quinta-feira, 31 de março de 2011

As “ditaduras amigas” - por Ignacio Ramonet

As “ditaduras amigas”É uma ditadura, a Tunísia? E o Egipto, é uma ditadura? Ao ver os meios de comunicação social deleitarem-se agora com a aplicação da palavra “ditadura” à Tunísia de Ben Ali e ao Egipto de Mubarak, os franceses devem ter-se questionado se estariam a ler ou ouvir bem. Não tinham esses mesmos meios de comunicação e esses mesmos jornalistas insistido, durante décadas, que esses dois «países amigos» eram «Estados moderados»? Após a destruição da «atroz tirania» de Saddam Hussein no Iraque, não era o palavrão “ditadura” exclusivamente reservado, no mundo árabe-muçulmano, ao regime iraniano? Como? Havia então outras ditaduras nessa região? E a nossa comunicação social, nesta nossa democracia exemplar, escondera-nos isso?

Aqui está, em todo caso, uma primeira revelação que devemos ao revoltado povo da Tunísia. A sua prodigiosa vitória libertou os europeus da “retórica da hipocrisia e da dissimulação” em vigor nas nossas chancelarias e nos nossos meios de comunicação. Forçados a tirar a máscara, estes últimos fingem descobrir o que já se sabia há muito [1]: que as “ditaduras amigas” não passam de regimes de opressão. Nesta matéria, os meios de comunicação não fizeram mais do que seguir a “linha oficial”: fechar os olhos ou olhar para o lado, confirmando a ideia de que a imprensa só é livre perante os fracos e as pessoas isoladas. Não teve Nicolas Sarkozy o atrevimento de afirmar, a propósito do sistema mafioso do clã Ben Ali-Trabelsi, que na Tunísia «existia uma desesperança, um sofrimento e uma sensação de sufoco de que, há que reconhecê-lo, não tínhamos a exacta noção»?

«Não tínhamos a exacta noção»… Durante 23 anos… Apesar da presença no terreno de serviços diplomáticos que são mais prolíficos do que os de qualquer outro país… Apesar da colaboração em todos os domínios da segurança (polícia e outras forças da ordem, serviços secretos…). Apesar das estadias regulares de altos responsáveis políticos e mediáticos que lá estabeleceram, de forma descomplexada, o seu local de férias [2]… Apesar da presença em França de dirigentes da oposição tunisina exilados, que as autoridades francesas mantiveram à parte, como se tivessem peste, e que quase foram impedidos, durante décadas, de ter acesso aos grandes meios de comunicação social… A decadência da democracia.

Na verdade, esses regimes autoritários foram (e continuam a ser) protegidos de forma complacente pelas democracias europeias, numa atitude de desprezo pelos seus próprios valores e com o pretexto de que tais regimes constituiriam barreiras contra o islamismo radical [3]. O mesmo argumento cínico foi utilizado pelo Ocidente, no tempo da Guerra Fria, para apoiar as ditaduras militares na Europa (Espanha, Portugal, Grécia e Turquia) e na América Latina, pretensamente para impedir a chegada ao poder do comunismo.

Que maravilhosa lição estão as sociedades árabes revoltadas a dar aos que, na Europa, apenas os descreviam em termos maniqueístas: tanto eram massas dóceis submetidas a sátrapas orientais corruptos, como multidões histéricas possuídas pelo fanatismo religioso. Mas eis que de repente essas sociedades surgem, nos ecrãs dos nossos computadores ou televisores (veja-se o admirável trabalho da Al-Jazira), preocupadas com progresso social, de modo algum obcecadas com a questão religiosa, com sede de liberdade, exasperadas pela corrupção, detestando as desigualdades e reclamando a democracia para todos, sem exclusivos.

Longe das caricaturas binárias, esses povos não constituem de forma alguma uma espécie de “excepção árabe”, antes mostram-se semelhantes, nas suas aspirações políticas, ao resto das sociedades urbanas modernas esclarecidas. Um terço dos tunisinos e quase um quarto dos egípcios navegam de forma regular na Internet. Como afirma Moulay Hicham El Alaoui: «Os novos movimentos já não são marcados pelos antigos antagonismos, como o anti-imperialismo, o anticolonialismo ou o anti-secularismo. As manifestações de Tunes e do Cairo foram desprovidas de qualquer simbolismo religioso. É uma ruptura geracional que refuta a tese do excepcionalismo árabe. Além disso, são as novas tecnologias de comunicação da Internet que animam esses movimentos. Estes propõem uma nova versão da sociedade civil em que a recusa do autoritarismo é paralela à rejeição da corrupção» [4].

Graças nomeadamente às redes sociais digitais, as sociedades, tanto na Tunísia como no Egipto, mobilizaram-se com extrema rapidez e conseguiram abalar os poderes num tempo recorde. Antes mesmo que os movimentos tivessem possibilidade de “amadurecer” e de favorecer a emergência interna de novos dirigentes. Foi uma das raras vezes em que a simples dinâmica da exasperação das massas — sem líder, sem organização dirigente e sem programa — foi suficiente para fazer triunfar uma revolução.

É um instante frágil. Sem dúvida que há já poderes a actuar, especialmente no Egipto, no sentido de que «tudo mude para que tudo fique na mesma», segundo o antigo adágio de O Leopardo. Os povos que conquistam as suas liberdades devem ter sempre em mente o aviso de Balzac: «Matar-se-á a imprensa como se mata um povo — oferecendo-lhe a liberdade» [5]. As “democracias de vigilância” são infinitamente mais hábeis a domesticar um povo, com toda a legitimidade, do que as antigas ditaduras. Mas isto em nada justifica a conservação de uma ditadura. Nem deve afectar o ardor de derrubar uma tirania.

A queda da ditadura tunisina foi de tal forma rápida que os outros povos magrebinos e árabes chegaram à conclusão de que essas autocracias – que se encontram entre as mais antigas do mundo – estavam, na realidade, em estado de extrema degradação e, assim sendo, não passavam de “tigres de papel”. A mesma demonstração acabou por se verificar no Egipto.

Daí esta impressionante revolta dos povos árabes — que faz inevitavelmente pensar no grande florescimento das revoluções pela Europa de 1848 — na Jordânia, no Iémen, na Argélia, na Síria, na Arábia Saudita, no Sudão e em Marrocos.

Neste último país, uma monarquia absoluta onde o resultado das “eleições” (sempre viciadas) continua a ser decidido por um soberano que designa a seu bel-prazer os chamados ministros “de soberania”, cerca de uma dezena de famílias próximas do trono continuam a apoderar-se das principais riquezas [6]. As mensagens divulgadas pela WikiLeaks revelaram que a corrupção atingia em Marrocos níveis de indecência colossais, mais altos do que na Tunísia de Ben Ali, e que todas as redes mafiosas tinham como única origem o Palácio. Um país onde a prática da tortura é generalizada e a censura da imprensa é constante.

No entanto, tal como a Tunísia de Ben Ali, essa “ditadura amiga” beneficia de uma enorme indulgência da nossa comunicação social e da maior parte dos nossos responsáveis políticos [7]. Estes minimizam os sinais que indicam o início de um “contágio” da revolta. Já houve quatro pessoas que se imolaram pelo fogo. Ocorreram em Tânger, Fez e Rabat manifestações de solidariedade com os revoltados da Tunísia e do Egipto [8]. As autoridades, transidas de medo, decidiram de maneira preventiva subsidiar os bens de consumo de primeira necessidade para evitar “revoltas do pão”. Importantes contingentes de tropas teriam sido retiradas do Sara Ocidental e encaminhadas para Rabat e Casablanca. O rei Mohammed VI e alguns colaboradores ter-se-iam especialmente deslocado a França, no fim-de-semana de 29 de Janeiro, para consultar especialistas em manutenção da ordem pública do Ministério do Interior francês [9].

Mesmo que as autoridades desmintam estas duas últimas informações, é claro que a sociedade marroquina segue com exaltação os acontecimentos da Tunísia e do Egipto. Disposta a entrar na onda de fervor revolucionário para abolir finalmente a opressão feudal. E disposta a pedir contas a todos os que, na Europa, durante décadas, foram cúmplices das “ditaduras amigas”.

Notas:
[1] Ler, por exemplo, Jacqueline Boucher, La Société tunisienne privée de parole, e Ignacio Ramonet, Main de fer en Tunisie, Le Monde diplomatique, respectivamente Fevereiro de 1996 e Julho de 1996.
[2] Apesar de Mohammed Bouazizi se ter imolado pelo fogo a 17 de Dezembro de 2010, de a insurreição se ter estendido a todo o país e de dezenas de tunisinos revoltados continuarem a sucumbir sob as balas da repressão dos partidários de Ben Ali, o autarca de Paris, Bertrand Delanoé, e a ministra dos Negócios Estrangeiros, Michèle Alliot-Marie, consideraram perfeitamente normal ir festejar alegremente a passagem de ano à Tunísia.
[3] Ao mesmo tempo, e aparentemente sem que apreciem a contradição, Washington e os seus aliados europeus apoiam o regime teocrático e tirânico da Arábia Saudita, principal foco oficial do islamismo mais obscurantista e expansionista.
[4] Ignacio Cembrero, Le prince Moulay Hicham: «Le Maroc ne fera probablement pas exception», Mémoire des Luttes, 31 de Janeiro de 2011.
[5] Honoré de Balzac, Monographie de la presse parisienne, Paris, 1843.
[6] Ignacio Ramonet, Barril de pólvora em Marrocos, Le Monde diplomatique, Setembro de 2008.
[7] De Nicolas Sarkozy a Ségolène Royal, passando por Dominique Strauss-Kahn, que possui um ryad em Marraquexe, vários foram os dirigentes políticos franceses que não tiveram escrúpulos em permanecer nessa “ditadura amiga” durante as recentes férias de fim de ano.
[8] Ignacio Cembrero, Manifestaciones en Tánger y Rabat en apoyo a los egipcios, El País, 01 de Fevereiro de 2011.
[9] Ignacio Cembrero, Y Mohamed VI se va de vacaciones…, El País, 30 de Janeiro de 2011, e Pierre Haski, Le discret voyage du roi du Maroc dans son château de l’Oise, Rue89, 29 de Janeiro de 2011.
Fonte: http://infoalternativa.org/

O premio Nobel da Paz levando o Terror, a Morte e as Armas ao povo líbio!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Identidade convulsiva


“O homem não deveria pensar-se como revolucionário apenas no plano social, mas acreditar e, sobretudo, sê-lo no plano físico, fisiológico, anatômico, funcional, circulatório, respiratório, dinâmico, atômico e elétrico”

(Antonin Artaud).
Fonte: http://diacrianos.blogspot.com/

Em 11 anos, governo de SP faz sete planos de Metrô, mas só constrói "uma linha e meia"

Em 11 anos, governo de SP faz sete planos de Metrô, mas só constrói "uma linha e meia"

Em 11 anos, o governo de São Paulo planejou quase cinco vezes mais do que construiu trilhos de metrô. De 1999 até o final de 2010, ao menos sete grandes planos de expansão do transporte público foram elaborados e, na maioria dos casos, divulgados pelo Estado com alarde. Cada um desses projetos trazia alterações no traçado das linhas do plano anunciado anteriormente. Nesse tempo todo, porém, apenas a linha 5-Lilás (em 2002) e parte da linha 4-Amarela (em março de 2010) foram inauguradas pelo Metrô de São Paulo.O primeiro grande planejamento visando o transporte sobre trilhos foi publicado em 1999 com o nome de Pitu (Plano Integrado de Transportes Urbanos) 2020. Ele foi a base de três planos do Metrô: Rede Densa, que concentrava um número maior de linhas cortando o centro da cidade; Rede Aberta, em que mais trilhos cortavam as periferias da capital paulista; e uma espécie de meio termo entre esses dois projetos. Seguindo projeções estatísticas, os técnicos do governo concluíram que o Rede Aberta seria o plano que melhor atenderias às necessidades da população, apesar de ser o mais caro. Em dezembro de 2010, o R7noticiou que, para cumprir o Rede Aberta até 2020, o governo teria que aumentar em 11 vezes seu ritmo de construção.

Em 2006, foi a vez do Pitu 2025, que apesar de ter sido apresentado como uma revisão do Pitu 2020, diminuiu as metas da extensão total do Metrô e passou a considerar com base o planejamento do Rede Densa (com mais trilhos concentrados na região central da cidade de São Paulo). Para o arquiteto Fábio Pontes, o Pitu 2025 foi "completamente diferente do Pitu 2020".

