quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Obama festeja o ano novo! Por Latuff

A poesia palestina de resistência: O cantar dos que não se rendem



A poesia palestina de resistência: O cantar dos que não se rendem

Apesar da forte repressão à arte popular — “A democracia israelense não suporta que os palestinos cantem”, disse uma vez o poeta Tawfic Zayyad — a poesia daquele povo árabe não é “marginal”. Como disse o peruano Julio Carmona, “marginal é a poesia que a estética dominante pontifica ou institucionaliza; ao se tomar o povo como pedra de toque (e sempre o povo tem a última palavra em tudo) a única poesia que não se marginaliza é aquela que não se afasta de sua fonte, aquela que vinda do povo, a ele retorna.”

O poema é, de longe, o mais popular gênero da literatura palestina. Isto pode ser em parte atribuído à forte tradição oral da sua cultura. Houve, desde o início, uma vontade de simplicidade na poesia de resistência. Os artifícios de linguagem em favor da estética foram postos de lado. O poeta Mahmud Darwish expressou claramente isso num de seus primeiros versos:

Se os mais humildes não nos compreendem
será melhor jogar fora os poemas
e ficarmos calados.
O poeta diz:
se meus versos são bons para meus amigos
e enfurecem os meus inimigos
então é que sou mesmo poeta
e devo continuar cantando.

Fontes: Poesia Palestina da Resistência , edição OLP/Brasil, 1986 e Beleza Cruel (prólogo de Julio Carmona), edição Lira Popular, Peru, 1982.

Não iremos embora
Tawfic Zayyad*

Aqui
Sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Em vossas goelas
Como cacos de vidro
Imperturbáveis
E em vossos olhos
Como uma tempestade de fogo
Aqui
Sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Em lavar os pratos em vossas casas
Em encher os copos dos senhores
Em esfregar os ladrilhos das cozinhas pretas
Para arrancar
A comida de nossos filhos
De vossas presas azuis
Aqui sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Famintos
Nus
Provocadores
Declamando poemas
Somos os guardiões da sombra
Das laranjeiras e das oliveiras
Semeamos as idéias como o fermento na massa
Nossos nervos são de gelo
Mas nossos corações vomitam fogo
Quando tivermos sede
Espremeremos as pedras
E comeremos terra
Quando estivermos famintos
Mas não iremos embora
E não seremos avarentos com nosso sangue
Aqui
Temos um passado
E um presente
Aqui
Está nosso futuro
*Tawfic Zayyad, palestino de Nazaré, é considerado um pioneiro da poesia de resistência. A maior parte de sua obra foi escrita na prisão.
Discurso no mercado do desempregoSamih Al-Qassim*

Talvez perca — se desejares — minha subsistência
Talvez venda minhas roupas e meu colchão
Talvez trabalhe na pedreira... como carregador... ou varredor
Talvez procure grãos no esterco
Talvez fique nu e faminto
Mas não me venderei
Ó inimigo do sol
E até a última pulsação de minhas veias
Resistirei
Talvez me despojes da última polegada da minha terra
Talvez aprisiones minha juventude
Talvez me roubes a herança de meus antepassados
Móveis... utensílios e jarras
Talvez queimes meus poemas e meus livros
Talvez atires meu corpo aos cães
Talvez levantes espantos de terror sobre nossa aldeia
Mas não me venderei
Ó inimigo do sol
E até a última pulsação de minhas veias
Resistirei
Talvez apagues todas as luzes de minha noite
Talvez me prives da ternura de minha mãe
Talvez falsifiques minha história
Talvez ponhas máscaras para enganar meus amigos
Talvez levantes muralhas e muralhas ao meu redor
Talvez me crucifiques um dia diante de espetáculos indignos
Mas não me venderei
Ó inimigo do sol
E até a última pulsação de minhas veias
Resistirei
Ó inimigo do sol
O porto transborda de beleza... e de signos
Botes e alegrias
Clamores e manifestações
Os cantos patrióticos arrebentam as gargantas
E no horizonte... há velas
Que desafiam o vento... a tempestade e franqueiam os obstáculos
É o regresso de Ulisses
Do mar das privações
O regresso do sol... de meu povo exilado
E para seus olhos
Ó inimigo do sol
Juro que não me venderei
E até a última pulsação de minhas veias
Resistirei
Resistirei
Resistirei

*Samih Al-Qassim nasceu em Zarqá, no seio de uma família drusa. Formado professor, depois da publicação de seus primeiros poemas foi proibido pelos israelenses de exercer a profissão.

Fonte: http://liberdadepalestina.blogspot.com

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Meu grande presente do ano: Hobsbawm






I – chega com 45 dias, frágil e assustado.

II – com cinco meses já domina o ambiente.

III – já é o dono da casa.

Hobsbawm é o gato mais malandro que conheço!


* Fotos by Nema Herrero

Alô Prefeito!!! Estamos no Jardim Romano Zona Leste, a Veneza da ZL!



A nova muralha: Palestinos à beira da 3ª intifada

A consciência de terem sido traídos e abandonados é fermento explosivo na Palestina, sobretudo por causa do bloqueio político imposto pela ocupação militar direta dos territórios – o cerco contra a OLP e a Autoridade Palestina na Cisjordânia; e o violento bloqueio israelense imposto na Faixa de Gaza. Todas as condições estão maduras para a eclosão da violência mais brutal: uma 3ª intifada palestina na Cisjordânia, e novo ataque militar por Israel contra os cidadãos em Gaza. O artigo é do jornalista Nicola Nasser, que trabalha em território palestino ocupado.

Nicola Nasser - Counterpunch

Data: 28/12/2009
“Ante a ausência de qualquer esperança, imponhamos o nosso grito de esperança”. Com essa frase, os líderes cristãos palestinos de várias igrejas e organizações ligadas a elas, reunidos em Belém, dia 11/12, concluíram o documento final do encontro, intitulado “Kairos Palestine – 2009: A Moment of Truth”.

O documento pode ser lido (em inglês/francês/alemão) em “Teologia da Libertação” . Ali, os cristãos de todo o mundo são convocados para lutar contra a ocupação israelense dos territórios palestinos. O grito desses católicos simboliza ao mesmo tempo uma disposição popular e o status quo político.

Os palestinos sobrevivem e lutam, dividos entre a Cisjordânia governada pelo Fatah (apoiado pelos EUA, com deputados intimidados pelo poder de Israel, potência ocupante, com quem o Fatah coordena suas ações ‘de paz’ e ‘de segurança’, via pela qual o ‘processo de paz’ chega aos 16 anos em impasse total; e prosseguem as construções ilegais de colônias israelenses em territórios ocupados) e a Faixa de Gaza governada pelo Hamas. Na Faixa de Gaza, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) dedica-se a manter o cessar-fogo, ao mesmo tempo em que participa de negociações mediadas pelo Egito e pela Alemanha sobre troca de prisioneiros. Até agora, falharam todas as vias tentadas, sejam militares sejam políticas; e sucessivas negociações fracassadas fizeram abortar qualquer perspectiva de paz. A paz parece ser miragem – perfeita metáfora do futuro de uma comunidade internacional liderada pelos EUA de Obama. Se se examina o futuro, a única certeza é que a Palestina está à beira de explodir.

“Não há solução bilateral. O caminho mais curto até o próximo round de violência passará agora pelo fracasso de mais um ‘processo de paz’, que sim, certamente fracassará. Talvez aconteça em 2010. A Palestina está madura para explodir” – disse Gershon Baskin do Israel-Palestine Center for Research and Information, em debate patrocinado pelos russos na Jordânia, semana passada. O “perigoso impasse” exige que se organize “missão de resgate”, disseram os palestrantes, segundo a Agência Reuters. O ex-primeiro-ministro russo Evgeny Primakov alertou para a evidência de que “uma crise real” acontecerá, se a comunidade internacional não intervier; acrescentou que o chamado “Quarteto para o Oriente Médio” (EUA, ONU, Rússia e União Europeia) deixo u de operar. Dia 15/12, o presidente Mahmoud Abbas da Autoridade Palestina disse, em reunião do Conselho Central da OLP em Ramallah: “Agora, a bola está no campo da comunidade internacional. A bola está com os EUA.”

Abbas parece estar batendo à porta errada. Barak Obama entrará para a história como o primeiro presidente dos EUA que arrastou um tradicional aliado dos EUA, como Abbas, a declarar publicamente que “a Palestina está desapontada com os EUA”, que fracassaram no papel de mediadores no conflito Israel-Palestina. Isso, apesar da ‘euforia’ que, segundo Obama, teria tomado os palestinos quando Abbas foi ungido com a honra de receber o primeiro telefonema de Obama, no instante em que pisou na Casa Branca como presidente. O governo Obama até agora obteve “avanço zero. Não falhou apenas ao não conseguir manter ativas as negociações. Falhou também porque ninguém espera que Obama consiga, mais tarde, o que não conseguiu no pico de popularidade, nos primeiros dias de governo.” – Essa é a opinião de Barry Rubin, diretor do Global Research in International Affairs (GLORIA) Center, Interdisciplinary university, publicada em Global Politician, edição de 19/12.

Obama detonou a missão de seu próprio enviado especial ao Oriente Médio, George Mitchell, ao mandar para lá a secretária de Estado Hilária Clinton, em março, aparentemente para que reunisse líderes palestinos e israelenses para que reiniciassem as negociações. Fato é que a visita de Hilária Clinton levou a resultado exatamente oposto e marcou completa inversão dos objetivos de quem, para os palestinos, seria negociador honesto e equilibrado. Depois da passagem de Hilária Clinton pela Região, deixou de haver mediador e mediação; e os interesses de Israel passaram a dominar todos os contextos; e as negociações foram imediatamente suspensas.

Evento seguinte foi a operação coordenada entre EUA e Israel para matar na manjedoura o Relatório Goldstone – alegadamente porque o relatório criaria “obstáculo substancial” entre os dois lados (nas palavras do secretário de Estado assistente P.J. Crowley, dia 10/12). Com isso, viu-se que o fracasso da missão Clinton não foi apenas resultado das trapalhadas de Hilária Clinton, mas fracasso de toda uma política ideada pelo governo Obama cujo primeiro movimento foi ‘exigir’ “congelamento” de todas as construções de colônias israelenses. Dado que Obama ‘exigiu’, Abbas também teve de ‘exigir’. Nessa operação, Abbas converteu-se em refém de uma ‘exigência’ que Obama ‘exigiu’, não conseguiu impor e não obteve, em jogada na qual Obama... perdeu. Com Obama, perdeu também Abbas, que pa gou caro pelo erro de deixar todos os seus ovos na cesta de Obama.

Obama e seu governo não dão sinais de arrependimento e seguem os passos da aliança estratégica tradicional entre EUA e Israel, na contramão de todas as ‘mudanças’ que Obama-candidato prometeu aos eleitores. Semana passada, Obama assinou o orçamento da ajuda para segurança que os EUA distribuirão aos seus aliados em 2010; a quota de Israel subiu, para o próximo ano, para US$2,775 bilhões; dos 2,500 bilhões de 2009, alcançará em 2013 $3,1 bilhões. Árabes, inclusive os palestinos, veem aí o dinheiro de que Israel precisa para alimentar intransigência cada vez mais absoluta contra qualquer paz. Os $500 milhões alocados para a Autoridade Palestina (nos quais estão incluídos os 100 milhões do general Keith Dayton), são suficientes, no máximo, para que a Autoridade Palestina mantenha o nariz fora d’água e possa continuar operando como força auxiliar do exército israelense.

Nunca antes, nem em tempos melhores, muito antes de os palestinos dividirem-se entre Fatah e Hamas, antes da reocupação militar em 2002 do território da AP na Cisjordânia e antes do bloqueio imposto a Gaza, a Autoridade Palestina dependeu tanto de patrocinadores. O processo começou, de fato, quando foi assinado em Washington, em 1993, a “Declaração de Princípios” entre a OLP e Israel, pela qual Israel conseguiu livrar-se de todos os deveres e obrigações que, como exército ocupante, a lei internacional lhe impunha.

