança que cresce no seio de uma família de esquerda e que conhece certas figuras marcantes. Ela era conhecida como amiga da classe trabalhadora internacional. A classe trabalhadora era santa, heroica, intocável e todos os que eram associados à causa do trabalhador eram heróis. E isso era tudo o que eu conhecia.

DJ > Ao pesquisar para o livro, descobriu algo surpreendente sobre ela?
VG < Muitas coisas foram surpreendentes. Emma Goldman foi uma pessoa de contradições internas enormes e disse e fez muitas coisas que deixariam a minha mãe de boca aberta. Tinha muitas facetas e compulsões que deviam ter sido chocantes para as pessoas daquela geração, para as quais ela era simplesmente um ícone.

DJ > O livro oferece um retrato psicológico profundo de Emma Goldman, em vez de uma biografia histórica tradicional. Acha que existe algo como uma psicologia de um radical ou dissidente? E, em caso afirmativo, em que medida a Emma representa isso?
VG < Para mim, Emma foi o protótipo da rebeldia. Acho que é isto o que caracteriza os radicais de esquerda: a recusa profunda de aceitar o mundo como ele é, quando sentem que é injusto, desafiando a autoridade quando essa autoridade é injusta. Acho que existe um temperamento que leva uma pessoa a ser ativista, é o caso dela; ela constitui o primeiro exemplo disso.

DJ > O que pensa que ela faria em relação aos atuais protestos do Occupy Wall Street?
VG < Acho que ela iria diretamente para lá. Aliás, eu ainda não fui mas planejo ir esta semana. Pelo que entendi, não têm um orador “profissional”, eles funcionam tomando a palavra, de uns para outros.

DJ > O microfone um a um?
VG < Sim, é uma tática maravilhosa. Mas se a Emma estivesse lá, estaria em cima de uma caixa de sabão, fazendo em dois segundos a sua declaração, a pleno pulmões, a qual se poderia ouvir até ao rio. Acredito que adoraria. Diria que está na hora. Há já longo tempo.

DJ > Vai falar? Ou só irá na de “tomar tudo”?
VG < Não, vou até lá, dar uma olhada e talvez participar.

DJ > Admito que fiquei muito entusiasmado ao ler este livro, considerando o estado das coisas. Muitas pessoas acham que precisamos de mais ativismo: precisamos ter raiva, sair às ruas, precisamos ter alguma dessa paixão de Emma Goldman.
VG < Então, o que podemos aprender dela? Foi uma grande insurreta, desafiadora da injustiça da autoridade. Ela estava sempre nas ruas. Ela é uma figura maravilhosa para ser invocada nestes tempos. Isso é verdade, mas sabemos o que acontece com as grandes figuras radicais: não podem fazer com que o movimento exista. Podem só conduzi-lo se este está a acontecer.
Não estamos a viver tempos políticos. Não é o momento para fazer um discurso na rua para 10.000 pessoas como nos anos 60. Tudo o que está acontecendo em Washington...
Obama está sempre a ser comparado com FDR [Franklin Delano Roosevelt] e a Grande Depressão, mas quando o Roosevelt abriu a boca e sugeriu a reforma, e que reforma, todo o país o seguiu, aplaudindo nas ruas. Obama – que é de fato um presidente assustadoramente decepcionante – está mais fraco por não ser apoiado pelas pessoas. Precisamos saber quantas Emma Goldman há nos nossos dias cujas vozes estão a ser abafadas em vez de ser seguidas. É possível que o movimento Occupy Wall Street se vá espalhar, chegando a ser um movimento popular e a ter os efeitos que tiveram os movimentos pacifistas do Vietnam e acho que muitas pessoas pensam da mesma maneira que eu, vamos ver. Mas não é possível haver uma Emma Goldman a surgir do nada que tenha o poder de virar a maré da crescente atmosfera da extrema-direita.

DJ > Questiono-me se o tempo dos “líderes” como Emma Goldman já não passou...
VG < Não, não passou, não é só aqui agora. Não é passado enquanto tivermos um futuro, enquanto estivermos vivos. Emma foi considerada louca porque falava eloquentemente em público sobre a sua autolibertação. É por isso que amava os Estados Unidos da América.

DJ > Porém, quando se olha para os protestos do Occupy Wall Street, observa-se que estes são baseados no modelo de um coletivo sem liderança.
VG < É o estilo do momento, acho que foi uma das razões pelo qual a revolta egípcia inicial foi maravilhosamente não violenta e sem liderança no início: eles colocaram a liderança do mundo em torno deles, com o qual tiveram contato profundo, devido à tecnologia. Quando a usaram, continuaram a dinâmica de acreditar que poderia ser dessa forma. É um período intensamente democrático, mais do que nunca, e assim, não, não acho que as vozes como a de Emma vão surgir em breve. Não temos uma atmosfera revolucionária, agora.