Ao mesmo tempo em que o Pitu 2025 era elaborado pela STM (Secretaria de Transportes Metropolitanos), o Metrô planejava, à parte, sua Rede Essencial. Na época, houve disputa entre os técnicos dos dois órgãos, de acordo com apuração do R7. A Rede Essencial se baseava em outros planos prévios: o Pitu 2020, a Rede Azul e a Rede Distributiva - esses dois últimos nunca chegaram a ser publicados. A principal característica da Rede Essencial era o enfoque às estações em pontos de congestionamento e a integração do Metrô com as linhas da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

Pouco tempo depois, foi a vez do Plano de Expansão, que engavetou todos os projetores anteriores. A principal característica desse plano foi a elaboração do atual trajeto de ampliação da linha 2-Verde. Ele foi seguido pelo Expansão SP, que passou a considerar monotrilhos e deu ênfase à linha 6-Laranja, a chamada "linha universitária".

"Uma linha e meia"
Nesse meio tempo, apenas uma linha nova foi inaugurada, a 5-Lilás, com apenas uma conexão com as outras linhas do sistema do Metrô; e parte da linha 4-Amarela, com apenas duas estações em funcionamento (Paulista e Faria Lima) e em fase de testes. Fora isso, a linha 2-Verde foi expandida até a Vila Prudente, mas também está em fase de testes, com horário reduzido em relação ao resto do sistema.

Para Pontes, o problema do não cumprimento e reformulação sucessiva dos planos é que eles são "para inglês ver". O especialista diz acreditar que as metas do Expansão SP também não serão alcançadas.

– Eles [os planos] simplesmente são prometidos, mas não são cumpridos.

Levantamento feito pelo arquiteto e urbanista do escritório 23sul Moreno Zaidan Garcia mostra que o Metrô inaugurou, em média, 2,6 km de obras entre os anos de 2002 e 2011. Nível bem abaixo daquele verificado em cidades como Seul, Nova Delhi e Madri, cujas médias em período similar ficaram entre 16,7 km e 31,5 km.

Para o arquiteto e consultor na área de transportes de alta capacidade Marcos Kyioto, a sobreposição de planos é um demonstrativo da descontinuidade das políticas públicas e da falta de prioridade dada ao Metrô.

– Os planos estão mudando mais rápido do que as linhas estão sendo construídas.
Mercado imobiliário

Os especialistas são unânimes em dizer que a ampliação da malha do Metrô atual é importante não só para a melhoria dos transportes em São Paulo, mas até para a da moradia. Garcia afirma que se as estações de Metrô fossem mais comuns, a especulação imobiliária seria menor, e um terreno próximo a uma estação não seria tão valorizado como é hoje.

Ainda de acordo com Garcia, outro benefício seria a distribuição do trabalho em mais polos.

– Dificilmente o centro de São Paulo vai deixar de ser o maior polo de atração de pessoas. Não creio que um dia chegaremos a um empate em 50% de gente indo e 50% de gente vindo do centro. Mas essa distribuição poderia ser de 40%-60%, por exemplo, em vez dos 90%-10% atuais.

Outro lado
A reportagem do R7 entrou em contato diversas vezes com o Metrô de São Paulo, mas a assessoria da instituição não quis se manifestar sobre o assunto.

Em nota, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos disse que as "obras que estavam em andamento na gestão passada continuam sendo executadas" [...] As demais linhas da expansão dos transportes metropolitanos, como a linha 6-Laranja (Brasilândia - São Joaquim), o monotrilho linha 17-Ouro (Jabaquara - Congonhas - Paraisópolis) e a linha 15-Branca (Vila Prudente - Tiquatira) também estão nos planos da Secretaria dos Transportes Metropolitanos".
Fonte:R7
Retirado do: http://eixodajustica.blogspot.com

terça-feira, 29 de março de 2011

Já está online a Rádio Cordel Libertário - por ANA

Já está online a Rádio Cordel Libertário[Individualidades anarquistas da cidade de Salvador (BA) colocaram no ar, via internet, a Rádio Cordel Libertário. Ao acessá-la, o internauta de qualquer parte do Brasil e do planeta poderá conferir noticiários, entrevistas, músicas e muito mais. Eles conversaram com a ANA sobre este projeto, confira a seguir.]

Agência de Notícias Anarquistas > O que é a Rádio Cordel Libertário?
Resposta < A Rádio Cordel Libertário nasceu com o intuito de aumentar a comunicação entre os diversos movimentos libertários/anarquistas tanto da região nordeste como de outras regiões do Brasil e do mundo, utilizando-se da internet para estabelecer um veículo de comunicação diário que preze a interatividade e a diversidade. Dessa forma tivemos a idéia de fazer uma rádio online, principalmente pelo motivo de não conhecermos qualquer outra rádio online que seja diária, e nós libertárias/os só podermos ter acesso a informações do que acontece no Brasil e no mundo através de material escrito, que muitas vezes só temos o papel de receptador de informações.

Além de ser uma rádio no nosso blog oferecemos noticias que são vinculadas nas principais fontes de noticias libertárias/anarquistas.

O nome Cordel Libertário vem de um meio de comunicação bastante utilizado pelo povo nordestino, a Literatura de Cordel, como de propagar o conhecimento e a informação de uma forma, e Libertário porque compartilhamos dos ideais de luta por liberdade que só pode ser conquistado se ela for meio e fim para o ser humano se libertar de todas as opressões.

ANA > E como é o conteúdo da rádio, a programação?
Resposta < A Rádio além de oferecer uma programação musical bastante diversificada valorizando os sons locais, mas com letras de cunho libertário, também oferece um noticiário diário.

ANA > Há programas ao vivo?
Resposta < A principal programação da Radio é o noticiário Cordel Libertário Noticias, que acontece de segunda a sexta-feira a partir das 21h10, horário de Brasília, ao vivo, com participações de ouvintes seja pelo chat existente no blog seja falando ao vivo através do Skype. Nesse noticiário tentamos fazer uma busca das noticias vinculadas nos principais sites dos movimentos libertários/anarquistas, também tecemos comentários com um perspectiva libertária sobre o que foi divulgado na Grande Mídia (canais de TV e jornais), e também fazemos especiais de entrevistas com pessoas que estejam inseridas em algum espaço de luta libertária em qualquer lugar do Brasil e do mundo.

ANA > Individualidades ou um grupo estão envolvidos diretamente com este projeto?
Resposta < Quem iniciou o projeto são indivíduos que moram na cidade de Salvador, Bahia, que se interessaram por esse trabalho, mesmo sabendo do grande desafio que é fazer uma espaço de comunicação verbal, e com objetivo de contrapor aos veículos de comunicação burguês.

ANA > E como as pessoas de outras cidades podem colaborar?
Resposta < Como estamos iniciando esse projeto, temos naturalmente muitas dificuldades para ter acesso as informações sobre o que acontece no nordeste e, principalmente, no resto do Brasil, dessa forma precisamos estabelecer uma rede de comunicação com os diversos movimentos libertários/anarquistas do país e integrá-los diretamente na programação da nossa rádio, seja através de e-mails com informes do que acontece em sua região ou das respectivas ações desses movimentos, ou através de abertura ao vivo para falarem o que acharem importante divulgar.

Como o objetivo dessa rádio é manter um noticiário de segunda a sexta, também temos o problema da disponibilização de pessoas para serem colaboradoras/es na programação, por isso, deixamos o convite para quem tiver interesse em colaborar na programação da rádio que entre em contato conosco que, com certeza, serão bem vindas/os na construção de mais um espaço de contrainformação, que possibilite a organização e a luta libertária.

Para ouvir a rádio acesse:
› http://radiocordel-libertario.blogspot.com/

Contato:
› radiocordel-libertario@hotmail.com

agência de notícias anarquistas-ana
fino fio de fumaça
fere o espaço
com seu perfume

Eliakin Rufino

Jair Bolsonaro, a personificação do ódio - por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

segunda-feira, 28 de março de 2011

Nunca antes na história deste país… - Por Passa Palavra

Nunca antes na história deste país…

O programa da esquerda brasileira está sendo parcialmente realizado como etapa necessária ao desenvolvimento do capitalismo, contra o qual luta desde há muito. Por Passa Palavra

O Brasil vive uma profunda mudança de sua inserção na economia e na política globais. Nunca antes na história deste país se produziu, exportou e investiu tanto, em especial fora das fronteiras – desenvolvendo as empresas transnacionais de origem brasileira. Nunca antes a política externa brasileira foi tão independente – com base na exploração dos recursos econômicos da América Latina e na disputa de mercados e de espaços de investimento em África. Nunca antes o Brasil foi tão engajado – ao ponto de grandes capitalistas apoiarem políticas compensatórias “de esquerda”. Na verdade – e é o que queremos investigar com esta série de artigos – nunca antes o Brasil foi tão imperialista.

O Brasil vive uma profunda mudança de sua inserção na economia e na política globais. Nunca antes no Brasil se foi tão “engajado” – ao ponto de grandes capitalistas apoiarem políticas compensatórias “de esquerda”. E aqui reside o que talvez seja um dos mais dramáticos paradoxos de sua história: o programa da esquerda brasileira está sendo parcialmente realizado como etapa necessária ao desenvolvimento do capitalismo, contra o qual luta desde há muito.Há tentativas bastante variadas de elucidação deste paradoxo, das mais simplórias às mais elaboradas. Uma delas, a mais simplória, diz que o caso é de “traição” por parte do Partido dos Trabalhadores (PT). Ora, certamente cabe perguntar: houve traição realmente, ou se trata de fazer ouvidos de mercador às promessas que efetivamente foram feitas? Basta analisar não somente os documentos internos do PT, mas também a prática de suas administrações, para que se veja: não traíram ninguém, apenas cumpriram o que prometeram. A Carta ao povo brasileiro, mandada publicar por Lula em sua campanha eleitoral de 2002 e cumprida à risca até o último dia de seu segundo mandato, é exemplo cabal desta desatenção.

Uma outra linha de interpretação, mais conformista, deriva da inserção da esquerda brasileira nos postos mais altos e importantes do Governo Federal (desde o Estado Novo varguista, a única que realmente conta dentre as três esferas federativas brasileiras). Conseguida a partir das sucessivas vitórias eleitorais das coligações de (centro-)esquerda capitaneadas pelo PT desde 2002, tal inserção representaria também a chegada ao poder dos restos de um programa de lutas de mais de trinta anos, cujas origens imediatas remontam à resultante de idéias amalgamadas pelo clássico tripé “Comunidades Eclesiais de Base + sindicalismo autêntico + esquerda revolucionária semiclandestina” que sustentou a criação do PT. Este programa “popular” estaria sendo cumprido, apesar de a “correlação de forças” – sempre ela! – impor sucessivos recuos programáticos. As disputas entre os Ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário quanto ao modelo de agricultura a reforçar no país; a disputa entre os setores “desenvolvimentista” e “ambientalista” dentro do governo federal; a pressão pelas casas decimais para cima ou para baixo nas reuniões do Conselho de Política Monetária (COPOM); a desestruturação dos ministérios e secretarias especiais “identitários”, como a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), e a polêmica em torno do Estatuto da Igualdade Racial; tudo isto seria explicado pela “correlação de forças”, transformada no infalível abracadabra dos recuos. Mas cabe perguntar: quem controla quem neste jogo de barganhas e enfrentamentos internos dentro do Estado? Os recuos programáticos são feitos porque a correlação de forças políticas é realmente desfavorável à esquerda, ou porque os setores da esquerda hoje no governo desistiram, por acomodação ao Estado, de testá-la de verdade?

Uma terceira linha de interpretação diz que ao longo do tempo o partido teria “virado à direita”, atendendo a interesses cada vez mais “pragmáticos”, perdendo qualquer ligação com projetos de transformação social mais profunda. Estaria “entregando os pontos” há um bom tempo, e terminou “beijando a cruz” do programa das instituições financeiras multilaterais internacionais por força de hábito, de tanto segui-lo em busca de “credibilidade”. Reconhecendo a esta interpretação o mérito de ligar os destinos políticos do país àquele das finanças internacionais – afinal, a mundialização, hoje a forma principal de atuação dos gestores do capitalismo, está no DNA do regime – ainda assim cabe perguntar: que significa esta “virada à direita”? Quem a capitaneou, e com que interesses? Resultaria a adesão de setores da esquerda brasileira aos círculos financeiros internacionais do automatismo de “beijar a cruz” seguidas vezes, ou de escolha deliberada, verdadeiro corolário de opções políticas anteriores?Uma quarta linha de interpretação diz que a “virada à direita” e o “pragmatismo” resultam da ocupação paulatina, por setores da esquerda, de espaços em conselhos gestores de fundos públicos (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS, Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT), de bancos de investimento (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES) ou de fundos de pensão (PREVI, PETROS, etc.). Os setores da esquerda que chegaram a tais posições exercem controle direto sobre algumas das principais forças motrizes da economia brasileira. E assim, de grão em grão, se chegou ao paradoxo de “trabalhadores” controlarem os meios de produção, embora os trabalhadores sigam explorados – este, o real conteúdo da “conversão à cartilha neoliberal”. Embora o esmaecimento das fronteiras entre o “público” e o “privado” seja traço histórico da política brasileira desde há muito, estes setores da esquerda agora participam – e não raro patrocinam – suas formas mais avançadas. Reconhecendo a esta interpretação o mérito de entrar nas lutas internas da própria esquerda, cabe ainda assim perguntar: quem são estes setores? De onde vieram, o que querem, para onde vão? Que jogo político levou a esta opção, e que metamorfoses sociais resultam dela? Que ligação têm estes setores com práticas parecidas ocorridas em outros tempos e lugares?

