terça-feira, 31 de agosto de 2010

Um pouco sobre “classe” por Noam Chomsky

Por que você atribui tanto ônus à classe das pessoas educadas?

Porque a responsabilidade é ligada ao privilégio. Se você é mais privilegiado, é mais responsável. Tome novamente a Alemanha, os nazistas, talvez o pior período da história. Algum pobre diabo que tenha sido mandado para a frente oriental e tenha cometido atrocidades era alguém que não teve escolha. Se discordasse, seria morto pelo comandante. Mas Martin Heidegger tinha opções. Não era obrigado a escrever livros e artigos que apresentavam razões elaboradas e complicadas para o apoio aos nazistas.

As pessoas que estão em lugares como o MIT têm escolha. Têm privilégios, têm educação, têm instrução. Isso acarreta responsabilidade. Alguém que trabalha cinqüenta horas por semana para alimentar a família, chega em casa exausto à noite e liga a televisão tem muito menos opções. Tecnicamente, essa pessoa tem escolhas, mas é muito mais difícil exercê-las, e portanto ela tem menos responsabilidade. Isso é apenas elementar. As pessoas que têm privilégios, educação e instrução também são as que tomam decisões, seja no governo, nos negócios ou nas instituições doutrinárias. Sim, claro, elas são as responsáveis, muito mais do que aquelas que não têm opção.

Retirado do livro Ambições Imperiais de Noam Chomsky – Ediouro 2006

Visual Agression Attack – Covil III6 Zero dia 18/09/2010

Visual Agression Attack – Covil III6 Zero dia 18/09/2010


Nosso grande amigo Ricardo Thrasher fazendo a correria total!

Pessoas assim que fazem a diferença, proporcionando alegrias para muitos!

Thrasheira total!

Iraque: mais um país destruído pelos Estados Unidos!

Iraque: mais um país destruído pelos Estados Unidos!

O maior império destruidor do mundo os Estados Unidos saem do Iraque após sete anos de mortes e destruição.

Mais um país que fora destruído por nada, por uma mentira e por um simples fato o Petróleo.

Quem perde? Os iraquianos e a humanidade!

Provos Brasil

Por que Ocidente não ajuda o Paquistão - por Tariq Ali

Por que Ocidente não ajuda o Paquistão - por Tariq Ali
Um desastre de proporções bíblicas: as enchentes provocadas por pesadas chuvas de monções durante o mês passado, já afetaram mais de 17,2 milhões de pessoas e mataram mais de 1.500, segundo os órgãos paquistaneses que trabalham no que deveria ser o atendimento aos flagelados. Esse ano, as chuvas não pararam, razão pela qual as enchentes alcançaram as proporções que se veem. Quase 2 mil mortos e mais de 20 milhões de desabrigados. Os desastres provocados pelo homem – a guerra no Afeganistão, que respinga também no Paquistão – não bastaram. Agora, o país enfrenta também tragédias naturais. Seria difícil para praticamente qualquer governo, mas, no Paquistão, o governo está virtualmente paralisado.

Ao longo dos últimos 60 anos, a elite paquistanesa jamais conseguiu construir qualquer infraestrutura social para os paquistaneses. É defeito estrutural profundo que afeta duramente a maioria da população. Hoje, os líderes paquistaneses seguem cegamente os ditames neoliberais do FMI, como único meio de manter o fluxo de empréstimos para o país. Se para pouco servem nos bons tempos, esses empréstimos são absolutamente inúteis quando o país enfrenta a mais terrível crise humanitária das últimas décadas.

A resposta do Ocidente foi contida. Nem se pode dizer que tenha sido generosa, o que provocou pânico em Islamabad e levou jornalistas pró-EUA no país a dizer que, se não chegasse ajuda imediata, os terroristas tomariam conta do país. É completo nonsense. O Exército Paquistanês controla tudo. Grupos religiosos e outros reúnem doações em dinheiro e ajudam alguns desabrigados. Tudo normal.

Desde o 11 de Setembro, uma onda sinistra de islamofobia cresce na Europa e em partes dos EUA. Recente pesquisa de opinião na Grã-Bretanha “multicultural” revelou que, perguntados sobre o primeiro pensamento que lhes ocorria ao ouvir a palavra “Islã”, mais de 50% dos entrevistados responderam “terrorista”. E não é diferente na França, Alemanha, Holanda e Dinamarca.

Esse modo de tratar o Islã como o “outro” eterno tem a ver com as guerras no Iraque e no Afeganistão, mas é atitude tão errada quanto o antissemitismo que desencadeou preconceitos e genocídio na primeira metade do século 20. Um milhão de iraquianos morreram desde que o Iraque foi ocupado: quem liga? Civis afegãos morrem todos os dias: a culpa é deles. Paquistaneses afogam-se nas enchentes. Indiferença. Por isso, com certeza, a resposta de solidariedade ao Paquistão foi tão limitada.

Zardari junta-se ao Clube dos Sapatados, aberto por Bush
Outra das razões é doméstica. Muitos cidadãos de origem paquistanesa com os quais falei nas últimas semanas relutam em mandar dinheiro, porque temem que tudo acabe nos grandes bolsos dos corruptos que governam o Paquistão. Logo que as enchentes começaram, o presidente partiu para a Europa. Tinha de vistoriar propriedades; seu filho tinha de ser coroado futuro líder do Paquistão em Birmingham, Inglaterra.

A televisão europeia mostrava imagens de um país que se afogava, e o presidente estava a caminho, para férias em seu castelo do século 16, no interior da França. A coroação em Birmingham foi adiada. Foi demais, até para os legalistas. Zardari pronunciou um discurso impressionante, e um ancião da Caxemira, enfurecido pela quantidade de palavras sem qualquer conexão com a realidade, levantou-se e jogou um de seus sapatos contra o presidente-empresário, chamando-o de “corrupto e ladrão”. Zardari abandonou o recinto, furioso. O maior jornal do Paquistão escreveu em manchete: “Zardari junta-se ao Clube dos Sapatados, com Bush”.

Alguns manifestantes ergueram sapatos contra imagens de Zardari, outros levavam cartazes em que se lia “Milhares de mortos. O presidente tira férias” e “Os Zardaris passeiam pela Inglaterra, enquanto o Paquistão morre afogado?” Nada disso ajuda a recolher dinheiro para ajudar os flagelados.

A televisão europeia mostrava imagens de um Paquistão que tentava sobreviver à crise dos seus mais pobres, enquanto um helicóptero da Força Aérea francesa transportava o homem mais rico do Paquistão para sua mais extravagante propriedade, um castelo francês do século 16, Manoir de la Reine Blanche, com seus dois hectares de parques, lagos e florestas. Construído originalmente para a viúva do rei Philippe VI, é hoje propriedade do ‘herdeiro’ de milhares de paquistaneses mortos. Como é possível que tenha comprado um castelo na França? No Paquistão, todos sabem: com o suborno que lhe pagam empresas que investem no Paquistão.

No Paquistão, o grupo Jang, maior império de mídia do país, foi instruído pelo governo a não divulgar, pela rede GeoTV, imagens do incidente da sapatada. O grupo ignorou as instruções e, além das imagens, entrevistou o homem que atirara o sapato.

Não conseguiram dominar o YouTube. Mas os homens de Zardari tiraram do ar a rede GeoTV e outra rede, ARY, na região de Karachi e em partes de Sind. E centenas de jiyalas de Zardari – do partido de Zardari – reuniram-se à frente da sucursal da rede em Karachi, jogando pedras e sapatos. Reagiam contra a decisão do canal Geo de noticiar o incidente da sapatada.

Jornais do grupo Jang ardem, em chamas, por toda a cidade de Karachi. Não se vê nem sinal da polícia. Reação do grupo: os canais de televisão passaram a exibir clips de discursos de Benazir Bhutto defendendo a liberdade de expressão. As enchentes continuam…

Tradução: Caia Fittipaldi, Vila Vudu
Fonte: http://www.outraspalavras.net/

Surrealismo: o mundo imaginário de Ben Goossens - por Diana Guerra

Surrealismo: o mundo imaginário de Ben Goossens - por Diana Guerra

Tourmented

O manifesto lançado por André Breton em Outubro de 1924 ainda continua vivo e em constante mutação. Desta vez é Ben Goossens que, através da fotografia, explora o subconsciente com imagens surrealistas. Aquilo que Breton escreveu e Salvador Dali concretizou na pintura é agora retomado por este designer belga que trabalhou durante quase toda a sua vida profissional no mundo publicitário. Curiosamente foi a área que vive da aparência que o levou à introspecção e descoberta onírica, resultando na produção de imagens compostas e com uma aura mística.

Depois de se ter retirado do mundo publicitário, Goossens empenhou-se exaustivamente nestas fotomontagens surrealistas, que nos trazem também reminiscências de um conterrâneo seu, René Magritte. O que começou por ser um passatempo criativo tornou-se inesperadamente num trabalho premiado em várias competições internacionais de fotografia, tendo ganho medalhas de ouro e prata no Trierenberg Super Circuit, um dos concursos mais prestigiados de fotografia mundialmente.

Com 35 anos de trabalho em publicidade, 15 dos quais usando o Photoshop, Goossens vê estas fotografias experimentais como uma continuidade do seu trabalho profissional. O fingimento e perfeição inalienáveis do mundo das vendas tornaram-se na desconstrução surrealista com imagens alegóricas e segundos sentidos que nos transmitem, quer sentimentos de frustração, quer pura passividade comtemplativa.

As técnicas do automatismo e a inspiração na psicanálise de Freud podem ter décadas de existência, mas Goossens acrescenta-lhe uma temática contemporânea e um domínio preciso do Photoshop. Céus melancólicos, ponteiros que marcam a passagem do tempo e os tons cinzentos, azuis e castanhos levam-nos para o mundo dos sonhos, onde todas as coisas são possíveis, desde que existam dentro da nossa cabeça. Feche os olhos e deixe-se entrar no inconsciente de Goossens.

Revenge of the ants.

Only OPENS, when open for fantasy.

She walks alone

Stairway to heaven.

The land of antopictica (2)

Ben Goossens
Fonte: http://obviousmag.org/

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A neutralidade da internet em risco

A neutralidade da internet em risco

O acordo entre a Verizon e a Google para um uso da Internet a duas velocidades pode significar o fim da rede como é atualmente. Para Josh Silver, da Free Press, a Google junta-se às fileiras das más empresas que fazem tudo para lucrar às custas do consumidor.
Por Redação:30 de agosto de 2010

Os gigantes das telecomunicações (nos Estados Unidos) e da internet, Verizon e Google, parecem ter chegado a um acordo para impor um sistema por níveis para ter acesso à rede. O negócio permitiria que a Verizon cobrasse por um acesso mais rápido aos conteúdos online em aparelhos de internet móvel, o que representa uma violação do conceito de neutralidade que significa um acesso igual a todos os serviços. O acordo surge de reuniões a portas fechadas entre a Comissão Federal de Comunicações (FCC) e as gigantes das telecomunicações para a criação de novas regulamentações.