Confusa, mas muito agradecida, a OLP aceitou o dinheiro que lhe davam como arranjo temporário, à espera de negociações que seriam retomadas e só seriam dadas por concluídas com a criação de um Estado palestino independente que existiria ao lado de Israel, com liberdade e segurança. Essa foi a promessa que os EUA (e a comunidade internacional liderada pelos EUA) fizeram aos palestinos, primeiro em 1999, depois em 2005, depois novamente em 2008 e que, agora, o governo Obama está ‘re-prometendo’!

Mas o dinheiro dos patrocinadores internacionais converteu-se, de arranjo temporário em prática permanente. Assim, o orçamento de Israel foi aliviado, dentre outras despesas, de boa parte de seus gastos com a ocupação militar; e de boa parte de seus gastos com ‘prêmios’ dados a qualquer ação de provocação que possa servir de pretexto para novos atos de violência contra palestinos. Não bastasse, a Autoridade Palestina e a OLP caíram na armadilha e, hoje, tornaram-se reféns das condições políticas que interesse aos patrocinadores impor.

A desilusão com o uso dado ao dinheiro dos patrocinadores internacionais cresce entre os palestinos, tanto quanto cresce a desesperança em relação a qualquer ‘processo de paz’. Os palestinos, que contribuíram muito substancialmente para a construção do Estado em termos regionais e nacionais, e que ainda contribuem significativamente em várias economias regionais e locais, são povo cheio de recursos, de capital, de conhecimento, de competências e talentos para trabalho manual e intelectual, perfeitamente capazes de construir a sociedade que desejem ser e ter. Para tanto, precisam obter o direito à autodeterminação, liberdade, direito de fazer e de ir e vir, e plena soberania. À medida que cresce a desilusão, o papel dos patrocinadores políticos internacionais gera ca da dia maiores suspeitas, criando humilhações, exacerbando a frustração e a desesperança. Em resumo, os patrocínios e o mau uso dados a essas verbas enfraquecem, na sociedade palestina, todas as forças e os argumentos da conciliação e da prudência. É como se já ninguém conseguisse manter tampada a panela, enquanto, dentro, a pressão só aumenta. O desespero transitório vai-se convertendo em realidade do dia a dia, em status quo que não se altera.

A frustração dos palestinos em relação à comunidade internacional não é novidade; nasceu na assembleia geral da ONU de 1947, da Resolução n. 181 – que determinou a divisão da terra dos palestinos em dois Estados – e da Resolução n. 194, de 1948. O mesmo sentimento de terem sido traídos encontrou expressão forte na Cisjordânia, no “desapontamento” de que falou Abbas. Em seguida, o presidente da AP anunciou que não concorreria às eleições presidenciais: “Para mim, todos os caminhos estão fechados. Decidi não me candidatar a novo mandato. Não sou otimista nem quero cultivar ilusões” – disse Abbas ao jornal Ash-Sharq Al-Awsat editado em árabe, em Londres.

Quanto à Faixa de Gaza, o último capítulo da traição da Palestina pela comunidade internacional foi enunciado em Paris, dia 22/12, por 16 grupos de direitos humanos, dentre os quais Anistia Internacional, Oxfam e Christian Aid: “A comunidade internacional traiu o povo de Gaza quando não uniu ação aos discursos contra o bloqueio israelense (...). As potências mundiais falharam e traíram o povo comum que sobrevive em Gaza. Houve reuniões e declarações, mas praticamente nenhuma ação contra Israel” – diz o documento final daquela reunião em Paris.

A consciência de terem sido traídos e abandonados é fermento explosivo na Palestina, sobretudo por causa do bloqueio político imposto pela ocupação militar direta dos territórios – o cerco contra a OLP e a Autoridade Palestina na Cisjordânia; e o violento bloqueio israelense imposto na Faixa de Gaza. Todas as condições estão maduras para a eclosão da violência mais brutal: uma 3ª intifada palestina na Cisjordânia, e novo ataque militar por Israel contra os cidadãos em Gaza.

Abbas, em entrevista ao The Wall Street Journal dia 22/12, alertou para a intifada iminente. De fato, disse que “enquanto eu estiver no governo não admitirei que ninguém deflagre uma nova intifada, nunca, nunca. Mas depois que me afastar do governo as coisas mudarão. Não posso oferecer quaisquer garantias.”

Simultaneamente, na Faixa de Gaza, o Hamás – às vésperas do primeiro aniversário da invasão pelo exército israelense (Operação Chumbo Derretido) – alerta para o risco iminente de nova invasão israelense.

O indicador mais visível de que Israel prepara-se para novo ataque é um novo muro de aço, uma muralha que o Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA está construindo para cercar toda a área na qual se estima que haja 1.500 túneis operados por palestinos – ao longo dos 14 quilômetros da fronteira Sinai-Gaza. Em janeiro de 2008, milhares de árabes palestinos conseguiram entrar em território egípcio – no momento em que pelo menos um governo árabe conseguiu manifestar alguma solidariedade com o sofrimento dos palestinos que se acumulavam na fronteira à espera de água, comida, remédios, socorro médico. Imediatamente, Israel fechou todas as fronteiras. Então os palestinos começaram a construir túneis.

Agora, soldados dos EUA estão construindo um muralha com placas de aço de 18 metros, testadas em laboratórios norte-americanos para resistirem a bombas e armas de alto calibre, que penetram no solo até uma profundidade de 30 metros. Essas placas de aço, além do mais, desviarão o curso e contaminarão os reservatórios naturais de água subterrânea. Quando a barreira estiver concluída – no máximo dentro de 18 meses –, toda a Região perderá acesso a 60% da água hoje existente, segundo Karen Koning AbuZayd, comissária-geral da UNRWA.

Para AbuZayad, que falou em fórum organizado na American University no Cairo, a nova muralha de aço é mais resistente que a Linha Bar Lev, construída pelo exército de Israel na costa leste do Canal de Suez depois de ter ocupado a Península do Sinai, do Egito, em 1967.

Nenhum povo ou país no mundo toleraria esse tipo de muralha ‘defensiva’ em suas fronteiras – caso não conhecido no mundo moderno –, ou deixaria de considerar a construção da muralha como ato de guerra. A muralha de aço só interessa aos objetivos políticos e militares de Israel, embora a muralha, de fato, seja ‘made in USA’ – segundo depoimento de AbuZayd – e esteja sendo construída por soldados da guarda de fronteira egípcia. Assim, do ponto de vista dos palestinos, a muralha é vista como parte da ocupação israelense e ato de agressão – e, claro, como alvo possível de ataque. Contudo, os palestinos, pelo menos na Faixa de Gaza, estão em estado de guerra contra Israel, mas não contra o Egito. Consequentemente, qualquer ato violento que se materialize por contra a muralha deverá ser entendido c omo ato das hostilidades entre palestinos e israelenses.

Segundo as análises feitas pelo Hamas, o Egito ter-se-ia precavido contra a reação palestina, árabe, muçulmana e internacional ante mais esse ato de punição coletiva de 1,5 milhão de palestinos, a menos que o Cairo já esteja contando com uma invasão israelense, que levantará “os protestos de sempre”, ante os quais mal se ouvirão protestos específicos contra a muralha.

Israel está trabalhando para desviar a atenção do mundo e ocultar a iminente explosão na Palestina. Por isso, tanto tem falado a respeito de uma “ameaça iraniana” que não poderia ser deixada sem resposta. Tudo indica que o governo Obama já deu luz verde para a agenda sionista e já arrastou consigo os aliados europeus. Pelo que se vê, tudo se passa como se não houvesse outro problema no mundo... além da “ameaça iraniana” e, claro, como sempre, a ‘ameaça’ palestina.

Nicola Nasser é jornalista. Trabalha em Bir Zeit, Cisjordânia, Território Palestino Ocupado

Tradução: Caia Fitipaldi

Fonte: www.cartamaior.com.br

O legado de 1989 nos dois hemisférios



O legado de 1989 nos dois hemisférios

O contraste entre a queda do Muro de Berlim, a libertação dos países satélites da antiga União Soviética e o esmagamento da esperança nos estados clientes dos EUA é impressionante e instrutivo – ainda mais quando ampliamos a perspectiva. Os eventos são memoráveis, mas perspectivas alternativas podem ser reveladoras. Principalmente quando há outros muros a serem derrubados, como o muro de anexação na Palestina e o silêncio sobre o que aconteceu uma semana depois da queda do Muro de Berlim: o assassinato de seis importantes intelectuais jesuítas em El Salvador, por homens treinados na Escola das Américas. O artigo é de Noam Chomsky.
Data: 28/12/2009

Este ano marcou o aniversário de grandes eventos ocorridos em 1989: "o maior ano da história do mundo desde 1945", como o historiador britânico Timothy Garton Ash o descreve. Naquele ano, "tudo mudou", escreve Garton Ash. As reformas de Mikhail Gorbachev na Rússia e a sua "impressionante renúncia do uso da força" levaram à queda do Muro de Berlim, em 9 de Novembro – e à libertação da Europa Oriental da tirania russa. Os elogios são merecidos, os eventos, memoráveis. Mas perspectivas alternativas podem ser reveladoras.

A chanceler alemã, Angela Merkel, forneceu – sem querer – uma tal perspectiva, quando apelou a todos nós para "usar este dom inestimável da liberdade para ultrapassar os muros do nosso tempo". Uma forma de seguir o seu bom conselho seria desmantelar o muro maciço, superando o muro de Berlim em escala e comprimento, que serpenteia atualmente através do território da Palestina, em violação do direito internacional.

O “muro de anexação”, como deveria ser chamado, é justificado em termos de “segurança” – a racionalização por defeito para muitas das ações do Estado. Se a segurança fosse a preocupação, o muro teria sido construído ao longo da fronteira e tornado inexpugnável. O propósito desta monstruosidade, construído com o apoio dos EUA e a cumplicidade européia, é permitir que Israel se aposse de valiosa terra palestina e dos principais recursos hídricos da região, negando assim qualquer existência nacional viável à população autóctone da antiga Palestina.

Outra perspectiva sobre 1989 vem de Thomas Carothers, um acadêmico que trabalhou em programas de “reforço da democracia” na administração do antigo presidente Ronald Reagan. Depois de rever o registro, Carothers concluiu que todos os líderes dos EUA foram "esquizofrênicos" – apoiando a democracia quando se conforma aos objetivos estratégicos e econômicos dos EUA, como nos satélites soviéticos, mas não nos estados clientes dos EUA.

Esta perspectiva é dramaticamente confirmada pela recente comemoração dos acontecimentos de Novembro de 1989. A queda do muro de Berlim foi comemorada com razão, mas houve pouca atenção ao que aconteceu uma semana mais tarde: em 16 de Novembro, em El Salvador, o assassinato de seis importantes intelectuais latino-americanos, padres jesuítas, juntamente com a sua cozinheira e sua filha, pelo batalhão de elite Atlacatl, armado pelos EUA, fresco do treino renovado na Escola de Guerra Especial JFK, em Fort Bragg, Carolina do Norte.

O batalhão e seus esbirros já tinham compilado um registro sangrento ao longo da terrível década que começou em 1980 em El Salvador com o assassinato, praticamente às mesmas mãos, de Dom Oscar Romero, conhecido como “a voz dos sem voz”. Durante a década da “guerra contra o terrorismo” declarada pelo governo Reagan, o horror foi semelhante em toda a América Central.

O reinado de tortura, assassinato e destruição na região deixou centenas de milhares de mortos. O contraste entre a libertação dos satélites da União Soviética e o esmagamento da esperança nos estados clientes dos EUA é impressionante e instrutivo – ainda mais quando ampliamos a perspectiva.

O assassinato dos intelectuais jesuítas trouxe praticamente o fim à “teologia da libertação”, o renascimento do cristianismo que tinha as suas raízes modernas nas iniciativas do Papa João XXIII e do Vaticano II, que ele inaugurou em 1962. O Vaticano II "deu início a uma nova era na história da Igreja Católica", escreveu o teólogo Hans Kung. Os bispos latino-americanos adotaram a "opção preferencial pelos pobres". Assim, os bispos renovaram o pacifismo radical do Evangelho que tinha sido posto de lado quando o imperador Constantino estabeleceu o cristianismo como a religião do Império Romano – "uma revolução" que, em menos de um século, transformou a Igreja perseguida numa "Igreja perseguidora", de acordo com Kung.