DJ > Uma das coisas que achei interessante foi o fato da Emma se ter identificado tão fortemente com a América e quão desanimada ficou com o exílio forçado na Rússia em 1919. Mas eu ainda não entendi porque é que ela achava a América o lugar certo para ela e para as suas políticas radicais. Com tantos lugares radicais, por exemplo, na Europa, porque é que achou a América o lugar certo para ela?
VG < Porque a essência do anarquismo que floresceu nela foi a questão da individuação: o indivíduo que se experimenta a si próprio de maneira internamente livre. Ela foi mais devotada à ideia da autolibertação do que a qualquer outro aspecto do anarquismo - essa é uma característica americana de anarquismo, o tema da autolibertação - e essa não estava na agenda dos anarquistas europeus.
Em vez disso, eles dedicaram-se à busca de alternativas para o governo central e para o sistema de comunas. Como eu afirmo no livro, os heróis dela não eram políticos, mas sim literários e filósofos - Thoreau, Emerson e Whitman. Ela era grande admiradora das pessoas que falavam eloquentemente acerca da autolibertação. Por esta razão amava os Estados Unidos e ficou surpreendida tanto quanto qualquer outra pessoa quando se viu ser deportada. Na verdade, nunca superou esse momento.

DJ > Ela escreveu um livro acerca dos anos vividos na Rússia bolchevique no qual tomou uma posição muito crítica em relação a ela, o que lhe custou muitos amigos dentro da esquerda radical.
VG < Famosamente crítica. Não diz nenhuma coisa positiva. Naquela época muitas pessoas de esquerda ainda estavam dispostas a simpatizar e compreender a revolução russa, mesmo depois de esta ter começado a azedar. Era apenas 1920 e alguns estavam dispostos a ver o bem que a revolução fazia, mas ela não estava disposta a fazê-lo, nem por um segundo. Houve uma luta enorme a acontecer nas mentes e corações de muitas pessoas na Rússia com quem ela não simpatizava. Ela viu as coisas muito a preto e branco, como o fez mais tarde durante a guerra civil espanhola, quando os anarquistas estavam a ser derrotados pelos comunistas e aqueles escolheram acomodar-se e fazer acordos com os comunistas. Ela nunca perdoou, achava que deviam ter ido embora, debaixo de fogo. Emma era assim.

DJ > Juntamente com a sua falta de simpatia e cegueira em relação à complexidade das situações, também escreve que ela nunca teve qualquer conhecimento real da força motivadora por trás do seu próprio comportamento.
VG < Não, não tinha. Como exemplo que nunca assumiu a sua própria experiência, que nunca aprendeu com ela e que se autojustificou até ao fim, recorri à sua vida amorosa. Fez uma gloria enorme do amor romântico e insistiu que era a chave para a libertação: esse amor, esse desejo sagrado é a melhor coisa que alguém jamais poderá experimentar e que te transformará num qualquer tipo de pessoa milagrosa, e claro que isso não aconteceu.
Repetidamente não aconteceu. E ela não assumiu esta realidade psicológica para perguntar “Porque estou a fazer isto?”. Qualquer pessoa hoje, com o mínimo de capacidade ia perguntar “Porque estou a fazer isto repetidamente e o que é que isto revela sobre mim mesma? Mas ela nunca seguiu este caminho.

DJ > Pergunto-me se ela leu Freud.
VG < Ela leu Freud. Tirou dele o que queria e ignorou o restante [risos].

DJ > A respeito da sua relação com o feminismo, você escreve: "Emma Goldman não era uma feminista, ela era uma radical sexual o que fez dela uma defensora do controle da natalidade e do sexo sem casamento, mas não uma defensora dos direitos das mulheres como o termo é geralmente entendido”.
VG < Não, não foi e isso é evidente na sua crítica da mulher moderna. Ela disse que a mulher moderna se tornou dura e não feminina, que desistiu do amor e de tudo o resto, coisas que ela considerava de importância primordial. Dizia que o amor é a coisa mais importante da vida de uma mulher, disse que ter filhos é a coisa mais importante que pode acontecer na vida de uma mulher; isto não consta na agenda dos direitos das mulheres. Os direitos das mulheres é um movimento pela igualdade. Isso não lhe interessou de todo e nem os apoiava – não lhe interessava minimamente.