Juan Gonzalez: Hoje começamos com notícias acerca do acordo entre as gigantes da internet e das telecomunicações, Google e Verizon, que muitos receiam que possa acabar com a internet como a conhecemos. Foi noticiado que as duas empreas teriam chegado a um acordo para impor um sistema nivelado de acesso à internet, o que permitiria à Verizon cobrar por um acesso mais rápido aos conteúdos através dos aparelhos portatéis. Isto representa uma violação da neutralidade da net – um acesso igual a todos os conteúdos.

Ambas as empresas negaram que estariam a chegar a tal acordo que levaria a uma “internet de duas categorias.” Em declarações, tanto a Google como a Verizon, reiteraram o compromisso de uma Internet aberta.

Amy Goodman: Entretanto, a FCC cancelou as reuniões à porta fechada com as duas gigantes para a criação de novas regulamentações e prometeu procurar mais opiniões. O presidente da FCC, Julius Genachowski, disse: “Qualquer resultado, qualquer acordo que não preserve a liberdade e abertura da internet para consumidores e empreendedores será inaceitável.”

Para entender melhor esta questão, é nosso convidado, a partir de Chicopee, Massachusetts, a presença de Josh Silver, o diretor-executivo da Free Press, (freepress.net), uma organização para a reforma dos media nacionais.

Bem-vindo ao Democracy Now!, Josh.

JOSH SILVER: Obrigado.

AMY GOODMAN: Quais são as suas principais preocupações e quais são as últimas novidades acerca do eventual acordo?

JOSH SILVER: Bom, antes de responder a essa questão, queria voltar a esta ideia de neutralidade da internet sobre a qual muitos norte-americanos, espectadores e ouvintes do vosso programa, provavelmente pensarão: “isto é para aficionados (geeks).” A razão pela qual a neutralidade importa – tem sido a lei desde que a internet foi criada há quarenta anos – é o fato de este princípio declarar que qualquer conteúdo está disponível a qualquer velocidade, seja a ABC News a enviá-lo ou o Democracy Now!, seja ainda o vídeo do casamento do vosso primo. E o cerne da questão é compreender que à medida que a velocidade da internet aumenta, iremos ver os média todos – televisão, rádio, serviços telefónicos, tecnologias emergentes – a serem acessíveis através da net. Qualquer sítio poderá tornar-se uma rede de televisão ou de rádio. É uma mudança das regras do jogo que alarga o acesso e a distribuição dos conteúdos. Então, quando há alterações de políticas, como o acordo Google-Verizon que iremos abordar hoje, temos um efeito profundo sobre se esta oportunidade revolucionária será aproveitada ou deitada ao lixo.

Agora, com este negócio entre a Google e a Verizon, damos um passo atrás. Primeiro, os EUA estão colocados atrás de outros países no que diz respeito à velocidade e acesso à internet. Passamos de quarto para 22º nos último dez anos, devido a políticas falhas, o mesmo tipo de políticas que nos levou à crise financeira, o mesmo tipo de políticas que nos levou ao derrame do Golfo do México, uma espécie de "dizer governamental": “Força, indústria. Façam aquilo que quiserem.” E adivinhem? Os consumidores ficaram com a parte má do negócio.

Em abril deste ano, aconteceu uma coisa espantosa. Devido às medidas da FCC da era Bush, a actual FCC ficou desprovida de toda a autoridade para regular não apenas a internet mas também todos os seus fornecedores – uma distinção importante. Já não podem dizer: “Verizon, AT&T, isso não é justo. Não podem escalonar os preços. Não podem bloquear indiscriminadamente os conteúdos.” E isto surge nos bastidores de um presidente – Barack Obama – que, durante a campanha disse: “Eu sou um firme defensor da neutralidade da internet,” e depois designou como presidente da FCC, que ainda mantém o cargo, Julius Genachowski, que, como disse, admitiu ser um apoiador da neutralidade. Mas tudo começou a ficar muito estranho.

Durante os últimos meses, o presidente Genachowski chamou os líderes da indústria ao seu gabinete, sem grupos de interesse público, e declarou: “Não vou mexer uma palha para reaver a autoridade da minha agência, mesmo sendo uma coisa fácil de fazer. Em vez disso, vou pedir aos agentes do ramo para chegar a um acordo e criar um compromisso com o qual todos possamos viver. Não vou preocupar-me assim tanto com os grupos de interesse público.” Pelo menos foi o que deu a entender.

Estamos assim num limbo, onde o presidente da FCC não faz nada. Ele não luta pela autoridade da sua agência, que é necessária para proteger a neutralidade da rede, trazer concorrência e fazer baixar os preços, e proporcionar banda larga universal para cada americano. E temos a Google e a Verizon que, no meio disto tudo, anunciaram esta semana um acordo surpreendente – havia rumores acerca do mesmo, mas ninguém pensou que fosse acontecer tão cedo – um acordo que essencialmente diz o seguinte: “Ok, não haverá problema se bloquearmos ou abrandarmos alguns conteúdos no espaço wireless. E nas ligações fixas às casas e às empresas, poderemos arranjar qualquer coisa como `serviços administrados`, os quais permitem discriminar os conteúdos conforme a nossa vontade.” E parte do mais extraordinário, a Google, que nos últimos cinco anos, durante esta épica batalha pela neutralidade, colocou-se do lado dos grupos de interesse público e de outras companhias como a Skype, a Amazon e eBay, entre outras, para apoiar a neutralidade e os consumidores.

JUAN GONZALEZ: Josh, quero interrompê-le por um instante. Antes de irmos ao acordo Google-Verizon, queria recuar um bocadinho e falar sobre o problema da neutralidade, como referiu. O argumento das empresas de telecomunicações tem sido – e também as empresas de cabo – “Ei, estes são os nossos cabos. Por que razão não se deve cobrar mais àqueles que enchem a rede e que a usam mais?

JOSH SILVER: Bem, eis o problema, Juan. Nos EUA, temos um mercado incrivelmente não competitivo. Como resultado, pagamos – o consumidor americano paga – muito mais dinheiro por serviços bem mais lentos que em países como a Dinamarca, o Japão, a França ou a Inglaterra. Portanto, o que temos é um mercado sem concorrência, com dois ou três fornecedores de 97 ou 98% do mercado nacional. Assim os consumidores não têm escolhas. Se, digamos, que o seu servidor Verizon está bloqueando ou abrandando o tráfego, e você não gosta, não tem escolha. Este é o problema número um. Número dois, perder a neutralidade permitirá a estas empresas priorizar algum tráfego – por exemplo, vídeo – e `despriorizar` outro. Desta forma, a internet tornar-se-ia como a televisão por cabo, na qual a Verizon, a AT&T, a Comcast e a Time Warner decidem o que é rápido, quanto custa e quem é lento. Surgem então exactamente o mesmo problema que com o cabo, falta de acesso e distribuição para pessoas comuns.

JUAN GONZALEZ: Acha que poderá ter havido alguma ingenuidade ou erros por parte dos defensores dos consumidores nesta aliança que tem existido desde há vários anos com empresas como as Google e eBays deste mundo; que havia uma sensação de que eles iriam agir corretamente no que diz respeito à neutralidade? O preço que aceitaram foi aparentemente oferecido pela Verizon e agora estão dispostos a abandonar aqueles grupos e avançar para um acordo com as empresas de telecomunicações?

JOSH SILVER: Penso que não. Na altura foi com certeza uma decisão táctica esperta. Recorda, tínhamos um candidato presidencial Obama que dizia literalmente, “Eu não vou pôr em causa a neutralidade da internet.” São palavras fortes. De repente, temos estas poderosas figuras da indústria a dizerem o mesmo e concordarem com a política que o interesse público queria. Todos pensaram que, quando o Julius Genachowski assumiu a presidência da FCC, depressa aprovaria uma norma e resolver o assunto, concretizando as promessas do presidente. É um testemunho do lóbi massivo por parte das empresas de telefone e cabo que aconteceu e que explica o porquê deste presidente da comissão não fazer nada, o que não deixa de ser surpreendente. Todos julgámos que não haveria problema algum nos dias de hoje. Ninguém esperava o caso judicial que em Abril retirou autoridade à agência. Agora muitos não referem o facto de que seria muito fácil para o presidente Genachowski – ele tem os votos – afastar aquilo que se chama a reclassificação da autoridade da agência, ele poderia restabelecê-la e o assunto estaria resolvido.

E o mais alarmante, Juan, é o facto de estarmos a assistir ao mesmo tipo de regulamentação e medidas que vimos antes da crise financeira, e o mesmo tipo de supervisão que vimos no derrame petrolífero. É o mesmo, dinheiro na política que controla os corredores de Washington. Em algum momento teremos de parar, porque se não conseguimos lidar com este problema e com o do financiamento das campanhas, se não conseguimos assegurar qualidade no jornalismo e acesso à informação, não temos democracia. Não funcionará. E essas são as duas questões da nossa democracia. Felizmente, há sempre algo que se pode fazer, no problema da internet em particular. Pode ir a savetheinternet.com. Pode agir e juntar-se a milhões de pessoas que percebem o que está a acontecer e estão a envolver-se.

JUAN GONZALEZ: E a maioria democrata no Congresso? Há alguma esperança de que intervenha, corrija o que se passa e imponha limites a estes acordos?

JOSH SILVER: A razão pela qual o Congresso não pode agir é a mesma pela qual a lei dos cuidados de saúde está cheia de lacunas. A indústria das telecomunicações está em segundo lugar, sendo apenas batida pela indústria farmacêutica, em gastos públicos. Eles controlam Washington, e isso é bem sabido na cidade. O fato é que houve apenas um voto republicano contra a FCC ter poderes sobre os fornecedores de internet. E tivemos 74 democratas dizendo não a estes mesmo poderes. São pessoas que estão agindo conforme o que as empresas mandam. Então, se deixamos isto ao Congresso, poderemos estar certos de que, a haver legislação, também esta estará cheia de lacunas e os consumidores pagarão por isso.

AMY GOODMAN: Finalmente, a Google está negando tudo isto. Dizem: “não tivemos conversações nenhumas com a Verizon acerca de pagamentos para transporte de tráfego da Google. Permanecemos comprometidos como sempre para manter uma internet aberta.” A sua resposta, Josh Silver?

JOSH SILVER: São negativas falsas, mas esperadas. É de notar que são também muito opacas. São declarações curtas e mensagens no Twitter. O que a Google está realmente dizendo é: “Não queremos vender cigarros a meninos de 9 anos, mas queremos ter a possibilidade de vender cigarros a meninos 9 anos caso decidamos nesse sentido.” Esta é a analogia que podemos usar.

AMY GOODMAN: E o slogan da Google: “Não faças mal”?

JOSH SILVER: Penso que está acabado. A era da Google que não fazia mal terminou com este acordo. Agora, há a possibilidade de ele mudarem os termos do acordo que tem ainda de ser anunciado, mas se forem avante com isto, a Google juntar-se-á às fileiras das más empresas que fazem tudo para lucrar à custa do consumidor.

AMY GOODMAN: Josh Silver, presidente e director-executivo da Free Press (freepress.net) queremos agradecer-lhe por teres estado connosco.

Traduzido de Democracy Now. Veja o vídeo desta entrevista (em inglês).

