quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Crianças Acusadas de Feitiçaria em Angola



Crianças Acusadas de Feitiçaria em Angola

Por Ingrid Schrijnemaekers, de Angola

No ano de 2007 assistindo a um documentário na TV, ouvi um relato de crianças serem acusadas de feitiçarias. Devido a este fato, elas são expulsas de sua comunidade. Aparentemente há muitas razões para isto acontecer, mas do que a pesquisa in loco.
Estas crianças são normalmente meninos porque as meninas podem ajudar em casa cozinhando e limpando. E, os meninos, sempre tem um mal comportamento ou algum problema familiar (falta de dinheiro ou outros problemas).

Pela tocante informação me sensibilizei, e estabeleci como meta pessoal ajudar estas crianças.

Em Agosto 2009, quando estive em Angola, tive a oportunidade de realizar um programa de treinamento internacional para uma empresa estatal, chamado “Spirit and Values” (Espírito e Valores) pela Souza Queiroz Academy. Lá, mencionei meu interesse a Isilda Silva, Diretora da Angola Telecom, de visitar as crianças feiticeiras, e ela comentou que precisava fazer uma visita para estas crianças, e assim saímos a este passeio.

Há muitos desses Lares em Angola para crianças acusadas de feitiçaria, formalmente chamadas de Crianças Feiticeiras.
A viagem durou 6 horas, foram ao todo 317 quilômetros de Luanda até o destino ‘Uige’. A paisagem é muito linda. Mas, as comunidades são muito pobres, sem água, esgoto ou luz. Não tem sequer um posto de gasolina no caminho!!!

Tivemos a oportunidade de ficar hospedadas em uma ONG chamada: Leigos para o Desenvolvimento, com sede em Portugal. A irmã de Isilda passou um ano de sua vida neste local. E este é o sétimo ano desta missão, que é baseada na tradição católica.
A ONG Leigos para o Desenvolvimento – Missão Uige, realiza atividade com mães jovens, crianças e adolescentes em geral. Ali, há aulas de artes, costura, computação, junto com o que chamam de “lições para vida”. Os alunos pagam um valor simbólico, de duzentas Kwanzas que é o nome da unidade monetária local. Equivalente a US$ 2 por mês. Nesta ONG as crianças acusadas de feitiçaria, recebem aulas de reforço das classes regulares, chamadas de ‘revisadas’.

Há uma biblioteca local, o que é muito útil já que um livro custa dez dólares em qualquer lugar. E em Angola cada livro custa US$ 100. O que ocorre é que eles não têm muito entendimento de como utilizar a biblioteca.

No sábado, 17 de agosto, passamos a tarde com estas crianças e criamos uma atmosfera de respeito, e investimos um longo tempo falando com elas, ouvindo-as. Foi interessante observar que elas gostavam de contar estórias, mas, as estórias nunca terminavam, não tinha sentido nenhum. As crianças só queriam atenção, nada mais.

Depois de estabelecer um ambiente harmonioso, trabalhamos com dois valores do ‘Projeto Vivendo Valores’: amor e perdão. Elas puderam falar livremente, sobre perdoar a si mesmas e as suas famílias. Um deles comentou que, quando era mais jovem ele era terrível, mas que sua família o magoou muito.

Um outro jovem disse que sua mãe ia visitá-lo; então eu perguntei se ele gostaria de voltar a viver com sua família, e ele disse: não. Agora ele tinha uma nova família – este lar.

Pudemos sentir o quão machucado estavam seus corações e almas.
Mais tarde, sentamos ao redor de uma mesa e começamos a falar de seus sonhos.

Nós perguntamos: “Com o que vocês gostariam de trabalhar?” Eles mencionaram algumas profissões: professor, engenheiro... E naquele momento, sentimos que era importante encontrar uma pessoa como modelo... Para fortalecer este sonho.

Nós exploramos algumas estórias e eles falaram sobre um jovem de 20 anos que costumava morar neste lar... Ele havia ido para o exército, estava indo trabalhar como policial, e vai ganhar dinheiro, assim poderá pagar sua Universidade. Naquele momento, esta estória parecia algo possível e serviria de exemplo.

Naquela tarde, tudo foi especialmente maravilhoso, e ajudou-me a entender o sentimento do que é ser acusado e expulso de uma comunidade.

A história ainda não estava totalmente clara, alguma essência deveria ser acrescentada ao trabalho, alguma coisa a mais deveria ser feita. Mas o quê? Havia ali uma chama de amor... A chama estava lá! Só tínhamos que nos permitir a passar para frente, com muita humildade, pois ainda temos que aprender muito!

Fico pensando, Como que alguém pode acusar uma criança inocente de estar “possuída”? E se isto fosse verdade, porque não ajudá-las com amor e carinho?

Feitiçaria em Angola é chamada de ‘macumba’, e isso é coisa séria, é cultural. Só para se ter uma idéia, um funcionário de uma grande empresa tirou 40 dias de licença médica, concedida por um médico porque tinha sintomas de ‘macumba’ e voltou a trabalhar normalmente depois da licença sem nenhuma punição.

Neste cenário imagine ser acusado de feitiçaria? Parece pior do que ser uma vitima de guerra. Onde você perde a sua família, ou se torna uma criança de rua. Onde você pode ter tido a decisão de sair de casa porque, foi expulso pelos seus pais, mas não por sua comunidade como um todo.

O ‘Programa Vivendo Valores na Educação’ pode vir a ajudar estes jovens com um programa estruturado, sendo um programa abrangente de educação em valores. Como este programa educacional tem caráter global, o mesmo oferece uma ampla variedade de atividades experimentais de valores e metodologias práticas para educadores; facilitadores; pais e cuidadores; permitindo assim que crianças e jovens explorem e desenvolvam doze valores universais.

E nós deixamos com a ONG Leigos para o Desenvolvimento; um kit do ‘Programa Vivendo Valores na Educação’: que acompanha um CD, jogo das cartas das virtudes, livro do Educador, livros dos Jovens, e livro para os Pais.

Como o tempo era muito curto e talvez não tivesse uma outra oportunidade, concordamos que este grupo viesse a se preparar e organizar as aplicações do ‘Programa Vivendo Valores na Educação’ em Outubro/Novembro 2009. Este grupo deverá voltar a Portugal e um novo pessoal deve assumir no final do ano e esperamos que implantem o ‘Programa Vivendo Valores na Educação’.

Eu pessoalmente tenho aprendido muito trabalhando em Angola, pois apesar da língua ser a mesma, a cultura é muito diferente em alguns aspectos e ao mesmo tempo parecida com a realidade do Nordeste Brasileiro.

Apesar de ter nascido no Brasil, tenho dupla nacionalidade: holandesa e brasileira. Meu pai, que era holandês, me colocou para estudar num colégio americano, e mais tarde vim a trabalhar por mais de 15 anos em empresas americanas. Morei 3 anos a trabalho na Argentina, e participei de um grupo filosófico chinês durante 5 anos e pouco. E há 7 anos participo de um grupo de meditação de origem indiana. Considero-me uma cidadã do mundo e trabalho com gestão de mudança empresarial com foco no aspecto cultural.

Angola é um mistério. Tão antiga, e ao mesmo tempo tão nova, com apenas oito anos de vida independente desde o término da guerra.

Acesse o IVE

Fonte: http://www.novae.inf.br/

Nenhum comentário: