POR UMA ARTE REVOLUCIONÁRIA INDEPENDENTE - André Breton e Diego Rivera
1 - Pode-se pretender sem exagero que nunca a civilização humana esteve ameaçada por tantos perigos quanto hoje. Os vândalos, com o auxílio de seus meios bárbaros, isto é, deveras precários, destruíram a civilização antiga num canto limitado da Europa. Atualmente, é toda a civilização mundial, na unidade de seu destino histórico, que vacila sob a ameaça das forças reacionárias armadas com toda a técnica moderna. Não temos somente em vista a guerra que se aproxima. Mesmo agora, em tempo de paz, a situação da ciência e da arte se tornou absolutamente intolerável.
2 - Naquilo que ela conserva de individualidade em sua gênese, naquilo que aciona qualidades subjetivas para extrair um certo fato que leva a um enriquecimento objetivo, uma descoberta filosófica, sociológica, científica ou artística aparece como o fruto de um acaso precioso, quer dizer, como uma manifestação mais ou menos espontânea da necessidade. Não se poderia desprezar uma tal contribuição, tanto do ponto de vista do conhecimento geral (que tende a que a interpretação do mundo continue), quanto do ponto de vista revolucionário (que, para chegar à transformação do mundo, exige que tenhamos uma idéia exata das leis que regem seu movimento). Mais particularmente, não seria possível desinteressar-se das condições mentais nas quais essa contribuição continua a produzir-se e, para isso, zelar para que seja garantido o respeito às leis específicas a que está sujeita a criação intelectual.
3 - Ora, o mundo atual nos obriga a constatar a violação cada vez mais geral dessas leis, violação à qual corresponde necessariamente um aviltamento cada vez mais patente, não somente da obra de arte, mas também da personalidade "artística". O fascismo hitlerista, depois de ter eliminado da Alemanha todos os artistas que expressaram em alguma medida o amor pela liberdade, fosse ela apenas formal, obrigou aqueles que ainda podiam consentir em manejar uma pena ou um pincel a se tornarem os lacaios do regime e a celebrá-lo de encomenda, nos limites exteriores do pior convencionalismo. Exceto quanto à propaganda, a mesma coisa aconteceu na U.R.S.S. durante o período de furiosa reação que agora atingiu seu apogeu.
4 - É evidente que não nos solidarizamos por um instante sequer, seja qual for seu sucesso atual, com a palavra de ordem: "Nem fascismo nem comunismo", que corresponde à natureza do filisteu conservador e atemorizado, que se aferra aos vestígios do passado "democrático". A arte verdadeira, a que não se contenta com variações sobre modelos prontos, mas se esforça por dar uma expressão às necessidades interiores do homem e da humanidade de hoje, tem que ser revolucionária, tem que aspirar a uma reconstrução completa e radical da sociedade, mesmo que fosse apenas para libertar a. criação intelectual das cadeias que a bloqueiam e permitir a toda a humanidade elevar-se a alturas que só os gênios isolados atingiram no passado. Ao mesmo tempo, reconhecemos que só a revolução social pode abrir a via para uma nova cultura. Se, no entanto, rejeitamos qualquer solidariedade com a casta atualmente dirigente na U.R.S.S., é precisamente porque no nosso entender ela não representa o comunismo, mas é o seu inimigo mais pérfido e mais perigoso.
5 - Sob a influência do regime totalitário da U.R.S.S. e por intermédio dos organismos ditos "culturais" que ela controla nos, outros países, baixou no mundo todo um profundo crepúsculo hostil à emergência de qualquer espécie de valor espiritual. Crepúsculo de abjeção e de sangue no qual, disfarçados de intelectuais e de artistas, chafurdam homens que fizeram do servilismo um trampolim, da apostasia um jogo perverso, do falso testemunho venal um hábito e da apologia do crime um prazer. A arte oficial da época stalinista reflete com uma crueldade sem exemplo na história os esforços irrisórios desses homens para enganar e mascarar seu verdadeiro papel mercenário.
6 - A surda reprovação suscitada no mundo artístico por essa negação desavergonhada dos princípios aos quais a arte sempre obedeceu, e que até Estados instituídos sobre a escravidão não tiveram a audácia de contestar tão totalmente, deve dar lugar a uma condenação implacável. A oposição artística é hoje uma das forças que podem com eficácia contribuir para o descrédito e ruína dos regimes que destroem, ao mesmo tempo, o direito da classe explorada de aspirar a um mundo melhor e todo sentimento da grandeza e mesmo da dignidade humana.
7 - A revolução comunista não teme a arte. Ela sabe que ao cabo das pesquisas que se podem fazer sobre a formação da vocação artística na sociedade capitalista que desmorona, a determinação dessa vocação não pode ocorrer senão como o resultado de uma colisão entre o homem e um certo número de formas sociais que lhe são adversas. Essa única conjuntura, a não ser pelo grau de consciência que resta adquirir, converte o artista em seu aliado potencial. O mecanismo de sublimação, que intervém em tal caso, e que a psicanálise pôs em evidência, tem por objeto restabelecer o equilíbrio rompido entre o "ego" coerente e os elementos recalcados. Esse restabelecimento se opera em proveito do "ideal do ego" que ergue contra a realidade presente, insuportável, os poderes do mundo interior, do "id", comuns a todos os homens e constantemente em via de desenvolvimento no futuro. A necessidade de emancipação do espírito só tem que seguir seu curso natural para ser levada a fundir-se e a revigorar-se nessa necessidade primordial: a necessidade de emancipação do homem.
8 - Segue-se que a arte não pode consentir sem degradação em curvar-se a qualquer diretiva estrangeira e a vir docilmente preencher as funções que alguns julgam poder atribuir-lhe, para fins pragmáticos, extremamente estreitos. Melhor será confiar no dom de prefiguração que é o apanágio de todo artista autêntico, que implica um começo de resolução (virtual) das contradições mais graves de sua época e orienta o pensamento de seus contemporâneos para a urgência do estabelecimento de uma nova ordem.