Tradução de Sofia Gomes para o Esquerda.net. Foto por http://www.flickr.com/photos/sinistraeliberta/.
Fonte:http://www.revistaforum.com.br/

Cinco anos da tragédia de New Orleans e do fracasso da FEMA

Cinco anos da tragédia de New Orleans e do fracasso da FEMA

Carlos Drummond De Campinas (SP)

Cinco anos depois de New Orleans ser arrasada pelo furacão Katrina e, na sequência, virtualmente abandonada pelo governo de George Walker Bush, a cidade dos Estados Unidos se reergue lentamente e, em grande medida, por esforço próprio. O governo Obama prometeu auxílio, mas até agora nenhuma mudança fundamental ocorreu no sistema institucional de ações emergenciais em catástrofes do gênero. O desmonte ou enfraquecimento extremo do aparelho do estado americano nos anos do primado neoliberal incluiu o esfrangalhamento da agência ambiental FEMA (Federal Emergency Management Agency), fato que agravou em muito as consequências do desastre de 2005.

O virtual aniquilamento da agência ambiental não resultou, no entanto, da incompetência do Estado, conforme a interpretação liberal. A falta de eficiência existiu, não como fruto natural do aparelho público, mas em decorrência da inanição financeira e do raquitismo político impostos pela supremacia do dinheiro à lógica de funcionamento de todas as instituições não privadas.

As agências regulatórias já tiveram mais poder e efetividade de ação. A própria FEMA, no início do milênio, era uma agência eficiente. Até que Bush decidiu, em 2000, entregá-la a um cupincha político sem experiência em catástrofes naturais e outros tipos de desastre. O posto foi apenas um trampolim para ele lançar-se, dois anos depois, à montagem de um promissor escritório de lobby de empresas especializadas na atuação em desastres e grandes projetos de reconstrução. Longe de ser um gesto isolado, a demissão parece ter funcionado como uma senha. Quatro anos mais tarde, dois terços dos principais quadros da FEMA haviam saído para trabalhar nessas empresas ou em escritórios de lobby.

As imagens dos mortos e dos trinta mil desabrigados em desespero no ginásio Superdome retrataram com força o fracasso completo da FEMA, mas a história recente mostra que a decadência de todo o aparato regulatório americano foi um desastre previsível a partir do estrangulamento desse sistema, ditado pelo interesse privado. O mesmo que proporcionou gordo faturamento às empresas especializadas em desastres e aos escritórios de lobby quando News Orleans submergiu.
Carlos Drummond é jornalista.
carlos_drummond@terra.com.br
Fonte: Terra Magazine

domingo, 29 de agosto de 2010

DENÚNCIA: SÍTIO CALDEIRÃO, O ARAGUAIA DO CEARÁ – UMA HISTÓRIA QUE NINGUÉM CONHECE PORQUE JAMAIS FOI CONTADA

DENÚNCIA: SÍTIO CALDEIRÃO, O ARAGUAIA DO CEARÁ – UMA HISTÓRIA QUE NINGUÉM CONHECE PORQUE JAMAIS FOI CONTADA
“As Vítimas do Massacre do Sítio Caldeirão têm direito inalienável à Verdade, Memória, História e Justiça!” Otoniel Ajala Dourado

O MASSACRE DELETADO DOS LIVROS DE HISTÓRIA
No município de CRATO, interior do CEARÁ, BRASIL, houve um crime idêntico ao do “Araguaia”, foi a CHACINA praticada pelo Exército e Polícia Militar em 10.05.1937, contra a comunidade de camponeses católicos do SÍTIO DA SANTA CRUZ DO DESERTO ou SÍTIO CALDEIRÃO, cujo líder religioso era o beato “JOSÉ LOURENÇO GOMES DA SILVA”, paraibano negro de Pilões de Dentro, seguidor do padre CÍCERO ROMÃO BATISTA, encarados como “socialistas periculosos”.

O CRIME DE LESA HUMANIDADE
O crime iniciou-se com um bombardeio aéreo, e depois, no solo, os militares usando armas diversas, como metralhadoras, fuzis, revólveres, pistolas, facas e facões, assassinaram na “MATA CAVALOS”, SERRA DO CRUZEIRO, mulheres, crianças, adolescentes, idosos, doentes e todo o ser vivo que estivesse ao alcance de suas armas, agindo como juízes e algozes. Meses após, JOSÉ GERALDO DA CRUZ, ex-prefeito de Juazeiro do Norte/CE, encontrou num local da Chapada do Araripe, 16 crânios de crianças.

A AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROPOSTA PELA SOS DIREITOS HUMANOS
Como o crime praticado pelo Exército e Polícia Militar do Ceará é de LESA HUMANIDADE / GENOCÍDIO é IMPRESCRITÍVEL conforme legislação brasileira e Acordos e Convenções internacionais, a SOS DIREITOS HUMANOS, ONG com sede em Fortaleza – CE, ajuizou em 2008 uma Ação Civil Pública na Justiça Federal contra a União Federal e o Estado do Ceará, requerendo: a) que seja informada a localização da COVA COLETIVA, b) a exumação dos restos mortais, sua identificação através de DNA e enterro digno para as vítimas, c) liberação dos documentos sobre a chacina e sua inclusão na história oficial brasileira, d) indenização aos descendentes das vítimas e sobreviventes no valor de R$500 mil reais, e) outros pedidos

A EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO DA AÇÃO
A Ação Civil Pública foi distribuída para o Juiz substituto da 1ª Vara Federal em Fortaleza/CE e depois, para a 16ª Vara Federal em Juazeiro do Norte/CE, e lá em 16.09.2009, extinta sem julgamento do mérito, a pedido do MPF.

RAZÕES DO RECURSO DA SOS DIREITOS HUMANOS PERANTE O TRF5
A SOS DIREITOS HUMANOS apelou para o Tribunal Regional da 5ª Região em Recife/PE, argumentando que: a) não há prescrição porque o massacre do SÍTIO CALDEIRÃO é um crime de LESA HUMANIDADE, b) os restos mortais das vítimas do SÍTIO CALDEIRÃO não desapareceram da Chapada do Araripe a exemplo da família do CZAR ROMANOV, que foi morta no ano de 1918 e a ossada encontrada nos anos de 1991 e 2007;

A SOS DIREITOS HUMANOS DENUNCIA O BRASIL PERANTE A OEA
A SOS DIREITOS HUMANOS, como os familiares das vítimas da GUERRILHA DO ARAGUAIA, denunciou no ano de 2009, o governo brasileiro na Organização dos Estados Americanos – OEA, pelo DESAPARECIMENTO FORÇADO de 1000 pessoas do SÍTIO CALDEIRÃO.

QUEM PODE ENCONTRAR A COVA COLETIVA
A “URCA” e a “UFC” com seu RADAR DE PENETRAÇÃO NO SOLO (GPR) podem localizar a cova coletiva, mas não o fazem porque para elas, os fósseis de peixes do “GEOPARK ARARIPE” são mais importantes que as vítimas do SÍTIO CALDEIRÃO.

A COMISSÃO DA VERDADE
A SOS DIREITOS HUMANOS em julho de 2010 passou a receber apoio da OAB/CE pelo presidente da entidade Dr. Valdetário Monteiro, nas buscas da COVA COLETIVA das vítimas do Sítio Caldeirão, e continua pedindo aos internautas divulguem a notícia, bem como a envie para seus representantes no Legislativo, solicitando um pronunciamento exigindo do Governo Federal a localização da COVA COLETIVA das vítimas do SÍTIO CALDEIRÃO.

Paz e Solidariedade,
Dr. Otoniel Ajala Dourado
OAB/CE 9288 – 85 8613.1197
Presidente da SOS – DIREITOS HUMANOS
Editor-Chefe da Revista SOS DIREITOS HUMANOS
Membro da CDAA da OAB/CE
www.sosdireitoshumanos.org.br
sosdireitoshumanos@ig.com.br
http://revistasosdireitoshumanos.blogspot.com

sábado, 28 de agosto de 2010

Charge do dia!


Fonte: http://blogdolute.blogspot.com/

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Genocídio: Ibama apreende 1,4 t de barbatanas de tubarão irregulares no Pará

Ibama apreende 1,4 t de barbatanas de tubarão irregulares no Pará

O Ibama no Pará apreendeu 1,4 tonelada de barbatanas de tubarão obtidas, segundo o órgão, por meio da pesca predatória.

A apreensão ocorreu na quinta-feira (26) em uma empresa exportadora de Belém. A carne, avaliada em R$ 80 mil, iria para Hong Kong (China), onde a barbatana tem a fama de, quando ingerida, provocar efeitos afrodisíacos. A empresa também foi multada em R$ 128 mil.

Segundo os fiscais, ela não conseguiu comprovar que, originalmente, o resto da carne dos tubarões dos quais as barbatanas foram cortadas também foi comercializado.

Isso caracteriza uma prática chamada de "finning", na qual apenas as barbatanas (de maior valor comercial) são cortadas, e o animal é jogado de volta na água.

Alguns conseguem sobreviver, ainda que temporariamente.

A exploração predatória de tubarões por parte de outra empresa de Belém levou uma ONG a entrar com uma ação pedindo indenização de R$ 1,3 bilhão pelos supostos danos ambientais.

Essa outra empresa comercializou ilegalmente 24 toneladas de barbatanas, referentes a aproximadamente 280 mil tubarões, segundo estimativa da ONG.

Seguindo essa proporção, para obter a 1,4 tonelada apreendida foi preciso matar mais de 16 mil tubarões.

Fonte: Bol notícias

A sina do esquecimento brasileiro!

Ainda acerca da crise económica. 1) o declínio dos Estados Unidos - por João Bernardo

Ainda acerca da crise económica. 1) o declínio dos Estados Unidos

A administração Obama permanece de olhos postos nos principais países emergentes, especialmente na China. Porém, como esperar uma ajuda desse lado se a economia norte-americana e as novas economias em ascensão revelam não só situações distintas ou até opostas, mas tendências divergentes? Por João Bernardo

Em Fevereiro de 2009, aquando do lançamento deste site, publiquei o artigo Perspectivas do capitalismo na actual crise económica, que diferiu do que era então hábito escrever acerca desse tema na extrema-esquerda. Defendi que não se tratava de uma crise global do capitalismo mas de uma crise no interior do capitalismo, motivada por uma deslocação dos centros de hegemonia económica. Observando o que se passou no ano e meio seguinte, parece-me que a minha análise e as minhas previsões foram confirmadas. (Devo prevenir os leitores de que, consoante o uso português, chamo mil milhões ao que os brasileiros chamam bilhão, ou seja, 109, e bilião ao que no Brasil se chama trilhão, um milhão de milhões, ou seja, 1012.)

