segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

SOS BRASIL: Brasil divulga fotos inéditas de tribo ameaçada por madeireiros do Peru - por EFE

SOS BRASIL: Brasil divulga fotos inéditas de tribo ameaçada por madeireiros do Peru - por EFELondres, 31 jan (EFE).- O Governo brasileiro divulgou nesta segunda-feira, por meio da ONG britânica Survival, fotografias inéditas de uma tribo indígena amazônica isolada do mundo externo, cujo habitat está ameaçado pela atividade de madeireiros que invadem a partir do Peru.

Trata-se de uma tribo estabelecida perto da fronteira com o Peru. As autoridades temem conflito com brasileiros pelo território.

Em imagens feitas pelo ar, é possível ver cinco membros da tribo de diferentes idades e em aparente bom estado físico, com cestos cheios de mamão, mandioca e outras frutas.
Como indica a Survival, as imagens foram captadas por uma organização de proteção aos índios brasileira, que autorizou à organização de defesa dos indígenas utilizá-las para promover uma campanha de conscientização.

A ONG explica que a tribo que aparece nas fotos, e que também figurou no programa "Jungles" da "BBC" britânica, está seriamente ameaçada pela ação dos madeireiros ilegais que entram no Brasil pela fronteira peruana.

"Os madeireiros ilegais destruirão esta tribo. É vital que o Governo peruano os detenha antes que seja tarde demais", diz em comunicado o diretor de Survival, Stephen Corry.

"As pessoas nas fotos estão evidentemente bem, e o que precisam de nós é que ajudemos a proteger seu território, para que possam tomar suas próprias decisões sobre o futuro", acrescentou.
Para o responsável pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Marcos Apuriña, ressaltou que "é necessário reafirmar que essas pessoas existem, por isso autorizamos o uso das imagens com esse objetivo".

"Estas pessoas estão tendo negados seus direitos fundamentais mais básicos, inclusive o da vida... Por isso é crucial que os protejamos", acrescentou.

A associação interétnica para o desenvolvimento da selva peruana (Aidesep) condenou a falta de ação das autoridades de seu país.

"Apesar das queixas a partir do Peru e do estrangeiro contra a poda ilegal, nada foi feito a respeito", disse um porta-voz em declarações obtidas pela Survival.
Fonte: http://www.uncontactedtribes.org/

Protestos no Egito e Mobilização Popular: Superação do medo e a luta contra ditaduras - por Raphael Tsavkko Garcia

Protestos no Egito e Mobilização Popular: Superação do medo e a luta contra ditaduras - por Raphael Tsavkko GarciaO Egito chega ao quarto dia ininterrupto de protestos, apelidado de Dia da Ira, em que milhares de manifestantes tomaram as principais ruas do país (como o Cairo, Alexandria e Suez) sem dar sinais de que irão recuar frente à polícia até que caia o regime de Hosni Mubarak, no poder há 30 anos.

Desde ontem a internet no Egito está praticamente inacessível e a população acusa o governo de - ilegalmente - ter "desligado" a internet. O Twitter e o Facebook já estavam inacessíveis e em alguns lugares as linhas de telefonia celular foram cortadas e mesmo a telefonia fixa passa por problemas. A transmissão via satélite do canal Al Jazeera foi cortado no Egito que pode se tornar um verdadeiro buraco negro informacional.

A repressão policial no Egito vem sendo brutal, os mortos são pelo menos oito, centenas de pessoas estão feridas ou foram presas pela polícia e encontram-se em paradeiros desconhecidos. O líder da oposição democrática, o ex-chefe da Agência Nuclear da ONU, Mohamed El Baradei encontra-se preso assim como diversos líderes da Irmandade Muçulmana e de outros partidos de oposição.

Jornalistas, em especial câmeras, são alvos preferenciais da polícia egípcia que tenta somar ampliar o blecaute informacional e proibir que imagens saiam do país.

Os protestos no Egito começaram depois que o líder da Tunísia, Zine el Abdine Ben Ali foi deposto depois de 29 dias de protestos contínuos no país. A queda de um antigo fitador Árabe - forte aliado dos EUA na região - serviu de gatilho para que a revolta se espalhasse para o Egito e mesmo para o Iêmen, onde milhares de manifestantes também exigem a saída de Saleh, no poder há 32 anos.

As imagens reproduzidas pela Al Jazeera e também pela BBC e por outras redes presentes no Egito são estarrecedoras. Frente à extrema violência policial a reação apaixonada e inebriada de milhares - talvez milhões - de egípcios que apenas pelo seu número conseguem forçar as forças de segurança a recuar.

O povo egípcio luta pela queda de Hosni Mubarak e de seu regime e não parecem estar dispostos a aceitar nada além. A mobilização na Tunísia, durante 29 dias, mostrou que o povo pode ter o poder nas mãos. Ou melhor, que o povo pode retomar o poder que ditadores usurparam.

O exército que foi mobilizado nas ruas, até agora, não deu mostras de conseguir conter os protestos e, felizmente, não usaram força total contra a população.

É difícil prever o resultado - em termos de perdas humanas - de um envio de tropas do exército para conter as manifestações: Exércitos são treinados não para meramente conter, mas para destruir um inimigo.

Desdobramentos
Qual será a reação mundial - mesmo entre aliados próximos - se Mubarak decidisse matar a população para se manter no poder? Se isto não acontecer, é difícil que o regime se sustente apenas frente ao número avassalador de manifestantes e frente à crescente insatisfação popular que, finalmente, explodiu.

O grito de guerra dos manifestantes em Alexandria, no Egito, era "Ilegítimo", o que apenas demonstra que um governo - ou mesmo uma ditadura - só se sustentam enquanto povo considerá-lo(a) legítimo(a). Somente a legitimidade popular, ou frente ao povo, garantem a sobrevivência de um regime.

Ao invés de legitimidade, porém, muitos governos escolhem o medo, a violência pura, a intimidação. Ou a aliança com Estados poderosos que o legitimem aos olhos da comunidade internacional.

Lembremo-nos da Revolução Islâmica no Irã. Apenas a pressão popular derrubou o Xá. Chega um momento em que a mera pressão da população, a desobediência civil e o descontrole causado pelo não funcionamento das estruturas mais básicas do Estado acabam por destruir as bases deste mesmo Estado.

Infelizmente em muitos casos a vontade da população não é tão forte, a mobilização não se sustenta e o medo toma conta.

O mais difícil de prever na atual situação é a posição não só do próprio governo egípcio - se reagirá com mais força -, mas dos aliados europeus. Grande aliado da Tunísia, a França logo fez-se de desentendida sobre seu longo apoio ao regime ditatorial de Ben Ali, assim como os EUA se manifestaram frouxamente sobre a Revolução.

No caso egípcio, as "potências amigas" já pediram calma e para que Mubarak aceite fazer algumas concessões à população (ainda que estes dêem mostra de que não aceitarão nada além da deposição do ditador) sem, porém, retirarem seu apoio ao regime. A defesa da "democracia" mostra-se, como de costume, apenas uma fachada para que as potências mantenham sua influência em diversas partes do mundo.

O passo mais difícil na luta contra qualquer ditadura é superar o medo. É mobilizar o povo e, depois, manter a mobilização frente ao aumento da repressão. Esta barreira foi superada no Egito.

Mas uma vez mobilizado, é difícil parar o povo. Ou o governo cai ou se mantém derramando muito sangue. E assume as consequências políticas e sociais.

*Raphael Tsavkko Garcia é jornalista e blogueiro. Formado em Relações Internacionais (PUCSP) e Mestrando em Comunicação (Cásper Líbero), escreve o Blog do Tsavkko e é autor e tradutor do Global Voices Online
Fonte: Opera Mundi

O Egito a caminho da revolução. O que fazer? - por Reginaldo Nasser

O Egito a caminho da revolução. O que fazer?
Aqueles que temem o crescimento do “islamismo radical” como fator de instabilidade nessa região, deveriam estar mais atentos em relação às “ditaduras amistosas” que, na verdade, são as principais responsáveis pela insegurança no mundo. Desemprego em massa, preços dos alimentos e repressão política é uma combinação explosiva mais perigosa do que os homens bomba. No caso do Egito dois terços da população são jovens abaixo de 30 anos, dos quais 90% estão desempregados.

As mobilizações populares na Tunísia, Egito, Iêmen e em outros lugares são um alerta para o chamado mundo desenvolvido e seria uma grande avanço para a democracia se esta região que permanece imersa na violência, em fraudes eleitorais e miséria crescente da população recebesse o devido apoio internacional nesse momento.

O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que os EUA poderão revisar a ajuda ao Egito. O presidente Obama solicitou às autoridades egípcias que evitem o uso de qualquer tipo de violência contra manifestantes pacíficos, alertando que " aqueles que protestam nas ruas têm uma responsabilidade de expressar-se pacificamente. Já a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que a “estabilidade do país é muito importante, mas não a qualquer preço”. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que "os líderes do Egito escutem as preocupações legítimas e os desejos de seus cidadãos”. O primeiro ministro britânico David Cameron declarou: “Eu acho que precisamos de reformas. Quero dizer que nós apoiamos o progresso e o reforço da democracia”.

Como avaliar a atitude desses líderes mundiais? Patética, cínica, hipócrita, irresponsável? Talvez devêssemos recorrer a um grande pensador liberal do século XIX, Aléxis de Tocqueville, e ouví-lo a respeito dos períodos revolucionários na França. Tocqueville alertava para o fato de líderes, que adquiriram experiência em lidar com a política em ambiente de ausência de liberdade, quando se encontraram diante de uma revolução que chegou “inesperadamente”, se assemelhavam aos remadores de rio que, de repente, se vêem instados a navegar no meio do oceano. Os conhecimentos adquiridos em suas viagens por águas calmas vão proporcionar mais problemas do que ajuda nessa aventura, e na maioria das vezes exibem mais confusão e incerteza do que os próprios passageiros que supostamente deveriam conduzir.

Já havia sinais reveladores dessas turbulências, mas o Ocidente preferia se preocupar com burcas, minaretes e terrorismo. Um relatório do Banco Mundial, publicado em 2009, informava que os países árabes importavam cerca de 60% dos alimentos que consomem e já são os maiores importadores de cereais no mundo, dependendo de outros países para a sua segurança alimentar. A elevação dos preços nos mercados mundiais, desde 2008, já causou ondas de protestos em dezenas de países e milhões de desempregados e pobres nos países árabes, como foram os casos da Argélia , em 1988, e da Jordânia em 1989. Um exemplo mais recente, além da região árabe, é o Quirguistão onde um aumento da eletricidade e tarifas de celulares causaram manifestações com dezenas de mortos e milhares de feridos.

Aqueles que temem o crescimento do “islamismo radical” como fator de instabilidade nessa região, deveriam estar mais atentos em relação às “ditaduras amistosas” que, na verdade, são as principais responsáveis pela insegurança no mundo. Desemprego em massa, preços dos alimentos e repressão política é uma combinação explosiva mais perigosa do que os homens bomba.