9 - A idéia que o jovem Marx tinha do papel do escritor exige, em nossos dias, uma retomada vigorosa. É claro que essa idéia deve abranger também, no plano artístico e científico, as diversas categorias de produtores e pesquisadores. "O escritor, diz ele, deve naturalmente ganhar dinheiro para poder viver e escrever, mas não deve em nenhum caso viver e escrever para ganhar dinheiro . . . O escritor não considera de forma alguma seus trabalhos como um meio. Eles são objetivos em si, são tão pouco um meio para si mesmo e para os outros que sacrifica, se necessário, sua própria existência à existência de seus trabalhos . . . A primeira condição da liberdade de imprensa consiste em não ser um ofício. Mais que nunca é oportuno agora brandir essa declaração contra aqueles que pretendem sujeitar a atividade intelectual a fins exteriores a si mesma e, desprezando todas as determinações históricas que lhe são próprias, dirigir, em função de pretensas razões de Estado, os temas da arte. A livre escolha desses temas e a não-restrição absoluta no que se refere ao campo de sua exploração constituem para o artista um bem que ele tem o direito de reivindicar como inalienável. Em matéria de criação artística, importa essencialmente que a imaginação escape a qualquer coação, não se deixe sob nenhum pretexto impor qualquer figurino. Àqueles que nos pressionarem, hoje ou amanhã, para consentir que a arte seja submetida a uma disciplina que consideramos radicalmente incompatível com seus meios, opomos uma recusa inapelável e nossa vontade deliberada de nos apegarmos à fórmula: toda licença em arte.
10 - Reconhecemos, é claro, ao Estado revolucionário o direito de defender-se contra a reação burguesa agressiva, mesmo quando se cobre com a bandeira da ciência ou da arte. Mas entre essas medidas impostas e temporárias de auto-defesa revolucionária e a pretensão de exercer um comando sobre a criação intelectual da sociedade, há um abismo. Se, para o desenvolvimento das forças produtivas materiais, cabe à revolução erigir um regime socialista de plano centralizado, para a criação intelectual ela deve, já desde o começo, estabelecer e assegurar um regime anar quista de liberdade individual. Nenhuma autoridade, nenhuma coação, nem o menor traço de comando! As diversas associações de cientistas e os grupos coletivos de artistas que trabalharão para resolver tarefas nunca antes tão grandiosas unicamente podem surgir e desenvolver um trabalho fecundo na base de uma livre amizade criadora, sem a menor coação externa.
11 - Do que ficou dito decorre claramente que ao defender a liberdade de criação, não pretendemos absolutamente justificar o indiferentismo político e longe está de nosso pensamento querer ressuscitar uma arte dita "pura" que de ordinário serve aos objetivos mais do que impuros da reação. Não, nós temos um conceito muito elevado da função da arte para negar sua influência sobre o destino da sociedade. Consideramos que a tarefa suprema da arte em nossa época é participar consciente e ativamente da preparação da revolução. No entanto, o artista só pode servir à luta emancipadora quando está compenetrado subjetivamente de seu conteúdo social e individual, quando faz passar por seus nervos o sentido e o drama dessa luta e quando procura livremente dar uma encarnação artística a seu mundo interior.
12 - Na época atual, caracterizada pela agonia do capitalismo, o artista, sem dar sequer a sua dissidência social uma forma manifesta, vê-se ameaçado da privação do direito de viver ((?)) e de continuar sua obra pelo bloqueio de todos os seus meios de difusão. É natural que se volte então para . . . as organizações stalinistas que aí lhe oferecem a possibilidade de escapar a seu isolamento . . . mas a sua renúncia a tudo que pode constituir sua mensagem própria e as complacências que essas organizações exigem dele em troca de algumas possibilidades materiais lhe proíbem manter-se nelas, por menos que a desmoralização seja impotente para vencer seu caráter. É necessário, desde este instante, que ele compreenda que seu lugar está além, não entre aqueles que traem ((? . . . ao mesmo tempo . . .) ) a causa da Revolução ao mesmo tempo ((?)) , a causa do homem, mas entre aqueles que dão provas de sua fidelidade inabalável aos princípios dessa Revolução, entre aqueles que, por isso, permanecem como os únicos ((?)) qualificados para ajuda-la a realizar-se e para assegurar por ela . . . a livre expressão ulterior de todas as manifestações do gênio humano. O que queremos: a independência da arte para a revolução a revolução - para a liberação definitiva da arte.
13 - O objetivo do presente apelo é encontrar um terreno para reunir todos os defensores revolucionários da arte, para servir a revolução pelos métodos da arte e defender a própria liberdade da arte contra os usurpadores da revolução. Estamos profundamente convencidos de que o encontro nesse terreno é possível para os representantes de tendências estéticas, filosóficas e políticas razoavelmente divergentes. Os marxistas podem caminhar aqui de mãos dadas com os anarquistas, com a condição que uns e outros rompam implacavelmente com o espírito policial reacionário, quer seja representado por Josef Stálin ou por seu vassalo Garcia Oliver.
14 - Milhares e milhares de pensadores e de artistas isolados, cuja voz é coberta pelo tumulto odioso dos falsificadores arregimentados, estão atualmente dispersos no mundo. Numerosas pequenas revistas locais tentam agrupar a sua volta forças jovens, que procuram vias novas e não subvenções. Toda tendência progressiva na arte é difamada pelo fascismo como uma degenerescência. Toda criação livre é declarada fascista pelos stalinistas. A arte revolucionária independente deve unir-se para a luta contra as perseguições reacionárias e proclamar bem alto seu direito à existência. Uma tal união é o objetivo da Federação Internacional da Arte Revolucionária Independente (F.I.A.R.I.) que julgamos necessário criar.
