quarta-feira, 31 de março de 2010

Os corpos das mulheres como campo de batalha - ANA


Os corpos das mulheres como campo de batalha

Depois de uma recente viagem à Palestina, fiquei fortemente impressionada com o altíssimo índice de natalidade existente entre as mulheres palestinas. Elas, nas reuniões que mantivemos com as suas associações, explicavam-no como uma nova forma de luta pelos seus direitos, como um novo feminismo, além de ser considerado como um dever patriótico. Mas, apesar disso, custava-me muito a entender até que passados uns dias li, num documento que caiu em minhas mãos, que a verdadeira questão é outra. Trata-se de uma estratégia política para poder manter a separação demográfica com Israel. Desta maneira também integram a luta contra o Estado ocupante, no seu próprio corpo de mulheres.

Tendo em conta que Israel também realiza políticas ativas para o crescimento demográfico, deparamo-nos com o fato de que tanto os dirigentes palestinos como os judeus estão a utilizar os corpos das mulheres como campos de batalha, sem ter em conta as suas próprias decisões pessoais, nem o direito de poder decidir sobre o seu próprio corpo. Deste modo posso entender o grande número de meninas e de meninos palestinos mortos na ofensiva de Gaza. Não se trata só de destruir, trata-se de matar gente, para assim evitar que no futuro continuem a reproduzir-se. Parece-me tudo tão complicado, tão agressivo, tão doloroso, que embora entendendo-o, continuo a achá-lo uma barbárie.

Nós, mulheres, temos direito a decidir livremente sobre o nosso corpo e nenhum Estado nem nenhuma estratégia deverá impedir-nos de sermos senhoras absolutas dele. Mas vejo que não é assim e que continuam usurpando a nossa intimidade, a nossa capacidade reprodutora em nome dos interesses de outros. E, o que é pior, tudo isso negando-nos a capacidade de ter prazer.

E de novo surgem da escuridão, como fantasmas, os dogmas das religiões, de qualquer delas. São eles, os dogmas, os ritos e as crenças religiosas que impedem as pessoas de terem uma certa objetividade no olhar à sua volta, tornando-as sectárias e dogmáticas, dispostas a tudo para defender esse deus que representa a sua essência vital. Devido a esse sectarismo religioso, de qualquer cor, têm surgido guerras e ao longo da história sempre se repetiu o mesmo padrão: a defesa intransigente dos éditos religiosos contra outras crenças ou contra o questionamento desses mesmos éditos.

E tanto derramamento de sangue sempre tem levado, em paralelo, à utilização dos corpos das mulheres, quer como armas de guerra, com violações e humilhações de todos os tipos, ou fazendo-as parir para dar mais filhos à causa em jogo. Ou acaso não recordamos a limpeza étnica da última guerra dos Bálcãs?

As mulheres eram violadas, raptadas e forçadas a parir em condições tão terríveis para as “desonradas” perante as suas famílias… e aceitar um filho, neto ou sobrinho, engendrado pelo agressor?

É terrivelmente doloroso para mim ter que aceitar que estes acontecimentos ocorrem, que estão ocorrendo agora mesmo em qualquer conflito armado ativo no planeta. Pensar nos corpos das mulheres como campos de batalha onde se redimem conceitos como Estados, comunidades, ou congregações, parece-me uma barbaridade difícil de aceitar, mas é o que está a acontecer. A dor da aceitação desta realidade implica um compromisso contra tais situações. E uma maneira de combater essa realidade inaceitável é dando-a a conhecer na sua plenitude.

Assim, as mulheres da Palestina, e tantas outras mulheres do mundo, continuarão a ver arrebatarem-lhes a decisão sobre algo tão íntimo como o seu corpo, e sobre a sua relação com ele, assim como a decisão de serem mães ou não, continuarão a serem usadas como campo de batalha onde construirão a ansiada nação palestina livre, mas a que preço?

Tere Molla

tmolla@teremolla.net

Fonte: El Libertário Nº58 - Venezuela

Tradução > Liberdade à Solta

agência de notícias anarquistas-ana

Manchas de tarde
na água. E um vôo branco
transborda a paisagem.

Yeda Prates Bernis

"O capitalismo foi atacado como grande explorador animal" - Por ANA


"O capitalismo foi atacado como grande explorador animal"

["O interessante do encontro foi que houve bastante crítica ao movimento de libertação animal", diz a jovem eco-anarquista Ellen Vicious, sobre o 1º Encontro de Libertação Animal, que aconteceu em Montevidéu, no Uruguai, em 22, 23 e 24 de janeiro de 2010. Leia abaixo a entrevista que ela concedeu à ANA a respeito deste evento.]

Agência de Notícias Anarquistas > O que te levou a participar do 1º Encontro de Libertação Animal em Montevidéu?

Ellen Vicious < Recebi a divulgação do encontro uns 8 meses antes do encontro, através de pessoas libertárias. Quando entrei no blog do encontro e vi as propostas de atividades já confirmadas me animei muito para ir, pois havia temas como "Autocrítica ao Movimento de Libertação Animal", "Libertação Animal e Anticivilização", oficinas diversas, "Bem-estarismo, Abolicionismo e Veganismo – a partir de uma postura anti-autoritária" que me interessavam bastante. Entrei em contato com o/as organizadore/as para propor uma oficina/bate-papo e começamos a trocar várias idéias, então descobri que este/as organizadore/as tinham bastante coisas em comum com minhas aspirações políticas; confesso que isso foi muito importante para fortalecer minha vontade e planejar a ida ao encontro.

Anteriormente de ir ao encontro no Uruguai estive na Argentina e no Chile, e nesses lugares estivemos com várias pessoas bastante interessantes que manifestavam interesse em ir ao encontro; isso também me motivou a ir.

ANA > Onde foi realizado o encontro? Muita gente participou? De que lugares?

Ellen < Por alguns motivos, o lugar do encontro teve que ser mudado uma semana antes de sua realização. Um grupo de pessoas anarquistas muito especiais se solidarizou com o encontro e disponibilizou sua casa/terreno para que ele acontecesse. Esta casa fica no município de Canelones, próximo à Montevidéu. Esta casa foi alugada, e posteriormente comprada, para moradia e realização de atividades sócio-ambientais com a comunidade; lá funciona uma horta e um espaço onde as pessoas podem propor e organizar atividades.

A princípio haviam 150 pessoas já confirmadas, de toda América Latina. Porém, por esse inconveniente muita gente desistiu de ir. Ao longo dos 3 dias de encontro, fomos 100. Haviam pessoas de Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, México, Colômbia e Bolívia.

A organização da cozinha, da limpeza e do espaço foi feita pelo/as próprio/as participantes voluntariamente; para que não sobrecarregasse ninguém e que todo/as pudessem ajudar sem perder as atividades, fizemos um quadro com os horários e tarefas que deveriam ser feitas e quantas pessoas seriam necessárias, assim quem quisesse colocaria seu nome na tarefa que gostaria de realizar, no horário sugerido, e se juntavam para fazê-la.

ANA > E a participação das mulheres foi grande?

Ellen < Sim, havia um equilíbrio no número de participantes. Muitas meninas participavam e opinavam nos debates, embora eu ainda notei maior intervenção vinda dos meninos. Porém, em atividades de limpeza e cozinha sempre tinha a presença masculina.

ANA > E as crianças...

Ellen < Infelizmente não rolaram atividades exclusivas para crianças. Havia 3 crianças: uma bebê de uns 7 meses, outra de 4 meses, e outra de 1 ano. Das três, apenas uma é vegana, as outras meninas são vegetarianas. Nas conversas “paralelas”, puderam trocar experiências sobre as crias; eu gosto bastante de crianças e estava sempre perto delas ouvindo sobre suas criações e perguntando várias coisas também. (risos)

ANA > Participaram do encontro pessoas de várias idades?

Ellen < Sim, houve participação de pessoas com idades e experiências variadas.

ANA > E quais as principais temáticas abordadas no encontro?

Ellen < A princípio haviam sido propostos uns 10 temas. Os temas propostos, confirmados e realizados foram: “AutoCrítica ao Movimento Vegano/de Libertação Animal” (foram divididos grupos de debate: "Pseudoargumentos", "Leis e Mercadoria", "Ação Direta e Espetacularização", "Animais de Estimação"); “Libertação Animal e Meios de Comunicação Alternativos”; Bate-papo sobre “Permacultura, Transgênicos e Libertação Animal”; “Veganismo, Dogmatismo, Purismos e as Contradições do Mesmo na Sociedade”; “Ecofeminismo e Libertação Animal”; e muitíssimas conversas paralelas e trocas de receitas. (risos)

Em todos os debates quase todas as pessoas presentes participaram, e rendeu bastante conversa. O interessante do encontro foi que houve bastante crítica (como se nota nos temas das conversas) ao movimento de libertação animal, saindo do costume de falar do orgulho de ser vegano, e passar a ver outras possibilidades de ação, o envolvimento do veganismo em outras lutas sociais, etc.

ANA > Destacaria alguma discussão?

Ellen < Não descartaria nenhuma. Em várias tiveram pontos conflitivos, o que foi bom, porque a proposta do encontro era de não criar consenso sobre tudo. Afinal, só na tensão surgem coisas.

Me lembro bem de um grupo de discussão que participei, onde o tema era “Mercadoria e Lei”. Haviam pessoas totalmente contra o uso do recurso legalista como ferramenta pela libertação animal, e argumentavam que o Estado dá leis somente quando lhe convém, portanto é um reformismo que não interessa ao movimento para alcançar uma mudança significativa; e haviam pessoas que sim usavam essa ferramenta e achavam muito importante para a diminuição imediata da exploração animal.

Outra discussão “acalorada”, foi sobre os purismos do veganismo em relação à reciclagem. Por exemplo, consumir ou não produtos de origem animal sendo eles encontrados no lixo.

ANA > E qual o balanço que você faz dessa jornada? Como vivenciou essa experiência e que impressões levou do evento?

Ellen < Tentei participar de todos os debates, além das tarefas do lugar, conhecer gente de tantos lugares, trocar e conhecer muitos materiais, informativos, coletivos, etc.

Realizar e participar de encontros são muito importantes, pelo simples fato de encontrar-se, de criar espaços de discussões, onde pessoas possam se olhar, escutar experiências alheias, fazer uma auto-avaliação, perceber o quão diferente uma mesma idéia pode ser entendida e praticada de várias maneiras e lugares tão diferentes.

Confirmei minha impressão de que o movimento de libertação animal precisa amadurecer bastante nesse âmbito da crítica ao modo de vida pós-industrial.

Na assembléia final, algumas pessoas manifestaram o interesse de realizar um 2º encontro futuramente (a Bolívia é forte candidata!), para seguir levantando questões e crescendo como movimento, sem perder o viés político do veganismo. Nenhum manifesto, informativo, ou panfleto foi editado coletivamente após o encontro, e não foi tirado nenhuma tarefa ou acordo.

ANA > Este evento teve um caráter mais ativista, sem hierarquias, e não de especialistas, acadêmicos, certo? (risos)

Ellen < Exatamente. (risos) Desde o início foi divulgado de uma maneira bem diferente de Congressos, Festivais e encontros que vemos por aí. Não havia taxa de inscrição, não havia apresentação de grandes teses de doutorado, não havia grandes e caros banquetes veganos, nem sugestão de hotel para dormir. Acho que isso influenciou para que muito/as intelectuais da libertação animal não tivesse interesse em participar.

ANA > E o anticapitalismo permeava as discussões?

Ellen < Sim, muitas vezes o capitalismo foi atacado como grande explorador animal, porém as discussões estavam bem lúcidas; se criticou o capitalismo verde e a possibilidade do próprio capitalismo se tornar livre da exploração animal, com esse possível novo nicho de mercado.

Muitas vezes se criticou o consumismo vegano (e orgânico também), essas novas marcas de produtos “livres de crueldade” que enchem as prateleiras dos supermercados de classe média alta, desde tofu até shampoo; questionou-se o valor que um/a produtor orgânico precisa pagar para obter um selo de orgânico, ou até mesmo que uma produção orgânica pode ser uma monocultura com trabalhadore/as explorado/as.

