quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A ficha suja esfregada na cara do povo brasileiro: Jader Barbalho!

Jader Barbalho toma posse no Senado e critica a questão da anterioridade prevista pela Lei da Ficha Limpa

[Alemanha] Liberdade para Thomas Meyer-Falk, prisioneiro do estado alemão desde 1996 - por ANA

[Alemanha] Liberdade para Thomas Meyer-Falk, prisioneiro do estado alemão desde 1996Se você luta contra o Estado, se luta por um mundo melhor, luta pela liberdade, há uma possibilidade de que te tranquem na cadeia - que é onde estou. Há 15 anos. Nos lugares mais infernais, mantido em isolamento por razões de segurança, há mais de 10 anos. Fui preso em 1996 e só posto em liberdade na prisão geral popular em 2007.

Em outubro de 1996 fui preso depois de roubar um banco para levantar dinheiro para projetos revolucionários e antiautoritários – alguns legais e outros ilegais. Fui condenado a 11 anos e meio e a P. D. (Prisão Preventiva, com base em uma lei nazi de1933, que permite ao Estado mantê-lo sob custódia pela vida, alegando que pensam que eu sou “uma ameaça à segurança pública”). Pelo fato de haver lutado ativamente, tenho sido mantido em isolamento por mais de 10 anos; passei os últimos quatro anos na prisão geral popular, mas me recuso a cooperar com o Estado ou a aceitar trabalhos forçados. E assim, em 2009, os da condicional não encontraram nenhuma razão para me libertar. Em 2013, vou cumprir minha condenação e serei mudado para outra prisão de segurança máxima pelo P.D (Prisão Preventiva). Na verdade, a P. D. deveria ter começado em 2008, mas tive alguns pequenos julgamentos na última década por “insultar juízes, políticos e chefes de prisão”; por causa disto eu tenho mais 5 anos e meio (não é brincadeira).

Eu não matei ninguém, nem fiz feridos (para os reféns no banco foi um trauma, não fechemos os olhos para eles, mas isso foi a mais de 15 anos). Eu não sei quanto tempo fui mantido nas suas gaiolas, mas não penso em “cooperar” com eles. Nem com o chefe da prisão, ou com o tribunal ou psicólogos, ou qualquer um no Estado.

Eu tenho certeza que há uma pequena chance de que o tribunal deixe-me livre nos próximos 5 anos ou mais, mas se as pessoas de fora mostrarem ao Governo que há um forte movimento e apoio, podem me tirar da gaiola.

Então, eu realmente apreciaria se vocês pudessem escrever cartas e e-mails para:

Ministerpräsident (título de governador na Alemanha)
Mr. Kretschamann
Staatsministerium
Richard Wagner Str. 15
D-70184 Stuttgart
Germany
Fax: 0049-711-2153-340 (no fax por internet o prefixo pode aparecer +49, em vez de 0049)
Telefone:0049-711-21530 0049-711-21530
E-mail: poststelle@stm.bwl.de

E pedir minha liberdade
Em luta!

Thomas Meyer-Falk
c/o JVA-Zelle 3113
Schöenbornstr. 32
D- 76646 Bruchsal
Germany
Mais infos: http://www.freedom-for-thomas.de/

agência de notícias anarquistas-ana
Sol no templo
solto o tempo
só contemplo
Elson Fróes

Impunidade e terror: Serial killer volta a matar gatos no Cemitério do Araçá, em SP - por Fernanda Franco

Impunidade e terror: Serial killer volta a matar gatos no Cemitério do Araçá, em SPFoto de alguns gatinhos que desapareceram do cemitério em maio de 2010 (Foto: Arquivo Pessoal/Adélia Iurilli)
O terror continua pairando na região do Cemitério do Araçá, em SP – ao menos para os gatos abandonados que habitam o local.

Nesta semana, protetoras que frequentam o cemitério para cuidar dos animais relataram que foram encontrados cerca de seis gatos mortos, enquanto muitos estão desaparecidos.

Apesar da grande mobilização das protetoras de animais e das promessas das autoridades em resolver o caso, a matança de gatos que vem sendo denunciada desde maio de 2010 continua fazendo novas vítimas. Mais de um ano após as denúncias de assassinatos em massa de gatos (cerca de 80 mortos) , nada foi apurado.

Segundo a protetora Rosely Cometti, que atua há mais de 7 anos cuidando e resgatando animais do abandono, os gatos estão muito assustados. “Já encontramos 6 gatos mortos e muitos outros estão desaparecidos”, diz Rosely.

Rosely defende que a solução está na instalação de câmeras por todo o cemitério: “É a única forma de flagrar a ação desse criminoso. Se não instalarem câmeras, mais gatos vão continuar a morrer. É muito triste ver a falta de vontade das autoridades…”, diz a protetora, indignada.

“A lentidão da justiça torna tudo mais desesperador. Mais gatos estão morrendo, precisamos fazer alguma coisa”, lamenta a protetora.

Rosely parecia prever o triste caminho dos acontecimentos ao afirmar, em julho de 2010, que “enquanto não houver vigias à noite, os assassinos vão continuar até o último gatinho”.

Petição
Na época das primeiras denúncias de maus-tratos, foi criada uma petição pedindo às autoridades a apuração do caso e punição para o responsável pelos assassinatos. Para assinar, clique aqui.

Nota da Redação: Enquanto não houver no Brasil uma polícia eficiente, amparada em leis justas, que garantam a devida punição aos que praticam crimes contra os animais, todos os perfis de agressores continuarão agindo como bem entendem, fazendo novas vítimas, e causando grande sofrimento sem precisar responder por seus crimes. Temos também uma enorme deficiência no que se refere às ações de prevenção e políticas públicas contra o abandono de animais – como castração comunitária, atendimento veterinário público, programas constantes de adoção e reencaminhamento de animais abandonados, entre outras ações viáveis. Na tentativa de suprir essa necessidade, surge a ação de protetores independentes, socorristas e ONGs, que procuram dar conta do que não é feito pelo poder público. Esse desequilíbrio de atribuições retrata o quanto os animais domésticos são ainda pouco considerados no cerne da legislação brasileira e também na mentalidade de muitas autoridades. Defendemos a urgência de mudanças em três ações paralelas: prevenção do abandono e do desamparo de animais; que a legistação passe a considerar como de ‘maior potencial ofensivo’ os crimes contra os animais, e que, portanto, preveja penas severas para tais práticas; e, finalmente, uma severidade na aplicação das penas previstas por essas ‘novas’ leis. Esse é o caminho que temos a trilhar para que possamos viver numa sociedade justa para todos os seres.
Fonte: www.anda.jor.br/

E a primavera árabe continua em 2012 - por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Novos grupos anarquistas na Grã-Bretanha - por ANA

Novos grupos anarquistas na Grã-Bretanha[Novos grupos radicais - North East Anarchists (Anarquistas do Nordeste), Three Counties Anti-fascist Alliance (Aliança Anti-fascista de Three Counties), London Anarchist Black Cross (Cruz Negra Anarquista de Londres), Bedford Bypass (Atalho de Bedford) e Wharf Chambers Social Centre (Centro Social Wharf Chambers).]

Talvez seja um indicativo da saúde geral do movimento anarquista quando novos grupos autônomos começam a emergir e se tornam ativos em sua área. Nós sempre ficamos felizes de ver novas iniciativas se desenvolvendo e ainda mais felizes de promovê-las no jornal. Se você está envolvido em uma organização, iniciativa ou evento anarquista, entre em contato e nos comunique sobre suas propostas.

Os Anarquistas do Nordeste são um grupo de anarquistas classistas se organizando com a modesta intenção de colocar o mundo de cabeça pra baixo. Como eles dizem: Tudo está errado e nós queremos arrumar este todo! Se juntaram no início deste ano em uma tentativa de criar uma presença anarquista no nordeste da Inglaterra e desde então o grupo tem se encontrado regularmente, tomando parte em atividades políticas na região, incluindo o carnaval de Sunderland contra os cortes (contra as medidas de austeridade), a Festa dos Mineiros de Durham, e a gestão de um serviço de memória para aqueles que perderam suas vidas combatendo o fascismo na Espanha. Eles encorajam todos os anarquistas do nordeste para entrar em contato através do site: http://neanarchists.com.

Atalho de Bedford é uma nova grande proeza de agitação online. Começou como uma tentativa de controlar as faturas dos seus representantes locais eleitos, e agora está atacando enquanto um blog que desfralda muitas características da tradição anarquista; a crença no apoio mútuo e que, compartilhando informação e apoiando um ao outro podemos ser impactantes fazendo a diferença. O grupo até agora levantou algumas questões no jornal local e mira para o crescimento da sua presença na região. Qualquer pessoa na área de Bedford/Cambridge que quer se tornar ativo e agitar sua raiva, dê um grito pra eles. Website: http://bedfordbypass.wordpress.com.

A Aliança Anti-fascista de Three Counties é uma nova iniciativa nos arredores de Gloucestershire, Herefordshire e Worcestershire. Eles existem para confrontar a atividade e organização fascista aonde quer que ocorra na região, utilizando uma ampla diversidade tática, incluindo o recolhimento de informações e panfletagem através de piquetes e ação direta, o que quer que seja mais apropriado para se opor ao fascismo a qualquer hora. Ao contrário de outros grupos "anti-fascistas", eles são não-hierárquicos e acreditam em uma organização popular, e não trabalha nem trabalhará com qualquer grupo filiado ao Estado. Não estão de nenhuma forma associados com Searchlight/Hope not Hate (Esperança, não Ódio) ou Unite Against Fascism (Unidos Contra o Fascismo). Se você tem algo a dizer, contate-os através do e-mail: 3cafa@riseup.net ou visite o site: http://3cafa.wordpress.com/about/.

Com manifestantes recebendo penas de prisão desproporcionais massivamente, o Estado mirando em atividades anti-fascistas de rua e aprisionamentos em massa de ativistas contra as medidas de austeridade e ativistas ambientalistas, o suporte aos prisioneiros está mais uma vez se tornando uma atividade essencial e uma necessidade política. O que faz da nova Cruz Negra de Londres ainda mais vital. Já ocorreu um evento beneficente com a lenda do folk David Rovics para angariar dinheiro para o grupo começar a dar suporte aos presos com maior profundidade e continuidade. Para se envolver, contate-os neste e-mail: london_abc@riseup.net. Website: https://network23.org/londonabc/.

Das ruínas do muito amado Common Place (Lugar Comum) centro social radical, que deixa muitas saudades na cidade de Leeds, nasce Wharf Chambers para revigorar a cena social radical da cidade. Ocupando o mesmo prédio que o Common Place ocupava, o novo projeto opera como uma cooperativa de trabalhadores sem fins lucrativos. Todos os eventos licenciados serão administrados pelos membros do clube (o custo para se tornar membro é de apenas £1) e os membros terão o controle democrático do grêmio, podendo participar em uma gama de decisões que vão desde quais tipos de eventos gostariam de fazer acontecer, até que cervejas que gostariam de estocar no bar. Se alguém quiser se envolver, entre em contato: wharfchambers@gmail.com.