Crise no, e não do, capitalismo
É frequente que os jornalistas e mesmo alguns comentadores um pouco mais sérios comparem a recessão iniciada nos Estados Unidos em Dezembro de 2007 com a grande depressão da década de 1930. Enquanto de 1990 até 2006 o output [1] mundial cresceu a uma taxa anual de cerca de 3%, nos últimos meses de 2008 e em 2009 as principais instituições económicas emitiram uma sucessão de previsões cada uma mais pessimista do que a anterior. No final de 2008 o Fundo Monetário Internacional previu que a economia mundial cresceria 2,2% em 2009, o que equivale a menos de metade da taxa de crescimento de 2007, e em Janeiro de 2009 o prognóstico baixou para um crescimento de 0,5%, o número mais baixo nos últimos sessenta anos. Em Abril, porém, já não foi um crescimento reduzido que o Fundo anunciou para o ano de 2009, mas uma diminuição de 1,3% do output global, enquanto a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) preveniu, na mesma ocasião, que a economia mundial se contrairia 2,7% em 2009. O optimismo, aliás muito relativo, regressou em 2010, com as previsões sucessivamente corrigidas num sentido mais elevado ao longo do primeiro semestre do ano, e em Abril o Fundo Monetário Internacional noticiou que o output global atingira o nível em que se havia situado antes do início da recessão. Em Julho o Fundo, que antes considerara que a economia mundial cresceria 4,2% em 2010, passou a admitir um crescimento de 4,6%.

«A crise mata-nos»
De 1990 até 2006 o volume do comércio mundial cresceu a uma taxa anual superior a 6%, mais do dobro do crescimento do output mundial. Depois, embora com um pequeno atraso, o comércio mundial acompanhou a crise. No primeiro semestre de 2008 o crescimento do comércio mundial obedeceu a uma taxa anualizada de 20%, em termos de dólar, mas a progressão foi menor no segundo semestre e, de acordo com o Fundo Monetário Internacional, em Setembro o comércio mundial entrara já em retracção. Tudo somado, em 2008 o comércio mundial declinou mais rapidamente do que o output mundial, e no começo de 2009 estava a contrair-se a um ritmo sem precedentes desde o pós-guerra. Segundo o Banco Mundial, o valor em dólares do comércio mundial em Maio de 2009 foi cerca de 1/3 inferior ao que havia sido um ano antes.

Mas esta perspectiva global é ilusória. A depressão da década de 1930 atingiu todo o planeta, salvo duas excepções: a Palestina, que de 1933 em diante a Agência Judaica inundou de capitais germânicos, devidos ao Acordo de Transferência que descrevi brevemente num artigo deste site; e a União Soviética, onde os planos quinquenais stalinianos se revelaram a fórmula adequada àquelas circunstâncias sociais e àquela situação económica, malgrado tudo o que posteriormente se pretendeu. A actual recessão, no entanto, não é mundial e, pelo contrário, dividiu os países num grupo declinante, que não consegue ultrapassar as dificuldades económicas, parecendo às vezes sair de uma situação grave para cair noutra pior; e num grupo em ascensão, no qual se depositam hoje as esperanças do capitalismo mundial. Esta crise consiste, antes de mais, numa reordenação interna dos centros de crescimento económico. Vejamos o declínio dos Estados Unidos.

A recessão
Formalmente, a recessão iniciou-se nos Estados Unidos no último mês de 2007 e terminou no segundo trimestre de 2010, mas, como sempre sucede nos processos económicos e sociais, as cadeias de causas e consequências impossibilitam o estabelecimento de limites rigorosos. Durante a década de 2000 o Produto Interno Bruto (PIB) real norte-americano cresceu a uma taxa média anual de 1,9%, enquanto havia crescido a uma taxa média anual de 3,9% ao longo das seis décadas anteriores. Pior do que a década de 2000 só a famigerada década de 1930, quando o crescimento médio anual foi 0,9%. E, para me reportar ao plano em que a crise se desencadeou, as dívidas das firmas financeiras norte-americanas aumentaram continuamente durante as duas décadas anteriores a 2008, passando de 39% do PIB para 111%. Os acontecimentos de 2007 e 2008 vinham já a ser preparados desde há algum tempo.

«Redução de preço. Execução de hipoteca. Propriedade do banco»
E foram preparados igualmente no mercado imobiliário. De 1965 até 1997 a percentagem de famílias norte-americanas proprietárias da sua residência mantivera-se em 64%. A taxa máxima foi atingida em 2006, com 69%, e ainda no final de 2008 67,5% das famílias eram proprietárias das suas casas. Mas a posse das residências serviu para aumentar as dívidas. Em 1989, 47% dos agregados familiares de «classe média» contraíram uma hipoteca, e a percentagem passou para cerca de 60% em 2007. Nestas circunstâncias, qualquer variação no preço das habitações teria efeitos ampliados sobre o endividamento e a capacidade de consumo das famílias e, por aí, sobre o ritmo de crescimento de toda a economia. Até que o desastre aconteceu. Os preços das habitações caíram tanto e tão depressa que, segundo estimativas do Deutsche Bank, no final do primeiro trimestre de 2009, 27% dos agregados familiares com hipotecas tinham dívidas hipotecárias superiores ao valor da residência.

Precipitada pela crise das hipotecas, a crise financeira norte-americana provocou, por seu turno, uma crise na construção de casas. Todavia, o facto de os preços das casas em Janeiro de 2009 estarem 29% abaixo do nível máximo que antes haviam atingido levou a uma reanimação do mercado imobiliário. A construção de casas subiu à taxa anual de 23,4% no terceiro trimestre de 2009, ajudada por um crédito fiscal de 8.000 dólares concedido pelo governo a quem comprasse casa nova. Porém, a venda de casas novas caiu 3,6% em Setembro de 2009 e, após ter subido 6,2% em Outubro, desceu 11,3% em Novembro e de novo 11% em Janeiro de 2010, continuando a descer em seguida, o que revela a fragilidade do actual mercado imobiliário norte-americano, incapaz de se sustentar depois de terminado o prazo para beneficiar daquele crédito fiscal. Em Maio de 2010 a compra de casas novas caiu 33% relativamente ao mês anterior.

Ao mesmo tempo, e dado o facto de os departamentos de crédito ao consumidor serem os mais rentáveis, quando não os únicos rentáveis, das três empresas automobilísticas norte-americanas, a crise financeira acarretou uma crise no fabrico de automóveis. Como tive ocasião de indicar em Perspectivas do capitalismo na actual crise económica, os departamentos de crédito ao consumidor da General Motors e da Ford colocavam estas companhias industriais entre as maiores instituições financeiras do país, o que contribuiu para contagiar alguns ramos cruciais da indústria com as calamidades do sector financeiro. No primeiro trimestre de 2009 a produção industrial caiu a uma taxa anualizada superior a 20%, mas no segundo trimestre houve uma relativa melhoria nas despesas das empresas, que desceram só 8,9% em comparação com uma queda de 39,2% no primeiro trimestre. Afinal, em Setembro de 2009 o output industrial estava 15% mais baixo do que no começo da recessão, em Dezembro de 2007.

Do mesmo modo que a data inicial da recessão não pode ser assinalada com precisão, também o seu termo estatístico não corresponde a qualquer robustecimento efectivo da economia dos Estados Unidos. Durante uma crise, com o declínio da actividade produtiva os stocks vão-se esgotando, e o final da crise ocorre com a reposição dos stocks. Ora, já em meados de 2009 os indicadores económicos haviam apontado para uma estabilização da situação e no final de Setembro desse ano a Reserva Federal declarou que estava a ocorrer a retoma [recuperação] da economia do país. Com efeito, o crescimento recomeçou nos meados de 2009 e acelerou-se bastante nos últimos meses do ano. Tudo somado, de acordo com os dados oficiais, o PIB cresceu apenas 0,4% em 2008 e o seu declínio acumulado foi de 3,7% desde o final de 2007. Em 2009 a economia retraiu-se 2,4%, embora com uma melhoria no segundo trimestre, quando se contraiu a uma taxa anualizada de 1%. Porém, no terceiro trimestre de 2009 o PIB já cresceu a uma taxa anualizada de 3,5% relativamente ao trimestre anterior, sendo o primeiro aumento desde o segundo trimestre de 2008; e no último trimestre o output cresceu a uma taxa anualizada de 5,7%. Em Maio de 2010 a OCDE pôde prever para esse ano um crescimento de 3,2%, o que mostra que os negócios haviam corrido melhor do que se esperara, porque em Março do ano anterior a OCDE havia previsto um declínio de 4% da economia norte-americana em 2009 e um crescimento zero em 2010.

No entanto, a retoma da actividade económica nos Estados Unidos sustenta-se em bases precárias, que em boa medida decorrem de fragilidades mais antigas.

O desemprego
A taxa de desemprego é um indicador crucial, porque revela a relação entre a actividade das empresas e o comportamento do consumo particular. Não só os desempregados ganham menos, ou não ganham nada, como o desemprego pressiona à baixa dos salários dos que estão empregados. Nos Estados Unidos, entre o terceiro trimestre de 2008 e idêntico período de 2009 as remunerações dos trabalhadores aumentaram apenas 1,6%, a taxa mais baixa desde que este dado começou a ser corigido.

Ora, entre 1940 e 1999 o número de norte-americanos empregados fora do sector agrícola cresceu a uma taxa média decenal de 27%, mas na década de 2000 caiu 0,8% e em 2009 caiu 3,6%. Isto significa que, enquanto entre Dezembro de 1999 e Dezembro de 2009 a população dos Estados Unidos aumentou cerca de 30 milhões, surgiram só 400.000 novos empregos. E apesar de a economia se ter expandido na segunda metade de 2009, perderam-se nesse período 800.000 postos de trabalho. Em Setembro de 2009 o emprego era 15% inferior ao que fora em Dezembro de 2007, no início da recessão. Aliás, a taxa de 10,2% de desempregados em Novembro de 2009 chegaria quase aos 18% se fosse levado em conta o subemprego. Por cada novo emprego que se oferece há mais de seis desempregados a candidatar-se, e em Março de 2010, além dos 15 milhões de norte-americanos sem trabalho, outros 9 milhões laboravam contra a vontade em part-time. Além disto, a taxa de 9,5% de desempregados em Junho de 2010 deveu-se sobretudo ao facto de muita gente ter desistido definitivamente de procurar emprego e, assim, desaparecer das estatísticas.

Apercebemo-nos melhor da gravidade da situação ao sabermos que as empresas com menos de 500 empregados foram responsáveis por 64% dos novos postos de trabalho criados entre 1993 e o terceiro trimestre de 2008. Mas enquanto as grandes empresas obtêm só 30% do seu financiamento a partir dos bancos, as pequenas empresas obtêm 90%, sendo elas as que mais sofrem com a redução do crédito e mais dificuldades sentem nas actuais circunstâncias. No começo de 2010 a administração Obama anunciou que, de acordo com as suas previsões, durante este ano seriam criados apenas 95.000 postos de trabalho mensalmente e a taxa de desemprego permaneceria em 2011 acima dos 9%.

Ao invés do que imaginam os revolucionários de campus universitário, não é nos períodos de crise económica que se geram e alastram grandes lutas, porque a subida do desemprego, aumentando a concorrência dos trabalhadores no mercado de trabalho, refreia a contestação. A tal ponto os administradores das empresas conhecem este efeito suscitado pelo medo de perder o emprego, que muitas vezes despedem [demitem] mais pessoal do que seria estritamente necessário. Apesar disto, fico perplexo ao saber que, segundo o FBI, a venda de armas de fogo subiu 31% no período entre Novembro de 2008 e Janeiro de 2009 relativamente a igual período um ano antes. Quem estava a ter medo de quem?