DJ > No fim do livro afirma que a expressão “O Pessoal é Político”, é legado de Emma. Acha que absorvemos completamente o ideal de que “O Pessoal é Político”?
VG < Eu posso-o fazer, na medida em que as pessoas estabeleceram uma série de “sentimentos próprios feridos” segundo a terminologia publicitada nos anos sessenta. Todos os movimentos nos anos sessenta surgiram do testemunho pessoal: levantamo-nos e dissemos: “Isto é o que somos, isto é o que sentimos, isto é o que precisamos para nos sentirmos humanos e vivemos num mundo que não nos dá o que necessitamos para nos sentir humanos”. É como vejo “O Pessoal é Político”, exatamente como acabei de parafrasear: para se exigir a um governo e à cultura o que permite às pessoas sentirem-se humanas e tomar cuidado com o que nos faz sentir inumanos.
David Brooks escreveu uma obscena coluna no Times, quando disse [parafraseando]: “Todos estão lá fazendo de vítimas, o mundo não funciona assim. 99% das pessoas autodenominam-se vítimas e estão contra os 1% como se isto fosse resolver todos os problemas”. Foi nojento. Geralmente gosto dele, é razoável, mas foi horrível descrever desta maneira o que se passou nesse dia. “99% fazem de vítimas”. Isto é todo o país! Foi uma loucura.

DJ > Ele é inteligente, mas pode ser muito escorregadio.
VG < Foi uma rejeição dolorosa do significado do que estava acontecendo. É certamente possível que porta-vozes possam sair dos protestos, mas não é o que é necessário neste momento. Quando se olha para o movimento dos anos sessenta contra a guerra, não acho que houve heróis em particular. Foi um movimento verdadeiramente democrático. Se estes protestos continuarem e se tornarem um movimento genuíno, devem ser capazes de pôr um pouco de espinha dorsal na administração de Barack Obama, fazendo-o aumentar os impostos, pelo menos isto, se nada mais. Occupy Wall Street é um agrupamento diverso, mas é uma revolta do povo. Veremos o que faz…
Portanto não, não é o momento para a Emma, mas não se esqueça do tempo em que ela vivia e de todos os anarquistas e comunistas que se tornaram famosos. Eram contra a mais inumana das épocas - a industrialização. Então, face a essa pressão, as pessoas sensatamente enfrentaram-na e quando o fizeram deu-se uma revolução. Mas as pessoas como ela e o Lenin estão intimamente ligadas à revolução, e nós não temos uma revolução agora.

DJ > Não. Pelo menos ainda não.
VG < [risos] Não.

DJ > Vai ser interessante ver o que as próximas décadas nos trazem.
VG < Devemos viver e estar bem para ver o que trazem as próximas décadas.

Tradução > Anita N.
agência de notícias anarquistas-ana
pousada na lama,
a borboleta amarela,
com calor, se abana
Alaor Chaves

sexta-feira, 22 de junho de 2012

E depois querem que acreditem na Comissão da Verdade!

E depois querem que acreditem na Comissão da Verdade!
Os políticos brasileiros mentem!
Enganam o povo descaradamente!

Entope-nos com suas falácias e fábulas inescrupulosas!

E sempre continuam a mentir, e a cada dia mais e mais mentiras!
O Brasil continua crescendo e dando frutos aos poderosos, e seu povo continua sem saneamento básico, sem educação, sem solução!
O povo que mora em ocupações é tratado como bandido, é vitimado pela sua própria falta de chance e de oportunidade, e quando estão “atrapalhando” são varridos pelos cães do Estado com suas bombas de EFEITO MORAL.

Continuamos abandonados a própria sorte!

Provos Brasil

As ilusões fatais das potências decadentes - Por Immanuel Wallerstein

Wallerstein: em países como EUA e Israel, nem governos, nem sociedades enxergam seu declínio relativo. Tal cegueira produz erros desastrosos

Blowback [algo como revertério] é um termo criado pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA). Significava originalmente significava as consequências negativas não intencionais, infligidas a um país por suas próprias operações de espionagem. Por exemplo, se uma operação secreta da CIA levasse a um ataque de represália contra cidadãos norte-americanos que não estavam cientes da iniciativa, isso era considerado um blowback. Mas hoje, muitas operações não são secretas (por exemplo o uso de drones no Paquistão ou no Iêmen). E os ataques de represália muitas vezes são assumidos publicamente. No entanto, alguns países parecem não deixar de se envolver em tais operações.

Precisamos de uma definição mais útil de blowback, para explicar como e por que eles estão ocorrendo em muitos lugares. Penso que o primeiro elemento é que os países envolvidos com operações desse tipo são, sim, poderosos – mas menos poderosos do que acostumaram-se a ser. Quando estavam no ápice de seu poder, podiam desprezar os blowbacks, por serem desdobramentos limitados e não-intencionais. Mas agora que são menos poderosos, as consequências não são tão reduzidas. Ainda assim, parecem sentir necessidade de lançar tais operações com ainda mais força e ainda mais abertamente.

Vamos analisar dois casos famosos de blowback. Um deles envolve os Estados Unidos. Nos anos 80, Washington queria expulsar o exército da União Soviética do Afeganistão. Para isso, apoiou o mujahidin. Um dos líderes mais famosos dos grupos que os EUA apoiaram era Osama Bin Laden. Assim que as tropas soviéticas se retiraram, Osama Bin Laden criou a Al-Qaeda e começou a atacar os Estados Unidos.