Wharf Chambers
23 Wharf Street
Leeds LS2 7EQ
Website: http://www.wharfchambers.org/
Fonte: jornal Freedom, Outubro de 2011

Tradução > Malobeo

agência de notícias anarquistas-ana
o vento frio
leva a andorinha
ao ninho novo
Rose Ruas

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Simplesmente Banksy!


Fonte: http://www.banksy.co.uk/

Estado Assassino: Gaza: ataque israelense deixa ao menos 1 palestino morto - por AFP

Gaza: ataque israelense deixa ao menos 1 palestino mortoAo menos um palestino morreu e outros dois ficaram feridos nesta terça-feira à noite em um ataque aéreo israelense no norte da Faixa de Gaza, informaram fontes médicas locais.

O ataque ocorreu contra um triciclo motorizado que circulava no campo de refugiados de Jabaliya, no norte da cidade de Gaza, segundo testemunhas.

O morto foi Abdala Al-Telbani, de 22 anos, informaram as fontes médicas.

O exército israelense negou-se a fazer qualquer comentário por enquanto, mas fontes de segurança israelense informaram a AFP que o alvo do ataque aéreo era um ativista palestino.

Este ataque ocorre depois que o movimento islâmico Hamas, no poder em Gaza, iniciou um processo de reconciliação com seu rival Fatah, liderado pelo presidente palestino Mahmoud Abbas.

A última ação israelense em Gaza foi em 9 de dezembro, quando um pai e seu filho morreram em um ataque aéreo no leste da cidade de Gaza.

Fonte:(AFP).-

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

“Só protestar simbolicamente não é suficiente”, afirma Tariq Ali - por Heloisa Gimenez, Marcio Rabat e Vinicius Mansur

“Só protestar simbolicamente não é suficiente”, afirma Tariq Ali
O escritor analisa as movimentações políticas que sacodem a conjuntura internacional

Com uma fala tranquila, tão simples quanto ampla, o paquistanês Tariq Ali domina como poucos os processos políticos, em escala planetária, que colocam a ordem contra a parede. Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, seu olhar analítico percorreu a Primavera Árabe, dividiu as mobilizações nos países desenvolvidos – EUA e Europa – entre simbólicas e massivas, valorou a América do Sul como o processo mais radical até agora – dentro do capitalismo – e ponderou as possibilidades de transição sistêmica no continente, além de buscar conexões da luta global contra o capitalismo. Confira a entrevista.

Brasil de Fato – Em uma entrevista recente, o senhor disse que, diferentemente da resistência na América do Sul durante o final do século 20 e começo do 21, os países da chamada “Primavera Árabe” não produziram organizações políticas. Então, quais são as forças políticas que devem emergir nesses países com a queda dos governos? Há semelhanças entre elas?
Tariq Ali – Aqui na América do Sul tivemos movimentos sociais conectando-se, criando novos movimentos políticos, organizações políticas, disputando eleições e chegando ao poder – isso é o importante e completamente novo: tomar o poder a partir do sistema democrático eleitoral. No mundo árabe tivemos grandes levantamentos, mas não produziram uma nova formação política. Na Tunísia e no Egito ocorreu que as organizações políticas que haviam sido reprimidas voltaram a aparecer, principalmente, as islamistas. Então, os novos personagens, os jovens que criaram os movimentos agora, ficaram sem voz política. A escala dos movimentos foi imensa, mas não produziram nada e, por isso, o exército no Egito pode tomar o poder novamente.

Na Tunísia os islamistas ganharam as eleições. Agora, existe um grande equívoco sobre esses partidos. As pessoas automaticamente pensam em terroristas, extremistas, fundamentalistas, mas esses partidos islamistas são religiosos, socialmente conservadores, como os democratas cristãos da Europa e os partidos dominados pela Igreja Católica em outros lugares do mundo. É muito importante pôr isso em perspectiva. Os partidos apoiados por luteranos e católicos existem em diferentes lugares do mundo ocidental e são aceitos, mas quando os islamistas são eleitos, todo o mundo fica nervoso. Eu não concordo com esses partidos, mas há que se aceitar seu direito a ganhar eleições e que as pessoas aprendam através de suas próprias experiências.

No Egito, se são feitas eleições livres, é provável que a Irmandade [Muçulmana] ganhe. Calculo que tenham aproximadamente 40% do eleitorado, ou seja, podem formar um governo se o exército e os EUA permitirem. Se houver mudanças na Síria, algo similar acontecerá.

É importante entender a razão disso. De 1976 a 1989/90, a esquerda e os nacionalistas foram erradicados do mundo árabe pelos estadunidenses, em aliança com os islamistas – estes sim, islamistas duros. Então, existe um vazio e novos tipos de grupos islamistas estão surgindo. No Egito e na Tunísia, a esquerda está tentando organizar novos movimentos, partidos e esperemos que tenham êxito, mas até agora não tem forças, são pequenos, assim como em todo o mundo árabe.

O que há de comum entre os levantamentos e as mobilizações recentes da Europa e EUA, além de serem contemporâneos?
Há dois movimentos diferentes. Um são os movimentos nos EUA e Reino Unido, que são essencialmente movimentos de protesto simbólico, ocupando espaços públicos e se mantêm só nisso. Mas são muito importantes porque, ao menos, algo está acontecendo, são movimentos em uma etapa muito embrionária, pequenos, principalmente de jovens, às vezes alguns sindicalistas, e esse é seu alcance, simbólico. Não sabemos o que acontecerá com eles. Os EUA são imensos como o Brasil, não é tão fácil organizar- se, e, na minha opinião – e isso eu disse à ocupação em Oakland –, é extremadamente importante convocar uma assembleia popular de todos os movimentos para discutir como avançar. Do contrário, se diluirão, esse é meu temor.

Outro tipo de movimento está na Espanha e Grécia, que foram movimentos imensos, não somente protestos simbólicos. Na Espanha houve imensas ocupações em Madri, Barcelona e outras cidades, mas que não formularam uma carta ou programa ainda que de limitadas exigências. É evidente que o pensam, mas não o codificaram, não o puseram num plano que pudesse unir as pessoas por um longo tempo. Por isso, apesar dos imensos movimentos, tivemos na Espanha a vitória da direita nas eleições, os movimentos não participaram da política porque dizem que “a política é suja, asquerosa, manchada”. Isso é um problema porque ou se faz uma revolução – que não é possível neste momento – ou se intervém no sistema político, tal como está, como na América do Sul, e tenta-se mudá-lo com novas constituições ou seja lá o que for. Não fizeram, e a Espanha é um grande fracasso.

Na Grécia houve seis greves gerais, movimentos massivos, mas nada de resultados, e o país está entregue aos banqueiros, literalmente. Um banqueiro foi nomeado para dirigir o país, de Papandreou a Papademos. Esse é um acontecimento interessante na Europa: os partidos políticos tradicionais já não podem dirigir o sistema. Então, agora são uma colônia da União Europeia e os alemães e estadunidenses são quem decide: “Tudo bem, tomem o governo porque não confiamos neles”. Isso é o que chamo de ditadura do capital que, de distintas formas, é o “extremo centro”, composto pela centro-esquerda e centro-direita, onde não importa quem está no poder, fazem exatamente as mesmas coisas. Contra eles é preciso uma resposta política, caso contrário, os movimentos poderão ser esmagados. Na minha opinião, era possível que os movimentos na Grécia tomassem uma cidade. Eu disse a eles: “Tomem Tessalônica! Simplesmente tomem! Capturem! Se a presença das massas é imensa, os militares não vão intervir. Convoquem uma assembleia popular, tenham delegados de todas as áreas e elaborem um programa para toda a Grécia e isso inspirará o mundo”.

Mas eles têm suficiente organização para isso?
Esse é o problema, poderiam ter feito. Creio que se houvesse 500 ou 600 pessoas pensando com clareza… Na Grécia há a combinação de mobilizações massivas e grupos escleróticos, atrofiados na esquerda. O Partido Comunista do Exterior, o Partido Comunista do Interior, cinco dezenas de grupos trotskistas que sequer podem se unir entre si, muito menos oferecer liderança às massas.

E o que há de comum entre os movimentos dos EUA e da Europa e os da Primavera Árabe?
A crise de 2008, do sistema Wall Street, ou seja, do neoliberalismo, contra o qual os políticos não são capazes de lidar por causa do “extremo centro”. Temos uma crise imensa e eles não fazem nada para desafiar a vigência do neoliberalismo e capitalismo; seguem implementando as mesmas políticas. Até economistas burgueses tradicionais os advertem que assim não se resolverão os problemas, mas eles temem fazer mudanças e abrir espaço para mais disputas.

Mas não é essa nossa esperança?
Sim, e sou otimista. Agora temos que dizer: só protestar simbolicamente não é sufi ciente. Eles [neoliberais] estão plenamente confiantes de que não existe uma alternativa a eles. Não importam os movimentos de massas. Virão e passarão e, caso se tornem muito perigosos, podem ser esmagados. A menos que haja uma crise terminal do capitalismo, os neoliberais sempre se recuperarão. Por isso que muita gente no mundo tem esperanças verdadeiras de que algo diferente possa sair da América do Sul.

O rompimento com o capitalismo não se dá porque não há vontade popular ou porque não temos uma alternativa?
Acho que temos uma alternativa, mas as pessoas ainda continuam um pouco traumatizadas pela queda da União Soviética e pela vitória do capitalismo na China. Isso fez com que muita, muita gente, tenha medo de propor alternativas. Acho que isso acabará, mas necessitamos um ou dois grandes êxitos em algum lugar para mostrar que é possível construir um mundo e uma economia que se desfaça completamente do capitalismo. Isso não aconteceu ainda. Independentemente da solidariedade com os processos da Bolívia, Venezuela e Equador, o capital permanece. E esse é o perigo para esses processos. A situação na América do Sul é de transição, podendo ir além, num bom caminho, ou retroceder, temos que estar conscientes disso.

Se olhamos objetivamente, o mundo está pedindo a gritos um sistema diferente. Essa é a imensa tragédia e a contradição em todos os níveis: na economia, nas condições de vida durante os últimos 20 anos, o tamanho da classe trabalhadora mundial, que dizem que desapareceu, na verdade passou de 1,6 bilhão nos anos de 1980 para mais de 3 bilhões agora, com a entrada do capitalismo na China, na Rússia, a expansão na Índia e até no Brasil. A classe trabalhadora mundial é imensa, mas está muito reprimida na China, na Rússia, mas está aí.