Limitando-me ao plano estritamente económico, uma parcela do desemprego, denominada friccional, é pouco significativa porque resulta da mobilidade da força de trabalho e da deslocação de empresas de um lugar para outro, fazendo-se sentir apenas a curto prazo. Verdadeiramente grave é o desemprego a longo prazo porque, além de reflectir uma crise séria na actividade produtiva e de ter efeitos especialmente negativos sobre os rendimentos familiares, leva o desempregado a esquecer gradualmente muitas das suas qualificações e impede-o de adquirir qualificações novas. Se uma crise consiste numa destruição de capital, então o desemprego a longo prazo consiste numa destruição das qualificações do trabalhador, com efeito de ricochete sobre a produtividade geral. É preferível para o capitalismo reduzir as horas de trabalho do que reduzir os postos de trabalho. Nesta perspectiva é especialmente grave o facto de no final de 2009 cerca de 6 milhões de norte-americanos, o que correspondia a 40% dos cerca de 15 milhões de desempregados, estarem sem trabalho há 27 semanas ou mais, a mais alta taxa desde 1948, quando começou a ser elaborado este tipo de estatística. E o record foi batido em meados de 2010, com um período médio de desemprego de mais de 35 semanas. Ultrapassado um certo limite, muitos desempregados desistem e deixam de procurar trabalho, sendo então esquecidos pela estatística oficial que, se os incluísse, apresentaria uma taxa de desemprego muito superior. Eles representam uma perda absoluta na produtividade geral.

Contrariamente ao que é comum pensar na extrema-esquerda, o crescimento da produtividade leva ao aumento do emprego. É certo que, por um lado, as inovações tecnológicas deixam sem ocupação muitos profissionais ligados às tecnologias caducas e fazem com que se percam postos de trabalho nos ramos que expandiram a automatização. Por outro lado, todavia, o aumento da produtividade suscita o desenvolvimento económico e a criação de novas oportunidades de investimento e de novos ramos de actividade, com a consequente multiplicação do emprego. Dois séculos de história do capitalismo demonstram que o crescimento da produtividade gera muitíssimo mais empregos do que aqueles que destrói. No entanto, esta compensação pode demorar. Durante algum tempo o acréscimo da produtividade pode conviver com uma redução do emprego, e o desfasamento [a defasagem] será tanto mais prolongado quanto mais lento for o ritmo daquele acréscimo. Ora, não parece que os Estados Unidos estejam aptos a conseguir um arranque da produtividade tal que absorva a enorme quantidade de desempregados.

O consumo particular e o endividamento
O desemprego elevado e persistente somou-se à crise das hipotecas desencadeada em 2007, tendo como resultado uma redução do consumo particular. Esta situação é especialmente grave porque desde há bastante tempo o consumo particular tem sido o motor da economia norte-americana. As despesas de consumo e os investimentos em habitação aumentaram de 67% do PIB em 1980 para 75% em 2007 e foram responsáveis, logo antes da recessão, por mais de 70% das despesas totais, e por 77% do crescimento económico entre 2000 e 2007.

Ora, o salário mediano dos trabalhadores norte-americanos, avaliado em termos reais, manteve-se praticamente sem alterações desde a década de 1970, por isso o nível de consumo elevado implicou uma alta taxa de endividamento. O aumento salarial que deve acompanhar o crescimento da produtividade assumiu a forma perversa de um aumento do crédito. Em 1945 o crédito ao consumo nos Estados Unidos aproximou-se de 5,7 milhares de milhões de dólares, subindo para cerca de 43 milhares de milhões de dólares em 1955 e chegando a 100 milhares de milhões em 1966, 500 milhares de milhões em 1984 e 1 bilião em 1994. O crédito ao consumo atingiu o nível máximo em Julho de 2008, alcançando quase 2,6 biliões de dólares.

Em 2007 a dívida dos agregados familiares aproximava-se de 100% do PIB. Isto significa que a taxa de poupança dos agregados familiares, que em 1980 havia sido de 10% do rendimento disponível, caiu para próximo de zero em 2007, enquanto a taxa de endividamento familiar subiu de 67% do rendimento disponível para 138%. Richard Berner, um dos directores e dos principais economistas da firma financeira Morgan Stanley, calculou que nos dez anos anteriores a 2009 a proporção dos rendimentos familiares destinada ao serviço da dívida aumentou de 12% para 14%.

«Liquidação. Tudo a 5 dólares»
A situação atingiu um ponto crítico durante o ano de 2008, quando a riqueza líquida dos agregados familiares caiu 18%, uma descida sem precedentes, correspondente a uma perda de 11,2 biliões de dólares. Nestas condições, o volume do crédito ao consumo diminuiu 4,4% em 2009 e, correlativamente, a taxa de poupança familiar subiu, passando para 5% do rendimento disponível no segundo trimestre de 2009, uma mudança considerável depois de ter estado próxima de zero. Mas note-se que esta taxa mantinha-se ainda abaixo da média de 7% posterior à segunda guerra mundial. Importa, no entanto, considerar que, como cada aumento de 1% na taxa de poupança corresponde a uma redução anual da procura no montante aproximado de 109 milhares de milhões de dólares, as despesas de consumo desceram em 2008 para 70% do PIB. É significativo também saber que o número de cartões de crédito em circulação diminuiu de quase 1/5 no primeiro trimestre de 2010, enquanto o não pagamento das dívidas em cartão de crédito atingiu o nível sem precedentes de 13%.

A maior parte do endividamento nos Estados Unidos é interna, quer dizer, cidadãos do país devem a outros cidadãos, o que não evita riscos elevados, porque se as dívidas internas não forem respeitadas isto provoca reacções negativas em cadeia. No entanto, como a crise do sistema financeiro norte-americano teve repercussões em todo o mundo, os problemas mais graves devem-se ao endividamento externo.

O endividamento externo
Além do endividamento dos agregados familiares, há que considerar o endividamento das empresas e a dívida pública. Nos Estados Unidos as dívidas do sector privado, que em 1950 equivaliam a cerca de 50% do PIB, atingiram quase 300% no auge anterior à crise, e a dívida pública federal bruta corresponde a 85% do PIB. Usando outro critério e excluindo as instituições financeiras e o governo federal, a dívida norte-americana no começo de 2009 correspondeu a cerca de 190% do PIB, a taxa mais elevada desde a década de 1930.

A balança de conta corrente, que mede o equilíbrio entre o que um país recebe do estrangeiro e os pagamentos que efectua ao exterior, tivera um excedente de 0,4% do PIB em 1980, mas entrou em défice em 1992 e o saldo negativo acentuou-se especialmente a partir de 1997, atingindo em 2006 um máximo de 804 milhares de milhões de dólares, correspondente a 6% do PIB. Apesar do declínio gradual do dólar a partir de 2002, o défice em conta corrente continuara a aumentar. Este défice destinou-se sobretudo a financiar o consumo e não o investimento produtivo interno, ou seja, não reflectiu qualquer aumento da taxa de investimento, mas uma descida da taxa de poupança. Em vez de servir directamente para as empresas norte-americanas expandirem as suas operações, o afluxo de capitais estrangeiros serviu, em boa medida, para a população do país ampliar o seu consumo, e só por aí se activou a economia, o que indica uma estrangulação da produtividade.

Ora, como é o sistema bancário a converter o afluxo das poupanças externas em crédito aos consumidores privados, a partir de certo ponto o endividamento destes consumidores pôs em risco o valor das suas garantias e, por aí, acarretou a crise do sistema bancário, o que não aconteceria se tivesse sido maior a percentagem do crédito dirigido para o investimento produtivo interno. E apesar de o Fundo Monetário Internacional ter previsto, em meados de 2009, que nesse ano e em 2010 o défice em conta corrente seria inferior a 3% do PIB, o certo é que no final de 2009 ele atingira já os 12%, a percentagem máxima desde a segunda guerra mundial, e era ainda de cerca de 9% nos meados de 2010. Nessa ocasião previa-se que em 2010 o défice chegasse a 1,3 biliões de dólares.

As hesitações da administração Obama
Chegou-se assim a uma situação duplamente grave, porque as despesas particulares diminuíram mas o défice em conta corrente permanece elevado. A administração Obama hesita perante esta contradição.

Por um lado, a administração continua a estimular o consumo, e as despesas de consumo subiram 3,4% no terceiro trimestre de 2009, em boa medida graças aos subsídios governamentais para a compra de automóveis novos. Nesse mesmo período a taxa global de poupança caiu para 10% do PIB, metade do que havia sido dez anos antes, porque embora os agregados familiares passassem a poupar mais, as despesas governamentais actuaram em sentido contrário. De qualquer modo, no final de 2009 a dívida dos agregados familiares, avaliada em percentagem dos rendimentos familiares, mantinha-se 30% acima do que fora uma década antes. Mas a fragilidade da retoma do consumo fica ilustrada ao verificarmos, como já referi, a persistente queda da compra de casas novas depois de encerrado o crédito fiscal destinado a estimular este tipo de aquisições.

O comércio externo poderia compensar a redução do mercado interno e contribuir para reequilibrar a balança de pagamentos, mas não é isto que acontece. No começo da década de 1950 os Estados Unidos foram responsáveis por 18% das exportações mundiais, e esta percentagem caiu para 8% em 2009. Simetricamente, a percentagem do consumo industrial interno satisfeita por importações, que fora de 31% em 1998, aumentou para 37% em 2008, segundo Dan Meckstroth, economista-chefe da Manufacturers Alliance, uma organização de pesquisa económica sustentada por médias e grandes companhias.

E assim, enquanto, por um lado, toma medidas de estímulo do consumo, a administração Obama pretende, por outro lado, aumentar as exportações do país. Larry Summers, director do Conselho Económico Nacional (o gabinete económico do presidente), declarou em Julho de 2009 que «a reconstrução da economia americana deve orientar-se mais para as exportações e menos para o consumo» e, no seu discurso sobre o Estado da União em Janeiro de 2010, o presidente Obama fixou o objectivo de duplicar as exportações norte-americanas nos próximos cinco anos.


Estas intenções não têm correspondido à realidade porque, se o défice dos Estados Unidos passou de 6% do PIB em 2006 para cerca de 2,8% no segundo trimestre de 2009 (numa taxa anualizada), isto não se deveu a qualquer aumento das exportações, que entre o último trimestre de 2007 e o segundo trimestre de 2009 caíram 215 milhares de milhões de dólares (a uma taxa anualizada e em dólares de 2005), mas ao facto de as importações terem descido mais ainda, num montante de 440 milhares de milhões de dólares. Para ultrapassar estas dificuldades, a administração Obama parece contar mais com as pressões diplomáticas exercidas sobre a China do que com uma reanimação da actividade industrial e um aumento da produtividade. Essas pressões batem à porta errada, todavia, porque enquanto para o Canadá e o México, que são os dois maiores mercados de exportação dos Estados Unidos, as exportações desceram 14% entre Outubro de 2008 e Outubro de 2009, cresceram 13% para a China, que é o terceiro maior mercado das exportações norte-americanas. No final de 2007, pela primeira vez mais de 50% das exportações dirigiram-se para os países emergentes e a percentagem tem vindo a aumentar. De qualquer modo, Mohamed El-Erian, da PIMCO, uma empresa de gestão de fundos, observou que a transição de uma expansão económica baseada no consumo para outra baseada na exportação levaria a uma taxa de crescimento baixa durante um longo período, acompanhada por um desemprego elevado.