No renascimento pós-Vaticano II, os sacerdotes latino-americanos, freiras e leigos levaram a mensagem do Evangelho aos pobres e perseguidos, reuniram-nos em comunidades, e encorajaram-nos a tomar o destino nas suas próprias mãos. A reação a essa heresia foi a repressão violenta. No decurso do terror e do massacre, os praticantes da Teologia da Libertação foram o alvo principal. Entre eles estão os seis mártires da Igreja, cuja execução há 20 anos é agora comemorada com um silêncio retumbante, praticamente não quebrado.

No mês passado, em Berlim, os três presidentes mais envolvidos na queda do Muro – George H. W. Bush, Mikhail Gorbachev e Helmut Kohl – discutiram quem merece crédito.

"Eu sei agora como o céu nos ajudou", disse Kohl. George H. W. Bush elogiou o povo da Alemanha Oriental, que "por muito tempo foi privado dos seus direitos dados por Deus". Gorbachev sugeriu que os Estados Unidos precisam da sua própria Perestroika.

Não existem dúvidas sobre a responsabilidade pela demolição da tentativa de reavivar a igreja do Evangelho na América Latina durante a década de 1980. A Escola das Américas (desde então renomeada Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação de Segurança) em Fort Benning, na Geórgia, que treina oficiais latino-americanos, anuncia orgulhosamente que o Exército dos EUA ajudou a "derrotar a teologia da libertação" – assistida, com certeza, pelo Vaticano, utilizando a mão suave da expulsão e da supressão.

A sinistra campanha para reverter a heresia posta em movimento pelo Concílio Vaticano II recebeu uma incomparável expressão literária na parábola do Grande Inquisidor em Os Irmãos Karamazov de Dostoievski.

Nessa história, situada em Sevilha no "momento mais terrível da Inquisição", Jesus Cristo aparece subitamente nas ruas, "de mansinho, sem ser observado, e contudo, por estranho que pareça, toda a gente o reconheceu" e foi "irresistivelmente atraída para ele".

O Grande Inquisidor ordena aos guardas: "prendam-no e levem-no" para a prisão. Lá, ele acusa Cristo de vir "prejudicar-nos" na grande obra de destruir as idéias subversivas de liberdade e comunidade. Nós não Te seguimos, o Inquisidor admoesta Jesus, mas sim a Roma e à "espada de César". Procuramos ser os únicos governantes da Terra para que possamos ensinar à "fraca e vil" multidão que "só será livre quando renunciar à sua liberdade para nós e se submeter a nós". Então, eles serão tímidos e assustados e felizes.

Assim, amanhã, diz o inquisidor: "Devo queimar-te". Por fim, no entanto, o Inquisidor abranda a pena e liberta-o "nos becos escuros da cidade".

Os alunos da Escola das Américas não praticaram tal misericórdia.

Fonte: In These Times
Artigo traduzido por Infoalternativa.org.

Fonte: www.cartamaior.com.br

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Morre, aos 85, o ativista e poeta sul-africano Dennis Brutus



Morre, aos 85, o ativista e poeta sul-africano Dennis Brutus

O poeta e ativista sul-africano anti-apartheid Dennis Brutus morreu neste sábado (26) aos 85 anos enquanto dormia em sua casa na Cidade do Cabo, informaram seus familiares neste domingo (27).

Seu filho, Anthony, disse que o pai sofria de um câncer de próstata, de acordo com a agência de notícias sul-africana Sapa.

"Sempre falava bem dos outros. Não era crítico. O contato com as pessoas jovens permitia que se mantesse mental e fisicamente em forma. Combinava a solidariedade e o desfrute com o ativismo", acrescentou.

A fundação Nelson Mandela divulgou uma nota afirmando que a contribuição de Brutus para a luta contra o apartheid e seus esforços para promover a justiça social no mundo "são apreciados e serão lembrados durante muitos anos".

Brutus nasceu no Zimbábue, então Rhodésia do Sul. Mudou-se mais tarde para a África do Sul, onde trabalhou como professor e jornalista. Nos anos 60, foi proibido de trabalhar devido a seu ativismo.

Passou 18 meses na prisão de Robben Island, onde também permaneceram por muitos anos prisioneiros políticos, como o próprio Nelson Mandela.

Brutus também trabalhou para que a África do Sul não pudesse participar de competições esportivas internacionais sob o regime do apartheid, o que levou à expulsão do país dos Jogos Olímpicos de 1970.

Mais velho, partiu para um exílio nos Estados Unidos, onde ensinou literatura e estudos africanos. Brutus publicou vários livros de poesia.

France Presse, em Johannesburgo

Por que não festejo e me faz mal o Natal. Por Mário Maestri

Por que não festejo e me faz mal o Natal
Mário Maestri

Não festejo e me faz mal o natal por diversas razões, algumas fracas, outras mais fortes. Primeiro, sou ateu praticante e, sobretudo, adulto. Portanto, não participo da solução fácil e infantil de responsabilizar entidade superior, o tal de "pai eterno", pelos desastres espirituais e materiais de cuja produção e, sobretudo, necessária reparação, nós mesmos, humanos, somos responsáveis.

Sobretudo como historiador, não vejo como celebrar o natalício de personagem sobre o qual quase não temos informação positiva e não sabemos nada sobre a data, local e condições de nascimento. Personagem que, confesso, não me é simpático, mesmo na narrativa mítico-religiosa, pois amarelou na hora de liderar seu povo, mandando-o pagar o exigido pelo invasor romano: "Dai a deus o que é de deus, dai a César, o que é de César"!

O Natal me faz mal por constituir promoção mercadológica escandalosa que invade crescentemente o mundo exigindo que, sob a pena da imediata sanção moral e afetiva, a população, seja qual for o credo, caso o tenha, presenteie familiares, amigos, superiores e subalternos, para o gáudio do comércio e tristeza de suas finanças, numa redução miserável do valor do sentimento ao custo do presente.

Não festejo e me desgosta o Natal por ser momento de ritual mecânico de hipócrita fraternidade que, em vez de fortalecer a solidariedade agonizante em cada um de nós, reforça a pretensão da redenção e do poder do indivíduo, maldição mitológica do liberalismo, simbolizada na excelência do aniversariante, exclusivo e único demiurgo dos males sociais e espirituais da humanidade.

Desgosta-me o caráter anti-social e exclusivista de celebração que reúne egoísta apenas os membros da família restrita, mesmo os que não se freqüentaram e se suportaram durante o ano vencido, e não o farão, no ano vindouro. Festa que acolhe somente os estrangeiros incorporados por vínculos matrimoniais ao grupo familiar excelente, expulsos da cerimônia apenas ousam romper aqueles liames.

Horroriza-me o sentimento de falsa e melosa fraternidade geral, com que nos intoxica com impudícia crescente a grande mídia, ano após ano, quando a celebração aproxima-se, no contexto da contraditória santificação social do egoísmo e do individualismo. Ao igual dos armistícios natalinos das grandes guerras, que reforçavam, e ainda reforçam - vide o peru de Bush, no Iraque -, o consenso sobre a bondade dos valores que justificavam o massacre de cada dia, interrompendo-o por uma noite apenas.

Não festejo o Natal porque, desde criança, como creio para muitíssimos de nós, a festa, não sei muito bem por que, constituía um momento de tensão e angústia, talvez por prometer sentimentos de paz e fraternidade há muito perdidos, substituindo-os pela comilança indigesta e a abertura sôfrega de presentes, ciumentamente cotejados com os cantos dos olhos aos dos outros presenteados.

Por tudo isso, celebro, sim, o Primeiro do Ano, festa plebéia, hedonista, aberta a todos, sem discursos melosos, celebrada na praça e na rua, no virar da noite, ao pipocar dos fogos lançados contra os céus. Celebro o Primeiro do Ano, tradição pagã, sem religião e cor, quando os extrovertidos abraçam os mais próximos e os introvertidos levantam tímidos a taça aos estranhos, despedindo-se com esperança de um ano mais ou menos pesado, mais ou menos frutífero, mais ou menos sofrido, na certeza renovada de que, enquanto houver vida e luta, haverá esperança.

Mário Maestri é historiador.

Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/

sábado, 26 de dezembro de 2009

Centro Ativista Popular abre as portas em Lake Worth - ANA







Centro Ativista Popular abre as portas em Lake Worth

[Ativistas, ambientalistas e outros interessados em causas sociais têm um novo lugar para freqüentar em Lake Worth: O Centro Ativista Popular Garça da Noite.]

Localizado na Central Terrace 1307, no prédio North G Center, na 13ª Avenida Norte, o recentemente aberto Centro Ativista Popular foi criado como um esforço colaborativo de muitos grupos de ativistas, incluindo a Coalizão Ambiental do Condado de Palm Beach, o Earth First! Everglades, o Comidas Sim Bombas Não de West Palm Beach e o Fundo de Defesa Ativista do Sul da Flórida.

Os organizadores planejam chamar voluntários para trabalhar no centro e assim mantê-lo aberto ao público nas segundas, terças e sábados, das 10 da manhã às 6 da tarde.

O centro tem uma “maravilhosa biblioteca de empréstimo” e oferecerá computadores para uso público e algumas atividades pós-escola para crianças, disse Penny Darling, uma advogada de direitos da mulher e membro do comitê de organização do centro.

Os organizadores planejam desenvolver no lugar apresentações artísticas, grupos de leitura, grupos de apoio, grupos de discussão, exibição de filmes, shows musicais, palestrantes convidados e reuniões organizacionais.

Eles esquematizam que o espaço se torne um ponto de convergência para grupos de ativistas que existem por todo o Condado de Palm Beach.

“Será extraordinário para a comunidade”, disse Carol Strick, uma artista e membro da Coalizão Ambiental do Condado de Palm Beach.

Strick está planejando usar o centro para expor trabalhos artísticos criados por prisioneiros de todo o país.

Ela tem feito esculturas de sabão, com uma pasta de papel higiênico e cola. Também tem desenhos e pinturas que ela diz expressar a tristeza das pessoas que estão passando suas vidas atrás das grades.

A exibição de arte dos prisioneiros está agendada para começar em 16 de janeiro e irá durar três semanas. “Você tem que viver essa tristeza para ser capaz de entendê-la”, disse Strick. “O propósito desse esforço todo é mudar a percepção do público sobre os prisioneiros”.

A parte “garça da noite” do nome do centro foi escolhida para deixar claro que as causas ambientais estão entre as missões do projeto, disse Darling.

A biblioteca de empréstimo do centro possui livros sobre anarquismo, estudos raciais e uma seção “faça você mesmo” que dá às pessoas idéias de como executar tarefas que vão do cultivo de comida a reparos de encanamentos, conta Miranda Resnick, artista de Lake Worth que ajudou a organizar o centro e planeja dar aulas de arte lá.

O Centro Ativista Popular projeta organizar muitos eventos a cada semana. O centro não tem um sítio de internet, mas tem uma página no MySpace que pode ser encontrada se você procurar pelo nome do espaço.

Tradução > Marcelo Yokoi

agência de notícias anarquistas-ana

folha seca
sobre o travesseiro
acorda borboleta

Alice Ruiz

PS: Saudades do ICAL!!!

A justiça brasileira!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A luta popular é um perigo para Israel - Por Amira Hass

A luta popular é um perigo para Israel

Nos últimos meses, os esforços para suprimir essa luta aumentaram. O alvo: israelenses judeus e palestinos que não se dispõem a abrir mão de seus direitos de resistir ao domínio da separação demográfica e à supremacia judaica. O propósito da opressão coordenada: exaurir os ativistas e dissuadir os outros a se juntarem à luta popular, a qual provou sua eficácia em outros países, noutros tempos. O que é perigoso na luta popular é que é impossível acusá-la de terrorista e então usá-la como desculpa para fortalecer o regime de privilégios, como tem feito Israel nos últimos 20 anos. O artigo é de Amira Hass.