ANA > Houve algum problema com a repressão estatal antes e durante o encontro?

Ellen < O encontro aconteceu tranquilamente sem nenhum problema externo, todas as atividades aconteceram como antes planejadas. A organização local do encontro teve um problema bastante tenso uma semana antes do encontro. O dono da chácara onde se iria realizar o encontro recebeu a ilustre visita de um investigador da Interpol, fazendo perguntas à mãe do rapaz e vasculhando a casa, pois o mesmo não se encontrava. Com uma intimação deixada por esse investigador, ele se dirigiu até o escritório da Interpol em Montevidéu, onde foi interrogado. A Interpol queria saber se o rapaz sabia fazer bombas, porque este encontro ia ser realizado em sua propriedade, quantas pessoas viriam, se ele conhecia integrantes da ALF (tinha uma lista de 200 nomes de pessoas de todo mundo, perguntando insistentemente sobre pessoas de São Paulo e Espanha); o rapaz insistia que não sabia de nada disso, que o encontro não tinha nenhuma intenção de promover ações diretas violentas, que a intenção não era mais que a de promover um encontro com debates, oficinas, etc. Os investigadores liberaram o rapaz sem conseguir dele muita coisa, e não voltou a incomodar ninguém, nem mesmo durante o encontro.

Devido a esse grande inconveniente, esse rapaz desistiu de emprestar sua chácara (gerando todo o problema descrito acima), cancelando assim, o lugar antes confirmado para o encontro, diversas oficinas e debates e participantes do encontro.

ANA > Para finalizar, alguma história engraçada para contar deste evento?

Ellen < Muitas vezes era engraçado quando tinham grupos de brasileiro/as, chileno/as, argentino/as e uruguaio/as conversando. A quantidade de sotaques, gírias e línguas tentando se entender. Algumas pessoas não acham isso engraçado, mas eu achava e me divertia bastante com isso!

ANA > Mais alguma coisa?

Ellen < Bom, o encontrou resultou em uma série de atividades que estamos organizando em Santo André, São Paulo e Belo Horizonte, em formato de traduções, debates, conversas, etc. Como já disse, a importância que tem o fato de encontrar-se, questionar-se, topar-se com outros pontos de vista, para assim criar os conflitos e dúvidas que nos fazem avançar. Espero que cada vez mais as pessoas saiam de suas bolhas e expressem, compartilhem e debatam idéias.

agência de notícias anarquistas-ana

O espantalho –
na minha infância
primeiro amigo

Stefan Theodoru

Estado Assassino: Israel mata adolescente e fere 6 palestinos em protesto pacífico


Israel mata adolescente e fere 6 palestinos em protesto pacífico
Por Daniella Cambaúva

O jovem palestino Mohamed al Farmawi, de 15 anos, foi assassinado por militares israelenses hoje (30), segundo testemunhas, enquanto participava de uma manifestação pacífica na Faixa de Gaza contra a ocupação dos territórios palestinos por Israel. O crime aconteceu em Rafah, na fronteira com o Egito.

Testemunhas citadas pela BBC relataram que o adolescente foi atingido quando se aproximava da barreira que separa Gaza do Estado judeu. É comum que jovens palestinos estejam na fronteira para trabalhar ou para fazer compras. O corpo do menino foi imediatamente removido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Em outro protesto, em Khan Yunes (zona sul da Faixa de Gaza), os manifestantes agitavam bandeiras palestinas e levantavam cartazes com frases contra o bloqueio israelense, sem tentar entrar em Israel, quando soldados israelenses começaram a disparar das torres de controle e de carros blindados na fronteira. Pelo menos seis manifestantes ficaram feridos e um deles está em estado grave, segundo a emissora britânica BBC.

Os protestos marcavam o tradicional Dia da Terra Palestina, data que, desde 1976 lembra, a morte de seis palestinos com cidadania israelense durante uma manifestação.

Um novo comitê formado por grupos de esquerda palestinos em Gaza começaram recentemente a organizar protestos semanais perto da fronteira com Israel. A manifestação de hoje, porém, teve mais adeptos por causa da data simbólica, além do bloqueio israelense, que impede que agricultores da Faixa de Gaza trabalhem em suas terras.

Negação
Apesar de as testemunhas afirmarem que os disparos vieram de soldados de Israel, o exército israelense garantiu não ter relação com o que aconteceu hoje.

Na última sexta-feira (26), Israel invadiu e posicionou forças militares na Faixa de Gaza após uma incursão noturna, motivada pela morte de dois soldados israelenses e que vitimou um palestino. Esse foi o pior enfrentamento desde a operação “Chumbo Fundido”, em que 1,4 mil palestinos e 13 israelenses morreram, concluída em janeiro de 2009.

Fonte: http://www.operamundi.com.br/

Fim da tortura: Animais de abrigos não serão mais usados em experimentos em Utah, nos EUA - Por ANDA

Animais de abrigos não serão mais usados em experimentos em Utah, nos EUA31 de março de 2010
Por Raquel Soldera (da Redação)

Graças aos e-mails, cartas e telefonemas de milhares de defensores dos animais, os legisladores de Utah votaram, com esmagadora maioria, a alteração de uma lei estadual que determina que abrigos de animais não são obrigados a entregar cães e gatos para laboratórios, para serem usados em experimentos cruéis e mortais.

No sábado, 27, o governador de Utah, nos Estados Unidos, assinou um projeto de lei que determina que os abrigos de animais não são mais obrigados a entregar os animais para uso em experimentos cruéis.

A nova lei também aumenta o período de que os animais podem ficar nos abrigos e aumenta os seus esforços para encontrar os tutores dos animais perdidos.

Gato utilizado em experimento na Universidade de Utah (Foto: PETA)

Estas mudanças positivas têm a influência de uma denúncia recente da organização em defesa dos animais PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais), que mostrou o que acontece com os animais dentro dos laboratórios da Universidade de Utah.

As imagens revelaram cenas chocantes, onde todos os anos, mais de 100 cães e gatos abandonados, oriundos de abrigos de animais em Utah, são vendidos para a universidade para serem utilizados em experimentos invasivos, dolorosos e mortais.

Uma das imagens mostra filhotes de gatos sendo injetados com substâncias químicas em seus cérebros, fazendo com que o líquido se acumule no interior de suas cabeças. Todos os filhotes morreram.

Para assistir ao vídeo divulgado pela PETA, clique aqui (em inglês).

Com esta nova lei, os animais de estimação de Utah podem ficar um pouco mais tranquilos. No entanto, ainda é preciso que a população se conscientize sobre a crueldade no abandono de aninais, deixando-os à própria sorte nas ruas, sem moradia e alimentação, sujeitos a doenças, fome, frio, e maus-tratos. Os animais são seres sencientes como nós, e devem ter seus direitos à vida, liberdade e não-tortura respeitados.

Com informações de PETA

Fonte: http://www.anda.jor.br/

FMI: resgate para a Grécia – Por Latuff

terça-feira, 30 de março de 2010

O guerreiro Obama e o peixe fora d'água - Frei Betto


O guerreiro Obama e o peixe fora d'água

Obama é uma decepção! Recebeu imerecidamente o Nobel da Paz - um presidente que guerreia o Iraque, o Afeganistão e o Paquistão - e, em discurso de agradecimento, pronunciou a palavra "guerra" 49 vezes!

Obama apoiou o governo golpista de Micheletti em Honduras e, agora, ocupa militarmente o Haiti, sob pretexto de socorrer as vítimas do terremoto, e militariza a América do Sul através da implantação de sete novas bases usamericanas na Colômbia, onde já operam seis.

Só mesmo um ingênuo acredita que os 800 soldados e os 600 civis made in USA que se instalam na Colômbia têm por objetivo combater o narcotráfico e o terrorismo. Desde 1952 os EUA se fazem presentes na Colômbia sob o mesmo pretexto; nem por isso houve redução do tráfico de drogas, consumidas em grande quantidade pela população usamericana.

O objetivo da IV Frota é desestabilizar o governo Chávez, manter sob vigilância o Equador governado por Rafael Correa, dificultar as vias aéreas e terrestres entre Venezuela, Equador, Bolívia e Paraguai, e controlar as fronteiras com o Brasil.

O governo usamericano empenha-se em reforçar sua hegemonia no planeta. Hoje, ele mantém 513 bases militares na Europa; 248 na Ásia; 36 no Oriente Médio; 21 na América Latina; 5 na África. Total: 823, que ocupam uma superfície de 2.863.544 km2.

Sabem quantas bases militares estrangeiras há nos EUA? Nenhuma.

As tropas estadunidenses gozam de imunidade judicial e tributária nos países que operam e dispõem da mais moderna tecnologia bélica, desde aeronaves não tripuladas, conhecidas por UAS (Unmanned Aircraft System) aos aviões F15 Strike Eagle com velocidade de 2.660 km/h, autonomia de voo de 5h15min e capacidade de voar a 18 mil metros de altura.

Porém, não é só com equipamento bélico que os EUA cuidam de dominar o mundo. Utilizam, sobretudo, recursos ideológicos, como as produções cinematográficas hollywoodianas tipo "Avatar", que visam a nos convencer de que a salvação vem de fora e vem de quem possui mais tecnologia e ciência...

Na última semana de janeiro estive no Equador participando de um evento que reuniu povos indígenas de quase toda a América Latina. Eles se sentem ameaçados, inclusive pelos novos governos democráticos-populares. À exceção de Evo Morales, difícil para os demais governantes reconhecerem que os povos indígenas têm direito à língua, cultura, sistemas econômico e escolar, métodos de produção e terra próprios.

Isso lembra uma antiga parábola oriental: ao observar que o macaco tirou o peixe da água e o colocou no cimo da árvore, a águia perguntou-lhe por que fizera aquilo. O macaco respondeu: "Para que possa respirar melhor e não morrer afogado."

É esse nosso colonialismo entranhado, essa nossa subserviência aos "valores" consumistas do mundo ocidental, essa reverência ao "american way of life", essa convicção de que a felicidade reside na posse de bens finitos e não de valores infinitos, que nos faz tirar o peixe do rio para que possa respirar melhor...

*Frei Betto é um escritor e religioso dominicano brasileiro. Artigo originalmente publicado na Adital

Fonte: www.operamundi.com.br

CATACUMBAS DO SILÊNCIO: A "Legião" desmorona, ninguém noticia - por Alberto Dines


CATACUMBAS DO SILÊNCIO: A "Legião" desmorona, ninguém noticia

Por Alberto Dines em 30/3/2010

Na sexta-feira (26/3), em Roma, o comando da Legião de Cristo rendeu-se às evidências sobre a vida dupla ou tripla do seu fundador, o padre mexicano Marcial Maciel (1920-2008). Num breve comunicado admitiu, consternado, que "são certas as acusações contra o padre Maciel, entre as quais se incluíam abusos sexuais a seminaristas menores". O comunicado renegando o seu fundador foi assinado pelo atual diretor-geral da ordem, Álvaro Corcuera.

A inédita proclamação foi para a primeira página dos jornais europeus de sábado (27). O prestigioso El País dedicou-lhe duas páginas, uma delas com enorme foto do pontífice João Paulo II recebendo em audiência o sacerdote mexicano que tanto apreciava e tanto estimulou.

O padre Maciel não era apenas um assumido pedófilo (El País prefere usar a nomenclatura técnica: pederasta). Também abusou de seus filhos quando eram pequenos. Filhos? Além do pecado da sodomia, Marcial Maciel, quebrou os votos de castidade e viveu maritalmente com Blanca Estela Lara (que conheceu quando tinha 18 e ele 56 anos), com quem teve três filhos.

A família apareceu há dias na TV mexicana e uma das crianças, agora adulto, contou com escabrosos pormenores com o seu pai tentou violá-lo e o obrigava a masturbá-lo.