Não parece desenhar-se uma saída clara, e embora a situação dos Estados Unidos tenha melhorado, não creio que esteja a edificar uma base sólida para retomar o crescimento. A administração Obama permanece de olhos postos nos principais países emergentes, especialmente na China. Porém, como esperar uma ajuda desse lado se a economia norte-americana e as novas economias em ascensão revelam não só situações distintas, mas tendências divergentes? Ultimamente, nos debates económicos em língua inglesa tem-se falado muito de decoupling, a acção de desenganchar ou desengatar, como quando se separam dois vagões de caminhos-de-ferro [estradas de ferro], por exemplo. Será que os países emergentes com maior taxa de crescimento seguirão velozmente pela via principal enquanto os Estados Unidos se encaminham para uma via de garagem?

Nota
[1] Em economia, o termo output denota o conjunto dos bens e serviços produzidos numa empresa, num país ou num grupo de países.

Esta série inclui os seguintes artigos
1) O declínio dos Estados Unidos
2) A nova hegemonia
3) A China em primeiro plano
4) O problema da produtividade
5) Transnacionalização e espaços nacionais
6) A crise do neoliberalismo
7) Uma crise de regulação
8) A crise de regulação na zona do euro

Fonte: http://passapalavra.info/

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Espetáculo primitivo de crueldade/EUA: Ursos são acorrentados e perseguidos por cães, durante “prática esportiva” - por ANDA

Espetáculo primitivo de crueldade/EUA: Ursos são acorrentados e perseguidos por cães, durante “prática esportiva” - por ANDA

Carolina do Sul é o único estado do mundo a permitir a tortura de ursos como uma prática legal

Por Fernanda Franco (da Redação)

Uma terrível tradição popular sanguinária e cruel praticada nos tempos da Roma Antiga ainda permanece viva no estado da Carolina do Sul, nos EUA.

Uma investigação feita recentemente pela Humane Society revelou e registrou quatro “modalidades” do chamado “bear baying” (“perseguir ursos com latidos”, em tradução livre), na Carolina do Sul. Os caçadores que participam desse espetáculo repugnante de crueldade chamam essa prática de “exercício de treino” para seus cães usados nas perseguições, alegando que isso ensinaria aos cachorros como agir quando encontrarem um urso num ambiente selvagem.

De acordo com reportagem da AP e matéria feita pela Animals Change, “bear baying” é um “esporte” em que ursos são acorrentados em postes enquanto cães latem e rosnam, fazendo com que os ursos, assustados e intimidados, equilibrem-se apenas em suas patas traseiras. Mas por que forçar um urso a se equilibrar nas patas traseiras? Porque assim ficam mais vulneráveis para serem mortos por caçadores.

Os ursos submetidos a essa tortura sofrem muito, como é possível ver neste vídeo produzido pela Humane Society. Para a HSUS, essa prática cruel não passa de um show de covardia, em que animais acorrentados são cercados por curiosos sádicos: “Quando o animal fica com a boca espumando e com as mandíbulas trêmulas, é sinal de que está apavorado. Eles têm alguns dentes e garras arrancados, para que não possam se defender”.

Segundo a Humane Society, três cães que são treinados para a caça correm para perto do urso, latindo furiosamente. Alguns chegam a morder suas pernas ou face. Outros pulam sobre o urso, que por sua vez fica em pé, equilibrando-se nas suas patas traseiras, tentando proteger o corpo do ataque. A agressão continua por quatro horas, depois de cerca de 300 cães terem atacado o pobre urso.

Crueldade está dentro da legalidade
Enquanto os caçadores justificam essa prática absurda como algo necessário para treinar as habilidades de seus cães (que também são vítimas, por sua vez), esse espetáculo sanguinário e absolutamente cruel acaba sendo recebido como diversão, como é o caso das rinhas de galos e das touradas. Os participantes admitem isso com orgulho.

Curiosamente, conforme bem observa a “World Society for Protection of Animals” (Sociedade Mundial de Proteção aos Animais), a prática do “bear baying” é bem semelhante à prática paquistanesa do “bear baiting”, na qual cães tentam derrubar um urso (cujos dentes e garras são anteriormente cortados ou arrancados) mordendo seu focinho e flanco. No entanto, há duas diferenças. No Paquistão, o “bear baiting” é considerado entretenimento, mas é ilegal, diferentemente do “bear baying” na Carolina do Sul.

A Carolina do Sul tem a desonra de ser o único estado onde a prática de “bear baying” é legal. Embora a luta entre animais seja proibida no estado, há uma exceção para o “bear baying”.

Felizmente, a investigação do HSUS ajudou a alertar a sociedade para pedir o fim dessa atrocidade. Joe Lourie, senador da Carolina do Sul, pretende fazer um projeto de lei para proibir essa prática. “Tenho acompanhado as reportagens que denunciam essa prática bárbara. Isso precisa ser proibido”, diz Lourie. “A Carolina do Sul não pode continuar com a marca de ser o único estado a torturar ursos com cães por esporte”.

Agora cabe às pessoas da Carolina do Sul decidir se querem finalmente caminhar para frente, em direção ao século 21, e banir definitivamente uma prática tão primitiva e cruel.

Assine aqui a petição pelo fim da tortura de ursos na Carolina do Sul.

Nota da Redação (por Lilian Garrafa): Atos de crueldade e brutalidade em cadeia colocam o ser humano no ápice de sua covardia e incapacidade de compaixão. Enquanto lutamos pela proibição de uma atividade que já é suficientemente cruel por caçar animais e explorar cães violentamente, os covardes caçadores superam os limites do que se imaginaria desumano e submetem os animais a uma sádica tortura sem lhes proporcionar qualquer chance de defesa ou fuga. As provas da estupidez estão registradas, o que mais é preciso para que a punição a estes criminosos seja dada?
Fonte: http://www.anda.jor.br/

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Arriando a bandeira do século americano - por Chalmers Johnson

Arriando a bandeira do século americano - por Chalmers Johnson

Em 1962, a historiadora Barbara Tuchman publicou um livro acerca do início da Primeira Guerra Mundial e o intitulou As armas de agosto ( The Guns of August ) . Chegou a ganhar um Pulitzer. Ela estava, é claro, recordando eventos que haviam ocorrido quase 50 anos antes e tinha à sua disposição documentos e informação não disponíveis aos que participaram da guerra. Eles atuaram, como disse o secretário de Defesa da era vietnamita Robert McNamara, no calor da guerra.

Então, como estamos nós neste agosto de 2010, com as armas pipocando numa guerra no Afeganistão enquanto tentamos nos safar de outra no Iraque? Onde estamos, enquanto impomos sanções sobre o Irã e a Coréia do Norte (e ameaçamos pior do que isso), enquanto mandamos nossas mais recentes maravilhas em armamentos, mecanismos automáticos equipados com bombas e mísseis, sobre as fronteiras tribais do Paquistão, Iêmen e quem sabe onde mais, encarregados de infindáveis "matanças dirigidas" que, em épocas mais duras, chamávamos de assassinatos? Onde exatamente estamos, enquanto continuamos a fortificar a maior parte do globo mesmo quando nosso país está incapacitado de pagar por serviços básicos?

Gostaria de ter uma bola de cristal em que pudesse espreitar para ver o que os historiadores dirão de nossas próprias armas em agosto de 2060. O calor da guerra, afinal de contas, é apenas uma metáfora para o que poderia ser chamado de "as brumas do futuro", a inabilidade dos humanos para descortinar o que o mundo virá a ser. Permitam-me não obstante tentar oferecer alguns vislumbres do que essa paisagem enevoada alguns anos no futuro poderá revelar, e mesmo arriscar algumas predições sobre as possibilidades que aguardam a América ainda imperial.

Começarei perguntando: Que danos sucederão aos Estados Unidos se realmente decidirmos, contra todas as probabilidades, fechar os milhares e milhares de bases, grandes e pequenas, que guarnecemos ao longo do mundo? O que ocorreria se realmente desmantelássemos nosso império e voltássemos para casa? Hordas como as de Genghis Khan desceriam sobre nós? Pouco provável. Não é nem mesmo concebível uma invasão por terra ou por mar aos EUA.

Ataques como o do 11 de setembro iriam se acelerar? Parece-me muito mais provável que, à medida em que nossa presença no estrangeiro encolhesse, a possibilidade de ataques assim encolheriam também.

Os vários países que invadimos, algumas vezes ocupamos, e tentamos colocar no caminho da justiça e da democracia degenerariam em "estados falidos"? Possivelmente alguns, e evitar ou controlar isso deveria ser a função das Nações Unidas ou dos estados vizinhos. (É bom lembrar que o regime cambojano assassino de Pol Pot acabou chegando ao fim não por nossa causa, mas por causa do vizinho Vietnam.)

Império cambaleante
Em outras palavras, os piores medos que se poderia ouvir em Washington – se alguém se preocupasse minimamente em imaginar o que aconteceria se começássemos a desmontar nosso império – se mostrariam apenas quimeras. Seriam, na verdade, notavelmente parecidas com as funestas previsões nos anos 70 sobre os estados em toda a Ásia, então na África, e assim por diante caindo, como dominós, sob a dominação comunista se não ganhássemos a guerra no Vietnam.

Como seria o mundo então se os EUA perdessem globalmente o controle – os maiores medos e as mais profundas reflexões de Washington acerca de nossa pretensiosa auto-apreciação – como está efetivamente acontecendo agora apesar de nossos melhores esforços? Como seria o mundo se os EUA apenas desistissem? O que nos aconteceria se não fôssemos mais a "única superpotência" ou a autonomeada polícia do mundo?

Na verdade, ainda seríamos um grande e poderoso estado-nação com uma miríade de problemas internos e externos. Uma crise de drogas e imigração em nossa fronteira sul, custos de saúde subindo, um sistema de educação se enfraquecendo, uma população envelhecendo, uma infraestrutura envelhecendo, uma recessão sem fim – nenhum dos quais terá solução no futuro próximo, e nenhum dos quais tem possibilidade de ser atacado de modo sério e bem sucedido enquanto continuarmos a gastar nossa riqueza em exércitos, armamentos, guerras, ocupação global e subornos a ditadores insignificantes.

Mesmo sem nossa interferência, o Oriente Médio continuaria a exportar petróleo, e se a China estivesse comprando uma parcela cada vez maior do que permanece inexplorado naqueles países, talvez isso nos estimulasse a uma conservação maior e nos levasse mais rapidamente à era das energias alternativas.

Potência emergente
Enquanto isso, se desmantelarmos ou não nosso império, a China se tornará (se já não é) a próxima superpotência mundial. Ela, também, enfrenta uma série de problemas internos, incluindo muitos dos mesmos que temos. Entretanto, tem uma economia em crescimento, uma balança de pagamentos favorável frente ao resto do mundo (particularmente os EUA, que está atualmente enfrentando um déficit comercial anual com a China de US$ 227 mil milhões) e um governo e uma população determinados a transformar o país num estado poderoso e economicamente dominante.