Em segundo lugar, agora está claro que a maneira como funciona o capitalismo degrada a ecologia do mundo e o clima. Qual é a solução? A economia planejada, global ou regional, onde exista grande colaboração e planejamento para salvar o planeta da devastação do capitalismo: temos que fazer isso, isso e isso. Não produziremos mais automóveis, tentaremos tirá-los de uso – não completamente: deixaremos que sejam usados para longas viagens, não dentro das cidades (nelas, teremos um sistema de transporte público). Mas os políticos não estão pensando assim, não podem nem começar a fazê-lo. Então, a necessidade objetiva do socialismo é muito forte, mas não acontece. Esses políticos e a elite capitalista que se une contra a classe trabalhadora global e os movimentos sociais não são capazes de salvar o planeta porque necessitam maximizar os vultuosos lucros, usar o dinheiro para fazer mais dinheiro. Isso é o que os determina e o que os explodirá em algum momento.

Após mais de uma década das mudanças na América Latina, quais são os resultados?
Varia de país a país, mas há um padrão que provavelmente é o mesmo. Foi extremamente importante esses movimentos tomarem o poder em eleições democráticas, derrubando um dos pilares do Ocidente, que dizia que todos esses grupos que querem mudanças são antidemocráticos. Isso foi um impacto tremendo que não se deve subestimar. As vitórias eleitorais sucessivas de Chávez na Venezuela são extremamente importantes. Primeiro, é um líder muito valente, sem medo de dizer o que pensa diante dos EUA, o que é raro. Segundo, o fato de o maior produtor de petróleo da América se mover à esquerda é um grande atraso para os EUA e é um erro pensar que eles se renderam. Andaram e ainda estão ocupados com o Oriente Médio, mas começaram a atuar novamente aqui. Em Honduras, o Esquadrão da Morte voltou ao poder; usaram colombianos com regularidade para desestabilizar a Venezuela, puseram cada vez mais pressão sobre o Brasil para que intervenha a favor de seus interesses no continente.

Hoje, pela primeira vez na história da América, não há embaixadores dos EUA na Venezuela, Bolívia e Equador. Isso reflete algo.

O PT chegou ao poder depois de uma decisão muito consciente – não foi por acidente – de não desafiar o sistema neoliberal. Não o fizeram e é por isso que por muitos anos a imprensa financeira, como o Financial Times, The Economist, dizia que existia na América do Sul o modelo bom, o Brasil, e o mau, os bolivarianos. O Brasil é o ornitorrinco descrito por Francisco de Oliveira: manteve, em nível econômico, o modelo neoliberal – Palocci era um grande –, mas em assuntos externos mudou. Disseram aos EUA: “já não faremos o que querem”, e as tentativas muito fortes de dividir Lula e Chávez foram neutralizadas. Talvez seja somente simbólico, mas foi muito importante.

Então, qual é o balanço?
É misto. Isso é um problema, mas é o mundo em que vivemos. Vemos reformas sociais, tentativas de mobilizar desde baixo, envolver esses setores, fazê- los participar no funcionamento do sistema e isso é muito positivo. Vimos imensas quantidades de dinheiro postas a disposição. Mas o fato de que o capitalismo exista com todas suas contradições também significa que não se pode lidar com o país como um todo. Qual é a causa do nível de inseguridade na Venezuela? Se houve uma verdadeira melhora das condições de vida dos pobres, por que ela acontece? É puramente interno ou parte é promovida pela intervenção colombiana para criar instabilidade? Provavelmente um pouco dos dois. Na Bolívia também houve avanços e problemas, que recentemente explodiram num confronto entre o povo e o governo, resultado da intervenção econômica de uma empresa brasileira. Portanto, são problemas que permanecem conosco e acho que a única solução em médio prazo é os governos fortalecerem e institucionalizarem estruturas desde baixo. Assim, ainda que derrotados, a estrutura se mantém alternativa ao parlamento existente e o progresso conquistado não poderá ser totalmente revertido, porque, se tentar reverter as reformas, a direita sofrerá um tremendo levante.

Então, penso que é uma situação mista. Para o resto do mundo, o que aconteceu na América do Sul é o experimento mais radical até agora – dentro do capitalismo, de acordo –, mas muito radical, porque o mundo nos disse que o Estado não deve fazer nada, o que é muito irônico agora, quando há uma tremenda crise e é preciso recorrer ao Estado.

O senhor acredita que o Brasil está promovendo um novo tipo de imperialismo?
Nos anos de 1970, tivemos este grande debate sobre se os poderes regionais poderiam chegar a ser subimpérios. Ironicamente, Cardoso [FHC] escreveu sobre isso, quando era de esquerda, na nossa revista New Left Review. Eu acho um problema, essas são as contradições do Brasil. Se fosse um governo de direita, não haveria contradições. O governo do PT permitiu que a indústria privada se metesse em sua indústria petroleira, fomentou investimentos de corporações ocidentais no Brasil e, logo, essa é sua própria lógica para operar em outros países do continente, sem ver que esses investimentos são vistos pelas pessoas desses outros países como um tipo de exploração.

É muito comparável com a Índia em partes da Ásia. Essa é a maneira como funciona o capitalismo, a menos que tenha um Estado que o controle. Todos esses projetos deveriam ser um corpo comum das repúblicas sul-americanas. O governo brasileiro provavelmente dirá: “Não depende de nós, é o capital”. Mas depende deles, sim. Eles podem controlar o capital se quiserem.

O senhor acha importante e possível um diálogo entre os processos sul-americanos e árabes?
É muito importante que ocorra. Mas os levantamentos árabes ainda não estabeleceram vínculos entre eles mesmos. Os Estados estão colaborando entre si, os movimentos estabelecem vínculos apenas episódicos, com alguns indivíduos. É extremamente importante mostrar alo que se fez na América do Sul. Quando estamos aqui, pensamos que não é suficiente, mas comparado ao que aconteceu no mundo árabe, é enorme. Quando Chávez visitou o mundo árabe há uns cinco ou seis anos e a Al-Jazeera o entrevistou por uma hora, foi a entrevista mais popular que haviam feito até então. Porque ele falou sobre o programa social da Venezuela, como estavam utilizando os recursos do petróleo e os árabes escutando- o se diziam: “Meu Deus, por que não aqui?”. O diretor da Al-Jazeera me disse que receberam mais e-mails sobre essa entrevista do que sobre qualquer outra coisa que já transmitiram. Dezenas de milhares de e-mails que perguntavam, de diferentes maneiras: “quando o mundo árabe vai produzir um Chávez?”.

E qual é a imagem do Brasil no Oriente Médio?
Não creio que o Brasil tenha uma imagem. As pessoas pensam, desafortunadamente, em outros continentes neste momento. A Venezuela é uma exceção. Chávez, basicamente, pôs a Venezuela no cenário mundial. É o único país sulamericano que de verdade é bem conhecido, pelo programa bolivariano. Não creio que o Brasil tenha uma imagem, boa ou má.

O Fórum Social Mundial (FSM) estabeleceu um diálogo entre organizações políticas de todo o mundo e o senhor participou bastante disso. O FSM poderia ser um espaço de encontro desses levantamentos hoje?
Não estou tão convencido disso porque, quando o FSM começou, era extremamente importante, era a primeira vez, desde o grande triunfo do capitalismo, que as pessoas de todo mundo que pensavam que era preciso outra coisa começaram a se encontrar para dizer uns aos outros: “Oi! Você ainda está aqui! Que bom!”. Nesses anos existiam movimentos sociais grandíssimos, que podiam ser reconhecidos, que tinham representantes identificáveis. Tínhamos movimentos e ONGs, com contradições entre eles em alguns casos. As ONGs, por sua natureza, são obrigadas por seus patrocinadores a não serem políticas e se concentrarem em um tema, como una fábrica em particular em um país em particular. Como resposta aos problemas do mundo isso não é sufi ciente. Muitas ONGs na Ásia e no mundo árabe foram advertidas por seus patrocinadores para não se oporem à guerra no Iraque. Então, agora, com os movimentos sociais debilitados e com as ONGs dominado totalmente o FSM, acho que ele não é tão relevante. Deixei de ir aos FSMs nos últimos anos. Os de Porto Alegre foram muito importantes, mas os que se levaram a cabo agora... converteram- se em uma espécie de simbolismo. Nada é feito. Só te faz sentir bem por dois ou três dias. E agora tampouco te faz se sentir tão bem. Muita gente pobre não pôde chegar aos fóruns organizados na África porque eram muito caros. Seus organizadores têm que se perguntar: “Para que estamos organizando isso? Qual é o objetivo do FSM?” Porque o mundo mudou desde os primeiros fóruns, para melhor em alguns casos, e creio que o mais importante agora é o fortalecimento regional, unir as forças progressistas na América do Sul, unir as forças progressistas no mundo árabe, unir as forças progressistas na Europa contra os banqueiros e a burocracia que não foi eleita. Nisso que acho que devemos nos concentrar. E com as novas iniciativas estadunidenses, é muito importante criar um movimento de oposição na região do Pacífico.

QUEM É:Escritor e cineasta, Tariq Ali, 68, é paquistanês radicado na Inglaterra desde a juventude, onde cursou Ciências Políticas e Filosofia na Universidade de Oxford. Escreveu mais de duas dezenas de livros sobre história mundial e política e sete novelas. É editor da revista New Left Review, assessor da Telesul e articulista frequente em jornais como The Guardian e The Independent.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Para Hobsbawm, protagonismo da classe média marca revoltas de 2011 - por BBC

Para Hobsbawm, protagonismo da classe média marca revoltas de 2011A classe média foi a grande protagonista e força motriz das revoltas populares e ocupações que marcaram o ano de 2011. Esta é a opinião de Eric Hobsbawm, um dos mais importantes historiadores em atividade.

Em entrevista à BBC, o historiador marxista nascido no Egito, mas radicado na Grã-Bretanha, afirma ainda que a classe operária e a esquerda tradicional - da qual ele ainda é um dos principais expoentes - estiveram à margem das grandes mobilizações populares que ocorreram ao longo deste ano.

''As mais eficazes mobilizações populares são aquelas que começam a partir da nova classe média modernizada e, particularmente, a partir de um enorme corpo estudantil. Elas são mais eficazes em países em que, demograficamente, jovens homens e mulheres constituem uma parcela da população maior do que a que constituem na Europa'', diz, em referência especial à Primavera Árabe, um movimento que despertou seu fascínio.

''Foi uma alegria imensa descobrir que, mais uma vez, é possível que pessoas possam ir às ruas e protestar, derrubar governos'', afirma Hobsbawm, cujo título do mais recente livro, Como Mudar o Mundo, reflete sua contínua paixão pela política e pelos ideais de transformação social que defendeu ao longo de toda a vida e que segue abraçando aos 94 anos de idade.

As ausências da esquerda tradicional e da classe operária nesses movimentos, segundo ele, se devem a fatores históricos inevitáveis.