Biografia imaculada
Nossos jornais e revistas não têm correspondentes no México. Mas têm em Roma. Nada disso foi publicado aqui nem no sábado, nem no domingo. A Legião de Cristo funciona no Brasil desde 1985. Em 2006, quando Bento XVI determinou que Marcial Maciel (então com 84 anos) se dedicasse apenas às orações e penitências, o caso foi escondido. Não era notícia. Esta é uma das centenas de não-notícias que uma imprensa engajada e assumidamente confessional como a nossa não se sente obrigada a publicar.

É preciso lembrar que Maciel não era apenas um pecador (na linguagem religiosa), criminoso (em termos jurídicos) ou um tarado (em linguagem corrente) – era um militante político de extrema importância. A ordem dos Legionários de Cristo (fundada em 1941) era o braço armado da direita católica. Prosperou durante a longa ditadura franquista na Espanha e expandiu-se no Novo Mundo apoiada por uma igreja identificada com o que havia de mais conservador no espectro político.

A ordem conta hoje – segundo El País – com 900 sacerdotes, 3 mil seminaristas e 70 mil membros laicos espalhados por 18 países, Estados Unidos inclusive. Tem educandários, universidades e conta com formidáveis apoios empresariais.

De acordo com Garry Wills (historiador emérito, jornalista premiado, autor de 40 livros), a Legião de Cristo aparece nos créditos da famigerada produção de Mel Gibson, A Paixão de Cristo, e, junto com a Opus Dei, tentou extrair do Vaticano um endosso espiritual para o filme (The New York Review of Books, 8/4/2004; ver aqui, em inglês).

Importante registrar que as duas organizações e seus fundadores assemelham-se tão somente no aspecto ideológico e no incentivo que receberam do Vaticano. Josemaria Escrivá de Balaguer (1902-1975), criador da Opus Dei, canonizado em 2002, tem uma biografia imaculada. A de Maciel é a de um patife: além das imoralidades pessoais, passava-se por alto funcionário da Shell e agente da CIA.

Silêncio obsequioso
A confirmação das heresias e apostasia de Marcial Maciel veio muito tarde. Há 13 anos, um canal de TV mexicano (CNI Canal 40) preparou uma longa reportagem sobre os abusos cometidos por Maciel. O diretor do programa, jornalista Ciro Gomez Leyva convidou Legionários a contestar as acusações. A partir daquele momento a pressão da Igreja mexicana e da própria presidência da República tornou-se brutal. O documentário foi ao ar, mas no dia seguinte iniciou-se um bloqueio publicitário contra a emissora.

"Um dos mais vergonhosos casos de censura da história do México", relembra Leyva. "O poder e a fortuna dos Legionários de Cristo conseguiram, durante anos, converter o sofrimento de dezenas de vítmas em conspirações falsas e infundadas" (El País, 27/3/2010, págs. 28-29).

Vergonhoso também é o comportamento da imprensa brasileira (exceto Veja), que até hoje não conseguiu dar seqüência à reportagem de Roberto Cabrini emitida no SBT no dia 11/3 sobre os abusos sexuais praticados por um monsenhor em Arapiraca (AL) (ver, neste Observatório, "Crimes sem punição" "Começou o outono ou é uma primavera?").

***
Sobre a histeria anticatólica e cumplicidades

Com chamada na primeira página, a Folha de S.Paulo publicou na terça-feira (23/3) um artigo do seu colaborador João Pereira Coutinho com o título "Padres e pedófilos", a respeito da onda de notícias sobre abusos sexuais cometidos por sacerdotes católicos.

O articulista pede que a justiça se manifeste, "estes crimes não têm desculpa ou justificação (...) mas não é apenas a justiça que tem de fazer o seu caminho. O jornalismo preguiçoso também deveria trilhar o seu, separando a histeria anticatólica da verdade criminal".

Em que segmento da imprensa brasileira – tão calada, omissa e cúmplice – encontrou o ilustre articulista uma histeria anticatólica?

Quem se encarregou de responder foi a própria Folha, primeiro jornal brasileiro a manifestar-se em editorial sobre a questão dos padres pedófilos:

"Lançar luz sobre casos de pedofilia e exigir sua punição nada tem a ver com preconceito anticlerical ou com algum tipo de campanha contra a igreja – como afirmou, tipicamente, a imprensa oficial do Vaticano. (...) Nenhuma instituição, por mais veneranda que seja, está a salvo da investigação e do julgamento público; ainda mais quando se acumulam indícios de que sua autoridade e prestígio facilitam a realização, a continuidade e o acobertamento de atos da mais pura infâmia." ("Imperdoável", domingo, 28/3, pág A-2)

Leia também

Matérias do El País sobre o assunto (em espanhol):

Los Legionarios de Cristo admiten que su fundador cometió abusos sexuales

¿Pornografía Informativa? – Gabriela Warkentin

La increíble vida de Marcial Maciel – Juan G. Bedoya

Los Legionarios reniegan de su fundador – Pablo Ordaz

Sepulcros blanqueados – Juan Árias

Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/

Infiltração e repressão: Serra repete práticas de Yeda - Por Marco Aurélio Weissheimer


Infiltração e repressão: Serra repete práticas de Yeda

A prática de infiltrar policiais em manifestações e atos políticos, aplicada várias vezes contra sem terras, professores e servidores públicos no Rio Grande do Sul, é repetida agora em São Paulo pelo governo José Serra. Do mesmo modo se repetem as acusações de que os professores em greve seriam “baderneiros” e responsáveis pelos conflitos com a polícia. A decisão do PSDB de São Paulo de entrar na Justiça contra o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo também segue a mesma cartilha utilizada pelo governo Yeda no RS, onde ativistas, jornalistas e dirigentes sindicais são alvo de vários processos.

Marco Aurélio Weissheimer - Data: 30/03/2010
O governo José Serra (PSDB) adotou as mesmas táticas policiais utilizadas pela também tucana Yeda Crusius no Rio Grande do Sul. Integram essas táticas, entre outras, duas medidas básicas: reprimir violentamente protestos e manifestações de ruas e infiltrar policiais a paisana nestes protestos e manifestações. O episódio da foto onde um homem carrega uma PM ferida nos protestos de 26 de março expôs, involuntariamente, esse tipo de prática.

Inicialmente, um texto do jornalista Leandro Fortes reproduziu a versão difundida pela Agência Estado dando conta de que o homem era um manifestante que participava do ato dos professores. Diante da repercussão causada pela foto, dois dias depois, o comando da PM de São Paulo divulgou uma nota garantindo que se tratava de um policial à paisana “que estava passando por ali por acaso”. A PM negou tratar-se de um “infiltrado”, mas negou-se a divulgar o nome do mesmo o que só reforça a tese de que se tratava de um homem do chamado “serviço de inteligência” da polícia.

Uma das regras básicas do trabalho desse “serviço de inteligência” é não ser identificado publicamente. Vale tudo para assegurar o anonimato, desde disfarçar-se de manifestante ou mesmo de jornalista. No dia 30 de abril de 2009, um homem, apontado por manifestantes como sendo agente da PM2, o serviço secreto da Brigada Militar (a PM gaúcha), usou indevidamente o nome da Carta Maior ao infiltrar-se em uma manifestação de servidores públicos contra o governo Yeda Crusius, em Porto Alegre, e fazer fotos dos manifestantes.

Não foi a primeira vez que servidores de órgãos de segurança disfarçaram-se de fotógrafos no Rio Grande do Sul, identificando-se como profissionais de imprensa para espionar manifestações de sindicatos e movimentos sociais. Em geral, essa prática conta com a cumplicidade (pelo silêncio) da imprensa local, que tem conhecimento da mesma, mas não fala no assunto.

O papel dos infiltrados é duplo: recolher informações e fazer fotos de manifestantes, por um lado; e, eventualmente, dar início a provocações que levem a distúrbios e conflitos que, posteriormente, serão atribuídos aos manifestantes. Essa prática, aplicada várias vezes contra sem terras, professores e servidores públicos no Rio Grande do Sul, é repetida agora em São Paulo com as acusações de que os professores em greve seriam “baderneiros” e responsáveis pelos conflitos com a polícia.

A decisão do PSDB de São Paulo de entrar na Justiça contra o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo também segue a mesma cartilha utilizada pelo governo Yeda no RS. Segundo a representação encaminhada em conjunto pelo PSDB e pelo DEM, “o movimento se organiza em torno de palavras de ordem e outras manifestações que tendem a interferir no âmbito eleitoral, partidarizando o movimento”.

No Rio Grande do Sul, dirigentes sindicais, jornalistas e lideranças de movimentos sociais já perderam a conta do número de processos, no âmbito civil e criminal, movidos pela governadora Yeda Crusius. O Ministério Público do Rio Grande do Sul chegou a determinar, em 2009, a retirada de cartazes e outdoors que faziam parte de uma campanha de sindicatos de servidores públicos e movimentos sociais denunciando casos de corrupção envolvendo o governo Yeda. A atual presidente do Centro de Professores do Estado do RS (CPERS/Sindicato), Rejane Rodrigues, está sofrendo vários processos, um deles por ter participado de uma manifestação em frente à casa da governadora.

O fato é que os governos tucanos apresentam uma uniformidade no trato com manifestações sociais: o que domina é a lógica da repressão, a ausência do diálogo e a aversão ao contraditório. O uso de policiais infiltrados nas manifestações é típico de tempos autoritários, onde a “interlocução” de governos com a oposição é feita nos subterrâneos, com práticas nada transparentes. Não é por acaso, portanto, que cenas e práticas similares vêm sendo vistas nas ruas de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

A Democracia, a Baderna e a Paz - Por Reinaldo Melo

A Democracia, a Baderna e a Paz

O termo democracia, tão evocado nos dias de hoje, cai por terra quando vemos aqueles que deveriam ser os primeiros a respeitá-la rasgarem a Constituição. Por Reinaldo Melo

O conceito de democracia está bem definido no artigo primeiro, parágrafo único, da Constituição Brasileira: “Todo poder emana do povo…”. Se a democracia se constitui no poder do povo, para o povo e pelo povo, como negar então que os princípios básicos da organização social devem ser regidos pela necessidade desse povo?

No sexto artigo o primeiro direito social do povo é a educação, que vem explicitada no 205º artigo: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada (…) visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”

Como vivemos numa democracia, é de se esperar então que tais leis fossem respeitadas e sacramentadas pela sociedade e invioláveis pelos governantes. No entanto, o termo democracia, tão evocado nos dias de hoje, cai por terra quando vemos aqueles que deveriam ser os primeiros a respeitá-la rasgarem a Constituição.

Nestes 16 anos de PSDB no estado de São Paulo, o que vimos foi o total desrespeito à essência democrática estabelecida na Carta Magna. O quinto parágrafo do 206º artigo inicia-se com o princípio: “valorização dos profissionais de ensino”. Ora, até o mais ingênuo professor sabe que hoje ele não passa de um pária da sociedade, simultaneamente transformado no grande responsável pela educação de uma sociedade deseducada, cuja estrutura familiar se mostra falida. E como sua missão é obviamente impossível, essa mesma sociedade aponta as armas contra o peito do docente, culpando-o pela derrocada construída por ela própria. E, para piorar, o governo, que possui a estrutura e o dever para mudar tal realidade, só vem a reforçar tal visão quando nos ataca, principalmente pela mídia, nos alcunhando de incompetentes, acomodados e vagabundos. Nada mais conveniente para esconder o rasgo da Constituição. E conveniência não é a base de uma sociedade democrática.