Amira Hass - Haaretz

Data: 23/12/2009
Há um documento interno que não vazou ou que talvez sequer tenha sido escrito, mas todas as forças [israelenses] estão agindo de acordo com sua inspiração: o Shin Bet [Serviço de Segurança Geral de Israel], as Forças de Defesa de Israel (IDF, em sua sigla em inglês), a Polícia de Fronteiras, a polícia e os juízes civis e militares. Eles encontraram o inimigo real que se recusa a definhar: a luta popular contra a ocupação.

Nos últimos meses, os esforços para suprimir essa luta aumentaram. O alvo: israelenses judeus e palestinos que não se dispõem a abrir mão de seus direitos de resistir ao domínio da separação demográfica e à supremacia judaica. O objetivo: dispersar manifestações com armas de fogo, incursões militares na madrugada e prisões em massa. Desde o começo do ano, 29 palestinos foram feridos pelos atiradores das IDF durante manifestações contra o Muro de separação. Os atiradores usaram balas de fragmentação [munição de ponta oca], a despeito de um comando explícito, de 2001, da Junta Militar Geral para não usar esse tipo de munição no enfrentamento de manifestações. Depois de os soldados terem matado A'kel Srour em junho, os tiros pararam, mas foram retomados em novembro.

Desde junho, doze manifestantes foram presos numa série de incursões militares noturnas. A maior parte deles são de Na'alim e Bil'in, cujas terras vêm sendo roubadas pelo soerguimento do Muro, e alguns são da região de Nablus, que é atacada pelos abusos de assentados. Os juízes militares têm reiterado os termos de prisão por incitação, lançamento de pedras e ameaça à segurança. A direção de uma organização ativista de Nablus foi mandada para a detenção administrativa – prisão sem processo – enquanto outros ainda estão sendo interrogados. Já há algumas semanas a polícia tem se recusado a autorizar manifestações contra o assentamento em Sheikh Jarrah, uma abominação aprovada pelas cortes. Em cada uma das duas sexta-feiras passadas a polícia prendeu mais de 20 militantes em 24 horas. Dez foram postos por meia hora numa cela cheia de vômito e diarréia no complexo militar russo de Jerusalém.

Israel também prendeu recentemente dois dos principais ativistas da organização palestina Stop the Wall, que está envolvida em pesquisa e ativismo internacional e que pede o boicote a companhias israelenses que lucram com a ocupação. Mohammad Othman foi preso há três meses. Depois de dois meses de interrogatório sem fornecer qualquer informação, foi mandado para a detenção administrativa. O coordenador da organização, Jamal Juma, residente há 47 anos em Jerusalém, foi preso em 15 de Dezembro. Há dois dias sua prisão foi estendida por mais quatro, e não para os 14 demandados pelo promotor.

O propósito da opressão coordenada: exaurir os ativistas e dissuadir os outros a se juntarem à luta popular, a qual provou sua eficácia em outros países, noutros tempos. O que é perigoso na luta popular é que é impossível acusá-la de terrorista e então usá-la como desculpa para fortalecer o regime de privilégios, como tem feito Israel nos últimos 20 anos.

A luta popular, mesmo se for limitada, mostra que os palestinos estão aprendendo com seus erros passados e com o uso de armas, e oferece alternativas que mesmo oficiais mais velhos na Autoridade Palestina têm sido forçados a apoiar – ao menos publicamente.

Yuval Diskin e Amos Yadlin, os respectivos dirigentes do serviço de segurança do Shin Bet e da Inteligência Militar já expuseram seus temores. Num relatório de inteligência ao ministério eles disseram: “Os palestinos querem continuar e construir um estado desde a base...e forçar um acordo por cima com Israel...A situação de tranquilidade na segurança da Cisjordânia e o fato de que a Autoridade Palestina está atuando contra o terror de modo eficiente tem levado a comunidade internacional a se voltar para Israel e exigir progressos”.

A repressão brutal à primeira intifada e a supressão das primeiras manifestações desarmadas da segunda intifada com fogo provaram aos palestinos que os israelenses não escutam. A repressão deixou um vácuo que foi preenchido por aqueles que santificaram o uso de armas.

É isso o que o establishment da segurança e seus superiores políticos estão tentando conseguir hoje, também, a fim de nos liberar do fardo de um levante popular?

(*) Amira Hass é jornalista israelense, colunista do Haaretz.
Tradução: Katarina Peixoto

Fonte: www.cartamaior.com.br

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Acteal: crime de lesa-humanidade e um capítulo da política contra-insurgente em Chiapas

Acteal: crime de lesa-humanidade e um capítulo da política contra-insurgente em Chiapas

O “Plano de Campanha Chiapas 94” teria por objetivo romper a relação de apoio da população com as forças opositoras. Os militares deveriam organizar, assessorar e apoiar secretamente setores da população civil como forças de autodefesa ou outras organizações paramilitares. Por Alex Hilsenbeck e Cássio Brancaleone

Chiapas, região de Los Altos, município de San Pedro Chenalhó, comunidade de Acteal, 22 de dezembro de 1997. Enquanto um grupo de indígenas tsotsiles seguia em seu terceiro dia de jejum e orações pela paz naquela conflituosa região intocada pela Revolução Mexicana de 1910, um bando armado, utilizando armas e munições de uso exclusivo do exército federal, invadiria a pequena igreja do vilarejo onde se realizava a vigília e tiraria a vida de 45 pessoas. Entre as vítimas faleceram 19 mulheres (incluindo 4 grávidas), 8 homens e 18 crianças. O abominável massacre de Acteal representou o ponto mais alto da escalada de agressões paramilitares promovida contra grupos indígenas independentes das antigas redes clientelistas de poder no estado de Chiapas, basicamente representadas pelo caciquismo priísta (o PRI – Partido Revolucionário Institucionalizado – reunia as principais elites políticas que na prática governaram o México em um sistema de partido único supostamente até o ano 2000).

Ainda que a onda de violência que explodiu em muitas regiões desse estado tenha uma vinculação quase direta (e reativa) ao levante zapatista de 1994, não se pode esquecer que Chiapas passou por um complexo processo de renovação de lideranças e organizações sociais ao longo dos anos 1970 e 1980, fruto de uma confluência entre crises econômicas, a diversificação da produção local, a imigração e colonização da região da selva, o surgimento de novos movimentos religiosos, o ingresso de novos grupos de ativistas e promotores de organizações populares na região (além e anterior aos guerrilheiros da antiga FLN), para citar alguns elementos mais importantes. Todos esses fenômenos contribuíram para colocar em xeque a hegemonia priísta em Chiapas, abrindo espaço tanto para a atuação do EZLN quanto do PRD (Partido da Revolução Democrática – principal força da esquerda eleitoral mexicana).

A multiplicação dos sujeitos coletivos que passavam então a ter condição de disputar a hegemonia política estadual e regional, seja através dos canais existentes, seja através da criação de novos espaços, foi o principal motivo que produziu uma virulenta reação por parte daqueles setores, identificados com o PRI, desesperados na tentativa de manter o monopólio das redes locais de poder. Não é fortuito que o massacre de Acteal foi movido contra uma organização indígena independente e não zapatista, o grupo Las Abejas. Sem prejuízo para sua importância, o zapatismo é apenas a ponta de lança e a parte mais visível desse processo, e os únicos que até então se dispuseram a pegar em armas.

Outras organizações, como a Frente Nacional de Luta pelo Socialismo (FNLS) e a Organização Camponesa Emiliano Zapata (OCEZ), somente para citar duas das mais expressivas, também são vítimas de perseguição, agressões e violências, ainda que muitas vezes não apareçam nos comunicados internacionais de solidariedade. Na cartografia da agitação popular chiapaneca, é importante estar atendo a essas dinâmicas de constituição de grupos autônomos e combativos de camponeses, entender a relação que mantêm entre si, e em especial com o EZLN, mas sem menosprezar suas capacidades organizativas e ideológicas no processo de catalisação dos setores subalternos.

Dito isto, podemos buscar uma explicação mais abrangente para a estratégia contra-insurgente hoje em curso em Chiapas, que se iniciou formalmente em 1994 com o fenômeno zapatista, mas que deita raízes muito antes, e talvez tenha encontrado justamente naquele episódio uma conjuntura favorável para constituir-se como um processo mais sistemático de repressão às alternativas populares.

Esse é o sentido do “Plano de Campanha Chiapas 1994”, preparado pela Secretaria da Defesa Nacional (SEDENA) do governo mexicano: um plano que, dirigido contra as organizações revolucionárias de tipo guerrilha maoísta (por isso a máxima de “tirar a água para matar o peixe”), e no caso específico dirigido contra o EZLN, atingiu em cheio todas as organizações sociais independentes ou opositoras ao PRI, tratadas genericamente como o “ambiente” (a água) a partir do qual as organizações armadas sustentam suas atividades.

Conforme comunicados zapatistas, relatórios de organizações de direitos humanos e testemunhos de observadores internacionais, vive-se em Chiapas uma situação de “guerra de baixa intensidade” ou de “contra-insurgência”, isto é, o governo ao mesmo tempo em que declara oficialmente uma situação de paz, trava um conflito não aberto, no qual busca, por um lado, desgastar a imagem do EZLN e de grupos opositores e minar o apoio das comunidades às lutas sociais através de uma guerra psicológica, e por outro lado, fazer um cerco militar. São muitos os casos relatados pela população de invasões do exército às comunidades, com saques, destruição das plantações, prisões e estupros, sempre com a desculpa de estarem ali em decorrência de “treinamento”, à procura de grupos paramilitares, plantações de drogas etc. Além disso, o governo busca cooptar as comunidades extremamente pobres com diversos “programas assistenciais”, como a distribuição recente de frangos ou bicicletas.

A implementação da estratégia do “Plano de Campanha Chiapas 94” teria como objetivo chave, portanto, romper a relação de apoio existente entre a população e as forças opositoras, sendo que os militares deveriam organizar, assessorar e apoiar secretamente setores da população civil enquanto forças de autodefesa ou outras organizações paramilitares.

Estes grupos paramilitares foram responsáveis entre 1995 e 2000 pelo deslocamento forçado de mais de 10 mil pessoas das aproximadamente 12 mil registradas pelo Centro de Direitos Humanos Fray Bartolomé de Las Casas. Em sua grande parte, por execuções, massacres e desapropriações forçadas.

Isto significa que este tipo de conflito, estabelecido desde 1995, data em que o então presidente mexicano Ernesto Zedillo retoma a via de uma escalada bélica de violência contra os zapatistas, constitui uma política deliberada de Estado para cometer ataques generalizados e sistemáticos contra a população civil. Assassinatos, deslocamentos forçados, privação de liberdade, tortura, perseguição de grupos ou coletivos políticos, étnicos, religiosos.

Tão agravante e assustador quanto a brutalidade com que foi conduzido o massacre de Acteal é, no entanto, a atitude de alguns intelectuais e do governo mexicano em atribuir ao EZLN responsabilidade indireta pelo acontecido: assim, a formação dos municípios autônomos zapatistas a partir de 1995 teria colocado em questão a legitimidade do poder político em muitas comunidades, agudizando disputas entre caciques, e entre esses e os zapatistas. Ou seja, no final, Acteal teria sido simplesmente resultado da exacerbação de “conflitos intra-comunitários”, levados até a última consequência. Desse modo, ignora-se que o massacre foi realizado com armas e munição do exército, que a polícia estadual estava justamente posicionada a 200 metros do local da chacina, e curiosamente não percebeu nada de estranho no local, e que os autores intelectuais do crime possuem ligação orgânica com o PRI, participando inclusive anteriormente em diversos níveis de governo. Nada mais cínico.

O Centro de Direito Humanos Fray Bartolomé de las Casas, tanto quanto outras respeitadas organizações de direitos humanos sediadas em Chiapas, documentou fartamente o episódio. E não podemos nos esquecer que a Comissão Civil Internacional pelos Direitos Humanos, que tem trabalhado pela promoção da justiça e contra a impunidade dos responsáveis de outros casos graves de violação de direitos humanos, como Atenco e Oaxaca, foi criada a partir do episódio de Acteal.