Um segundo caso diz respeito a Israel. Nos anos 70, Telaviv considerava Yasser Arafat e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) seus principais oponentes. Buscando enfraquecer organização, financiou-se um braço palestino da Irmandade Muçulmana, conhecido como Hamas. O Hamas cresceu, e de fato enfraqueceu a OLP de alguma forma. Mas em certo ponto, tornou-se um oponente mais efetivo ao Estado israelense que a própria OLP havia sido.

Hoje, todos sabem desses acontecimentos. Outros, envolvendo Grã-Bretanha e França, também poderiam ser citados, e a lista de países que sofreram blowbacks é ainda maior. Então, pergunta-se:, por que eles continuam agindo de forma que parece enfraquecer seus próprios objetivos? Fazem isso exatamente porque seu poder está declinando.

Precisamos enxergar o tema como uma questão de temporalidade nas políticas de estado. Os blowbacks ocorrem quando as potências em declínio envolvem-se em ações que, a curto prazo, alcançam os objetivos imediatos; mas, a médio prazo, apressam ainda mais o declínio – portanto, a longo prazo, são auto-derrotas. A decisão mais óbvia das potências declinantes seria não reiniciar o ciclo. As operações secretas já não funcionam para alcançar os objetivos do país a longo prazo.

Voltando aos exemplos: será que o presidente Obama e o primeiro-ministro Netanyahu não entendem as consequências do que fazem? E se entendem, por que continuam essas operações, até mesmo vangloriando-se delas? Na realidade, penso que os dois chefes de governo, e também os serviços de inteligência dos dois países entendem a ineficácia das operações. Mas eles enfrentam dilemas imediatos.

Primeiro, eles são políticos, interessados em permanecer no poder. Ambos enfrentam, em seus países, forças políticas para as quais suas políticas não são suficientemente agressivas. E nenhum confronta-se movimentos políticos fortes que reivindiquem uma revisão radical das políticas nacionais. Em outras palavras, a extrema direita é, nos dois países, muito forte; e a esquerda, mesmo que moderada, é fraca. A razão de fundo para isso é que a opinião pública não aceita, em nenhum dos dois países, a realidade do declínio relativo de poder.

O que os líderes podem fazer é esconder – até certo ponto – que empurram os problemas com a barriga. Mas como as atividades de inteligência tornaram-se, na prática, muito mais transparentes, eles só podem fazer isso por algum tempo. Quando a possibilidade se esgota, eles passam a acreditar, para se manterem no poder no curto prazo, devem conservar políticas que, conforme sabem, não vão dar certo a longo prazo.

There is another reason. Obama hasn’t given up on one impossible dream – restoring the United States to a position of unquestioned hegemony. And Netanyahu hasn’t given up on another impossible dream – a Jewish state of Israel in the entire former British Mandate. And if they won’t renounce these dreams, they certainly cannot assist their peoples into coming to terms with the new geopolitical realities of the world-system and to the realities of their country’s decline in relative power.

Há outra razão. Obama ainda não desistiu de um sonho impossível – restaurar a posição de hegemonia inquestionada dos Estados Unidos. E Netanyahu não desistiu de outra quimera – um Estado judaico-israelense muito ampliado, abrangendo as fronteiras do antigo Mandado Britânico na Palestina. E se eles não desistirem desses sonhos, certamente não poderão ajudar os cidadãos a entenderem as novas realidades geopolíticas do sistema-mundo e a própria realidade de que o poder de seus países está em declínio.



Tradução: Daniela Frabasile | Imagem: Sileno bêbado (1616), de Peter Paul Rubens

CUBATÃO+20: Da série tem coisas que não dá para entender em Cu-batão, ou tem coisas que só acontecem em Cu-batão - por Moésio Rebouças

Da série tem coisas que não dá para entender em Cu-batão, ou tem coisas que só acontecem em Cu-batão

Enquanto a prefeita de Cubatão, Marcia Rosa (PT), “toda serelepe” anuncia a criação de um Centro de Pesquisa e Gestão Ambiental no Parque Ecológico Cotia-Pará, em Cubatão, financiado pela Ecopátio, empresa do bilionário grupo Ecorodovias.

No mesmo parque...
Existe um “selvagem elefante branco comedor do dinheiro público” que supostamente seria um espaço de educação ambiental que, pasmem, está em construção há mais de 6 anos, e que já faz parte do “seleto” grupo de obras inacabadas e abandonadas pela Prefeitura de Cubatão.
Em 2006...
As autoridades da época expuseram que o espaço contaria inicialmente “com auditório para 150 lugares, sala para exposições, sala com biblioteca e multimídia (áudio e vídeo), espaço para jogos didáticos, cascata, lago artificial, além de abrigar o Museu da Água”. Neste mesmo ano o projetou saiu do papel, mas em poucos meses a obra foi abandonada.