Além da valorização do docente, outros princípios são atacados. A liberdade de cátedra, explícita no parágrafo II do 206º artigo, é desprezada por meio da imposição do uso das cartilhas da proposta pedagógica do estado. Tal imposição impede que o professor trace sua própria estratégia pedagógica, ao mesmo tempo em que o transforma num profissional insensível, já que o encurralamento didático faz com que também sejam desprezadas as necessidades de cada um de seus alunos, ou seja, impede a flexibilidade, ferramenta necessária para a formação do indivíduo crítico e cidadão. Outra vítima, baseada nos princípios relatados, é a garantia de padrão de qualidade do ensino, VII parágrafo. Com o advento do construtivismo à moda brasileira, os poderosos antidemocráticos, no objetivo de reduzir os investimentos na educação, estabeleceram a aprovação automática em forma de progressão continuada. Distorcendo os princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente, foi tirada do professor a autoridade pedagógica, ao aluno não cabe nenhuma cobrança ou exigência, sendo este aprovado à série seguinte apenas por ir à escola, tendo a “liberdade” de não se comprometer com seus estudos.

Eis a grande baderna [desordem, confusão] em que se transformou a educação do estado de SP: professores doentes e desmotivados, alunos que não vêem sentido na escola e no acúmulo de conhecimento, familiares que desrespeitam a Constituição, já que esta diz que é um dever do Estado e da família a emancipação do indivíduo, ao irem à escola agredirem os professores sem entenderem que estes são tão vítimas quanto os seus filhos, e uma escola que joga grande parte de seus alunos no universo da semialfabetização camuflada em diploma de Ensino Médio.

Enquanto isso, os verdadeiros baderneiros, detentores de um lúdico poder e porta vozes de uma mídia corrupta, se aproveitam da falaciosa democracia representativa para se darem ao direito de bagunçar os princípios básicos de uma sociedade saudável. Da fragilidade dos seus engomados ternos, balbuciam falácias, misturadas com saliva e hálito tão podres quanto suas intenções contra os docentes, dizendo que estes são os inimigos dos filhos dos pobres. Esses senhores estão protegidos por uma finíssima película de democracia momentânea, mas a História mostrará a baderna que estão a praticar: as agressões contra os professores, não apenas em forma de gás pimenta e bala de borracha, mas na própria destruição dos direitos sociais que custaram tão caro àqueles que lutaram e os conquistaram no passado.

Mas, como diz o poeta, “os lírios não nascem das leis”, e cabe aos verdadeiros detentores dos princípios democráticos irem à luta com o objetivo de que estes princípios sejam praticados. Se as leis não bastam, que seja ouvida a voz daqueles que têm consciência do que lhe é garantido por elas. Os professores que ocupam as ruas e as praças são parte de onde emana o poder e, com isso, devem cobrar deste poder aquilo que ele não pode rasgar: uma educação de qualidade para todos.

Quando o poder joga gás de pimenta nos olhos e atira bala de borracha nos peitos destes professores, é inadmissível que a sociedade o permita, pois o que está querendo se legitimar é o próprio fim da democracia. A inversão de valores é jogada na mídia, “professores baderneiros atacam governo democrático”. Mas um governo democrático não pode temer o seu povo, muito menos agredi-lo. Democracia exige, por parte do poder, muito mais ouvidos do que fala, se o povo ocupa a praça para a exigência de algo é porque alguma coisa o poder lhe recusa. Baderneiro é o governo que dá às costas à população, tirando-lhe a qualidade dos serviços básicos como a educação.

Exigem destes professores a obediência à ordem e à paz. É fato que estes baderneiros que ocupam o Palácio dos Bandeirantes por 16 anos não possuem o direito de falar em ordem, sequer em paz. O problema dos professores é que eles são pacíficos até demais ao suportarem sem gritar as agressões vindas de todos os lados nesta tucana era de trevas. O que estes professores estão a fazer é ensinar aos seus pares ainda calados, aos seus alunos e à sociedade o que é a verdadeira democracia, esta não existe com a boca cerrada. A passividade não traz paz e “paz sem voz não é paz, é medo”.

Os professores deveriam ser alçados ao patamar de heróis, pois ainda acreditam na democracia que garante a educação para a formação de um indivíduo cidadão e preparado para ajudar a construção da nação. É tal crença que os move na luta diária dentro das escolas e na luta momentânea que ocorre nas ruas. Se a sociedade não consegue enxergar que tal suplício é praticado em nome dela, esta sociedade não se pode denominar como democrática e, assim, estará destinada a pagar um alto preço, pois não haverá paz enquanto estes multiplicadores da cidadania, os professores, forem tratados como irrelevantes na construção da democracia.


Fonte: http://passapalavra.info

[Israel] Segunda prisão do anarquista e objetor de consciência Shir Regev - ANA

[Israel] Segunda prisão do anarquista e objetor de consciência Shir Regev

A Internacional dos Resistentes à Guerra, WRI, através da sua seção em Israel, Novo Perfil, tomou conhecimento, hoje, da repetida prisão do objetor de consciência Shir Regev.

Shir Regev, 20, natural do povoado de Tuval, no Norte de Israel, anarquista e ativista anti-ocupação, já começou a cumprir a sua segunda pena de prisão (10 dias) em 24 de março. Shir Regev recusou-se a aparecer na Base de Indução do seu alistamento na data prevista, e mais tarde foi preso e condenado a 20 dias de prisão em 2 de março (nessa altura ele ainda não autorizara a divulgação de seu caso, é por isso que só é relatado agora). Atualmente está na Prisão Militar nº 6, perto de Athlit.

Antes de ir para a prisão, Shir Regev declarou:

“Acredito que é meu dever pessoal recusar a inclusão num exército, cujo principal propósito é servir para uma ocupação policial cujo objetivo é manter a "ordem de Israel" e impô-la aos palestinos indefesos a quem é negada a cidadania.

E qual é essa ordem de "Israel"? É um processo contínuo, com efeito há mais de 42 anos, compreendendo um regime militar sobre os palestinos, negando-lhes o acesso aos recursos de terra, água, culturas agrícolas e minérios. Envolve também a poluição de suas terras e águas, juntamente com o apoio de cassação por colonos que vivem nas mesmas áreas, num sistema apartado de leis, aparentemente democrático. E eu nem sequer mencionei a violação dos mais básicos direitos humanos palestinos, como negar a sua liberdade de movimentos, causando-lhes maus tratos corporais, incluindo massacres, sem a devida investigação de alegadas infrações penais de tipo mais grave reconhecido na lei israelense. Realizada num território sob ocupação militar, esses atos também constituem crimes de guerra e outras violações do direito internacional.

“Desde que tenho o perfil médico de um soldado de combate", que sabia que teria de me juntar ao exército, não há dúvida de que seria convocado para servir este sistema “mafioso” que quase nada tem a ver com o papel designado à IDF como "Forças de Defesa"... Este é um exército que serve os interesses em que eu não acredito. Portanto, ao me criar um dilema entre fazer tais atos e obedecer à minha consciência, não tenho nenhuma dúvida sobre a minha decisão. Um dia virá em que a minha decisão será apreciada por pessoas que atualmente negam a realidade horrível que nós, como sociedade estamos criando para outro povo e os danos que estamos a causar nas almas de muitos jovens israelenses que podem não estar conscientes da degradação moral em que participam”.

A WRI apela ao envio de cartas de apoio a Shir Regev:

Shir Regev

Military ID 5966205

Military Prison No. 6

Military Postal Code 01860, IDF

Israel

Fax: +972-4-9540580

Uma vez que as autoridades prisionais freqüentemente impedem a recepção de mensagens, aos objetores presos, recomendamos que você envie as suas cartas de apoio e incentivo a Yesh Gvul via : yeshgvul2001@yahoo.com, e elas serão impressas e entregues durante as visitas.

WRI apela, também, ao envio de cartas de protesto às autoridades de Israel, e embaixadas israelenses no exterior. Uma carta, por e-mail, para o ministro da Defesa de Israel Ehud Barak, pode ser lida em http://wri-irg.org/node/9834.

A WRI exige a libertação imediata do objetor de consciência Shir Regev, e de todos os outros presos objetores de consciência!

Andreas Speck

Internacional dos Resistentes à Guerra - WRI

Tradução > Liberdade à Solta

agência de notícias anarquistas-ana

no tanque verdoso
uma libélula rasga
o azul do céu

Rogério Martins

Estado Assassino: Israel face à sua história por Eric Rouleau


Israel face à sua história
Por Eric Rouleau

A intelligentsia israelense conheceu, nos anos 1980, o começo de uma mutação notável, que marca a ascensão de uma nova geração de homens e de mulheres que não conheceram a shoah (1) nem a criação do Estado de Israel. Essa evolução é também testemunho do amadurecimento progressivo das elites, daí em diante capazes de julgar sem complexo o passado e de se livrar dos mitos e tabus propalados pelos dirigentes israelenses.

O anticonformismo desses intelectuais — historiadores, sociólogos, filósofos, jornalistas, escritores, cineastas, artistas — manifestou-se depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967: a ocupação, a resistência palestina, a ascensão ao poder da direita nacionalista e religiosa em 1977, a influência crescente dos colonos e dos rabinos expansionistas, a exacerbação das tensões entre religiosos e leigos não deixou de alimentar a contestação. “Quando eles falam de Tel-Aviv, os religiosos usam com freqüência a expressão ‘Sodoma e Gomorra’, ao passo que, para os laicos, Jerusalém é como a Teerã do tempo dos aiatolás”, comenta Michel Warschawski, um dos dirigentes da ala radical do movimento pacifista.

A paz com o Egito, em 1979, suscitou a esperança de uma solução global, que a invasão do Líbano, em 1982, transformou em desilusão. Percebida pela opinião pública como a primeira guerra ofensiva de Israel, esta última foi provocada por razões que se revelaram mentirosas. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que a dupla Menahem Begin - Ariel Sharon buscava aniquilar, não se entregou a qualquer provocação, como o governo israelense afirmava. Ela deu, até mesmo, sinais da vontade de se engajar na via do compromisso. Em todo o caso, não colocava em perigo a existência do Estado judeu. À época, muitos israelenses ficam escandalizados com a extrema brutalidade de suas forças armadas, e com o número exorbitante de vítimas entre os civis palestinos e libaneses, que culminou no terrível massacre de Sabra e Chatila, cometido às claras pelas unidades do Tsahal, o exército israelense.

Acontecimentos sem precedentes se sucederam então: cerca de quatrocentos mil manifestantes protestaram no centro de Tel Aviv; quinhentos oficiais e soldados desertaram; o movimento dos refuseniks (2) tomou forma com aqueles que se recusavam a servir o exército, inicialmente no Líbano, em seguida nos territórios ocupados. A “pureza das armas” de que o Estado judeu se gabava desde o seu nascimento ficou seriamente prejudicada.

Jovens historiadores contribuíram ainda mais, voluntariamente ou não, para o descrédito desse slogan. Ao tomar conhecimento dos arquivos oficiais, em grande parte tornados públicos em 1978 (trinta anos depois dos acontecimentos relacionados, como autoriza a lei israelense), descobriram que o comportamento das forças judaicas, antes e durante a Guerra de 1948, esteve longe de corresponder à imagem idílica projetada pela propaganda. Apoiado por documentos oficiais, Simha Flapan, fervoroso sionista até sua morte e um dos dirigentes do partido de esquerda Mapam, foi o primeiro a publicar uma obra expondo os “sete principais mitos” utilizados para enganar a opinião pública durante décadas (3).

Dominique Vidal (4), em colaboração com Sébastien Boussois, expõe e analisa as conclusões daqueles que, atualmente, designamos como “novos historiadores”: trata-se dos primeiros pesquisadores, desde a criação do Estado de Israel, a fundamentar seus trabalhos não sobre referências de segunda mão, como fizeram seus predecessores, mas sobre documentos irrefutáveis, consultados nos arquivos do Conselho de Ministros, do Exército, do Palmach (tropas de choque), das organizações sionistas, do diário do primeiro-ministro David Ben Gurion, entre outros.

Seu livro descreve as circunstâncias que conduziram à guerra contra os exércitos árabes, estigmatiza o papel de Ben Gurion, no melhor dos casos ambíguo, e consagra um capítulo a Benny Morris, o líder dos “novos historiadores”, que Vidal classifica de “esquizofrênico”, em razão do fosso entre seu engajamento de historiador na busca da verdade e suas posições políticas próximas da extrema-direita israelense. Vidal analisa, por fim, a obra mais recente de Ilan Pappé, The ethnic cleansing of Palestine [A limpeza étnica da Palestina], que provocou tal escândalo (depois de tantos outros) que ele teve que se demitir da Universidade de Haifa para se exilar em uma universidade britânica.