Cinqüenta anos atrás, quando comecei minha carreira acadêmica como especialista em China e Japão, fiquei fascinado pela história moderna desses países. Meu primeiro livro tratou do modo como a invasão japonesa da China nos anos 30 impulsionou Mao Tse Tung e o Partido Comunista Chinês rumo ao poder, graças à resistência nacionalista aos invasores estrangeiros. Incidentalmente, não é difícil encontrar exemplos deste processo, no qual um grupo político local chega ao poder porque lidera a resistência a tropas estrangeiras. No período imediato à Segunda Guerra Mundial, isso ocorreu no Vietnam, na Indonésia e na Malásia; com o colapso da União Soviética em 1991, ao longo de toda a Europa Oriental; e hoje certamente esta acontecendo no Afeganistão e provavelmente no Iraque também.

Quando começou a Revolução Cultural na China em 1966, perdi temporariamente o interesse no estudo do país. Eu pensava que sabia para onde a desastrosa reviravolta interna estava levando a China, e assim me voltei para o Japão, que estava então sendo bem conduzido em sua surpreendente recuperação da Segunda Guerra Mundial, graças ao crescimento econômico dirigido pelo estado, mas não de sua propriedade.

Esse padrão de desenvolvimento econômico, algumas vezes chamado de "estado desenvolvimentista", difere fundamentalmente tanto do controle da economia nos moldes soviéticos quanto da abordagem laissez-faire dos EUA. A despeito do sucesso do Japão, lá pelos anos 90 sua burocracia crescentemente esclerosada havia levado o país a um prolongado período de deflação e estagnação. Ao mesmo tempo, a Rússia pós-soviética, por um curto período atrelada ao aconselhamento econômico norte-americano, viu-se cativa dos rapaces oligarcas que desmantelaram o comando da economia somente para enriquecerem a si próprios.

Na China, o líder do Partido Comunista Deng Xiaoping e seus sucessores puderam observar os acontecimentos no Japão e na Rússia, aprendendo com ambos. Eles claramente adotaram os aspectos efetivos dos dois sistemas para sua economia e sua sociedade.Com um pouco de sorte, na economia e em outros setores, e como continuação de sua atual liderança bem informada e racional, a China continuou a prosperar sem ameaçar nem seus vizinhos nem os EUA.

Imaginar que a China quereria iniciar uma guerra com os EUA – ainda que sobre uma questão tão profundamente emocional quanto o status político de Taiwan – seria projetar para o país uma direção muito diferente daquela na qual está rumando atualmente.

Arriando a bandeira no século americano
Daqui a 35 anos, terá terminado oficialmente o século em que a América terá sido o chefão (1945-2045); sua época pode, de fato, estar acabando neste momento. Estamos começando a parecer cada vez mais uma versão gigante da Inglaterra no final de seu período imperial, na medida em que começamos a enfrentar, ainda que necessariamente não os resolvendo, o envelhecimento de nossa infraestrutura, nossa influência internacional declinante e nossa economia decadente. Poderia, até onde sabemos, ser ainda o século de Hollywood daqui a décadas, de modo que ainda pudéssemos agitar a superfície da cena cultural, do mesmo modo que a Inglaterra fez nos anos 60 com os Beatles e Twiggy. Turistas iriam sem dúvida visitar algumas de nossas maravilhas naturais e talvez algumas de nossas cidades menos imundas, em parte porque as taxas de câmbio do dólar possivelmente estariam favoráveis a eles.

Se, todavia, decidíssemos desmantelar nosso império de bases militares e redirecionar nossa economia para indústrias produtivas, e não mais destrutivas; se mantivéssemos nossas forças armadas voluntárias principalmente para defender nossas próprias costas (e talvez para serem usadas sob o comando das Nações Unidas); se começássemos a investir em nossa infraestrutura, educação, saúde pública e poupança, então poderíamos ter a possibilidade de nos reinventar como uma nação normal e produtiva. Infelizmente, não vejo isso acontecendo. Escrutinando este nebuloso futuro, simplesmente não consigo imaginar os EUA desmantelando voluntariamente seu império, o que não significa que, como todas as fortificações imperiais, nossas bases não acabem algum dia.

Ao invés disso, prevejo os EUA à deriva, da mesma forma que a administração Obama parece estar à deriva na guerra do Afeganistão. A opinião corrente entre os economistas hoje é que o alto desemprego deve permanecer por mais uma década. Acrescente-se a isso o baixo investimento e a contenção de gastos (exceto talvez os gastos do governo) e eu temo que T.S. Elliot tivesse razão quando escreveu: "É assim que o mundo termina, não com um estrondo, mas com um gemido".

Tenho sido sempre um analista político e não um ativista. Esta é uma das razões porque por um breve tempo tornei-me consultor do principal ramo analítico da CIA, e porque eu agora prefiro sair da Agência. Não somente a CIA perdeu sua razão de ser ao permitir que sua coleta de inteligência se contaminasse politicamente, mas suas operações clandestinas criaram um clima de impunidade no qual os EUA podem assassinar, torturar e aprisionar pessoas à vontade em todo o mundo.

Da mesma forma que perdi o interesse na China quando a liderança daquela país se dirigiu de maneira tão cega para o caminho errado durante a Revolução Cultural, temo estar perdendo o interesse em continuar a analisar e dissecar as perspectivas para os EUA nos próximos anos. Aplaudo os esforços de jovens jornalistas de dizerem as coisas como elas são, e os dos acadêmicos em juntarem informações que um dia capacitarão historiadores a descrever onde e quando nos perdemos. Admiro especialmente as percepções do lado de dentro, como aquelas dos ex-militares como Andrew Bacevich e Chuck Spinney. E reverencio os homens e mulheres dispostos a arriscar suas carreiras, salários, liberdade e mesmo vida para protestar – como os padres e freiras do SOA Watch, que fazem piquetes regulares na School of the Americas e chamam atenção para a presença de bases militares e o mau comportamento americano na América do Sul.

Estou também impressionado com Pfc. Bradley Manning, se ele é na realidade a pessoa responsável pela potencial liberação ao público de 92 mil documentos secretos sobre a guerra no Afeganistão. Daniel Ellsberg estava há tempo esperando que alguém fizesse o que ele próprio fez quando liberou os Documentos do Pentágono durante a guerra do Vietnam. Ele deve ter se surpreendido com a resposta a este chamado – e de maneira tão improvável.

Meu próprio papel nesses últimos 20 anos foi o de Cassandra, a quem os deuses concederam a dádiva de prever o futuro, mas também amaldiçoaram com o fato de que ninguém acreditaria nela. Eu gostaria de ser mais otimista sobre o que está reservado para os EUA. Mas não há um só dia em que nossas próprias armas de agosto não continuem a me assombrar.

[*] Autor de Blowback (2000), The Sorrows of Empire (2004), Nemesis: The Last Days of the American Republic (2006), Dismantling the Empire: America's Last Best Hope (2010) e outros livros .
O original encontra-se em www.tomdispatch.com/... . Tradução de RMP.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

Uma reflexão do nosso imortal Steve Biko!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O magnífico Metrô de São Paulo só a dinastia do PSDB acredita nisso!

O magnífico Metrô de São Paulo só a dinastia do PSDB acredita nisso!



Foto: algum lugar na rede!

PM Press: editora independente e anarquista - por ANA

PM Press: editora independente e anarquista

[Ramsey Kanaan é co-fundador da PM Press, uma das mais interessantes editoras do mundo libertário hoje em dia. Powell's Chris Faatz encontrou com ele no mês passado e o entrevistou. Reproduzimos a seguir esta conversa.]

Chris Faatz > Ramsey, quais são as origens da PM Press? Pelo que sei você foi um dos fundadores da AK Press. Você pode falar um pouco sobre esta experiência? Como a AK Press influenciou a fundação da PM?

Ramsey Kanaan < Pelos meus pecados, eu sou/fui, de fato, o fundador da AK. Na verdade a AK foi nomeada dessa forma por causa da minha mãe – Ann Kanaan – embora freqüentemente eu tivesse o hábito de falar para os companheiros que minha mãe se chamava Kalashnikov. Passei grande parte das três décadas (comecei jovem, aos 13 anos) com a AK, e quando ela ficou maior do que eu, nós a estruturamos como uma cooperativa de trabalhadores no Reino Unido. Então quase tudo que aprendi sobre publicação, distribuição, propaganda, escrever, editar, trabalho cooperativo, administrar um negócio, etc., etc., foi feito através da rubrica da AK.

A maioria das coisas foi inventada na medida em que íamos desenvolvendo o trabalho. Estou muito orgulhoso das coisas que fizemos com/na AK – e a PM foi iniciada por mim e outro membro da AK, Craig O'Hara. Somos agora muito sortudos por podermos fazer ainda mais com a PM. Mesmos fins, meios similares, somente tomando um alcance mais amplo de formatos, gêneros e plataformas, para levar as idéias lá fora, e esperançosamente, para que os companheiros possam interagir com elas.

Faatz > Olhando atentamente o teu catálogo e os livros que você já publicou, fica bem aparente que a PM opera desde uma perspectiva radical, libertária, até mesmo anarquista. Que tipo de mercado você encontra para este tipo de material?

Kanaan < Bem, há o mercado que já existe – basicamente o que restou do “movimento” dos anos 60, somado às ultimas gerações de jovens ativistas, que vieram através do punk, do movimento por outra globalização, e por aí vai. O desafio, penso eu, sempre foi apreender não somente a melhor maneira de informar “o movimento”, mas apreender a melhor forma de levar as idéias para todas as pessoas. Realmente, como ativamente contribuir para construir um “movimento” que esteja genuinamente disposto a desmontar o Capital e o Estado.

Não há um caminho “correto”. Em termos de idéias, estamos explorando todos os aspectos da arte, da cultura, da ficção, da música, do vídeo, dos textos acadêmicos e dos manifestos inspiradores, para que as palavras, os sons, e as imagens possam ser levadas além... e esperançosamente, construir uma audiência.

Faatz > Resumidamente, como você definiria o anarquismo para aqueles que estão curiosos?

Kanaan < Isto dependeria do público é claro. Para aqueles que não são muito bem versados em teoria política (ou prática), eu definiria o anarquismo pela noção senso comum de que as pessoas são mais capazes de organizar suas próprias vidas sem o estorvo da hierarquia, da autoridade, estado, capitalismo, etc. É uma forma particular de organização horizontal, oposta às organizações verticais, social e economicamente. Para os mais sofisticados, a resposta rápida seria de que o anarquismo é a auto-emancipação da classe trabalhadora.

Faatz > Dito isto, todo mundo que sabe alguma coisa sobre anarquismo tem um livro ou texto introdutório para recomendar a amigos e colegas de trabalho que pensam que anarquia é desordem, caos, e um mundo sem escrúpulos. Um dos meus favoritos é o “Anarquismo” do Daniel Guerin. Qual que você recomendaria? Da lista da PM, qual seria o mais indicado para as pessoas que querem conhecer mais sobre a forma de política libertária?

Kanaan < Guerin é certamente um dos meus favoritos. Assim como o Mulher à Beira do Tempo de Marge Piercy. E Anarquia em Ação do Colin Ward. Com relação ao que a PM publicou, o monumental Exigindo o Impossível de Peter Marshall é uma introdução de 1000 páginas ao largo rio da anarquia. O livro de Stuart Christie e Albert Meltzer, As Comportas da Anarquia, é uma fantástica introdução ao bom e velho anarquismo classista. E o Por Todas as Pessoas de John Curl é uma maravilhosa escavação da ocultada história dos movimentos e trabalhos cooperativos na América do Norte.

