quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O direito de expressão é o direito de escutar? - Por Eduardo Galeano

O direito de expressão é o direito de escutar?

A tecnologia põe a imagem, a palavra e a música ao alcance de todos, como nunca antes ocorrera na história humana, mas essa maravilha pode se transformar num logro para incautos se o monopólio privado acabar impondo a ditadura da imagem única, da palavra única e da música única. Ressalvadas as exceções, que afortunadamente existem e não são poucas, essa pluralidade tende, em regra, a nos oferecer milhares de possibilidades de escolher entre o mesmo e o mesmo. O texto é de Eduardo Galeano.

Eduardo Galeano

Data: 29/09/2009
Texto publicado no livro "De pernas pro ar" (LPM)

“Estamos informados de tudo, mas não sabemos de nada”

No século XVI, alguns teólogos da igreja católica legitimavam a conquista da América em nome do direito da comunicação. Jus communicationis: os conquistadores falavam, os índios escutavam. A guerra era inevitável justamente quando os índios se faziam de surdos. Seu direito de comunicação consistia no direito de obedecer. No fim do século XX, aquela violação da América ainda se chama encontro de culturas, enquanto continua se chamando comunicação o monólogo do poder.

Ao redor da Terra gira um anel de satélites cheios de milhões e milhões de palavras e imagens, que da terra vêm e à terra voltam. Prodigiosas engenhocas do tamanho de uma unha recebem, processam e emitem, na velocidade da luz, mensagens que há meio século exigiriam trinta toneladas de maquinaria. Milagres da tecnociência nestes tecnotempos: os mais afortunados membros da sociedade midiática podem desfrutar suas férias atendendo o telefone celular, recebendo e-mail, respondendo ao bipe, lendo faxes, transferindo as chamadas do receptor automático, fazendo compras por computador e preenchendo o ócio com os videogames e a televisão portátil.

Vôo e vertigem da tecnologia da comunicação, que parece bruxaria: à meia-noite, um computador beija a testa de Bill Gates, que de manhã desperta transformado no homem mais rico do mundo. Já está no mercado o primeiro microfone incorporado ao computador, para que se converse com ele. No ciberespaço, Cidade celestial, celebra-se o matrimônio do computador com o telefone e a televisão, convidando-se a humanidade para o batismo de seus filhos assombrosos.

A cibercomunidade nascente encontra refúgio na realidade virtual, enquanto as cidades se transformam em imensos desertos cheios de gente, onde cada qual vela por seu santo e está metido em sua própria bolha. Há quarenta anos, segundo as pesquisas, seis de cada dez norteamericanos confiavam na maioria das pessoas. Hoje a confiança murchou: só quatro de cada dez confiam nos demais. Este modelo de desenvolvimento desenvolve a desvinculação. Quanto mais se sataniza a relação com as pessoas, que podem te pegar a Aids, te tirar o emprego ou te depenar a casa, mais se sacraliza a relação com as máquinas. A indústria da comunicação, a mais dinâmica da economia mundial, vende as abracadabras que dão acesso à Nova Era da história da humanidade. Mas este mundo comunicadíssimo está se parecendo demais com um reino de sozinhos e de mudos.

Os meios dominantes de comunicação estão em poucas mãos, que são cada vez menos mãos e em regra atuam a serviço de um sistema que reduz as relações humanas ao mútuo uso e ao mútuo medo. Nos últimos tempos, a galáxia Internet abriu imprevistas e valiosas oportunidades de expressão alternativa. Pela Internet estão irradiando suas mensagens numerosas vozes que não são ecos do poder. Mas o acesso a essa nova autopista da informação é ainda um privilégio dos países desenvolvidos, onde reside noventa e cinco por cento dos usuários. E já a publicidade comercial está tentando transformar a Internet em Businessnet: esse novo espaço para a liberdade de comunicação é também um novo espaço para a liberdade de comércio. No planeta virtual não se corre o risco de encontrar alfândegas, nem governos com delírios de independência. Em meados de 1997, quando o espaço comercial da rede já superava com sobras o espaço educativo, o presidente dos EUA recomendou que todos os países do mundo mantivessem livres de impostos a venda de bens e serviços através da Internet, e desde então este é um dos assuntos que mais preocupam os representantes norteamericanos nos organismos internacionais.

O controle do ciberespaço depende das linhas telefônicas e nada é mais casual quer a onda de privatizações dos últimos anos, no mundo inteiro, tenha arrancado os telefones das mãos públicas para entregá-los aos grandes conglomerados da comunicação. Os investimentos norteamericanos em telefonia estrangeira se multiplicam muito mais do que os demais investimentos, enquanto avança a galope a concentração de capitais: até meados de 1998, oito mega-empresas dominavam o negócio telefônico nos EUA, e numa só semana se reduziram a cinco.

A televisão aberta e por cabo, a indústria cinematográfica, a imprensa de tiragem massiva, as grandes editoras de livros e de discos e as emissoras de rádio de maior alcance também avançam, com botas de sete léguas, para o monopólio. Os mass media de difusão universal puseram nas nuvens o preço da liberdade de expressão: cada vez são mais numerosos os opinados, os que têm o direito de ouvir, e cada vez são menos numerosos os opinadores, os que têm o direito de se fazer ouvir. Nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, ainda tinham ampla ressonância os meios independentes de informação e opinião e as aventuras criadoras que revelavam e alimentavam a diversidade cultural. Em1980, a absorção de muitas empresas médias e pequenas já deixara maior parte do mercado planetário na posse de cinqüenta empresas. Desde então a independência e a diversidade se tornaram mais raras do que cachorro verde.

Segundo o produtor Jerry Isenberg, o extermínio da criação independente na televisão norteamericana foi fulminante nos últimos vinte anos: as empresas independentes proporcionavam entre trinta e cinqüenta por cento do que se via na telinha e agora chegam a apenas dez por cento.

Também são reveladores os números da publicidade no mundo: atualmente, metade de todo o dinheiro que o planeta gasta em publicidade vai parar no bolso de apenas dez conglomerados, que açambarcaram produção e a distribuição de tudo o que se relaciona com imagem, palavra e música.

Nos últimos cinco anos, duplicaram seu mercado internacional as principais empresas norteamericanas de comunicação: General Electric, Disney/ABC, Time Warner/CNN, Viacom, Tele-Communications INC. (TCI) e a recém chegada Microsoft, a empresa de Bil Gates, que reina no mercado equivalente e televisual. Estes gigantes exercem um poder oligopólico, que em escala planetária é compartilhado pelo império Murdoch, pela empresa japonesa Sony, pela alemã Berteslmann e uma que outra mais. Juntas, teceram uma teia universal. Seus interesses se entrecruzam, atadas que estão por numerosos fios. Ainda que esses mastodontes da comunicação simulem competir e às vezes até se enfrentam e se insultem para satisfazer a platéia, na hora da verdade o espetáculo cessa e, tranquilamente, eles repartem o planeta.

Por obra e graça da boa sorte cibernética, Bill Gates amealhou uma rápida fortuna equivalente a todo o orçamento anual do estado argentino. Em meados de 1998, o governo dos EUA entrou com uma ação contra a Microsoft, acusada de impor seus produtos através de métodos monopolistas que esmagavam seus competidos. Tempos antes, o governo federal entrara com um processo similar contra a IBM: ao cabo de treze anos de marchas e contramarchas, o assunto deu em nada. Pouco podem as leis jurídicas contra as leis econômicas: a economia capitalista gera concentração de poder como o inverno gera o frio. Não é provável que as leis anti-trust, que outrora ameaçavam os reis do petróleo, possa pôr em perigo a trama planetária que está tornando possível o mais perigoso dos despotismos: o que atua sobre o coração e a consciência da humanidade inteira.

A diversidade tecnológica quer significar diversidade democrática. A tecnologia põe a imagem, a palavra e a música ao alcance de todos, como nunca antes ocorrera na história humana, mas essa maravilha pode se transformar num logro para incautos se o monopólio privado acabar impondo a ditadura da imagem única, da palavra única e da música única. Ressalvadas as exceções, que afortunadamente existem e não são poucas, essa pluralidade tende, em regra, a nos oferecer milhares de possibilidades de escolher entre o mesmo e o mesmo. Como diz o jornalista argentino Ezequiel Fernández-Moore, a propósito da informação: “Estamos informados de tudo, mas não sabemos de nada”.

Fonte: www.cartamaior.com.br

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O nosso belo e eficiente Metrô!!!!!!



O nosso belo e eficiente Metrô!!!

Como o metrô de São Paulo é de responsabilidade do Governador do Estado à grande mídia podre o corporativa nada fala! Já que seguem a cartilha da elite branca e fascista.

Tratam os usuários (trabalhadores) piores que gado, isso a logos e longos anos, mas para que criticar o Estado, tudo vai bem, quando o trabalhador vai mal.

A dinastia do Tucanato esta destruindo pouco a pouco o que sobrou deste mar de esculhambação e por que não de abandono.

Todos só tem e possuem críticas ao PT (Perda Total no gigantesco estelionato eleitoral), esquecem que todos os outros “grupinhos do bolinha” nada fazem, ou melhor, fazem e muito ao sem bel prazer, e dos seus familiares!

A situação do trabalhador do Estado de São Paulo é caótica há anos, entra narigudo, sai narigudo e nada, e esse nada se perpetua.

Será que esses senhores utilizam o metrô? Claro que não, possuem carros, os mais belos, custeados pelo nosso dinheiro, e em muitos casos aparecem nos subúrbios em seus barulhentos helicópteros.

Provos Brasil

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Jornal Nacional: a “cadeia de comando” - Fazendo Media

Jornal Nacional: a “cadeia de comando” - Por Redação

Visto de dentro, o JN se assemelha a um funil. Passam por ele, todos os dias, centenas de fatos e eventos do mundo inteiro. De tudo, apenas 25 notícias em média chegam aos telespectadores. A operação desse filtro constitui a essência do trabalho do JN. A qualidade da filtragem, aliada à preparação e apresentação cuidadosa daquilo que passa por ela, faz do programa o mais importante formador de opinião do Brasil. Há quatro décadas.

Bonner não decide solitariamente tudo o que vai ou não vai ao ar. Várias vezes ao dia, confabula com seu chefe direto – Ali Kamel, diretor da Central Globo de Jornalismo, que responde por todos os programas jornalísticos da Rede Globo. Kamel, por sua vez, conversa com frequência com o chefe de ambos, o gaúcho Carlos Henrique Schröder, diretor-geral de Jornalismo e Esporte da emissora. Essa é a cadeia de comando.

Lido de forma crítica, este trecho (e outros) – disponível no próprio site da Rede Globo, aqui – é uma denúncia. O Jornal Nacional é uma produção autoritária, liderada por estrategistas das Organizações Globo a serviço de seus interesses empresariais (vide matérias da TV Digital ou sobre a Rede Record/IURD, entre centenas de exemplos diários). É um instrumento ideológico clássico, que 40 milhões de pessoas que nunca leram ou entenderam Gramsci recebem diariamente (e não é preciso lê-lo para entender o mecanismo, mas vale a leitura para quem efetivamente acredita na democracia).

As matérias seguem o padrão da “obviedade” – é óbvio que os temas são X, Y, Z… -, da novidade (muitas vezes o que é “velho”, porém importante, é deixado de lado), da superficialidade e descontextualização (o texto citado denuncia isso), da rapidez (própria da economia, não da realidade social). Os temas de caráter mais político obedecem ao script ideológico de seus “donos”, como é possível visualizar neste pequeno texto. Há tantos filtros que é impossível termos qualquer busca por “imparcialidade” .

E o pior é que um dos lugares privilegiados e históricos, na sociedade civil, de crítica a estes mecanismos – a Universidade – está comprometido, sobretudo no campo de formação dos profissionais que produzem as matérias: a Comunicação. Basta notar que o Departamento de Comunicação da PUC-Rio é quase que um setor de extensão universitária da TV Globo (não é nenhuma novidade, para quem conhece) e a coordenadora de jornalismo da Escola de Comunicação da UFRJ é coordenadora da Globo Universidade (aqui).

Perdemos muito, como sociedade civil, ao assistir a esse show de autoritarismo no campo da informação – notavelmente, um campo muito importante para o desenvolvimento de qualquer país.

O braço acadêmico da “cadeia de comando”
Nas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), também na zona sul do Rio de Janeiro, uma das mais renomadas na área da comunicação, não é diferente: até porque parte do seu corpo docente leciona em ambas universidades. Em torno de 90% das atividades extra classe, sobretudo as palestras, são realizadas com profissionais da Globo ou algo relacionado à corporação. Seu Jornal Laboratório, desativado no semestre passado, sem qualquer esclarecimento aos alunos, tinha como editor um ex-profissional de O Globo: o projeto era regido numa dinâmica completamente empresarial, engessada, acrítica, sem levar em consideração que o jornal é feito por e para universitários, gratuitamente.