A demografia no mundo árabe é também um grande problema. A população cresceu cinco vezes durante o século XX, e o crescimento continua a uma média anual de 2,3%. A população do Egito está em torno de 80 milhões. Em 2050 (de acordo com projeções da ONU) deverá ter 121 milhões. A população da Argélia irá crescer de 33 milhões em 2007 para 49 milhões em 2050; a do Iêmen de 22 a 58 milhões. Isso significa que mais empregos precisam ser criados - e mais alimentos importados, ou aumentar a capacidade para produzir mais. No caso do Egito dois terços da população são jovens abaixo de 30 anos, dos quais 90% estão desempregados.

Baseada no turismo, na agricultura e na exportação de petróleo e algodão, a economia é incapaz de sustentar a taxa de crescimento demográfico. 40% da população vive com menos de US$ 2 (R$ 3,30) por dia, o país está na 101ª posição no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)

De certa forma a auto-imolação do jovem tunisiano, Mohamad Bouazizi, que deflagrou a onda de protestos na Tunisia revela, no nível individual, aquilo que está acontecendo nas sociedades daquela região como um todo. Ele não se rebelou, apenas porque não encontrou trabalho que refletisse suas ambições profissionais, mas sim quando um oficial da polícia confiscou as frutas e legumes que estava vendendo sem autorização. Quando foi fazer uma reclamação para buscar justiça, sua demanda foi rejeitada.

Provavelmente foi este sentimento de injustiça que levou Mohamed Bouazizi e milhares de pessoas às ruas, empenhados em quebrar o ciclo da miséria e opressão.

Talvez seja mais confortável para a chamada comunidade internacional lidar com um mundo árabe dividido entre nacionalistas, relativamente seculares, de um lado e islamismo radical, de outro, do que um mundo mais complexo, com problemas econômicos, sociais e políticos que conta com sua cumplicidade.
(*) Professor de Relações Internacionais da PUC-SP
Fonte: Carta Maior

Mubarak escondido atrás das tropas: último refúgio de um covarde - por Latuff


Fonte http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A cidade de São Paulo e suas intolerâncias raciais!

Supermercado é acusado de racismo contra criança
Após desconfiarem de furto, seguranças xingaram e obrigaram menino de 10 anos a tirar a roupa; empresa nega discriminação.
Vitor Hugo Brandalise - O Estado de S.Paulo

A Polícia Civil de São Paulo investiga caso de racismo contra uma criança negra de 10anos no Hipermercado Extra da Marginal do Tietê, na Penha, zona leste da capital. Acusado de furto na saída do supermercado, T. foi levado em 13 de janeiro por três seguranças a uma sala reservada, onde, segundo contou, foi chamado de "negrinho sujo e fedido" e obrigado a tirar a roupa. Ele não havia furtado nada.T. e o pai, Diógenes da Silva, levaram a nota fiscal à polícia e relataram abusos

Na segunda-feira, a defesa da família de T. vai entrar com ação civil por danos morais contra o Extra. Representantes do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) se reuniram ontem com o delegado responsável pelo caso, Marcos Aníbal Andrade, para exigir "investigação exemplar". A Comissão de Igualdade Racial da Seção Paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) também instaurou procedimento para acompanhar o caso. O Grupo Pão de Açúcar, proprietário da marca Extra, nega que tenha havido racismo.

Segundo boletim de ocorrência registrado no 10.º Distrito Policial, na Penha, só após revistarem e insultarem a criança, os seguranças verificaram a nota fiscal dos produtos que ele levava - dois pacotes de biscoitos, dois pacotes de salgadinhos e um refrigerante, todos pagos pelo garoto (R$ 14,65), conforme mostra cupom fiscal anexado ao inquérito, conferido a caneta pelos funcionários do Extra. "Eles pediram para eu abaixar a bermuda até os pés e me fizeram tirar a camiseta cinco vezes. Não acreditavam que eu não tinha roubado nada", contou T., na tarde de ontem.

O garoto também relatou ter sido ameaçado com canivete por um segurança que descreveu como "japonês" (de feições orientais). "Ele batia na mesa com um papelão enrolado e dizia: "Olha para cá, negrinho. Isso é bom para bater." Também passava o canivete perto da minha barriga e dizia que ia pegar o chicote."

Outros dois adolescentes, também negros, de 12 e 13 anos, que T. diz conhecer de vista e ter encontrado casualmente dentro do supermercado, também foram levados à sala pelos seguranças. E lá os dois teriam sido agredidos com "dois murros e dois tapas", conforme relatou T. Segundo o Extra, estes dois adolescentes haviam furtado itens do supermercado. A empresa admitiu porém, conforme relatou um funcionário à polícia em um primeiro depoimento, que T. não havia furtado nada. Mas o grupo nega tanto agressões físicas quanto discriminação racial.

"O garoto ficou traumatizado, não quer mais voltar lá. Esses funcionários feriram o Estatuto da Criança e do Adolescente em dois pontos e o Código Penal em outros dois, incluindo o artigo 140, que caracteriza a injúria racial", disse o advogado de defesa da família do garoto, Dojival Vieira. "Não podemos aceitar que casos como esse, de desrespeito às pessoas somente pela aparência, virem rotina."

Para o Condepe, "o desrespeito com o ser humano e a discriminação racial" ficaram patentes. "Uma criança de 10 anos ainda está formando a personalidade e uma experiência desse tipo pode criar barreiras graves no trato social. Essa agressão é inaceitável a qualquer um, mas a gravidade aumenta em 1.000% por se tratar de uma criança", disse o presidente do conselho, Ivan Seixas.

"Os instrumentos de punição têm de ser exemplares. E não só com cestas básicas e serviços sociais, que não são efetivos para evitar ocorrência desses casos", afirmou o presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP, Eduardo Pereira da Silva.

Em nota oficial, o Grupo Pão de Açúcar afirmou que colabora com a polícia e "aguarda a investigação dos órgãos competentes para esclarecimento do fato". Também afirmou que "pauta suas ações no respeito irrestrito à legislação e aos consumidores e promove contínuo treinamento dos seus colaboradores para o cumprimento das leis e do Código de Ética do Grupo".

Após ter iniciado a fase de depoimentos - até aqui, apenas um funcionário do Extra foi ouvido -, o delegado Marcos Aníbal Andrade, titular do 10.º DP, requereu as imagens do circuito interno do supermercado e a lista dos seguranças em serviço em 13 de janeiro. Nos próximos 30 dias, mais depoimentos serão tomados. A polícia deverá pedir ainda laudo para verificar se o garoto ficou traumatizado.

PARA LEMBRAR
Agressão virou exemplo de intolerância

Em agosto de 2009, a agressão ao vigilante negro Januário Alves de Santana, acusado de roubar o próprio carro no supermercado Carrefour de Osasco, virou caso de polícia e foi apontado por entidades de defesa dos direitos humanos como exemplo de intolerância contra negros no País.

O vigilante aguardava do lado de fora do carro quando foi abordado por seguranças, que o espancaram e disseram que "era impossível um neguinho ter um Ecosport". Ele fraturou a face e perdeu um dente. O inquérito instaurado no 6.º Distrito Policial de Osasco não foi concluído. Em março, o vigia foi indenizado pelo Carrefour, em acordo extrajudicial de valor não divulgado.

Em fevereiro de 2004, outro caso de racismo em São Paulo: confundido com um ladrão que roubara um comerciante, o dentista Flávio Ferreira Sant"Anna foi executado dentro do próprio carro. Julgados no ano seguinte, dois PMs foram condenados pelo assassinato.

3 reais é roubo! A luta continua em São Paulo!


Fonte: http://panoptico.wordpress.com

Liberdade total ao Egito - por Latuff



Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

PIG em declínio: Folha de São Paulo perde liderança em circulação - por Alexandre Zaghi Lemos

Folha de S. Paulo perde liderança em circulação
Liderança do jornal paulistano durou 24 anos. Maior periódico do País em 2010 foi o popular mineiro Super Notícia.

Ainda faltam alguns poucos dados relativos a dezembro para que o Instituto Verificador de Circulação (IVC) feche o seu balanço com o desempenho dos jornais brasileiros em 2010. Apesar disso, o resultado final deve ficar próximo de uma leve alta de 1,5% na circulação total, considerando os títulos auditados em 2010 e na maior parte de 2009.

Nos números já finalizados, a principal novidade é a perda de liderança da Folha de S. Paulo, que era o jornal de maior circulação no país desde 1986. Embora já tivesse perdido a liderança em alguns meses, em 2010 isto ocorreu pela primeira vez no consolidado de um ano. O topo do ranking do ano passado foi do Super Notícia, título popular de Belo Horizonte. Enquanto a Folha manteve estabilidade, na casa dos 294 mil exemplares por edição, o Super Notícia cresceu 2%, atingindo média de 295 mil.

Entre os dez títulos líderes, a maior alta foi de O Estado de S. Paulo, que avançou 11%, chegando a 236 mil exemplares por edição. As maiores quedas foram do Lance, que encolheu 24%, ficando próximo de 95 mil, e do carioca Meia Hora, que viu sua circulação diminuir 15%, atingindo 158 mil exemplares por edição.

Os 10 jornais de maior circulação no Brasil em 2010 e suas respectivas médias por edição foram:
1º Super Notícia: 295.701
2º Folha de S. Paulo: 294.498
3º O Globo: 262.435
4º Extra: 238.236
5º O Estado de S. Paulo: 236.369
6º Zero Hora: 184.663
7º Meia Hora: 157.654
8º Correio do Povo: 157.409
9º Diário Gaúcho: 150.744
10º Lance: 94.683

A informação é da coluna Em Pauta, publicada na edição 1443 de Meio & Mensagem, que circula com data de 24 de janeiro de 2011.
Fonte: http://www.mmonline.com.br/

Estado Invasor: Líbano denuncia Israel a Conselho de Segurança da ONU - EFE

Líbano denuncia Israel a Conselho de Segurança da ONU

Beirute, 27 jan (EFE).- O Líbano apresentou nesta quinta-feira uma denúncia contra Israel ao Conselho de Segurança da ONU por ter violado sua soberania e a resolução 1701 ao sequestrar um pastor em território libanês em 18 de janeiro.

Segundo a Agência Nacional de Notícias do Líbano, o Exército israelense irrompeu em solo libanês e preparou uma emboscada ao pastor, quem foi sequestrado e posto em liberdade um dia depois.

O incidente ocorreu a seis metros da Linha Azul, fixada pela ONU em 2000 para marcar a retirada das tropas israelenses após 22 anos de ocupação no sul do Líbano.

Na denúncia, apresentada através da missão permanente libanesa no organismo, o país pede ao Conselho de Segurança que assuma suas responsabilidades em relação às permanentes violações por parte dos israelenses.