Os “descaminhos” da esquerda não surgem somente a partir das “traições” de certas lideranças, mas também – e fundamentalmente – das disputas internas que atravessam suas organizações. Nas origens do programa político que a esquerda brasileira apresenta hoje – totalmente funcional ao desenvolvimento do capitalismo – há traços não apenas do ideário “democrático-popular” do “tripé clássico” já referido, mas também de todas as polêmicas que marcaram o nacionalismo revolucionário brizolista, o socialismo democrático do Partido Socialista Brasileiro (PSB), as críticas das organizações dissidentes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) surgidas a partir da década de 1960, o programa “etapista” do antigo PCB, as lutas das oposições sindicais, as ideias dos chamados “autonomistas” que compuseram o núcleo ideológico inicial do PT e de personalidades isoladas, etc. É preciso refletir sobre tão controverso quinhão. Do espólio das lutas populares herdamos – aqui sim, por hábito – a noção de que o Brasil é um país subdesenvolvido. Mas aquilo que vemos diante dos olhos mostra outra coisa. E esta outra coisa, que entra olhos adentro, é preciso vê-la através dos olhos dos outros, pois o hábito torna-se cegante depois de certo ponto.

Nunca antes na história deste país se produziu, exportou e investiu tanto, em especial fora das fronteiras – campo onde se desenvolvem as empresas transnacionais de origem brasileira: Marcopolo, Colcci, Copersucar, Grupo André Maggi, Camargo Corrêa, Embraer, Vale, Braskem, Grupo Votorantim, Fibria Celulose, WEG, Duratex, JBS, Traffic, Odebrecht, Brazil Foods, Suzano, Queiroz Galvão, etc. Nunca antes a política externa brasileira foi tão independente – com base na exploração dos recursos econômicos da América Latina e na disputa de mercados e de espaços de investimento em África. Alguns exemplos. A Agência Brasileira de Cooperação tem orçamento anual de cerca de R$ 52 milhões, e pulou de 23 projetos de cooperação técnica no exterior em 2003 para 413 em 2010. Segundo The Economist (15 jul. 2010), o total de investimentos brasileiros na cooperação para o desenvolvimento, somando-se nesta rubrica contribuições ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apoios pontuais aos palestinos na Faixa de Gaza, investimentos no Haiti e empréstimos internacionais feitos pelo BNDES, pode chegar a US$ 4 bilhões [milhares de milhões] – mais que, por exemplo, os investimentos da Suécia ou do Canadá. Países da comunidade lusófona (Moçambique, Timor Leste e Guiné Bissau) estão no topo da lista de beneficiários, mas a cooperação para o desenvolvimento vinda do Brasil estende-se também sobre a América Latina. Cabe perguntar: tal como a cooperação para o desenvolvimento feita pelos países imperialistas “clássicos”, esta “ajudinha” não seria uma das formas de exercício do soft power sobre número cada vez maior de países? Como é possível entender a cooperação para o desenvolvimento brasileira dissociadamente da incessante busca por um assento no Conselho de Segurança da ONU e da constante participação de tropas brasileiras nas Forças de Paz da ONU? É isto mesmo? Ou ainda temos que “deixar de pagar a dívida”?Há outros sinais importantes. Que dizer quando 80 organizações, movimentos sociais e sindicais da Alemanha, Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Equador, França, Itália, Moçambique, Nova Caledônia, Peru e Taiwan organizam o Encontro Internacional de Atingidos pela Vale e acusam uma empresa “brasileira” de formação de milícias, de superexploração de trabalhadores e de ataque a sindicatos, sem contar os incontornáveis danos ao meio ambiente? Seria este comportamento semelhante ao da Petrobras na Bolívia e na América Central, ao da Itaipu junto ao Paraguai, ao do Grupo Votorantim em diversos países, ao da Odebrecht na África e ao da Mendes Júnior no Oriente Médio? É isto mesmo? Ou ainda temos que lutar apenas e tão-somente contra o “imperialismo ianque”?

Não há respostas prontas para as perguntas emersas do desnorteio em que se encontram setores cada vez mais expressivos da esquerda brasileira no período mais recente de lutas. A tais questões ainda não se oferecem as respostas tranquilizantes que se espera das cartilhas de formação, como quem busca abrigo em meio ao furacão. Apesar disto, há uma quase certeza, um fio desgarrado da meada, a orientar quem tem o internacionalismo como método e só compreende a emancipação dos trabalhadores como resultado de suas próprias lutas e da consolidação de sua força política. Puxando este fio, pode ver-se algo no caminho rumo às – sempre provisórias – respostas que surgirão da análise das lutas sociais que vivemos: nunca na história deste país se foi tão imperialista. E o pior: muita gente – inclusive de esquerda, inclusive autoproclamados “revolucionários” – acha isto ótimo. É a partir daí, e das lutas disto decorrentes, que é preciso buscar as respostas pelas quais se anseia – algo com o que a série de artigos aberta com estas breves provocações pretende colaborar.

Estas versões de Tarzan devem-se, a de cima e a do meio, a Frank Frazetta e a de baixo, a Hal Foster.
Fonte: http://passapalavra.info/

O povo de São Paulo continua sendo enganado e deve achar isso o máximo!

Na matéria abaixo é percebido isso muito claramente, e o que mais me espanta, é que durante a corrida presidencial o candidato José Serra entupiu as tv´s em horário nobre ($$$) dizendo que o Metrô de São Paulo é uma maravilha, dizendo que todas as estações que estava em construção seriam entregues até 2011 agora já falam em 2014 – a cidade de São Paulo com tantos problemas de transporte tem a ridícula malha de 70,9km, e os caras acham isso o máximo, acorda São Paulo! E agora temos outra grande questão: aonde foram parar os bilhões de dólares que o Governo de São Paulo na gestão Serra gastou para limpar o rio Tietê? E agora sabemos que o mesmo não foi limpo, cadê a grana?
Alckimin admite que Metrô de São Paulo deveria ter o dobro do tamanho atual
Por Janaina Garcia Do UOL Notícias Em São Paulo
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou nesta segunda-feira (28) que seria necessário “no mínimo o dobro” dos atuais 70,9 km da malha metroviária da capital para suportar a demanda. Alckmin falou sobre o assunto na inauguração da estação Butantã da linha 4-amarela, na zona oeste, que demorou pouco mais de seis anos para ser concluída.

De acordo com o governador, a estação Pinheiros, também da linha 4, será entregue em 45 a 60 dias, e, em junho, a integração dela mais as estações já existentes – Paulista, Faria Lima e Butantã – com a linha 9 da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), possibilitará a expansão do horário de operação da 0h às 4h40. Atualmente elas operam apenas entre as 8h e as 15h.

“Admitimos que o ideal é o dobro disso, no mínimo”, declarou Alckmin em relação à atual disponibilidade de malha metroviária. “Mas o sistema será ampliado com mais cinco estações da linha amarela até o final deste ano e, em 20 dias, começa a licitação para as obras da linha 5 do metrô”.

Até o final do ano, o governo garantiu que serão entregues as estações Luz e Republica. As demais linhas, Morumbi, Mackenzie, Vila Sônia, Fradique Coutinho e Oscar Freire, tem previsão de entrega para até 2014.
Fonte: UOL.

Quando dois mundos que se cruzam - Por Noam Chomsky

Quando dois mundos que se cruzamNo dia 20 de Fevereiro, Kamal Abbas, líder sindical egípcio e figura proeminente do movimento 25 de Janeiro, enviou uma mensagem aos “trabalhadores do Wisconsin”: “Estamos com vocês, da mesma forma que estiveram connosco.” Os trabalhadores egípcios lutam há muito pelos direitos fundamentais negados pelo regime de Mubarak, apoiado pelos EUA. Kamal tem razão ao invocar a solidariedade que desde sempre tem sido a força por detrás do movimento mundial dos trabalhadores, e ao comparar ambas as lutas. Elas estão intimamente ligadas.

No entanto, as trajetórias das lutas dos trabalhadores no Egito e nos EUA apontam atualmente para direções opostas: conquista de direitos no Egipto; enorme ataque a eles nos EUA. Os dois casos merecem grande atenção.

A revolta do 25 de Janeiro foi desencadeada, no Facebook, por jovens astutos ligados ao movimento 6 de Abril, que surgiu na primavera nórdica de 2008 em “solidariedade com a greve dos trabalhadores de Mahalla”, declara a analista Nada Matta. A violência do Estado esmagou a greve e as ações de solidariedade, mas Mahalla era “o símbolo da revolta e da mudança de regime”, acrescenta ela. A greve tornou-se particularmente ameaçadora para a ditadura quando as exigências dos trabalhadores estenderam-se para além das preocupações setoriais de um salário mínimo para todos os egípcios.

Os comentários de Matta são confirmados por Joel Beinin, uma autoridade norte-americana nos assuntos trabalhistas do Egito. Depois de muito anos de luta, diz Benin, os trabalhadores estabeleceram laços e conseguiram mobilizar-se prontamente. Quando os trabalhadores se juntaram ao movimento do 25 de Janeiro, o impacto foi decisivo e o comando militar mandou Mubarak embora. Foi uma grande vitória para o movimento democrático egípcio, embora permaneçam muitas barreiras, internas e externas.

A barreiras externas são claras. Os EUA e os seus aliados não conseguem tolerar uma democracia que funcione no mundo árabe.

Para provar isto, vejam-se as sondagens da opinião pública do Egito e todo o Médio Oriente. Por largas maiorias, o público vê os EUA e Israel — não o Irã — como as maiores ameaças. Na verdade, a maior parte pensa que a região estaria melhor se o Irã tivesse armas nucleares.

Podemos antecipar que Washington vai manter a sua política tradicional: democracia é tolerável apenas quando é adequada aos objetivos. A fábula norte-americana do “anseio pela democracia” está reservada a ideólogos e à propaganda. A democracia nos EUA tomou um rumo diferente. Depois da 2ª Guerra Mundial, o país gozou de um crescimento sem precedentes, em grande medida igualitário e acompanhado de legislação que beneficiava quase toda a população. Isto continuou durante os anos de Nixon e só acabou com a era liberal.

A reação contra o impacto democrático do ativismo dos anos 60 e da traição de classe de Nixon não tardou: um incrível crescimento do lobbie para alterar a legislação, estabelecer centros de opinião de direita para capturar a opinião pública, e muitas outras medidas.

A economia também mudou para um rápida financeirização e deslocalizações de produção. A desigualdade alastrou-se, primeiro devido à exponencial fortuna de 1% da população – ou uma fração ainda menor, em grande parte limitada a diretores executivos, gestores de fundos financeiros e outras funções similares.

Para a maioria, o salário real estagnou. Muitos decidiram trabalhar mais horas, recorreram à dívida e à inflação de bens. Depois surgiu a bolha imobiliária de 8 trilhões de dólares, que o Banco Central e a maioria dos economistas não previu, pois estavam em transe com os dogmas da eficiência dos mercados. Quando a bolha rebentou, a economia entrou em colapso, quase atingindo níveis da Grande Depressão para os trabalhadores industriais e muitos outros.

A concentração de riqueza confere poder político — que, por sua vez, conduz a legislação ainda mais favorável aos super-ricos. Redução de impostos, desregulação, normas de gestão empresarial e outras.

Ao longo deste ciclo vicioso, os custos da campanha aumentaram fortemente, conduzindo ambos os partidos a ir atrás do setor empresarial – os Republicanos, como de costume; os Democratas (que agora são muito similares ao Republicanos moderados de anos anteriores) seguiram de perto.

Em 1978, à medida que o processo se iniciava, o presidente do sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística – United Auto Workers – Doug Fraser, condenou os líderes das empresas por terem “escolhido iniciar uma guerra de classes neste país – uma guerra contra os trabalhadores, os desempregados, os pobres, as minorias, os jovens e os velhos, e mesmo muitos da nossa classe média,” e terem também “quebrado e ignorado o acordo tácito que existiu antes durante um período de progresso e crescimento.”

À medida que a classe trabalhadora ganhava direitos nos anos 1930, os líderes empresariais avisaram contra “o perigo que os industriais enfrentavam perante o surgimento do poder político das massas,” e apelaram a medidas urgentes para rebater a ameaça, de acordo com o que diz o intelectual Alex Carey em “Taking the Risk Out of Democracy”. Compreenderam tão bem como Mubarak que os sindicatos são uma força indispensável na conquista de direitos e da democracia. Nos EUA, os sindicatos são uma contra-força à tirania corporativa.

Mas agora, os sindicatos do setor privado foram severamente enfraquecidos. Os sindicatos do setor público têm sofrido ataque da direita que explora cinicamente a crise econêmica causada, em primeiro lugar, pela indústria financeira e os seus associados no governo.