A situação é mais crítica ainda ao sabermos que alguns dos assassinos capturados e indiciados pelos homicídios foram absolvidos em julgamento e já gozam de liberdade. Mais uma amostra de que a derrota eleitoral do PRI em 2000, ao contrário das expectativas e das apostas de alguns setores políticos e intelectuais, não culminou com um movimento em direção a democratização do país. E em Chiapas aumenta a cada dia as denúncias de agressões e violações dos direitos humanos, contra zapatistas e outras organizações indígenas independentes, ainda que sob o governo de “esquerda” do PRD.

Assim, graças à estratégia de contra-insurgência do governo federal, atualmente estão dadas as condições para novas violências e para que Chiapas siga sendo, com o fortalecimento dos grupos paramilitares, um campo de batalha real, com mortos, desaparecidos e presos.

Longe de ser um conflito intercomunitário ou religioso, desenvolve-se um conflito político, em que o governo organiza, treina, arma e encobre grupos paramilitares para eliminar, fisicamente se for preciso, todos os que se organizam e defendem suas terras. Por isso, a luta de Acteal no México se une com as de Atenco, Oaxaca e dos zapatistas, assim como se une à dos Sem Terra, Sem Teto e às vítimas da agressão estatal no Brasil e a todas as violências perpetradas contra os Direitos Humanos em qualquer parte do mundo.

É por isso que relembrar a cada ano o luto por Acteal, como se vem fazendo há 12 anos no México e em várias partes do mundo, além de tornar audível e presente o grito por justiça pelas vítimas e seus familiares, buscando a reparação dos crimes com a punição de todos os responsáveis, inclusive os mandantes intelectuais, se constitui fundamentalmente em um posicionamento firme contra uma das modalidades mais desumanas e bestiais de aviltamento da condição humana, a chamada “guerra suja”, este procedimento em que o Estado quebra as próprias regras mais elementares do direito que ele diz representar, seja através de seus próprios agentes judiciais, policiais e militares, seja através da promoção e treinamento de grupos ilegais e ocultos, protegidos pelo aparato da legalidade, para operar os mecanismos mais bárbaros de controle social que estiver ao seu alcance para manter o que determinados grupos oligárquicos consideram a ordem e a normalidade (ou seja, seus privilégios).

Acteal, estamos e estaremos sempre presentes! Contra o capitalismo e pela humanidade!

Maiores informações: Centro de Derechos Humanos Fray Bartolomé de Las Casas:http://www.frayba.org.mx/index.php (especialmente o documento, “La política genocida en el conflicto armado en Chiapas”).

E o artigo: http://desinformemonos.org/2009/12/los-paramilitares-liberados-vuelven-a-acteal/

Fonte: http://passapalavra.info/

Israel prende coordenador da campanha "Stop the Wall" - Redação Carta Maior



Israel prende coordenador da campanha "Stop the Wall"

Jamal Juma foi preso por soldados israelenses, dia 16 de dezembro, em sua casa. Os soldados disseram a esposa de Juma que ela só voltaria a ver o marido quando houvesse uma troca de prisioneiros. Desde então, ele permanece preso e proibido de falar com um advogado ou com a família, sem nenhuma explicação oficial para a sua prisão, denuncia a Stop the Wall. Jamal, de 47 anos, dedica a vida à defesa dos direitos dos palestinos. Ele esteve este ano no Brasil, participando do Fórum Social Mundial, em Belém (Foto de Eduardo Seidl).

Redação

O governo de Israel prendeu, dia 16 de dezembro, Jamal Juma, coordenador da Campanha Stop the Wall, que luta pela derrubada do muro construído no meio do território palestino. Segundo informações do site da campanha, militares israelenses convocaram Juma para um interrogatório à meia-noite do dia 15 de dezembro. Horas depois, levaram-no de volta para sua casa. Juma foi mantido algemado, sob os olhos da esposa dos três filhos pequenos, enquanto soldados revistaram sua casa durante duas horas. Na saída, os soldados disseram a esposa de Juma que ela só voltaria a ver o marido quando houvesse uma troca de prisioneiros. Desde então, Juma permanece preso e proibido de falar com um advogado ou com a família, sem nenhuma explicação oficial para a sua prisão, denuncia a Stop the Wall.

Jamal, de 47 anos, nasceu em Jerusalém e dedicou a sua vida à defesa dos direitos humanos dos palestinos. Ele esteve este ano no Brasil, participando do Fórum Social Mundial, em Belém. Na ocasião, defendeu o boicote econômico a Israel como uma das armas prioritárias para defender os direitos do povo palestino. O foco principal do trabalho de Jamal é a capacitação das comunidades locais para defenderem os seus direitos em face de violações provocadas pela ocupação israelense. Ele é membro fundador de várias ONGs palestinas e redes da sociedade civil. Também é coordenador da Palestina Grassroots Anti-Apartheid Wall Campaign desde 2002. É muito respeitado pelo seu trabalho e foi convidado para numerosas conferências de entidades e da ONU.

Ainda segundo a Stop the Waal, Jamal Juma é o preso de mais alto escalão no quadro de uma campanha de intensificação da repressão da mobilização popular contra o muro e os colônias israelenses em território palestino. “No início, foram presos ativistas locais das aldeias afetadas pelo muro. Agora, estão sendo presos defensores dos direitos humanos internacionalmente conhecidos, como Mohammad Othman e Abu Abdallah Rahmeh. Mohammad, um outro membro da campanha Stop the Wall, foi preso há quase três meses, no regresso de uma palestras na Noruega. Após dois meses de interrogatório, as autoridades israelenses não conseguiram encontrar provas para acusa-lo e, por isso, emitiram uma ordem de detenção administrativa. Abdallah Abu Rahma, uma figura importante na luta não violenta contra o muro em Bil’in, foi levado de sua casa por soldados encapuzados no meio da noite, uma semana antes de Jamal ter sido preso, denuncia ainda a organização.

Na avaliação dos ativistas companheiros de Jamal, com estas detenções, Israel pretende quebrar a sociedade civil palestina e sua influência na tomada de decisões políticas em nível nacional e internacional. Eles fazem uma convocação:

“Este processo claramente criminaliza o trabalho dos defensores dos direitos humanos palestinos e a desobediência civil palestina. É crucial que a sociedade civil internacional se oponha às tentativas israelenses de criminalizar defensores de direitos humanos que lutam contra o muro. A política de Israel de atacar os organizadores que apelam à responsabilização de Israel é um desafio direto às decisões dos governos e organismos mundiais como o Tribunal Internacional de Justiça para responsabilizar Israel pelas violações do direito internacional. Este desafio não deve ficar sem resposta”.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Especial 9 anos de CMI-Brasil - Passa Palavra



Especial 9 anos de CMI-Brasil

No mês passado, comemorou-se 9 anos de existência do CMI-Brasil. Neste artigo, voluntários e ex-voluntários desta iniciativa refletem, fazem um balança e dizem o que pensam sobre o futuro da mídia alternativa e independente. Por colaboradores e ex-colaboradores do CMI-Brasil e Passa Palavra

A experiência de comunicação praticada pela rede Indymedia e pelo Centro de Mídia Independente (CMI-BR) foi, e continua sendo, sem dúvidas, um marco dentro daquilo que é chamado de mídia alternativa. No mês passado foram comemorados 10 anos de existência da rede e 9 do experimento brasileiro. Aproveitando a ocasião, a pedido do Passa Palavra - site que como muitos outros se inspirou no projeto - voluntários e ex-voluntários do CMI-BR refletem, contam experiências, fazem um balanço e falam dos novos desafios para a mídia independente.

Segundo Pablo Ortellado, um dos fundadores do CMI no Brasil e hoje ex-colaborador, a rede Indymedia teve sua origem estreitamente vinculada a um movimento específico e inédito, que era o movimento antiglobalização, iniciado já em 1997 e 1998 e que atingiu seu auge nas manifestações de Seattle [EUA] em 1999. Como conta camarada d., de Florianópolis (SC), outro ex-voluntário do CMI, “os coletivos, movimentos, usavam o site para articular protestos, campanhas e para discutir o caráter destas atividades. No Brasil, o CMI também iniciou suas atividades com foco na organização e cobertura de lutas dentro desta esfera da luta antiglobalização, como a campanha contra a ALCA [Acordo de Livre Comércio das Américas].”

Todos concordam que uma importante novidade trazida por esta experiência foi a de se integrar ao processo de inovação tecnológica de então; característica que ainda hoje é mencionada como um elemento fundamental do coletivo. Na opinião de Flecha, um dos atuais colaboradores de São Paulo (SP), foi isto que o atraíra bastante desde o início de sua participação. Nas oficinas técnicas realizadas entre os membros, cada colaborador trazia sua experiência e gostos pessoais sobre o tema, permitindo que houvesse uma “troca intensa” de conhecimento entre todos. “Isso foi uma coisa que o CMI trouxe [o conhecimento técnico] que eu não sei se eu teria se eu não tivesse participando. Ou pelo menos seria muito mais demorado.”

O papel do CMI enquanto instrumento de memória dos movimentos anticapitalistas mais recentes é o ingrediente destacado pelo colaborador, hoje de Goiânia (GO), Dedeco. Para ele, o CMI teria contribuído enormemente com as lutas sociais, em particular com a das organizações independentes (isto é, desvinculadas de partidos, governos, empresas), na medida em que forma uma geração de militantes que é capaz de produzir o seu próprio registro, “uma visão própria da realidade”.

Do ponto de vista tecnológico, três aspectos mais significativos do CMI são destacados por Pablo: “Ele difundiu o conceito de comunicação aberta”; também transformou o conceito de licença livre, derivado da concepção de software livre, o que significava proibir qualquer tipo de exploração comercial dos conteúdos veiculados; e criou a “transparência editorial”, pois os métodos de construção e aprovação dos destaques editoriais funcionavam de forma aberta.

De acordo com ele, o êxito desta nova experiência comunicacional residira no fato de ela estar em consonância e ter sido a expressão de anseios dos novos movimentos sociais que, organizando-se pelas bases, começavam a questionar o avanço do processo de liberalização da economia mundial. Vivia-se um momento de ascensão e renovação do caráter das lutas sociais, os levantes de Seattle simbolizavam isto: a convergência de causas ambientais, feministas, sindicais, urbanas, etc., contra um inimigo único.

Num sentido bem parecido, Guile, hoje colaborador de Tefé (AM), diz que “o CMI possibilitou uma grande ampliação das práticas de ação direta na informação”. Isso significa dizer que esta ferramenta se colocava não apenas como um meio difusor de notícias de interesses específicos, mas como um recurso que permitia aos movimentos e grupos oprimidos elaborarem suas estratégias próprias de comunicação. “Isso é especialmente importante no caso dos movimentos libertários e que procuram formas de organização horizontal, pois então a livre comunicação corresponde em grande parte à própria estrutura organizativa dos movimentos.”

Aliás, para o camarada d., a iniciativa do Indymedia tem, antes do mais, uma luta própria, que é “a luta pela democratização da informação em níveis mais diretos.” Segundo ele, a atitude revolucionária do CMI foi a de abolir na prática o tradicional papel do elemento mediador, que obsta à relação direta entre o emissor e o receptor da mensagem; uma radicalização tanto na forma quanto no conteúdo. E, tudo isso, feito com base em um princípio muito simples: “reunir num site informações sobre as mais variadas lutas, aproximando-as, dando ênfase (ainda que um pouco sutil) à idéia de que todas as lutas estão integradas, ou deveriam estar, e são parte de um mesmo processo de emancipação, de superação do capitalismo”.