15 - Não temos absolutamente a intenção de impor cada uma das idéias contidas neste apelo, que nós mesmos consideramos apenas um primeiro passo na nova via. A todos os representantes da arte, a todos seus amigos e defensores que não podem deixar de compreender a necessidade do presente apelo, pedimos que ergam a voz imediatamente. Endereçamos o mesmo apelo a todas as publicações independentes de esquerda que estão prontas a tomar parte na criação da Federação Internacional e no exame de suas tarefas e métodos de ação.
16 - Quando um primeiro contato internacional tiver sido estabelecido pela imprensa e pela correspondência, procederemos à organização de modestos congressos locais e nacionais. Na etapa seguinte deverá reunir-se um congresso mundial que consagrará oficialmente a fundação da Federação Internacional. O que queremos: a independência da arte para a revolução a revolução,- para a liberação definitiva da arte.
México, 25 de julho de 1938
Fonte: algum lugar esquecido da internet
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Debate História Movimento Anti-capitalista
30/11: CONVITE para Debate História Movimento Anti-capitalista
Olá.
Gostaria de convidá-la(o) a participar do debate A HISTÓRIA DO MOVIMENTO ANTI-CAPITALISTA que promoveremos dia 30/11.
Seguem abaixo as informações completas sobre a proposta do evento.
Sua presença é importante pois você é parte dessa história do movimento anti-globalização, por ter participado de algum grupo ou das manifestações de rua ocorridas a partir de 1999.
Queremos (re)construir essa história e discutir as lições que podemos tirar dessa experiência.
Por favor, responda acusando recebimento e confirmando (ou não) sua participação.
Se tiver alguma dúvida ou comentário, por favor, escreva.
Em solidariedade,
Rodrigo
Biblioteca Terra Livre /Espaço Ay Carmela!
****
A HISTÓRIA DO MOVIMENTO ANTI-CAPITALISTA
Data: Domingo, 30 de novembro de 2008 (N30)
Horário: Filmes: 16 horas / Debate: 18 horas
Local: Espaço Ay Carmela! – Rua das Carmelitas, 140 – Sé - São Paulo – SP
Entrada Gratuita
VIDEOS
* Essa é a Cara da Democracia
* A20 – Não Começou em Seattle, Não Vai Terminar em Quebec
EXPOSIÇÃO DE FOTOS E CARTAZES
ACERVO AGP (nome provisório)
A Biblioteca Terra Livre instalada no Espaço Ay Carmela! pretende constituir um acervo de materiais sobre o movimento anti-capitalista no Brasil e no mundo. Portanto, convidamos a todos a trazerem materiais (livros, fotos, documentos, cartazes, vídeos, áudios, etc etc) para serem doados à Biblioteca. Assim, todos estaremos colaborando com a preservação da memória das lutas anti-capitalistas.
DEBATE
A proposta desta atividade é iniciar a (re)construção da história do movimento anti-capitalista de maneira coletiva. Começando por identificar suas origens e tradições, assim como quais temas estavam na pauta naquele momento. Também é importante buscar identificar os grupos e coletivos envolvidos na luta contra a globalização capitalista e os demais atores sociais em cena. Pode-se levantar casos, depoimentos, relatos e documentos para serem avaliados. A discussão sobre as propostas, as estratégias, as táticas, as formas de organização e os objetivos dos grupos e coalizões do movimento, assim como das manifestações de rua contribuirão para que possamos entender sua essência. E, finalmente, um olhar para os dias de hoje a partir da experiência vivida por milhares de pessoas ao redor do mundo nos ajuda a pensar na nossa ação no futuro.
ALGUNS GRUPOS QUE QUEREMOS QUE ESTEJAM REPRESENTADOS NO DEBATE (Lista provisória – por favor sugira outros):
AGP
CMI
Ação Local por Justiça Global
ICAL
Cruz Negra Anarquista
ULBS/Baixada Santista
Agência de Notícias Anarquistas
Batukação
Verdurada
CAVE
Olá.
Gostaria de convidá-la(o) a participar do debate A HISTÓRIA DO MOVIMENTO ANTI-CAPITALISTA que promoveremos dia 30/11.
Seguem abaixo as informações completas sobre a proposta do evento.
Sua presença é importante pois você é parte dessa história do movimento anti-globalização, por ter participado de algum grupo ou das manifestações de rua ocorridas a partir de 1999.
Queremos (re)construir essa história e discutir as lições que podemos tirar dessa experiência.
Por favor, responda acusando recebimento e confirmando (ou não) sua participação.
Se tiver alguma dúvida ou comentário, por favor, escreva.
Em solidariedade,
Rodrigo
Biblioteca Terra Livre /Espaço Ay Carmela!
****
A HISTÓRIA DO MOVIMENTO ANTI-CAPITALISTA
Data: Domingo, 30 de novembro de 2008 (N30)
Horário: Filmes: 16 horas / Debate: 18 horas
Local: Espaço Ay Carmela! – Rua das Carmelitas, 140 – Sé - São Paulo – SP
Entrada Gratuita
VIDEOS
* Essa é a Cara da Democracia
* A20 – Não Começou em Seattle, Não Vai Terminar em Quebec
EXPOSIÇÃO DE FOTOS E CARTAZES
ACERVO AGP (nome provisório)
A Biblioteca Terra Livre instalada no Espaço Ay Carmela! pretende constituir um acervo de materiais sobre o movimento anti-capitalista no Brasil e no mundo. Portanto, convidamos a todos a trazerem materiais (livros, fotos, documentos, cartazes, vídeos, áudios, etc etc) para serem doados à Biblioteca. Assim, todos estaremos colaborando com a preservação da memória das lutas anti-capitalistas.