A raiva popular tem de ser desviada dos agentes da crise financeira que ganham com isso. Por exemplo, o Goldman Sachs “acabou de pagar 17,5 bilhões de dólares em recompensas aos executivos no ano passado,” diz a imprensa financeira. Só o diretor executivo, Lloyd Blankfein recebeu um bônus de US$ 12,6 milhões, enquanto seu salário-base anual triplicou para 2 milhões.

Em vez disto, a propaganda culpa os professores e outros trabalhadores da função pública pelos seus “grandes” salários e pensões “exorbitantes” – tudo uma fabricação, uma cópia de um modelo demasiado familiar. Para o governador do Wisconsin, Scott Walker, para outros Republicanos e muitos Democratas, o slogan é que a austeridade deve ser partilhada – com algumas exceções…

A propaganda tem sido eficiente. Walker poderá pelo menos contar uma boa minoria para apoiar o seu esforço de destruir os sindicatos. Invocar o déficit como uma desculpa é pura farsa. De formas diferentes, o destino da democracia está em jogo tanto em Madison como na Praça Tahrir.

Por Noam Chomsky, Noam Chomsky’s ZSpace Page | Tradução Sofia Gomes, Esquerda.net
Fonte: http://www.outraspalavras.net

[Reino Unido] Protesto reúne milhares de pessoas nas ruas de Londres contra austeridade neoliberal - por ANA

[Reino Unido] Protesto reúne milhares de pessoas nas ruas de Londres contra austeridade neoliberalCerca de 500 mil pessoas tomaram as ruas de Londres ontem (26 de março) em protesto contra os cortes públicos de 80 bilhões de libras (cerca de R$ 215 bilhões) do orçamento britânico até 2015 e o alto desemprego no país.

Foi a maior manifestação realizada na capital desde 2003, quando os atos contra a guerra do Iraque chegaram a reunir 1 milhão.

Os manifestantes procederam de distintos locais de todo o país, por isso as forças da ordem colocaram nas ruas de Londres cerca de 4,5 mil policiais. Aproximadamente 214 pessoas foram detidas e 66 ficaram feridas durante os protestos. Entre os 66 feridos, a maioria com ferimentos leves, 31 eram agentes da polícia, dos quais 11 tiveram de ser hospitalizados.

A ação direta nas ruas do centro da cidade também foi sem precedentes em termos de tamanho e fúria. Anarquistas invadiram e atacaram agências de bancos e lojas de luxo, entre outros símbolos de riqueza e privilégio. Os ativistas também lançaram bombas de tintas e outros objetos contra os agentes de segurança.

Imagens dos protestos

Fotos:
› http://london.indymedia.org/articles/8458
› http://london.indymedia.org/articles/8506
› http://london.indymedia.org/articles/8482
› http://london.indymedia.org/articles/8477
› http://london.indymedia.org/articles/8267
› http://london.indymedia.org/articles/8485
› http://london.indymedia.org/articles/8488

Vídeos curtos
Black Block nas ruas:
› http://london.indymedia.org/videos/8425

Símbolos da decadência:
› http://london.indymedia.org/videos/8509

Bancos na mira:
› http://london.indymedia.org/videos/8508

Veículo da polícia atacado:
› http://london.indymedia.org/videos/8523

Lojas corporativas alvejadas:
› http://london.indymedia.org/videos/8507

agência de notícias anarquistas-ana
Uma borboleta

Beija uma flor murcha

Sobre a lousa fria

Edson Kenji Iura

Os ventos da mudança - por Immanuel Wallerstein - Esquerda.net

Os ventos da mudança

Os ventos da mudança são hoje verdadeiramente mundiais. Por enquanto, o epicentro é o mundo árabe, e os ventos ainda sopram ferozes por lá. A geopolítica desta região nunca mais será a mesma. Os EUA e a Europa Ocidental estão fazendo tudo o que está ao seu alcance para canalizar, limitar e redirecionar os ventos da mudança. Mas o seu poder já não é o que costumava ser. E os ventos da mudança estão soprando no seu próprio terreno. É a maneira de ser dos ventos. A sua direção e impulso não são constantes nem, portanto, previsíveis. Desta vez são muito fortes. Já não será fácil canalizá-los ou redireccioná-los.

Há 51 anos, a 3 de Fevereiro de 1960, o então primeiro-ministro conservador da Grã-Bretanha, Harold Macmillan, dirigiu-se ao parlamento da África do Sul, cuja maioria era do partido que erigira o apartheid como base do seu governo. A sua intervenção ficaria conhecida como o discurso dos “ventos de mudança”. Vale a pena recordar as suas palavras:

“Os ventos da mudança estão a soprar neste continente, e o crescimento da consciência nacional é um fato político, queiramos ou não. Precisamos aceitá-lo como fato político, e as nossas políticas nacionais têm de levá-lo em conta”.

O primeiro-ministro da África do Sul, Hendrik Verwoerd, não gostou do discurso e rejeitou as suas premissas e o seu conselho. 1960 passou a ser conhecido como “O ano da África”, porque 16 colônias tornaram-se estados independentes. O discurso de Macmillan tinha como alvo, na verdade, os Estados do Sul da África que tinham grupos expressivos de colonizadores brancos (e, quase sempre, enormes riquezas minerais) e resistiam à simples ideia do sufrágio universal, na qual os negros constituiriam a esmagadora maioria dos eleitores.

Dificilmente Macmillan poderia ser considerado radical. Explicava o seu raciocínio em termos de conquistar as populações asiáticas e africanas para o lado do Ocidente, na Guerra Fria. O seu discurso foi significativo por ser um sinal de que os líderes da Grã-Bretanha (e, consequentemente, os dos Estados Unidos) viam como causa perdida o domínio eleitoral branco no Sul da África, que poderia arrastar o Ocidente para o abismo. O vento continuou a soprar, e num país após o outro as maiorias negras impuseram-se, até que, em 1994, a própria África do Sul sucumbiu ao voto universal e elegeu Nelson Mandela presidente. Neste processo, porém, os interesses econômicos da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos foram de alguma forma preservados.

Há duas lições que podemos aprender deste episódio. A primeira é que os ventos da mudança são muito fortes e provavelmente irresistíveis. A segunda é que quando os ventos varrem os símbolos da tirania, não é certo o que virá a seguir. Quando os símbolos caem, todos, retrospectivamente, os denunciam. Mas todos querem também preservar os seus próprios interesses nas novas estruturas que emergem.

A segunda revolta árabe, que começou na Tunísia e no Egipto, está agora envolvendo mais e mais países. Não há dúvida de que outros símbolos da tirania vão cair, ou vão fazer grandes concessões e promover amplas mudanças nas suas estruturas estatais. Mas quem vai, então, deter o poder? Na Tunísia e no Egipto, os novos primeiros-ministros foram figuras-chave dos anteriores regimes. E o exército, em ambos países, parece estar dizendo às multidões para porem fim aos protestos. Nos dois países, há exilados que regressam, assumem cargos e procuram prosseguir, ou mesmo expandir, os laços com os mesmos países da Europa e da América do Norte que sustentavam os anteriores regimes. É claro que as forças populares estão reagindo e acabam de forçar a renúncia do primeiro-ministro tunisiano.

No meio da Revolução Francesa, Danton aconselhou “de l’audace, encore de l’audace, toujours de l’audace” (“audácia, mais audácia, sempre a audácia”). Ótimo conselho talvez, mas Danton foi guilhotinado não muito tempo depois. E os que o executaram foram guilhotinados em seguida. Depois, vieram Napoleão, a Restauração, 1848, a Comuna de Paris. Em 1989, no bicentenário, quase toda a gente era retrospectivamente a favor da Revolução Francesa, mas é razoável perguntar se a trindade da Revolução Francesa – liberdade, igualdade e fraternidade – foi realmente realizada.

Algumas coisas são diferentes, hoje. Os ventos da mudança são hoje verdadeiramente mundiais. Por enquanto, o epicentro é o mundo árabe, e os ventos ainda sopram ferozes por lá. A geopolítica desta região nunca mais será a mesma. Os pontos-chave a observar são a Arábia Saudita e a Palestina. Se a monarquia saudita for seriamente desafiada – e parece possível que isso aconteça – nenhum regime do mundo árabe vai se sentir seguro. E se os ventos da mudança levarem as duas maiores forças políticas da Palestina a dar-se as mãos, até mesmo Israel pode sentir que é preciso adaptar-se às novas realidades e levar em conta a consciência nacional palestiniana, queira ou não queira, para parafrasear Harold Macmillan.

Desnecessário dizer que os Estados Unidos e a Europa Ocidental estão fazendo tudo o que está ao seu alcance para canalizar, limitar e redirecionar os ventos da mudança. Mas o seu poder já não é o que costumava ser. E os ventos da mudança estão soprando no seu próprio terreno. É a maneira de ser dos ventos. A sua direção e impulso não são constantes nem, portanto, previsíveis. Desta vez são muito fortes. Já não será fácil canalizá-los, limitá-los ou redirecioná-los.

(*) Tradução, revista pelo autor, de Luis Leiria para o Esquerda.net
Fonte: Carta Maior

Reitor João Grandino Rodas, o FARAÓ da USP - por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

sexta-feira, 25 de março de 2011

Eaí Pig? Só agora? Cadê Serrinha o queridinho?

O Escândalo do Tietê
Para tirar o atraso, governo Alckmin dobrou metas de limpeza e anunciou aporte de R$ 558 milhões

Serra faz ameaças e detém escândalo do Tietê
Na manhã da última sexta-feira, segundo informações apuradas por este blog, as redações da imprensa paulista teriam voltado a ser bombardeadas por telefonemas de emissários ligados ao ex-governador José Serra. Esses telefonemas teriam exigido que o escândalo do Tietê sumisse das pautas.

Pouco após o alvorecer de 26 de março último, o portal UOL publicou reportagem dando conta de que foram jogados no lixo 2 bilhões de reais gastos durante 2005 e 2006 para pôr fim aos constantes transbordamentos do rio Tietê, pois a limpeza do rio foi interrompida por Serra, sucessor de Geraldo Alckmin, que fez a bilionária obra de rebaixamento da calha do rio.

A reportagem do UOL teria sido produto de uma revolta que, segundo as fontes, cresce nas redações da imprensa paulista. Em cursos de jornalismo de todo país, o acobertamento do escândalo do Tietê já teria se tornado referência de promiscuidade entre o poder público e a imprensa.

A dimensão do escândalo é tão ampla que se esperava que, com o UOL repercutindo, houvesse maior veiculação nacional das denúncias contra Serra, sobretudo no Jornal Nacional. Apesar de algumas veiculações no rádio e amplamente disseminadas na internet, nas tevês e nos jornais deste sábado a repercussão foi pífia ou inexistente.

Estaria correndo intramuros, na imprensa paulista, que a pouca repercussão de uma notícia antiga, a despeito das perdas imensas – patrimoniais e de vidas humanas – que causou, dever-se-ia a ameaça que Serra estaria fazendo de que, se o escândalo provocar investigação séria por pressão da imprensa, fará “revelações”.

O grande temor de Serra seria a comparação entre o aumento exponencial dos gastos com publicidade oficial durante o período de redução dos gastos com a limpeza do rio Tietê. Acredita-se que, para não estourar o orçamento, Serra retirou de vários investimentos do Estado os recursos usados para se promover visando a eleição de 2010.

Segundo o UOL, “(…) a bancada oposicionista da Assembleia Legislativa anunciou (…) que irá fazer um requerimento para que o secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, o deputado estadual Edson Giriboni, compareça ao Legislativo para explicar os motivos que levaram as autoridades a suspender o trabalho de desassoreamento em 2006, 2007 e 2008”.

Todavia, a oposição paulista tem dúvidas de que o convite ao secretário será atendido, pois, na forma como será feito o tal requerimento, o convidado poderá comparecer ou não. Ainda segundo a oposição, se houvesse convocação a bancada governista a derrubaria, como já vez várias vezes valendo-se da maioria que tem.

Vereador da Câmara Municipal de São Paulo ouvido por este blog afirma que a única possibilidade de se apurar responsabilidades pelas tragédias geradas pela drástica redução da limpeza do rio Tietê será através de pressão da imprensa.

Se as denúncias do UOL ficarem restritas à internet, portanto, várias fontes afirmam que nem o Ministério Público de São Paulo, nem o Poder Legislativo tomarão qualquer medida no sentido de esclarecer o caso, restando à população paulistana a impunidade do crime de redução de obras que redundou em tragédias que todos conhecem.