E mais: a disciplina de redação e edição em televisão, cujos formandos em jornalismo têm que cursar, quem dá a aula era editor de um programa da Globo News. Toda a sua matéria é desenvolvida em função dos vídeos que ele apresenta nos bastidores da emissora, logo nos primeiros dias de aula. No final das contas, não se trata de uma formação, mas sim instrução, quase um adestramento para um modelo pré determinado e incontestável.

Contudo, tal fenômeno não se verifica apenas na PUC-RJ e na Facha, mas também em outras universidades particulares. Talvez a diferença esteja no fato de que a PUC e a Facha ainda consigam inserir nos seus quadros docentes os “profissionais do mercado”, que é como os coordenadores e diretores chamam essas criaturas que podem até ser excelentes jornalistas, embora deixem muito a desejar como professores, na medida em que não estão preocupados em formar jornalistas com senso crítico, mas sim mão-de-obra para as grandes empresas. Os técnicos do lide!

Um aspecto grotesco dessa relação promíscua entre universidades particulares e grandes empresas é a realização de palestras ou semanas de comunicação que os cursos organizam. Existe toda uma pressão para tentar convidar repórteres ou apresentadores que metem a cara no video e são mais conhecidos. Seria uma forma de marketing junto aos alunos ingênuos: “olha, a faculdade vai trazer o fulano para falar na Semana de Comunicação!” E muitos ficam encantados e seduzidos pela proximidade com aquela mistura de jornalista e celebridade.

O problema é que muitas vezes o tal repórter global vem e… não tem nada para dizer. Assim já ocorreu com Eduardo Tchao, Gloria Maria, Sidney Rezende e outros. O Tchao certa vez defendeu que fazer jornalismo é essencialmente dar furo. Questionado sobre a ética do furo – lembremo-nos do caso Escola Base –, o mesmo não se fez de rogado e disse que “problemas acontecem e é preciso ter cuidado”. Mas pregar a ética do furo para estudante de jornalismo é inaceitável, convenhamos! Glória Maria, em outra ocasião, levou um video com trechos de reportagens que fez, os exibiu e falou “agora pode perguntar, gente!” Isso é palestra???

Essas universidades particulares ficam tentando se aproximar das grandes empresas como se jornalista só tivesse esse destino: trabalhar numa grande emissora. Ou seja, há muito tempo perdeu-se essa perspectiva de uma formação crítica nos cursos de comunicação. Virou fábrica de fazer salsicha mesmo! Lembra mesmo aquela célebre sequência do filme The Wall.

O lugar da formação crítica, quando existe, está nas públicas. Quando existe!

(*) Por Denilson Botelho, Eduardo Sá e Gustavo Barreto. Os autores são editores de educação, cultura e internacional do Fazendo Media, respectivamente. O professor Denilson Botelho se encontra atualmente no Piauí, onde dá aula na Universidade Federal do Piauí (UFPI).

Fonte: http://www.fazendomedia.com/

10 razões para legalizar as drogas - Blog do Emir

10 razões para legalizar as drogas

O Le Monde Diplomatique de setembro, uma das melhores publicações brasileiras, tem um dossiê sobre "A legalização das drogas e seus impactos na sociedade", com textos de Thiago Rodrigues (Tráfico, guerras e despenalização), uma entrevista com Caco Barcellos, um artigo de Luciana Boiteux (Aumenta o consumo. O proibicionismo falhou) e de Victeor Palomo (A dependência química é de uma minoria).

Silvio Caccia Bava, o editor do LMD, em lugar de seu habitual editorial, dá a palavra a um especialista em Inteligência Criminal da Scotland Yard, John Grieve, que não perde atualidade, mesmo sendo escrito na Inglaterra e em 1997. Reproduzimos aqui o texto, para socializar a informação e promover o debate. Mais materiais, no LMD de setembro.

1. Encarar o verdadeiro problema
Os burocratas que constroem as políticas sobre drogas têm usado a proibição como uma cortina de fumaça para evitar encarar os fatores sociais e econômicos que levam as pessoas a usar drogas. A maior parte do uso ilegal e do uso legal de drogas é recreacional. A pobreza e o desespero estão na raiz da maioria do uso problemático da droga, e somente dirigindo-se a estas causas fundamentais é que poderemos esperar diminuir significativamente o número de usuários problemáticos.

2. Eliminar o mercado do tráfico
O mercado de drogas é comandado pela demanda de milhões de pessoas que demandam drogas ilegais atualmente. Se a produção, suprimento e uso de algumas drogas são criminalizados, cria-se um vazio que é preenchido pelo crime organizado. Os lucros neste mercado são de bilhões de dólares. A legalização força o crime organizado a sair do comércio de drogas, acaba com sua renda e permite-nos regular e controlar o mercado (isto é, prescrever, licenciar, controle de vendas a menores, regulação de propaganda, etc.)

3. Redução drástica do crime
O preço das drogas ilegais é determinado por um mercado de alta demanda e não regulado. Usar drogas ilegais é muito caro. Isso significa que alguns usuários dependentes recorrem ao roubo para conseguir dinheiro (corresponde a 50% do crime contra a propriedade na Inglaterra e é estimado em 5 bilhões de dólares por ano). A maioria da violência associada com o negócio ilegal da droga é causada por sua ilegalidade. A legalização permitiria regular o mercado e determinar um preço muito mais baixo acabando com a necessidade dos usuários de roubar para conseguir dinheiro. Nosso sistema judiciário seria aliviado e o número de pessoas em prisões seria reduzido drasticamente, economizando-se bilhões de dólares. Por causa do preço baixo, os fumantes de cigarro não têm que roubar para manter seu hábito. Não há também violência associada com o mercado de tabaco legal.

4. Usuários de droga estão aumentando
As pesquisas na Inglaterra mostram que quase a metade de todos os adolescentes entre 15 e 16 anos já usou uma droga ilegal. Cerca de 1,5 milhão de pessoas usa ecstasy todo fim de semana. Entre os jovens, o uso ilegal da droga é visto como normal. Intensificar a guerra contra as drogas não está reduzindo a demanda. Na Holanda, onde as leis do uso da maconha são muito menos repressivas, o seu uso entre os jovens é o mais baixo da Europa. A legalização aceita que o uso da droga é normal e que é uma questão social e não uma questão de justiça criminal. Cabe a nós decidirmos como vamos lidar com isto. Em 1970, na Inglaterra, havia 9.000 condenados ou advertências por uso de droga e 15% de novas pessoas tinham usado uma droga ilegal. Em 1995 os números eram de 94.000 e 45%. A proibição não funciona.

5. Possibilitar o acesso à informação verdadeira e a riqueza da educação
Um mundo de desinformação sobre drogas e uso de drogas é engendrado pelos ignorantes e preconceituosos burocratas da política e por alguns meios de comunicação que vendem mitos e mentiras para beneficio próprio. Isto cria muito dos riscos e dos perigos associados com o uso de drogas. A legalização ajudaria a disseminar informação aberta, honesta e verdadeira aos usuários e aos não-usuários para ajudar-lhes a tomar decisões de usar ou não usar e de como usar. Poderíamos começar a pesquisar novamente as drogas atualmente ilícitas e descobrir todos os seus usos e efeitos – positivos e negativos.

6. Tornar o uso mais seguro para o usuário
A proibição conduziu à estigmatização e marginalização dos usuários de drogas. Os países que adotam políticas ultra-proibicionistas têm taxas muito mais elevadas de infecção por HIV entre usuários de drogas injetáveis. As taxas de hepatite C entre os usuários no Reino Unido estão aumentando substancialmente. No Reino Unido, nos anos 80, agulhas limpas para usuários e instrução sobre sexo seguro para jovens foram disponibilizados em resposta ao medo do HIV. As políticas de redução de danos estão em oposição direta às leis de proibição.

7. Restaurar nossos direitos e responsabilidades
A proibição criminaliza desnecessariamente milhões de pessoas que, não fosse isso, seriam pessoas normalmente obedientes às leis. A proibição tira das mãos dos que constroem as políticas públicas a responsabilidade da distribuição de drogas que circulam no mercado paralelo e transfere este poder na maioria das vezes para traficantes violentos. A legalização restauraria o direito de se usar drogas responsavelmente e permitiria o controle e regulação para proteger os mais vulneráveis.

8. Raça e drogas
As pessoas da raça negra correm dez vezes mais fisco de serem presas por uso de drogas que as pessoas brancas. As prisões por uso de droga são notoriamente discriminatórias do ponto de vista social, alvejando facilmente um grupo étnico particular. A proibição promoveu este estereótipo das pessoas negras. A legalização remove um conjunto inteiro de leis que são usadas desproporcionalmente no contato de pessoas negras com o sistema criminal da justiça. Ajudaria a reverter o número desproporcional de pessoas negras condenadas por uso de droga nas prisões.

9. Implicações globais
O mercado de drogas ilegais representa cerca de 8% de todo o comércio mundial (em torno de 600 bilhões de dólares ano). Países inteiros são comandados sob a influência, que corrompe, dos cartéis das drogas. A proibição permite também que os países desenvolvidos mantenham um amplo poder político sobre as nações que são produtoras com o patrocínio de programas de controle das drogas. A legalização devolveria o dinheiro perdido para a economia formal, gerando impostos, e diminuiria o alto nível de corrupção. Removeria também uma ferramenta de interferência políticas das nações estrangeiras sobre as nações produtoras.

10. A proibição não funciona
Não existe nenhuma evidência para mostrar que a proibição esteja resolvendo o problema. A pergunta que devemos nos fazer é: Quais os benefícios de criminalizar qualquer droga? Se após analisarmos todas as evidências disponíveis concluirmos que os males superam os benefícios, então temos de procurar uma política alternativa. A legalização não é a cura para tudo, mas nos permite encarar os problemas criados pela proibição. É chegada a hora de uma política pragmática e eficaz sobre drogas.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

"América Latina é hoje o lugar mais estimulante do mundo" - Por Noam Chomsky



"América Latina é hoje o lugar mais estimulante do mundo"

Em entrevista ao La Jornada, Noam Chomsky fala sobre a América Latina, definindo-a como uma das únicas regiões do mundo onde há uma resistência real ao poder do império. "Pela primeira vez em 500 anos há movimentos rumo a uma verdadeira independência e separação do mundo imperial. Países que historicamente estiveram separados estão começando a se integrar. Esta integração é um pré-requisito para a independência. Historicamente, os EUA derrubaram um governo após outro; agora já não podem fazê-lo", diz Chomsky.

La Jornada : Data: 23/09/2009

A América Latina é hoje o lugar mais estimulante do mundo, diz Noam Chomsky. Há aqui uma resistência real ao império; não existem muitas regiões das quais se possa dizer o mesmo. Entrevistado pelo La Jornada, um dos intelectuais dissidentes mais relevantes de nossos tempos assinala que a esperança e a mudança anunciada por Barack Obama é uma ilusão, já que são as instituições e não os indivíduos que determinam o rumo da política. Em última instância, o que Obama representa, para Chomsky, é um giro da extrema direita rumo ao centro da política tradicional dos Estados Unidos.

Presente no México para celebrar os 25 anos de La Jornada, o autor de mais de cem livros, lingüista, crítico antiimperialista, analista do papel desempenhado pelos meios de comunicação na fabricação do consenso, explica como a guerra às drogas iniciou nos EUA como parte de uma ofensiva conservadora contra a revolução cultural e a oposição à invasão do Vietnã. Apresentamos a seguir a íntegra das declarações de Chomsky ao La Jornada:

A América Latina é hoje o lugar mais estimulante do mundo. Pela primeira vez em 500 anos há movimentos rumo a uma verdadeira independência e separação do mundo imperial. Países que historicamente estiveram separados estão começando a se integrar. Esta integração é um pré-requisito para a independência. Historicamente, os EUA derrubaram um governo após outro; agora já não podem fazê-lo.

O Brasil é um exemplo interessante. No princípio dos anos 60, os programas de (João) Goulart não eram tão diferentes dos de Lula. Naquele caso, o governo de Kennedy organizou um golpe de Estado militar. Assim, o estado de segurança nacional se propagou por toda a região como uma praga. Hoje em dia, Lula é o cara bom, ao qual procuram tratar bem, em reação aos governos mais militantes na região. Nos EUA, não se publicam os comentários favoráveis de Lula a Chavez ou a Evo Morales. Eles silenciados porque não são o modelo.

Há um movimento em direção à unificação regional. Começam a se formar instituições que, se ainda não funcionam plenamente, começam a existir, como é o caso do Mercosul e da Unasul.