''A esquerda tradicional foi moldada para uma sociedade que não existe mais ou que está saindo do mercado. Ela acreditava fortemente no trabalho operário em massa como o sendo o veículo do futuro. Mas nós fomos desindustrializados, portanto, isso não é mais possível'', diz Hobsbawm.

Hobsbawm comenta que as diversas ocupações realizadas em diferentes cidades do mundo ao longo de 2011 não são movimentos de massa no sentido clássico.

''As ocupações na maior parte dos casos não foram protestos de massa, não foram os 99% (como os líderes dos movimentos de ocupação se autodenominam), mas foram os famosos 'exércitos postiços', formados por estudantes e integrantes da contracultura. Por vezes, eles encontraram ecos na opinião pública. Em se tratando das ocupações anti-Wall Street e anticapitalistas foi claramente esse o caso.''

À sombra das revoluções
Hobsbawm passou sua vida à sombra - ou ao brilho - das revoluções.

Ele nasceu apenas meses após a revolução de 1917 e foi comunista por quase toda a sua vida adulta, bem como um autor e pensador influente e inovador.

Ele tem sido um historiador de revoluções e, por vezes, um entusiasta de mudanças revolucionárias.

O historiador enxerga semelhanças entre 2011 e 1848, o chamado ''ano das revoluções'', na Europa, quando ocorreram uma série de insurreições na França, Alemanha, Itália e Áustria e quando foi publicado um livro crucial na formação de Hobsbawm, O Manifesto Comunista, de Marx e Engels.

Hobsbawm afirma que as insurreições que sacudiram o mundo árabe e que promoveram a derrubada dos regimes da Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen, ''me lembram 1848, uma outra revolução que foi tida como sendo auto-impulsionada, que começou em um país (a França) e depois se espalhou pelo continente em um curto espaço de tempo''.

Para aqueles que um dia saudaram a insurreição egípcia, mas que se preocupam com os rumos tomados pela revolução no país, Hobsbawm oferece algumas palavras de consolo.

''Dois anos depois de 1848, pareceu que alguma coisa havia falhado. No longo prazo, não falhou. Foi feito um número considerável de avanços progressistas. Por isso, foi um fracasso momentâneo, mas sucesso parcial de longo prazo - mas não mais em forma de revolução''.

Mas, com a possível exceção da Tunísia, o historiador não vê perspectivas de que os países árabes adotem democracias liberais ao estilo das europeias.

''Estamos em meio a uma revolução, mas não se trata da mesma revolução. O que as une é um sentimento comum de descontentamento e a existência de forças comuns mobilizáveis - uma classe média modernizadora, particularmente, uma classe média jovem e estudantil e, é claro, a tecnologia, que hoje em dia torna muito mais fácil organizar protestos.''
Fonte: BBC

Subjugados à insanidade humana: Ursos são confinados e torturados em espécie de prisão no Canadá - Por Patricia Tai

Subjugados à insanidade humana:Ursos são confinados e torturados em espécie de prisão no CanadáUrso sendo transportado para prisão (Foto: Reprodução/Huffington Post)
Os ursos polares que vagueiam até a pequena cidade de Churchill, no Canadá, encontram uma grande surpresa.

Presos em pequenas celas de uma verdadeira prisão, e recebendo nada além de água durante meses, o objetivo é que estes ursos tenham uma experiência tão horrível ao visitar Churchill que nunca se aproximem da cidade novamente.

“Nós tentamos fazer a sua estadia tão desagradável quanto possível”, disse Bob Windsor, que trabalha no local.Foto: Reprodução/Huffington Post
Os ursos polares famintos invadem Churchill, considerada a “capital do urso polar”, durante a primavera e o verão, quando o gelo derrete e a sua fonte de alimentos torna-se limitada.

O armazém contém 28 celas, cada uma com seis metros quadrados de largura, onde ursos de meia tonelada são mantidos trancados e separados uns dos outros.

Punição extra é dada aos ursos considerados mais ‘impertinentes’.

Neve é empurrada através das gaiolas, mas eles ficam sem comida. As autoridades que cuidam da prisão negam a crueldade do tratamento dado aos ursos durante o verão.Foto: Reprodução/Huffington Post
Alisson Hood, diretor da Born Free Foundation, disse ao Huffington Post, no Reino Unido: “Eu visitei a cadeia dos ursos polares há cinco anos atrás. Era um local básico, apenas um velho hangar. A prisão evita que a cidade tenha de matar os ursos. Os ursos polares são, definitivamente, famintos, mas a população não quer que os ursos associem Churchill a alimentos, caso contrário poderiam causar um problema para a cidade. Não é cruel, mas uma necessidade, quando se tem carnívoros perigosos vivendo ao lado de uma população. Permite a conservação.”

A prisão foi instalada após habitantes da pequena cidade de Churchill terem se incomodado com os ursos invadindo suas casas e carros em busca de comida. Cerca de 1000 ursos vagavam pela vila à procura de comida.

O número de ursos capturados para o confinamento cruel é tão grande que, quando não há celas suficientes na prisão, os ursos são sedados e transportados para o norte, de onde fazem sua caminhada anual para a Baía de Hudson.

Nota da Redação: A doença humana que hoje contamina boa parte da sociedade faz um caminho perverso: primeiro destrói e ocupa os habitats dos animais, deixando-os sem seu abrigo natural e recursos para sobreviverem na natureza. Depois os culpa de “aterrorizarem”a população humana com suas aparições em busca de alimento. E, finalmente, quando nada de pior se espera, os humanos criam uma prisão para mostrar a esses animais que não ‘invadam’ os espaços que na realidade lhe foram tomados. Incoerência, prepotência e crueldade são os ingredientes dessa terrível e macabra medida a que estão sendo submetidos esses animais.

Fonte: http://www.anda.jor.br/

[Itália] Projeto Café Malatesta - por ANA

[Itália] Projeto Café Malatesta
A outra produção
O projeto Café Malatesta nasceu em Lecco em janeiro de 2010 quando se abriu a possibilidade para um grupo de jovens, provenientes de diversas experiências (seja do ativismo, de projetos de autogestão, seja de quem veio de anos de estudos ou de trabalhos precários), de utilizar gratuitamente uma máquina de torrefação de café em desuso, na sede da G.A.S. de Lecco.

De uma atividade experimental nasceu em um tempo curto um coletivo com vontade de criar uma realidade de trabalho autogestionada e baseada em dinâmicas decisórias antiautoritárias, com a convicção de que um modo diferente de viver a produção e o consumo pudesse ser seguido por uma mudança social no sentido solidário, como alternativa a uma economia capitalista predadora de culturas, territórios, tempos e espaço de nossas vidas.

Em quase dois anos de trabalho crescente e de numerosas relações com grupos de compradores, círculos sociais, associações, companheiros e amigos, o coletivo se encontrou de frente a importantes escolhas para a direção e as práticas do projeto, apesar da natureza ainda embrionária da atividade e da falta absoluta de capital inicial ter levado e continuar levando a uma grande dificuldade, entre pesar a vontade de decisões éticas radicais por um lado, com a premente necessidade de liquidez para se alcançar o objetivo mínimo da autonomia (constituição de um sujeito econômico autônomo).

O manifesto do Coletivo
O grupo constitui atualmente um “Coletivo de Trabalho” autogestionado que quer articular a sua atividade em 5 pontos fundamentais:

1. Criação de renda a partir de trabalho manual e intelectual e em nenhum caso de lucro ou retiradas incoerentes com a participação e o empenho no projeto coletivo.

2. Trabalhar com matérias primas produzidas em condições de trabalho dignas, com particular atenção às pequenas realidades privadas de acesso à certificação internacional Fair Trade.

3. Trabalhar com matérias primas produzidas com respeito ao meio ambiente e ao território com métodos de cultivo biológicos, procurando relações de confiança com pequenos produtores privados do acesso à certificação reconhecida Organic/Bio.

4. Divisão comum, mediante uma prática constante de assembléias, das escolhas e dos percursos que o projeto empreenderá, rechaçando a formação de dinâmicas verticalizadas e autoritárias.

5. Procura constante de relações e trocas com aquelas comunidades que tem a intenção de promover a cultura e a prática da solidariedade, do mutualismo e da autogestão.

O projeto nasce com a vontade de rebater uma lógica de “Comércio Justo” voltada para a caridade e para a beneficência, contrapondo uma solidariedade horizontal entre trabalhadores organizados em realidades autogestionadas, no norte e no sul do mundo.

A torrefação autogestionada é pensada como um instrumento de emancipação do trabalho precário e das condições de exploração, com o objetivo de desvincular os cultivadores das imposições esfomeadas das grandes companhias de comércio de café e de criar junto com outras comunidades e grupos no território, locais e nacionais, uma rede de produção e consumo paralela e autogestionada, baseada na auto-subsistência ao invés do lucro, na solidariedade ao invés da competição.

A proveniência do café verde
A vontade expressa desde as primeiras fases do projeto foi aquela de desenvolver os contatos mais diretos possíveis com os cultivadores, de modo a retirar o lucro dos intermediários e de restituir dignidade e reconhecimento aos trabalhadores. Assim, no arco de dois anos o grupo conseguiu fazer com que a maior parte do café trabalhado proviesse de projetos de solidariedade com as comunidades de camponeses (na Guatemala e em Honduras), enquanto o restante é certificado FairTrade.

A colaboração com a Coordinadora (coordinadora.noblogs.org), rede libertária nacional que sustenta diversos projetos de cooperação com as comunidades zapatistas de Chiapas, vai exatamente nessa direção: construir redes de solidariedade externas e estruturalmente conflituosas em confronto com os interesses do mercado oficial.

Desde abril de 2011, a assembléia da Coordinadora decidiu confiar ao Coletivo Café Malatesta o trabalho com o Café Durito provindo das cooperativas zapatistas, que antes vinha importado da cooperativa libertária Café Libertad de Hamburgo.

A escolha de trabalhar com uma matéria prima eqüitativamente retribuída aos produtores fora das lógicas intensivas da agroindústria e torrada artesanalmente leva inevitavelmente a um custo e, portanto, a preços mais elevados em relação ao café comercializado pelas grandes corporações. O coletivo, consciente de que o preço de venda seja um fator delicado e importante, procura manter custos no mesmo nível de outros cafés solidários e biológicos, para aproximar aqueles sujeitos (trabalhadores mal pagos, precários, desocupados, estudantes e aposentados) que se encontram na posição de ter de consumir mercadorias economicamente produzidas através da exploração de outros trabalhadores e de outros territórios, mas que teriam somente a ganhar com a difusão de redes mutualistas, de produção e de trocas alternativas.

O Coletivo promoveu uma Campanha Extraordinária de Doações para sustentar os custos relativos à adequação do laboratório, à compra de uma balança e a outros itens necessários para desenvolver a atividade. É possível participar de modo individual ou coletivo, com doações, empréstimos solidários, iniciativas beneficentes, distribuição do café ou promoção do projeto.