A primeira fase do projeto...
Contou com o apoio da Petrobras-Cubatão, por meio do Programa Remar-Seleção de Projetos Sociais e Ambientais da Baixada Santista. Infelizmente eu não sei o valor dos recursos repassados pela Petrobras ao Poder Público por meio da Organização Não Governamental (ONG) Associação de Educação Ambiental “Cubatão de Bem com o Mangue”.
Em 2009...
As obras foram retomadas pelo governo Marcia Rosa, com nova injeção financeira da Petrobras-Cubatão, mas desconheço os valores envolvidos na “parceria” e se alguma Organização Não Governamental (ONG) foi usada como “ponte”.

Contudo...
Por incrível que possa parecer, novamente, os trabalhos foram paralisados. O prédio está abandonado há mais de um ano, sendo tomado pelo limo, mofo e mosquitos da dengue; e ninguém sabe quando a obra será retomada e inaugurada.

Mas, o maior escândalo é...
A bilionária holding EcoRodovias receber, em 2007, de “mão beijada” da Prefeitura de Cubatão um enorme terreno público e construir um grande e poluidor estacionamento de caminhões para explorar por 30 anos – há anos em funcionamento-, e “só” depois de 5 anos anunciar uma “generosa-amorosa-caridosa-contrapartida”: a criação de um Centro de Pesquisas e Gestão Ambiental que até agora ninguém sabe o valor, aonde exatamente vai ficar no Parque Ecológico Cotia-Pará, entre outras coisas.
Enfim, só rindo...  
Ou como governantes e poderosos de plantão adoram um povo submisso, ignorante, indiferente, apático... assim, eles e elas, pintam e bordam!

Sugestão...
Que a “generosa-amorosa-caridosa” EcoRodovias doe milhares e milhares de narizes de palhaço para a Prefeitura de Cubatão, e a sempre “sorridente” prefeita Marcia Rosa distribua de mão e mão em algum ponto da “moderna” avenida 9 de Abril, ou no “escandalosamente maravilhoso” Novo Anilinas, a pequena “lembrancinha vermelha” para a população.

Em anexo imagens do “selvagem elefante branco comedor do dinheiro público” que eu tirei neste domingo, dia 17 de junho.

Texto escrito ao som da canção “The Killing Moon” – Echo and The Bunnymen.

Moésio Rebouças

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rio+20, resumo da ópera - por Latuff

Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

Superexploração socioambiental: Minas de coltan mataram maioria dos elefantes e gorilas do Congo - Por Robson Fernando de Souza

Superexploração socioambiental: Minas de coltan mataram maioria dos elefantes e gorilas do Congo
Columbita e tantalita, minérios que compõem o composto coltan. (Foto: Decrypted Matrix)

As minas de columbita e tantalita, minérios que produzem o composto coltan, exterminaram a maioria da população de gorilas e elefantes da República Democrática do Congo. Sua produção envolve, além da matança de animais, profunda exploração humana e ambiental.

O coltan é um mineral importante para a fabricação de celulares, TVs de plasma, notebooks, câmeras digitais, satélites artificiais e diversas outras tecnologias. E suas matérias-primas, columbita e tantalita, têm seu maior foco de extração na África, que corresponde a 80% de todo o coltan utilizado pelas indústrias eletroeletrônicas do mundo.

Os métodos de extração são rudimentares e promovem profunda exploração humana. São camponeses, prisioneiros de guerra, refugiados de guerra e crianças que extraem columbita e tantalita, sempre vigiados por militares. Os resultados são a vedação do direito das crianças à escola, mortes por desabamentos de túneis, doenças por falta de água limpa, saneamento e alimento, a disputa de grupos armados por cada mina, mortes de crianças (estima-se que cada quilo de coltan implicou a morte de duas crianças), transformação de bosques e campos agrícolas em lodaçais, desalojamentos forçados, violação de mulheres e meninas etc.

As consequências ambientais também são alarmantes: para a extração de coltan, invadiu-se parques ecológicos nacionais da República Democrática do Congo, e matou-se 80% da população de elefantes e 90% da de gorilas do país, levando suas população quase à extinção local.

Afirma-se que a maioria das multinacionais fabricantes de celulares está envolvida na compra do coltan congolês e na manutenção de governos corruptos e de guerras pela extração das matérias-primas desse mineral.

O coltan é um exemplo gritante de como o capitalismo passa por cima da dignidade humana e da vida animal para o almejamento do lucro e do atendimento de “necessidades” não tão necessárias e de como a indústria corporativa de hoje não tem qualquer senso de responsabilidade socioambiental, nem mesmo de respeito à vida.

Na impossibilidade de um boicote total às empresas compradoras do coltan congolês, vale as pessoas tentarem comprar o mínimo possível de eletroeletrônicos portáteis, pelo bem dos animais humanos e não humanos que vêm sendo explorados e massacrados na República Democrática do Congo.

O complicado assunto neonazi na Alemanha – por Flávio Aguiar, de Berlim

O complicado assunto neonazi na Alemanha.