DEBATE
A proposta desta atividade é iniciar a (re)construção da história do movimento anti-capitalista de maneira coletiva. Começando por identificar suas origens e tradições, assim como quais temas estavam na pauta naquele momento. Também é importante buscar identificar os grupos e coletivos envolvidos na luta contra a globalização capitalista e os demais atores sociais em cena. Pode-se levantar casos, depoimentos, relatos e documentos para serem avaliados. A discussão sobre as propostas, as estratégias, as táticas, as formas de organização e os objetivos dos grupos e coalizões do movimento, assim como das manifestações de rua contribuirão para que possamos entender sua essência. E, finalmente, um olhar para os dias de hoje a partir da experiência vivida por milhares de pessoas ao redor do mundo nos ajuda a pensar na nossa ação no futuro.
ALGUNS GRUPOS QUE QUEREMOS QUE ESTEJAM REPRESENTADOS NO DEBATE (Lista provisória – por favor sugira outros):
AGP
CMI
Ação Local por Justiça Global
ICAL
Cruz Negra Anarquista
ULBS/Baixada Santista
Agência de Notícias Anarquistas
Batukação
Verdurada
CAVE
Sistema judicial estadunidense persiste em assassinar Mumia
Sistema judicial estadunidense persiste em assassinar Mumia
A procuradora distrital de Filadélfia, Lynne Abraham (equivalente a procuradora do ministério público) pediu ao Supremo Tribunal dos EUA que voltasse a impor a pena de morte a Mumia Abu-Jamal. Se esse pedido for aceito, isso pode significar a EXECUÇÂO imediata de Mumia, sem qualquer nova audiência ou julgamento, e apesar da montanha de novas provas que têm surgido em defesa da inocência de Mumia. Entretanto, o advogado de Mumia anunciou que iria também entregar no Supremo Tribunal um pedido de um novo julgamento. Este pedido tem de dar entrada até 19 de Dezembro. Este novo pedido tem por base o racismo que existiu na seleção de jurados no julgamento original e nas falsas indicações da procuradoria aos jurados na fase de decisão da culpa. São essencialmente os mesmos argumentos já usados (e negados) perante o Tribunal de Recurso do 3º Circuito de Filadélfia. Não podemos deixar que Mumia seja assassinado! Em defesa de Mumia, o dia 6 de Dezembro vai será assinalado como Dia Internacional de Solidariedade com Mumia Abu-Jamal! Apelamos a todos os amantes da justiça e da liberdade que cerrem fileiras em defesa de Mumia Abu-Jamal. Multipliquemos as iniciativas de divulgação desta causa!
Novo Documentário Sobre Mumia
Um novo documentário britânico, "In Prison My WholeLife" ("Na Prisão Toda a Minha Vida"), sobre a vida de Mumia foi exibido novamente nos Estados Unidos. O documentário já tinha estreado nos EUA no Festival Sundance em Janeiro e foi agora exibido no Festival Urbanworld de Nova Iorque a 11 e 13 de Setembro e depois na Conferência CR10 (Resistência Crítica 10anos) em Oakland, Califórnia, a 26 de Setembro. O documentário já tinha estado nos Festivais de Cinema de Londres e de Roma em 2007. O documentário relata a história de William Francome, que nasceu no dia em que Mumia foi preso. A sua mãe costuma dizer-lhe que cada aniversário que ele tinha era mais um ano passado por Mumia na prisão. Com o conhecido ator britânico Colin Firth como produtor executivo, "In Prison My Whole Life" foi realizado por Marc Evans e produzido por Livia Giuggioli Firth e Nick Goodwin Self. O filme inclui entrevistas com personalidades como Alice Walker, Angela Davis, Noam Chomsky, Amy Goodman, Ramona Africa, e músicos como Mos Def, Snoop Dogg e SteveEarle. A Anistia Internacional incluiu o filme na sua campanha internacional pela abolição da pena de morte. O documentário mostra as agora famosas fotografias da cena do crime tiradas a 9 de Dezembro de 1981 e que apenas foram redescobertas recentemente pelo autor alemão Michael Schiffmann, que as publicou no seu novo livro. Também inclui uma entrevista com o irmão de Abu-Jamal, Billy Cook, que estava no local depois do polícia Faulkner ter mandado parar o seu carro. É a primeira entrevista gravada de Cook e este nega a versão da acusação de que acertou na cara de Faulkner, supostamente provocando assim o espancamento que recebeu do polícia. Cook mostra as cicatrizes que ainda hoje tem na cabeça e diz: "Eles prenderam-me por o ter atacado, mas eu nunca pus a mão nele. Só estava a tentar proteger-me. Nunca acertei nele. Nunca acertei nele." Cook diz que depois de ter sido violentamente espancado com a lanterna do polícia, Faulkner "foi meio vulgar e grosseiro. E se bem me lembro acrescentou a meio um palavrão racista... 'Volta para o carro, preto´." Um trailer do documentário está disponível em: http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&videoid=17949640.
Dia de Solidariedade Internacional com Mumia
O dia 6 de Dezembro foi denominado Dia de Solidariedade Internacional com Mumia Abu-Jamal. Estão marcadas ações em todo o mundo, em particular por todos os EUA, a maior das quais será uma concentração em Filadélfia frente à procuradoria distrital (o equivalente ao ministério público e que se tem destacado numa criminosa perseguição a Mumia). Daremos mais novidades à medida que as formos obtendo.
Snoop Dogg e os Massive Attack Gravam Música de Homenagem a Múmia
O rapper estadunidense Snoop Dogg e o músico 3D do grupo britânico de trip-hop Massive Attack (MA) juntaram-se para gravar uma música de apoio a Mumia, "Calling Mumia". Os músicos fizeram a gravação sob o nome de "100 Suns" e surgem no novo documentário "In Prison My Whole Life" sobre a vida de Mumia, antes e depois da sua prisão por um crime que não cometeu. Um excerto da música diz: "A forma como agora vivo é para educar e inspirar as crianças / e dar-lhes mais que erva e cerveja. /Tenho muito para dizer / porque não é divertido estar-se preso." A música está disponível no site dos MA: http://www.massiveattack.com/index.php?id=657, e no YouTube, http://www.youtube.com/watch?v=0Tv78kaTGP4.