Outro caso notável na região é o da Bolívia. Depois do referendo, houve uma grande vitória e também uma sublevação bastante violenta nas províncias da Meia Lua, onde estão os governadores tradicionais, brancos. Dezenas de pessoas morreram. Houve uma reunião regional em Santiago do Chile, onde se expressou um grande apoio a Morales e uma firme condenação à violência, o que foi respondido pelo presidente boliviano com uma declaração importante. Ele disse que era a primeira vez na história da América Latina, desde a conquista européia, que os povos tomaram o destino de seus países em suas próprias mãos sem o controle de um poder estrangeiro, ou seja, Washington. Essa declaração não foi publicada nos EUA.

A América Central está traumatizada pelo terror da era Reagan. Não é muito o que ocorre nesta região. Os EUA seguem tolerando o golpe militar em Honduras, ainda que seja significativo que não possa apoiá-lo abertamente.

Outra mudança, ainda que acidentada, é a superação da patologia na América Latina, provavelmente a região mais desigual do mundo. É uma região muito rica, sempre governada por uma pequena elite europeizada, que não assume nenhuma responsabilidade com o resto de seus respectivos países. Isso pode ser visto em coisas muito simples, como o fluxo internacional de bens e capitais. Na América Latina a fuga de capitais é quase igual à dívida. O contraste com a Ásia oriental é muito impactante. Aquela região, muito mais pobre, teve um desenvolvimento econômico muito mais substantivo e os ricos estão submetidos a mecanismos de controle. Não há fuga de capitais; na Coréia do Sul, por exemplo, ele é castigado com a pena de morte. O desenvolvimento econômico lá é relativamente igualitário.

O enfraquecimento do controle dos EUA
Havia duas formas tradicionais pelas quais os EUA controlavam a América Latina. Uma era o uso da violência; a outra, o estrangulamento econômico. Ambas foram debilitadas.

Os controles econômicos são agora mais fracos. Vários países se liberaram do Fundo Monetário Internacional através da colaboração. Também foram diversificadas as ações entre os países do Sul, processo no qual a relação do Brasil com a África do Sul e a China desempenhou um fator importante. Esses países passaram a enfrentar alguns problemas internos sem a poderosa intervenção dos Estados Unidos.

A violência não terminou. Ocorreram três golpes de Estado neste início de século XXI. O venezuelano, abertamente apoiado pelos EUA, foi revertido, e agora Washington tem que recorrer a outros meios para subverter o governo, entre eles, ataques midiáticos e apoio a grupos dissidentes. O segundo foi no Haiti, onde a França e os EUA depuseram o governo e enviaram o presidente para a África do Sul. O terceiro, em Honduras, foi de um tipo misto. A Organização dos Estados Americanos (OEA) assumiu uma postura firme e a Casa Branca teve que segui-la e proceder com muita cautela e lentidão. O FMI acaba de aprovar um enorme empréstimo a Honduras, que substitui a redução da ajuda do governo dos EUA. No passado, estes eram assuntos rotineiros. Agora, essas medidas (a violência e o estrangulamento econômico) ficaram debilitadas.

Os Estados Unidos estão reagindo e dando passos para remilitarizar a região. A Quarta Frota, dedicada à América Latina, que tinha sido desmantelada nos anos 1950, foi retomada, e as bases militares na Colômbia são um tema importante.

A ilusão de Obama
A eleição de Barack Obama gerou grandes expectativas de mudança para a América Latina. Mas são ilusões. Sim, há uma mudança, mas o giro é porque o governo de Bush foi tão ao extremo do espectro político estadunidense que qualquer coisa que se movesse iria para o centro. De fato, o próprio Bush, em seu segundo período, foi menos extremista. Desfez-se de alguns de seus colaboradores mais arrogantes e suas políticas foram mais moderadamente centristas. E Obama, de maneira previsível, continua com esta tendência.

Tivemos um giro rumo à posição tradicional. Mas qual é essa tradição? Kennedy, por exemplo, foi um dos presidentes mais violentos do pós-guerra. Woodrow Wilson foi o maior intervencionista do século XX. O centro não é pacifista nem tolerante. De fato, Wilson foi quem se apoderou da Venezuela, tirando os ingleses de lá, em função da descoberta de petróleo. Apoiou um ditador brutal. E dali seguiu rumo ao Haiti e à República Dominicana. Enviou os “marines” e praticamente destruiu o Haiti. Deixou nestes países guardas nacionais e ditadores brutais. Kennedy fez o mesmo. Obama é um regresso ao centro.

A história se repete com o tema de Cuba, onde, por mais de meio século, os EUA se envolveram em uma guerra, desde que a ilha ganhou sua independência. No princípio, esta guerra foi bastante violenta, especialmente com Kennedy, quando houve terrorismo e estrangulamento econômico, ao qual a maioria da população estadunidense se opõe. Durante décadas, quase dois terços da população tem estado a favor da normalização das relações, mas isso não está na agenda política.

As manobras de Obama rumaram em direção ao centro; suspendeu algumas das medidas mais extremas do modelo de Bush, o que até foi apoiado por boa parte da comunidade cubano-estadunidense. Moveu-se um pouco em direção ao centro, mas deixou muito claro que não haverá maiores mudanças.

As “reformas” de Obama
O mesmo ocorre na política interna. Os assessores de Obama durante a campanha foram muito cuidadosos em não deixá-lo comprometer-se com nada. As consignas foram “a esperança” e “a mudança, uma mudança na qual acreditar”. Qualquer agência de publicidade teria feito com que essas fossem as consignas, pois 80% do país pensavam que este andava por trilhos equivocados. McCain dizia coisas parecidas, mas Obama era mais agradável, mais fácil de vender como produto. As campanhas são só assuntos de técnica de mercado; assim entendem a si mesmas. Estavam vendendo a “marca Obama” em oposição à “marca McCain”. É dramático ver essas ilusões, tanto fora como dentro dos EUA.

Nos Estados Unidos, quase todas as promessas feitas no âmbito de reforma trabalhista, de saúde e energia ficaram quase anuladas. Por exemplo, o sistema de saúde é uma catástrofe. É provavelmente o único país no mundo onde não há uma garantia básica de atenção médica. Os custos são astronômicos, quase o dobro de qualquer outro país industrializado. Qualquer pessoa que tenha a cabeça no lugar sabe qual é a consequência de um sistema de saúde privado. As empresas não procuram saúde, mas sim lucro.

É um sistema altamente burocratizado, com muita supervisão, altíssimos custos administrativos, onde as companhias de seguros têm formas sofisticadas de evitar o pagamento de apólices, mas não há nada na agenda de Obama para fazer algo a respeito. Houve algumas propostas “light”, como, por exemplo, “a opção pública”, que acabou anulada. Se alguém ler a imprensa de negócios, encontrará que a capa da Business Week reportava que as seguradoras estavam celebrando a sua vitória.

Foram realizadas campanhas muito exitosas contra esta reforma, organizadas pelos meios de comunicação e pela indústria para mobilizar segmentos extremistas da população. É um país onde é fácil mobilizar as pessoas com o medo e colocar na cabeça delas todo tipo de idéias loucas, como a de que Obama vai matar as suas avós. Assim, conseguiram reverter propostas legislativas já por si débeis. Se, de fato, tivesse ocorrido um compromisso real no Congresso e na Casa Branca, isso não teria prosperado, mas os políticos estavam mais ou menos de acordo.

Obama acaba de fazer um acordo secreto com as companhias farmacêuticas para assegurar-lhes que não fará esforços governamentais para regular o preço dos medicamentos. Os EUA são o único país no mundo ocidental onde não se permite que o governo use seu poder de compra para negociar o preço dos medicamentos. Cerca de 85% da população se opõem, mas isso não significa diferença alguma, até que todos vejam que não são os únicos que se opõem a estas medidas.

A indústria petroleira anunciou que vai utilizar as mesmas táticas para derrotar qualquer projeto legislativo de reforma energética. Se os Estados Unidos não implantarem controles firmes sobre as emissões de dióxido de carbono, o aquecimento global destruirá a civilização moderna.

O jornal Financial Times assinalou com razão que se houvesse uma esperança de que Obama pudesse ter mudado as coisas, agora seria surpreendente que cumprisse minimamente suas promessas. A razão é que ele não queria mudar tanto assim as coisas. É uma criatura daqueles que financiaram sua campanha: as instituições financeiras, instituições de energia, empresas. Tem a aparência do bom moço, seria uma boa companhia para o jantar, mas isso é insuficiente para mudar a política; afeta-a muito pouco, na verdade. Sim, há mudança, mas é de um tipo um pouco mais suave. A política provém das instituições, não é feita por indivíduos. E as instituições são muito estáveis e muito poderosas. Certamente, encontram a melhor maneira de enfrentar os acontecimentos.

Mais do mesmo
Os meios de comunicação estão um pouco surpresos de que esteja regressando para o ponto onde sempre esteve. Reportam, é difícil não fazê-lo, mas o fato é que as instituições financeiras se pavoneiam de que tudo está ficando igual a antes. Ganharam. Goldman Sachs nem sequer tenta esconder que depois de ter arruinado a economia está entregando generosos bônus a seus executivos. Creio que no trimestre passado reportou os lucros mais altos de sua história. Se fossem um pouquinho mais inteligentes tentariam esconder isso.

Isso se deve ao fato de que Obama está respondendo aqueles que apoiaram sua campanha: o setor financeiro. Basta olhar quem ele escolheu para sua equipe econômica. Seu primeiro assessor foi Robert Rubin, responsável pela derrogação de uma lei que regulava o setor financeiro, o que beneficiou muito a Goldman Sachs; assim mesmo, ele se converteu em diretor do Citigroup, fez uma fortuna e saiu justo a tempo, antes do desastre. Larry Summers, a principal figura responsável pelo bloqueio de toda regulação dos instrumentos financeiros exóticos, agora é o principal assessor econômico da Casa Branca. E Timothy Geithner, que como presidente do Federal Reserve de Nova York, supervisionava o que ocorre, é o secretário de Tesouro.

Uma reportagem recente examinou alguns dos principais assessores econômicos de Obama. Concluiu-se que grande parte deles não deveria estar na equipe de assessoria do presidente, mas sim enfrentando demandas legais, pois estiveram envolvidos em manejos irregulares de contabilidade e em outros assuntos que detonaram a crise.

Por quanto tempo podem se manter as ilusões? Os bancos estão agora melhor do que antes. Primeiro receberam um enorme resgate do governo e dos contribuintes e utilizaram esses recursos para se fortalecerem. São maiores do que nunca, pois absorveram os mais fracos. Ou seja, está se assentando a base para a próxima crise. Os grandes bancos estão se beneficiando com uma apólice de seguros do governo que se chama “demasiado grande para quebrar”. Caso você seja um banco enorme ou uma grande casa de investimentos, é demasiado importante para fracassar. Se você é o Goldman Sachs ou o Citigroup, não pode fracassar porque isso derrubaria toda a economia. Por isso podem fazer empréstimos de risco, para ganhar muito dinheiro, e se algo dá errado, o governo se encarregará do resgate.

A guerra contra o narcotráfico
A guerra contra a droga, que se espalha por vários países da América Latina, entre eles o México, tem velhos antecedentes. Revitalizada por Nixon, foi um esforço para superar os efeitos da guerra do Vietnã, nos EUA. A guerra foi um fator que levou a uma importante revolução cultural nos anos 60, a qual civilizou o país: direitos da mulher, direitos civis. Ou seja, democratizou o território, aterrorizando as elites. A última coisa que desejavam era a democracia, os direitos da população, etc., razão pela qual lançaram uma enorme contraofensiva. Parte dela foi a guerra contra as drogas.

Ela foi desenhada para transportar a concepção da guerra do Vietnã: do que nós estávamos fazendo aos vietnamitas ao que eles não estavam fazendo a nós. O grande tema no final dos anos 60 nos meios de comunicação, inclusive os liberais, foi que a guerra do Vietnã foi uma guerra contra os EUA. Os vietnamitas estavam destruindo nosso país com drogas. Foi um mito fabricado pelos meios de comunicação nos filmes e na imprensa. Inventou-se a história de um exército cheio de soldados viciados em drogas que, ao regressar para casa, converteram-se em delinquentes, aterrorizando nossas cidades. Sim, havia uso de drogas entre os militares, mas não era muito diferente do que existia em outros setores da sociedade. Foi um mito fabricado. É disso que se tratava a guerra contra as drogas. Assim se mudou a concepção da guerra do Vietnã, transformando-a em uma guerra na qual nós éramos as vítimas.

Isso se encaixou muito bem com as campanhas em favor da lei e da ordem. Dizia-se que nossas cidades se desgarravam por causa do movimento anti-guerra e dos rebeldes culturais, e que por isso era preciso impor a lei e a ordem. Ali cabia a guerra contra a droga.

Reagan ampliou-a de maneira significativa. Nos primeiros anos de sua administração intensificou-se a campanha, acusando os comunistas de promover o consumo de drogas. No início dos anos 80, os funcionários que levavam a sério a guerra contra as drogas descobriram um incremento significativo e inexplicável de fundos em bancos do sul da Flórida. Lançaram uma campanha para detê-lo. A Casa Branca interveio e suspendeu a campanha. Quem o fez? George Bush pai, neste período o encarregado da guerra contra as drogas. Foi quando a taxa de prisões aumentou de maneira significativa, principalmente a prisão de negros. Agora o número de prisioneiros per capita é o mais alto do mundo. No entanto, a taxa de criminalidade é quase igual a dos outros países. É um controle sobre parte da população. É um assunto de classe.

A guerra contra as drogas, como outras políticas, promovidas tanto por liberais como por conservadores, é uma tentativa para controlar a democratização das forças sociais.

Há alguns dias, o Departamento de Estado emitiu sua certificação de cooperação na luta contra as drogas. Os três países que foram “descertificados” são Myamar, uma ditadura militar – não importa, está apoiada por empresas petroleiras ocidentais -, Venezuela e Bolívia, que são inimigos dos EUA. Nem México, nem Colômbia, nem Estados Unidos, em todos os quais há narcotráfico.

Um lugar interessante
O elemento central do neoliberalismo é a liberalização dos mercados financeiros, que torna vulneráveis os países que têm investimentos estrangeiros. Se um país não pode controlar sua moeda e a fuga de capitais, está sob o controle dos investidores estrangeiros. Eles podem destruir uma economia se não gostarem de algo que esse país faz. Essa é outra forma de controlar povos e forças sociais, como os movimentos operários. São reações naturais de um empresariado muito concentrado, com grande consciência de classe. Claro que há resistência, mas fragmentada e pouco organizada e por isso podem seguir promovendo políticas às quais a maioria da população se opõe. Às vezes isso chega ao extremo.

O setor financeiro está o mesmo que antes; as seguradoras de saúde ganharam com a reforma de saúde, as empresas de energia ganharam com a reforma do setor, os sindicatos perderam com a reforma trabalhista e, certamente, a população dos EUA e do mundo perde porque a destruição da economia é grave por si mesma. Se o meio ambiente é destruído, os que mais sofrerão serão os pobres. Os ricos sobreviverão aos efeitos do aquecimento global.

Por isso a América Latina é um dos lugares no mundo hoje verdadeiramente interessantes. É um dos lugares onde há uma verdadeira resistência a tudo isso. Até onde chegará? Não se sabe. Não me surpreenderia com um giro à direita nas próximas eleições na América Latina. Mesmo assim, terá se conseguido um avanço que assenta as bases para algo mais. Não há muitos lugares no mundo dos quais se possa dizer o mesmo.

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte: www.cartamaior.com.br

Golpista III - Por Latuff

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Depois da crise, a barbárie? - Por Carolina Noury

Depois da crise, a barbárie? Por Carolina Noury

Ela começou discreta, e aos poucos foi tomando proporções cada vez maiores até atingir o mercado financeiro e refletir no mundo inteiro.

Tudo começou em 2007, nos Estados Unidos, com a crise das hipotecas decorrente do aumento da inadimplência, passou para o mercado imobiliário e teve seu agravamento com a quebra do banco de investimentos americano Lehman Brothers, em 2008, quando a crise então se tornou global. Cada segmento da sociedade foi atingido de uma maneira, assim como cada tipo de mídia abordou o assunto de maneira diferente.

Na opinião do escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação, Vito Giannotti, a mídia empresarial “procurou assustar a humanidade como se a crise fosse uma catástrofe natural. Desastre que iria exigir sacrifícios, perdas e prejuízos de todos. Na verdade estes todos eram os trabalhadores. Os já miseráveis do mundo que produzem todos os lucros do sistema e que agora teriam que aceitar rebaixar salários e entregar direitos para salvar o país. Ou seja, garantir que os patrões saíssem da crise com um mínimo de prejuízos e, se possível, com lucros ainda maiores”.

Já a mídia alternativa “se limitou a rezar o mantra ‘os trabalhadores não vão pagar pela crise’. Em alguns casos os trabalhadores resistiram e enfrentaram a perspectiva de saída da crise apontada pelos patrões”, completou Vito.

Um ponto que teve bastante destaque na grande mídia foi a questão do consumo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva incentivou diversas vezes a população a não parar de consumir para que não houvesse o risco dos trabalhadores perderem seus empregos. O que era veiculado, de fato, por trás desse discurso era o que o professor da Escola de Serviço Social da UFRJ, Mauro Iasi, chamou de mito do liberalismo no qual se acredita que aumentando o consumo, tem-se uma tendência a aumentar a produção e consequentemente gerar mais empregos. Com mais pessoas trabalhando e recebendo salário, teria-se um aumento do consumo. Praticamente um mundo perfeito.

No curso sobre a crise do capitalismo promovido pelo jornal Brasil de Fato, o professor Mauro destruiu essa ideia de mundo perfeito. Lembrando os estudos de Marx, Mauro Iasi desmistificou o mito. Na verdade, quando há o aumento no consumo, estimula-se a concorrência que, por sua vez, estimula a formação de monopólios. Com os monopólios formados, paradoxalmente, a tendência é de uma queda na taxa de lucro.

Mauro destacou a atualidade do pensamento marxista para compreender esta crise. O capitalismo visa a obtenção de lucro. Com a tendência da queda na taxa de juros, o sistema encontrou alternativas para superar e continuar a acumular. Algumas possibilidades são: o aumento da exploração do trabalho; a criação de um exército de reserva para baratear o custo da força de trabalho e a diminuição dos salários, explicou o professor.

Além do aumento da exploração e da precarização das relações de trabalho, Mauro lembrou ainda que determinadas medidas tomadas pelo Estado, como subsídios e isenções ao capital afetam, mesmo que indiretamente, a vida dos trabalhadores, uma vez que esses benefícios são fornecidos através de cortes nos serviços públicos.

As crises são cíclicas, naturais e necessárias do sistema capitalista. Para Antonio Licha, do grupo de análise de conjuntura do Instituto de Economia da UFRJ, apesar do caráter cíclico, não é possível prever quando haverá uma próxima crise, mesmo se possível prevê-la, não seria possível evitá-la.

Na análise de Licha, a crise atingiu o Brasil de maneira violenta e não como uma marola como esperava o presidente Lula antes dos meses negros. Na opinião do professor, essa foi a pior crise pela qual o país já passou. “Nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2008 nós atravessamos o olho do furacão. Não sabíamos o que viria a seguir. Era um contexto de grande incerteza. O setor que mais sofreu os impactos da crise foi o industrial e, por isso, o nível de desemprego não foi tão elevado”, avaliou.

Para Licha, as políticas adotadas pelo governo brasileiro procuraram suavizar os impactos da crise, porém “o governo poderia ter investido em programas sociais para ajudar aqueles que perderam o emprego”, ressalvou.

Após fazer um balanço desses 12 meses de crise, Antonio Licha se mostrou otimista na recuperação do país. Entretanto, ele advertiu que não se pode garantir que o Brasil não entrará novamente em recessão. “Os determinantes e a recuperação da crise não dependem do Brasil, é muito mais estrangeira, vai depender do mercado financeiro americano”.

As vítimas da crise são sempre os trabalhadores. Para Vito Giannotti, a consequência da atual crise é a intensificação da exploração do trabalhador. “Para os 80% da sociedade que vive do seu trabalho [a consequência da crise] pode ser um desastre. A guerra é uma das alternativas perfeitamente possíveis para o capitalismo eliminar um ou dois bilhões de excedente humano. O desemprego pode fazer morrer milhões, e daí? Qual o problema para o sistema? Nenhum. Os trabalhadores vão piorar suas vidas”.

O perverso sistema sempre encontra mecanismos para se reestruturar, como o neoliberalismo. Só nos resta saber qual será o próximo passo: a barbárie? Está cada vez mais nítida a necessidade de se estabelecer uma nova ordem.

Fonte: http://www.fazendomedia.com/

Golpista II - Por Latuff



“ Fantasmas da ditadura, ecos de uma tradição feudal, ser o orgulho do país, sem saber o hino nacional, espero pela guerra!!!”

Espero Pela Guerra – Melody Monster (www.myspace.com/melodymonster)

Eco-Sabotagem - Por Dave Foreman

Eco-Sabotagem - Por Dave Foreman

Dave Foremam é um eco-guerrilheiro norte-americano, fundador do Earth First!, considerado um grupo de sabotadores ecológicos ou eco-terroristas. O texto a seguir expõe os princípios básicos de ecosabotagem e, apesar de ter se passado quase duas décadas de sua publicação, ele mantém um frescor atual ao lidar com temática tão cara aos militantes ambientalistas radicais quanto a alguns grupos libertários contemporâneos.

Ecosabotagem: o programa estratégico de Dave Foreman,

Dave Foremam é um eco-guerrilheiro norte-americano, fundador do Earth First!, considerado um grupo de sabotadores ecológicos ou eco-terroristas. O texto a seguir expõe os princípios básicos de ecosabotagem e, apesar de ter se passado quase duas décadas de sua publicação, ele mantém um frescor atual ao lidar com temática tão cara aos militantes ambientalistas radicais quanto a alguns grupos libertários contemporâneos.

É chegada a hora de homens e mulheres, individualmente ou em pequenos grupos de atuar de maneira heróica e conscientemente ilegal em defesa da natureza, metendo bastões entre as engrenagens do sistema para destruí-lo. Esta sabotagem estratégica pode ser fácil, sem riscos, e inclusive divertido; sem dúvidas o importante é que pode resultar em algo eficaz para acabar com a derrubada de florestas, extração de gás e petróleo, a mineração, construção de novas estradas, construção de linhas elétricas, armadilhas de caça de animais, e todas as formas de destruição da natureza, incluindo a cancerosa expansão das áreas urbanas. Para obter êxito, a sabotagem deve ser bem estudada e planejada.

A sabotagem é não-violenta. A sabotagem é uma resistência não-violenta à destruição das riquezas naturais e dos territórios não-contaminados. Não intenciona causar perigo aos seres humanos ou a outras formas de vida. Dirige-se às máquinas e aos instrumentos inanimados. Toma-se todas as precauções para reduzir ao mínimo o risco para as pessoas (sabotadores incluídos).

A sabotagem é não-organizada. Não pode existir uma direção central ou uma organização da sabotagem. Qualquer tipo de estrutura alimentaria as infiltrações de agentes provocadores e por tanto a repressão. Trata-se de autênticas ações individuais, e por isso a comunicação entre sabotadores é difícil e perigosa. Uma discussão anônima através de anúncios em algumas revistas, é, por exemplo, um canal de comunicação mais segura para aperfeiçoar as técnicas da estratégia e das medidas de segurança.

A sabotagem é individual. Realizam a sabotagem pessoas individuais ou pequenos grupos de pessoas que se conheçam há certo tempo. Nestes grupos as relações de trabalho são ótimas e se desenvolvem em plena confiança. Quanto mais pessoas estão implicadas, maiores são os riscos de infiltração e delação. Os defensores da Terra evitam trablahar com pessoas que não fazem tempo que se conheçam, com quem não saiba ter a boca fechada e quem tem projeto grandiosos ou ideais violentos (pois podem ser agentes da polícia ou desequilibrados perigosos).

A sabotagem é comedida. Os ecologistas escolhem bem seus alvos. O vandalismo casual e insensato é contraproducente. Os sabotadores sabem que não se pode deter um comércio de madeira destruindo todos os utensílios para o corte de madeira que se encontrem. Primeiro há que assegura-se de que pertencem ao verdadeiro culpado. Os sabotadores se perguntam qual é o ponto débil de um projeto de destruição da natureza e o atacam. O vandalismo insensato leva a perder a popularidade e a simpatia.

A sabotagem é oportuna. A sabotagem se realiza em um momento e um lugar adequados. Há momentos em que a sabotagem pode ser contraproducente. Em geral, os sabotadores não deveriam atuar quando está em curso uma ação de desobediência civil não-violenta contra o projeto em questão (piquetes ou similares). A sabotagem poderia obscurecer os resultados da ação direta e os ocupantes poderiam ser culpados pela eco-sabotagem e ver-se em perigo diante dos trabalhadores e da polícia. Ademais a sabotagem pode resultar inoportuna durante o desenvolvimento de negociações delicadas para proteção de certas áreas. Esta regra tem também suas exceções, o guerreiro da Terra pensa sempre: a sabotagem ajudará ou obstacularizará a proteção dessa área?

A sabotagem é onipresente. A sabotagem é um movi\mento que recorre EE UU. as agências governamentais e os predadores do território desde do Maine ao Hawai sabem que a destruição que realizam das riquezas naturais pode encontrar oposição. A sabotagem em escala nacional forçará a indústria a retirar-se de áreas virgens.