Dossiê das duas agências do Serviço Secreto Federal Alemão indica que é inteiramente falsa a difundida e, na verdade, nunca contraditada versão de que grupos de esquerda, como o chamado grupo "Baader-Meinhof”, teriam ajudado os membros da facção palestina Setembro Negro que assaltaram o prédio 31 da Vila Olímpica em Munique, onde se hospedava a delegação israelense, durante os Jogos Olímpicos de 1972. A conexão do Setembro Negro, na verdade, teria sido com neonazistas.

Enquanto os eurolíderes se debatem com a banca financeira, por ela comprimidos agora na Espanha, novo(?) elo fraco na cadeia, enquanto a Itália está na sala de espera da UTI, o complicado assunto neo nazi voltou a mostrar o nariz – e a cara inteira – na Alemanha.

A revista Der Spiegel (versão em inglês) trouxe à luz copioso noticiário, a partir de um dossiê de duas mil páginas das duas agências do Serviço Secreto Federal Alemão (Bundesamt für Verfassungsschutz e Bundesnachrichtendienst), sobre ser inteiramente falsa a difundida e, na verdade, nunca contraditada versão de que grupos de esquerda, como a RAF (Rote Armee Fraktion, também conhecida indevidamente como “Grupo Baader-Meinhof”), teriam ajudado os membros da facção palestina Setembro Negro que assaltaram o prédio 31 da Vila Olímpica em Munique, onde se hospedava a delegação israelense, durante os Jogos Olímpicos de 1972.

No assalto, os oito assaltantes mataram dois dos israelenses (um atleta e um treinador) e sequestraram outros nove, no dia 5 de setembro. Queriam troca-los por 234 prisioneiros palestinos e também por alguns prisioneiros da RAF, fato que, entre outros, levaram à “conclusão” de que essa organização alemã os tinha ajudado.

No dia 6, ao tentarem embarcar num avião que os levaria para fora do país, num aeroporto militar, foram interceptados por uma operação anti-terrorista das Forças Armadas alemãs, o que redundou numa catástrofe. Os assaltantes mataram todos os reféns (embora haja a suspeita de que alguns deles possam ter morrido no fogo cruzado). Dos oito terroristas, cinco morreram na hora e três foram presos. Mais tarde esses três foram libertados através do sequestro de um avião da Lufthansa. Mas dois deles morreram em operações posteriores do Mossad, que eliminou quase todos os suspeitos de participação ou planejamento no ataque de Munique. O terceiro assaltante vive até hoje na clandestinidade, enquanto o idealizador do sequestro, Abu Daoud, morreu em 2010 de causas naturais.

O dossiê comprova que Abu Daoud tinha uma estreita ligação com Willi Pohl, hoje beirando os 70 anos, que conseguira-lhe pelo menos carros para a operação, além de levá-lo a viajar por toda a Alemanha. Há a possibilidade de que Pohl tenha conseguido também armas, embora ele, numa entrevista à própria Der Spiegel, o negue. Em todo caso, colocou Daoud em contato com Wolfgang Abramovski, reconhecido falsificador de documentos que, levado para as cercanias de Beirute, provavelmente forneceu passaportes para o grupo.

Ocorre que Pohl e Abramovski não eram membros de nenhum grupo terrorista ou não de esquerda, mas sim de uma célula neonazista, e foram denunciados à polícia ainda antes dos acontecimentos de Munique, inclusive sobre a ligação com Daoud, por um ex-colega de militância e pelo ex-patrão do primeiro, de quem ele tomara algum dinheiro.

Depois do conhecido “Massacre de Munique”, Abramovski e Pohl foram presos, em outubro daquele ano, de posse de considerável arsena de armamentos, panfletos e cartas ameaçadoras ao juiz que dirigia o processo contra os três sobreviventes da tragédia, parte de um primeiro plano para libertá-los, que evidentemente não foi adiante. Desde então o Serviço Secreto alemão já sabia que a conexão alemã do Setembro Negro era neonazi, e não esquerdista, como comprovam mensagens trocadas pelas agências envolvidas, que nunca vieram a público – até esta semana.

É claro que restam milhares de luzes e perguntas acesas e ainda sem respostas sobre esse caso e esse dossiê. Algumas delas:

1) Se agisse de modo mais consistente, investigando a fundo as denúncias que recebera, o Serviço Secreto alemão poderia ter evitado o sequestro?

2) Essa é mais uma operação neonazi na história alemã pós-Segunda Guerra que “passa batida”, num primeiro momento, por essas agências e que a opinião pública fica com a versão de que seriam outros os implicados. Qual o significado disso?

3) Grupos de esquerda – a RAF em particular – foram acusadas de forma disseminada de participação na tragédia. Nada se fez durante quatro décadas para desmentir essa acusação. Por quê? (É verdade que declarações bombásticas de mebros da RAF, inclusive de Ulrike Meinhof, ajudaram a forjar essa impressão, mas tudo, hoje está comprovado, era blefe, não realidade).