Novo Livro Sobre Mumia
Um novo livro de denúncia da farsa que foi o julgamento e a condenação de Mumia Abu-Jamal foi publicado em Maio passado nos EUA. O livro, The Framing of Mumia Abu-Jamal, foi escrito por J.Patrick O'Connor, que defende que o verdadeiro atirador no caso da morte do polícia Faulkner foi Kenneth Freeman, e mostra como Mumia foi claramente tramado pela polícia, devido à sua atividade política, tanto como membro dos Panteras Negras como mais tarde como jornalista que denunciava a atuação racista da polícia de Filadélfia.
Comentário de Mumia Sobre a Vitória de Obama
"(...) Mas o que é que ela significa? Não podemos negar o seu valor simbólico. Em milhões de lares negros, a sua fotografia será colocada ao lado das de Martin, John F. Kennedy e de uma empaledecida pintura de Jesus. (...) Mas para além do símbolo há a substância. E substantivamente, alguns acadêmicos definem Obama como pouco diferente dos seus antecessores. Apesar disso, os símbolos são uma coisa poderosa. Por vezes têm uma vida própria. Podem vir a significar algo mais do que pretendiam à primeira vista. Foi feita História. Veremos que tipo de história será. (...)"
23 de Novembro de 2008
Coletivo Mumia Abu-Jamal
agência de notícias anarquistas-ana
mostro sem disfarceo tempo, a vida e o ventomarcando minha face Cristina Saba
A procuradora distrital de Filadélfia, Lynne Abraham (equivalente a procuradora do ministério público) pediu ao Supremo Tribunal dos EUA que voltasse a impor a pena de morte a Mumia Abu-Jamal. Se esse pedido for aceito, isso pode significar a EXECUÇÂO imediata de Mumia, sem qualquer nova audiência ou julgamento, e apesar da montanha de novas provas que têm surgido em defesa da inocência de Mumia. Entretanto, o advogado de Mumia anunciou que iria também entregar no Supremo Tribunal um pedido de um novo julgamento. Este pedido tem de dar entrada até 19 de Dezembro. Este novo pedido tem por base o racismo que existiu na seleção de jurados no julgamento original e nas falsas indicações da procuradoria aos jurados na fase de decisão da culpa. São essencialmente os mesmos argumentos já usados (e negados) perante o Tribunal de Recurso do 3º Circuito de Filadélfia. Não podemos deixar que Mumia seja assassinado! Em defesa de Mumia, o dia 6 de Dezembro vai será assinalado como Dia Internacional de Solidariedade com Mumia Abu-Jamal! Apelamos a todos os amantes da justiça e da liberdade que cerrem fileiras em defesa de Mumia Abu-Jamal. Multipliquemos as iniciativas de divulgação desta causa!
Novo Documentário Sobre Mumia
Um novo documentário britânico, "In Prison My WholeLife" ("Na Prisão Toda a Minha Vida"), sobre a vida de Mumia foi exibido novamente nos Estados Unidos. O documentário já tinha estreado nos EUA no Festival Sundance em Janeiro e foi agora exibido no Festival Urbanworld de Nova Iorque a 11 e 13 de Setembro e depois na Conferência CR10 (Resistência Crítica 10anos) em Oakland, Califórnia, a 26 de Setembro. O documentário já tinha estado nos Festivais de Cinema de Londres e de Roma em 2007. O documentário relata a história de William Francome, que nasceu no dia em que Mumia foi preso. A sua mãe costuma dizer-lhe que cada aniversário que ele tinha era mais um ano passado por Mumia na prisão. Com o conhecido ator britânico Colin Firth como produtor executivo, "In Prison My Whole Life" foi realizado por Marc Evans e produzido por Livia Giuggioli Firth e Nick Goodwin Self. O filme inclui entrevistas com personalidades como Alice Walker, Angela Davis, Noam Chomsky, Amy Goodman, Ramona Africa, e músicos como Mos Def, Snoop Dogg e SteveEarle. A Anistia Internacional incluiu o filme na sua campanha internacional pela abolição da pena de morte. O documentário mostra as agora famosas fotografias da cena do crime tiradas a 9 de Dezembro de 1981 e que apenas foram redescobertas recentemente pelo autor alemão Michael Schiffmann, que as publicou no seu novo livro. Também inclui uma entrevista com o irmão de Abu-Jamal, Billy Cook, que estava no local depois do polícia Faulkner ter mandado parar o seu carro. É a primeira entrevista gravada de Cook e este nega a versão da acusação de que acertou na cara de Faulkner, supostamente provocando assim o espancamento que recebeu do polícia. Cook mostra as cicatrizes que ainda hoje tem na cabeça e diz: "Eles prenderam-me por o ter atacado, mas eu nunca pus a mão nele. Só estava a tentar proteger-me. Nunca acertei nele. Nunca acertei nele." Cook diz que depois de ter sido violentamente espancado com a lanterna do polícia, Faulkner "foi meio vulgar e grosseiro. E se bem me lembro acrescentou a meio um palavrão racista... 'Volta para o carro, preto´." Um trailer do documentário está disponível em: http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&videoid=17949640.
Dia de Solidariedade Internacional com Mumia
O dia 6 de Dezembro foi denominado Dia de Solidariedade Internacional com Mumia Abu-Jamal. Estão marcadas ações em todo o mundo, em particular por todos os EUA, a maior das quais será uma concentração em Filadélfia frente à procuradoria distrital (o equivalente ao ministério público e que se tem destacado numa criminosa perseguição a Mumia). Daremos mais novidades à medida que as formos obtendo.