Para informações e contatos: caffemalatesta@autistici.org

Cristiano – 328 0069751 328 0069751

Jacopo – 340 5367035 340 5367035

Para informações sobre o café zapatista Durito: info@coordinadora.it

Tradução > Carlo Romani

agência de notícias anarquistas-ana
Pomar de caquis
Podados com cuidado
Sem harakiri
Umav

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Murais de Diego Rivera retornam a Nova York 80 anos depois - por AFP

Murais de Diego Rivera retornam a Nova York 80 anos depois
Oito murais "portáteis" criados pelo grande artista mexicano Diego Rivera em 1931 para o Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York voltam a ser exibidos no mesmo lugar 80 anos depois, em uma mostra que vai se estender até maio de 2012.

"Murais para o Museu de Arte Moderna" prestam homenagem à aventura extraordinária realizada pelo MoMA e Rivera por ocasião de sua primeira retrospectiva na Big Apple: pintar "in situ", em um curto espaço de tempo, uma série de obras que seriam logo expostas."Seus murais, 'por definição fixos' eram impossíveis de serem transportados para a exposição. Para resolver este problema, o museu levou Rivera para Nova York seis semanas antes da abertura da exposição e montou um estúdio improvisado em uma galeria vazia", contam os organizadores da exposição original de 1931.

Lá, trabalhando contra o relógio com dois assistentes, Rivera criou cinco "murais portáteis" representando episódios da história do México.

Após a abertura da exposição, o artista criou três pinturas murais inspiradas na Nova York contemporânea, com imagens monumentais da cidade durante a Grande Depressão.A exposição original foi inaugurada exatamente há 80 anos, no dia 22 de dezembro de 1931, e foi a segunda retrospectiva do prestigiado museu dedicado a um artista, logo depois da do francês Henri Matisse.

A mostra, que durou cinco semanas, quebrou recordes de público de acordo com o MoMA, que explica: "neste momento, Rivera já desfrutava de prestígio internacional" e era a figura mais famosa da pintura mural mexicana.Dos cinco murais sobre a história mexicana se destaca "Zapata Líder Agrário", um dos ícones da coleção do MoMA, em que o líder revolucionário aparece junto com um cavalo branco guiando os camponeses rebeldes, enquanto um proprietário de terras morre aos seus pés.

Outro trabalho que se destaca por sua força e mensagem simbólica é "Guerreiro Índio", em que asteca vestido de jaguar crava uma faca no pescoço de um conquistador espanhol vestido de uma armadura.

Das obras sobre Nova York durante a Grande Depressão, "Eletricidade" representa o interior de uma usina, onde o esforço dos homens alimenta a cidade.

"Drill Pneumático" e "Fundos Congelados" completam a trilogia que descreve o processo de industrialização na América.A exposição inclui desenhos, esboços e material de arquivos relacionados com a passagem de Rivera em Nova York entre 1931 e 1932.

Diego Rivera (1886-1957) é um dos artistas mexicanos mais reconhecidos em todo o mundo.

Comunista, defensor da resistência contra a conquista espanhola e da Revolução Mexicana (1910-1917), seus murais são obras de forte conteúdo social.

NOVA YORK, 22 dez 2011(AFP)

[EUA] “Vamos levar nosso irmão para casa e vamos lutar para derrubar este sistema” - por ANA

[EUA] “Vamos levar nosso irmão para casa e vamos lutar para derrubar este sistema”No último 9 de dezembro, mais de mil pessoas se reuniram no Centro Nacional da Constituição na Filadélfia para apoiar Mumia Abu-Jamal, apesar da intimidação de centenas de policiais que gritaram frases de ódio na rua. Em uma chamada telefônica, Mumia disse: “Pela primeira vez em quase 30 anos não estou fisicamente entre os condenados à morte, estou em outro setor chamado Bloco AC. As celas são idênticas as do corredor da morte, mas ninguém deste setor está condenado à morte, dentre eles, eu mesmo. É algo que se tem de acostumar, ainda estou me aclimatando”.

Em relação a sua reação ante ao fato de que sua condenação à morte se converteu em prisão perpétua, ele respondeu: “Devo admitir que me sinto um pouco surpreso porque estava esperando a audiência, me refiro a uma audiência de sentença. Apesar de que muitos de meus amigos e simpatizantes e inclusive meus advogados diziam que era muito provável que não houvesse audiência, eu acreditava que sim. E segui me sentindo assim até que ouvi a notícia. Nestes dias estarei falando com meus advogados e avaliaremos exatamente este tipo de coisa. Sinto um pouco de decepção devido ao fato de que não haverá audiência, já que acreditávamos que poderíamos conseguir algumas coisas durante esta audiência e travar uma boa batalha, mas teremos que batalhar de outras formas. Quero agradecer a todos os que tem nos apoiado durante tantos anos”.

O orador principal do evento na Filadélfia foi Cornell West, que falou da visão e compromisso social de Mumia, “um homem negro livre no corredor da morte”, cujo espírito não foi derrotado em 30 anos... Um homem que se atreve a dizer a verdade sobre o implacável legado da supremacia branca... Um homem que não se rendeu e não se vendeu, como muitos outros fizeram, um homem com uma visão holística e um compromisso fixo com os pobres e deserdados da terra, um homem que se nega a ser “niggerizado”, ou seja, tornar-se o tipo de pessoa que “ri quando não há nada engraçado e se coça onde não há coceira,… Se nega a tornar-se o tipo de pessoa que fique aterrorizada, traumatizada e estigmatizada”. Por outro lado, Mumia é um exemplo de “amor revolucionário, valor revolucionário e gozo revolucionário”, que sob ameaça de morte segue dizendo a verdade a uma geração submetida a “armas de distração massiva”.

Em uma mensagem de vídeo, Desmons Tutu disse que na África do Sul houve uma sensação de alívio ao receber a notícia de uma pequena concessão no caso de Mumia Abu-Jamal quando a Suprema Corte deu parecer de que ele nunca deveria estar sentenciado à morte. Mas afirma que o veredito de culpado também é totalmente inaceitável devido ao preconceito racial e a má conduta da promotoria durante décadas, e que a imposição da sentença de prisão perpétua é simplesmente outra forma de morte. Tutu disse que por fim peritos tão destacados como o Relator Especial da ONU, Juan Méndez, reconheceram como uma forma de tortura as condições de isolamento a que Mumia esteve submetido durante 30 anos. Disse que devido às massivas injustiças cometidas contra ele, o caso deve ser descartado e Mumia deve sair livre imediatamente.

Ao tomar a palavra no ato, Ramona África disse que quando Seth Williams anunciou na quarta-feira que não iria continuar buscando a pena de morte para Mumia, a seu lado esteve Maureen Faulkner. “Entendemos exatamente o que acontece aqui... Hoje mesmo eles odeiam Mumia ainda mais do que odiaram há 30 anos. Estão furiosos pelo apoio internacional que tem, estão furiosos pelo movimento constante que o apóia, estão furiosos porque um homem negro diz a verdade em oposição às mentiras deste sistema... Sabem que não podem ganhar em uma nova audiência... Mas isto não significa que abandonaram seus planos para assassinar Mumia... Há que se perguntar: por que estão tão desesperados, tão inflexíveis em seu afã de matá-lo? Não podem dizer o nome de alguém condenado pelo assassinato de um policial há seis meses, há um ano, há três anos. Não sabem seus nomes. Mas sabem o nome de Mumia Abu-Jamal. Por que estão tão cheios de ódio por Mumia? Por que não se sentem iguais com relação ao homem acusado de matar seu presidente John F. Kennedy...? Ou os assassinos de crianças? Mumia é nosso irmão e estamos muito preocupados por sua vida. Nunca deixaremos de lutar por ele... Nunca deixaremos de lutar contra este sistema podre. Queremos colocar fim a este tipo de injustiça. Vamos levar nosso irmão para casa e vamos lutar para derrubar este sistema... Da mesma maneira que eles estão resolutos em acabar com Mumia e com nós, nós temos que estar duas vezes, três vezes, dez vezes mais resolutos a fazer o justo e o correto”.

O advogado de defesa Michael Coard afirmou que o sistema que tenta assassinar Mumia Abu-Jamal é o mesmo sistema que encarcera crianças e adolescentes durante períodos mais longos do que qualquer outro estado em qualquer país do planeta, e inclusive há crianças de 14 anos de idade sentenciadas a prisão perpétua. Ao criticar a pena de morte, Coard perguntou: “Se apoiamos a prática de contratar pessoal para assassinar os assassinos, por que não contratar pessoas para roubar os ladrões, para seqüestrar os seqüestradores, para estuprar os estupradores? Vocês poderiam dizer: Isto é obsceno! Isto é escandaloso! É o meu ponto”. A respeito do veredicto de culpabilidade, Coard afirma que Mumia é legalmente não culpável e factualmente inocente.

Para ver fotos e vídeos do evento celebrado em apoio a Mumia no Centro Nacional da Constituição em 9 de dezembro, incluindo mensagens de Cornell West, Desmond Tutu, Amiri Baraka, Ramona África, Michael Coard, Immortal Technique, Goldii, acessem este site:

http://www.freemumia.com/?p=627
Dois vídeos da deslumbrante performance dos jovens artivistas da Impact Repertory Theater no Centro Nacional da Constituição em 9 de dezembro:

http://www.youtube.com/watch?v=Z3QJ_SBC_uE&feature=related
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=2TObZRmUSA4#!
Tradução > Marina Knup

agência de notícias anarquistas-ana
Flor declarada
o vento puxa da mão
pra se perfumar.
Masatoshi Shiraishi

Não a mutilação genital feminina no Egito e em todos os outros lugares – por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

[EUA] Uma Breve História de Ficção Anarquista - por ANA

[EUA] Uma Breve História de Ficção Anarquista"Às vezes questiona-se qual forma de governo mais convém a um artista. Há apenas uma resposta para essa pergunta. A forma de governo que mais lhe convém é nenhum governo" Oscar Wilde

Eu costumava ver meus interesses em relação ao anarquismo e em relação à ficção enquanto coisas totalmente separadas, porque eu não sabia que de alguma forma as duas coisas coincidiam. Nenhum dos meus amigos ativistas estavam escrevendo histórias - pelo menos nunca me contaram - e eu ainda não havia percebido o quão rica é a história da ficção anarquista. Mas existem anarquistas, teóricos e ativistas, na ficção convencional - no entanto, sua visão política raramente é divulgada para o mundo. Existem escritores entre os ativistas, mas seus escritos raramente são distribuídos. E existe uma notável e ampla história de cultura multilíngüe anarquista ao redor do mundo, apesar de que a maioria destas estão escondidas pela obscuridade ou pelo tempo.