Além disso, solicita que se tomem as medidas adequadas para pôr fim à transgressão da soberania libanesa.

Israel sequestra com certa frequência cidadãos libaneses para interrogá-los.

A resolução 1701 pôs fim à guerra de 2006 entre Israel e Líbano, que em 34 dias resultou na morte de mais de 1,2 mil libaneses - em sua maioria civis - e 164 israelenses.

Andy Warhol é pai eterno da pop arte - por Javier Gutierrez

Andy Warhol é pai eterno da pop arte - por Javier GutierrezAutorretrato revelado pela casa de leilão Christie's nesta terça-feira (11). A obra seré leiloada. (Foto: AP)
O museu online de Warhol é um bom exemplo de como pode-se expor arte na grande rede. Permite-nos revisar a figura deste polêmico artista cuja filosofia e visão do mundo está hoje mais vigente que nunca.

O pai da arte pop, inundou o mundo nos anos sessenta com suas imagens, alcançando grande celebridade ao transformar uma lata de sopa em obra de arte. Andy Warhol nasceu em Pittsburgh, Pensylvania, em 1929, sendo um dos três filhos de Ondrej e Julia, imigrandes tchecoslovacos.

Em 1945 ingressou no "Carnegie Institute of Technology", onde obteve o título de "Bachelor of Fine Arts", carta de apresentação que le valeu para ser empregado como desenhista publicitário nas revistas Vogue e Harper’s Bazaar, assim como decorador de vitrinas do conhecido armazém Bonwit Teller.

Desenho ornamental
Nessa época ainda conhecido como Andrew Warhol, em pouco tempo sobressaiu-se pelo seu peculiar estilo e conceito de arte gráfica. Foi quando decidiu reduzir seu nome a Andy. Suas curiosas criações transcenderam além do desenho e do projeto ornamental, e em 1952 a Hugo Gallery de Nova Iorque convidou-o a montar sua primeira exposição individual.

No ano seguinte começou a colaborar com um grupo teatral. Dessa época data-se seu conhecido look: cabelo tingido de loiro cor de palha que o acompanhou até o último dia de sua existência.

Nos nostálgicos anos setenta fez-se célebre com seus quadros que reproduziam imagens cotidianas, sendo os mais famosos os das latas de sopa e as fotomontagens de Marilyn Monroe e Elvis Presley.

A fama
Após garantir-se na plástica, Andy lançou-se à conquista do cinema e das letras, assim dirigiu experimentos visuais memoráveis, como aquela famosa fita de seis horas de duração sobre um homem dormindo em uma cama e outra de oito horas com o edifício Empire States como objeto principal focalizado na câmara.

Em 1969 fundou a famosa revista "Interview", onde as celebridades da época gostavam de aparecer. Ao próprio Andy deve-se a expressão de que a fama transformou-se em um fenômero efêmero, "onde cada um poderia aspirar a gozá-la por 15 minutos".

O polêmico artista faleceu aos 58 anos de idade, enquanto dormia, às 6:30 de 22 de fevereiro de 1987, vítima de um ataque cardíaco, na sala de recuperação do Hospital da Universidade de Nova Iorque. Entretanto, seus óbito causou surpresa entre o pessoal do hospital, onde havia ingressado alguns dias antes para uma intervenção cirúrgica da vesícula biliar. Após a operação a equipe médica manifestou que o estado de Andy era "estável".

Conheça mais sobre Andy Warhol, visitando seu museu online

Javier Gutierrez – Estudou antropologia e letras hispânicas. Também colabora nos diários mais importantes do México: El Financiero, La Jornada e El Universal.
Perfil de Warhol na NovaE
Tradução e adaptação: Luiz Cirne
Fonte: http://www.novae.inf.br/

Efeito dominó na polícia egípcia, a caminho da LIBERDADE! – por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

457 anos de festa? De luta! - por Passa Palavra

457 anos de festa? De luta!

O MPL realiza mais uma ação contra o aumento da tarifa, no aniversário de São Paulo. Por Passa Palavra

O 457º aniversário de São Paulo foi marcado por ações do MPL (Movimento Passe Livre) contra o aumento da tarifa de ônibus e a favor da mobilidade e do acesso da população à cidade.Militantes no Viaduto do Chá, em cima do Vale do Anhangabaú

A ação começou no Vale do Anhangabaú, quando os manifestantes estenderam faixas ao lado e acima do palco preparado para comemoração do aniversário da cidade. A população que estava lá para assistir o show organizado pela prefeitura, confrontada com a mensagem, chegou a cantar sua insatisfação com a situação do transporte: “Kassab, ladrão, abaixa o busão!”.

De lá, os cerca de 13 manifestantes foram para a Biblioteca Mário de Andrade, a segunda maior do país, para a cerimônia de reabertura após a reforma que durou três anos. A polêmica reforma foi encerrada com problemas de acessibilidade e alteração no projeto do arquiteto responsável com a colocação de grades ao redor da Praça Dom José Gaspar, em frente à Biblioteca, sinal da política vigente de gentrificação que visa distanciar a população de rua dos espaços públicos. Segundo declaração do Secretário de Cultura do município, Ricardo Calil, sobre o isolamento da Praça Dom José Gaspar, “a cidade ainda não está preparada completamente” para eliminar as grades do local.
Faixa estendida na frente da biblioteca.

O prefeito Kassab preferiu não entrar pela porta principal, onde concentravam-se os manifestantes do MPL. Ao estenderem seus cartazes no hall de entrada da Biblioteca, eles foram convidados pela Guarda Civil a se retirar, o que atenderam prontamente. Uma grande faixa permaneceu estendida na lateral da escada que dá acesso ao hall. O ex-secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Dr. Eduardo Augusto Muylaert Antunes, tentou intimidar os manifestantes contestando a legalidade da presença dos mesmos ali para um protesto pacífico, sem sucesso. A faixa permaneceu estendida na entrada da Biblioteca e os demais manifestantes entraram para a cerimônia de abertura.

Desde o momento em que entraram, os seguranças acompanharam os manifestantes, mapeando-os. Quando o prefeito começou a falar, os militantes gritaram: “O aumento da tarifa aumenta a exclusão! Kassab, abaixa o busão!” e ergueram novamente os cartazes. Seguranças e funcionários foram agressivos com quem segurava cartazes. Um foi rasgado e o outro, tomado. No momento em que começaram a gritar, diversas pessoas que não acompanhavam o movimento apoiaram as idéias e defenderam os manifestantes da ação dos seguranças.
Cartaz sendo exibido dentro da biblioteca

Mesmo após retirar seu cartaz, um manifestante que acompanhava o protesto continuou a ser empurrado por um funcionário do Centro Cultural da Juventude (CCJ) até ser retirado do ambiente em que acontecia a cerimônia. No hall, os seguranças o imobilizaram. O manifestante imobilizado foi conduzido, junto com o segurança que o agrediu e o funcionário do CCJ, para a 3ª DP. Ambos, manifestante e funcionário, prestaram queixa por agressão e foram liberados.

Um dos manifestantes que fotografava a ação foi perseguido pela polícia, que solicitava arbitrariamente que ele lhes entregasse o cartão de sua câmera, intimidação que tem se tornado comum pela polícia de São Paulo, sendo necessário esconder o cartão para levá-lo da Biblioteca.

O prefeito retirou-se sob vaias dos militantes que permaneciam no local.
Livre-adaptação do poema de Mario de Andrade

O busto de Mário de Andrade, que ficava na Praça Dom José Gaspar antes da reforma, foi conduzido para o interior da Biblioteca nesta nova organização, deixando para a população que olha de fora da Biblioteca - como garotos de rua que expressavam o desejo de entrar hoje mas sentiam-se intimidados - a dúvida se ela realmente os pertence.

Como já anunciamos aqui no Passa Palavra, a luta contra o aumento continua nas ruas com um ato, dia 27/01, e uma bicicletada, dia 28/01.

Fotos: Douglas Belome
Fonte: http://passapalavra.info/

Entrevista com Julian Assange - por Natalia Viana

Entrevista com Julian Assange - por Natalia Viana
Vários internautas - O WikiLeaks tem trabalhado com veículos da grande mídia – aqui no Brasil, Folha e Globo, vistos por muita gente como tendo uma linha política de direita. Mas além da concentração da comunicação, muitas vezes a grande mídia tem interesses próprios. Não é um contra-senso trabalhar com eles se o objetivo é democratizar a informação? Por que não trabalhar com blogs e mídias alternativas?

Por conta de restrições de recursos ainda não temos condições de avaliar o trabalho de milhares de indivíduos de uma vez. Em vez disso, trabalhamos com grupos de jornalistas ou de pesquisadores de direitos humanos que têm uma audiência significativa. Muitas vezes isso inclui veículos de mídia estabelecidos; mas também trabalhamos com alguns jornalistas individuais, veículos alternativos e organizações de ativistas, conforme a situação demanda e os recursos permitem.

Uma das funções primordiais da imprensa é obrigar os governos a prestar contas sobre o que fazem. No caso do Brasil, que tem um governo de esquerda, nós sentimos que era preciso um jornal de centro-direita para um melhor escrutínio dos governantes. Em outros países, usamos a equação inversa. O ideal seria podermos trabalhar com um veículo governista e um de oposição.

Marcelo Salles – Na sua opinião, o que é mais perigoso para a democracia: a manipulação de informações por governos ou a manipulação de informações por oligopólios de mídia?

A manipulação das informações pela mídia é mais perigosa, porque quando um governo as manipula em detrimento do público e a mídia é forte, essa manipulação não se segura por muito tempo. Quando a própria mídia se afasta do seu papel crítico, não somente os governos deixam de prestar contas como os interesses ou afiliações perniciosas da mídia e de seus donos permitem abusos por parte dos governos. O exemplo mais claro disso foi a Guerra do Iraque em 2003, alavancada pela grande mídia dos Estados Unidos.

Eduardo dos Anjos – Tenho acompanhado os vazamentos publicados pela sua ONG e até agora não encontrei nada que fosse relevante, me parece que é muito barulho por nada. Por que tanta gente ao mesmo tempo resolveu confiar em você? E por que devemos confiar em você?

O WikiLeaks tem uma história de quatro anos publicando documentos. Nesse período, até onde sabemos, nunca atestamos ser verdadeiro um documento falso. Além disso, nenhuma organização jamais nos acusou disso. Temos um histórico ilibado na distinção entre documentos verdadeiros e falsos, mas nós somos, é claro, apenas humanos e podemos um dia cometer um erro. No entanto até o momento temos o melhor histórico do mercado e queremos trabalhar duro para manter essa boa reputação.

Diferente de outras organizações de mídia que não têm padrões claros sobre o que vão aceitar e o que vão rejeitar, o WikiLeaks tem uma definição clara que permite às nossas fontes saber com segurança se vamos ou não publicar o seu material.

Aceitamos vazamentos de relevância diplomática, ética ou histórica, que sejam documentos oficiais classificados ou documentos suprimidos por alguma ordem judicial.