Snoop Dogg e os Massive Attack Gravam Música de Homenagem a Múmia
O rapper estadunidense Snoop Dogg e o músico 3D do grupo britânico de trip-hop Massive Attack (MA) juntaram-se para gravar uma música de apoio a Mumia, "Calling Mumia". Os músicos fizeram a gravação sob o nome de "100 Suns" e surgem no novo documentário "In Prison My Whole Life" sobre a vida de Mumia, antes e depois da sua prisão por um crime que não cometeu. Um excerto da música diz: "A forma como agora vivo é para educar e inspirar as crianças / e dar-lhes mais que erva e cerveja. /Tenho muito para dizer / porque não é divertido estar-se preso." A música está disponível no site dos MA: http://www.massiveattack.com/index.php?id=657, e no YouTube, http://www.youtube.com/watch?v=0Tv78kaTGP4.
Novo Livro Sobre Mumia
Um novo livro de denúncia da farsa que foi o julgamento e a condenação de Mumia Abu-Jamal foi publicado em Maio passado nos EUA. O livro, The Framing of Mumia Abu-Jamal, foi escrito por J.Patrick O'Connor, que defende que o verdadeiro atirador no caso da morte do polícia Faulkner foi Kenneth Freeman, e mostra como Mumia foi claramente tramado pela polícia, devido à sua atividade política, tanto como membro dos Panteras Negras como mais tarde como jornalista que denunciava a atuação racista da polícia de Filadélfia.
Comentário de Mumia Sobre a Vitória de Obama
"(...) Mas o que é que ela significa? Não podemos negar o seu valor simbólico. Em milhões de lares negros, a sua fotografia será colocada ao lado das de Martin, John F. Kennedy e de uma empaledecida pintura de Jesus. (...) Mas para além do símbolo há a substância. E substantivamente, alguns acadêmicos definem Obama como pouco diferente dos seus antecessores. Apesar disso, os símbolos são uma coisa poderosa. Por vezes têm uma vida própria. Podem vir a significar algo mais do que pretendiam à primeira vista. Foi feita História. Veremos que tipo de história será. (...)"
23 de Novembro de 2008
Coletivo Mumia Abu-Jamal
agência de notícias anarquistas-ana
mostro sem disfarceo tempo, a vida e o ventomarcando minha face Cristina Saba
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Grandes expectativas: o que é possível esperar de Obama? – Por Tariq Ali
Grandes expectativas: o que é possível esperar de Obama? – Por Tariq Ali
O significado histórico da eleição de Obama não deve ser subestimado. Basta lembrar que ocorreu em um país onde a Ku-Klux-Klan chegou a ter milhões de membros capazes de executar uma campanha de terror e morte contra cidadãos negros com o apoio de um sistema jurídico discriminatório. É um momento horroroso para ser eleito presidente, mas também é um desafio. Que tipo de mudanças podemos esperar com Obama que assume um país em processo de desindustrialização e fortemente dependente das finanças globais?
Tariq Ali - Sin Permiso
A vitória de Barack Obama supõe uma mudança geracional e sociológica decisiva na política dos Estados Unidos. É difícil, nestes momentos, predizer seu impacto, mas as expectativas suscitadas entre a gente jovem que impulsionou Obama seguem sendo grandes. Talvez não tenha sido uma vitória arrasadora, mas foi suficientemente ampla para permitir que os democratas ficassem com mais de 50% do eleitorado (62,4 milhões de votantes) e colocassem uma família negra na Casa Branca.
O significado histórico deste fato não deveria ser subestimado. Basta lembrar o que ocorreu no país em que a Ku-Klux-Klan chegou a ter milhões de membros capazes de executar uma campanha de terror e morte contra cidadãos negros com o apoio de um sistema jurídico discriminatório. Como esquecer aquelas fotos de afroamericanos linchados diante do olhar complacente de famílias brancas que desfrutavam seus piqueniques enquanto contemplavam – para dizê-lo na voz memorável de Billie Holliday – “corpos negros balançando-se com a brisa do sul, um fruto estanho pendurado nos álamos”?
Mais tarde, as lutas dos anos 60 pelos direitos civis forçaram a reversão da segregação e impulsionaram as campanhas a favor do voto negro, mas também conduziram ao assassinato de Martin Luther King e de Malcom X ( justo quando este começava a insistir na unidade dos brancos e negros contra um sistema que oprimia a ambos). Tornou-se um lugar comum assinalar que Obama não faz parte desta lista. Não é assim, contudo, como mostram os 96% de afroamericanos que saíram de casa para votar nele. Pode ser que se desiludam, mas por enquanto celebram a vitória e ninguém pode culpá-los por isso.Há apenas duas décadas, Bill Clinton advertia seu rival, o progressista governador de Nova York, Mario Cuomo, que os Estados Unidos não estavam preparados para eleger a um presidente cujo nome acabasse em “o” ou em “i”. Há apenas alguns meses, os Clinton cediam abertamente ao racismo insistindo que os votantes da classe trabalhadora rechaçariam a Obama, lembrando aos democratas que Jesse Jackson também tinha ido bem nas primárias. Uma nova geração de eleitores demonstrou que eles estavam equivocados: cerca de 66% dos que tinham entre 18 e 29 anos, ou seja, 18% do eleitorado, votou por Obama; 52% dos que tinham entre 30 e 44 – uns 37% do eleitorado – fez o mesmo.
A crise do capitalismo desregulado e de livre mercado fez disparar os apoios a Obama em estados até então considerados território republicano ou de democratas brancos, acelerando o processo que derrotaria a dupla Bush/Cheney e seu bando de neo-cons. No entanto, o fato de que a dupla McCain/Palin obteve, apesar de tudo, 55 milhões de votos, é uma lembrança da força que a direita estadunidense ainda conserva. Os Clinton, Joe Biden, Nancy Pelosi e muitos outros pesos pesados do Partido Democrata utilizaram este dado para pressionar Obama a fim de que ele permanecesse fiel ao roteiro que lhe permitiu ganhar a eleição. Não obstante, os slogans bem-intencionados e anódinos não serão suficientes para garantir um segundo mandato. A crise avançou demasiado e as questões que preocupam aos cidadãos estadunidenses (como pude comprovar estando lá, há algumas semanas) têm a ver com o emprego, a saúde (40 milhões de cidadãos sem seguro de saúde) e a habitação.