A única possibilidade de o Ministério Público Estadual pelo menos se pronunciar sobre o assunto será através da provocação. Qualquer parlamentar paulista ou paulistano – ou qualquer outro cidadão – pode provocar o MPE. Resta saber se alguém se habilitará a fazê-lo, pois Serra estaria disposto a retaliar quem tente.
Fonte: http://www.blogcidadania.com.br

Nada como apreciar uma das maiores bandas de todos os tempos: Bad Brains

Palestina: adeus às divisões? - Por Carmelle Wolfson

Palestina: adeus às divisões?Por Carmelle Wolfson, do Alternet| Tradução: Daniela Frabasile

Num grande painel com uma caricatura do presidente Barack Obama, pendurado em uma sacada sobre a praça Al-Manarah, em Ramallah, no dia 15 de março, podia-se ler: “Ele disse: liberdade para o povo da Tunísia. Ele disse: liberdade para o povo egípcio. Ele disse: liberdade para o povo líbio. Mas ele não se atreve a dizer liberdade para o povo palestino”.

Estimulada pela dinâmica das revoltas que se espalham pelo mundo árabe, a juventude palestina ergueu um acampamento de protesto no centro de Ramallah, em cidades na Cisjordânia e na faixa de Gaza, em 15 de março. Esse grupo de jovens ativistas, não alinhado politicamente, é incapaz de se reunir devido aos postos de controle do exército de Israel e aos muros. Estão se conectando por Facebook, Twitter e telefones celulares.

O movimento de 15 de março, como está sendo chamado, reivindica reestruturação do Conselho Nacional Palestino (CNP), convocação de eleições, liberação de todos os prisioneiros políticos em poder da Autoridade Palestina e do Hamas e a unificação nacional da Palestina.

Na semana passada, centenas de milhares de palestinos protestaram nas ruas da cidade de Gaza, e milhares na Cisjordânia. Logo em seguida, o presidente palestino Mahmoud Abbas, do grupo Fatah, anunciou planos para encontrar o líder do Hamas, Ismail Haniyed, em Gaza.

Uma das figuras-chaves do movimento de 15 de março é Fadi Quran. Junto com nove outros companheiros, ele fez uma greve de fome de quatro dias, às vésperas do protesto. Diz que o CNP não representa todos os palestinos, e que “sistemicamente levará a uma divisão”, como atual impasse entre o Fatah e o Hamas. Quran acredita que se Abbas e Haniyet se encontrarem, os líderes tentarão chegar a um acordo de partilha do poder, combinando posições e dividindo cadeiras entre os partidos.

Abbas e Haniyet ainda precisam acertar os termos desse encontro. Abbas pede a formação de um governo transitório para preparar as eleições. Como o Hamas provavelmente receberia uma pequena quantidade de votos, perdendo assim seu poder sobre a faixa de Gaza, Haniyet está pouco estimulado a apoiar as eleições agora. Haniyet insiste em uma reunião que lance conversações pela reconciliação

O Movimento 15 de Março
Os ativistas palestinos estão esperando para ver se os planos vão dar frutos. Mas falando com eles fica claro que a derrubada dos presidentes Mubarak e Ben Ali, no Egito e Tunísia, reavivou suas esperanças. “Daqui para a frente, as coisas serão diferentes”, disse Quran no protesto de terça-feira.

Mas Quran, que estudou em Standford, é também pragmático. Indagado se 15 de março poderia se tornar a versão palestina do movimento 25 de janeiro (o primeiro dia de grandes manifestações populares no Cairo), ele respondeu: “acho que aqui, as mudanças que queremos precisam de mais tempo para ser implementadas. No Egito, reivindicava-se que Mubarak saísse. Nós não podemos pedir isso [em relação a Abbas] agora”.

O presidente Abbas tem apoio insignificante. Desde que a Al Jazeera liberou documentos [do Wikileaks] confirmando as suspeitas de que a Autoridade Palestina, dirigida pelo Fatah, cedeu demais a Israel (principalmente por permitir a expansão dos assentamentos, abandonar o direito de retorno para todos os refugiados palestinos e recuar da exigência de partes de Jerusalém Oriental), ele está tentando evitar uma grande revolta, como as que varreram o Oriente Médio e norte da África. A julgar pela tática de Abbas, ele deve ter aprendido alguma coisa com Mubarak.

Durante os últimos meses, nos comícios na Cisjordânia em solidariedade aos egípcios e tunisianos, as forças da Autoridade Palestina foram convocadas para entoar suas próprias palavras-de-ordem, e também para ameaçar e deter manifestantes. Nessa semana, a Autoridade Palestina usou estratégia parecida para suprimir protestos voltado mais diretamente a seus dirigentes.

Em toda a manifestação de 15 de março, em Ramallah, agentes secretos da inteligência da Autoridade Palestina (Mukhabarat) identificaram e retiraram os principais organizadores. A certa altura, a Mukhbarat arrastou uma jornalista da agência de notícias Ma’na para o posto de polícia depois que a repórter tirou uma foto de um dos agentes. A britânica foi liberada logo depois, mas ao final do dia pelo menos seis palestinos tinham sido detidos e sete foram levados por ambulâncias devidos a lesões. Ao escurecer, as forças de segurança isolaram a rua.

Após a implementação dos Acordos de Oslo, os palestinos parecem conviver com uma nova força de repressão, criada no interior da Autoridade Palestina, dirigida pelo Fatah. Ela captura e interroga regularmente ativistas políticos palestinos na Cisjordânia. A economia palestina pode ter crescido na região, mas os assentamentos israelenses expandem-se mais rapidamente. É essa realidade, tanto quanto a divisão de facções e as revoltas árabes, que inspiram os jovens palestinos hoje.

Mais cedo naquele dia, partidários do Fatah, incluindo alguns antigos membros da segurança da Autoridade Palestina, encheram a praça, tentando fixar-se em locais estratégicos. A multidão do Fatah cantou músicas tradicionais nacionalistas que tocavam nos auto-falantes, e espalhou pelas ruas cartazes de líderes palestinos martirizados. Um cartaz destacava a foto do antigo líder do Fatah, Yasser Arafat, beijando o líder espiritual do Hamas, Sheik Yassin.

Uri Davis, do Conselho Revolucionário do Fatah – o único membro judeu israelense da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) – falou com repórteres no meio da praça. “O fim da fragmentação da cena política palestina”, deveria ser a principal demanda , disse ele, atribuindo o processo à tática colonial de dividir para reinar usada por Israel.

Sobre a reestruturação do Conselho Nacional, Davis disse que abrir o voto às comunidades palestinas em Israel e às espalhadas pela diáspora tornaria o órgão mais representativo.

Quem observasse os que pedem unificação nacional na semana passada, julgaria que a divisão é insuperável. As tensões ferviam sob a superfície, entre os que apoiavam o Fatah e os esquerdistas e os ativistas não alinhados a nenhum dos dois grupos (que organizaram a manifestação). Dois grupos distintos se formavam, cada um tentando se sobrepor ao outro.

Depois que os membros do Fatah se retiraram no começo da tarde, um grupo de aproximadamente 500 pessoas permaneceu. Jovens de ambos os sexos lideraram os coros. Dois homens sentaram-se sobre um painel da Autoridade Palestina 4 metros de altura onde podia-se ler “restauração do centro da cidade”. Eles seguravam um cartaz com um desenho de duas jovens palestinas gritando, com os cabelos aparecendo sob lenços frouxos, no fundo vermelho, branco e verde da bandeira palestina.

Reação israelense
Dezenas de soldados israelenses também estavam mobilizados no posto de controle em Qalandia na última terça-feira, para a eventualidade de os manifestantes palestinos em Ramallah dirigirem-se para lá.

Os levantes regionais alimentam o medo que os israelenses têm de serem cercados por inimigos prontos para atacar. Oficiais de segurança israelenses claramente foram pegos de surpresa quando Mubarak caiu. Ainda assim, o governo de Israel parece indeciso sobre como responder politicamente à agitação no Oriente Médio e no norte da África, permanecendo em compasso de espera antes de dar o próximo passo.

Israel perdeu seu maior aliado no Oriente Médio quando o presidente egípcio, Mubarak, resignou. A estabilidade do Estado baseia-se na paz com o Egito e em manter Gaza em rédeas curtas. É por essa razão que Israel apressa-se para terminar a construção do muro ao longo da fronteira com o Egito.

O primeiro-ministro Netanyahu espera que emerja, no Egito, um novo líder com quem Israel possa contar para continuar a mesma política de Mubarak.

Enquanto isso, têm aparecido no Facebook grupos chamando refugiados palestinos a marchar em direção às fronteiras do Egito, Líbano, Síria, Jordânia e os Territórios Palestinos Ocupados em 15 de maio. Seria a “terceira intifada palestina”. Se essa ação acontecer, Israel terá de lidar com uma séria preocupação com segurança.

No momento, com os militares egípcios – financiados pelos Estados Unidos – exercendo forte controle e com fissuras que começam a aparecer na revolta popular do Egito, a situação política pode se mover a favor ou contra Israel. Se alguma coisa está clara, é que Israel baseia-se na divisão da Palestina e não irá tolerar um movimento democrático se isso significar uma negociação com o Hamas.
Fonte: http://www.outraspalavras.net

A Argentina não negocia com torturadores!


Fonte: http://www.estadoanarquista.org/blog/

Homenagem - por Hugo Soriani, do Página/12

HomenagemNão nomearei a ninguém porque estas linhas são para todos. Alguns já não estão conosco porque morreram nestes últimos anos, e outros morreram na prisão. Vou lembrar os presos políticos da ditadura militar. Os que não assinaram nenhuma nota de arrependimento, apesar das represálias. Os que, em dias de fome, compartilhavam a comida escassa. Os que foram retirados do pavilhão da morte na prisão de La Plata e, sabendo que iam ser fuzilados, se despediram de seus companheiros cantando suas consignas. Os que durante nove, dez, doze anos não fizeram amor nem tomaram um copo de vinho ou uma taça de café. Os que não viram crescer seus filhos.
Hugo Soriani - Página/12(*)

Não nomearei a ninguém porque estas linhas são para todos. Alguns já não estão conosco porque morreram nestes últimos anos, e outros morreram na prisão, fuzilados pela repressão ou pela pena.

Vou lembrar os presos políticos da ditadura militar.

Eram mais de dez mil pessoas que tinham sido detidas antes do nefasto 24 de março. Logo já não houve mais presos políticos, somente desaparecidos.

Nestas prisões conviveram nove, dez, doze anos, rapazes de vinte anos, pouco mais pouco menos, com homens de cinquenta, às vezes de sessenta, pelos quais os mais jovens sentiam devoção e respeito já que vinham de outras lutas, sobreviventes de um país assolado pelas ditaduras.

Eles tinham lutado contra a de Lanusse, e alguns contra a de Onganía, e contavam experiências que os mais jovens escutavam com avidez, curiosidade e impaciência.

Não nomearei a ninguém porque foram todos os que, hora após hora, dia após dia, ano após ano, resistiram em conjunto à política de extermínio que se instrumentou para destruí-los. Os que inventaram um código para se comunicar no silêncio, os que violaram todas e cada uma das regras e proibições que os guardas impunham diariamente. Os que com valentia, engenho e audácia inventaram os truques necessários para sobreviver sem perder suas convicções.

Os que não assinaram nenhuma nota de arrependimento, apesar das represálias.

Os que na obscuridade dos calabouços de Rawson foram golpeados até desmaiar e reanimados com água gelada em madrugadas com quinze graus abaixo de zero, para logo deixa-los nus e repetir a história no outro dia, no outro e no outro.

Os que denunciaram suas torturas ao monsenhor Tortolo, no cárcere de La Plata, e escutaram como resposta que “Videla é ouro em pó” dos lábios do monsenhor. Os que escreveram minúsculas notas em finíssimo papel de cigarros para comunicar ao exterior o que acontecia atrás dos muros.

Os que, em dias de fome, compartilhavam a comida escassa.

Os que golpearam os jarros de metal contra as grades festejando o triunfo da Revolução Sandinista na Nicarágua, em julho de 1979, apesar dos golpes e gritos dos carcereiros, que tratavam de impedi-los.

Os que choraram a morte de John Lennon, em dezembro de 1980, porque junto a ele imaginaram que não eram os únicos sonhadores.

Os que, no cárcere de Magdalena, conheceram em pessoa a ferocidade do general Bussi, antes que fosse o célebre carniceiro de Tucumán.

Os que foram reféns em Córdoba durante o mundial, sob ameaça de fuzilamento, enquanto os genocidas se abraçavam com Menotti.

Os que foram retirados do pavilhão da morte na prisão de La Plata e, sabendo que iam ser fuzilados, se despediram de seus companheiros cantando suas consignas.

Os que sobreviveram nesse pavilhão e denunciaram o que estava acontecendo, pondo em risco suas vidas.

Os que no pátio da prisão de Córdoba viram morrer companheiros e não baixaram o olhar, como queriam os policiais para humilhá-los.

As mulheres presas no cárcere de Devoto, que durante anos resistiram a práticas vexatórias. Essas mesmas mulheres que, inteiras e dignas, já livres, escreveram um livro imprescindível: Nós, presas políticas.

Os que na prisão de Caseros viveram amontoados em celas miseráveis, sem saber quando era noite ou quando era dia.