Vários internautas – Que tipo de mudança concreta pode acontecer como consequência do fenômeno Wikileaks nas práticas governamentais e empresariais? Pode haver uma mudança na relação de poder entre essas esferas e o público?

James Madison, que elaborou a Constituição americana, dizia que o conhecimento sempre irá governar sobre a ignorância. Então as pessoas que pretendem ser mestras de si mesmas têm de ter o poder que o conhecimento traz. Essa filosofia de Madison, que combina a esfera do conhecimento com a esfera da distribuição do poder, mostra as mudanças que acontecem quando o conhecimento é democratizado.

Os Estados e as megacorporações mantêm seu poder sobre o pensamento individual ao negar informação aos indivíduos. É esse vácuo de conhecimento que delineia quem são os mais poderosos dentro de um governo e quem são os mais poderosos dentro de uma corporação.

Assim, o livre fluxo de conhecimento de grupos poderosos para grupos ou indivíduos menos poderosos é também um fluxo de poder, e portanto uma força equalizadora e democratizante na sociedade.

Marcelo Träsel - Após o Cablegate, o Wikileaks ganhou muito poder. Declarações suas sobre futuros vazamentos já influenciaram a bolsa de valores e provavelmente influenciam a política dos países citados nesses alertas. Ao se tornar ele mesmo um poder, o Wikileaks não deveria criar mecanismos de auto-vigilância e auto-responsabilização frente à opinião pública mundial?

O WikiLeaks é uma das organizações globais mais responsáveis que existem.

Prestamos muito mais contas ao público do que governos nacionais, porque todo fruto do nosso trabalho é público. Somos uma organização essencialmente pública; não fazemos nada que não contribua para levar informação às pessoas.

O WikiLeaks é financiado pelo público, semana a semana, e assim eles “votam” com as suas carteiras.

Além disso, as fontes entregam documentos porque acreditam que nós vamos protegê-las e também vamos conseguir o maior impacto possível. Se em algum momento acharem que isso não é verdade, ou que estamos agindo de maneira antiética, as colaborações vão cessar.

O WikiLeaks é apoiado e defendido por milhares de pessoas generosas que oferecem voluntariamente o seu tempo, suas habilidades e seus recursos em nossa defesa. Dessa maneira elas também “votam” por nós todos os dias.

Daniel Ikenaga – Como você define o que deve ser um dado sigiloso?

Nós sempre ouvimos essa pergunta. Mas é melhor reformular da seguinte maneira: “quem deve ser obrigado por um Estado a esconder certo tipo de informação do resto da população?”

A resposta é clara: nem todo mundo no mundo e nem todas as pessoas em uma determinada posição. Assim, o seu médico deve ser responsável por manter a confidencialidade sobre seus dados na maioria das circunstâncias – mas não em todas.

Vários internautas – Em declarações ao Estado de São Paulo, você disse que pretendia usar o Brasil como uma das bases de atuação do WikiLeaks. Quais os planos futuros? Se o governo brasileiro te oferecesse asilo político, você aceitaria?

Eu ficaria, é claro, lisonjeado se o Brasil oferecesse ao meu pessoal e a mim asilo político. Nós temos grande apoio do público brasileiro. Com base nisso e na característica independente do Brasil em relação a outros países, decidimos expandir nossa presença no país. Infelizmente eu, no momento, estou sob prisão domiciliar no inverno frio de Norfolk, na Inglaterra, e não posso me mudar para o belo e quente Brasil.

Vários internautas – Você teme pela sua vida? Há algum mecanismo de proteção especial para você? Caso venha a ser assassinado, o que vai acontecer com o WikiLeaks?

Nós estamos determinados a continuar a despeito das muitas ameaças que sofremos. Acreditamos profundamente na nossa missão e não nos intimidamos nem vamos nos intimidar pelas forças que estão contra nós.

Minha maior proteção é a ineficácia das ações contra mim. Por exemplo, quando eu estava recentemente na prisão por cerca de dez dias, as publicações de documentos continuaram.

Além disso, nós também distribuímos cópias do material que ainda não foi publicado por todo o mundo, então não é possível impedir as futuras publicações do WikiLeaks atacando o nosso pessoal.

Helena Vieira - Na sua opinião, qual a principal revelação do Cablegate? A sua visão de mundo, suas opiniões sobre nossa atual realidade mudou com as informações a que você teve acesso?

O Cablegate cobre quase todos os maiores acontecimentos, públicos e privados, de todos os países do mundo – então há muitas revelações importantíssimas, dependendo de onde você vive. A maioria dessas revelações ainda está por vir.

Mas, se eu tiver que escolher um só telegrama, entre os poucos que eu li até agora – tendo em mente que são 250 mil – seria aquele que pede aos diplomatas americanos obter senhas, DNAs, números de cartões de crédito e números dos vôos de funcionários de diversas organizações – entre elas a ONU.

Esse telegrama mostra uma ordem da CIA e da Agência de Segurança Nacional aos diplomatas americanos, revelando uma zona sombria no vasto aparato secreto de obtenção de inteligência pelos EUA.

Tarcísio Mender e Maiko Rafael Spiess - Apesar de o WikiLeaks ter abalado as relações internacionais, o que acha da Time ter eleito Mark Zuckerberg o homem do ano? Não seria um paradoxo, você ser o “criminoso do ano”, enquanto Mark Zuckerberg é aplaudido e laureado?

A revista Time pode, claro, dar esse título a quem ela quiser. Mas para mim foi mais importante o fato de que o público votou em mim numa proporção vinte vezes maior do que no candidato escolhido pelo editor da Time. Eu ganhei o voto das pessoas, e não o voto das empresas de mídia multinacionais. Isso me parece correto.

Também gostei do que disse (o programa humorístico da TV americana) Saturday Night Live sobre a situação: “Eu te dou informações privadas sobre corporações de graça e sou um vilão. Mark Zuckerberg dá as suas informações privadas para corporações por dinheiro – e ele é o ‘Homem do Ano’.”

Nos bastidores, claro, as coisas foram mais interessantes, com a facção pró- Assange dentro da revista Time sendo apaziguada por uma capa bastante impressionante na edição de 13 de dezembro, o que abriu o caminho para a escolha conservadora de Zuckerberg algumas semanas depois.

Vinícius Juberte – Você se considera um homem de esquerda?

Eu vejo que há pessoas boas nos dois lados da política e definitivamente há pessoas más nos dois lados. Eu costumo procurar as pessoas boas e trabalhar por uma causa comum.

Agora, independente da tendência política, vejo que os políticos que deveriam controlar as agências de segurança e serviços secretos acabam, depois de eleitos, sendo gradualmente capturados e se tornando obedientes a eles.

Enquanto houver desequilíbrio de poder entre as pessoas e os governantes, nós estaremos do lado das pessoas.

Isso é geralmente associado com a retórica da esquerda, o que dá margem à visão de que somos uma organização exclusivamente de esquerda. Não é correto. Somos uma organização exclusivamente pela verdade e justiça – e isso se encontra em muitos lugares e tendências.

Ariely Barata – Hollywood divulgou que fará um filme sobre sua trajetória. Qual sua opinião sobre isso?

Hollywood pode produzir muitos filmes sobre o WikiLeaks, já que quase uma dúzia de livros está para ser publicada. Eu não estou envolvido em nenhuma produção de filme no momento.

Mas se nós vendermos os direitos de produção, eu vou exigir que meu papel seja feito pelo Will Smith. O nosso porta-voz, Kristinn Hrafnsson, seria interpretado por Samuel L Jackson, e a minha bela assistente por Halle Berry. E o filme poderia se chamar “WikiLeaks Filme Noire”.
Fonte: http://cartacapitalwikileaks.wordpress.com/

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Intifada egípcia – por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

Documentos Palestina: Mahmoud Abbas, a serviço dos assentamentos israelenses - por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff
The Palestine papers
"Esse jogo feio e sem fim do processo de paz está encerrado".
Os documentos divulgados pela organização Wikileahs sobre os bastidores das negociações entre autoridades israelenses e palestinas mostram que essa política é um fracasso absoluto, trazendo ruína para os palestinos e beligerância crescente ao completamente desimpedido, agressivo e errático Estado de Israel, atualmente praticando uma forma de apartheid contra os palestinos. A postura fraca e incompetente das lideranças palestinas é o oposto de uma representação nacional digna e honrada, e prova sua inutilidade descartável.

O processo de paz é uma vergonha. Os palestinos devem rejeitar seus líderes e reconstruir seu movimento.

Acabou. Dada a natureza chocante, extensa e o detalhe dessas revelações medonhas por trás das portas fechadas do processo de paz do Oriente Médio [nos documentos revelados segunda-feira pela organização Wikileaks], esse jogo feio e que parece sem fim do processo de paz está finalmente encerrado. Nenhum dos vilões do lado palestino pode sobreviver a isso. Com alguma sorte, o horror total dessa denúncia de como os EUA e a Grã Bretanha facilitaram e até implementaram, secretamente, a expansão militar israelense – enquanto criavam uma oligarquia para administrá-la – pode ter superado os interesses entrincheirados e a venalidade que capturaram o processo de paz em curso. Um pequeno grupo de homens que profanaram a esfera pública palestina com suas atividades privadas agora está exposto.

Para nós, palestinos, essas denúncias detalhadas da rendição secretamente negociada de cada um de nossos direitos fundamentais, segundo o direito internacional (o de retorno de milhões de palestinos refugiados, contra a anexação da Jerusalém árabe, contra os assentamentos ilegais) não são surpresa. Trata-se de algo que todos sabíamos – a despeito dos protestos oficiais dizendo o contrário – porque nós sentimos os efeitos destrutivos dessas coisas diariamente. O mesmo é verdade para o papel vergonhoso dos EUA e da Grã Bretanha, ao criarem um "bantustão" de segurança, arruinando com nossa vida comunitária e com nosso espaço político. Nós já sabíamos, porque sentimos seus efeitos fatais.

Para a esmagadora maioria dos palestinos, a política oficial palestina ao longo das décadas passadas tem sido a antítese de uma legítima, ou representativa ou mesmo coerente estratégia para obter nossa liberdade negada há tanto tempo. Mas essa consideração sóbria do nosso atual estado de coisas, acompanhada pelos protestos em massa da sociedade civil, de campanhas tocadas por cidadãos palestinos tem sido insuficientes até agora para nos libertar dessa situação.

A publicação desses documentos é um acontecimento histórico tão importante porque destrói os últimos traços de credibilidade desse processo de paz. Tudo o que resta a fazer repousa no seguinte axioma: que cada iniciativa nova ou série de negociações com os israelenses, que toda política ou programa (inclusive a criação de instituições não democráticas sob ocupação militar) devem se apresentar como operando em boa fé, sob condições rígidas: devem ser necessárias para a paz e a serviço de nossa causa nacional. Políticos de ambos os lados jogaram um papel duplo com os palestinos. Agora está registrado que eles traíram, mentiram e trapacearam com diretos básicos, enquanto, ao mesmo tempo, diziam-se merecedoras da confiança do povo palestino.