A primeira vez que falei sobre anarquismo e ficção foi na feira do livro de Baltimore alguns anos atrás. No momento em que eu estava prestes a dar início à conversa, eu estava muito nervoso - eu sabia que eu iria falar para uma audiência que tinha pouco entendimento sobre o anarquismo - então resolvi caminhar entre as tendas do festival, tentando descobrir como introduzir o assunto. Foi então que eu vi uma tabuleta pintada à mão: "Os primeiros 100 romances de língua inglesa do século XX”, compilados pela Modern Library (Biblioteca Moderna). Três dos primeiros cinco romances foram escritos por pessoas envolvidas com o anarquismo (James Joyce e Aldous Huxley), sendo que havia, no total, oito romances na lista (por Anthony Burgess, Henry Miller, e Kurt Vonnegut). E isso não inclui os socialistas que estavam nesta mesma lista, como Jack London, nem mesmo os dois romances de George Orwell, que sobreviveu após ter sido ferido por um tiro no pescoço lutando contra os fascistas na Guerra Civil Espanhola.

Quando eu li Huxley na escola, não me ensinaram o que ele quis dizer quando escreveu que o que o mundo precisava era uma descentralização radical de caráter "Kropotkiniano e cooperativo" na introdução da edição de 1946 do Admirável Mundo Novo. (Pelo que eu sei, esta introdução não foi mantida nas edições modernas fornecidas para nós estudantes.)

Sem nem ao menos saber disso, você já leu ficção anarquista. Existem grandes "literatos" como Leon Tolstói ("Os Anarquistas estão certos em tudo... eles apenas se enganam em pensar que a Anarquia pode ser instituída através de uma revolução" ["Na Anarquia”, (On Anarchy) 1900]), Lawrence Ferlinghetti, Henry Miller ("[Um Anarquista] é exatamente o que sou. É o que fui a minha vida inteira”. [Conversações com Henry Miller, 1994]), Dambudzo Marechera ("Se você é um escritor de uma nação específica ou de uma raça específica, então vai se foder”.), Ba Jin, Carolyn Chute, J.M. Coetzee ("O que tem de errado com a política é poder em si”. [Diário de um Ano Ruim, 2007]), Jorge Luis Borges, William Blake, e outros autores populares de ficção como Alan Moore, Ursula K. Le Guin, Michael Moorcock, Robert Shea, Norman Spinrad, B. Traven, Kurt Vonnegut, Ethel Mannin, e Edward Abbey.

Obviamente, minha pesquisa foi necessariamente limitada por barreiras geográficas e lingüísticas, e estas listas portanto são um tanto língua-inglesa e américo-centristas. Mas uma coisa que achei consistente é que, ao redor do mundo, a ficção fez e faz parte do nosso movimento e os anarquistas são e foram parte da história da literatura. Nos anos 1920 e 1930 na Espanha, haviam dois periódicos de ficção anarquista: "La Novela Ideal" e "La Novela Libre", que imprimiu em torno de 50.000 cópias e incluía alguns dos mais importantes escritores daquelas décadas. Publicações das revistas continuaram durante a Guerra Civil Espanhola e só acabaram quando Franco tomou o controle do país.

Muitos dos autores mais lidos, que todavia não se identificavam explicitamente enquanto anarquistas, tiveram laços muito próximos e simpatia pela nossa causa. William Burroughs escreveu "Cidades da Noite Vermelha", um romance anarquista homoerótico. Albert Camus escreveu extensivamente para jornais anarquistas e usou sua influência literária para ajudar prisioneiros anarquistas. Franz Kafka participou de encontros anarquistas e manifestações em Praga, além de ajudar a fundar um jornal anarquista. Um dos primeiros romances de Philip K. Dick, foi uma história anarquista, intitulada "O Último dos Mestres”. George Bernard Shaw, dramaturgo e novelista, flertou com o anarquismo muito cedo em sua vida, antes de se fixar enquanto um social-democrata, e ele incluía anarquistas simpáticos em seu trabalho e era publicado por jornais anarquistas. Frank Herbert foi um crítico contundente do governo e da lei e viveu em um projeto de comunidade auto-sustentável. Upton Sinclair escreveu o livro "Boston" para defender os prisioneiros anarquistas Sacco e Vanzetti. JRR Tolkien escreveu para seu filho dizendo "Meu posicionamento político tende cada vez mais para a Anarquia (filosoficamente compreendida, significando a abolição do controle, e não homens barbados com bombas)”.

Historicamente, numerosos ativistas anarquistas e militantes foram autores de ficção: Voltairine DeCleyre, Federica Montseny, Fredy Perlman, Eugene Nelson, Joseph Dejacque, Eduard Pons Prades, William Godwin, Louise Michel, e Antonio Penichet, todos eles e elas escreveram ficção complementando a teoria, ou adicionada à levantes armados contra o fascismo e contra o Estado.

Mas, obviamente, a ficção anarquista não está limitada à pessoas famosas, e a cultura anarquista está envolvida na tentativa de quebrar hierarquias onde quer que elas se encontrem. Eu descobri dezenas de autores DIY (Faça Você Mesmo) anarquistas de La Novela Ideal, na minha pesquisa que deu visibilidade à zines e livros, em pequenos editores, que de uma maneira geral tentaram manter a narrativa viva no anarquismo - porque sempre fez parte do nosso movimento.

Um problema que empesta a ficção anarquista, no entanto, é um problema que empesta muita ficção ativista. Ser capaz de contar uma história convincente mantendo uma crítica sólida e radical são capacidades diferentes, e a melhor ficção é escrita pelas poucas e raras pessoas que desenvolveram ambas as coisas. Como meu amigo coloca, política não é desculpa para arte ruim. Existem muitos romances didáticos que tentam usar a ficção para descrever uma sociedade anarquista, mas que se tornam rasos na escrita ou carecem de nuança e crítica. O meu favorito destes, pessoalmente, é o livro de Graham Purchase, "Minha Jornada Com Aristóteles para a Utopia Anarquista": a sociedade descrita é fascinante e bem-pensada, mas a prosa é opaca e o enredo e os personagens são superficiais. Por outro lado, existem romances anarquistas escritos por escritores profissionais que descrevem nosso movimento e nossa cultura perdendo pontos importantes da nossa crítica, nos pintando enquanto vilões, ou então falhando na tentativa de retratar-nos com precisão. O livro mais famoso e difamador de anarquista-como-terrorista-louco é provavelmente o livro de Joseph Conrad, "O Agente Secreto", o que é vergonhoso, visto que o pai de Conrad foi um político polonês radical que teve laços com Bakunin.

Existem pouquíssimos romances anarquistas excepcionais, ou então não são bem distribuídos. De longe, o romance anarquista mais conhecido que passa em ambos os testes, é o livro de Ursula K. Le Guin, "Os Despossuídos". Outros livros notáveis que retratam sociedades anarquistas são "A Quinta Coisa Sagrada", de Starhawk, "Mulher na Margem do Tempo", de Marge Piercy, "Bolo'Bolo", de P.M., a trilogia de Marte, de Kim Stanley Robinson's, e "Os Livres", de M. Gilliand. Os anarquistas conseguiram esta amplitude enquanto personagens simpáticos (embora muitas vezes distorcidos ou idealizados) em diversos livros, como "Geek Mafia - Black Hat Blues", de Rick Dakan, "Someone Comes to Town, Someone Leaves Town (Alguém vem à cidade, Alguém Deixa a Cidade)", de Cory Doctorow, "54", de Wu Ming, "Os Invisíveis", de Grant Morrison, e "Contra o Dia", de Thomas Pynchon.

Eu lancei um livro em 2009 com a AK Press intitulado "Mythmakers & Lawbreakers: Anarchist Writers on Fiction" (Criadores de Mitos e Infratores da Lei: Escritores Anarquistas na Ficção): que retrata 14 entrevistas com escritores de ficção anarquista e que é também uma compilação de biografias de cada escritor de ficção anarquista que eu fui capaz de encontrar, vivos e mortos. Após o lançamento do livro, fiz uma turnê pelos Estados Unidos e pela Europa falando sobre anarquismo e ficção, e me questionaram diversas vezes sobre qual o meu romance de ficção anarquista favorito. Em um primeiro momento eu não sabia o que responder, mas eventualmente, acabei optando por "The Watch", de Dennis Danver. "The Watch", é sem dúvidas um dos melhores livros de viagem que eu já li, coloca Piotr Kropotkin em Richmond, Virginia, em 1989 e observa como ele lida com anarcopunks, trabalho precarizado, e as relações de raça. O livro conta uma história linda e discreta com personagens convincentes, e ainda introduz o leitor a alguns dos mais básicos conceitos políticos e filosóficos do anarquismo.

E esse é, eu argumentaria, o poder da ficção anarquista. Uma vez atrás da outra, nas entrevistas que gravei, ouvi que a ficção é um método muito bom para questionar ao invés de oferecer modelos, uma maneira de fazer sugestões que não tem como objetivo serem interpretados como um código de leis, uma maneira de explorar os efeitos em potencial do anarquismo nas pessoas. E é claro, a ficção anarquista não é limitada à retratos de sociedades que visualizamos ou à lutas que vivenciamos. O que é útil sobre a ficção anarquista escrita é a habilidade de normalizar nossas visões de mundo: não-hierarquia, anti-autoritarismo, igualitarismo, etc. Podemos normalizar princesas que não só não necessitam serem salvas, como também não tem interesse algum no poder; podemos normalizar histórias contadas pelo ponto de vista da classe trabalhadora, e podemos normalizar as pessoas que normalmente são desconsideradas, transformadas em apenas mais um pela sociedade e pela própria ficção.

Pesquisar as intersecções entre anarquismo e ficção tem sido uma toca de coelho fascinante. Comecei com "Os Despossuídos" e "V de Vingança" de Alan Moore, mas acabei encontrando muito mais, e me parece que cada pedra literária que eu desviro revela ainda mais anarquia. Eu costumava pensar sobre a atual situação como uma paisagem lúgubre e povoada apenas por um punhado de zineiros. Eu estava deprimido: o século XIX teve seus romances utópicos, o início do século XX teve ficção da classe trabalhadora, os anos 60 foi cheio de maravilhosos radicalismos políticos, e os anos 70 deu visibilidade para a ficção científica feminista, e trouxe sua política anti-autoritária e igualitária consigo. Mas, talvez porque estou olhando mais de perto, me parece que estamos passando por um despertar.

A AK Press voltou a publicar novas ficções, e a PM Press, embora não seja exclusivamente de publicações anarquistas, tem publicado ficção anarquista também. O Crimethinc. fez confundirem-se as linhas entre ficção e não-ficção, e também se aventuraram em histórias infantis diretamente. Alguns escritores contemporâneos de ficção anarquista que valem a pena ser pesquisados são: Kristyn Dunnion, Jim Munroe, Fly, Dennis Cooper, Cristy C. Road, The Catastrophone Orchestra, Gabriel Boyer, Rick Dakan, Octavio Buenaventura, Carissa van den Berk Clark, Derrick Jensen, Mattias Elftorp, James Kelman, Gabriel Kuhn, Peter Gelderloos, e Lewis Shiner.