Os que não perderam o humor, sobre tudo o humor negro, e riram de suas próprias desgraças.

Os que, em julho de 1983, na prisão de Rawson, com mais coragem que inteligência, decidiram acompanhar o jejum que Pérez Esquivel realizava em Buenos Aires, sem que ninguém, mas ninguém soubesse o que estavam fazendo. E continuaram o jejum dez dias mais do que ele porque, devido ao isolamento a que estavam submetidos, não souberam que o Prêmio Nobel já havia suspendido a greve ao conseguir seus objetivos.

Os que escreviam más poesias, mas foram poetas.

Os que sabiam de memória o Gênesis ou o Êxodo, porque a Bíblia foi a única leitura permitida. E às vezes nem isso.

Os que cantaram, desenharam, sonharam e atuaram, inventando a maneira de se esquivar da morte ou da loucura.

Os que em todas as prisões, em todas, só tiveram durante anos uma parede branca a dois metros de distância como único horizonte.

Os que durante nove, dez, doze anos não fizeram amor nem tomaram um copo de vinho ou uma taça de café.

Os que não viram crescer seus filhos.

Os que saíram com a roupa do corpo e sem ter uma casa para onde ir ou um trabalho para sobreviver.

Os que foram recebidos com desconfiança, porque eram sobreviventes.

Os que sentiam toda a culpa do mundo por esse mesmo motivo.

Para todos eles, presos políticos da ditadura, que hoje, há trinta e cinco anos do golpe militar, são testemunhas dos julgamentos dos genocidas, militantes em seus bairros, representantes em seus trabalhos, funcionários comprometidos e trabalhadores da política em seu sentido mais nobre, qualquer que seja o lugar para onde a vida os levou. Para eles, estas linhas de lembrança e de homenagem.

(*) Gerente geral do jornal Página/12, ex-preso político, lutou contra a ditadura argentina.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Fonte: Carta Maior

quinta-feira, 24 de março de 2011

A ignorância humana: Uma fêmea grávida de tubarão em risco de extinção é capturada e morta em Mongaguá - por Moésio Rebouças

Uma fêmea grávida de tubarão em risco de extinção é capturada e morta em MongaguáUm tubarão fêmea grávida da espécie Carcharias taurus, em risco de extinção, foi capturada e morta por uma rede de pesca na manhã desta quarta-feira (23) em Mongaguá, litoral paulista.

Não tenho estômago e paciência para comentar esta cruel notícia. Mas veja abaixo a reportagem em vídeo produzida pela jornalista Renata Rocha, da tevê A Tribuna (filiada da Rede Globo), como ela trata o fato gravíssimo de forma superficial, com desdém, aos risinhos... A ignorância da população também chama a atenção.

Quem são os verdadeiros assassinos dos mares?

› http://www.tvtribuna.com/videos/?video=7443&idcat=16

Moésio Rebouças

Dez anos sem Milton Santos - por Silvio Tendler

Dez anos sem Milton Santos

Sempre com seu sorriso nos lábios e o olhar que revelavam sua clarividência desde o primeiro momento em que começava a se manifestarNo inicio de 2001 entrevistei o professor Milton Santos. A riqueza do depoimento do geógrafo me obrigou a transformá-lo no filme "Encontro com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá". Lá pelas tantas o professor critica a "neutralidade" dos analistas econômicos dizendo que eles defendiam os interesses das empresas que serviam.

Dez anos depois o cineasta Charles Ferguson em seu magnífico filme "Inside Job" esmiúça em detalhes a fala de Milton Santos e revela a promiscuidade nos Estados Unidos entre bancos, governo e universidades. Revela a ciranda entre universitários que servem a bancos e empresas financeiras, vão para o governo, enriquecem nesse trajeto, não pagam impostos, escrevem pareceres milionários para governos estrangeiros induzindo a adotarem políticas que favoreçam o sistema financeiro internacional. Quebram aplicadores e fundos de pensão incentivando a investirem em papéis, que já sabiam, com antecedência, micados. E quando são demitidos das instituições financeiras partem com indenizações milionárias. Acertadamente este filme ganhou o Oscar de melhor documentário de 2011.

Na outra ponta da história está o filme "Biutiful" do Mexicano Alezandro Gonzalez Iñarritu, rodado em Barcelona e narra a vida dos fodidos, das vitimas do sistema financeiro internacional: africanos e chineses que vão para a Espanha para escapar da fome e do desemprego e se submetem a condições de vida sub-humanas. O trabalho do ator Javier Bardem rendeu o prêmio de melhor ator do Festival de Cannes de 2010.

São filmes para ninguém botar defeito e desconstroem as perversidades do mundo em que estamos vivendo.

Em discurso recente em Wisconsin, solidário aos trabalhadores que lutam contra novas gatunagens, o colega estadunidense Michael Moore declarou:

"Vou repetir. 400 norte-americanos obscenamente ricos, a maior parte dos quais foram beneficiados no ‘resgate’ de 2008, pago aos bancos, com muitos trilhões de dólares dos contribuintes, têm hoje a mesma quantidade de dinheiro, ações e propriedades que tudo que 155 milhões de norte-americanos conseguiram juntar ao longo da vida, tudo somado. Se dissermos que fomos vítimas de um golpe de estado financeiro, não estamos apenas certos, mas, além disso, também sabemos, no fundo do coração, que estamos certos.

Mas não é fácil dizer isso, e sei por quê. Para nós, admitir que deixamos um pequeno grupo roubar praticamente toda a riqueza que faz andar nossa economia, é o mesmo que admitir que aceitamos, humilhados, a ideia de que, de fato, entregamos sem luta a nossa preciosa democracia à elite endinheirada. Wall Street, os bancos, os 500 da revistaFortune governam hoje essa República – e, até o mês passado, todos nós, o resto, os milhões de norte-americanos, nos sentíamos impotentes, sem saber o que fazer".

E arrematou com maestria e indignação:

"...Falei com o meu coração, sobre os milhões de nossos compatriotas americanos que tiveram suas casas e empregos roubados por uma classe criminosa de milionários e bilionários. Foi na manhã seguinte ao Oscar, na qual o vencedor de melhor documentário por "Inside Job" estava ao microfone e declarou: "Devo começar por salientar que, três anos depois de nossa terrível crise financeira causada por fraude financeira, nem mesmo um único executivo financeiro foi para a cadeia. E isso é errado. "E ele foi aplaudido por dizer isso. (Quando eles pararam de vaiar discursos de Oscar? Droga!)"

Esse ano celebramos os dez anos da morte do professor Milton Santos. Quem quiser ler "Por uma Outra Globalização" do Professor Milton Santos encontrará um diagnóstico perfeito do processo de globalização que gestou as mazelas descritas em "Inside Job" e "Biutiful". Quem quiser reencontrá-lo em "Encontro Com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá", estará celebrando a vida e o pensamento de um dos maiores pensadores do Século 20, capaz de ter antecipado muito do que estamos vivendo hoje. Sempre com seu sorriso nos lábios e o olhar que revelavam sua clarividência desde o primeiro momento em que começava a se manifestar.

Silvio Tendler é cineasta, diretor de Os anos JK, Jango Utopia & barbárie, entre outros documentários.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/

Hegemonia e Império - por José Luís Fiori

Hegemonia e Império
O passeio da família Obama aos trópicos e a retórica simpática e amena do presidente americano serviram para demonstrar como funciona, na prática, o “tratamento entre iguais”, quando um deles é um Império. Uma lembrança oportuna, porque se tornou lugar comum, na imprensa e na academia - à direita e à esquerda - falar do declínio do poder americano.

O passeio de fim de semana da família Obama ao Brasil passaria à história como um acontecimento turístico carioca e uma gentileza internacional, se não tivesse coincidido com o desastre nuclear do Japão, e com o início do bombardeio aéreo da Líbia. Em particular, porque a decisão dos EUA de atacarem o país norte-africano, foi tomada no território brasileiro, um pouco antes do jantar festivo que o Itamaraty ofereceu à deleção norte-americana. Esta decisão, sobretudo, serviu para relembrar aos mais apressados, que os EUA seguem sendo a única potência mundial com “direito” de decidir - onde e quando quiser – e com a capacidade de fazer intervenções militares imediatas, em qualquer conflito, ao redor do mundo. Uma lembrança oportuna, porque se tornou lugar comum, na imprensa e na academia - à direita e à esquerda - falar do declínio do poder americano, enquanto se acumulam as evidências no sentido contrário.

Depois de 1991, e em particular depois do fim da URSS, a Europa deixou de ser o centro de gravidade do sistema internacional, que passou para o outro lado do Atlântico. E ao mesmo tempo, os EUA se transformaram na “cabeça” de um novo tipo de “poder global”. Um império que não é colonial, não tem estrutura formal, e que possui fronteiras flexíveis, que são definidas em cada caso, em última instância, pelo poder naval e financeiro dos EUA E desde o início do século XXI, os EUA estão enfrentando as contradições, os problemas, e as trepidações produzidas por esta transição e esta mudança de status: da condição de uma “potência hegemônica”, restrita ao mundo capitalista, até a década de 1980, para a condição de “potência imperial global”. Hoje, é impossível prever como será administrado este novo tipo de Império, no futuro. Porque ele segue sendo nacional e terá que terá que conviver, ao mesmo tempo, com cerca de outros duzentos estados que são ou se consideram soberanos. E além disto, porque dentro deste sistema, a expansão do poder americano é a principal responsável pela multiplicação dos seus concorrentes, na luta pelas hegemonias regionais, dentro do sistema mundia.

O que está se assistindo, neste momento, é uma mudança na administração do poder global dos EUA. Este processo está em pleno curso, mas será longo e complicado, envolvendo divisões e lutas dentro e fora da sociedade e do establishment norte-americano. Mesmo assim, o mais provável é que ao final deste processo, os EUA adotem uma posição cada vez mais distante e “arbitral” com relação aos seus antigos sócios, e em todas as regiões geopolíticas do mundo. Estimulando as divisões internas e os “equilíbrios regionais” de poder, jogando os seus próprios aliados, uns contra os outros, e só intervindo diretamente em última instancia, segundo o modelo clássico do Império Britânico.

Este novo tipo de poder imperial dos EUA não exclui a possibilidade de guerras, ou de fracassos militares localizados, como no Iraque ou Afeganistão, nem a possibilidade de crises financeiras, como a de 2008. Estas crises financeiras não deverão alterar a hierarquia econômica internacional, enquanto o governo e os capitais americanos puderem repassar os seus custos, para as demais potências econômicas do sistema. E as guerras ou fracassos militares localizado seguirão sem importância enquanto não ameaçarem a supremacia naval dos EUA em todos os oceanos e mares do mundo, e enquanto não escalarem na direção de uma “guerra hegemônica” capaz de atingir a supremacia militar norte-americana.

De qualquer forma, é óbvio que este novo poder imperial não é absoluto nem será eterno. Como já foi dito, sua expansão contínua cria e fortalece poderes concorrentes, e desestabiliza e destrói os “equilíbrios” e as instituições, criadas pelos próprios EUA, estimulando a formação de “coalizões de poder” regionais que acabarão desmembrando aos poucos o seu poder imperial, como aconteceu com o Império Romano. Por outro lado, a nova engenharia econômica mundial deslocou o centro da acumulação capitalista e transformou a China numa economia com poder de gravitação quase equivalente ao dos Estados Unidos. Esta nova geo-economia internacional, intensifica a competição capitalista, e já deu início à uma “corrida imperialista”, cada vez intensa na África e na América do Sul, aumentando a possibilidade e o número dos conflitos localizados entre as Grandes Potências. Além disso, o poder imperial americano deverá enfrentar uma perda de legitimidade crônica dentro dos EUA, porque a diversidade e a complexidade nacional, étnica e civilizatória do seu império, é absolutamente incompatível com a defesa e a preservação de qualquer tipo ou sistema de valores universais, ao contrário do que sonha uma boa parte da sociedade norte-americana.

De qualquer maneira, o passeio da família Obama aos trópicos e a retórica simpática e amena do presidente americano serviram para demonstrar como funciona na prática, o “tratamento entre iguais”, quando um deles é um Império.

José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Fonte: Carta Maior

quarta-feira, 23 de março de 2011

A Líbia e a Esquerda - Por Immanuel Wallerstein

A Líbia e a Esquerda - Por Immanuel Wallerstein
Exite tanta hipocrisia e tanta análise confusa sobre o que está acontecendo na Líbia que é difícil saber por onde começar. O aspecto mais negligenciado da situação é a grande divisão da esquerda mundial. Muitos Estados governados pela esquerda na América Latina, principalmente a Venezuela, apoiam decididamente o Coronel Gaddafi. Mas movimentos e personalidades da esquerda no Oriente Médio, Ásia, África, Europa e América do Norte, definitivamente não concordam.