A sabotagem é variada. Qualquer um em qualquer situação pode ser um sabotador. Há quem eleja uma vasta zona intacta, a declare zona a proteger e resista a qualquer intrusão. Outros se especializam contra a derrubada de florestas e contra a presença de praticantes de off-road em diversas áreas. Certos sabotadores tomam como objetivo um projeto concreto, como uma grande linha elétrica, a construção de auto-estrada ou uma prospecção petrolífera. Outros operam a partir do pátio de sua casa, e outros estão tranquilamente em casa enquanto protejem eco-sabotadores a milhas de distância. Há os solitários e há os que operam em pequenos grupos.

A sabotagem é divertida. Apesar de tratar-se de uma atividade muito séria e potencialmente perigosa, a sabotagem também é divertida. Sente-se satisfação, um fluxo de excitação e uma incomparável cumplicidade ao escapulir-se à noite para resistir a estas forças estranhas que estão em Houston, Tókio, Washington ou no Pentágono.

O Eco-sabotador não é um revolucionário. De fato, não deseja derrubar nenhum sistema social, político ou econômico. É simplesmente uma defesa não-violenta da Natureza, que intenta manter a civilização industrial fora das áreas virgens ou provocar sua retirada daquelas áreas que deveriam voltar a ser virgens. Os explosivos, armas de fogo ou outros instrumentos devem ser evitados pois provocam investigações mais rigorosas por parte da lei, repressão e perda de popularidade (o grupo Direct Action é um bom exemplo do que nós não somos).

A sabotagem é simples. Utiliza-se o meio mais simples e a tática mais segura. Salvo quando seja necessário, se evitam ações complicadas. Os meios mais eficazes para deter a destruição da natureza são, geralmente, os mais simples: tornar ?inviáveis? as árvores e as estradas. Entretanto, há casos em que é necessários operações mais complexas, porém o eco-sabotador pensa sempre: ?Qual é o modo mais simples de fazê-lo?

A sabotagem é ética e consciente. A sabotagem não é um ato de gentileza. Os sabotadores são profundamente conscientes da gravidade do que fazem, das graves ações que cometem. São reflexivos. Porém, os sabotadores, mesmo que não-violentos, são guerreiros. Expõem-se pessoalmente a serem massacrados ou feridos. Suas mentes e seus corações são puros. Sabem desenvolver a mais moral de todas as ações: proteger a vida, defender a Terra.

Um movimento baseado nestes princípios poderia proteger milhas de quilômetros de território com mais facilidade do que qualquer atuação dos governos, do Congresso, poderia assegurar a reprodução do urso grizzly e outras formas de vida ameaçadas, muito mellhor que um exército de guardas-florestais, poderia provocar a retirada da civilização industrial de grandes áreas de selvas, montanhas, desertos, planícies, lagunas, costas, tundras, dunas e florestas que são mais adequados para a conservação das riquezas naturais para prover de matérias-primas a insaciável sociedade tecnológica.
Se os comerciantes sabem que uma parte das madeiras está danificada, não haverá ofertas para adquiri-las. Se um supervisor florestal sabe que uma estrada será continuamente destruída, não tentará construí-la. Se os geólogos sabem que será continuamente molestada uma área, irá a outra parte. Se os apaixonados praticantes de off-road sabem que encontrarão os pneus furados em lugares solitários, não perturbarão mais estas áreas. John Muir disse que se algum dia houvesse uma guerra entre raças, ele estaria do lado dos ursos. Pois bem, este dia chegou.

Dave Foreman.

[Extraído da revista anarquista Revuelta, plataforma de divulgacion del pensamiento libertário, n. 10, Barcelona, abril 1992, publicação do Grupo Revuelta]

[livre tradução: Coletivo 12 Macacos]

Fonte: coletivo12macacos@yahoo.com.br

O golpista de Honduras - Por Latuff

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Zelaya voltando para casa - Por Latuff

Um universo em expansão: o poder, o capital e as guerras - Por José Luís Fiori



Um universo em expansão: o poder, o capital e as guerras

Neste “universo em expansão” que nasceu na Europa, nunca houve nem haverá “paz perpétua”, nem “sistemas políticos internacionais” estáveis. Porque se trata de um “universo” que necessita da preparação para a guerra e das crises para se ordenar e se “estabilizar”. Foram quase sempre essas guerras e essas crises que abriram os caminhos da inovação e do “progresso”. Está em curso uma grande “explosão expansiva” do sistema inter-estatal capitalista e uma nova “corrida imperialista” entre as grandes potências, que deverão se intensificar nos próximos anos. O artigo é de José Luís Fiori, publicado no n° 5 do Jornal de Resenhas.

José Luís Fiori - Jornal de Resenhas

A recepção ao meu ensaio “O sistema inter-estatal capitalista, no início do século XXI”, publicado no livro "O mito do colapso do poder americano", atestou uma mesma dificuldade na compreensão do argumento sobre as relações entre o poder, o capital e as guerras dentro do sistema mundial. O artigo parte de uma hipótese central sobre o movimento de longo prazo do “sistema inter-estatal capitalista”, desde sua formação, na Europa, durante o “longo século XIII”, até o início do século XXI. Uma hipótese que permite compreender e diagnosticar a conjuntura internacional que estamos vivendo, desde a década de 1970.

Julgo possível identificar, nesta longa duração da história do sistema mundial, quatro momentos em que ocorreu uma espécie de “explosão expansiva”, no interior do próprio sistema. Nestes “momentos históricos”, houve primeiro um aumento da “pressão competitiva” dentro do “universo” e, depois, uma grande “explosão” ou alargamento de suas fronteiras internas e externas.

O aumento da “pressão competitiva” foi provocado – quase sempre – pelo expansionismo de uma ou várias “potências” líderes, e envolveu também um aumento do número, e da intensidade do conflito, entre as outras unidades políticas e econômicas do sistema. E a “explosão expansiva” que se seguiu projetou o poder dessas unidades ou “potências” mais competitivas para fora delas mesmas, ampliando as fronteiras do próprio “universo”.

Uma espécie de “big bang”
“A primeira vez que isso ocorreu, foi no “longo século XIII”, entre 1150 e 1350. O aumento da “pressão competitiva”, dentro da Europa, foi provocado pelas invasões mongóis, pelo expansionismo das Cruzadas e pela intensificação das guerras “internas”, na península ibérica, no norte da França, e na Itália. E a “explosão expansiva” que seguiu, se transformou numa espécie de “big bang” do “universo” de que estamos falando, o momento do nascimento do primeiro sistema europeu de “guerras e trocas”, com suas unidades territoriais soberanas e competitivas, cada uma delas, com suas moedas e tributos. A segunda vez que isto ocorreu foi no “longo século XVI”, entre 1450 e 1650. O aumento da “pressão competitiva” foi provocado pelo expansionismo do Império Otomano e do Império Habsburgo e ainda pelas guerras da Espanha, com a França, com os Países Baixos e com a Inglaterra. É o momento em que nasceram os primeiros Estados europeus, com suas economias nacionais e com uma capacidade bélica muito superior à das unidades soberanas do período anterior.

Foi a “explosão expansiva” deste embrião do sistema inter-estatal europeu – para fora da própria Europa – que deu origem ao “sistema mundial moderno”, liderado, inicialmente, pelas potências ibéricas e, depois, pela Holanda, França e Inglaterra. A terceira vez foi no “longo século XIX”, entre 1790 e 1914. O aumento da “pressão competitiva” foi provocado pelo expansionismo francês e inglês, dentro e fora da Europa, pelo nascimento dos Estados americanos e pelo surgimento, depois de 1860, de três potências políticas e econômicas – EUA, Alemanha e Japão – que cresceram muito rapidamente, revolucionando a economia capitalista e o “núcleo central” das grandes potências.

Logo em seguida, houve uma terceira “explosão expansiva” que assumiu a forma de uma “corrida imperialista” entre as grandes potências, que trouxe a África e a Ásia para dentro das fronteiras coloniais do “sistema mundial moderno”. Por fim, desde a década de 1970, está em curso uma quarta ‘explosão expansiva’ do sistema mundial. Nossa hipótese é que, desta vez, o aumento da pressão dentro do sistema mundial está sendo provocado pela estratégia expansionista e imperial dos EUA, depois dos anos 70, pela multiplicação dos Estados soberanos do sistema, que já são cerca de 200, e, finalmente, pelo crescimento vertiginoso do poder e da riqueza dos estados asiáticos, e da China, muito em particular” (1).

Minha pesquisa sobre as relações entre a geopolítica e a geo-economia do sistema mundial começou há mais de 20, com o estudo da “crise dos anos 1970” e a “restauração liberal-conservadora” da década de 1980 e seguiu com o acompanhamento das transformações internacionais das décadas seguintes.

A impossibilidade de entender esta conjuntura a partir de si mesma me levou a uma longa viagem no tempo, até as origens do “sistema inter-estatal capitalista”, procurando entender suas tendências de longo prazo. Comecei pelas “guerras de conquista” e pela “revolução comercial” que ocorreram na Europa nos séculos XII e XIII, para chegar até a formação dos Estados e das economias nacionais européias e o início de sua vitoriosa expansão mundial, a partir do século XVI.

Na Europa, ao contrário do que aconteceu nos impérios asiáticos, a desintegração do Império Romano e, depois, do Império de Carlos Magno provocou uma fragmentação do poder territorial e um desaparecimento quase completo, entre os séculos IX e XI, da moeda e da economia de mercado.

Nos dois séculos seguintes, entretanto – entre 1150 e 1350 –, aconteceu a grande revolução que mudou a história da Europa, e do mundo: foi naquele período que se forjou no continente europeu uma associação indissolúvel e expansiva entre a “necessidade da conquista” e a “necessidade de produzir excedentes” cada vez maiores, que se repetiu, da mesma forma, em várias unidades territoriais soberanas e competitivas, que foram obrigadas a desenvolver sistemas de tributação e criar suas próprias moedas, para financiar suas guerras de conquista. As guerras e os tributos, as moedas e o comércio, existiram sempre, em todos os tempos e lugares, a grande novidade européia foi a forma como combinaram, somaram e multiplicaram em conjunto, dentro de pequenos territórios altamente competitivos, e em estado de permanente preparação para a guerra.

Circuito acumulativo
A preparação para a guerra e as guerras propriamente ditas, na Europa, transformaram-se na principal atividade de todos os seus “príncipes”, e a necessidade de financiamento dessas guerras se transformou num multiplicador contínuo da dívida pública e dos tributos. E, por derivação, num multiplicador do excedente e do comércio, e também do mercado de moedas e de títulos da dívida, produzindo e alimentando – dentro do continente – um “circuito acumulativo” absolutamente original entre os processos de acumulação de poder e de riqueza.

Não há como explicar o aparecimento desta “necessidade européia” da “acumulação do poder” e do “excedente produtivo” apenas a partir do “mercado mundial” ou do “jogo das trocas”. Mesmo que os homens tivessem uma propensão natural para trocar – como pensava Adam Smith -, isso não implicaria necessariamente que eles também tivessem uma propensão natural para acumular lucro, riqueza e capital. Porque não existe nenhum “fator intrínseco” à troca e ao mercado que explique a necessidade “compulsiva” de produzir e acumular excedentes.

Ou seja, a força expansiva que acelerou o crescimento dos mercados e produziu as primeiras formas de acumulação capitalista não pode ter vindo do “jogo das trocas”, ou do próprio mercado, nem veio, nesse primeiro momento, do assalariamento da força de trabalho. Veio do mundo do poder e da conquista, do impulso gerado pela “acumulação do poder”, mesmo no caso das grandes repúblicas mercantis italianas, como Veneza e Gênova.

Pois bem, do meu ponto de vista, o conceito de poder político tem mais a ver com a idéia de fluxo do que com a de estoque. O exercício do poder requer instrumentos materiais e ideológicos, mas o essencial é que o poder é uma relação social assimétrica indissolúvel, que só existe quando é exercido; e, para ser exercido, precisa se reproduzir e acumular constantemente.

A “conquista”, como disse Maquiavel, é o ato fundador que instaura e acumula o poder, e ninguém pode conquistar nada sem ter poder, e sem ter mais poder do que o que for conquistado. Num mundo em que todos tivessem o mesmo poder, não haveria poder. Por isso, o poder exerce uma “pressão competitiva” sobre si mesmo, e não existe nenhuma relação social anterior ao próprio poder.

Capital, poder e guerra
Além disto, como a guerra é o instrumento em última instância da conquista e da acumulação de poder, ela se transformou num elemento co-constitutivo deste sistema de poderes territoriais que nasceu na Europa, e que depois se expandiu pelo mundo. Por isso, a origem histórica do capital e do sistema capitalista europeu é indissociável do poder político e das guerras, e a teoria sobre a formação deste “universo europeu” tem que começar pelo poder e pelas suas guerras, pelos tributos e pelo excedente, e por sua transformação em dinheiro e em capital, sob a batuta do poder dos “soberanos”.

