sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

“Todos somos Khaled Said”: juventude lidera revolução - por Amy Goodman

“Todos somos Khaled Said”: juventude lidera revoluçãoO setor da população egípcia composto por uma pujante juventude é o que está liderando a revolução. O Movimento Juvenil 6 de abril formou-se no ano passado em apoio aos trabalhadores têxteis em greve na cidade egípcia de Mahalla. Uma das fundadoras do movimento, Asmaa Mahfouz, que acaba de completar 26 anos, publicou um vídeo no Facebook no dia 18 de janeiro, dias depois de a revolução tunisiana ter derrubado o ditador do país. Asmaa disse: “Estou fazendo este vídeo para lhes dar uma simples mensagem. Queremos ir à Praça Tahrir dia 25 de janeiro. Iremos ali para exigir nossos direitos humanos fundamentais.

“Em homenagem a Christoph Probst, Hans Scholl e Sophie Scholl”, diz um cartaz na parte superior do muito visitado blog do dissidente egípcio Kareem Amer. E continua: “Decapitados no dia 22 de fevereiro de 1943 por terem se atrevido a dizer não a Hitler e sim à liberdade e à justiça para todos”. O cartaz do jovem blogueiro recorda o valente grupo de ativistas antinazista que se autodenominaram Rosa Branca. Este grupo redigiu e distribuiu secretamente seis panfletos denunciando as atrocidades nazistas. Em um deles declararam: “Não nos calaremos”. Sophie e seu irmão Hans Scholl foram capturados pelos nazistas, julgados, condenados e decapitados.

Kareem Amer, que esteve quatro anos preso no Egito por escrever em seu blog, desapareceu das ruas do Cairo após abandonar a Praça Tahrir com um amigo, segundo o site cyberdissidentes.org. O grupo supõe que Amer encontre-se agora entre as centenas de jornalistas e ativistas de direitos humanos detidos pelo regime do ditador egípcio Hosni Mubarak, e acaba de lançar uma campanha para exigir sua liberação.

Kareem Amer desapareceu um pouco antes de Wael Ghonim ter sido libertado. Ghonim é um executivo do Google de 30 anos de idade que ajudou a administrar a página do Facebook que teve um papel decisivo na organização dos protestos de 25 de janeiro no Egito. A página se chama “Todos somos Khaled Said” em homenagem a um jovem assassinado pela polícia em Alexandria em junho de 2010. Uma foto do cadáver de Khaled Said apareceu na Internet. Tinha sinais de golpes brutais na face. Ghonim viajou ao Egito para participar dos protestos, foi preso de forma secreta pelo governo egípcio durante 12 dias. O canal de televisão Dream 2 entrevistou-o após sua libertação. Na entrevista, Ghonim desmoronou e rompeu em pranto quando viu as fotos de muitos dos que foram assassinados nos protestos. “Estamos lutando por nossos direitos e por nosso país. Não sou um herói. Estava somente utilizando o teclado e a internet. Nunca coloquei minha vida em perigo. Os verdadeiros heróis são os que estão aí fora”.

A libertação de Ghonim fez com que a multidão que exige o fim do regime de 30 anos de Mubarak na Praça Tahrir aumentasse. Tahrir, que significa “libertação” em árabe, é o corpo e a alma do movimento democrático no Egito, mas não é o único lugar onde se reúne gente corajosa contrária ao regime. Enquanto escrevo esta coluna, está se instalando um novo acampamento em frente ao Parlamento egípcio e seis mil trabalhadores estão em greve no Canal de Suez. Enquanto a consolidada ditadura afirmava estar fazendo concessões, suas tropas de choque desatavam uma onda de violência, intimidação, prisões e assassinatos.

O setor da população egípcia composto por uma pujante juventude é o que está liderando a revolução. O Movimento Juvenil 6 de abril formou-se no ano passado em apoio aos trabalhadores têxteis em greve na cidade egípcia de Mahalla. Uma das fundadoras do movimento, Asmaa Mahfouz, que acaba de completar 26 anos, publicou um vídeo no Facebook no dia 18 de janeiro, dias depois de a revolução tunisiana ter derrubado o ditador do país.

Asmaa disse: “Estou fazendo este vídeo para lhes dar uma simples mensagem. Queremos ir à Praça Tahrir dia 25 de janeiro. Iremos ali para exigir nossos direitos humanos fundamentais. Simplesmente queremos nossos direitos humanos e nada mais. Eu irei à praça no dia 25 de janeiro e distribuirei panfletos nas ruas. Não vou me autoimolar. Se as forças de segurança quiserem me tocar fogo, que venham e o façam. Se te considera um homem, vem comigo no dia 25 de janeiro”.

Sua convocação para a ação foi outra chispa. Desde a internet, as pessoas começaram a se organizar nos bairros, superando a barreira digital com panfletos impressos e boca a boca. Em 25 de janeiro, primeiro dia épico do protesto, Asmaa Mahfouz publicou outra mensagem em vídeo: “O que aprendemos ontem é que somos nós que temos o poder, não os capangas armados. O poder está na unidade e não na divisão. Ontem vivemos os melhores momentos de nossas vidas”.

Na primeira semana de protestos se quebrou o que muitos denominam “a barreira do medo”. Desde o dia 28 de janeiro, quando começou a violenta ofensiva do governo, segundo a Human Rights Watch, pelo menos 302 pessoas foram assassinadas no Cairo, Alexandria e Suez.

O presidente Obama continua insistindo em que os EUA não podem escolher o líder do Egito e que cabe ao povo egípcio fazê-lo. É verdade. Mas o governo de Obama continua garantindo ajuda econômica e militar ao regime de Mubarak. O selo “Made in USA” estampado nas latas de gases lacrimogêneos utilizadas contra os manifestantes na Praça Tahrir enfureceu o povo que lá estava. Nos últimos trinta anos, os EUA gastarão bilhões de dólares para apoiar o regime de Mubarak. É preciso deter agora mesmo o fluxo de dinheiro e de armas.

Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior

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