A análise de Hugo Chávez parece focada principalmente – ou apenas – no fato de que os Estados Unidos e a Europa Ocidental têm ameaçado e condenado o regime de Gaddafi. Gaddafi, Chávez, e alguns outros insistem em que o mundo ocidental quer invadir a Líbia e “roubar” seu petróleo. Toda esta análise esquece completamente os fatos, e repercute mal no julgamento de Chávez e em sua reputação junto ao resto da esquerda mundial.

Primeiro, desde a última década e até há algumas semanas, Gaddafi tinha ótima imagem na mídia ocidental. Ele tentava provar, a cada dia, que não apoiava o “terrorismo” e que queria estar completamente integrado ao mainstream geopolítico e econômico. A Líbia e o mundo ocidental estavam firmando um acordo lucrativo após o outro. É difícil para mim ver Gaddafi como um herói do movimento anti-imperialista mundial, pelo menos na última década.

O segundo ponto esquecido pela análise de Hugo Chávez é que não haverá um envolvimento militar significativo do Ocidente na Líbia. As declarações oficiais são blablablá para impressionar a opinião pública doméstica. Não haverá uma resolução do Conselho de Segurança1, pois a Rússia e a China não irão concordar. Não haverá uma decisão do NATO, porque a Alemanha e alguns outros países não aceitarão. Até mesmo a posição anti-Gaddafi de Sarkozy encontra resistência na França.

E, além disso tudo, a oposição nos Estados Unidos à ação militar vem tanto do público quanto, mais importante, dos militares. O secretário da Defesa, Robert Gates, e o presidente do Estado-Maior Conjunto, almirante Mullen, são publicamente contrários à instituição de uma zona anti-aérea. De fato, Gates foi além. Em 25 de fevereiro, ele dirigiu-se a cadetes à Academia Militar de West Point, dizendo-lhes: “na minha opinião, seria preciso examinar a sanidade de qualquer futuro secretário de Defesa que aconselhe o presidente a enviar de novo uma grande parte do exército americano para a Ásia, o Oriente Médio ou a África.”

Para ressaltar essa visão dos militares, o general aposentado Wesley Clark, antigo comandante das forças da NATO, escreveu um artigo para o Washington Post em 11 de março, com a manchete, “Líbia não cumpre os requisitos para ação militar dos EUA.”. Então, apesar do apelo dos falcões para um envolvimento norte-americano, o presidente Obama irá resistir.

O problema, portanto, não gira em torno uma eventual intervenção militar do Ocidente. São, sim, os esforços de Gaddafi para suprimir toda a oposição, na forma mais brutal de repressão usada contra a segunda revolta árabe. A Líbia está agitada com o êxito das insurreições na Tunísia e Egito. E se houver qualquer conspiração, é entre Gaddafi e o Ocidente – para diminuir, ou quase anular, o vendaval popular. À medida em que Gaddafi obtém sucesso, ele sugere a todos os outros déspotas ameaçados da região que a repressão violenta é um caminho melhor que as concessões.

É isso que a esquerda do resto do mundo vê, ao contrário de alguns governos da América Latina. Como aponta Samir Amin em sua análise da revolta egípcia, existiam quatro grupos distintos entre os manifestantes – os jovens, a esquerda radical, os democratas da classe média e os muçulmanos. A esquerda radical é composta por partidos de esquerda reprimidos e movimentos sindicais revitalizados. Não há dúvida de que a esquerda radical líbia é muito menor; e que o exército nacional é muito mais fraco (devido à política cautelosa de Gaddafi). Lá, o resultado do processo é, portanto, muito incerto.

Os líderes da Liga Árabe podem condenar Gaddafi publicamente. Mas muitos, e até mesmo a maior parte, deve aplaudi-lo em privado – e copiá-lo. Esta constatação pode ser útil para esclarecer a esquerda mundial.

Helena Sheeham, uma ativista irlandesa marxista, muito conhecida na África por seu trabalho solidário com muitos movimentos radicais, foi convidada pelo regime de Gaddafi para palestrar na universidade líbia. Ela chegou assim que o tumulto eclodiu. As conferências na universidade foram canceladas. Ela foi simplesmente deixada por seus anfitriões, e teve que descobrir sozinha como sair do país. Escreveu um diário no qual, em seu último dia no país, 8 de março, ela registra: “qualquer ambivalência sobre aquele regime se acabou. É brutal, corrupto, enganoso, ilusório”.

Também podemos observar a declaração da maior federação sindical da África do Sul e voz da esquerda, a Cosatu. Após louvar as realizações sociais do regime líbio, a Cosatu afirma: ”não aceitamos de modo algum, porém, que essas realizações sirvam como pretexto para a selvageria contra aqueles que protestam contra a ditadura opressiva do coronel Gaddafi e reafirmamos nosso apoio à democracia e aos direitos humanos na Líbia e em todo o continente.”

Vamos manter o foco. Hoje, a luta fundamental, no mundo inteiro é a segunda revolta árabe. Já será difícil o bastante obter um resultado radical nessa luta. Gaddafi é um grande obstáculo para a esquerda árabe, e também do resto do mundo. Talvez devêssemos nos lembrar da máxima de Simone de Beauvoir: “querer libertar-se significa querer também a liberdade dos outros”.

1 - o texto de Wallerstein foi publicado em 15 de março, quando a posição dos Estados Unidos, então contrária a uma intervenção na Líbia, prevalecia, como é de praxe, no Conselho de Segurança da ONU. Naquele momento, contudo, já estava em curso uma mudança, liderada pela secretária de Estado Hillary Clinton e parcialmente descrita em reportagem do New York Times.
Fonte: http://www.outraspalavras.net

Costa do Marfim: À beira da guerra civil - Por Sokari Ekine

Costa do Marfim: À beira da guerra civil

A falta de cobertura noticiosa acerca da Costa do Marfim não significa que a situação tenha melhorado, escreve Sokari Ekine, nesta revista da semana sobre os protestos em todo o continente, que também aborda as situações no Egipto, na Líbia, na Mauritânia e no Zimbabué. Por Sokari Ekine

Costa do Marfim
Dois países africanos estão presentemente à beira da guerra civil. Um deles é noticiado minuto a minuto pela mídia internacional, pelo twitter e pelos blogues. O outro mal começa a emergir nos confins da consciência internacional. Ao contrário da Líbia, a Costa do Marfim não tem importância estratégica e a possibilidade de se perder o seu recurso principal – o cacau – não induz o pânico no mundo dos mercados financeiros e dos governos.Manifestação de mulheres em Abidjan
Mas para a subsistência dos recolectores, dos agricultores e da economia do país, o cacau é um salva-vidas e uma forte razão para se lutar. Alassane Ouattara tinha lançado o apelo à proibição temporária da venda do cacau, na esperança de que isso forçasse Gbagbo a abandonar o poder. Gbagbo reagiu agora ordenando ao governo que assuma o controlo de todas as encomendas e exportações de cacau. Os preços do cacau na Nigéria e em São Tomé subiram nos últimos meses e por certo estes países irão tirar benefícios das perdas da Costa do Marfim.

Numa escalada de ataques contra Ouattara e os seus apoiantes, o britânico Guardian noticia que gangues de jovens “saquearam” as casas de ministros e outros aliados do presidente Alassane Ouattara, que se mantém sob a protecção das Nações Unidas enquanto Laurent Gbagbo parece decidido a arrastar o país para a guerra civil.

Na sexta-feira 5 de Março, foram mortas seis mulheres, e muitas outras feridas, por tropas leais a Laurent Gbagbo. Não era a primeira vez que mulheres apoiantes de Alassane Ouattara se manifestavam pacificamente e não havia razão para pensar que seriam alvejadas. A IPS conta:

“Sirah Drane, de 41 anos, que ajudou a organizar o desfile, disse que estava a segurar no megafone, preparando-se para falar à multidão, quando viu chegar os blindados.‘Havia milhares de mulheres’, disse. ‘E nós dissémo-nos «Eles não vão atirar contra mulheres.» … Ouvi um estampido. Começaram a molhar-nos. … Tentei correr e caí ao chão. Fui pisada pelas outras. Abrir fogo contra mulheres desarmadas? É inconcebível.?”

A mídia local tem maneiras diferentes de noticiar as mortes. O Soir Info relata que as mulhetes eram “militantes femininas” que enfrentaram as “forças de Defesa e de Segurança”. O Notre Voie [pró-Gbagbo] diz que “toda essa história não passa de um subterfúgio para desacreditar a administração de Gbagbo”.

Os assassinatos provocaram – já não era sem tempo – uma reacção dos EUA via Twitter por parte do porta-voz do Departamento de Estado, P. J. Crowley. Quanto a mim, penso que um acontecimento tão horrível mereceria mais do que uma declaração do Departamento de Estado dos EUA no Twitter. Hillary Clinton veio depois com uma declaração a condenar as mortes, mas nada se ouviu ainda da boca do presidente Obama.

A União Africana [UA] mostrou-se, também, totalmente inepta e irrelevante quanto à crise do continente – possivelmente porque muitos dos chefes de Estado estão, cada um pelo seu lado, a tremer de medo que as massas dos seus países venham para a rua. Os cinco mediadores – Abdel Aziz (Mauritânia), Jakaya Kikwete (Tanzânia), Jacob Zuma (África do Sul), Blaise Compaore (Burkina Faso) e Idriss Deby (Chade) – produziram um terceiro relatório, datado de 7 de Março. Falam de uma situação de choque e clamam por contenção entre todas as partes – os habituais eufemismos que não querem dizer nada.

Uma das reacções a essa declaração [dos mediadores da UA] é demolidora e faz a comparação com o facto de os EUA se apresentarem coo mediadores no conflito israelo-palestiniano:“Essa UA manifestou o seu inquebrantável apoio ao escaparate estrangeiro Ouattara e seu bando de rebeldes contra o presidente Gbagbo e os Marfinenses na infeliz sequência de acontecimentos que se vai espalhando pela Costa do Marfim.

“Do que se trata realmente? Temos um partido beligerante em conflito a dizer que o outro partido beligerante tem de negociar no terreno dele – ou seja, aceitando os seus termos. O que fazer com o tempo e os recursos perdidos? … Esta farsa lembra-nos o espectáculo dos EUA a audesignarem-se como mediadores no conflito entre os Palestinianos e Israel/EUA. Será de admirar que, nesse caso, a “paz” continue a ser um objectivo tão ilusório? De facto, o lado Israel/EUA, nessa disputa, não deseja realmente a “paz” nesse conflito. A beligerância e a guerra são desejadas pelos EUA e pela Europa (como forma de manter destabilizados os países arabo-palestinianos ricos em recursos que mandam petróleo e compram armas ao Ocidente) e são uma tábua de salvação para essa cunha lá espetada e pobre em recursos que é Israel…”

Um amigo sugeriu-me que uma das razões para a falta de atenção da mídia à Costa do Marfim é o limitado número de utilizadores do Twitter e de outras redes virtuais nesse país. Isso pode influenciar o tipo e a quantidade de informações que chegam do país, mas não é certamente uma razão para a falta de cobertura noticiosa. Um Twitter activo é o de Toussaint Alain, colaborador de Laurent Gbagbo, que, num tweet acusa Ouattara de estar metido em “rituais satânicos ao serviço da ambição política”:

“Alassane Ouattara ou a política dos corpos queimados. Rituais satânicos ao serviço de uma ambição política.”

Um outro, @marticotivoir escreve que espera que o país não se afunde num novo Ruanda:

“Não deixemos que uma Costa do Marfim descontrolada se torne amanhã o Ruanda da África Ocidental. Desculpem, Lmpistas, reajam.”

África do Norte
Está a tornar-se impossível manter-se a par dos tweets vindos da Líbia e do Egipto. A Al-Jazira criou uma página Twitter especial que ilustra os números. Na segunda-feira 7 de Março, houve 1.391 do Egipto e 2.933 da Líbia. Segue-se um breve apanhado dos blogues norte-africanos.Manifestantes invadem instalações da polícia política de Mubarak
O Arabawy relata de vários protestos em todo o Egipto, de trabalhadores que apelam à demissão de “ditadores” institucionais, incluindo os quadros da Segurança do Estado. Fala também de “bandidos” do exército a atacar manifestantes que tentavam invadir o Ministério do Interior – sede das forças de segurança do Estado. Os revolucionários encontraram milhares de dossiês sobre cidadãos nos Serviços de Segurança.

O Egyptian Chronicles escreve acerca da “Noite em que a capital do inferno tombou”:

“Como eu dava a entender nos dois posts anteriores sobre as sedes dos Serviços de Segurança em Alexandria e em 6 de Outubro [1], os manifestantes decidiram protestar somente na sede de Nasr City às 16h, sobretudo depois de terem conhecimento de que, aqui, os funcionários tem estado a destruir sistematicamente a documentação que os pode incriminar. Algumas pessoas dizem que a laceração e a queima de documentos começou com a demissão de Shafik [2] e o colapso do seu ministério, enquanto outras dizem que este processo sistemático estava em curso desde a queda de Habib Al Adly [3] e dos seus homens”.