Só com retórica não é possível enfrentar a queda da economia: as dívidas do setor financeiro superam a casa de um trilhão de dólares e ainda ameaçam gigantes bancários; o declínio da indústria automobilística gerará desemprego em uma escala mais ampla e seguirão os efeitos do salto ao vazio ao qual Wall Street hipotecou as futuras gerações de norte-americanos. As medidas adotadas, em meio ao pânico, pela administração Bush, medidas desenhadas e adotados pelo amigo dos banqueiros e secretário do Tesouro Paulson, privilegiaram uns poucos bancos e foram subsidiadas com fundos públicos.Os democratas e Obama apoiaram os acordos e será difícil para eles desdizer-se e mover-se em outra direção. O aprofundamento da crise, no entanto, pode forçá-los a fazê-lo. As medidas de austeridade sempre atingem aos menos privilegiados, e a maneira como o novo presidente e sua equipe enfrentarão o novo cenário será determinante para seu futuro.
É um momento horroroso para ser eleito presidente, mas também é um desafio. Franklin Roosevelt aceitou esse desafio nos anos 30 e impôs um regime social-democrata de regulação da economia, baseado em empregos públicos e em um apelo imaginativo à cultura popular. A existência de um forte movimento operário e a esquerda estadunidense contribuíram decisivamente para o surgimento do New Deal. E a existência dos Reagan-Clinto-Bush para liquidar seu legado. O que há agora, portanto,é uma economia nova, um país desindustrializado e fortemente dependente das finanças globais.
Terá Obama a visão ou a força para voltar ao tempo e avançar ao mesmo tempo? Em matéria de política externa, a posição de Obama/Biden não diferiu muito da de Bush ou Mc Cain. Um New Deal para o resto do mundo exigiria uma saída rápida do Iraque e Afeganistão e um ponto final a estas aventuras em qualquer outra região do planeta. Biden, praticamente, se comprometeu com a balcanização do Iraque. Mas esta alternativa resulta cada vez mais improvável: o resto do país, o Irã e a Turquia se opõem, se bem que por razões diferentes, à criação de um protetorado norte-americano-israelense no norte do Iraque com bases permanentes dos EUA. Na verdade, alguém deveria aconselhar Obama a anunciar uma retirada rápida e completa. Sobretudo levando em conta que, com a crise, os custos de permanecer no Iraque tornaram-se proibitivos.
O mesmo se pode dizer de um eventual deslocamento de tropas do Iraque para o Afeganistão: só recriaria o mesmo problema em outro lugar. Como numerosos especialistas em inteligência, militares e diplomatas britânicos advertiram, a guerra no sul da Ásia está perdida. Sem dúvida, Washington está consciente disso. Daí as negociações, propiciadas pelo medo, com os neo-talibãs. Só resta esperar que os conselheiros de Obama em matéria de política externa forcem uma retirada também nesta frente.
E o que dizer da América do Sul? Seguramente Obama deveria imitar a viagem de Nixon a Beijing, voar a Havana e acabar com o bloqueio diplomático e econômico a Cuba. Inclusive Colin Powell deu-se conta de que o regime havia feito muito por sua gente. Será difícil para Obama predicar as virtudes do livre mercado, mas, em troca, os cubanos poderiam ajudá-lo a estabelecer um sistema de saúde decente nos EUA. Essa é uma mudança que a maioria dos estadunidenses desejaria. Outros países da América do Sul que previram a crise do capitalismo neoliberal e começaram a reconstruir suas economias há uma década também poderiam oferecer algumas lições.
Se a mudança acabar em nenhuma mudança, então poderá ocorrer que, passados alguns anos, quem apoiou Obama para a Casa Branca decida que a criação de um partido progressista nos Estados Unidos tornou-se uma necessidade.
Tariq Ali é membro do conselho editorial de Sin Permiso. Seu último livro publicado é “The Duel: Pakistan on the Flight Path of American Power”.Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Agência Carta Maior
O significado histórico da eleição de Obama não deve ser subestimado. Basta lembrar que ocorreu em um país onde a Ku-Klux-Klan chegou a ter milhões de membros capazes de executar uma campanha de terror e morte contra cidadãos negros com o apoio de um sistema jurídico discriminatório. É um momento horroroso para ser eleito presidente, mas também é um desafio. Que tipo de mudanças podemos esperar com Obama que assume um país em processo de desindustrialização e fortemente dependente das finanças globais?
Tariq Ali - Sin Permiso
A vitória de Barack Obama supõe uma mudança geracional e sociológica decisiva na política dos Estados Unidos. É difícil, nestes momentos, predizer seu impacto, mas as expectativas suscitadas entre a gente jovem que impulsionou Obama seguem sendo grandes. Talvez não tenha sido uma vitória arrasadora, mas foi suficientemente ampla para permitir que os democratas ficassem com mais de 50% do eleitorado (62,4 milhões de votantes) e colocassem uma família negra na Casa Branca.
O significado histórico deste fato não deveria ser subestimado. Basta lembrar o que ocorreu no país em que a Ku-Klux-Klan chegou a ter milhões de membros capazes de executar uma campanha de terror e morte contra cidadãos negros com o apoio de um sistema jurídico discriminatório. Como esquecer aquelas fotos de afroamericanos linchados diante do olhar complacente de famílias brancas que desfrutavam seus piqueniques enquanto contemplavam – para dizê-lo na voz memorável de Billie Holliday – “corpos negros balançando-se com a brisa do sul, um fruto estanho pendurado nos álamos”?