Faatz > É engraçado você ter mencionado a novela Mulher à Beira do Tempo. Em se tratando de ficção, eu amo o “Os Despossuídos” da Ursula Leguin. Quais outras incursões literárias às idéias libertárias que você pode recomendar?

Kanaan < A trilogia Marte, e o “Os Anos do Arroz e do Sal” de Kim Stanley Robinson deveriam ser lidos. Stanley Robson é um socialista utópico, o que é absolutamente perfeito para mim. Notícias de Lugar Nenhum de William Morris não somente representa uma sociedade socialista, mas os processos e armadilhas para se chegar lá.

Faatz > Você não publica somente livros. Quais outros materiais que você também disponibiliza?

Kanaan < A nossa intenção é levar as idéias lá fora. Fazemos isso através de vários gêneros de livros (arte gráfica, quadrinhos, ficção, não-ficção, etc.), formatos de livros (nossos títulos estão todos disponíveis em cópia impressa e em todos os diversos formatos eletrônicos) e lançando DVDs e CDs (novamente, ambos em cópia impressa e eletronicamente) – documentários, música, narrações. Tudo que os companheiros estiverem envolvidos.

Faatz > Falando de música, você publicou alguns livros substanciais sobre as políticas da música. Você poderia dizer alguma coisa sobre eles?

Kanaan < Tenho interesse em trazer ao público os potenciais emancipatórios, ou elementos, em todas as formas de cultura. Como cresci escutando música punk (e também música folk) é de alguma forma mais fácil começar com o que você já conhece. Nós publicamos o “A História do Crass”, sem dúvida a biografia definitiva (baseada em entrevistas com todos os membros da banda) do grupo que não somente criou o gênero conhecido agora como anarco-punk, mas revolucionou uma geração – e continua a revolucionar quase trinta anos após a banda ter acabado. E com o “Vida Sóbria para a Revolução” nós estamos examinando o objetivo radical da cena “straight-edge” – uma subcultura musical que se abstém do uso de drogas, álcool e tabaco. Muitas vezes puritanamente conservador, é claro, mas novamente contendo todos os tipos de idéias, ações e aderências revolucionárias.

Faatz > Quais são as diretrizes para escolher os materiais que você publica? Qual é, brevemente, o objetivo?

Kanaan < Temos dois critérios. Primeiro e antes de tudo, tudo o que publicamos tem que ser bom! Partimos do princípio de que o material esteja, amplamente falando, deixando/adicionando alguma coisa para o mundo. Mas tem que ter qualidade, tanto o material como o visual. O segundo critério no qual temos que pensar é se temos a capacidade de vendê-lo. O que, infelizmente, não é o caso para tudo que queremos fazer.

Faatz > Vi o lançamento de três livros do Paul Goodman. O que provocou o interesse sobre ele, e porque você escolheu publicá-lo nestes tempos?

Kanaan < Goodman é uma das muitas grandes figuras (escritores/autores/palestrantes/ativistas) que não somente tiveram um grande impacto em seu tempo (no caso de Goodman, seu Absurdo Crescente vendeu um milhão de cópias no começo dos anos 60), mas cujas vozes/idéias são tão relevantes hoje como foram ontem. Traçando a Fronteira Mais uma Vez (uma coleção de seus escritos anarquistas) e o Nova Reformação (seu último livro de crítica social, publicado em 1970, na altura de sua desilusão com o movimento da década de 60 que ele mesmo ajudou a parir) estão publicados agora. O Paul Goodman Reader sairá em poucos meses – a coleção definitiva, reunindo a vasta extensão de seus escritos (e ficções e poesias), seguida de uma coleção de palestras e conferências que nunca foram publicadas antes.

Faatz > Você também está publicando um livro do Gustav Landauer. Quem foi Landauer, e porque você acha que ele é importante nos tempos de hoje?

Kanaan < Landauer foi o anarquista alemão mais conhecido, e foi criminalmente negligenciado fora do universo germanófano. Como Goodman, eles escreveu bastante sobre política, atualidades, arte, literatura, e – juntamente com seu amigo bom amigo Martin Buber – propagou um espiritualismo judaico secular. Ele esteve ativo no levante/comuna bávara de 1920, foi capturado e assassinado. Esta é a maior coleção de seus escritos políticos que foi traduzido e publicado em inglês. Estamos bastante entusiasmados! E como os companheiros irão descobrir, seus escritos oferecem muito mais do que somente uma curiosidade histórica.

Faatz > Por fim, um dos livros mais animadores e impressionantes que eu já vi é o Exigindo o Impossível: Uma História do Anarquismo do Peter Marshall. Como é que foi a resposta gerada por este monumental livro de 840 páginas?

Kanaan > Por enquanto ele está vendendo bem, e começou a ganhar uma maior atenção nas resenhas – também deveria, naturalmente. Vendeu 1000 cópias nos primeiros meses de publicação, e as vendas parecem estar melhorando, portanto estamos muito contentes.

Faatz < Muito obrigado, Ramsey, pela disposição.

PM Press: http://www.pmpress.org/

Tradução > Marcelo Yokoi

agência de notícias anarquistas-ana
Árvore amiga
enfeita meus cabelos
com flores amarelas

Rosalva

Entenda a decadência do PIG - Por Eduardo Guimarães

Entenda a decadência do PIG

Nos mais de 1300 dias decorridos desde a segunda posse de Lula na Presidência, cada um deles foi dedicado pela mídia (Globo, Folha, Veja, Estadão e ramificações) à destruição da imagem de seu governo, com uma sucessão de campanhas acusatórias nos veículos de comunicação supra mencionados, compreendidos por televisões, rádios, jornais, revistas e portais de internet.

Uma busca no Google das palavras “Dilma, governo Lula, dossiê, FHC”, por exemplo, redunda em 603 mil resultados. Essas palavras remetem ao pseudo dossiê que o PT teria feito sobre os gastos de FHC com despesas da família presidencial durante o governo tucano.

O leitor pode escolher qualquer um dos muitos escândalos forjados e alardeados pela mídia desde que Lula chegou à Presidência e usar palavras-chaves do assunto para buscar no Google que encontrará centenas de milhares de matérias da grande mídia, todas elas dando de barato que Lula, Dilma ou o PT eram realmente culpados.

Como se não fosse suficiente, neste ano passaram até a falsificar pesquisas eleitorais para tentar eleger José Serra, que, desde que disputou a eleição presidencial de 2002 com Lula, converteu-se em um novo Fernando Henrique Cardoso, o político que, antes de Serra, foi o que teve mais meios de comunicação a seu serviço desde que decidiu disputar a Presidência da República em 1994.

O governo FHC foi uma época de escuridão da democracia brasileira. Ao poder do Estado, somou-se o Quarto Poder, o poder discricionário de uma imprensa que criava crises ininterruptas para os adversários do PSDB, estivesse o partido no governo ou na oposição.

Esse fenômeno foi desencadeado pela anomalia que, em pleno século XXI, mantém o Brasil como o sétimo país mais desigual em um mundo com cerca de duas centenas de Estados soberanos. É o fenômeno pelo qual uma elite de ascendência indo-européia se tornou dona de pelo menos 30% do PIB. Uma elite que não congrega mais do que cinco mil famílias, conforme detectou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea.

Esse poder de uma elite étnica e geográfica ganhou nova roupagem a partir de meados do século XX graças ao fenômeno da comunicação de massas, que, diante da inevitabilidade da democracia, permitiu àquelas elites direcionarem o voto popular.

Esse processo de utilização da imprensa como arma da aristocracia dominante para eleger governos submissos chegou ao ápice em 1964, com um golpe militar forjado nas páginas dos mesmos Globos, Folhas, Vejas e Estadões já mencionados. Golpistas e imprensa atuaram em absoluta consonância para destituir um governo legitimamente eleito e implantarem uma ditadura de vinte anos no Brasil.

No pós-redemocratização, a partir de 1989, com a primeira eleição legítima para presidente da República em mais de duas décadas, o poder midiático novamente continuou elegendo seus candidatos até 1998, quando o candidato de plantão da elite indo-européia, Fernando Henrique Cardoso, praticou um dos maiores estelionatos eleitorais da história, que, inclusive, quatro anos depois sepultou o poder daquela elite de eleger governos nacionais.

FHC elegeu-se em 1998 prometendo manter o dólar valendo cerca de R$ 1,20 e pregando que, se Lula vencesse, desvalorizaria uma moeda que já não valia mais nada em meio a um processo de destruição econômica do país, o qual o mesmo FHC endividaria até o pescoço com o FMI, o Clube de Paris e o governo americano no ano seguinte.

A mídia supra descrita passou 1998 inteiro referendando o discurso tucano e fustigando a oposição petista. Inventaram mais um escândalo para Lula, referente a propina que teria recebido na forma de um automóvel Ômega, e pregando que sua eleição traria de volta uma inflação que já voltava sozinha por conta da débâcle econômica do país.

Ao fim do segundo governo tucano, a população assistiu, bestificada, a uma mídia que se calava enquanto o país, além da crise econômica, mergulhava em um racionamento de energia draconiano que multiplicou várias vezes as contas de luz e fez indústrias irem à beira da falência por falta de energia para produzir.

A partir dali, a mídia perdeu o poder de conduzir o eleitorado como gado. Passou 2002 inteiro repercutindo o discurso do medo de José Serra, com George Soros dizendo que era “Serra ou o caos” e tudo mais, mas o povo deu uma descomunal banana para Globos, Folhas, Vejas, Estadões e penduricalhos e elegeu o primeiro presidente oriundo do operariado.

Ocorre que esse poder aristocrático formado pela promiscuidade entre a elite indo-européia, a imprensa e o Estado acabou sofrendo uma sangria de recursos muito grande a partir da eleição de Lula. FHC doou aos grupos de comunicação já mencionados parte da roubalheira da privataria tucana nas comunicações e lhes entregava verbas públicas à farta. Lula pôs um freio no escândalo.

De 500 veículos de comunicação que dividiam toda a descomunal verba de publicidade oficial até 2002, hoje essas verbas são distribuídas a mais de cinco mil veículos – e acho que esse número pode estar defasado. Diante disso, a mídia que descrevi desencadeou uma guerra contra o governo Lula e, depois, contra a sua candidata a sucedê-lo.

Também porque a mídia precisa ter o que vender aos políticos de direita – se não tiver poder para influir nos processos eleitorais, não terá como barganhar para que o governo de São Paulo, por exemplo, compre milhares de assinaturas de uma Folha ou de um Estadão ou os livros escolares de geografia com mapas contendo dois Paraguais como os que a Veja editou e vendeu a Serra nos últimos anos, durante o seu mandato de governador.

Pela terceira vez no século XXI, Globos, Folhas, Vejas e Estadões vão perdendo uma eleição presidencial junto com um seu candidato tucano. Aliás, a preocupação com essa enorme derrota já está produzindo efeito. Com exceção da Globo, que continua tentando eleger Serra, os outros parecem estar desembarcando de sua candidatura como se nunca a tivessem integrado.

Fonte: http://www.blogcidadania.com.br