terça-feira, 25 de maio de 2010

Provo Dinamarquês - Stewart Home

Provo Dinamarquês

No início do verão de 1965, um panfleto apareceu na cidade de Amsterdã, pedindo que grandes quantias de dinheiro fossem enviadas para o endereço editorial de uma nova revista chamada PROVO. O panfleto afirmava que a nova revista era necessária:

“- porque essa sociedade capitalista está envenenando a si mesma com uma necessidade mórbida por dinheiro. Seus membros são levados a endeusar o Ter e desprezar o Ser.

- porque essa sociedade burocrática está se chocando com ela mesma, reprimindo qualquer forma de espontaneidade. Seus membros só podem torna-se pessoas individuais e criativas através de condutas anti-sociais.

- porque essa sociedade militarista está cavando sua própria cova com a construção de armas atômicas paranóicas, e seus membros não podem esperar nada do futuro, a não se a morte certa por radiação atômica.”

O primeiro número da PROVO apareceu logo depois e foi imediatamente confiscado pelas autoridades, por conter um diagrama reproduzido do manual The Practical Anarchst, de 1920, que supostamente instruía o leitor na produção de explosivos. Na verdade, a técnica não funcionava. Esse e outros escândalos fizeram com que a circulação da PROVO subisse de quinhentos para vinte mil exemplares em um ano.

Os primeiros ativistas do PROVO – entre eles Roal Van Duyn (nascido em 1942), Bob Stoik, Robert Jasper Grootveld (nascido em 1932), Simon Vinkenoog, Bart Huges e o ex-situacionista Constant – tinham origens basicamente anarco-comunistas e criativas. No entanto, as satíricas ações político-culturais dos PROVOS fizeram com que a juventude insatisfeita de Amsterdã logo se juntasse ao que rapidamente se tornou um movimento.

Amsterdã era considerada um centro mágico e no seu coração estava o Spui, onde, próximo da estátua de um pequeno menino chamado Lieverdja – e rotulado pelos PROVOS de consumidor viciado –, Grootveld vinha organizando happenings semanais desde 1964.

Os PROVOS elaboraram uma série de “planos brancos”: soluções para problemas sociais e ecológicos da cidade, que funcionavam também como provocações às autoridades dinamarquesas. Entre os mais famosos está o Plano de Bicicletas Brancas. Os PROVOS anunciaram num panfleto que bicicletas brancas seriam espalhadas pela cidade para serem usadas pela população em geral. O protótipo desse transporte comunitário gratuito foi apresentado a imprensa e ao público em 28 de julho de 1965, perto da estátua de Lieverdja. O plano foi um enorme sucesso como uma “provocação contra a propriedade privada capitalista” e o “monstro do carro”, mas fracassou como experimento social. A pólicia, aterrorizada pela idéias de propriedade comunitária sendo deixada nas ruas, confiscou todas as bicicletas que acharam sem dono ou sem corrente.

Os PROVOS ficaram famosos entre a comunidade médica dinamarquesa quando Bart Huges – um de seus líderes – perfurou um buraco em seu crânio. Huges acreditava que as membranas dentro de sua cabeça poderiam expandir-se como resultado do espaço extra que havia criado, aumentando assim o volume de sangue – e portando oxigênio – que poderia circular em seu cérebro. O resultado, afirmava Huges, era parecido com a consciência expandida através de exercícios de yoga, ou uma viagem de LSD, mas nesse caso os benefícios seriam permanentes.

A reputação internacional dos PROVOS vem do ataque à procissão do casamento da Princesa Beatrix e do Príncipe Claus Von Amsburg, com bombas de fumaça, em maio de 1966. A polícia revidou imediatamente, batendo selvagemente nos manifestantes contrários à monarquia. No entanto, o povo de Amsterdã demonstrou seu apoio à causa PROVO, votando num representante do movimento para vereador nas eleições locais, três semanas depois. Depois disso, tornou-se claro que era apenas uma questão de tempo até que as atividades radicais do PROVO fossem reprimidas pelas autoridades dinamarquesas, e assim, na primavera de 1967, o movimento se dissolveu.


Fonte: Assalto à Cultura – Stewart Home – Conrad Livros – 1999

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