Mais tarde, as lutas dos anos 60 pelos direitos civis forçaram a reversão da segregação e impulsionaram as campanhas a favor do voto negro, mas também conduziram ao assassinato de Martin Luther King e de Malcom X ( justo quando este começava a insistir na unidade dos brancos e negros contra um sistema que oprimia a ambos). Tornou-se um lugar comum assinalar que Obama não faz parte desta lista. Não é assim, contudo, como mostram os 96% de afroamericanos que saíram de casa para votar nele. Pode ser que se desiludam, mas por enquanto celebram a vitória e ninguém pode culpá-los por isso.Há apenas duas décadas, Bill Clinton advertia seu rival, o progressista governador de Nova York, Mario Cuomo, que os Estados Unidos não estavam preparados para eleger a um presidente cujo nome acabasse em “o” ou em “i”. Há apenas alguns meses, os Clinton cediam abertamente ao racismo insistindo que os votantes da classe trabalhadora rechaçariam a Obama, lembrando aos democratas que Jesse Jackson também tinha ido bem nas primárias. Uma nova geração de eleitores demonstrou que eles estavam equivocados: cerca de 66% dos que tinham entre 18 e 29 anos, ou seja, 18% do eleitorado, votou por Obama; 52% dos que tinham entre 30 e 44 – uns 37% do eleitorado – fez o mesmo.
A crise do capitalismo desregulado e de livre mercado fez disparar os apoios a Obama em estados até então considerados território republicano ou de democratas brancos, acelerando o processo que derrotaria a dupla Bush/Cheney e seu bando de neo-cons. No entanto, o fato de que a dupla McCain/Palin obteve, apesar de tudo, 55 milhões de votos, é uma lembrança da força que a direita estadunidense ainda conserva. Os Clinton, Joe Biden, Nancy Pelosi e muitos outros pesos pesados do Partido Democrata utilizaram este dado para pressionar Obama a fim de que ele permanecesse fiel ao roteiro que lhe permitiu ganhar a eleição. Não obstante, os slogans bem-intencionados e anódinos não serão suficientes para garantir um segundo mandato. A crise avançou demasiado e as questões que preocupam aos cidadãos estadunidenses (como pude comprovar estando lá, há algumas semanas) têm a ver com o emprego, a saúde (40 milhões de cidadãos sem seguro de saúde) e a habitação.
Só com retórica não é possível enfrentar a queda da economia: as dívidas do setor financeiro superam a casa de um trilhão de dólares e ainda ameaçam gigantes bancários; o declínio da indústria automobilística gerará desemprego em uma escala mais ampla e seguirão os efeitos do salto ao vazio ao qual Wall Street hipotecou as futuras gerações de norte-americanos. As medidas adotadas, em meio ao pânico, pela administração Bush, medidas desenhadas e adotados pelo amigo dos banqueiros e secretário do Tesouro Paulson, privilegiaram uns poucos bancos e foram subsidiadas com fundos públicos.Os democratas e Obama apoiaram os acordos e será difícil para eles desdizer-se e mover-se em outra direção. O aprofundamento da crise, no entanto, pode forçá-los a fazê-lo. As medidas de austeridade sempre atingem aos menos privilegiados, e a maneira como o novo presidente e sua equipe enfrentarão o novo cenário será determinante para seu futuro.
É um momento horroroso para ser eleito presidente, mas também é um desafio. Franklin Roosevelt aceitou esse desafio nos anos 30 e impôs um regime social-democrata de regulação da economia, baseado em empregos públicos e em um apelo imaginativo à cultura popular. A existência de um forte movimento operário e a esquerda estadunidense contribuíram decisivamente para o surgimento do New Deal. E a existência dos Reagan-Clinto-Bush para liquidar seu legado. O que há agora, portanto,é uma economia nova, um país desindustrializado e fortemente dependente das finanças globais.
Terá Obama a visão ou a força para voltar ao tempo e avançar ao mesmo tempo? Em matéria de política externa, a posição de Obama/Biden não diferiu muito da de Bush ou Mc Cain. Um New Deal para o resto do mundo exigiria uma saída rápida do Iraque e Afeganistão e um ponto final a estas aventuras em qualquer outra região do planeta. Biden, praticamente, se comprometeu com a balcanização do Iraque. Mas esta alternativa resulta cada vez mais improvável: o resto do país, o Irã e a Turquia se opõem, se bem que por razões diferentes, à criação de um protetorado norte-americano-israelense no norte do Iraque com bases permanentes dos EUA. Na verdade, alguém deveria aconselhar Obama a anunciar uma retirada rápida e completa. Sobretudo levando em conta que, com a crise, os custos de permanecer no Iraque tornaram-se proibitivos.
O mesmo se pode dizer de um eventual deslocamento de tropas do Iraque para o Afeganistão: só recriaria o mesmo problema em outro lugar. Como numerosos especialistas em inteligência, militares e diplomatas britânicos advertiram, a guerra no sul da Ásia está perdida. Sem dúvida, Washington está consciente disso. Daí as negociações, propiciadas pelo medo, com os neo-talibãs. Só resta esperar que os conselheiros de Obama em matéria de política externa forcem uma retirada também nesta frente.
E o que dizer da América do Sul? Seguramente Obama deveria imitar a viagem de Nixon a Beijing, voar a Havana e acabar com o bloqueio diplomático e econômico a Cuba. Inclusive Colin Powell deu-se conta de que o regime havia feito muito por sua gente. Será difícil para Obama predicar as virtudes do livre mercado, mas, em troca, os cubanos poderiam ajudá-lo a estabelecer um sistema de saúde decente nos EUA. Essa é uma mudança que a maioria dos estadunidenses desejaria. Outros países da América do Sul que previram a crise do capitalismo neoliberal e começaram a reconstruir suas economias há uma década também poderiam oferecer algumas lições.
Se a mudança acabar em nenhuma mudança, então poderá ocorrer que, passados alguns anos, quem apoiou Obama para a Casa Branca decida que a criação de um partido progressista nos Estados Unidos tornou-se uma necessidade.
Tariq Ali é membro do conselho editorial de Sin Permiso. Seu último livro publicado é “The Duel: Pakistan on the Flight Path of American Power”.Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Agência Carta Maior
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