4) Surpreendentemente, quando julgados em 1974, Pohl e Abramovski receberam penas extremamente leves, somente por “posse ilegal de armas”. Por que? O que isso significa?

Para arrematar: segundo a revista, Pohl hoje nada tem a ver com terrorismos ou com quaisquer atividades neonazis. É autor (de sucesso) de histórias policiais, inclusive como roteiros de TV, com outro nome, é claro.
De Abramovski não se tem notícia.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

CUBATÃO +20: Farsa ecológica & grandes negócios: Prefeitura de Cubatão e Ecopátio - por Moésio Rebouças

Farsa ecológica & grandes negócios: Prefeitura de Cubatão e Ecopátio
Ontem (19), a prefeita de Cubatão, Marcia Rosa (PT), anunciou durante o evento MegaPolo 2012 – Fórum para o Desenvolvimento Sustentável do Polo Industrial de Cubatão, no Rio de Janeiro, a construção de um Centro de Pesquisas e Gestão Ambiental na Cidade, na área do Parque Ecológico Cotia-Pará, na Vila Natal, financiado pela Ecopátio, empresa do grupo Ecorodovias, concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI).

Pois bem, abaixo eu reproduzo excertos de um texto sob o título “EcoRodovias ou EcoHipocrisia”, escrito em setembro de 2007, mas atualíssimo, principalmente porque a construção do Centro de Pesquisa pela Ecorodovias será uma espécie de contrapartida pelo contrato de concessão pública da área onde funciona o Ecopátio, na Vila das Indústrias. Por isso, leiam atentamente o subtítulo “E vejam só o acordo espúrio entre políticos e empresários”.

Agora, quero desnudar a mentirosa e marqueteira Prefeitura de Cubatão, pois no texto intitulado “Prefeita anuncia criação de Centro de Pesquisas Ambiental de Cubatão no Parque Cotia-Pará”, divulgado ontem, e que reproduzo logo abaixo, a Administração Municipal diz que “as principais atrações [do Parque Cotia-Pará] estão o mini-zoológico, teleférico, viveiros de pássaros, além de áreas de lazer com quiosques e churrasqueiras”.

Curto e grosso: mentira, farsa!!! No Parque Ecológico Cotia-Pará não tem nenhum teleférico, nem áreas de lazer com quiosques e churrasqueiras. Tudo foi destruído há anos!!! E o minizoológico é um antro de sofrimento e maus-tratos contra os animais, aos poucos que ainda sobrevive ali em cativeiros sinistros. O viveiro de pássaros tem várias falhas técnicas e é uma tremenda estupidez manter pássaros presos. Cubatão poderia ser exemplo nacional nesta área, e não permitir nenhum local público na cidade com animais em cativeiros, tipo zoológicos. Exemplos na Europa e nos Estados Unidos já existem.

Ah, a prefeita Marcia Rosa não frequenta o Parque Cotia-Pará e nenhum parque ecológico público na cidade, por isso que ela fala tantas abobrinhas. Na verdade, ela é tão falastrona como o senhor Nei Eduardo Serra, um esperto forasteiro que já está “passeando” na cidade almejando ser novamente prefeito de Cubatão. Que nojo dessa gente!!!

Por outro lado, voltando ao assunto principal deste texto, algumas perguntas para a Prefeitura de Cubatão:

• Porque construir um Centro de Pesquisas e gestão Ambiental na cidade se já existe o Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente (Cepema), da Universidade de São Paulo (USP)?
• Quanto a Ecorodovias vai investir neste projeto?
• Exatamente aonde vai ser construído o Centro de Pesquisa?
• Quais as bases do contrato de concessão de área pública onde funciona hoje o Ecopátio?

Moésio Rebouças

EcoRodovias ou EcoHipocrisia?

E o que é a EcoRodovias?
É uma holding de concessões rodoviárias, que lucra alto, muito alto com o tráfego de carros, caminhões, pedágios... Ou, em bom português, é uma empresa que incentiva a indústria dos veículos motorizados, os maiores poluidores das cidades, com emissões de gás carbônico, uma das fontes do problema do aquecimento global. Essa empresa, direta e indiretamente, contribui com a contaminação atmosférica, envenenando o ar, pois está associada ao tráfego, causador de enfermidades cardiovasculares, respiratórias e cancerígenas.
A EcoRodovias controla a Ecovias, que é o sistema rodoviário que liga São Paulo, capital, Região do ABC, ao litoral Sul. Um dos mais usados do Brasil. Ali circulam milhões de veículos motorizados anualmente.

E tem mais
Atualmente essa empresa está investindo pesado no setor logístico da Baixada Santista. Não faz muito tempo o jornal Valor divulgou uma nota que dizia que o grupo EcoRodovias procurava terrenos próximos ao porto de Santos (SP) e na região metropolitana de São Paulo para construir a infraestrutura de logística porta-a-porta, centros de distribuição e de armazenagem de contêineres.