Contudo, na opinião de Pablo, do ponto de vista tecnológico, é possível afirmar que o CMI “foi ultrapassado pelas ferramentas comerciais, como twitter, youtube, que conseguiram radicalizar este processo de democratização da comunicação”. Embora, ressalta ele: “Radicalizaram, mas ao mesmo tempo trouxeram estas ferramentas de democratização para o controle dentro de uma plataforma empresarial.” A esta conclusão chegou também camarada d., após a onda de protestos contra o aumento das tarifas de ônibus em Florianópolis, em 2006. Ele nota que, neste ano, os mesmos manifestantes que haviam usado o site como veículo de informação principal nas revoltas de 2004 e 2005 na cidade, optaram por usar o youtube ou outros sites de publicação de fotos. “Hoje, com o twitter e outros sites de relacionamento,” – reflete ele - “a coisa fica ainda mais dramática.”

No que diz respeito aos aspectos políticos, Pablo verifica que com o descenso dos movimentos antiglobalização o CMI teria perdido um pouco a sua orientação. Após 2004, o CMI haveria iniciado sua busca por uma reaproximação dos movimentos sociais; o que aconteceu com maior ou menor eficiência conforme as inúmeras experiências concretas que se desenvolveram. Positivamente, ele lembra os casos do México, junto aos zapatistas e, depois, à luta em Oaxaca; da Argentina, ao lado dos piqueteros; e do Brasil, com o movimento dos sem teto e com a luta pelo passe livre.

Flecha, por exemplo, tomou conhecimento da existência do CMI em 2005, quando ainda morava em Manaus. No ano seguinte passou a integrar o coletivo, quando veio morar em São Paulo. Ele lembra que, durante esta época, o pessoal estava envolvido com a realização do Dôssie do Fórum Centro Vivo. Conta que, entre 2006 e 2007, viveria o que considera um dos momentos mais marcantes de sua experiência: a luta contra o aumento da tarifa de ônibus. Mas foi na ocupação da reitoria da USP, de maio a julho de 2007, que ele se entusiasmou com a possibilidade de ajudar um movimento social com as questões tecnológicas e de segurança na Internet, uma preocupação particular do CMI.

Porém, Flecha adverte: “A gente não pode restringir o ativismo político ao ativismo cibernético. Ele [o CMI] é uma forma de comunicação que serve para você se levantar da sua cadeira e ir pra rua!”

Esta passividade de que fala Flecha não consiste em um problema específico do CMI. Na sua visão, este seria um problema generalizado que geraria efeitos não só na mídia alternativa como um todo, mas em todos os movimentos sociais. “Se os movimentos sociais estão com problemas, a gente também está com problemas”, resume.

A perda desta proximidade mais orgânica com os movimentos sociais Pablo atribui à própria “natureza da sua plataforma”, que, segundo ele, não é apropriada para movimentos que têm uma organização não horizontal. “Para publicar release que é feito pela direção dos movimentos você não precisa do CMI, basta um blog. Portanto, não faz o menor sentido a publicação aberta para estes movimentos. Eles publicam no site oficial estas notas e o CMI é simplesmente mais um meio de comunicação daquela nota que foi para a grande imprensa.”

Guile, porém, faz uma leitura diferente do momento político que vive o CMI-Brasil. Ele entende que a experiência foi progressivamente se espalhando por diferentes regiões e grupos sociais do país. Este processo teria acrescido a necessidade das “esferas virtuais e nacionais” de comunicação e, ao mesmo tempo, enfraquecido o papel dos coletivos locais; o que ele avalia como sendo algo muito positivo, já que contribuiu para que houvesse uma flexibilização das regras de funcionamento e de tomada de decisão. Além disso, lembra ele, esta difusão de coletivos estaria produzindo organizações híbridas ao permitir o contato com populações e movimentos diversificados, havendo uma “tendência de que grande parte dessas práticas não seja mais rotulada como estando no âmbito do que chamamos CMI”.

Os novos desafios
Mesmo com as contradições colocadas hoje pelo avanço da tecnologia, Pablo ainda acredita que a comunicação alternativa, através dos meios digitais, tem um potencial de democratização sem precedentes na história. De acordo com ele, os dilemas atravessados por esta experiência são comuns a todos os meios de publicação aberta, mesmo os não ligados a movimentos sociais, casos como o da Wikipédia, dos blogs, dos fóruns de internet, etc.: “estes espaços são tomados por chatos, por propagandas, por pregações religiosas, por sabotagens.” O problema, na sua impressão, é que o CMI não soube dar respostas inteligentes a estas formas inadequadas de uso do espaço sem precisar retroceder no processo de publicação aberta. Isto explicaria o fato da famosa coluna da direita - a sua grande novidade e essência - vir sendo progressivamente abandonada ou desvalorizada. Estaria aí o seu grande desafio para o futuro.

Já na concepção de Flecha, um coletivo do tipo do CMI vive ciclicamente um movimento de avanço e recuo. Isso porque, toda vez que um colaborador mais antigo deixa o coletivo, uma série de tarefas cotidianas importantes deixam de ser feitas; o que, no entanto, é contrabalanceado pelo fôlego e entusiasmo de que se enche o grupo sempre que um novo membro passa a fazer parte, querendo aprender e ajudar nas tarefas. “A gente tem que fazer o ciclo de adesão de novos voluntários quebrar este ciclo de passividade em que vivemos.”

Sobre a situação atual do CMI e as conseqüentes tarefas que lhe são colocadas, Guile é enfático: “Atualmente o CMI não é mais tão importante quanto antes, e isso é bom, pois se deve à diversificação de mídias alternativas atualmente em ação. Ainda assim, como o CMI começou na internet e na imprensa escrita, e a internet e a escrita começaram nas elites nacionais, permanece o desafio de se chegar cada vez mais aos grupos mais oprimidos, estabelecendo com eles relações cada vez mais dialógicas e colaborativas”.

Camarada d. afirma que o caminho a ser trilhado por qualquer mídia alternativa é o de acompanhar os movimentos de base, levando adiante o princípio elementar de que “todo mundo é capaz de se expressar sobre suas necessidades, suas lutas”. Preocupação parecida com a levantada por Dedeco, para quem o CMI é constantemente submetido a tentativas de cooptação, especialmente intensificadas durante este período de governos petistas. Nas suas próprias palavras: “manter a independência do CMI, hoje, significa aprofundar o compromisso com a apropriação real dos meios de comunicação pelas classes e grupos sociais explorados e oprimidos da sociedade.”

Por Passa Palavra, colaboradores e ex-colaboradores do CMI-BR

Fonte: http://passapalavra.info

Comentário:
toya em 21 de Dezembro de 2009 20:40

Legal o artigo, mas faltou muita informacão nova em relacão ao CMI e tem muita análise de pessoas que não acompanham a organizacão interna do CMI a muito tempo, talvez seja por isso que elas não refletem necessáriamente o que acontece hoje em dia com o CMI. Praticamente 80% do artigo conta com análises de pessoas que não estão envolvidas nos trabalhos diários da rede há anos….

Por exemplo, em relacão a tecnologia utilizada pelo CMI faltou dizer que dentro da rede global existem diversos esforcos para atualizar essa tecnologia. E muitos sites já foram atualizados. Além disso no CMI Brasil existe um projeto de um site novo com funcionalidades novas que será lancado em 2010. Também é importante dizer que não é fácil migrar o site para uma plataforma nova, esse é um trabalho complicado porque o CMI possui milhares de artigos no seu banco de dados. Além disso, em 2006 a rede indymedia teve grandes perdas de recursos tecnológicos e voluntários técnicos, que custou muito para conseguirmos repor. Essa fase tomou muito tempo e esforco do coletivo técnico, que se não tivesse acontecido, esse tempo/esforco poderia ser dedicado a uma plataforma nova.

Hoje em dia já conseguimos repor boa parte desses recursos, estabilizando a situacão técnica do CMI e agora o coletivo técnico está podendo se dedicar ao projeto do site novo. Enfim, um atraso que faz parte de um projeto grande que conta somente com trabalho voluntário.

Quem quiser ajudar com esse projeto envie um email para:
cmi-brasil-tech @ lists.indymedia.org

Outra coisa, não concordo com esse parágrafo:

A perda desta proximidade mais orgânica com os movimentos sociais Pablo atribui à própria “natureza da sua plataforma”, que, segundo ele, não é apropriada para movimentos que têm uma organização não horizontal. “Para publicar release que é feito pela direção dos movimentos você não precisa do CMI, basta um blog. Portanto, não faz o menor sentido a publicação aberta para estes movimentos. Eles publicam no site oficial estas notas e o CMI é simplesmente mais um meio de comunicação daquela nota que foi para a grande imprensa.”

Primeiro que mesmo que hoje em dia muitos movimentos/grupos possuem uma facilidade maior de criar o seu próprio blog/site. O CMI tem uma audiência muito maior do que esses sites. Fruto desses 9 anos de trabalho. O CMI está no ranking mundial dos 100.000 sites mais acessados (posicão que não é fácil de conseguir). E também pode ser considerado o site de esquerda mais acessado do Brasil. Desta forma, muitos movimentos/grupos publicam os seus artigos em seus sites mas também o publicam no CMI, já que o número de acesso no CMI será muito maior e desta forma o artigo do movimento/grupo será visto por um número maior de pessoas.

Faca a comparacão você mesmo:
http://www.alexa.com/siteinfo/midiaindependente.org

Segundo porque o CMI nunca perdeu a aproximidade com os movimentos sociais. Pelo contrário, muitos voluntários que comecaram no CMI hoje em dia estão nesses movimentos sociais e continuam publicando informacões no site. Além disso, muitos movimentos sociais enviam suas pautas para o CMI o que sugere um reconhecimento desses em relacão ao trabalho feito pelo CMI. O contato segue sim, basta ver as notícias publicadas na coluna do meio do CMI, existem notícias de diversos movimentos sociais.

Outra informacão errada:

O problema, na sua impressão, é que o CMI não soube dar respostas inteligentes a estas formas inadequadas de uso do espaço sem precisar retroceder no processo de publicação aberta. Isto explicaria o fato da famosa coluna da direita - a sua grande novidade e essência - vir sendo progressivamente abandonada ou desvalorizada. Estaria aí o seu grande desafio para o futuro.

A coluna da direita não esta abandonada ou desvalorizada. Ela segue ativa e possue muito conteúdo bom. Existe sim um trabalho que é pesado mas que continua sendo feito pelos voluntários do CMI que é o da manutencão dessa coluna. A importancia desse trabalho ser feito de forma manual é garantir que não existe uma moderacão prévia do conteúdo publicado no site. E esse processo será facilitado com uma das funcionalidades novas que teremos no site novo. Que é a possibilidade do leitor ‘flagar’ uma notícia que considere que esteja em disacordo com a política editorial do CMI. Além disso o leitor também poderá ‘promover’ notícias publicadas na coluna aberta para a coluna central e desta forma dando destaque de ‘editorial’ para a notícia. Um sistema de votacão parecido com o digg ou reddit.

Por fim:

Faltou dizer também, o perigo do uso dessas ferramentas corporativas (twitter, youtube, blogger). Nas últimas manifestacões muitos ativistas que usaram o twitter foram depois perseguidos, presos e tiveram pertences pessoais apreendidos pela policia. Além de diversos casos de censura cometidos por esses sites, que fazem com que a informacão desapareca da web. Vale lembrar o caso do blog da ocupacão da USP que foi ‘deletado’ pelo Terra. E o conteúdo de 20 e tantos dias de documentacão sobre a ocupacão desapareceu da web.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Imprensa cúmplice da barbárie de Rio Alto ataca LCP



Imprensa cúmplice da barbárie de Rio Alto ataca LCP

Escrito por LCP - Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental
Sáb, 19 de Dezembro de 2009

No dia 17 de dezembro o sítio de notícias "Tudo Rondônia" publicou uma nota intitulada "Sem credibilidade e sem espaço, LCP ataca imprensa". Em meio a acontecimentos gravíssimos no Acampamento Rio Alto, em Buritis, inclusive com a tortura e assassinato de dois camponeses e coordenadores da LCP, esta nota vem dar mais uma prova do comprometimento que a maioria da imprensa de Rondônia tem com o latifúndio assassino.
O Tudo Rondônia começa falando que a LCP perdeu a credibilidade com a imprensa devido a uma falsa denúncia de massacre de 15 camponeses no início de 2008. Então vamos aos fatos, pois contra fatos não há argumentos.