O “fator endógeno” ou “primeiro princípio” que move este universo é exatamente esta força da compulsão sistêmica e competitiva que leva à acumulação sem fim do poder e do capital. E, do meu ponto de vista, o poder tem precedência lógica, dentro dessa relação simbiótica, a despeito de que a “acumulação de capital” tenha adquirido uma “autonomia relativa” cada vez mais extensa e complexa, com o passar dos séculos.

Mais tarde, depois do “longo século XVI” e da formação na Europa dos seus primeiros Estados nacionais, estas mesmas regras e alianças fundamentais, que haviam se estabelecido no período anterior, se mantiveram. Com a diferença de que, no novo sistema de competição, as unidades envolvidas eram grandes territórios e economias articulados num mesmo bloco nacional, e com as mesmas ambições expansivas e imperialistas. O objetivo da conquista não era mais a destruição ou ocupação territorial de outro Estado, poderia ser apenas sua submissão econômica. Mas a conquista e a monopolização de novas posições de poder político e econômico seguiu sendo a mola propulsora do novo sistema.

No novo sistema inter-estatal, a produção do excedente e os capitais de cada país passaram a ser uma condição indispensável de seu poder internacional. E foi dentro dessas unidades territoriais expansivas que se forjou o “regime de produção capitalista”, que se internacionalizou de mãos dadas com estes novos impérios globais criados pela conquista destes primeiros Estados europeus.

E, depois do século XVI, foram sempre estes Estados expansivos e ganhadores que também lideraram a acumulação de capital, em escala mundial. Além disso, a chamada “moeda internacional” sempre foi a moeda desses Estados e dessas economias nacionais mais poderosas, transformando-se num dos principais instrumentos estratégicos, na luta pelo poder global.

A expansão competitiva dos “Estados-economias nacionais” europeus criou impérios coloniais e internacionalizou a economia capitalista, mas nem os impérios, nem o “capital internacional” eliminaram os Estados e as economias nacionais. Neste novo sistema inter-estatal, os Estados que se expandiam e conquistavam ou submetiam novos territórios também expandiam seu “território monetário” e internacionalizavam seus capitais. Mas, ao mesmo tempo, seus capitais só puderam se internacionalizar na medida em que mantiveram seu vínculo com alguma moeda nacional, a sua própria ou a de um Estado nacional mais poderoso.

Por isso, pode-se dizer que a globalização econômica sempre existiu e nunca foi uma obra do “capital em geral”, nem levará jamais ao fim das economias nacionais. Porque, de fato, a própria globalização resulta da expansão vitoriosa dos “Estados-economias nacionais” que conseguiram impor seu poder de comando sobre um território econômico supranacional cada vez mais amplo, junto com sua moeda, sua dívida pública, seu sistema de crédito, seu capital financeiro e suas várias formas indiretas de tributação.

Potência autodestrutiva
Do mesmo modo, qualquer forma de “governo mundial’ é sempre uma expressão do poder da potência ou das potências que “lideram” o sistema inter-estatal capitalista. Muitos autores falam em “hegemonia” para referir-se à função estabilizadora desse líder dentro do núcleo central do sistema. Mas esses autores não percebem – em geral – que a existência dessa liderança ou hegemonia não interrompe o expansionismo dos demais Estados, nem muito menos o expansionismo do próprio líder ou hegemon.

Por isso, toda potência hegemônica é sempre, ao mesmo tempo, autodestrutiva, porque o próprio hegemon acaba desrespeitando as regras e instituições que ajudou a criar para poder seguir acumulando seu próprio poder, como se pode ver no caso americano, depois do fim da Guerra Fria.
Donde é logicamente impossível que algum país “hegemônico” possa vir a estabilizar o sistema mundial, como pensam vários analistas.

Neste “universo em expansão” que nasceu na Europa, durante o “longo século XIII”, nunca houve nem haverá “paz perpétua”, nem “sistemas políticos internacionais” estáveis. Porque se trata de um “universo” que necessita da preparação para a guerra e das crises para se ordenar e se “estabilizar”. Foram quase sempre essas guerras e essas crises que abriram os caminhos da inovação e do “progresso”, na história desse sistema inventado pelos europeus.

É a partir dessa compreensão do sistema mundial, e não assentado apenas em opiniões e vaticínios, que fundamento minha avaliação sobre o “mito do colapso americano”. A mesma visão que me autoriza a pensar que os fracassos político-militares norte-americanos, no início do século XXI, e a atual crise econômica mundial não apontam para o fim do “modo de produção capitalista”, nem para uma “sucessão chinesa” na liderança mundial, que deverá seguir nas mãos dos EUA.

O que não quer dizer, obviamente, que a liderança americana seja definitiva ou que o sistema mundial não esteja vivendo uma transformação gigantesca. Como já disse no início deste artigo: do meu ponto de vista, está em curso uma grande “explosão expansiva” do sistema inter-estatal capitalista e uma nova “corrida imperialista” entre as grandes potências, que deverão se intensificar nos próximos anos. Este não é um mundo “sombrio”, como pensam alguns, é apenas o mundo em que nascemos.

Nota
(1) FIORI, José Luís - “O sistema inter-estatal capitalista no início do século XXI”, in: O mito do colapso do poder americano. Rio de Janeiro, Record, 2008, p. 22 e 23.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O fim do auxilio subsistência da ONU aos refugiados palestinos exige intervenção de pessoas comprometidas com os direitos humanos e solução urgente

O fim do auxilio subsistência da ONU aos refugiados palestinos exige intervenção de pessoas comprometidas com os direitos humanos e solução urgente

Expulsos da Palestina por israelenses, impedidos de refugiar-se nos países árabes vizinhos até que conseguiram refúgio no Iraque, expulsos do Iraque após a queda de Sadan Hussein e ascenção dos xiitas ao poder, impedidos de refugiarem-se na jordânia, barrados na fronteira entre os dois países, na região desértica de Ruweiched, onde formaram o Campo de Refugiados onde permaneceram por cinco longos anos, expulsos do Campo de Ruweished devido ao aviso sobre seu fechamento e agora, refugiados no Brasil, neste, que esperavam ser finalmente o lugar onde reconstruiriam suas vidas.

Esse é um ultraresumido relato da saga de 117 refugiados palestinos que no final de 2007 foram trazidos para o Brasil no chamado Programa de Reassentamento Solidário, num convênio "ultrasecreto" e de regras duvidosas e mais do que suspeitas entre o governo brasileiro (através do CONARE), a ACNUR-Brasil, a Cáritas Brasileira e a Associação Antonio Vieira (ASAV).

Mas, infelizmente, a transferência desses refugiados para o Brasil não significou o fim do drama, conforme lhes foi prometido, ainda em Ruweished; foi sim a continuação da "nakba" (catástrofe) dessas vidas humanas, longe de acabar se as autoridades brasileiras continuarem a não dar a devida atenção.

O CONARE, a ACNUR-Brasil, a Cáritas e a ASAV provaram total incompetência para atender os refugiados.

Os dois anos de duração do Programa de Reassentamento Solidário, foram dois anos de descaso, maus tratos e misteriosa e cúmplice relação entre essas instituições e entidades que impossibilitaram a adaptação dos palestinos no Brasil e, consequentemente impossibilitaram que pudessem sequer começar a reconstruir suas vidas.

É urgente que outras instâncias do governo brasileiro, independentes do CONARE, da ACNUR-Brasil, da Cáritas e da ASAV, intervenham no caso e apurem com profundidade o por que de tanta negligência. Todas têm responsabilidade no precário atendimento aos refugiados palestinos no Brasil, mas nenhuma assume, nem dá solução. São cúmplices na situação de risco social em que jogaram os refugiados e são recíprocas na defesa umas das outras.

Mauro Rodrigues
Fonte: http://liberdadepalestina.blogspot.com/

Nós podemos acabar com o Afeganistão - Por Latuff

NO DIA MUNDIAL SEM CARROS, MATILHA CULTURAL PROMOVE VAGA VIVA NO CENTRO DE SÃO PAULO

NO DIA MUNDIAL SEM CARROS, MATILHA CULTURAL PROMOVE VAGA VIVA NO CENTRO DE SÃO PAULO

São Paulo, 21 de setembro de 2009-

No dia 22, está programada coleta de assinaturas e depoimentos e a pré-estréia do filme “No meio do rio, entre as árvores”, de Jorge Bodanzky

A Matilha Cultural, novo centro cultural independente localizado próximo ao Largo do Arouche, está apoiando o movimento global que repensa e questiona o modelo automobilístico e rodoviário. No dia 22 de Setembro, a Matilha Cultural vai se unir a diversos outros grupos e iniciativas para participar das ações do DIA MUNDIAL SEM CARRO.

http://diamundialsemcarro.ning.com/

Na terça feira dia 22/09, será ocupada a vaga de estacionamento diante da Matilha criando um espaço de convivência com sofás, cadeiras e mesas, transformando o asfalto em uma VAGA VIVA. A Matilha vai ocupar os espaços dominados pelos carros com idéias, informação e reflexão sobre questões ligadas ao aquecimento global e a mobilidade nas cidades.

A Vaga Viva da Matilha vai funcionar das 12h às 19h e também abrigará um mini estúdio de TV. “Estamos convidando conhecidos e desconhecidos a participarem da nossa Vaga Viva assinando a petição da campanha TictacTictac e gravando em vídeo sua opinião sobre as mudanças climáticas. Venham tomar um café e mandar seu recado”, convidou Rebeca Lerer, da Matilha Cultural. “Só não vale vir de carro”.

A primeira edição do VAGA VIVA, movimento global, aconteceu em 2005 e desde então, o evento continua a se espalhar de forma viral através da internet e do boca a boca. O Dia da Vaga Viva desabrochou-se para formar um experimento global que remixa, retoma e reprograma o espaço do automóvel para um intercâmbio social, a diversão e a expressão artística. Em 2008, foram mais de 500 festividades relacionadas à Vaga Viva em mais de cem cidades ao redor da América do Norte, América do Sul, Europa e Austrália. Estão programadas diversas Vagas Vivas para os próximos dias em São Paulo, como parte das ações do Dia Mundial Sem Carros e a Matilha faz sua primeira participação.

A ação da Vaga Viva também marca o apoio da Matilha Cultural ao movimento tictactac contra o aquecimento global. As mudanças climáticas estão colocando em perigo a vida na terra. Ainda é tempo de construir um mundo mais justo e sustentável. Mas o tempo está passando. Em dezembro, os líderes mundiais irão reunir-se em Copenhague para decidir sobre o nosso futuro. Mobilizando um número suficiente de pessoas em todo o mundo, iremos encorajar os nossos dirigentes a tomar as ações necessárias. Adicione o seu nome à nossa lista para apoiar a chamada para um acordo global para salvar o nosso planeta de uma mudança climática catastrófica.

http://www.tictactictac.org.br/

E ainda no dia 22, no cine da Matilha, será pré lançamento do filme, „No meio do rio, entre as árvores“,de Jorge Bodanzky. O documentário de 70 minutos é resultado de uma expedição ao Alto Solimões, onde o cineasta ministrou oficinas de vídeo, circo, fotografia às comunidades ribeirinhas, dentro de reservas ambientais amazônicas. O filme é feito pelos ribeirinhos, a partir da tecnologia recém adquirida, através de uma visão de dentro para fora que dispensa intérpretes. Do coração da Amazônia para o mundo, ficamos sabendo como é o cotidiano das pessoas que habitam rincões remotos do Brasil: o que pensam, quais sãoseus sonhos e como resolvem os problemas que enfrentam por viverem no meio do rio, entre as árvores.
http://www.tvnavegar.com.br/index.php

Sobre Bodanzky:

Estudou arquitetura e artes plásticas na Universidade de Brasília. Atuou como câmera e fotógrafo. Cursou o Instituto de Cinematografia em Ulm. A partir de 1970, produziu e dirigiu inúmeros documentários (Tristes Trópicos, A Igreja dos Oprimidos) e os filmes Iracema, Os Mucker e Terceiro Milênio, entre outros, tendo recebido prêmios nacionais e internacionais. Atualmente é coordenador do projeto Navegar Amazônia e Diretor da TV Navegar.