O Alive in Egypt [Vivo no Egipto] refere este caso com um apelo aos militares para que parem essa tentativa de queimar os arquivos do regime de Mubarak:

“Apelo ao Alto-Conselho das Forças Militares para que se oponha firmemente aos elementos transgressores que tentam queimar os arquivos e registos do ex-governo corrupto. Seria bom que as forças militares tivessem uma atitude firme contra esses indivíduos, mesmo que se trate de oficiais de polícia ou outros que estão a tentar encobrir o que foi feito por suas mãos ou por mãos do anterior governo, mesmo que seja preciso activar uma parte do exército egípcio na reserva. O Egipto tem enormes forças armadas defensivas de reserva. Compete aos militares e ao Alto-Conselho activar metade dessas reservas para manter a segurança, para ajudar o exército a manter a segurança, e levar a julgamento todos quantos estejam a incorrer em actos ilegais, mesmo que se encontrem entre os oficiais de polícia corruptos renitentes à segurança e à ordem no Egipto.”

Na Líbia, diz o UNHCR [Alto-Comissariado para os Refugiados da ONU] que se verificam contínuas agressões e ameaças contra trabalhadores migrantes do sul do Saara. O coronel Khadafi, tal como o rei Abdullah de Marrocos, tinham feito acordos com a Itália e a Espanha, respectivamente, para policiar os movimentos migratórios de trabalhadores africanos e asiáticos. No caso da Espanha, isso significou que os que tentassem chegar a Espanha teriam de seguir a rota, mais longa e perigosa, da Mauritânia para Espanha. Em 2005 deu-se o caso de cerca de 500 migrantes encurralados no Saara sem comida nem água pela polícia marroquina. Este caso foi falado, mas creio haver razões para pensar que não foi o primeiro. Na Líbia, os migrantes que foram detidos ficaram presos no sul do país em condições horrorosas. Assim sendo, há que considerar que a obsessão da Europa com a segurança das suas fronteiras irá condicionar qualquer apoio aos revolucionários da Líbia.

O Pan African News [Gerald Perreira] apresenta o único artigo, entre os que li, que é favorável à “revolta contra-revolucionária” de Muammar Khadafi. Critica o que chama “analistas ‘ocidentoxicados’ que só conseguem recorrer a uma perspectiva eurocentrista”. Algumas das questões que ele levanta são de considerar, mas penso que isso não equivale a apoiar um homem que está no poder há quarenta anos e que fez acordos com a Europa para oprimir e torturar outros africanos. Se bem entendo, “Jamahiriya” significaria democracia popular. Algures no caminho, isso desapareceu. Algumas das questões são: Se a Líbia tem uma taxa de desemprego de 30%, porque tem tantos trabalhadores estrangeiros? O nosso bloguista afirma que “há muita complexidade na actual situação”. Então porque adopta uma perspectiva tão simplista dos trabalhadores migrantes e dos níveis de desemprego?

Ele questiona a opinião de que a “revolta” é devida a razões económicas porque:

“… o país tem o mais elevado nível de vida da África”, “os jovens vestem-se bem, alimentam-se bem, e têm uma boa educação”… Todos os líbios têm acesso gratuito à educação e aos serviços médicos e de saúde, muitas vezes de excelente qualidade. Os novos centros escolares e hospitais estão ao nível dos mais altos parâmetros internacionais. Todos os líbios têm uma casa ou um andar, um carro, e a maior parte têm televisões, gravadores de vídeo e telefones. Comparados com a generalidade dos cidadãos de países do Terceiro Mundo, e mesmo com muitos do Primeiro Mundo, os líbios estão mesmo muito bem”.

Isto pode muito bem ser verdade, mas só serve para mostrar que as pessoas querem e precisam de sentir que têm algum controlo sobre as suas vidas – que podem livremente podem exprimir as suas opiniões e participar no processo político. Que podem decidir como são governadas as suas comunidades.

O que é realmente desconcertante é o facto de o autor considerar que alguns dos títulos encomiásticos dados a Khadafi por outros africanos – como “Rei dos Reis”, “Irmão Líder” e “Guia da Revolução” – são provas das suas credenciais “revolucionárias” e do seu papel como porta-voz de toda a África. Construir um movimento de base com ditadores e chefes no seu topo não é propriamente o meu conceito de uma democracia revolucionária popular e dificilmente poderá levar a mudanças radicais.

Por fim, esse autor prossegue afirmando que os mercenários que combatem pelo coronel Khadafi são de facto “combatentes pela liberdade” – lutam para “defender Khadafi e a revolução líbia”. Isto é mesmo difícil de acreditar. Se Khadafi era assim tão altruista, porque é que se comportou como um polícia por conta da Europa? Porque aprisionou milhares de nigerianos e outros migrantes oeste-africanos no sul do Saara? Sendo o “Rei dos Reis da África”, porque não acolheu estes migrantes e os deixou usufruir das conquistas revolucionárias da Líbia?Centenas de trabalhadores migrantes africanos, sobretudo do Gana e da Nigéria, vivem junto do aeroporto de Tripoli (Líbia), na esperança de apanharem um avião de volta a casa.
A explicação está porventura nesta citação do coronel revolucionário (no jornal britânico Guardian):

“Nós não sabemos qual será a reacção dos europeus branco e cristãos perante este influxo de africanos esfomeados e ignorantes”, disse o líder líbio numa reunião em Roma, em que participava o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi. “Não sabemos se a Europa continuará a ser um continente avançado e unido ou se será destruído, como aconteceu com as invasões bárbaras”.

Claro que não é de excluir que ele não tenha dito exactamente isto. O autor do blogue tem o direito a desconfiar das análises eurocêntricas, mas é igualmente questionável apresentar o Khadafi de hoje como o Rei revolucionário da África. Ser crítico em relação ao regime de Khadafi não significa subscrever as políticas dos EUA e da Europa para a África, nomeadamente quando se trata da AFRICOM [4], das “zonas de exclusão aérea” ou das políticas anti-imigração da Europa. Não é uma escolha de dois termos apenas. Essa retórica sobre a democratização é hipocrisia, pois a última coisa que os EUA e a Europa desejam é haver países que escapam aos ditames do ocidente.

O blogue The Arabist publica uma elucidativa representação gráfica das “redes sociais e de poder em torno de Muammar Khadafi. É um trabalho em curso e irá sento actualizado à medida que for havendo mais informação disponível. Também publica outro gráfico desse tipo para o Conselho Militar egípcio.

Mauritânia
O blogue Moor Next Door [Os Vizinhos Mouros] dá informações sobre a Mauritânia, onde os organizadores dos recentes protestos publicaram no Facebook uma lista de sete reivindicações. (Ler o post no blogue para mais informação.)

“A retirada dos militares do poder, de volta à sua nobre missão e o seu afastamento da política.
A autêntica e completa separação de poderes: legislativo, judicial e executivo.
O reforço da unidade nacional e a criação de um organismo nacional para combater a escravidão e as suas tradições.
Mudanças constitucionais radicais, que deverão incluir a reforma do sistema eleitoral.
A reforma e efectiva implementação da Lei da Transparência 5. A abolição do posto de “Hakem” [6] e a entrega de poderes administrativos a representantes municipais eleitos.
A eleição dos directores dos meios audiovisuais e das instituições mais importantes do Estado, e o fim da sua nomeação ou demissão por decisão unilateral do Presidente [7].”

Zimbabué
39 dos 45 activistas pela justiça social foram libertados da prisão de Mugabe e prossegue a campanha pela libertação dos restantes seis, que são acusados de traição. Os seis presos são: o activista de género Antonater Choto, os dirigentes da União Nacional de Estudantes do Zimbabué [ZINASU] Welcome Zimuto e Eddson Chakuma, o activista sindical Tatenda Mombeyarara, o coordenador da Organização Internacional Socialista e advogado do trabalho Munyaradzi Gwisai e o membro da Campanha Anti-Dívida Hopewell Gumbo.O [blogue] Anarkismo publicou uma actualização que diz: “… os direitos legais dos seis já estão a ser violados e, ainda antes de o tribunal decidir se são culpados ou inocentes, está já estão a ser severamente punidos. Os homens têm estado em isolamento 23 horas por dia e são autorizados a sair [das celas] por dois períodos diários de 30 minutos. As mulheres estão a ser submetidas a trabalhos pesados. Até o procurador do Estado admitiu que o isolamento e os trabalhos pesados são graves violações dos direitos dos activistas (embora negando que existam).

“Mas o próprio Estado começa a mostrar sinais da pressão da campanha. Acerca dos seis presos, o magistrado afirmou que a conversa entre Gwisai, Choto, Gumbo, Zimuto, Mombeyarara e Chakuma, centrada na possibilidade de fazer no Zimbabué o mesmo que tinha sido feito no Egipto, não era simples “conversa de acaso” mas sim uma autêntica conspiração. Todavia o magistrado disse que o relatório da única testemunha do Estado (um agente da polícia que presenciou a reunião sob disfarce e que declarou ter observado todos os 45 suspeitos a cometer o crime) era fictício”.

Nunca totalmente silenciado, o WOZA (Mulheres e Homens do Zimbabué, Ergamo-nos) ergueu-se na segunda-feira 7 de Março em cinco manifestações separadas contra as sistemáticas prisões e torturas dos seus membros, assim como em antecipada celebração do Dia Internacional das Mulheres:

“Um forte contingente de polícia de choque foi colocado no local anunciado para os protestos do WOZA”, escreve o The Chronicle. “No entanto, assim que ouviram as vozes que cantavam em coro, deslocaram-se apressadamente para vários quarteirões mais acima com a intenção de intervir. A canção transmitia uma mensagem forte: Kubi kubi siyaya – noma kunjani – besitshaya; besibopha; besidubula, siyaya. Em tradução apressada: “A situação é má mas havemos de conseguir chegar aonde queremos; mesmo que nos espanquem, que nos prendam, que nos atirem a matar, havemos de lá chegar”. Um oficial de polícia, que estava a mandar dispersar uma das manifestações, disse: “De que direitos estão vocês a falar? Vocês estão a mentir, o que vocês querem é uma revolução!”

“Depois de terem dispersado as manifestações, cerca de 40 agentes em uniforme apreenderam todos os cartazes e panfletos onde eram mostrados dois dos seus colegas que tinham torturado membros [do WOZA]. Um agente veio ter com um homem que segurava um desses cartazes. Disse-lhe para lho mostrar e perguntou porque estava a escrever nele. O homem respondeu que precisava de papel de rascunho para escrever uma coisa. O agente tirou-lho e dobrou-o cuidadosamente até ficar o mais pequeno possível e meteu-o no bolso dizendo ao homem que é proibido empunhar uma coisa daquelas”.

Notas
[1] Cidade de cerca de meio milhão de habitantes, 32km a sul do Cairo. [NDT]
[2] Ahmed Mohamed Shafik, ex-ministro da Força Aérea que Mubaraz nomeaou primeiro-ministro em 29 de Janeiro último, e que se demitiu em 3 de Março. [NDT]
[3] Antigo ministro do Interior de Mubarak que, juntamente com outros dois ex-ministros, foi recentemente preso e acusado de corrupção. Calcula-se que tenha acumulado uma fortuna de 1.200 milhões de dólares. [NDT]
[4] Centro do Secretariado [Ministério] da Defesa dos EUA que controla as relações militares com 53 países africanos. [NDT]
[5] Lei que obriga os titulares de cargos públicos a declarar os seus bens. Uma das queixas correntes é que os ministros e outros titulares de cargos declaram os seus bens ao governo, mas essas declarações não são tornadas públicas. [Nota do blogue Moor Next Door]
[6] Cargo administrativo por nomeação do nível de prefeito de sub-região, abaixo do “Wali” e acima do prefeito municipal [presidente de câmara].
Cada uma das 13 províncias (ou regiões) da Mauritânia tem um Wali (governador) nomeado por Nouakchott (e directamente responsável perante o Ministro do Interior) que superintende a administração pública.
O Hakem (prefeito) é outro funcionário nomeado que superintende a administração de uma prefeitura ou sub-região (muqata’a).
Os prefeitos municipais [presidentes de câmara] são eleitos e responsáveis pela administração da cidade, e respondem perante o Hakem; muitas vezes as cidades têm vários vice-prefeitos assim como conselhos de notáveis.
(…)
Os acontecimentos de Fassala foram em parte originados por um insulto do Hakem às tribos que tinham vindo junto dele pedir a resolução de uma disputa em torno do uso de um poço. (…). [Nota do blogue Moor Next Door]
[7] Sobretudo uma referência à liberalização dos meios de comunicação e à responsabilização dos titulares de cargos. [Nota do blogue Moor Next Door]

Sokari Ekine é uma escritora e activista de origem nigeriana que, além de colaborar com o Pambazuka News, fundou e escreve regularmente no blogue Black Looks.
Artigo original (em inglês) no Pambazuka News. Tradução Passa Palavra.
Fonte: http://passapalavra.info/