A verdade sobre os acontecimentos em Campo Novo
O fato, que denunciamos amplamente à época, foi no acampamento Conquista da União, localizado no município Campo Novo, numa área de terras públicas da União griladas pelo latifundiário Catâneo, famoso em Rondônia por crimes de pistolagem, trabalho escravo e execuções.

Cerca de 30 pistoleiros da família Catâneo, fortemente armados, com coletes à prova de balas, coturnos e capuzes pretos atacaram o acampamento na manhã do dia 09 de abril. Eles já chegaram atirando e 300 camponeses, homens, mulheres, crianças e idosos, saíram correndo só com a roupa do corpo. Depois os pistoleiros destruíram o acampamento e todos os pertences, documentos e mantimentos das famílias.

A notícia do massacre de 15 acampados chegou por telefone à sede da LCP por companheiros que presenciaram o ataque e imediatamente começamos a reproduzir as denúncias a todos nossos contatos. Mais que ninguém, nós conhecemos na própria carne a fúria do latifúndio assassino no estado e a denúncia é uma de nossas defesas. Os camponeses que se espalharam, aos poucos foram se reunindo em Buritis e no acampamento destruído, mas vários ficaram desaparecidos por horas. Inclusive um homem passou 12 horas dentro de uma lagoa próxima ao acampamento esperando a noite para não ser visto e atacado pelos pistoleiros.



No dia seguinte, o Padre Afonso, representante da CPT - Comissão Pastoral da Terra foi até o acampamento acompanhado de um representante da Ouvidoria Agrária e de policiais e puderam comprovar o ataque violento de pistoleiros.

Foi só neste momento, 30 horas depois do ataque, que a polícia apareceu no local. E a única providência que tomaram foi apreender cerca de 20 motos dos camponeses que ficaram no acampamento! Em nota, após sua visita, Padre Afonso declarou que as autoridades policiais só se preocupam em reprimir os camponeses e nem mencionam os pistoleiros armados dos latifundiários.

Não somos nós que estamos "acusando pessoas". O próprio genro do Catâneo Edson Luis Liutti assumiu para uma comissão da CPT e Ouvidoria Agrária e diante da polícia ambiental que seus pistoleiros despejaram as famílias. Ele também deu declarações na imprensa (inclusive divulgadas pelo Tudo Rondônia, afinal, eles consideram estes tipos como fontes de grande credibilidade) insinuando que ele tiraria as famílias à força. Apesar dito, nada foi feito contra ele até hoje, como sempre.

Só depois que todos os desaparecidos foram encontrados é que esclareceu-se que não havia mortos. Agora para o Tudo Rondônia esta informação desencontrada foi tudo o que existiu, nenhuma palavra sobre o ataque violento de pistoleiros contra famílias indefesas.

NENHUMA PALAVRA sobre o trabalhador Edson Dutra Barros, assassinado dias depois (29 de abril de 2008) por pistoleiros do Catâneo que atacaram camponeses num caminhão, quando iam para o acampamento que estava sendo reorganizado. Edson dirigia o caminhão. (em anexo seguem fotos dos fatos)

O silêncio cúmplice sobre as barbaridades de Rio Alto
Tudo Rondônia, que se diz um veículo tão respeitado e imparcial, também não escreveu UMA LINHA sequer sobre as torturas e assassinatos de Élcio Machado e Gilson Gonçalves por pistoleiros a mando do latifundiário Dilson Cadalto no último dia 08. Não publicou as fotos dos corpos de Élcio e Gilson trucidados.

Suas unhas arrancadas com alicate, as tiras de couro tiradas de suas costas, seus dentes quebrados, o tiro no braço, a orelha cortada e os tiros de espingarda calibre 12 nas nucas de Élcio e Gilson para o Tudo Rondônia é "denúncia sem credibilidade"!

Tudo Rondônia não noticiou que, apenas uma semana depois do martírio de Élcio e Gilson, 12 camponeses foram detidos numa grande operação repressiva da Polícia Federal, Polícia Civil e COE (PM) no acampamento Rio Alto. Camponeses denunciaram que durante o trajeto para delegacia de Buritis, policiais ameaçaram jogá-los no rio Jamari e fazer com eles o que foi feito com Élcio e Gilson.
Mas o silêncio cúmplice não é exclusividade do Tudo Rondônia. Até agora, apenas dois blogs inexpressivos reproduziram nossas notas sobre a barbárie de Rio Alto. Há muito tempo não víamos um bloqueio da imprensa marrom de Rondônia às denúncias de crimes do latifúndio tão orquestrado como agora.

A verdade incomoda os mentirosos
A gota d'água que motivou a nota raivosa do Tudo Rondônia foi uma charge do grande desenhista Carlos Latuff denunciando a imprensa marrom de Rondônia no caso Rio Alto. Afinal a verdade incomoda aqueles que são especialistas em camuflar a realidade para beneficiar quem os financia: latifundiários, grandes empresários e políticos corruptos.

Ao contrário do que dizem na nota, a LCP nunca contou com credibilidade e espaço no monopólio da mídia de Rondônia e de lugar nenhum. Nas páginas de suas revistas e jornais, nas telas da internet e da TV nós e todos movimentos combativos somos mostrados como terroristas, traficantes de drogas e de madeiras, assassinos, guerrilheiros.

E não contamos mesmo com o monopólio da imprensa. Contamos com os muros nas cidades, com alguns radialistas e jornalistas honestos, com jornais escritos e na internet sérios e independentes. Contamos com pessoas e entidades democráticas nos quatro cantos do Brasil e do mundo que nos conhecem, compartilham de nossos ideais e nos ajudam a divulgar a realidade da luta pela terra no país.

Mais do mesmo
Na nota, o Tudo Rondônia ainda nos "acusa": "E as denúncias da LCP quase sempre envolvem acusações contra empresas e pessoas. São acusações de crime de pistolagem, grilagem de terras, atentados, massacres de camponeses...". Onde os editores do Tudo Rondônia vivem? Afinal, o latifúndio em Rondônia não cometem "crime de pistolagem, grilagem de terras, atentados, massacres de camponeses"? Essa é boa: os ilustres latifundiários cometem seus crimes e nós é que somos condenados por denunciar! Não nos espanta, esta é a lógica do monopólio de comunicação: inverter a realidade.

Mais uma mentira da nota: que a LCP não tem endereço fixo! E o que seria então aquela sede no centro de Jaru?

E por fim, na nota o ataque de sempre ao nosso anonimato e ao fato de não sermos uma entidade jurídica. Historicamente, estes são meios de defesa de movimentos sociais combativos. Mas não somos um movimento clandestino. Longe disto. Basta andar pelas áreas que organizamos e influenciamos, participar de nossos Congressos massivos, de nossos atos públicos e manifestações, visitar nossa sede...

Mas não vamos cair nas armadilhas da legalidade deste velho Estado, não vamos mostrar os rostos, nem dar os nomes e documentos de nossos coordenadores para a imprensa e órgãos do estado, dedos-duros históricos, que nos entregam aos latifundiários e seus pistoleiros assassinos. Não foi isto o que o Incra e a Ouvidoria Agrária Nacional fez com o companheiro Élcio? O latifundiário Dilson Cadalto e seu bando armado sabiam que ele era um dos coordenadores, mas não conheciam seu rosto. Ficaram conhecendo na reunião na sede do Incra em Porto Velho no último dia 03.

Romper o bloqueio
Aproveitamos esta nota de resposta aos ataques do Tudo Rondônia para conclamarmos a nossos apoiadores, a pessoas e entidades democráticas a nos ajudarem a furar o bloqueio da imprensa marrom de Rondônia. Temos que pressionar de todas as formas os políticos a tomarem uma providência.

Os crimes em Rio Alto são graves demais, as mãos de Dilson Cadalto, seus pistoleiros, Gercino José e Márcia estão sujas com o sangue de mais dois jovens camponeses. As pessoas têm que ficar sabendo e eles têm que pagar por isto!

O povo quer terra, não repressão!
Morte ao latifúndio! Viva a Revolução Agrária!

LCP - Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental

Jaru, 18 de dezembro de 2009

Fonte: http://www.resistenciacamponesa.com

Apelidado de papa de Hitler, Pio XII vira venerável - Por Wálter Fanganiello Maierovitch



Apelidado de papa de Hitler, Pio XII vira venerável - por Wálter Fanganiello Maierovitch

O papa Bento XVI anunciou, no final de semana, que os antigos papas João Paulo II e Pio XII tornaram-se ”Servos de Deus” e, assim, veneráveis pelos católicos.

Para diversos jornais europeus, Wojtyla, de reconhecido carisma e méritos, encabeça o elenco. Como para quebrar o impacto com relação ao polêmico Pacelli, que adotara o nome de Pio XII.

Pacelli foi papa durante a Segunda Guerra Mundial e, diante das atrocidades nazistas e das leis raciais, manteve-se em silêncio. Nenhum protesto. Nenhuma crítica. Daí, ter sido apelidado de o “papa de Hitler”.

Ao se tornar venerável, confirma-se o decreto da Congregação para a Causa dos Santos, que reconheceu em Pacelli “virtudes heróicas”.

Em 16 de outubro de 1943, do gueto romano saíram em fila e presos, sob a mira de fuzis portados por autoridades nazifascistas, 1.021 judeus italianos.

Os 1.021 judeus, num ruidoso cortejo ouvido do outro lado do rio Tevere, ou seja, no Vaticano, foram conduzidos para a estação ferroviária de Tiburtina (Roma). De lá, foram embarcados para o campo de concentração polonês de Auschwitz.

Informado e ciente do que ocorria, Pio XII manteve-se em silêncio. Naquele dia fatídico, Eugenio Pacelli nem se aproximou da janela onde falava urbi et orbi, ou melhor, do Vaticano para o mundo. E foi Pacelli quem introduziu a recitação domenical do Angelus, da janela dos seus aposentos. Ele foi eleito papa em 2 de março de 1939.

Lógico que transformar católicos em veneráveis representa ato interno da Igreja e só diz respeito a ela.

Também se sabe da versão de que Pacelli, reservadamente, autorizava conventos e mosteiros a receber judeus perseguidos pelos nazifascistas. Só que o Vaticano não abriu os seus arquivos aos historiadores laicos. Em outras palavras, os documentos do pontificado de Pacelli continuam secretos.

O papa Bento XVI esteve em visita a Israel e o diálogo inter-religioso encontra-se aberto. No museu da Shoah continua a ser exibida a famosa placa a recordar o silêncio de Pio XII.

PANO RÁPIDO. A trabalho, e cerca de quatro vezes ao ano, vou a Roma.

Quando atravesso a praça Collona em direção a Campi dei Fiori onde, em pleno gueto judeu, foi queimado Giordano Bruno, condenado pelo tribunal da Inquisição, passo ao lado da igreja do beato João XXIII, recordado como o “Papa Bom”. Sinto bons fluídos.

Parêntese. João XXIII foi um reformador. Nunca perdeu a humildade e jamais esqueceu das minorias oprimidas. Os seus críticos falam ter ele aberto as portas para a difusão dos “cattocomunistas”, isto é, católicos-comunistas: “Il termine cattocomunismo definisce, nel panorama filosofico e politico italiano, l’insieme di quei pensatori, religiosi e politici che, pur essendo di dichiarata fede cattolica, optarono per una scelta politica e programmatica vicina alle posizioni comuniste, accettando - senza tuttavia aderirvi completamente - gran parte del pensiero marxista”.

Ao cruzar a piazza Argentina e entrar no antigo gueto judeu, nunca deixo de recordar o supracitado e trágico episódio de 16 de outubro de 1943, com 1.021 judeus italianos sendo encaminhados para a morte, em Auschwitz. De pronto, me vem a imagem do silêncio de Pio XII, que estava bem próximo dali.

Pacelli, um virtuoso para a Igreja e os seus fiéis. Para mim, será sempre o papa que calou e que, em momento algum, protestou contra os campos de concentração e os massacres nazistas. Pacelli não merece o meu respeito e, muito menos, veneração. A propósito, sigo idéias e não pessoas.