22 DE SETEMBRO / dia mundial sem carro + vaga viva + cine

Programação:

12h- 19h: Vaga Viva – coleta de assinaturas e depoimentos em vídeo, conversas sobre mobilidade e aquecimento global.
18h- CINEMATILHA: exibição do filme Home, de Yann Arthus – Bertrand
20h – CINEMATILHA: Pré-Lançamento “No meio do rio, entre as árvores”, de Jorge Bodanzky


TODAS AS ATIVIDADES FAZEM PARTE DO SETEMBRO VERDE, PROGRAMAÇÃO DA MATILHA CULTURAL QUE INCLUI A EXIBIÇÃO DO FILME HOME, AGORA COM A POSSIBILIDADE VER ESTE BELÍSSIMO FILME EM ALTA DEFINIÇÃO EM INGLÊS SEM LEGENDA.

horários HOME na matilha:

terças e quintas: 18h (legendas em português)
quartas e sextas: 20h (legenda em portugês)
sábados: 17h / 19h / 21h

HOME EM ALTA DEFINIÇÃO (áudio inglês sem legenda)

sabado 15h
quartas e sextas18h

Fonte: www.matilhacultural.com.br

sábado, 19 de setembro de 2009

Agir é preciso!

O fator Chalita

Como funcionam as coisas por aqui..... E São Paulo permanece submersa deste lixo, da podridão a das chuvas......


O fator Chalita

Muito boa a análise do repórter Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo, em seu blog, sobre bastidores da saída de Gabriel Chalita do PSDB. Para quem acha que José Serra já é o candidato do PSDB à presidência, trata-se de uma ducha de água fria.

Chalita vai ao PSB com a benção de Aécio e para ser o plano B de Geraldo Alckmin

O tucano e geraldista Gabriel Chalita está entrando no PSB. Essa é a informação conhecida. O bastidor é mais apimentado.
Chalita conversou reservadamente com Aécio Neves para receber a benção do tucano mineiro a respeito da troca da canoa tucana pelo PSB paulista. Foi abençoado. Ontem (16.set.2009), bateu o martelo com o principal cacique do PSB, o governador de Pernambuco Eduardo Campos.
Geraldo Alckmin tem em Chalita um de seus mais fortes puxadores de votos na região metropolitana da capital paulista. Em 2008, Chalita foi o mais bem votado vereador na cidade de São Paulo, com 102.048 votos.
Alckmin esboçou no final de 2008 um desejo de ele próprio pular para o PSB. Não deu certo. Lula não se animou em vê-lo num partido de sua base. O petista detesta Alckmin. Credita ao tucano alguns ataques que considera além do aceitável na disputa presidencial de 2006.
Mesmo assim, Alckmin estava determinado a sair do PSDB no final do ano passado. Achava que não teria espaço no partido para ser candidato a governador em 2010, pois não se dava com José Serra.
Por essa razão o próprio Serra ficou com medo de ter um candidato como Alckmin fora do PSDB em 2010. Trouxe Alckmin para seu secretariado estadual e acorrentou o antigo adversário à sigla.
Alckmin sabe o que se passa. Não tem mais como sair do PSDB. Resolveu então mover pedras importantes no tabuleiro de 2010. Se Serra acabar mudando de ideia mais adiante e não deixá-lo ser candidato ao Palácio dos Bandeirantes, Alckmin terá uma excelente opção dentro do PSB para apoiar na disputa pelo governo estadual paulista: Gabriel Chalita.
Ainda mais agora que Aécio Neves também está ciente da estratégia e já deu seu nihil obstat para a entrada de Chalita no PSB. Aliás, se tudo der errado para Alckmin e Aécio no PSDB, Chalita pode tranquilamente subir em São Paulo no palanque presidencial da petista Dilma Rousseff. Seria um tucano avançado no campo adversário, com o objetivo de minar as chances de vitória de Serra na disputa pelo Planalto.
Como se observa, o jogo entre os tucanos ainda está longe de ser um jogo jogado.

Fonte: http://blogentrelinhas.blogspot.com

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Escola Livre de Teatro de Santo André sob ameaça - Redação - Carta Maior

Escola Livre de Teatro de Santo André sob ameaça

Integrantes da Escola Livre de Teatro de Santo André (ELT), projeto artístico-pedagógico que se firmou como referência para a formação de atores no Brasil e que se aproxima agora dos seus 20 anos de enraizamento na cidade, denunciam que seu projeto pedagógico está seriamente ameaçado. No dia 8 de setembro, a prefeitura da cidade demitiu, sem justificativas, o coordedenador pedagógico da escola, o ator Edgar Castro.

Redação - Carta Maior

Data: 18/09/2009
Aprendizes da comunidade da Escola Livre de Teatro de Santo André, apoiados por artistas dos principais grupos do ABC e de São Paulo fizeram um grande movimento na Câmara Municipal de Santo André, nesta quinta-feira, durante a Sessão Plenária. Os aprendizes fizeram uso da Tribuna Livre para defender a Continuidade do Projeto Artístico-Pedagógico Original da Escola Livre de Teatro de Santo André (ELT)

O movimento busca sensibilizar os representantes do Poder Legislativo para que eles sejam interlocutores junto ao Poder Executivo, que vem negando todas as reivindicações da comunidade e descumprindo os prazos de resposta acordados em reunião.

A Escola Livre de Teatro de Santo André (ELT), projeto artístico-pedagógico que se firmou como referência para a formação de atores no Brasil e que se aproxima agora dos seus 20 anos de enraizamento na cidade, está com seu projeto pedagógico seriamente ameaçado.

No dia 8 de setembro de 2009, o coordenador pedagógico da ELT, o ator Edgar Castro – professor da escola há 11 anos e escolhido como coordenador pelo corpo de mestres, foi demitido sem justificativas.

Desde janeiro de 2009 a comunidade da ELT tem se reunido para conhecer o projeto cultural da atual gestão para a cidade de Santo André. No dia 28 de novembro de 2008 organizou um ato público: o Encontro Cultural da Cidade, quando se esperava como convidado principal o então candidato Aidan Ravin (PTB), que acabou sendo eleito prefeito. Ravin não compareceu, mas fez-se representar por assessores e pelo vereador recém eleito Gilberto do Primavera (PTB), que firmou publicamente seu compromisso com a cultura da cidade e com a manutenção do projeto original da ELT.

No entanto designaram para a Escola, como primeira medida, uma nova coordenadora não pertencente ao quadro de mestres e desconhecedora do projeto em curso. Em três de fevereiro de 2009 uma assembléia foi realizada com a presença de toda comunidade ELT, da nova coordenadora - Eliana Gonçalves - e do atual Secretário de Cultura, Edson Salvo Melo, que reiterou a afirmação anterior sobre a continuidade do projeto artístico-pedagógico.

Passados quase nove meses da nova gestão e de contínuas tentativas de diálogo entre a comunidade e a coordenadora Eliana Gonçalves, a comunidade foi surpreendida pela repentina e não justificada demissão do mestre Edgar Castro, feita pelo Diretor de Cultura, Pedro Botaro, no dia 8 de setembro de 2009.

No dia 11 de setembro, mais de trezentos artistas representantes dos principais coletivos de artes cênicas das cidades de Santo André e São Paulo - entre eles as atrizes Maria Alice Vergueiro, Leona Cavalli, Georgete Fadel, o ator Antônio Petrim, a diretora Cibele Forjaz – fizeram uma passeata da Praça Rui Barbosa, sede da Escola, até o Paço Municipal, onde foi entregue uma carta de reivindicações ao Secretário de Cultura do município.

No dia 14 de setembro uma comissão formada por mestres e aprendizes representantes da ELT, esteve com o Secretário de Cultura de Santo André, em reunião sugerida por ele, para obter a resposta sobre o ato realizado na semana anterior. O secretário discutiu cada ponto da carta entregue pelo Coletivo, mas negou as duas principais reivindicações, firmando a decisão de afastar Edgar Castro, tanto de sua função de coordenador quanto de mestre da escola, e de manter Eliana Gonçalves como coordenadora.

A comissão deixou claro que não aceitaria essa decisão - uma ameaça ao projeto pedagógico original, que tem a autogestão e a definição da coordenação pedagógica pela comunidade como principais características. Após três horas e meia de reunião, o Secretário prometeu encaminhar uma carta pública à comunidade nesta quinta-feira promessa não cumprida. Como estratégia de desmobilização o Secretário pediu dois a três dias para responder às reivindicações.

Por fim, no dia 17 de setembro, foi dada a resposta final: negaram todas as reivindicações. Ainda não entregaram nenhum documento oficial respondendo ou justificando nenhuma das atitudes tomadas pela prefeitura.

Dessa forma a comunidade decidiu ir em peso, à Câmara, pedir o apoio dos representantes do Poder Legislativo para a manutenção do projeto artístico-pedagógico original da Escola Livre de Teatro de Santo André, junto ao Poder Executivo do município.

Fonte: www.cartamaior.com.br

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A América Latina e o fim do liberalismo social - Por James Petras



A América Latina e o fim do liberalismo social
por James Petras

A actual recessão mundial e a potencial recuperação de alguns países revela todas as fraquezas das tradicionais doutrinas das vantagens comparativas, o "mercado de exportação", o livre comércio. Em nenhum outro lugar isto é mais evidente do que na experiência recente da América Latina.

Apesar de recentes levantamentos populares e da ascensão de regimes de centro-esquerda na maior parte dos países na região, as estruturas económicas, estratégias e políticas prosseguidas seguem as pisadas das suas antecessoras, particularmente em relação às práticas económicas com o estrangeiro.

Influenciada pela procura acentuada e a subida dos preços das commodities, especialmente produtos agro-minerais e de energia, os regimes latino-americanos, recuaram em relação a quaisquer mudanças em várias áreas cruciais e adaptaram-se às políticas e económicas legadas pelos seus antecessores neoliberais. Em consequência, com a vasta recessão mundial principiada em 2008, eles sofreram um declínio económico agudo com graves consequências sociais.

As crises socioeconómicas resultantes proporcionam lições importantes e reforçam a noção de que mudanças estruturais profundas no investimento, comércio, propriedade de sectores económicos estratégicos são essenciais para o crescimento sustentado e equitativo.

O mercado livre, doutrina do livre comércio: a década de 1990
A partir de meados da década de 1970, com o advento de regimes pró militares estado-unidenses e de regimes autoritários civis e sob a tutela de académicos dos EUA e economistas ali educados, a América Latina tornou-se um laboratório para a aplicação de políticas livre mercado – livre comércio.

Barreiras comerciais foram reduzidas ou eliminadas, de modo que produtos agrícolas subsidiados dos EUA e da União Europeia entraram sem entraves, dizimando a produção alimentar de pequenos agricultores que produziam para consumo local. Sob a doutrina da "vantagem comparativa" decisores políticos financiaram e promoveram empresas de agro-negócios em grande escala especializadas em produtos de exportação – trigo, soja, açúcar, milho, gado, etc apostando nos preços favoráveis, acesso a mercado favorável e preços razoáveis de alimentos, equipamento agrícolas e importações não agrícolas.

A desregulamentação total da economia e a privatização de empresas públicas abriu as comportas ao investimento estrangeiro, à tomada de sectores económicos estratégicos e ao aumento da dependência do investimento estrangeiro para sustentar o crescimento e a balança de pagamentos.

A estratégia geral dos regimes era confiar nos mercados de exportação, a expensas do aprofundamento e ampliação dos mercados internos (consumo local em massa); uma política que confiava no embaratecimento dos custos do trabalho local e na sustentação de altos lucros para a classe dominante agro-mineral. A presença desta última em todos os ministérios económicos chave dos regime assegurava que às políticas ao seu serviço fosse dado um verniz ideológico com a noção de "mercados racionais eficientes", deixando de notar a história a longo prazo da instabilidade intrínseca dos mercados mundiais.

Crises dos regimes tradicionais neoliberais
O sistema financeiro desregulamentado e a recessão mundial de 2000-2001, o saqueio selvagem da economia e do tesouro pelos praticantes do mercado livre, a corrupção monumental e a exploração sem peias de trabalhadores, camponeses e empregados públicos produziu revoltas na vasta região. Toda uma série de regimes eleitorais apoiados pelos EUA foram derrubado e/ou derrotados em competições eleitorais. O Equador, Argentina, Bolívia, Brasil, Uruguai e Paraguai testemunharam levantamentos populares, os quais entretanto acabaram por levar à eleição de regimes centro-esquerda, especialmente em campanhas eleitorais que prometiam "profunda mudança estrutural", incluindo mudanças na estrutura económica do poder e aumentos substanciais nos gastos sociais bem como a redistribuição de terra nas zonas rurais.

Na prática as derrotas políticas dos partidos estabelecidos da direita, e a enfraquecida elite económica, não serviam de base para transformações socioeconómicas em grande escala e a longo prazo. Os novos regimes de centro-esquerda buscavam políticas socioeconómicas que procuravam "reformar" as elites económicas forçando-as a acomodarem-se aos seus esforços para reactivar a economia e subsidiar o pobres e desempregados. As elites políticas foram retiradas dos gabinetes, uns poucos dos responsáveis mais venais implicados na repressão em massa foram postos em tribunal mas sem quaisquer sérios esforços para transformar o partido – sistema político. Por outras palavras, o fim das elites neoliberais nas crise, induzido pelas políticas de livre mercado, mantidas no lugar, temporariamente suspensas pelos regimes de centro-esquerda com políticas de administração de crise intervencionistas do Estado.