Pappé não é o primeiro intelectual dissidente, e sem dúvida não será o último, a se expatriar para escapar do ambiente opressivo reservado aos “pestilentos”, como ele se define. No entanto, é muito difícil contestar suas narrativas, bem mais detalhadas do que as de seus predecessores. O historiador de Haifa teve, com efeito, acesso a documentos guardados nos arquivos israelenses há sessenta anos, e não apenas há quarenta, como foi o caso de seus predecessores. Mas ele também se baseou nos escritos de historiadores palestinos, muitas vezes testemunhas oculares dos acontecimentos. E recolheu testemunhos de sobreviventes da limpeza étnica, até agora curiosamente negligenciados por seus colegas, seja pela rejeição a priori dos testemunhos, seja por má fé, seja pela ignorância da língua árabe — testemunhos tanto mais preciosos pelo fato de os Estados árabes se recusarem até hoje a abrir seus arquivos aos pesquisadores.

Divergências e pontos em comum
As divergências entre Ilan Pappé e Benny Morris não são, em última análise, verdadeiramente fundamentais. Um e outro confirmam, em primeiro lugar, que a Guerra de 1948 não foi, como se costuma dizer, um combate de “David contra Golias”, pois as forças judaicas eram claramente superiores em efetivos e armamentos às de seus adversários. No auge da guerra civil judaico-palestina, havia apenas alguns milhares de combatentes palestinos mal equipados, apoiados por voluntários árabes do Exército de Libertação de Fawzi Al-Qawuqji. E, mesmo quando os Estados árabes intervieram, no dia 15 de maio de 1948, seus contingentes eram muito inferiores aos da Haganá (5), que não parava de se reforçar.

Além disso, os dois historiadores concordam que os exércitos árabes invadiram a Palestina in extremis, e certamente a contragosto, não para “destruir o jovem Estado judeu”, algo do qual sabiam que eram incapazes, mas para impedir que Israel e a Transjordânia — em “conluio”, segundo o historiador Avi Shlaïm — partilhassem o território devolvido aos palestinos pelo plano de divisão da ONU de 29 de novembro de 1947.

“Nós estamos em condições de ocupar toda a Palestina, disto não tenho qualquer dúvida”, escreveu Ben Gurion a Moshe Sharett em 1948, três meses antes da guerra israelo-árabe e algumas semanas antes das entregas maciças de armamentos encaminhados, via Praga, pela União Soviética. Algo que não o impediu de proclamar repetidas vezes que Israel estava ameaçado de um “segundo holocausto”.

Deixando-se arrebatar pela euforia das vitórias conquistadas, relata Ilan Pappé, o “pai” do Estado judaico escreveu no dia 24 de maio, na primeira semana da guerra, em seu diário pessoal: “Nós estabeleceremos um Estado cristão no Líbano (…) nós faremos a Transjordânia em pedaços, bombardearemos a sua capital, destruiremos o seu exército (…) deixaremos a Síria de joelhos (…) nossa aviação atacará Port Said, Alexandria e o Cairo, e isto para vingar nossos ancestrais oprimidos pelos egípcios e pelos assírios nos tempos bíblicos (…)”.

Do mesmo modo, Benny Morris e Ilan Pappé reduzem a nada a fábula, alimentada pelos dirigentes israelenses, segundo a qual os palestinos teriam deixado os seus lares voluntariamente, depois de apelos lançados pelas autoridades e pelas rádios árabes (emissões que a propaganda israelense forjou, como testemunham as gravações integrais realizadas pela BBC). Ao contrário, os dois historiadores confirmam aquilo que já sabíamos desde o fim dos anos 1950: foram aquelas mesmas autoridades israelenses que forçaram os palestinos ao êxodo recorrendo à chantagem, à ameaça, ao terror e à brutalidade das armas para os enxotar de suas terras.

Eles divergem, no entanto, sobre o sentido dessas expulsões. Para Benny Morris, são apenas “danos colaterais”: “guerra é guerra”, afirma, acrescentando mais recentemente (6), não sem cinismo, que Ben Gurion deveria ter prosseguido até expulsar o último palestino. Lá, onde Benny Morris descreve um êxodo “nascido da guerra e não de uma intenção, judia ou árabe”, Ilan Pappé mostra que a purificação étnica foi planejada, organizada e posta em prática a fim de ampliar o território do Estado de Israel e de o “judaizar”.

O fato é que, apesar de terem aprovado publicamente o plano de divisão das Nações Unidas, os dirigentes sionistas o julgavam inadmissível: sua aprovação era de ordem tática, como indicam os numerosos documentos arquivados, assim como o diário de Ben Gurion.

Martírio palestino
Sem dúvida, mais da metade da Palestina lhes havia sido atribuída, o restante regressando aos árabes autóctones que, no entanto, eram duas vezes mais numerosos do que os judeus. Todavia, aos seus olhos, o território previsto para o Estado de Israel era muito estreito para acolher os milhões de imigrantes que seus dirigentes esperavam receber. Além disso, 405 mil árabes palestinos conviveriam ali com 558 mil judeus, estes últimos constituindo assim apenas 58% da população do futuro Estado hebreu. Com tal composição, o sionismo arriscava-se a perder até mesmo a sua razão de ser. Daí a fórmula “tornar a Palestina tão judia quanto a América é americana e a Inglaterra é inglesa”, lançada por Haim Weizmann, futuro primeiro presidente de Israel.

A “transferência” (eufemismo para designar a expulsão) dos árabes autóctones para fora das fronteiras atormentou os espíritos dos dirigentes sionistas. Por isso, eles não paravam de debatê-la, o mais das vezes a portas fechadas. No final do século XIX, Theodor Herzl (7) sugeriu ao sultão otomano que deportasse os palestinos para desocupar o território e dar lugar à colonização judaica. Em 1930, Haim Weizmann tentou persuadir o governo britânico, potência mandatária da Palestina, a fazer o mesmo.

Em 1938, depois da proposição de um mini-Estado judeu, e também de uma transferência de árabes, pensada pela comissão britânica dirigida por Lord Peel, Ben Gurion declarou diante do comitê executivo da Agência Judaica: “Eu sou favorável à transferência obrigatória — uma medida que não tem nada de imoral”. A Guerra de 1948 ofereceu-lhe a ocasião sonhada. Seis meses antes da intervenção dos exércitos árabes, ele lançou contra a população autóctone a ofensiva destinada a deportá-la. Para realizar esse projeto — revela Pappé —, Ben Gurion possuía um arquivo com dados de todas as aldeias árabes, contendo informações demográficas, econômicas, políticas e militares, arquivo criado pela Agência Judaica em 1939 e atualizado constantemente ao longo da década de 1940.

Os meios aos quais as forças judaicas recorreram — e que Ilan Pappé analisa em detalhes — são de dar frio na espinha, mesmo que tenham por precedentes as atrocidades cometidas no curso das purificações étnicas conduzidas por outros povos desde a alta antigüidade. O balanço feito pelo historiador é eloquente: em alguns meses, foram registrados dezenas de massacres e execuções sumárias; 531 aldeias, em um total de mil, foram destruídas ou reconvertidas para acolher imigrantes judeus; onze centros urbanos etnicamente mistos foram esvaziados de seus habitantes árabes.

Sob a ponta das baionetas, o conjunto de palestinos de Ramallah e de Lod, cerca de 70 mil pessoas, inclusive crianças e idosos, foi banido em poucas horas, em meados de julho de 1948. A operação foi instruída por Ben Gurion, como o testemunham as memórias, posteriormente censuradas, do futuro primeiro-ministro Itzhak Rabin — à época, o oficial superior encarregado, juntamente com Igal Allon, da atividade. Repelidos em direção à fronteira transjordaniana, vários palestinos morreram no caminho, de cansaço.

A mesma coisa ocorrera, em abril, na cidade de Jaffa, quando 50 mil de seus habitantes árabes tiveram de fugir, aterrorizados pelo ataque intensivo da artilharia do Irgun (8) e pelo medo de novos massacres. Foi o que o próprio Benny Morris chama de “fator atrocidade”.

Esses horrores são ainda mais injustificáveis quando se sabe que muitas aldeias árabes — Ben Gurion mesmo o confessa — haviam declarado sua vontade de não resistir à divisão da Palestina e até mesmo decidido estabelecer, para esse fim, acordos de paz com seus vizinhos judeus. Foi o caso da aldeia de Deir Yassin, onde, apesar de tudo, as forças irregulares do Irgun e do Lehi (9) exterminaram uma parte considerável da população — com o acordo tácito da Haganá, o exército “regular” da Agência Judaica, segundo Simha Flapan.

No total, entre 1947 e 1949, de 750 mil a 800 mil palestinos tiveram de tomar o caminho do exílio, enquanto seus bens imobiliários e mobiliários eram confiscados. Segundo a estimativa de um oficial israelense citado por Dominique Vidal, o Fundo Nacional Judeu se apoderou de 300 mil hectares de terras árabes, das quais a maior parte foi dada aos moradores dos kibutz. A operação não poderia ter sido melhor concebida: no dia seguinte ao voto da Assembléia Geral das Nações Unidas, de 11 de dezembro de 1948, que aprovou a famosa resolução sobre o “direito ao retorno”, o governo israelense adotou a “lei de urgência relativa às propriedades dos ausentes”, que complementou aquela sobre o “cultivo das terras abandonadas”, de 30 de junho de 1948, e legalizou retroativamente a espoliação, proibindo que os espoliados se instalassem novamente em suas casas ou reivindicassem qualquer compensação.

Desconstrução
Apesar dos protestos de alguns membros do governo israelense, escandalizados pela brutalidade da purificação étnica, Ben Gurion — que não havia patrocinado explicitamente e por escrito essas ações — não fez nada para interrompê-las. Contentou-se em denunciar os saques e os estupros aos quais os soldados do Tsahal se entregavam — crimes em que se beneficiaram, contudo, de uma impunidade total. O mais espantoso, sem dúvida, foi o pesado silêncio da “comunidade internacional” — silêncio que se prolongou por várias décadas, durante as quais os observadores estrangeiros, incluídos os da ONU, não ignoraram as atrocidades cometidas. Compreendemos melhor, dessa maneira, porque os palestinos falam em nakba (catástrofe) quando se referem à “guerra de independência de Israel”, que o recente Salão do Livro escolheu para celebrar em Paris (10).

Avi Shlaim, professor de longa data no St. Anthony’s College, em Oxford, acaba de publicar The iron wall: Israel and the Arab world [O muro de ferro: Israel e o mundo árabe]. No livro, Shlaim destrói mais um mito: o de um Estado de Israel enamorado pela paz, em oposição ao belicismo dos Estados árabes dedicados a aniquilá-lo. O título de sua obra refere-se à doutrina de Zeev Jabotinsky. Já em 1923, esse pai da direita ultranacionalista judaica, afirmava que era imprescindível desistir de negociar um acordo de paz antes de ter colonizado a Palestina, protegido dos perigos por um “muro de ferro”, já que os árabes só compreendiam a lógica da força.

Tendo adotado essa doutrina na prática, políticos e militares israelenses, tanto de “direita” quanto de “esquerda”, teriam, no mais das vezes, sabotado os sucessivos planos de paz. Calculando que o tempo joga a favor de Israel, e sustentando que este “não tem um parceiro pela paz”, conforme as palavras de Ehud Barak (11), os dirigentes de Jerusalém esperam sempre que a parte contrária se resigne a aceitar a expansão territorial do Estado judeu e a fragmentação de um hipotético Estado palestino, condenado a se tornar um mosaico de “bantustões”. A obra de Shlaim, cuja edição inglesa no ano 2000 tornou-se um best-seller, com mais de cinqüenta mil exemplares vendidos, foi traduzida em várias línguas antes de aparecer em hebraico cinco anos depois: a quase totalidade dos editores israelenses a havia considerado até então “sem interesse”.