Alguns amigos e eu começamos a trabalhar em um coletivo de publicação de ficção escrita por trabalhadores chamado de "Combustion Books" (Livros de Combustão). Sediados em Nova Iorque, estamos interessados em fazer penetrar idéias radicais na cultura do gênero "ficção" e quebrar os moldes do significado de ser uma editora anarquista.

Nas minhas viagens, tenho me aproximado cada vez mais de pessoas que me contam que tem escrito por anos, livros à mão, zines e urls, e tenho me impressionado com a qualidade de alguns. Nós sempre nos subestimamos, mas nós, enquanto anarquistas, somos plenamente capazes de presentear à este mundo cultura útil, prática, e bem-trabalhada.

por Magpie Killjoy

Fonte: Fifth Estate 385 – Outono de 2011.

Tradução > Malobeo

agência de notícias anarquistas-ana
aquela caverna
triste, fria e sombria
é seu espelho
Marcelo Santos Silvério

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Egito – Gen. Abdel Kato sugere jogar os manifestantes em fornos do Hither – por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

Gás lacrimogêneo fabricado no Brasil é usado para reprimir protestos no BahreinPais dizem que bebê de seis dias morreu intoxicado pelo gás enquanto dormia - por Carlos Latuff e Thassio Borges
Imagens divulgadas nesta sexta-feira (16/12) nas redes sociais denunciam o uso de gás lacrimogêneo fabricado no Brasil durante a repressão aos protestos que seguem há dez meses contra o governo do Bahrein.Nas imagens é possível ver um artefato metálico com a bandeira brasileira impressa junto dos dizeres “Made in Brazil”. O produto teria sido produzido no último mês de maio. Uma terceira foto mostra 20 cápsulas de gás lacrimogêneo que estariam sendo usadas no Bahrein sobre uma camisa da seleção brasileira.

Segundo relatos dos manifestantes bareinitas, as bombas de gás lacrimogêneo brasileiras já teriam, inclusive, feito uma vítima fatal. Uma menina de apenas seis dias teria morrido depois que uma bomba com o gás foi jogada próximo à casa de seus pais, que não participavam dos protestos.

Sajida Jawad sofreu intoxicação após inalar grandes quantidades de gás enquanto dormia. A menina chegou a ser levada ao hospital, mas não resistiu, segundo a agência estatal iraniana Irna.

"Quando as pessoas marcham para as ruas exigindo seus direitos legítimos por que casas deveriam ser atacadas?", questionou Faisal Jawad, pai da criança.Imagem do artefato que estaria sendo utilizado no país
Outro lado
O governo brasileiro ainda não se manifestou sobre o assunto, mas a empresa responsável pela fabricação do artefato negou, por meio de sua assessoria de impressa, que exportasse seus produtos para o Bahrein. A Condor Tecnologias Não-Letais disse também por meio de nota que “fornece produtos para mais de 35 países, inclusive países árabes”. No entanto, “por obrigações contratuais de confidencialidade, a empresa não pode informar detalhes de seus fornecimentos”.

A Condor sugeriu ainda que o material pode estar sendo utilizado por algum país da região para o qual ela exporta seus produtos e que estaria operando no Bahrein a pedido do próprio governo local.

Por fim, a empresa ressaltou que seus produtos “são projetados especificamente para incapacitar temporariamente as pessoas, sem causar-lhes danos irreparáveis ou morte”. “A posição da Condor é que o material não pode ser empregado fora desse propósito”, concluiu. Confira no final desta reportagem a nota da empresa na íntegra.

Sadija Jawad tornou-se, no entanto, a 11ª vítima fatal entre os civis do país por conta do uso do artefato. Segundo cálculos dos próprios manifestantes, a cada cinco civis que morrem nos confrontos no Bahrein, pelo menos um é decorrência do uso do gás lacrimogêneo.

O governo do Bahrein já admitiu ter usado força excessiva em alguns casos. Além disso, o país alegou que os protestos foram incentivados pelo Irã e pediu a ajuda militar da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos para contê-los. Não havia, até então, nenhuma informação a respeito de uma participação brasileira nos conflitos.

Histórico dos protestos
Os protestos contra o governo do Bahrein começaram no último mês de fevereiro motivados pelos demais levantes de países árabes que aconteciam simultaneamente.

Depois de intensos confrontos entre as forças de segurança de país e os manifestantes, milhares de pessoas foram detidas e mortas. Os dados são de uma comissão independente criada por iniciativa do próprio rei do país, Hamad bin Issa al-Khalifa, para averiguar as denúncias de que as forças de segurança estariam usando força extrema.

No final de novembro, o rei anunciou reformas que, segundo ele, iriam contentar "todos os segmentos de nossa sociedade". Apesar disso, os conflitos entre as partes continuam.

Confira a íntegra da nota enviada pela Condor Tecnologias Não-Letais
A Condor fabrica há 26 anos exclusivamente materiais não-letais, projetados dentro do preceito preconizado pela ONU de uso propocional da força (VIII Congresso, realizado em Havana, 1990). As tecnologias não letais são alternativas às armas de fogo e têm como objetivo minimizar danos e preservar vidas.
A Condor fornece produtos para mais de 35 países, inclusive países árabes. Por obrigações contratuais de confidencialidade, a empresa não pode informar detalhes de seus fornecimentos. Entretanto, como é de conhecimento geral, tropas de pelo menos cinco países diferentes estão operando no Bahrein a pedido do governo desse país.
Todos as negociações da empresa são controladas pelo Ministério da Defesa e pelo Ministério das Relações Exteriores e seus órgãos correlatos.
Os produtos não letais são projetados especificamente para incapacitar temporariamente as pessoas, sem causar-lhes danos irreparáveis ou morte. A pesquisa e a produção desse tipo de material são incentivadas pela ONU (8º Congresso da ONU sobre Prevenção do Crime e Tratamento dos Delinqüentes, realizado em 1990) e é medida de salvaguarda dos Direitos Humanos. A posição da Condor é que o material não pode ser empregado fora desse propósito.
Os produtos fabricados pela Condor devem ser utilizados apenas e tão somente na forma indicada em seus manuais de instruções e fichas técnicas, e é imperativo que sejam operados apenas por pessoas treinadas e qualificadas.

Fonte: http://operamundi.uol.com.br/

Stéphane Hessel: 'Os bancos estão contra a democracia' - por Eduardo Febbro - Página/12

Stéphane Hessel: 'Os bancos estão contra a democracia'Aos 94 anos, depois de lutar na Resistência, sobreviver aos campos nazistas e escrever a Declaração Universal dos Direitos Humanos, Stéphane Hessel publicou um livrinho de 32 páginas, "Indignem-se", que teve eco global. Em entrevista ao Página/12 ele fala sobre sua obra e critica o ultra liberalismo predador, a servidão da classe política ao sistema financeiro, a anexação da política pela tecnocracia financeira, as indústrias que destroem o planeta e a ocupação israelense da Palestina.

A revolta não tem idade nem condição. Nos seus afáveis, lúcidos e combativos 94 anos, Stéphane Hessel encarna um momento único na história política humana: ter conseguido desencadear um movimento mundial de contestação democrática e cidadã com um livro de escassas 32 páginas: "Indignem-se". O livro foi lançado na França em outubro de 2010 e em março de 2011 se converteu no alicerce do movimento espanhol dos indignados.

O quase um século de vida de Stéphane Hessel se conectou primeiro com a juventude espanhola que ocupou a Puerta del Sol e depois com os demais protagonistas da indignação que se tornou planetária: Paris, Londres, Roma, México, Bruxelas, Nova York, Washington, Tel-Aviv, Nova Déli, São Paulo. Em cada canto do mundo e sob diferentes denominações, a mensagem de Hessel encontrou um eco inimaginável.

Seu livro, entretanto, não contém nenhum discurso ideológico, menos ainda algum chamado à excitação revolucionária. Indignem-se é, ao mesmo tempo, um convite a tomar consciência sobre a forma calamitosa em que estamos sendo governados, uma restauração nobre e humanista dos valores fundamentais da democracia, um balde de água fria sobre a adormecida consciência dos europeus convertidos em consumidores obedientes e uma dura defesa do papel do Estado como regulador. Não deve existir na história editorial um livro tão curto com um alcance tão extenso.

Quem olhe a mobilização mundial dos indignados pode pensar que Hessel escreveu uma espécie de panfleto revolucionário, mas nada é mais estranho a essa idéia. "Indignem-se" e os indignados se inscrevem em uma corrente totalmente contrária a que se desatou nas revoltas de Maio de 68. Aquela geração estava contra o Estado. Ao contrário, o livro de Hessel e seus adeptos reivindicam o retorno do Estado, de sua capacidade de regular. Nada reflete melhor esse objetivo que um dos slogans mais famosos que surgiram na Puerta del Sol: “Nós não somos anti-sistema, o sistema é anti-nós”.

Em sua casa de Paris, Hessel fala com uma convicção na qual a juventude e a energia explodem em cada frase. Hessel tem uma história pessoal digna de uma novela e é um homem de dois séculos. Diplomata humanista, membro da Resistência contra a ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial, sobrevivente de vários campos de concentração, ativo protagonista da redação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, descendente da luta contra essas duas grandes calamidades do século XX que foram o fascismo e o comunismo soviético. O nascente século XXI fez dele um influente ensaísta.

Quando seu livro saiu na França, as línguas afiadas do sistema liberal desceram sobre ele um aluvião de burlas: “o vovozinho Hessel”, o “Papai Noel das boas consciências”, diziam no rádio e na televisão os marionetes para desqualificá-lo. Muitos intelectuais franceses disseram que essa obra era um catálogo de banalidades, criticaram seu aparente simplismo, sua superficialidade filosófica, o acusaram de idiota e de anti-semita. Até o primeiro-ministro francês, François Fillon, desqualificou a obra dizendo que “a indignação em si não é um modo de pensamento”. Mas o livro seguiu outro caminho. Mais de dois milhões de exemplares vendidos na França, meio milhão na Espanha, traduções em dezenas de países e difusão massiva na Internet.

O ultra liberalismo predador, a corrupção, a impunidade, a servidão da classe política ao sistema financeiro, a anexação da política pela tecnocracia financeira, as indústrias que destroem o planeta, a ocupação israelense da Palestina, em suma, os grandes devastadores do planeta e das sociedades humanas encontraram nas palavras de Hessel um inimigo inesperado, um “argumentário” de enunciados básicos, profundamente humanista e de uma eficácia imediata. Sem outra armadura além de um passado político de social-democrata reformista e um livro de 32 páginas, Hessel opôs ao pensamento liberal consumista e ao consenso um dos antídotos que eles mais temem, ou seja, a ação.