Políticas de centro-esquerda: A administração de crise e o boom económico
Os novos governos centro-esquerda adoptaram toda uma série de políticas que iam desde incentivos económicos aos negócios, regulações financeiras, despesas acrescida em programas de pobreza, aumentos de salários generalizados e consulta a líderes de organizações populares. Eles repudiaram os políticos inimigos e os criminosos do período anterior juntamente com a intervenção numas poucas empresas privadas em bancarrota. Estas políticas simbólicas e sólidas asseguraram, temporariamente, o apoio da massa do eleitorado e isolaram e dividiram os sectores mais radicais dos movimentos populares.

No entanto, exigências de mudanças mais vastas e mais profundas ainda estavam na agenda das massas enquanto os regimes de centro esquerda tentavam equilibrar-se entre exigências radicais dos de baixo e os seus compromissos políticos para normalizar e estimular o desenvolvimento capitalista, incluindo todas as elites existentes (elites multinacionais estrangeiras, agro-minerais, finanças, comerciais e manufactureiras). O dilema do centro-esquerda foi resolvido pela súbita alta nos preços das commodities, em grande parte estimulada pela procura dinâmica e o crescimento das economias asiáticas, nomeadamente da China.

Os regimes de centro esquerda abandonaram então todos os pretextos de busca de mudança estrutural e saltaram para o comboio do "crescimento conduzido pela exportação" – com base na exportação de produtos primários. Abandonando a crítica ao investimento estrangeiro e exigências de "renacionalizar" firmas privadas estratégicas, os regimes de centro esquerda abriram a porta a entradas de capital estrangeiro em grande escala – suspendendo a aplicação de alguns dos seus controles regulamentares.

O boom das commodities de 2003-2008 permitiu aos regimes de centro esquerda (e aos de direita) "comprarem" a oposição: sindicatos receberam substanciais aumentos de salários, negócios receberam incentivos substanciais, investidores estrangeiros foram saudados, remessas de trabalhadores expatriados foram encorajadas, como contribuições para a redução da pobreza.

Numa palavra: todo o edifício socioeconómico da estratégia da América Latina de alto crescimento económico orientado pelas exportações repousava na procura do mercado mundial e nas condições económicas nos países imperiais. Poucos dos peritos económicos, colunistas financeiros e celebrantes políticos dos "mercados racionais" exprimiram quaisquer dúvidas acerca da sustentabilidade do modelo "mercado de exportação".

A extraordinárias vulnerabilidade destas economias, a sua dependência de mercados voláteis, a sua dependência sobre um número limitado de produtos de exportação, a sua dependência sobre um ou dois mercado, a sua dependência das remessas dos mais precários trabalhadores expatriados deveriam ter levantado uma bandeira vermelha para qualquer economista e decisor político que pensasse. Os consultores de alto preço e as missões de aconselhamento estrangeiras da Harvard Business School, da Penn's Wharton School e de outros centros prestigiosos de ensino superior (enamorados das suas equações matemáticas as quais demonstravam quais eram as suas premissas) argumentavam que mercados minimamente regulados são os que têm mais êxito e convenceram seus parceiros latino-americanos do centro-esquerda à direita a reduzir barreiras comerciais e permitir o fluxo de capital.

Após apenas cinco anos de rápido crescimento induzido pelo mercado de exportação, as economias latino-americanas entraram em crash. Segundo a Comissão Económica das Nações Unidas para a América Latina, as exportações dos países latino-americanos e caribenhos em 2009 mostrarão a queda mais aguda ao longo de mais de 72 anos (desde a última depressão mundial). As exportações regionais declinarão 11% em volume, ao passo que as importações cairão 14%, a maior queda desde a recessão mundial de 1982 [1] .

Armadilhas da especialização em exportações de commodities
As datas de referência são indicativas dos compromissos seculares e das vulnerabilidades na estrutura comercial: as recessões passadas e presentes têm um impacto agudo sobre a América Latina porque tanto agora como no passado as suas economias dependem de exportações agro-minerais para mercados imperiais, os quais rapidamente comutam as suas crises internas para os seus parceiros comerciais latino-americanos. O declínio histórico no comércio inevitavelmente duplica e triplica a taxa de desemprego entre os trabalhadores dos sectores de exportação e tem um efeito multiplicador sobre empresas económicas satélite ligadas às despesas e aos consumos gerados pelo comércio além-mar. A especialização em exportações agro-minerais limita as possibilidades de emprego alternativo de um modo que uma economia mais diversificada não faz. A dependência do Estado, para a maior parte das suas receitas, das exportações de agro-minerais e de energia significa cortes automáticos no investimento público e nas despesas com serviços sociais.

As crises comerciais da América Latina afectaram especialmente aqueles países com produtos de exportação mais tradicionais em commodities agrícolas, minerais e energéticas: Venezuela e Equador (petróleo), Colômbia (petróleo e carvão) e Bolívia experimentaram um declínio de até 33% em 2009, muito acima da média para a região. O México, dependente em 80% do seu comércio com os EUA (petróleo, turismo, remessas, automóveis) experimentou o maior declínio, 11% do PIB, de todos os países do hemisfério.

Se bem que todas as economias conduzidas pela exportação fossem atingidas pelas crises, aqueles países que tinham um mix comercial mais diversificado (manufacturas, agricultura, serviços) caíram em aproximadamente 20% ao passo que os países que se especializaram em exportações de petróleo e minerais caíram mais de 50%.

Armadilhas da dependência a um único mercado
Os países com uma maior diversidade de mercados e parceiros comerciais, especialmente aqueles que comerciavam dentro da zona latino-americana e com a China, experimentaram um declínio mais reduzido em comparação com aqueles, como o México, Venezuela e América Central, que dependiam dos mercados dos EUA e da União Europeia, que caíram em mais de 35%.

O comércio foi apenas uma das quatro frentes que impactaram negativamente a América Latina. O investimento directo estrangeiro, as remessas de trabalhadores do estrangeiro e os preços das commodities contribuíram para as crises.

Armadilhas da dependência do investimento estrangeiro
As portas abertas da América Latina ao investimento estrangeiro (IE) foram uma causa importante da crise. O fluxo de IE escalou em resposta ao crescimento interno da América Latina, aproveitando-se dos altos lucros gerados pelo boom comercial de commodities. Com o declínio do comércio, rendimentos e lucros, o IE saiu, repatriou lucros e desinvestiu, exacerbando as crises a aumentando o desemprego. O IE segue as práticas de entrada fácil e retirada rápida – um meio de desenvolvimento altamente inconfiável e volátil.

Armadilhas da dependência das remessas de além-mar
Os regimes latino-americanos consideraram como certos e construíram dentro das suas políticas económicas e projecções transferências de muitos milhares de milhões de dólares de rendimentos de trabalhadores além-mar, fazendo vista grossa à posição legal e económica altamente vulnerável dos seus cidadãos que trabalham no exterior. A vasta maioria dos trabalhadores além-mar está em posições muito vulneráveis: muitos não estão documentados ("imigrantes ilegais") e durante recessões ou baixas económicas são abruptamente despedidos. Em segundo lugar trabalham em sectores como construção, turismo, jardinagem e limpeza, os quais são duramente atingidos pelas recessões. Em terceiro têm pouca ou nenhuma antiguidade e são "os últimos contratados e os primeiros despedidos". Em quarto, muitos não podem receber seguro de desemprego e enfrentam a deportação se não puderem sustentar-se. Os resultados da alta vulnerabilidade dos trabalhadores no estrangeiro são visíveis no declínio de muito milhares de milhões de dólares nas remessas para a América Latina, exacerbando a pobreza e inclinando a balança de pagamentos no vermelho.

Volatilidade dos preços das commodities
Ao colocar todos os seus ovos no cabaz dos preços altos das commodities e dos mercados além-mar, os governos do centro-esquerda perderam uma grande oportunidade para aprofundarem o seu mercado interno via industrialização por substituição de importações, reforma agrária e investimentos público em infraestrutura ligando agricultura – mineração – manufactura e fontes de energia numa "rede" para proteger a economia nacional de crises induzidas externamente.

Os limites do social liberalismo ("centro-esquerda") e as crises económicas
Durante a primeira década do novo milénio os regimes de centro-esquerda recém cunhados alinharam-se contra o neoliberalismo e chegaram a identificar-se como os socialistas do "século XXI". Na prática o que isto significou foi atar aumentos em despesas sociais às estruturas económicas políticas comerciais existentes, com alguns ajustamentos em parceiros comerciais e em alguns casos "joint-ventures" com investidores estrangeiros. Durante o período todo o conjunto de regime praticou políticas sociais liberais familiares a observadores dos regimes social-democratas europeus contemporâneos: eles combinaram livre comércio e uma porta aberta ao investimento estrangeiro com gastos maiores em programas anti-pobreza, benefícios de desemprego e aumentos no salário mínimo. Por outro lado vastos lucros acumularam-se nas mãos das elites agro-minerais e do sector bancário, o qual financiou comércio, consumo e rolagem da dívida.

Todo o modelo social liberal continuou entretanto sobre os fundamentos frágeis das crises dependentes da estratégia de exportações de commodities, receitas comerciais altamente voláteis e rendimento de vulneráveis trabalhadores além-mar. Quando os mercados de exportações latino-americanos secaram e os preços das commodities caíram, as receitas declinaram e trabalhadores foram despedidos. O modelo social liberal entrou em colapso com crescimento negativo e os ganhos anteriores em emprego e redução da pobreza foram revertidos.

Lições do colapso do modelo social liberal

Várias lições importantes podem ser retiradas da experiência em curso de regimes social-liberais.

1. Programas sociais positivos não são sustentáveis sem mudanças estruturais, as quais diminuem a vulnerabilidade externa .
2. Reduzir a vulnerabilidade externa depende da propriedade pública dos sectores económicos estratégicos a fim de evitar fugas de capital, o comportamento típico do capital com base no estrangeiro.
3. Reduzir a vulnerabilidade económica depende de diversificar mercados para longe dos centros imperiais infestados de crises e controlados financeiramente. Maior sustentabilidade económica depende do aprofundamento do mercado interno, aumento do comércio intra-regional e redireccionamento do comércio rumo a regiões de crescimento alto.
4. Despesas sociais são paliativos necessários no imediato mas não vão à raiz da pobreza e dos rendimentos baixos. Programas de distribuição de terra de grande amplitude ligados ao desenvolvimento em grande escala com financiamento e investimento da produção alimentar local e em indústrias internas que complementem e se associem à produção agro-mineral diminuirão a dependência de mercados além-mar e estabilizarão a economia.
5. O controle estatal do comércio estrangeiro e das empregas minerais estratégicas permite a captura do excedente económico para financiar a diversificação económica e a inovação.
6. A integração regional tem de passar das declarações retóricas ao desempenho e prática reais. O presidente Chavez da Venezuela, o principal advogado da integração regional e promotor da Associação Bolivariana da América Latina (ALBA), ainda depende dos mercados dos EUA para 80% da sua venda de petróleo e 70% das receitas de exportação do petróleo, e mais de 50% das suas importações alimentares da Colômbia, cliente militar dos EUA. A integração regional é factível com base no planeamento de investimentos complementares e empreendimentos públicos conjuntos na industrialização de minerais, petróleo e outras commodities primárias.
7. Pactos de segurança entre regimes latino-americanos destinados a reagir às bases militares colombianas dos EUA e à estratégia de militarização estado-unidense também podem ter uma função económica – criar indústrias joint-venture de armamentos e reduzir compras externas.
8. A diversificação do comércio com a Ásia e a diminuição da dependência dos EUA e da UE é necessária mas insuficiente se o conteúdo exportado continuar a ser predominantemente mercadorias primárias. Mudar parceiros comerciais mas perpetuar padrões comerciais de "estilo colonial" não diminuirá a vulnerabilidade. A América Latina, especialmente a Bolívia, Brasil, Peru e Equador, devem insistir em que os seus produtos primários sejam industrializados e seja acrescentado valor antes de serem exportados para a China, Índia, Japão e Coreia.

Em resumo: a actual crise mundial revela as limitações e insustentabilidade das políticas e regimes sociais-liberais. No reconhecimento das vulnerabilidades e da volatilidade jaz o fundamento para uma transformação estrutural completa com base em mudanças na posse da terra, nos padrões comerciais e na propriedade de indústrias estratégicas. A crise actual desacreditou tanto as receitas neoliberais como sociais-liberais e abre a porta para um novo pensamento que liga despesas sociais com propriedade social.

09/Setembro/2009

1. O relatório completo pode ser encontrado em Latin America and the Caribbean in the World Economy 2008-2009 (Santiago do Chile, Agosto 2009)
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=15127

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/