No entanto, Avi Shlaim admite “reconhecer a legitimidade do movimento sionista e a do Estado de Israel em suas fronteiras de 1967”. Ele acrescenta, porém: “Por outro lado, rejeito totalmente o projeto colonial sionista além dessa fronteira”. Com algumas exceções, os historiadores, sociólogos, escritores, jornalistas e cineastas pertencentes à nova onda da intelligentsia são, como ele, sionistas de um tipo novo, aos quais apelidamos de “pós-sionistas”. Todos estão convencidos de servir à causa da paz ao restabelecer a verdade histórica e ao reconhecer os prejuízos causados aos palestinos.

Para apreender o sentido e o alcance dessa mutação, iniciada nos anos 1980, podemos ler com proveito a pesquisa realizada em Israel por Sébastien Boussois junto aos novos historiadores e seus adversários (12). Alguns chegaram à conclusão de que a instituição de um Estado de Israel “normalizado”, em paz com seus vizinhos, depende em grande medida do impacto que esses intelectuais contestadores terão sobre a sociedade e principalmente sobre o mundo político israelenses.

É o que escreve, à sua maneira, Yehuda Lancry, antigo embaixador de Israel na França e nos Estados Unidos: “Os ‘novos historiadores’, mesmo por meio do radicalismo de Ilan Pappé, são tanto os batedores dessa região pouco clara da consciência coletiva israelense quanto os preparadores de uma adesão mais firme ao reconhecimento mútuo e à paz com os palestinos. Seu trabalho, longe de representar uma fonte de transtornos para Israel, é uma honra para o seu país — e, mais do que isso, um dever, uma obrigação moral, uma prodigiosa tomada de responsabilidade sobre um empreendimento liberador capaz de inscrever no vivido israelense as linhas de articulação, os interstícios saudáveis, necessários para a inserção do discurso do outro (13)”.

*Eric Rouleau é jornalista, ex-embaixador da França na Tunísia e na Turquia. Artigo originalmente publicado no Diplo

1 Termo iídiche, que significa calamidade ou grande catástrofe, com o qual os judeus se referem ao holocausto nazista.
2 Originalmente, o termo nomeava judeus, armênios e outras minorias às quais era negada autorização para emigrar na antiga União Soviética. Atualmente, a palavra designa aqueles que alegam objeção de consciência para não servir o exército israelense.
3 The Birth of Israel, myths and realities (Nova York, Pantheon Books, 1987).
4 Dominique Vidal é jornalista, integrante do coletivo de redação de Le Monde Diplomatique (França). Seu livro Comment Israel expulsa les Palestiniens [Como Israel expulsou os palestinos] é uma edição revista e ampliada da obra Le péché originel d’Israel [O pecado original de Israel], publicada pelo mesmo autor, em colaboração com Joseph Algazy, pelas Éditions de l’Atelier, em 1988.
5 Força paramilitar judaica. Criada durante o Mandato Britânico na Palestina, entre 1920 e 1948, tornou-se a coluna vertebral do exército israelense.
6 Em uma entrevista ao diário Haaretz, Tel Aviv, 8 de janeiro de 2004.
7 Theodor Herzl, escritor e político judeu, é considerado o fundador do sionismo como movimento político.
8 Organização sionista terrorista atuante na Palestina. Fundado em 1931, o Irgun foi dirigido, a partir de 1943, por Menahem Begin, futuro primeiro-ministro israelense. Em 1948, com a criação do Estado de Israel, a grande maioria de seus membros foi incorporada ao recém-criado exército nacional.
9 Organização sionista terrorista atuante na Palestina. O Lehi nasceu, em 1940, de uma dissidência do Irgun, liderada por Avraham Stern.
10 Inaugurado em 14 de março de 2008 na capital francesa, e um dos mais importantes eventos literários da Europa, o salão acabou boicotado por quatro países (Irã, Iêmen, Arábia Saudita e Líbano) e editores de outras nações árabes (como Argélia, Marrocos e Tunísia).
11 Ehud Barak, general do exército israelense e primeiro-ministro entre 1999 e 2001.
12 Ver Dominique Vidal, op. cit. Sébastien Boussois é, por outro lado, o autor de Israel, confronté à son passé [Israel confrontado com o seu passado] (Paris, L’Harmattan, 2008).
13 Prefácio ao livro de Dominique Vidal, op. cit.

Fonte: http://www.operamundi.com.br

Omissão? Ou pura safadeza!



Foto retirada do: http://terramagazine.terra.com.br/

E por aqui a mídia corporativa nada fala nada faz e o assunto passa despercebido!

Sociedade civil se mobiliza contra a “cidade neoliberal” - Por Maurício Thuswohl


Sociedade civil se mobiliza contra a “cidade neoliberal”

Segundo a Carta do Rio, aprovada no Fórum Social Urbano, as empresas transnacionais e as agências multilaterais, assim como seus ideólogos e representantes políticos, têm um modelo próprio de cidade ideal: “É a cidade globalizada, associada aos mercados globais por fluxos e hierarquias e submetida aos interesses daqueles poucos que controlam e regulam os mercados desde seus escritórios nas metrópoles centrais”

Maurício Thuswohl - Data: 29/03/2010
RIO DE JANEIRO - Os representantes de movimentos sociais, universidades, ONGs e sindicatos reunidos no Fórum Social Urbano - evento paralelo ao Fórum Urbano Mundial, realizado no Rio de Janeiro - votaram ao final do encontro um documento no qual “convocam todos os que lutam contra a cidade neoliberal, a serviço do mercado e do capital, a unirem-se, solidários, num movimento internacional pelo direito à cidade e pela democracia e justiça urbanas”. Batizado como Carta do Rio, o documento foi aprovado na sexta-feira (26) e será encaminhado a uma comissão responsável por sua redação final.

Segundo a Carta do Rio, as empresas transnacionais e as agências multilaterais, assim como seus ideólogos e representantes políticos, têm um modelo próprio de cidade ideal: “É a cidade globalizada, associada aos mercados globais por fluxos e hierarquias e submetida aos interesses daqueles poucos que controlam e regulam os mercados desde seus escritórios nas metrópoles centrais”. O documento afirma ainda que o modelo neoliberal prega a existência de uma cidade “dirigida por administradores-empreendedores, livre de qualquer controle público e ávida por parcerias público-privadas”.

Para os participantes do FSU, as conseqüências dessa visão de cidade são perversas e evidentes: “Mais desigualdade, mais desemprego, pobreza crescente, degradação da qualidade de vida para milhões, injustiça e crise ambientais, aumento da violência, criminalização dos pobres, frustração e desespero”. No modelo urbano neoliberal, prossegue a Carta do Rio, “a cidade se transfigura numa aglomeração de cidadelas para os ricos, enclaves para as classes médias, bairros vulneráveis para as classes trabalhadoras e guetos para os mais pobres e grupos discriminados”.

A última crise financeira global, segundo o documento, fez “cair definitivamente a máscara” do modelo urbano neoliberal: “Tendo por origem a mercantilização e financeirização ilimitada das cidades, a crise se rebate sobre essas mesmas cidades, com mais desemprego, mais trabalhadores sem teto, mais desigualdade”. No entanto, dizem os participantes do FSU, “as grandes corporações e agências multilaterais não têm nada a oferecer a não ser mais do mesmo” às cidades: “No contexto de uma nova e perversa distribuição desigual dos ônus da crise, a cidade se reafirma como lugar de produção e reprodução da desigualdade e da pobreza urbanas”.

A Carta do Rio defende a criação de alternativas ao modelo neoliberal, “baseadas em valores e objetivos diferenciados, em outros ideais de cidade, numa urbanidade e num planejamento urbano insurgentes, que desafiam e contrariam o mercado”. As alternativas, segundo os participantes do FSU, já começam a aparecer: “Mundo afora vêm brotando alternativas a este modelo de cidade. Em muitas cidades com governos progressistas, populares e democráticos, mas também em bairros e comunidades dentro de cidades sob hegemonia neoliberal”.

Movimento internacional
Feito o diagnóstico da crise do modelo neoliberal de cidade, o próximo passo, de acordo com o FSU, é aprofundar o movimento internacional alternativo. Para tanto, ficou definido que 25 de março passa a ser “o dia internacional de luta pelo direito à cidade e pela democracia e justiça urbanas”. Também foi decidida a realização do segundo Fórum Social Urbano daqui a dois anos, quando acontecerá a próxima edição do Fórum Urbano Mundial: “Estamos agora desafiados a dar um novo passo: construir e estruturar um forte movimento que cimente nossa solidariedade internacional e nos ajude a coletar, organizar e difundir nossas conquistas”.

A iniciativa de mobilização internacional é importante, pois raras têm sido as oportunidades, segundo a Carta do Rio, de reunir os militantes das lutas urbanas entre si e destes com pesquisadores, planejadores e urbanistas progressistas: “Apesar de sua riqueza e universalidade, raramente tais experiências têm sido olhadas e pensadas como um processo qualitativamente novo e, sobretudo, com uma dinâmica abrangente, capaz de oferecer novas maneiras de desafiar a agenda urbana dominante”, diz o documento.

Criado em Harvard
Um dos organizadores do FSU, o professor Carlos Vainer, da UFRJ, afirma que “o plano estratégico das cidades neoliberais é criado em Harvard e obedece a um modelo empresarial”. Essa forma de pensar e organizar a realidade urbana, segundo Vainer, tem como base um tripé que coloca a cidade como mercadoria, empresa e pátria: “A idéia de cidade mercadoria, por exemplo, está presente nos planejamentos do Rio de Janeiro, de Lisboa (Portugal) ou de Rosário (Argentina). É sempre o mesmo blá-blá-blá, com a cidade sendo apresentada como um objeto de luxo a ser vendido para um cliente preferencial, que é o grande capital internacional”.

Vainer afirma que o conceito de cidade empresa, por sua vez, é aquele que coloca como prioridade a necessidade de aumentar o poder de atração e a competitividade das cidades num cenário de intensa concorrência neoliberal: “É a cidade entregue aos empresários”, resume. Por fim, o conceito de cidade pátria, segundo o professor, é aquele que “realiza a idéia de cidadania sem política, onde toda divergência é uma ameaça a nossa competitividade”. Como exemplo, Vainer cita a mobilização das elites dirigentes em torno da realização das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016: “O uso patriótico desse tipo de evento, na base do ame-o ou deixe-o, busca tornar refém a maior parte da população da cidade”.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

segunda-feira, 29 de março de 2010

Boicotem a H&M – Por Lauff



► Essa e tantas outras financiam a morte dos Palestinos e a destruição do mundo pelas Armas de Destruição em Massa que o Estado de Israel possui – eles os Israelense serão o próximo país a usar uma Bomba Nuclear contra povos indefesos!

[Israel/Palestina] Sete anos de resistência: "Anarquistas Contra o Muro" - ANA

[Israel/Palestina] Sete anos de resistência: "Anarquistas Contra o Muro"

Anarquistas Contra o Muro (ACM) é um grupo de ação direta formado em 2003 em resposta à construção do muro que Israel está construindo em território palestino na zona ocupada da Cisjordânia. O coletivo trabalha em cooperação com ativistas palestinos numa luta comum e popular contra a ocupação. Desde a sua formação, o grupo participou em centenas de manifestações e ações diretas contra o muro, em particular, e na ocupação em geral, na Cisjordânia. Todo o trabalho do coletivo na Palestina está coordenado através de comitês populares locais de comunidades palestinas.

