quarta-feira, 3 de março de 2010

Fazendo Media - Notas por Marcelo Salles (Instituto Millenium)


Notas Por Marcelo Salles, 02.03.2010

1) A reunião desta segunda-feira no Instituto Millenium lembrou muito um certo grupo político, num país muito, muito distante, que queria ficar no poder por mil anos. Vai ver esta seja a explicação para o nome da entidade.

2) A criação da Altercom é uma das melhores notícias dos últimos anos. Leia aqui a reportagem de Bia Barbosa. http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16411

3) Os índices de violência caíram em todo o país, menos no Rio. É que o governo Sérgio Cabral continua somando forças. Forças brutas.

4) Hoje o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse em audiência no Senado que o anteprojeto de lei sobre a Comissão da Verdade vai, sim, investigar os dois lados. É como se a luta armada que se deu na ditadura de 1964 tivesse sido equilibrada. É como se os dois lados tivessem forças equivalentes. Um Estado (Marinha, Exército e Aeronáutica + polícias) contra algumas centenas de pessoas. Essa ignorância vem sendo cultivada pela direita, diga-se de passagem, com muita inteligência. Isso impede o aprofundamento do debate e que as pessoas entendam o contexto do golpe e da ditadura que se seguiu. Impede que a gente entenda a participação dos EUA, a doutrinação ideológica que levou anos e anos, a constituição de sistemas de educação e comunicação que hoje são fundamentais para a manutenção da ordem social injusta. Infelizmente as esquerdas, no Brasil, ainda estão muito longe de entender a importância de disputar a produção e reprodução das subjetividades.

Comentário de Marco Aurélio Mello
Servi a Arnaldo Jabor durante três anos, enquanto fui editor de política do Jornal da Globo, com Ana Paula Padrão. Ajudava a pautá-lo, quando não tinha assunto, fazia o meio de campo para que ele e o Franklin Martins não comentassem o mesmo assunto e ajudava-o a lidar com a informática, ferramenta que, para ele, era um problema sem solução. Sempre admirei o neto de libaneses, não apenas pelos filmes sensíveis que dirigiu, mas pela sagacidade e acidez crítica. Foi uma das poucas vozes que ousaram desafiar o consensual príncipe FHC, tanto no apogeu, quanto na derrocada. Dizia que se considerava amigo o bastante para dizer aquilo que só os amigos podem. Sempre foi um intelectual ligado ao PSDB e nunca escondeu isso de ninguém. Também nunca negou publicamente o vínculo afetivo com José Serra, com quem sempre teve laços de intimidade. Mas, como todo homem, Jabor também tem seus desvarios. Costumava dizer que estava arruinado, quando pediu uma vaga de “qualquer coisa” na Folha de S. Paulo, no fim dos anos oitenta. “Todo mundo pensa que cinema dá dinheiro. Pra mim só deu prestígio. Não comia ninguém e quase morri de fome”. Também costumava dizer que tinha sido de esquerda, como quem repele o rótulo, por achar que ser de esquerda é uma coisa assim, meio adolescente… Com a fama de diretor de cinema consagrado, prestígio de colunista de jornal, de escritor e, depois, de comentarista de TV, costumava dizer que queria ter minha juventude e disposição para se entregar exclusivamene aos prazeres da carne. Estava fascinado com as possibilidades que o dinheiro e a fama podiam lhe ofertar. Mas, infelizmente, nos banquetes e nas palestras para os quais passou a ser convidado não cabiam o povo. Aos poucos foi se esquecendo das necessidades da velha “massa de manobras”, ou do “exército de formiguinhas corruptas e amorais”, como passou a chamar os desafortunados, para comungar no paraíso das exceções, dos privilégios, dos brilhantes e dos abençoados. Não é por acaso que hoje se alinha aos seus, na defesa da tradição, da família da elite branca e da propriedade privada. Como renegá-los? Da última vez que o encontrei estava inquieto: imagina ele, um homem “simples”, acostumado a longas caminhadas no calçadão, com seu inseparável amigo da sétima arte, Cacá Diegues, ter que andar de carro blindado? É Jabor, é o preço que custa a sociedade em que você e a turma do Millenium acreditam.

Comentário de João Martins
Para caracterizar o mundo imaginário em que vivem estes senhores há mileniuns, mas por conveniência à sua liberdade monopolista de expressão, destaquei duas intervenções que revelam valores cultivados num samba do tucano doido:

1 – “Então o perigo maior que nos ronda é ficar abstratos enquanto os outros são objetivos e obstinados, furando nossa resistência. A classe, o grupo e as pessoas ligadas à imprensa têm que ter uma atitude ofensiva e não defensiva. Temos que combater os indícios, que estão todos aí. O mundo hoje é de muita liberdade de expressão, inclusive tecnológica, e isso provoca revolta nos velhos esquerdistas. Por isso tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução. Senão isso se esvai. Nossa atitude tem que ser agressiva”, disse Jabor, convocando os presentes para a guerra ideológica.

2 – “Na hora em que a imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem quer a solapar, começaremos a mudar uma certa cultura”, prevê Reinaldo Azevedo.

Fonte: http://www.fazendomedia.com/

2 comentários:

João Martins disse...

Amigos,não imaginei me encontrar por aqui. Este último comentário é meu mesmo, que está no post do fazendo Media sobre o instituto millenium e outros assuntos que o Marcelo Salles informou.

Os outros assuntos no mesmo "notas por Marcelo Salles" eu também comentei. Deem uma conferida...

Abraços,
João Martins

Provos Brasil disse...

Amigo, na grande rede podemos estar em todos os lugares!

Em todos os debates, e como esse é um bom debate estamos juntos e misturados!

E aproveito para dizer que o ilustre medíocre Demétrio Magnoli anda pela blogesfera muito bravo, e como sempre defendendo muito bem a elite fascista que o financia na sua lida é bela aventura “imprensa independente”, até o Observatório da Imprensa resolveu dar guarida e essa corja, e o OI até exclui os comentários contra tal ilustre persona!

Provos Brasil