No jubileu de 1950, soltou uma famosa frase: ”Nada se perde com a paz. Tudo pode ser perdido com a guerra”. Seguramente, sabia Pacelli do que falava.

–Wálter Fanganiello Maierovitch–.

Fonte: http://maierovitch.blog.terra.com.br/

Teoria e realidade em tempos de desilusões: Sobre escritos de Negri & Hardt [*]

Teoria e realidade em tempos de desilusões: Sobre escritos de Negri & Hardt [*]

A grande transformação que a humanidade vivencia, a consolidação do modelo neoliberal de sociedade, não significa para Negri outra coisa a não ser a vitória da multidão. A transformação que nos interessa não é a que está em curso. Por Fernando Paz

“Aquela pureza da louça, a sua fragilidade, a ingenuidade do desenho e aquele seu fosco brilho de luar, diziam-me a mim que aquele objeto tinha sido feito por mãos de criança, a sonhar, para encanto dos olhos fatigados dos velhos desiludidos…”
(Lima Barreto, O homem que sabia javanês)


No livro O trabalho de Dioniso Antonio Negri e Michael Hardt afirmam que toda a gigantesca transformação que o mundo vive, principalmente desde 1970, é a expressão da vitória do trabalho imaterial sobre o capital numa nova sociedade − a sociedade-fábrica. Alguns escritos de Sergio Lessa nos ajudam a compreender que o conceito de trabalho imaterial no pensamento de Negri e Hardt significa, a um só tempo, a explicação sobre o fim da diferença entre trabalho, circulação e consumo, e também o fim da diferença entre trabalho e capital, entre valor de uso e de troca. Assim, a mercadoria torna-se um produto ideológico.

Simplesmente por ser parte de um mercado, o consumidor em potencial – levado à aquisição de mercadorias pelo encontro das necessidades do estômago ou do espírito com as condições objetivas – torna-se elemento constitutivo desse novo tipo de produto ideológico.

Mais do que isso, os sujeitos sociais estariam assumindo uma função produtiva no ato do recebimento das mercadorias adquiridas. Essa ação é vista por Negri e Hardt como ato criativo e parte constituinte do próprio produto ideológico. É o fim dos indivíduos alienados: a multidão se comunica e produz, faz circular, vende, compra, muda o estilo de vida, põe fim à luta de classes, passa a viver como comunista, a trabalhar como comunista, a pensar como comunista… Tudo isso apenas através de uma comunicação que privilegiaria o amor para um novo tempo de moral e de costumes comunistas que estariam sendo constituídos desde o Renascimento. [1]

Lessa critica a empregabilidade acrítica do conceito de trabalho imaterial. Segundo ele, esse conceito corresponde à tese sobre algo que é “muito mais que uma interpretação das novas formas de produção e de gerência” do capital, pois “inclui uma concepção política cujo cerne é a proposição de um ‘comunismo’ compatível com o mercado, com o dinheiro, com a propriedade privada e o Estado.” [2]

Essa concepção política do conceito, cujo cerne seria a proposta de um “comunismo burguês”, traz à tona um problema. Afinal, por que não podemos concordar que produção, consumo e distribuição são as mesmas coisas? Produzir, vender, comprar e andar em uma Ferrari não são as mesmas coisas? O problema é que na verdade, por mais que nos esforcemos, só conseguimos constatar que freqüentemente há uma interligação entre as relações sociais de produção, na atualidade em níveis internacionais (divisão internacional do trabalho e trabalho socialmente combinado) e que as mesmas são imprescindíveis à materialidade desses três conceitos (produção, distribuição e consumo); mas tão somente isso. As coisas estão interligadas, mas não são as mesmas.

Ainda sobre a concepção política do conceito de trabalho imaterial, a proposta de um “comunismo burguês” traz em si o projeto político da não-superação das classes sociais e do Estado, e a continuação do controle do processo produtivo nas mãos do capital. Assim esse conceito, quando trazido à realidade, mostra-se carregando o antagonismo que o jogará ao chão, isto é, escancarando sua falta de utilidade prática para transformar o mundo.

Não seria o erro dos erros acreditarmos que produção, consumo e distribuição são as mesmas coisas? E que o que eles chamam de trabalho imaterial constitui também o fundamento da sociedade atual, que já é a nova sociedade, a sociedade-fábrica?

Outro desdobramento problemático que nos chama a atenção nesse conceito está ligado ao projeto de um “comunismo burguês” para a sociedade atual. Como é possível compreendermos um conceito que não se sustenta na realidade, deriva de uma leitura errônea acerca dos diferentes estágios de desenvolvimento das sociedades capitalistas, no centro e na periferia, e ainda supostamente concentraria sua análise na conjuntura global, propondo uma estratégia política? Percebo que Negri sustenta parte de suas posições na seguinte afirmação:

“El siglo XX ha aumentado enormemente el umbral de posibilidades de la acción revolucionaria comunista ya que, frente a la profundización de la generalización de la explotación capitalista del trabajo, ha ofrecido al proletariado los medios adecuados (trabajo inmaterial-intelectual, cooperación social ampliada, posibilidades de movilidad internacional, etcétera) para militar en esta dirección”. [3]

No livro mais famoso produzido pela dupla – Império –, consta a afirmação acerca da inutilidade da diferenciação entre países do centro e da periferia. Atílio Boron lembra bem que é nessa periferia do globo que ainda reside 4/5 da humanidade como também indica-nos a necessidade de uma ruptura crítica em relação a um dos axiomas de Negri e Hardt – o fim da divisão centro/periferia. Com isso busco apontar que, para a dupla, é possível a afirmação de uma única leitura de conjuntura global, de um mundo homogeneizado que sabemos não existir.

Ricardo Antunes nos ajuda a entender o que de fato essa sociedade não homogeneizada e determinada pelo capital tem a nos oferecer em meio a tantas transformações. “A partir do início da década de 70, como resposta do capital à sua própria crise, iniciou-se um processo de reorganização produtiva em escala global, ainda que de modo bastante diferenciado, bem como de seu sistema ideológico e político de dominação, cujos contornos mais evidentes foram o advento do neoliberalismo, a privatização do Estado, a desregulamentação dos direitos do trabalho e a desmontagem do setor produtivo estatal, da qual a era Thatcher-Reagan foi expressão mais forte. A isso se seguiu também um intenso processo de reestruturação da produção e de trabalho, com vistas a dotar o capital do instrumental necessário para tentar repor os patamares de expansão anteriores”. [4]

Assim, compreendo que Negri só vê na reestruturação produtiva e na nova configuração da classe trabalhadora a nível mundial o espaço fecundo e oportuno para o acirramento da luta daqueles que militam pelo comunismo, sem perceber a dialética do processo, ou seja, não vê que a reestruturação e a re-configuração que aprofunda a extração de mais-valia é a mesma que distancia os trabalhadores das organizações classistas – alvos constantes das contra-reformas neoliberais. Aqui a questão se complica um pouco mais, já que esse distanciamento entre trabalhadores e organizações classistas se dá pela destruição estatal dessas organizações, pela ação de muitos de seus diretores que, aproveitando-se das estruturas altamente hierarquizadas, do poder de decisão que não se encontra nas mãos dos trabalhadores e de inúmeros privilégios conseguidos por fora do trabalho, atrelam-nas aos Estados.

Tamanha nova formatação de classe e do processo produtivo, que temos vivido com a reestruturação produtiva, tem empurrado números alarmantes da força de trabalho ao mercado informal, que é via de regra altamente precarizado. Somam-se a isso, outros resultados de políticas neoliberais, como a flexibilização de direitos, desregulamentação da jornada de trabalho, redução da renda de todos os tipos e crescente piora nas condições de vida e trabalho.

Do ponto de vista econômico estas mudanças forçam, muitas vezes, a luta política pela manutenção dos velhos direitos e não pela conquista do novo. Além disso, na atualidade, os movimentos sociais têm a difícil tarefa de organizar para a luta esse mar de novos excluídos. Esses são alguns fatores que dificultam o fluxo das lutas, e não facilitam ações revolucionárias como acredita Negri.

Nas palavras de Antunes, também podemos perceber o que o capital fez e continua fazendo, do ponto de vista ideológico. “Opondo-se ao contra-poder que emergia das lutas sociais, o capital iniciou um processo de reorganização das suas formas de dominação societal, não só procurando reorganizar em termos capitalistas o processo produtivo, mas procurando gestar um projeto de recuperação de hegemonia nas mais diversas esferas da sociabilidade. O fez, por exemplo, no plano ideológico, através do culto de um subjetivismo e de um ideário fragmentador que faz apologia ao individualismo exacerbado contra as formas de solidariedade e de atuação coletiva e social”. [5]

A grande transformação que a humanidade vivencia, a consolidação do modelo neoliberal de sociedade, não significa para Negri outra coisa a não ser a vitória da multidão. A transformação que nos interessa não é a que está em curso. Negri não aposta suas fichas na propaganda teórica do socialismo libertário, nem na difusão de práticas revolucionárias e ações diretas de resistência e exigências contra o capital, como as melhores táticas para alcançarmos a estratégia final do projeto político contra-hegemônico. Ainda continua sendo uma incógnita a resposta para esta pergunta: quais são as táticas a serem usadas? Para Negri essa pode até ser uma questão ilícita, mas para inúmeros companheiros e companheiras de esquerda, encontrar essa resposta continua sendo uma necessidade tão em pé quanto as determinações do capital. Perguntada de outra forma: como levar às ruas milhões de trabalhadores que já não fazem outra coisa de suas vidas a não ser trabalhar, em jornadas extenuantes, nas condições mais precárias e, em meio ao mercado extremamente competitivo e excludente?

No século 20 diversos teóricos de esquerda se distanciaram, mais física do que intelectualmente, da classe trabalhadora, por força da perseguição política e ascensão do stalin-nazi-fascismo. Essa não é a razão, nem os motivos são parecidos, mas Antonio Negri, Maurizio Lazzarato e Michael Hardt – para ficarmos com poucos exemplos – hoje também se distanciam dos explorados, mesmo quando afirmam estar ao lado deles, já que formatam teses que pouco agregam aos nossos esforços pela mudança radical da sociedade.

Notas
[*] Meus agradecimentos ao companheiro Nills Skare pela revisão.
[1] Cf. Lessa, Sergio. “Trabalho imaterial, classe expandida e revolução passiva: uma crítica a Negri e outros.” Revista Crítica Marxista. n. 15. São Paulo: Ed. Boitempo, 2002.
[2] Lessa, Sergio. “A materialidade do trabalho e o trabalho imaterial”. Revista Outubro. n. 8. São Paulo: Revista do Instituto de Estudos Socialistas, 2003.
[3] Toni Negri entrevistado por Herramienta. Revista Herramienta. n.15. Buenos Aires: Ed. Antídoto, 2001.
[4] Antunes, Ricardo. Revista Crítica Social. n. 1. Rio de Janeiro: Ed. ADIA, 2003.
[5] Idem.

Bibliografia

Antunes, Ricardo. Revista Crítica Social. n. 1. Rio de Janeiro: Ed. ADIA, 2003.
Boron, Atílio. “O Império e a teoria marxista do imperialismo”. Revista Crítica Social, n.5. out-dez. Rio de Janeiro: Ed. ADIA, 2004.
Lazzarato, Maurizio. “Trabalho autônomo, produção por meio de linguagem e General Intellect”. In: trabalho imaterial. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2001.
Lessa, Sergio. “A materialidade do trabalho e o trabalho imaterial”. Revista Outubro. n. 8. São Paulo: Revista do Instituto de Estudos Socialistas, 2003.
Id. “Trabalho imaterial, classe expandida e revolução passiva: uma crítica a Negri e outros”. Revista Crítica Marxista. n. 15. São Paulo: Ed. Boitempo, 2002.
Negri, Antonio & Hardt, Michel. O Trabalho de Dioniso: para a crítica ao Estado pós-moderno. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2004.
Id. et al. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001.
Toni Negri entrevistado por Herramienta. Revista Herramienta. n.15. Buenos Aires: Ed. Antídoto, 2001.

Fonte: http://passapalavra.info/