Breve história
Em abril de 2003, três anos antes da segunda Intifada, um pequeno grupo composto majoritariamente por ativistas anarquistas israelitas que já realizava trabalho político no território ocupado, formou o Anarquistas Contra o Muro. O grupo foi criado num acampamento de protesto, na aldeia de Mas'ha, onde o muro estava sendo construído, deixando 96% da aldeia do lado israelita. O campo, composto por ativistas da Palestina, Israel e de todo o mundo, consistia em duas tendas instaladas no terreno da aldeia que se pretendia confiscar. Durante quatro meses manteve-se uma presença constante por parte dos ativistas. Ao longo deste tempo o acampamento tornou-se um centro de difusão de informações e uma base para decisões a partir da democracia direta. Numerosas ações diretas relacionadas com o muro foram planejadas e preparadas ali, tal como a ação direta de 28 de julho de 2003 na cidade de Anin. Nesta ação, os ativistas conseguiram manter aberta uma entrada através do muro apesar de serem atacados pelo exército.

Mais tarde, em agosto de 2003, com o muro ao redor de Mas'ha quase completo, o acampamento mudou-se para o terreno atrás de uma casa prevista para demolição. Depois de dois dias de bloqueio aos bulldozers e de detenções massivas, as casas foram demolidas e o acampamento terminou, mas não o espírito da resistência que ele simbolizava.

Em 2004, o povoado de Budrus começou a luta contra o muro e o coletivo ACM juntou-se a eles nas suas manifestações diarias. Através da sua persistência na mobilização da comunidade, da sua luta e resistência popular, o povoado de Budrus obteve significativas vitórias. Sem o recurso dos tribunais de Israel, utilizando somente a resistência popular, a aldeia conseguiu impor o recuo do muro, quase completamente para fora da sua terra. O sucesso de Budrus inspirou muitas outras comunidades na construção de uma resistência popular, o que representa talvez um êxito ainda maior. Durante boa parte do ano, ACM esteve presente em quase todas as comunidades em luta contra o muro que as atravessava e que requeriam a sua participação.

Mais recentemente, as suas ações centraram-se em volta de Bil'in, noroeste de Ramallah, onde a maior parte da terra de produção agrícola será confiscada pelo muro e pela expansão dos assentamentos.

O papel do grupo ACM na luta
A simples presença de israelitas em ações de civis palestinos representa para eles algum grau de proteção contra a violência do exército. O código de conduta do exército israelita é significativamente diferente quando há israelitas presentes e a violência, ainda que severa, é consideravelmente menor. Embora muitos ativistas israelitas tenham sido feridos em manifestações, alguns com gravidade, é sempre o povo palestino quem paga mais caro. Até hoje, 18 manifestantes palestinos foram mortos em ações contra o muro e milhares foram feridos.

O exército e o governo de Israel tentam travar a resistência popular palestina usando todas as formas possíveis de repressão, para deste modo prevenir a incorporação de ativistas israelitas numa luta comum. No decurso dos últimos anos, ativistas do grupo ACM foram presos centenas de vezes e dezenas de acusações foram contra si iniciadas. A repressão legal exercida pelas autoridades israelitas é uma frente adicional para minar e destruir a resistência. Para conseguir manter os e as ativistas fora das prisões e continuar a luta, ACM estão a fazer frente a crescentes gastos legais para a sua defesa nos tribunais israelitas. O custo devido à defesa legal supera já os US$ 60.000 dólares e continua a aumentar.

Financiamento
O grupo ACM conta apenas com os donativos das pessoas de todo o mundo que queiram que continuemos a apoiar a luta palestina pela liberdade.

Sítio do grupo Anarquistas Contra o Muro: http://www.awalls.org/

Sobre a luta em Bil'in, fotos em: http://www.activestills.org/

Tradução > Liberdade à Solta

agência de notícias anarquistas-ana

Atravessa o céu
o arco íris, no belo vale
pra morrer na serra.
Conceicão Chaves

Caso Datafolha promete - Por Eduardo Guimarães

Caso Datafolha promete - Por Eduardo Guimarães


Se você, leitor, chegou de Marte agora, permita-me atualizá-lo sobre um escândalo que promete ser rumoroso entre os setores mais politizados da população. No último sábado, o instituto Datafolha, pertencente à Folha de São Paulo, publicou uma pesquisa sobre a sucessão presidencial que surpreendeu a todos, inclusive àqueles que beneficiou.

Como Dilma Rousseff vem crescendo em todas as pesquisas de intenção de voto para presidente e seu adversário José Serra vem caindo, Márcia Cavallari, do Ibope, João Francisco Meira, do Vox Populi, Mauro Paulino, do Datafolha, e Ricardo Guedes, do instituto Sensus, reunidos publicamente em São Paulo na semana passada em evento da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas, concordaram que a candidata petista é hoje a favorita para ganhar as eleições de 2010.

De repente, porém, aparece essa pesquisa Datafolha mostrando queda da petista (dentro da margem de erro) e considerável subida do tucano. O resultado foi tão surpreendente que, em sua coluna deste domingo na Folha, o colunista Clóvis Rossi diz assim que não entendeu nada:

“O resultado da pesquisa mais recente, ontem publicada, é um denso mistério, ao menos para mim. Não consigo encontrar uma explicação forte para o fato de José Serra ter subido quatro pontos em um mês”.

Não foi por outra razão que, no mesmo sábado em que a pesquisa “sui generis” foi divulgada, o diretor do Datafolha tentou explicar o inexplicável com o velho clichê de que “pesquisas são um retrato do momento” etc.

Já neste domingo, a Folha publica um editorial pretendendo explicar mais do que a pesquisa “estranha”, mas o futuro, ou seja, o que outras pesquisas deverão mostrar.

“SÃO SURPREENDENTES, ainda que não constituam reversão categórica nas tendências do eleitorado, os números da pesquisa do Datafolha sobre sucessão presidencial, divulgados ontem(...)”.

Mais sincero – ou descuidado – que Rossi, outro colunista da Folha, o Kennedy Alencar, explicou, na internet, a situação que levou o jornal mais engajado na candidatura do PSDB à Presidência a literalmente estuprar o seu Datafolha. Segundo ele, sem essa pesquisa o lançamento iminente da candidatura tucana à Presidência ocorreria em clima de “velório”.

A pressa da Folha em “explicar”, não a sua pesquisa “maluca”, mas os resultados de outros institutos que deverão contrariá-la em breve, denota que o partidarismo pode ter causado um dano muito sério a um dos pilares de sua sustentação no mercado. O Datafolha é – ou era - um diferencial desse veículo de comunicação.

Penso que o efeito pretendido pela Folha e por José Serra ao engendrarem essa aparente farsa estatística poderá ser conseguido, só que parcial e inicialmente. Os leigos acreditarão na reação de Serra, bem como parte dos tucanos, dos seus aliados em outros partidos e de financiadores de campanha identificados com o projeto eleitoral da direita.

Todavia, duvido de que outros institutos, além do Ibope, aceitarão se envolver nessa farsa. Daí as insistentes “explicações” da Folha para o tsunami estatístico que vem por aí e que deverá fazer este assunto retornar à pauta política em breve. Não percam, portanto. Será divertidíssimo.

Fonte: Do excelente http://edu.guim.blog.uol.com.br/

The Hurt Locker: aprender a matar e morrer


The Hurt Locker: aprender a matar e morrer

"The Hurt Locker" (que no Brasil, como é de tradição, foi pessimamente traduzido por Guerra ao Terror) não trata de nenhum terror. No filme não há terrorismo, porque todos os alvos são militares. Aborda a resistência iraquiana contra a ocupação dos estadunidenses. Porque esse elemento não pode ser apagado da guerra, não é um Estado que domina o outro, tão somente, mas é uma população soberana que domina outra. Existe um gosto pela guerra, e há sustentação desse gosto pelos fluxos da população que se pretende dominante.

O artigo é de Cesar Kiraly.

Data: 28/03/2010
Devemos começar com uma pergunta: de que modo as imagens podem ser imorais? Esta pergunta parte de uma concepção que admite que existem imagens morais e outras imorais, e se pergunta sobre o como da imoralidade imagética. Uma imagem nunca é uma imagem isolada, o que também significa dizer que uma imagem nunca é uma imagem sozinha. Em toda imagem que aparece existem tessituras de imagens que sustentam o efeito de enunciação, o aparecimento, e toda imagem possui no seu pigmento uma paixão. Essas paixões podem ser culturalmente elaboradas, ao que poderíamos dizer que numa imagem também pode estar contido um valor. Assim como, a elaboração de uma imagem pode ser apenas uma estratégia cultural para esconder o significado da paixão dissolvida no pigmento que vemos. Dessa forma, quando as imagens interessam à investigação política é necessário que elas sejam submetidas a um esforço de crueldade daquele que se interessa pelo fenômeno, algo como uma crueldade na visão, para que a crueldade da imagem não possa restar escondida.

Então, de que forma uma imagem pode ser imoral? Justamente quando esconde a sua crueldade. O que devemos fazer diante de uma imagem imoral? Investigá-la no sentido de expor a sua composição. Assim, nenhuma imagem imoral é essencialmente imoral, ela o é no sistema de imagens que sustenta a sua imoralidade, o que significa que toda imagem pode ser exposta, algo como uma disposição do espírito a apreender com a insuportabilidade que algumas imagens, nos seus mundos, provocam. Uma imagem que tem a sua crueldade exposta passa a ser uma imagem que combate a crueldade. Expor a crueldade, portanto, é a tarefa da crítica.

The Hurt Locker (que no Brasil, como é de tradição, foi pessimamente traduzido por Guerra ao Terror) não trata de nenhum terror. No filme não há terrorismo, porque todos os alvos são militares. Aborda a resistência iraquiana contra a ocupação dos estadunidenses. Porque esse elemento não pode ser apagado da guerra, não é um Estado que domina o outro, tão somente, mas é uma população soberana que domina outra. Existe um gosto pela guerra, e há sustentação desse gosto pelos fluxos da população que se pretende dominante.

Assim, a vida na guerra não é tão distinta da vida em qualquer outro lugar, e como o modo de vida estadunidense é ampliado para lugares pobres, e nem tanto, podemos ver vidas muito parecidas com as dos combatentes em qualquer lugar. Qual é a vida de um combatente, tal como revelada na película? Ela é a vida de um adolescente médio, ou de um adulto que ainda insiste numa certa adolescência. Poderíamos indagar que isso se dá, porque todos são muito jovens. Mas o fato é que os desarmadores de bombas usam robôs de plástico para fazer os primeiros contatos, entre uma coisa e outra jogam um desafio eletrônico com bastante violência, de noite, eles bebem bastante, e brincam de brigar, e, para completar, recebem ajuda psicológica comportamental, sob o aviso de que podem ser tudo o que quiserem ser, ou que a guerra pode ser uma boa experiência. Sem falar que se trancam nos quartos para ouvir heavy metal. Se uma vida é igual em suas imagens, e sustentação de imagens, penso que é bem provável que seja a mesma vida.

A forte imoralidade das imagens que ainda não foram exumadas por uma forte crítica da crueldade se esconde na afirmação logo inicial de que a guerra pode ser um vício. Compondo-se com a atitude bastante impulsiva do protagonista desarmador de bombas. Porque qualquer amante de peças de plástico é capaz de entender que a guerra é o seu mundo, mas que é preferível não lutar. Até aquele que parece ter na guerra a sua fonte única de felicidade, sabe, que, na verdade, não possui felicidade alguma. Não foi a guerra que lhe destruiu a vida, mas ela também nada lhe restitui.

Ela apenas dá oportunidade para que um morto vivo possa ter algum estímulo para andar. Ele, o desarmador mor, de alguma forma é o mais lúcido dos personagens, isso fica muito claro na conversa final com seu filho pequeno, que ainda não o compreende, ele parece explicar ao filho que de alguma forma, toda aquela felicidade infantil não significa que não possa a vida fazer dele um natimorto. Assim, o combate contra a guerra é o combate a uma forma de vida?