Essa alegação da capacidade representativa – e, pior, a afirmação de que estavam representando os interesses dos palestinos em sua luta por liberdade – se tornou cada vez mais fraca nos últimos 15 anos. A alegação de que estavam agindo de boa fé caiu absolutamente por terra com as publicações desses documentos (24/01/2011), e com as informações a serem reveladas ao longo desta semana. Qualquer que seja a inclinação política dos poderosos, ninguém, nem os estadunidenses, nem os britânicos, as Nações Unidas e especialmente não os dirigentes palestinos podem afirmar que a negociata toda não é outra coisa que um processo brutal de subjugo de todo um povo.

Por que se chegou tão longe, a um custo tão alto? E por que os palestinos também não foram capazes de criar uma representação democrática tão urgentemente necessária para o avanço de sua causa? Israel, juntamente com aqueles que partilham de sua visão de mundo diriam que o problema repousa nos próprios palestinos, sendo parte da cultura política árabe que só gera governos autoritários ou terroristas. E isso que aquilo que esses documentos relevam é a extensão de uma não democrática, autoritária, colonial e francamente aterradora coerção que os EUA, a Grã Bretanha e outros governos ocidentais tem imposto aos palestinos, através dessa liderança inconsequente.

O poder ilimitado dos EUA, a superpotência global que tem (agora documentadamente e em detalhes repugnantes) tomado um partido nesse conflito pode ser visto em cada página. Todos estão implicados, do presidente ao secretariado de estado, dos generais, que criaram as forças de segurança para implementarem essas políticas à equipe da embaixada envolvida na sua execução diária.

Os documentos mostram que essa política é um fracasso absoluto, trazendo ruína para os palestinos e beligerância crescente ao completamente desimpedido, agressivo e errático Israel, atualmente praticando uma forma de apartheid dos palestinos que dominam pela força.

Esse desequilíbrio de poder só pode ser corrigido eficazmente da mesma maneira que todo movimento de liberação nacional o fez, no passado: através da força inexpugnável de um mandato popular. Ho Chi Minh sentando com os franceses para conversar, ou Nelson Mandela negociando com o regime do apartheid, incorporando essa legitimidade popular, e na verdade se comprometendo com seus princípios e negociando posições a partir deles.

Do lado positivo, essas negociatas eventualmente vindo à tona fariam com que os palestinos compreensivelmente as rejeitassem. Mas a pior traição tem sido aquilo que essa hipocrisia legou para as gerações mais jovens de palestinos. Esses governantes levaram uma nova geração a acreditar que a participação na esfera pública é uma maneira de se dar bem na vida e que se juntar a qualquer partido político é o método menos viável de se chegar ao poder e gerar mudança.

Embora seu exemplo danoso, eles alienaram os jovens palestinos de sua própria história de resistência à dominação colonial e militar, de modo que agora eles acreditam que dezenas de milhares de imaginativos, brilhantes e extraordinários palestinos bravos nunca existiram ou, pior, lutaram e morreram por nada. Isso lhes custa a capacidade de levar a cabo qualquer método e técnicas de mobilização de que se podem dispor hoje – os mecanismos democráticos e coletivos que são mais necessários do que nunca. Eles deram à juventude a ideia de que não há virtude na organização coletiva, o mecanismo por meio do qual a mudança democrática popular é feita e mantida.

A cada vez mais popular visão de que a revolução palestina fracassou desde o começo, de que sempre foram corruptos, dirigidos a partir de cima, nunca a partir dos de baixo, é falsa – mas esse diagnóstico ganhou credibilidade através das ações do atual regime. O comportamento dos atuais governantes quase apagou o registro da história da contribuição dada por dezenas de milhares de palestinos comuns que, com toda sua força e devoção à vida pública lutaram por princípios e criaram uma auto representação real e democrática, sob as piores condições. Esta é a nossa mais valiosa liberdade, pela qual vale muito a pena lutar: a publicação desses documentos devastadores pavimenta o caminho da sua restauração.
(*) Karma Nabulsi é acadêmica em Oxford e ex-membro da Organização pela Libertação da Palestina - OLP
(*) Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior

No carnaval a multidão se faz poeta - por Bruno Cava

No carnaval a multidão se faz poeta - por Bruno Cava::: Resenha de SZANIECKI, Bárbara, Estética da multidão, Rio de Janeiro: 2007, Civilização Brasileira, 1ª ed., coleção A política no império, 162 pág
O título ousa sugerir a elaboração de uma Estética. Tomada na acepção forte, com maiúscula, a tarefa implicaria fabular no âmbito da filosofia da arte e produzir uma teoria compreensiva sob a espécie da multidão. Significaria revisar conceitos de belo, sublime, catarse, tragédia e quejandos. Contudo, ao chegar ao índice, o leitor percebe que o livro não pretende abraçar a disciplina da Estética. E nem poderia, pois “disciplinar” a multidão seria partir de premissas diametralmente contrárias ao conteúdo do livro. A própria maiúscula em estética já estaria em dissintonia com seu vigor libertário. As 162 páginas se debruçam, precisamente, num modo de expressão que irrompe de invólucros e identidades, que extravasa de tratados de estética, bienais domesticadas ou ementas acadêmicas.

O título só pode ser entendido como boutade. Szaniecki bate na porta do leitor e provoca: doce ou travessura? E a máscara que traz escondida não se usa no dia das bruxas, mas no carnaval. O tom carnavalesco percorre os capítulos e informa os conceitos. Resulta numa ciranda alegre de política, arte, semiótica, filosofia, amores e lutas — disso tudo e ao mesmo tempo trata Estética da multidão.

Escrito por uma designer, conhecida por capas de livros e cartazes que remetem à vanguarda russa dos anos 1920. Movimento transdisciplinar de uma juventude cheia de ímpeto, o construtivismo vitaminava a arte com afetos, signos, desejos, paixões, buscando alargar a experiência. Recorde-se a potência de um designer como Alexander Rodchenko, cujos pôsteres com cores brilhantes, figuras geométricas e contornos vibrantes jazzistas reaparecem na produção gráfica de Bárbara. Como se sabe, em meados dos anos 1930, o estalinismo poria fim ao carnaval construtivista. Doravante, se instaura na URSS o realismo soviético, a glorificar a austeridade do operário padrão. Impõe-se de cima pra baixo a contrarrevolução: o que era poder constituinte é usurpado pela representação oficial.
Cartazes criados pela autora
Em Estética da multidão, Szaniecki também opõe representação do poder à expressão livre dos movimentos. De um lado, a representação do poder, pautada por imobilidade, espírito de gravidade e autoglorificação. Do outro, a subversão da representação pelas forças sociais, móveis, porosas e amiúde dispostas a rir da autoridade. Do lado do poder, a cadência infernal e a seriedade das paradas estatais. Do lado da multidão, a alegria intoxicante de ruas e praças em dia de festa, dos bares, galpões de dança e ateliês populares. O manto portentoso do soberano versus a fantasia de rei momo.

A força da paródia carnavalesca está em não ser exterior às representações do poder. Crítica imanente, gargalha-se por entre as palavras sérias e as imagens sagradas. Assim, o riso desencadeia um recomeço e os sentidos desbordam do controle. “A sociedade vaza de todos os lados” (Deleuze). Portanto, não pode subsistir totalitarismo — não da maneira descrita por George Orwell, em 1984. Porque o discurso não se pode imunizar totalmente ante o riso e a mordacidade. Nenhum controle pode eliminar o chiste na boca do povo, que se dissemina (e mesmo se fortalece) nas repressões mais draconianas.

Assim se explica por que a obra de Kafka também é classificada no cômico. O escritor tcheco e seu círculo próximo riam imoderadamente quando da leitura em voz alta de O processo ou O castelo. Na literatura brasileira, na esteira de Machado, Oswald de Andrade despedaçou de vez a seriedade do romance burguês pela via da paródia e do grotesco. Basta lembrar Serafim Ponte Grande, em que Pinto Calçudo é efetivamente expulso do livro pelo narrador, como castigo por soltar um flato.

O riso sardônico também é central na eztetyka da fome, do manifesto de Gláuber Rocha. Como em Maranhão 66, documentário encomendado ao cineasta baiano, por ocasião da posse de José Sarney no governo estadual. Em meio a cenas da miséria nordestina, o diretor desfila pessoas gargalhando. O riso mordaz desafia a representação impotente que o poder faz dos pobres, codificados como “coitados” (um dos componentes da cosmética da fome, conceito de Ivana Bentes). Na afirmação tragicômica do sofrimento, Dioniso reencontra a revolta e concita a ação política.

Tributária da filosofia de Antônio Negri (Poder Constituinte, Império, Multidão), bom pedaço do argumento da autora investe-se na distinção entre imanência e transcendência. Qual a diferença? A mesma entre a escola de samba e o bloco de rua.

A escola de samba se organiza hierarquicamente. Funciona de modo orgânico, com funções precisas e uma disciplina marcial. Tudo é planejado, exaustivamente ensaiado e, só num último estágio, executado nos menores detalhes. O momento criativo precede a expressão, automatizada no sambódromo. Possui autorias: do carnavalesco, do diretor, do sambista etc. No final das contas, se extrai do desfile um valor de exposição, através da televisão. Fixado num espaço e tempo delimitados, o sentido último da escola de samba é ser assistida. Transcendência.

No carnaval de rua, os foliões se relacionam transversalmente. O status de cada um se dá menos por roteiros do que pela virtuose da performance (fantasia, atitude, desprendimento etc). A autoria se faz na hora e é partilhada na colaboração. Não há planejamento, a expressão não se separa do exprimido. Vale o acaso dos bons e maus encontros, nos contágios e hibridizações. Vigoram a improvisação, o imprevisível, o inusitado. Personagens de universos diferentes se miscigenam, irrompem mil sexos, os blocos se fundem e se separam. Não se extrai mais-valia (salvo na reapropriação capitalista chamada “micareta”). O bloco se exaure na sua singularidade, disparando processos intensivos da multidão. Para ser vivido e não assistido. Imanência.

No carnaval, as representações do poder se deformam em bonecos gigantes, máscaras grotescas e diabos de todo gênero. A população multiforme se torna protagonista, recusando ser unificada sob as abstrações da nação, do estado ou do povo. Insiste em viver a riqueza multitudinária.

Explode nas ruas inundadas de carnaval um excesso criativo, que mana da força poderosa chamada vida. O excedente escapa da codificação por qualquer realismo socialista ou publicidade capitalista, e multiplica sentidos ético-afetivos e poético-políticos. No carnaval, o poder e seus estetas se calam e a multidão se faz poeta, transbordante de força constituinte.

Fonte: http://www.outraspalavras.net

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Essa foto é da Estação de Trem do Brás! A que ponto essa cidade pode chegar com esses governos!