Não se trata de uma obra de reflexão política ou filosófica, mas de uma radiografia da desarticulação dos Estados, de um chamado à ação para que o Estado e a democracia voltem a ser o que foram. O livro de Hessel se articula em torno da ação, que é precisamente ao que conduz à indignação: resposta e ação contra uma situação, contra o outro. O que Hessel qualifica como mon petit livre é uma obra curiosa: não há nenhuma novidade nela, mas tudo o que diz é uma espécie de síntese do que a maior parte do planeta pensa e sente cada manhã quando se levanta: exasperação e indignação.

– Você foi, de alguma maneira, o homem do ano. Seu livro foi sucesso mundial e acabou se convertendo no foco do movimento planetário dos indignados. Houve, de fato, duas revoluções quase simultâneas no mundo, uma nos países árabes e a que você desencadeou em escala planetária.
– Nunca previ que o livro tivesse um êxito semelhante. Ao escrevê-lo, havia pensado em meus compatriotas para dizer a eles que o modo no qual estão sendo governados propõe interrogações e que era preciso indignar-se diante dos problemas mal solucionados. Mas não esperava que o livro fosse lançado em mais de quarenta países nos quatro pontos cardeais. Mas eu não me atribuo nenhuma responsabilidade no movimento mundial dos indignados. Foi uma coincidência que o meu livro tenha aparecido no mesmo momento em que a indignação se expandia pelo mundo. Eu só convidei as pessoas a refletirem sobre o que elas acham inaceitável. Acho que a circulação tão ampla do livro se deve ao fato de que vivemos um momento muito particular da história de nossas sociedades e, em particular, desta sociedade global na qual estamos imersos há dez anos. Hoje vivemos em sociedades interdependentes, interconectadas. Isto muda a perspectiva. Os problemas aos que estamos confrontados são mundiais.

–As reações que seu livro desencadeou provam que existe sempre uma pureza moral intacta na humanidade?
O que permanece intacto são os valores da democracia. Depois da Segunda Guerra Mundial resolvemos problemas fundamentais dos valores humanos. Já sabemos quais são esses valores fundamentais que devemos tratar de preservar. Mas quando isto deixa de ter vigência, quando há rupturas na forma de resolver os problemas, como ocorreu após os atentados de 11 de setembro, da guerra no Afeganistão e no Iraque e a crise econômica e financeira dos últimos quatro anos, tomamos consciência de que as coisas não podem continuar assim. Devemos nos indignar e nos comprometer para que a sociedade mundial adote um novo curso.

– Quem é responsável de todo este desastre? O liberalismo ultrajante, a tecnocracia, a cegueira das elites?
Os governos, em particular os governos democráticos, sofreram uma pressão por parte das forças do mercado à qual não souberam resistir. Essas forças econômicas e financeiras são muito egoístas, só buscam o beneficio em todas as formas possíveis sem levar em conta o impacto que essa busca desenfreada do lucro tem nas sociedades. Não lhes importa nem a dívida dos governos, nem os ganhos medíocres das pessoas. Eu atribuo a responsabilidade de tudo isto às forças financeiras. Seu egoísmo e sua especulação exacerbada são também responsáveis pela deterioração do nosso planeta. As forças que estão por trás do petróleo, da energia não-renovável nos conduzem a uma direção muito perigosa.

O socialismo democrático teve seu momento de glória depois da Segunda Guerra Mundial. Durante muitos anos tivemos o que se chama Estados de providência. Isto derivou em uma boa fórmula para regular as relações entre os cidadãos e o Estado. Mas depois nos distanciamos desse caminho sob a influência da ideologia neoliberal. Milton Friedman e a Escola de Chicago disseram: “deixem a economia com as mãos livres, não deixem que o Estado intervenha”. Foi um caminho equivocado e hoje nos damos conta de que nos encerramos em um caminho sem saída. O que aconteceu na Grécia, Itália, Portugal e Espanha nos prova que não é dando cada vez mais força ao mercado que se chega a uma solução. Não. Essa tarefa compete aos governos, são eles que devem impor regras aos bancos e às forças financeiras para limitar a sobre exploração das riquezas que eles detêm e a acumulação de benefícios imensos enquanto os Estados se endividam. Devemos reconhecer que os bancos estão contra a democracia. Isso não é aceitável.

– É chocante comprovar a indiferença da classe política ante a revolta dos indignados. Os dirigentes de Paris, Londres, Estados Unidos, em suma, ali onde estourou este movimento, se omitiram diante das reivindicações dos indignados.
Sim, é verdade. Por enquanto se subestimou a força desta revolta e desta indignação. Os dirigentes disseram uns aos outros: isto nós já vimos antes, em Maio de 68, etc., etc. Acho que os governos se equivocaram. Mas o fato de que os cidadãos protestem pela forma em que estão sendo governados é algo muito novo e essa novidade não se deterá. Predigo que os governos se verão cada vez mais pressionados pelos protestos contra a maneira em que os Estados são governados. Os governos se empenham em manter o sistema intacto. Entretanto, o questionamento coletivo do funcionamento do sistema nunca foi tão forte como agora. Na Europa atravessamos um momento muito denso de questionamento, tal como aconteceu antes na América Latina. Eu estou muito orgulhoso pela forma como a Argentina soube superar a gravidade da crise. Isto prova que é possível atuar e que os cidadãos são capazes de mudar o curso das coisas.

– De alguma maneira, você acendeu a chama de uma espécie de revolução democrática. Entretanto, não convocou uma revolução. Qual é então o caminho para romper o cerco no qual vivemos? Qual é a base do renascimento de um mundo mais justo?
Devemos transmitir duas coisas às novas gerações: a confiança na possibilidade de melhorar as coisas. As novas gerações não devem perder a esperança. Em segundo lugar, devemos fazê-los tomar consciência de tudo o que está se fazendo atualmente e que está no sentido correto. Penso no Brasil, por exemplo, onde houve muitos progressos, penso na presidenta Cristina Fernández de Kirchner, que também fez as coisas progredirem muito, penso também em tudo o que se realiza no campo da economia social e solidária em tantos e tantos países. Em tudo isto há novas perspectivas para encarar a educação, os problemas da desigualdade, os problemas ligados à água. Tem gente que trabalha muito e não devemos subestimar seus esforços, inclusive se o que se consegue é pouco por causa da pressão do mundo financeiro. São etapas necessárias.

Acho que, cada vez mais, os cidadãos e as cidadãs do mundo estão entendendo que o seu papel pode ser mais decisivo na hora de fazer entender aos governos, que são responsáveis pela vigência dos grandes valores, que esses mesmos governos estão deixando de lado. Há um risco implícito: que os governos autoritários acabem empregando a violência para calar as revoltas. Mas acho que isso já não é mais possível. A forma pela qual os tunisianos e os egípcios se livraram de seus governos autoritários mostra duas coisas: uma, que é possível; dois, que com esses governos não se progride. O progresso só é possível se for aprofundada a democracia. Nos últimos 20 anos a América Latina progrediu muitíssimo graças ao aprofundamento da democracia.

Em escala mundial, mesmo com as coisas que se conseguiram, mesmo com os avanços que se obtiveram com a economia social e solidária, tudo isto é extremamente lento. A indignação se justifica nisso: os esforços realizados são insuficientes, os governos foram débeis e até os partidos políticos da esquerda sucumbiram ante a ideologia neoliberal. Por isso devemos nos indignar. Se os meios de comunicação, se os cidadãos e as organizações de defesa dos direitos humanos forem suficientemente potentes para exercer uma pressão sobre os governos as coisas podem começar a mudar amanhã.

– Pode-se mudar o mundo sem revoluções violentas?
Se olharmos para o passado, veremos que os caminhos não-violentos foram mais eficazes que os violentos. O espírito revolucionário que empolgou o começo do século XX, a revolução soviética, por exemplo, conduziram ao fracasso. Homens como o checo Vaclav Havel, Nelson Mandela ou Mijail Gorbachov demonstraram que, sem violência, podem-se obter modificações profundas. A revolução cidadã que assistimos hoje pode servir a essa causa. Reconheço que o poder mata, mas esse mesmo poder se vai quando a força não-violenta ganha. As revoluções árabes nos demonstraram a validade disto: não foi a violência quem fez cair os regimes de Túnis e do Egito. Não, nada disso. Foi a determinação não violenta das pessoas.

– Em que momento você acha que o mundo se desviou de sua rota e perdeu sua base democrática?
O momento mais grave se situa nos atentados de 11 de setembro de 2001. A queda das torres de Manhattan desencadeou uma reação do presidente estadunidense George W. Bush extremamente prejudicial: a guerra no Afeganistão, por exemplo, foi um episodio no qual se cometeu horrores espantosos. As conseqüências para a economia mundial foram igualmente muito duras. Foram gastas somas consideráveis em armas e na guerra em vez de colocá-las à disposição do progresso econômico e social.

– Você marca com muita profundidade um dos problemas que permanecem abertos como uma ferida na consciência do mundo: o conflito israelense-palestino.
Este conflito dura há 60 anos e ainda não se encontrou a maneira de reconciliar estes dois povos. Quando se vai à Palestina voltamos traumatizados pela forma como os israelenses maltratam seus vizinhos. A Palestina tem direito a um Estado. Mas também tem que reconhecer que, ano após ano, presenciamos como aumenta o grupo de países que estão contra o governo israelense, por sua incapacidade de encontrar uma solução. Pudemos constatar isso com a quantidade de países que apoiaram o presidente palestino Mahmud Abbas, quando pediu, diante das Nações Unidas, que a Palestina seja reconhecida como um Estado de pleno direito no seio da ONU.

– Seu livro, suas entrevistas e mesmo este diálogo demonstram que, apesar do desastre, você não perdeu a esperança na aventura humana.
Não, pelo contrário. Acho que diante das gravíssimas crises que atravessamos, de repente o ser humano acorda. Isso aconteceu muitas vezes ao longo dos séculos e desejo que volte a ocorrer agora.

– “Indignação” é hoje uma palavra-chave. Quando você escreveu o livro, foi essa palavra a que o guiou?
A palavra indignação surgiu como uma definição do que se pode esperar das pessoas quando abrem os olhos e vêem o inaceitável. Pode-se adormecer um ser humano, mas não matá-lo. Em nós há uma capacidade de generosidade, de ação positiva e construtiva que pode despertar quando assistimos a violação dos valores. A palavra “dignidade” figura dentro da palavra “indignidade”. A dignidade humana desperta quando é encurralada. O liberalismo bem que tentou anestesiar essas duas capacidades humanas - a dignidade e a indignação-, mas não conseguiu.
Tradução: Libório Júnior
Fonte: www.cartamaior.com.br