Este modo de vida do americano do norte que obriga os iraquianos a lutar uma confusa guerra de resistência possui um aprendizado da morte. Ou seja, a vida do estadunidense o prepara a morrer. Existe um difuso esforço de resignação quanto a perda dos entes queridos, jogos psicológicos muito populares de aceitação do mundo tal como ele é, brinquedos e dispositivos eletrônicos de violência etc. Contudo, como não é um aprendizado filosófico da morte, envolve, necessariamente, um aprendizado do tirar a vida do outro. A cena em que estão combatendo numa emboscada explicita bem esse princípio, uma vez que conseguem sobreviver, e o desarmador mor congratula o seu colega, bom atirador, com um conhecido: - boa noite, obrigado por jogar. Logo após ter acertado o oponente. O efeito de câmera lenta utilizado pela diretora ressalta ainda mais a fantasia de vida eletrônica que prepara o soldado para matar e para morrer. Mas o esforço de investigação não deve recair sobre a visibilidade, porque essa é bastante evidente, mas sobre a dramaturgia da sustentação das imagens, essa sim mais relevante.

A visibilidade não importa muito, ou não importa mais, porque sabemos de um modo geral que a pobreza e a violência, no nosso tempo, são cinza, um pouco pelo cimento, outro pouco pelos blocos de concreto, e mais ainda, pela poeira levantada pela manipulação ou explosão das entidades portadoras dessas cores. Ainda mais evidente, porque a dominação usa peças de plástico. A dramaturgia dessas peças de plásticos é o que me interessa. Os soldados estão todos em casa no meio de suas peças de plástico. Mas eles não estão em casa. Eles estão bem longe de casa exercendo o ofício perigoso de desarmar bombas. Mas parecem que se sentem em casa de alguma forma.

Em todo o cenário de violência, podemos cometer pequenas violências interpretativas. Todo esse plástico decorre de uma opção de direção. Na verdade, uma opção pelas imagens domésticas no campo de guerra. Afinal a dramaturgia desse filme de guerra é fortemente doméstica, ela chega a despertar aconchego. Essa nova guerra de plástico é irreflexiva de um jeito que só é franqueado aqueles que estão em casa. Até mesmo a resposta é aconchegantemente doméstica. O desarmador negro pergunta ao desarmador mor, mas como pode assumir o risco? E recebe a resposta que recebemos na mesa de jantar: - Eu apenas não penso nisso.

Cesar Kiraly é doutor em Ciência Política pelo IUPERJ, e neste coordena o Laboratório de Estudos Hum(e)anos.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

sábado, 27 de março de 2010

Por que Datafolha cheira mal - por Eduardo Guimarãe


Por que Datafolha cheira mal

Vários fatores estão gerando suspeita sobre a pesquisa Datafolha feita de afogadilho na quinta e na sexta-feira e publicada hoje, começando pela pressa e pelo sigilo que envolveram a sua realização.

O próximo fator que salta aos olhos é a conveniência dessa sondagem para o governador José Serra, notoriamente o candidato a presidente da família Frias, dona do grupo Folha, justamente na véspera de seu afastamento do governo do Estado e do lançamento da sua candidatura.

O terceiro fator está contido na análise do diretor do Datafolha, Mauro Paulino, na Folha, valendo-se da platitude de que “pesquisas são flagrantes do momento” e que podem mudar, pois parece plantar uma “explicação” para o previsível desmentido dessa pesquisa por outros institutos

O último fator, tão subjetivo quanto os anteriores, é o de que estamos falando de um instituto de pesquisas de opinião que pertence à Folha de São Paulo, aquele jornal que não hesitou em publicar, em sua primeira página, falsificação grosseira de ficha policial da grande adversária de Serra.

A pesquisa tenta se justificar exacerbando os pontos mais frágeis da ministra Dilma Rousseff, como a maior dificuldade dela entre as pessoas do mesmo sexo e do Sul do país, arrematando com as propagandas de Serra na TV e sua intensa incursão nos programas de auditório, ou com ele ter admitido que é candidato e por estar chovendo menos em São Paulo.

Nada explica, porém, que, tão repentina e intensamente, as mulheres e o Sul do país tenham descoberto que amam Serra. Duvido de que uma declaração dele de que é candidato ou acontecerem um pouco menos desastres em São Paulo lhe permitiriam angariar cerca de 7,5 milhões de votos (cada ponto percentual vale 1,5 milhão) tão rapidamente.

A pesquisa Datafolha é de uma conveniência inacreditável para Serra. Ele deve ser o político mais sortudo do mundo. Esses números serão usados para ajudar a fechar apoios políticos à sua candidatura e a soterrar resistências dentro do seu partido e entre seus aliados externos.

Finalmente, concluo que essa manipulação escandalosa permitirá ver até que ponto o PT está preparado para enfrentar uma campanha desse nível. Se o partido, de uma forma ou de outra, não encomendar pesquisas com celeridade, permitindo, assim, que o factóide surta efeito, será preocupante.

Por outro lado, se o PT mostrar que está antenado e disposto a enfrentar a guerra eleitoral que se avizinha, a Folha e seu grupo político poderão descobrir que fizeram uma aposta muito alta ao falsificarem uma pesquisa de forma tão grosseira.

E por que o Datafolha foi a campo
Há um outro fator que torna ainda mais estranha a pesquisa Datafolha divulgada neste sábado. Para entendê-lo, vejamos a freqüência com que o instituto de pesquisas tem ido a campo para a avaliar a sucessão presidencial.

As últimas três sondagens aconteceram de 14 a 18 de dezembro de 2009, de 24 a 25 de fevereiro de 2010 e, surpresa!, meros 30 dias depois. E, à diferença de suas pesquisas anteriores, não houve divulgação de que esta ocorreria.

Por que o Datafolha foi a campo tão rápida, sigilosa e inesperadamente? Terá alguma coisa que ver com o lançamento iminente da candidatura Serra, aquela que eu dizia, de novo na contramão da maioria, que era inexorável?

Escrito por Eduardo Guimarãe

Fonte: http://edu.guim.blog.uol.com.br/

A demonização de Cuba: uma guerra política e cultural - Por Enrique Ubieta Gómez - Rebelión

A demonização de Cuba: uma guerra política e cultural

Em política, a única vitória possível é cultural. O restante pode ser chamado de ocupação, asfixia, imposição; todas variações que postergam a vitória do suposto derrotado. Por isso, os ideológos da direita se lançaram de corpo e alma em uma guerra cultural contra Cuba que envolve todos os meios, aspectos e recursos. Uma guerra que não busca nem pede verdades ou princípios: uma guerra para reverter convicções e sentimentos, que se apóia na força dos meios de comunicação.
O artigo é de Enrique Ubieta Gómez, na estréia da parceria entre a Carta Maior e o Rebelión.

O principal obstáculo do imperialismo para derrotar a Revolução Cubana não é militar nem econômico, mas sim moral. De alguma forma “inexplicável”, Cuba conserva o prestígio internacional e o consenso interno, apesar do desgaste de meio século sob os efeitos de um implacável bloqueio e de uma contínua campanha midiática,apesar da derrubada – há 20 anos – e do descrédito de um “campo socialista” do qual hoje se enumeram as manchas e se ignora a luz.

Os ideólogos da direita sabem que esse prestígio moral invalidaria qualquer vitória militar ou econômica sobre a ilha. Em política, a única vitória possível é cultural. O restante pode ser chamado de ocupação, asfixia, imposição; todas variações que postergam a vitória do suposto derrotado. Por isso, eles se lançaram de corpo e alma em uma guerra cultural que envolve tudo. Uma guerra que não busca nem pede verdades ou princípios: uma guerra para reverter convicções e sentimentos, que se apóia na força dos meios de comunicação. Ou por acaso a demonização da cultura árabe – povo que vive sobre grandes reservas de petróleo – não antecede e acompanha a guerra de extermínio que sofrem seus estados “desobedientes”? Lançar-se de corpo e alma significa que esses ideólogos devem repetir sem ruborizar e sem piscar, que Che Guevara, o guerrilheiro heróico, foi um assassino: que Batista, o assassino, foi na realidade um bom governante; que Cuba, a nação que mais vidas salvou no mundo – incluindo a de seus inimigos -, desfruta da morte.

O governo de Obama é um excelente porta-aviões para bombardeios ideológicos: um rosto negro, um perfil intelectual, um sorriso sedutor. Um enorme e moderno navio de guerra que assume ares de cruzeiro, que finge não atacar: para isso aí estão seus aviões e os pilotos que às vezes decolam à noite, enquantoo capitão dorme. O certo é que a onde de desrespeitos coletivos que Obama encontrou em seu pátio latinoamericano era tão colossal, que a guerra não podia absolutamente ser resolvida unicamente pela via da força. Não digo que sem a forma, mas que não só pela força. Era imprescindível um golpe de Estado pedagógico – e para isso escolheu-se o elo mais débil, Honduras -, mas um golpe que fosse acompanhado de justificativas (supostamente) legais, de trâmites burocráticos, de condenações públicas e de apertos de mãos privados.

Um novo conceito para legitimar culturalmente certos golpes de Estado: no futuro a democracia deixará de existir se a maioria do povo expressa eleitoralmente sua inconformidade com uma legislação que garanta os interesses imperialistas. E será legítimo o uso da força, a dos militares claro, não a do povo. Os líderes sindicais que “o governo de fato” – o que deu o golpe e que acaba de auto-eleger-se em estado de sítio – assassina todos os dias parecem não importar a ninguém. Mas os objetivos mais importantes da guerra cultural são dois: Cuba e Venezuela.

Foi talvez em Trinidad Y Tobago onde Obama compreendeu que o prestígio de Cuba era imenso. Ao término daquela Cúpula, na qual estreava seu sorriso, falou da “utilização” do internacionalismo médico da Revolução Cubana com supostos fins propagandísticos. Esse prestígio é algo que atormenta os ideólogos da direita, que sonham com a deserção de todos os médicos cubanos. El país, órgão da transnacional PRISA na Espanha, qualifica a esquerda que apóia Cuba de stalinista e nostálgica. Nossos pequenos ideólogos de Miami, México ou Barcelona, tratam de esclarecer, com pretensões acadêmicas, as razões dessa simpatia internacional e organizam cartas de condenação que levam de porta em porta. Usam todas as armas para dissuadir os solidários com essa experiência, incluindo aí a chantagem política e, se necessário, o fuzilamento midiático. A guerra é à morte.

Os diplomatas dos EUA e de alguns países europeus servidores de sua política já não se escondem em Cuba; caminham sem pudor entre os dissidentes que constroem e financiam. Usurpam os símbolos da Revolução, da esquerda, e os preenchem de conteúdo contra-revolucionário; plagiam as Mães da Praça de Maio – aquelas que sempre desprezaram e combateram – para construir as Damas de Branco. São ingredientes para um bom coquetel: mulheres debilitadas e acompanhantes, roupa branca (além do símbolo da paz, em Cuba essa cor adquire outros significados religiosos, para nada católicos), gladíolos, missas católicas. O que importa é o enquadramento da câmera. Entre com a moldura, que eu faço a guerra, dizia Hearst em 1898; ou, em termos atuais, construa o set e filme a cena – ou dê uma “tweetada” se preferir – que eu escrevo o roteiro.

Demonizar Cuba. Fazer com que as crianças das escolas espanholas sintam pena das crianças cubanas, escolarizadas, saudáveis, como poucas na América Latina. Fazer com que os cidadãos honestos que só têm tempo para sobreviver em meio a uma crise econômica que ameaça sua tranqüilidade primeiro-mundista, se compadeçam dos cubanos, mais pobres, é certo, e, no entanto, mais protegidos, e, apesar de tudo, mais livres como seres humanos. Que olhem para Cuba e se desinteressem pelo que ocorrem no Iraque, na Palestina ou na América Latina, ou na Espanha. Que convertam a ALBA – esse maravilhoso sistema de solidariedade entre povos – em um empório de obscuros interesses ideológicos. O difícil, porém, é que uma operação cultural de caráter midiático possa superar ou reverter a vivência de centenas de milhares de latinoamericanos, de africanos, asiáticos, norte-americanos e europeus, que já receberam a solidariedade cubana e venezuelana. O difícil é ocultar o sol com um dedo, principalmente quando esse dedo carrega o anel imperial.

(*) Enrique Ubieta Gómez é jornalista e escritor, editor do blog La Isla Desconocida.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br