Primeiro a Tunísia agora o Egito – por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

Você conhece São Paulo? - por Edurado Guimarães

Você conhece São Paulo? - por Edurado Guimarães
Como definir a cidade e o povo de São Paulo? Aliás, como definir o que é a cidade de São Paulo, se a dita “grande São Paulo” interconecta-se com o município que sedia a capital do Estado que leva o mesmo nome que o seu? E por último: existe uma única cidade de São Paulo, do ponto de vista da organização social, política e econômica?

Ao se aproximar o 457º aniversário da capital paulista, é obrigatório escrever sobre essa cidade que concentra amores e ódios de todo o país. Uma cidade que sustenta, como nenhuma outra, os políticos de direita que se tornaram a cabeça de um dos dois pólos do grande embate político nacional, mas que também abriga a resistência mais aguerrida a eles.

São Paulo abriga e privilegia a direita demo-tucana de prominência nacional. Foi e continua sendo o “quartel-general” de Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e José Serra. E como a maioria da população autóctone apóia esses políticos, a cidade atrai uma antipatia política imensa.

Sobre o conceito que o resto do país tem dos paulistanos, apesar do discurso de que São Paulo seria amistosa, abrigaria imigrantes de todas as partes do Brasil e do mundo etc., etc., o fato é que esse povo é considerado frio, inamistoso, arrogante e preconceituoso, apesar de ser o mais mesclado do país, tanto do ponto de vista étnico quanto de origem geográfica.

É injusta a má fama política de São Paulo? É verdadeiro o discurso da grande imprensa e da elite étnico-financeira-empresarial de que é “acolhedora” e “plural? É possível extrair uma única conclusão sobre a cidade e seu povo?

Em primeiro lugar, há que entender que São Paulo é muitas. A cidade é marcada, talvez como nenhuma outra, pela desigualdade, que se torna mais visível devido a não haver a separação entre pobres e ricos que se vê, por exemplo, no Rio de Janeiro, onde rico fica perto da praia e pobre, longe.

Nesse aspecto, apesar de ter bairros miseráveis e abandonados nas franjas da cidade, em um nível de carestia e precariedade que muitas vezes lembra o de países intermediariamente pobres da África – há bairros da capital paulista que lembram os bairros pobres de Luanda, em Angola, por exemplo –, não separa ricos de pobres, ao menos geograficamente.

A convivência entre mansões, condomínios de luxo, shoppings e centros empresariais com favelas em que o esgoto corre a céu aberto ou com famílias entrincheiradas sob viadutos em habitações precárias, é chocante e comum por toda a região metropolitana da capital paulista.

Nesse aspecto, portanto, São Paulo é uma só. E não termina nos limites oficiais do município, pois as cidades limítrofes padecem dos mesmos males, todas oferecendo péssimos serviços públicos e baixas condições de vida para os mais humildes. Tanto é assim que se passa de São Paulo a Osasco, por exemplo, e não se nota diferença alguma.

Também não se pode dizer que São Paulo é amistosa e acolhedora. Você não hospeda uma visita debaixo da escada. Pelo contrário: São Paulo é hostil com os imigrantes. A população mais antiga da cidade tem ódio deles, principalmente quando vêm do Norte e do Nordeste.

Felizmente, porém, a necessidade de atrair mão-de-obra de outras partes do país para fazer os serviços pesados e insalubres que a população mais antiga da cidade não queria e não quer fazer, tornou esses paulistanos “da gema” uma inexpressiva minoria, encastelada nos bairros ditos “nobres”, onde as administrações municipais – com raras exceções –, ao longo da história, sempre gastaram a maioria dos impostos de todos.

Há, porém, uma dissidência de natureza político-sindical-acadêmica, em São Paulo, que faz barulho, que luta com unhas e dentes e que grita, desesperada, para que a maioria prejudicada por falta de instrução formal e política perceba que é usada para manter os privilégios das classes mais abastadas, sendo convencida pela mídia local a votar em seus candidatos.

Paradoxalmente, uma população que, em ampla maioria, não lê, não quer saber de política, nada entende de política, sofre imensa influência da grande imprensa escrita local, que vende suas teses conservadoras a uma elite que a massa empobrecida acha que deve seguir na esperança de que algum dia poderá emular se adotar as suas convicções políticas e ideológicas.

Um dos aspectos mais impressionantes da falta de cultura política e cidadã dos paulistanos reside no discurso que entoam diante das tragédias que as chuvas provocam todos os anos. Do mais rico ao mais pobre, do doutor ao faxineiro, todos acusam “esse povo” de ser o responsável pelas enchentes por “atirar lixo na rua”.

Acredite quem quiser: os nomes dos governadores e prefeitos que, nos últimos anos, permitiram que as enchentes aumentassem tanto, não apareceram na imprensa local ao longo das últimas semanas. Em vez disso, a grande maioria dos paulistanos execra a si mesma e a Lula pelo problema que enfrenta ano após ano.

A vida em São Paulo se tornou insuportável. Sair de automóvel, por exemplo, virou risco de enorme prejuízo material e até à própria vida. Em um fim de semana, quem mora longe das regiões que abrigam shoppings, restaurantes ou casas noturnas, para desfrutar dessa ampla gama de prazeres consumistas tem que se meter em congestionamentos intermináveis.

Com uma imprensa chapa-branca, que trata os governantes locais a pão-de-ló – menos quando são do PT –, o paulistano não sabe de quem cobrar melhora na qualidade de vida. E, mais do que isso, não acha possível que melhoras ocorram, conformando-se com tudo de ruim que a cidade vai colocando em seu caminho de forma progressiva, ano após ano.

São Paulo é a cidade de um povo absolutamente domesticado, em sua imensa maioria. Não sendo capaz de cobrar melhoras dos governos municipal e estadual, não tem muita chance de se tornar uma cidade com melhor qualidade de vida, até porque cobra do governo federal aquilo que ele não tem competência legal para fazer.

E o que é pior: quando o governo federal foi ocupado pelo PSDB, o povo cobrava da oposição petista os problemas municipais e estaduais, o que induz à crença de que mesmo no dia em que os coronéis políticos locais governarem tudo – cidade, Estado e país –, continuará sem saber cobrar quem tem que ser cobrado.

Apesar da pujança econômica, auferida através dessa escravização de corações, mentes e corpos da população, São Paulo é isso: o cemitério da cidadania, o Olimpo da arrogância racial e de classe; uma terra de injustiça, violência, sujeira, egocentrismo, superficialidade, xenofobia e ignorância.

Todavia, por ser filho, neto, bisneto e tetraneto de paulistanos, este blogueiro não saberia viver em outro lugar. Talvez porque, lá no fundo, acalente a esperança de que um dia será possível despertar a sua comunidade desse transe profundo em que foi atirada pela pior imprensa e pelos políticos mais calhordas do país.
Fonte: http://www.blogcidadania.com.br

sábado, 22 de janeiro de 2011

Limpando a Tunísia – por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

Senegal: quem paga suas dívidas empobrece - por Adama Soumare e Olivier Bonfond - Alainet

Senegal: quem paga suas dívidas empobrece - por Adama Soumare e Olivier Bonfond - AlainetOs EUA e a Europa não seriam o que são hoje se não tivesse havido a escravidão e a colonização. Os países do Norte construíram em grande parte sua riqueza e sua potência sobre a base de uma política muito agressiva e violenta contra as populações do Sul e contra a natureza. Esta parte da história é suficiente, por si só, para afirmar que os povos africanos são credores de uma dívida histórica e ecológica gigantesca, das potências do Norte. No entanto, o “sistema da dívida” que passa a funcionar no início dos anos 60 inverterá o mecanismo: são os povos africanos que ficarão cada vez mais endividados.

Salvo para os economistas e outros tecnocratas obnubilados pelas taxas de crescimento do PIB, a situação do povo senegalês em particular, e dos povos africanos em geral persevera dramática. Essa situação não se explica por um fanatismo qualquer ou por uma desorganização “natural’ dos povos desse continente, mas antes por uma longa tradição de pilhagem, de exploração e de opressão no quadro do sistema capitalista.

“Antes de ontem”, a dominação pela escravidão: pilhagem dos recursos humanos
Entre os séculos XV e XVIII, o Senegal constituiu para as potências europeias uma plataforma giratória do comércio triangular. Com Benin e seu porto de Ouidah, o Senegal pagou um alto tributo pelo comércio negreiro: da ilha de Gorée até Dakar, partiram mais de um milhão de escravos para o “novo” mundo.

“Ontem”, a dominação pela colonização: pilhagem dos recursos agrícolas e minerais.
No século XX, as riquezas naturais do país (fosfato e amendoim) são exploradas para o lucro da metrópole francesa. Quando das duas guerras mundiais, a França utilizou as colônias como reserva de homens para defender os seus interesses. Isso não impediu absolutamente o poder colonial de reprimir muito duramente os movimentos de emancipação que se desenvolveram no Senegal depois da Segunda Guerra Mundial. É preciso esperar até 1960 para que o Senegal se torne formalmente “independente”.

Essas duas partes da história não podem ser esquecidas sob o pretexto de que é preciso parar de lamentar o passado e avançar para o futuro. Por um lado, a África não seria o que é hoje não fosse o comércio negreiro. É sempre bom lembrar que antes dessa verdadeira pilhagem das forças vivas africanas, as três grandes civilizações existiram na África, com um bom nível de desenvolvimento social, político e cultural. Além disso, os Estados Unidos da América e a Europa não seriam tampouco o que são hoje se não tivesse havido a escravidão e a colonização. Os países do Norte, com efeito, construíram em grande parte sua riqueza e sua potência sobre a base de uma política muito agressiva e violenta, contra as populações do Sul e contra a natureza. Esta parte da história é suficiente, por si só, para afirmar que são os povos africanos os credores de uma dívida histórica e ecológica gigantesca, das potências do Norte. No entanto, o “sistema da dívida” que tomará lugar no início dos anos 60 inverterá o mecanismo: são esses povos [africanos] que vão se encontrar endividados...

De 1960 a 1980, a pseudo-independência: busca-se a dominação e a pilhagem
As forças sociais senegalesas, que tinham combatido corajosamente a colonização são exortadas em nome da construção nacional, para pôr as lutas entre parênteses e aceitar a colaboração necessária com o antigo poder colonizador. Como em muitos outros países africanos, fora a bandeira, um hino nacional e um presidente (frequentemente escolhido pelas antigas potências coloniais) para substituir um governante, as independências não conduzirão à mudança. Por um lado, a economia senegalesa continua a ser orientada para a exportação de alguns produtos primários (fosfato, amendoim e produtos da pesca). Por outro, as relações de submissão política são mantidas, via a consolidação da rede França-África.