E estes projetos logísticos já começaram a tomar corpo, com a construção do Ecopátio, em Cubatão (SP), numa área com 440 mil metros quadrados e capacidade de estacionamento para milhares de caminhões. Será o maior estacionamento na Baixada Santista para caminhões que se dirigem ao Porto de Santos. E, diga-se de passagem, obra financiada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Banco "público" financiando grandes empresas, a destruição do meio ambiente.

E vejam só o acordo espúrio entre políticos e empresários
A área onde já funciona parcialmente o pátio pertencia à Prefeitura de Cubatão, e estava há uma década destinada, em decreto e lei municipal assinada pelo ex-prefeito Nei Eduardo Serra, à construção de um Centro de Pesquisas Ambientais, que nunca saiu do papel. Contudo, o atual prefeito de Cubatão, que não mora nesse município, Clermont Silveira Castor, decidiu alterar o contrato, transferindo a cessão de uso do imóvel para a Ecopátio Logística Ltda., do grupo EcoRodovias. Numa concessão de uso de mais de 30 anos, e tudo de graça, ou, talvez, com a EcoRodovias, no melhor espírito “politicamente correto” (sic), de uma "empresa moderna" (sic), dando e promovendo em troca algum projetinho social de educação ambiental na região para alguma Secretaria Municipal do Meio Ambiente ou ONG bem comportada. E, talvez, por baixo do pano enchendo o bolso de algum político com "boas intenções". Afinal, as eleições municipais se aproximam.

Mas a coisa não para aí não
Na edição de 23 de julho de 2007 do jornal Diário do Grande ABC, na matéria intitulada “Em 8 anos, Anchieta-Imigrantes estará saturado”, o diretor-presidente da EcoRodovias, Marcelino Rafart de Seras, tomando como base o aumento anual de veículos motorizados rodando no complexo Anchieta-Imigrantes, já sinaliza com a construção de uma nova estrada na ligação São Paulo-Baixada Santista. Seria a construção da terceira pista da Rodovia dos Imigrantes.

Ou seja, mais concreto, mais estradas, mais veículos motorizados, mais congestionamentos, mais explosão populacional, mais lixo, mais doenças, mais destruição e agressão à diversidade da vida na Serra do Mar e seus arredores. Em resumo, mais degradação da já saturada qualidade de vida dos moradores da Baixada Santista.

Afinal, o que esses sinistros empresários e políticos querem com tanto crescimento ilimitado e irracional, com tanta intensificação de veículos motorizados, estradas, numa região que já chegou aos limites ecológicos? Querem mais dinheiro?

Moésio Rebouças

Prefeita anuncia criação de Centro de Pesquisas Ambiental de Cubatão no Parque Cotia-Pará
Missão será pesquisar e divulgar soluções estratégicas para a conservação ambiental da cidade
Começa a funcionar ainda este ano, no Parque Ecológico Cotia-Pará, o Centro de Pesquisas e Gestão Ambiental de Cubatão. A previsão é da prefeita Marcia Rosa, com base no Protocolo de Intenções, válido até 31 de dezembro de 2012 e firmado pela Administração Municipal com a Ecopátio Logística e o Centro Universitário Unimonte.

O documento foi assinado durante o segundo e último dia da sétima edição do MegaPolo - Fórum para o Desenvolvimento do Polo Industrial de Cubatão, realizada na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.

"O local vai funcionar dentro do parque, em uma área cedida pela prefeitura de cerca de 2.000m². Essa parceria com Ecopátio e Unimonte será um grande avanço para a cidade, que começa a construir um parque tecnológico a partir de um grande Centro de Pesquisas", comemorou Marcia Rosa.

Com 500 mil m², o Cotia-Pará está localizado na Via Anchieta, há dois quilômetros do centro da Cidade. Entre as principais atrações estão o mini-zoológico, teleférico, viveiros de pássaros, além de áreas de lazer com quiosques e churrasqueiras. O local abriga ainda o Horto Municipal e o Cristo Redentor.

Além de acompanhar e pesquisar estratégias para a conservação ambiental de Cubatão, o Centro de Pesquisas também terá a missão de resgatar e manter o acervo de informações técnicas e científicas que registrem a história da recuperação ambiental ocorrida na Cidade.

Também está prevista a execução de projetos de conservação e sustentabilidade em parceria com instituições nacionais e internacionais, públicas e privadas.

"Estamos plantando uma semente que certamente trará bons frutos não só para Cubatão, mas para toda nossa região. Muito nos orgulha e nos faz sentir bastante comprometidos. A assinatura desse documento é um pequeno passo para tudo aquilo que a gente terá pela frente e reforça o compromisso do grupo EcoRodovias com o meio ambiente e qualidade de vida", disse o diretor de Negócios e Operações da Ecopátio Logística, Armindo Adegas.