Um antigo deputado francês e amigo íntimo de George Pompidou, o presidente Léopold Sédar Senghor permanecerá no poder durante duas décadas, em colaboração estreita com a ex-metrópole. Esses vínculos serão conservados pelo seu sucessor designado, Abdou Diouf, que presidirá o Senegal durante vinte anos consecutivos. Apresentado por alguns como um exemplo de democracia na África, o país não conheceu então qualquer alternância de poder durante suas quatro primeiras décadas de independência!

De 1980 aos dias atuais, o neocolonialismo: a dominação pela dívida
Nos anos de 1970, no contexto da crise econômica mundial, a dívida do Senegal explode. A reciclagem dos petrodólares pelos bancos do Norte, a compra massiva de produtos importados via empréstimos vinculados (servindo para dinamizar as economias do Norte, então em crise de superprodução) e a queda do fluxo de produtos primários vão multiplicar a dívida por dez, em dez anos: a dívida externa pública passa de 114 milhões de dólares, em 1970, para 1,1 bilhão, em 1980.

Desde 1979 uma série de medidas são impostas pelos “experts” do FMI e do Banco Mundial (congelamento de salários dos servidores públicos, supressão das subvenções aos produtos de primeira necessidade e aumento de impostos), mas, quando os preços do fosfato despencam e as taxas de juros internacionais dos bancos interditam o fornecimento de crédito, a crise da dívida se abate sobre o Senegal, propagando-se por todo o Sul do planeta.

Em 1984, asfixiado financeiramente, o Senegal, em troca de um reescalonamento de sua dívida, põe em curso seu primeiro plano de ajuste estrutural, cobrindo o período de 1985-1992. O programa: redução dos orçamentos de educação e de saúde, aumento das exportações e privatizações dos setores rentáveis. Um novo plano de ajuste estrutural é posto em curso em 1994, enquanto o país enfrenta uma forte desvalorização de 50% do franco CFA (o que implica forte diminuição de salários e uma alta de preços das importações) e conhece de novo revoltas e repressão. O desemprego e o endividamento aumentam de maneira incontrolável. Um terceiro plano de ajuste é assinado em 1998, desta vez com o objetivo de estender os programas de privatização a todos os setores (energia, telecomunicações, transporte, água, etc). Em 2000, o Senegal integra a iniciativa PPTE (Países Pobres Muito Endividados). Microscópicos perdões da dívida aparecem no horizonte, mas sob a única condição de que o país aprofundasse essas reformas neoliberais, tão dramáticas para as populações.

Balanço: persegue-se o sofrimento dos povos…
Em outros tempos principal produto de exportação e principal fonte de renda dos campesinos, o setor de amendoim está hoje prejudicado. O Estado quase não apoia mais os pequenos produtores; aqueles que continuam a produzir sem cessar no setor estão condenados a lutarem contra as indústrias de óleo [para biocombustíveis] e os setores intermediários que especulam com os preços de mercado.

Os agricultores em geral não estão numa situação melhor. As iniciativas governamentais recentes, a saber, o plano REVA (Retorno para a Agricultura – 2006) concebido para “fixar as populações” e conter a migração dita clandestina [1], e a GOANA (Grande Ofensiva para a agricultura, o alimento e a abundância), iniciada em resposta à crise alimentar de 2008, não deram qualquer resultado comprovado. Na realidade, esses programas agravam a situação da pequena agricultura, beneficiando os membros e pessoas próximas do regime presidencial, que se apropriaram de centenas de hectares de terras e transformaram os agricultores em operários agrícolas.

Os pecuaristas não foram beneficiados pelas tentativas de políticas e de programas liberais. A exemplo de milhares de pecuaristas da região de Dakar, eles foram expropriados de suas terras e realocados em zonas hostis, onde o entorno e o pasto foram destruídos por conta de projetos imobiliários com especulação forçada, sem falar do déficit de pessoal veterinário qualificado, dado o desengajamento do Estado no setor.

O setor educacional vai por terra. Os professores conhecem com muita regularidade os atrasos de pagamentos, de muitos meses, dos seus magros salários. Os pais, que dificilmente conseguem juntar dinheiro, cada vez menos conseguem enfrentar os altos custos da inscrição instaurada nas escolas públicas e na universidade. Os estudantes são vítimas de extorsões de fundos ou de chantagem, à medida que, num país com uma alta taxa de desemprego, chegando à casa dos 50%, aquelas e aqueles com diploma têm muito poucas chances de encontrar um emprego ligado à sua formação.

Enfim, todas as famílias se submetem duramente ao aumento constante dos preços dos produtos de base. Para ilustrar, o preço de um botijão de gás butano de 6kg, utilizado diariamente pela grande maioria das residências urbanas, praticamente dobrou num intervalo de 4 meses, passando de 2500 FCFA para 4000 FCFA. As faturas de água e de eletricidade, apesar dos cortes constantes, aumentam frequentemente.

Os credores lavam as mãos
O discurso dominante afirmava que se as medidas “propostas” pelo FMI e pelo Banco Mundial fossem aplicadas rigorosamente, as economias do Sul iriam se encaminhar para ver o nível de endividamento diminuir. O Senegal, apesar de muito bom aluno da lógica neoliberal, não conheceu esse caminho. Longe disso. Não somente a dívida externa pública não diminuiu como foi multiplicada por três, entre 1980 e 2009, passando de 1,11 para 2,96 bilhões de dólares.

Neste mesmo período, o Senegal reembolsou, no entanto, somas consideráveis: o montante transferido pelo Senegal a título de reembolso da dívida ao longo do período de 1980 a 2008 aumentou para 5,03 bilhões de dólares. Concretamente, isso quer dizer que o Senegal, depois de ter pagado cinco vezes o montante que devia em 1980, está hoje três vezes mais endividado. O sistema dívida jogou, portanto, um papel chave na manutenção da transferência de enormes riquezas africanas para os ricos credores do centro capitalista. E esse negócio altamente rentável para alguns, a não ser que haja uma revolução, está programado para durar muito tempo.

O FMI e o Banco Mundial aplaudem
Em 14 de dezembro de 2010, o FMI declarou: “Deve-se felicitar as autoridades senegalesas por terem realizado um programa econômico satisfatório, apoiado pelo instrumento de sustentação à política econômica (ISPE). O crescimento econômico reencontrou o caminho em 2010 e deverá ser fortalecido já em 2011. Progressos consideráveis foram registrados, em matéria de políticas públicas e as autoridades estão determinadas a perseguirem as reformas destinadas a superar os desafios importantes que subsistem”. Declarações desse tipo se multiplicam nas mídias. O crescimento da precariedade e da pobreza não pesam na mídia frente ao crescimento do PIB.

Recriar a esperança a partir dos povos
Uma coisa é certa: a solução não virá “de cima”. Os capitalistas africanos, os governantes e as instituições regionais a seu serviço fazem tudo para que essa situação perdure, com a benção do capital internacional cuja sede de lucro não tem limite. Essa sede se manifesta hoje de maneira cada vez mais agressiva, não somente na África, mas também no mundo. E também está contida nos países do Norte, que desde a crise que eclodiu em 2008 vivem a dura experiência do ajuste estrutural com, não duvidemos disso, as mesmas consequências que as sofridas pelos povos do Sul nos últimos trinta anos. Construir uma sociedade de igualdade e de justiça social que seja alternativa ao capitalismo neocolonial é perfeitamente possível. Mas isso só será possível com a unidade e as conquistas das lutas locais e internacionais. Esperamos que o próximo Fórum Social Mundial, que vai se realizar de 6 a 11 de fevereiro, em Dakar esteja à altura de todos esses desejos.

(*) Adama Soumare (CADTM – Comitê pela Anulação da Dívida do Terceiro Mundo Senegal) e Olivier Bonfond (CADTM Bélgica)
NOTAS
[1] Fonte: “Prisioneiros do Deserto: investigação sobre a situação dos migrantes”: http://www.cimade.org/publications/47
[2] As taxa de desemprego era de 49% em 2008, segundo a Agência Nacional de Estaística e Demografia do Senegal http://www.cadtm.org/Adama-Soumare?lettre=O
[3] Fonte: http://www.banquemondiale.org/
[4] Fonte: Banco Mundial, Global Development Finance.
[5] http://www.destindelafrique.org/?p=8291
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Pesquisa revela que qualidade de vida em São Paulo ainda está longe do ideal

Pesquisa revela que qualidade de vida em São Paulo ainda está longe do ideal
Dados divulgados pela Rede Nossa São Paulo, nesta quinta-feira (20/1), mostram que 73% do itens avaliados pelos paulistanos receberam notas abaixo da média

Airton Goes airton@isps.org.br

Os resultados da pesquisa divulgadas nesta quinta-feira (20/1) pela Rede Nossa São Paulo, que inclui Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município – IRBEM, apontam que houve uma pequena melhora na percepção dos paulistanos sobre os itens relacionados à qualidade de vida na cidade. O nível de satisfação geral dos pesquisados com a metrópole passou de 4,8 (nota obtida no levantamento de dezembro de 2009) para 5,0.

A nova nota de satisfação geral, entretanto, ainda está abaixo da média, que é de 5,5. Além disso, 73% dos itens avaliados pelos moradores da cidade também receberam notas abaixo de 5,5. Na pesquisa, os entrevistados puderam atribuir notas de 1 a 10 para cada item (daí a nota média ser 5,5). “Houve um movimento [comparado ao levantamento anterior], mas [a nota] ainda está muito longe do ideal e esperado”, constatou Márcia Cavallari, do Ibope, que fez a apresentação dos dados.

Antes de mostrar os resultados da pesquisa, ela lembrou que o levantamento foi realizado entre 29 de novembro e 12 de dezembro de 2010, antes de começarem as enchentes e os alagamentos na cidade. “Certamente, isso tem reflexo na avaliação das pessoas”, ponderou. Em dezembro de 2009, quando ocorreu a pesquisa anterior, as chuvas já haviam começado e causavam problemas à capital paulista, especialmente na zona leste.

A pesquisa ouviu 1.512 moradores da cidade, entre os dias 29/11 e 12/12 de 2010, e a margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

O coordenador da Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew, destacou que a continuadade das pesquisas do IRBEM - que está em sua segunda edição - possibilitará o acompanhamento por parte dos cidadãos, para saber se qualidade de vida melhorou ou piorou na cidade. Segundo ele, o levantamento também é um instrumento importante para o poder público. "Isso [a pesquisa] é uma ‘mina de ouro’ para qualquer gestor que queira melhorar a qualidade de vida das pessoas.”

O lançamento da pesquisa começou com uma palestra do escritor e religioso Frei Betto. E entre os 280 participantes do evento, no Sesc Consolação, em São Paulo, estava o novo presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador José Police Neto (PSDB). Ele assumiu o posto no dia 1º de janeiro, prometendo abrir a Casa à participação da sociedade.

De acordo com a pesquisa, o Legislativo paulistano é a instituição menos confiável para os paulistanos: 36% dos pesquisados disseram confiar na Câmara Municipal. Embora ainda baixo, o índice registrou uma sensível melhora, pois na pesquisa de dezembro de 2009 a porcentagem dos que confiavam na instituição era de apenas 24%.

Veja abaixo alguns resultados da pesquisa:
Melhora da qualidade de vida
Para 44% dos entrevistados, a qualidade de vida “ficou estável” no último ano. Outros 34% responderam que “melhorou um pouco” e 13% disseram que “melhorou muito”. Apenas 6% afirmaram que “piorou um pouco” e para 3% “piorou muito”.
Na pesquisa anterior (dezembro de 2009), 45% haviam afirmado que “ficou estável” e 29% que “melhorou um pouco”. O índice dos que disseram que “melhorou muito” foi o mesmo (13%).

Saúde
Questionados sobre nível de satisfação com diversos itens relacionados à Saúde, os paulistanos atribuíram nota média 5,1 (numa escala de 1 a 10) para a área. A nota mais alta, de 7,0, foi para “campanhas de vacinação” e a mais baixa, de 3,4, para “tempo médio entre a marcação e a realização de consultas”.

Educação
A nota média dos paulistanos para os vários itens relacionados à Educação ficou em 5,0. O item “envolvimento das famílias na educação dos filhos” recebeu a nota mais alta, 5,3. Já a nota mais baixa, 4,8, foi atribuída para “acesso ao ensino superior de qualidade” e “respeito, valorização e reconhecimento aos profissionais de educação”.

Meio Ambiente
O nível de satisfação dos moradores da cidade com os itens relacionados ao meio ambiente obteve 4,9, de nota média. A pontuação mais alta, de 6,5, ficou com o item “sua consciência e responsabilidade ambiental”. As mais baixas foram dadas para “qualidade do ar”, que recebeu 4,0, e “despoluição e preservação de rios, lagos e represas”, que conseguiu apenas 3,9.

Mobilidade urbana
Nos itens que envolvem o transporte o trânsito na cidade, a nota média dos paulistanos foi de 4,2. O item “tamanho da rede de metrô” recebeu a nota mais alta: 6,2. Na outra ponta ficaram “tarifa do transporte público” e “respeito ao pedestre”, ambos com 3,6. “Qualidade das calçadas” (3,9), “quantidade de ciclovias na cidade” (3,7) e “segurança no trânsito” (3,7) também tiveram notas abaixo da média da área.

Satisfação geral
O nível de satisfação geral com a qualidade de vida em São Paulo recebeu avaliação 5,0. Nota ainda abaixo da média (que é 5,5), mas pouco superior à obtida na pesquisa anterior, que foi de 4,8.

Confianças nas instituições e órgãos públicos
De acordo com a pesquisa, as instituições em que a população deposita mais confiança são Corpo de Bombeiros, com 94%, e Correios, que obteve 92%.
As instituições com os menores índices de confiança entre os pesquisados são: Prefeitura de São Paulo (47%), Tribunal de Contas do Município (40%) e Câmara Municipal (36%).
Embora o número de paulistanos pesquisados que confiam nestas três instituições ainda seja menor do que os que não confiam, os indicadores apresentaram melhora em relação ao levantamento anterior.
Na pesquisa de dezembro de 2009, o percentual de paulistanos que confiavam na Prefeitura de São Paula era 38%, no Tribunal de Contas do Município 32% e na Câmara Municipal 24%.

Instituição que mais está contribuindo para melhorar a qualidade vida
Em resposta a este tema, o “Governo Federal” foi o mais citado pelos entrevistados, com 21%. Em segundo lugar ficou a “Igreja”, com 12%, e em terceiro a “Prefeitura de São Paulo”, com 10%. Os “Meios de comunicação” foram citados por 9% e o “Governo Estadual” por 6%.
Fonte: http://www.nossasaopaulo.org.br

África Rebelde - por Karima Bennoune

África Rebelde - por Karima BennouneDepois de mais de 23 anos no poder, o presidente da Tunísia, Zine el-Abidine Ben Ali, também chamado Zinochet, foi derrubado sexta-feira (14/1), após intensos protestos populares.

Eles começaram depois que Mohamed Bou’aziz, um desempregado com formação universitária, ateou fogo em si mesmo, em 17 de dezembro, em protesto desesperado contra o confisco, pela polícia, das mercadorias que vendia como ambulante. Ele morreria dias depois.

Bou’aziz jamais poderia imaginar as implicações de seu ato, apenas um mês depois. Seu sacrifício inspirou imensas manifestações que se espalharam pelo país, organizadas em parte graças ao uso inteligente do Twitter e Facebook. Elas defrontaram-se com a brutalidade das forças de segurança – mas a selvageria multiplicou o protesto. Manifestantes desarmados eram costumeiramente tratados com gás lacrimogênio. Muitos foram presos. Entre 70 e 80 pessoas foram mortas pela polícia, a balas ou devido a espancamento.

A revolução, pacífica e democrática (pelo menos por parte dos que a fizeram) não foi dirigida, nem inspirada, pelos movimentos fundamentalistas que tentam ocupar o espaço de oposição, em muitos países árabes e da África do Norte, nos últimos anos. Foi, ao contrário, um apelo amplamente secular para reforma política e justiça social. Como mostram as imagens, mulheres, muitas delas sem véu, tornaram-se cada vez mais visíveis nas marchas de protesto.

Pode-se esperar que esta vitória inicial do povo da África do Norte sirva de exemplo sobre o que é possível em outros países da região. É o que Noam Chomsky chamou de ameaça do bom exemplo. Um ditador foi derrubado pela revolta popular. Agora, nenhum ditador está a salvo.

A esperança é uma força poderosa e incandescente. Esperança política tem sido um bem muito raro, nesta parte do mundo. A revolução desencadeada pelo gesto de Bou’aziz pode tê-la resgatado. Mas, assim como o poder da esperança, também não se deve subestimar o perigo das esperanças não realizadas.

O futuro imediato da Tunísia ainda não está claro. Mohammed al-Ghannuchi, o primeiro-ministro também no poder desde 1999, assumiu a presidência desde a fuga do presidente depoisto, Ben Ali, a quem a Arábia Saudita deu as boas-vindas. Foi declarado Estado de Emergência, com soldados a postos em prédios públicos, tanques nas ruas de Tunis e proibições de encontros públicos.

O governo precisa responder às reivindicações que provocaram o levante popular – criação de empregos, atendimento das necessidades da população, distribuição de riqueza, garantia da liberdade de expressão e associação, criação de instituições democráticas – o que é muito distinto de uma maquiagem para preservar o atual regime. A comunidade internacional, e o governo dos EUA, deveriam apoiar este processo.

O maior impacto externo das transformações na Tunísia poderia manifestar-se na vizinha Argélia, que visitei duas vezes no último outono, e que foi palco de levantes esparsos e esporádicos, em 2010. O país acaba de viver uma semana de protestos juvenis intensos e generalizados, aparentemente resultantes da revolta – por muito tempo represada – com alto desemprego, corrupção, desigualdades e la hogra, a arrogância com que as autoridades frequentemente tratam os cidadãos comuns. No entanto, a estopim imediato poderia ser o aumento agudo do preço de gêneros como óleo de cozinha e açúcar, no começo do ano. Vale ler este artigo, da jornalista Chawki Amari, em El Watan, um dos maiores jornais argelinos.

Algumas análises sugeriram que os distúrbios iniciais podem ter sido provocados – talvez por interesses privados que controlam os mercados de açúcar e óleo e estão descontentes com as medidas regulatórias adotadas pelo governo argelino. É difícil dizer. Mesmo que tenha sido assim, a revolta popular legítima ultrapassou claramente o complô inicial. Alguns – apenas alguns – dos protestos recentes tornaram-se violentos, quando jovens atiraram pedras na polícia e em carros, queimaram pneus e saquearam lojas. Infelizmente, as vias para o protesto pacífico estão bloqueadas na Argélia, devido à imposição contínua, desde 1992, do Estado de Emergência.

Um exemplo: depois dos protestos das últimas semanas, um grupo cívico denominado Associação Intercomunal de Aïn Benian-Stao tentou organizar um encontro pacífico na cidade costeira de Staoueil, a cerca de 20 quilômetros de Argel. Seus esforços foram frustrados por prisões “preventivas”. O escritor e jornalista argelino Mustapha Benfodil, que procurava cobrir o evento, está entre os detidos. Ele relatou mais tarde suas experiências no El Watam. Como observa, os “encarcerados pela polícia eram suspeitos da acusação kafkiana de ‘tentativa de encontro pacífico’”… Eles foram libertados, mas muitos outros jovens manifestantes continuam presos, em dodo o país.

As raízes da lei de emergência argelina assentem-se na terrível luta contra o fundamentalismo armado, que se desenrolou nos anos 1990 e provocou 200 mil mortes. O terrorismo continua a ser uma ameaça real, em face das atividades da Al Qaeda na região do Magreb. Mas as regras de emergência atuais atingem frequentemente críticos do governo que nada têm a ver com o terror. (Durante a recente onda de protestos, os esforços dos fundamentalistas para cooptar os manifestantes resultaram em enorme fracasso). Na prática, o governo argelino usa agora o Estado de Emergência para banir reuniões públicas de qualquer tipo.

Visitei Argel no final de novembro, para participar de um encontro sobre um projeto de lei contra a violência sobre as mulheres. A atividade, que ocorreria no Hotel Safir, foi oficialmente desautorizada na véspera. Ocorreu discretamente, numa pequena sala em local mais remoto, o que impediu que muitos participantes comparecessem. É chocante que um encontro de mulheres que se unem para enfrentar a violência sexual tenha de obter permissão oficial. Quem, exatamente, está sendo protegido por uma legislação “de emergência” em tal cenário?

Para a oposição democrática da Argélia, o desafio atual é encontrar um meio de converter a explosão juvenil das últimas semanas em mudança política positiva; e ampliar a sopro de energia que vem da vizinha Tunísia. Segundo o escritor Benfodil, a primeira tarefa exige a mobilização da sociedade civil, sindicatos, intelectuais, classe média, ONGs e outros, “para transformar este inverno impetuoso numa primavera democrática”.

Alguns analistas avaliam que será difícil alcançar transformação política real na Argélia, um país onde o governo controla os recursos materiais relevantes e os usa seletivamente, para calar setores da população. Mas as tentativas de reivindicar abertamente mudanças prosseguem, como testemunha uma recente manifestação pacífica da juventude em Argel. Resta verificar quais serão os impactos dos ventos que varrem a Tunísia. Bou’aziz, o homem que se imolou, teve poucas oportunidades de influir na sociedade em vida. Após sua morte, porém, ele pode ter ajudado a mudar não apenas seu país, mas toda a região.

* Karima Bennoune é advogada e professora de Direito Internacional e Direitos Humanos, na Rutgers University. Escreve o blog Intlawgrrls, onde este texto foi originalmente publicado
Fonte: http://www.outraspalavras.net