Entrevista com a banda Confronto-RJ - por Shára
Com mais de dez anos de banda, carreira consolidada no exterior, em fase de construção do novo álbum e fazendo um show atrás do outro, Confronto é uma das bandas nacionais mais reconhecidas na cena hardcore do mundial, e essa afirmação só tende a ficar mais forte. Conversei com o baterista da banda, Felipe Ribeiro sobre os planos para o futuro e o dia-a-dia na banda, o que foi um presente, já que Confronto está no meu top 5 de bandas que eu mais gosto, e vai ficar nesse ranking por muito mais tempo, já que a humildade, prontidão e atenção por parte dele me fez relembrar a ideologia que eu luto por tanto tempo. Se você gosta da banda, vai gostar mais. Se você não conhece, está perdendo tempo. Vale a pena conferir o nosso bate-papo.
Já tem nome e data pra lançamento do álbum novo?
Não, não temos a data exata ainda. estamos escrevendo as músicas novas e ja temos bastante coisa adiantada. Sobre o nome, temos algumas coisas em mente, mas nada definido.
E vai ser produzido todo em território nacional?
Todo ele não. Estamos definindo que direcionamento daremos ao novo disco em termos de produção. Estamos em um processo de resgate de antigas sonoridades, buscando sons dos anos 80 e 90 que nos agradam muito. Coisas que sempre ouvimos e gostamos muito. Pra conseguirmos isso da melhor maneira possivel, talvez agente tenha a necessidade de ir atrás de alguns recursos fora do Brasil. Mas isso ainda estamos analisando, vamos ver o que fica melhor.
Estão em contrato com gravadora?
Sim. América latina trabalhamos com a Seven Eight Life Recordings e na Europa e EUA com a Reality records.
Vocês estavam em turnê internacional até esses tempos. Como foi a recepção das bandas e do público lá fora?
Final do ano passado voltamos da nossa quinta turnê européia. Pra nós é sempre muito bom, pois hoje em dia posso dizer que temos um nome bem conhecido por lá e cada vez que voltamos as coisas estão sempre melhores e mais estruturadas. O que facilita também é que tivemos todos os nossos albuns lançados por lá e distribuidos nos Estados Unidos, o que nos dá sempre uma exposição grande. Tivemos a felicidade de passar por quase 30 pasises e isso pra uma banda que canta em português, vindo da baixada fluminense e sem indústria musical trabalhando por trás, pra mim é uma quebra de barreiras.
Com certeza. E os gringos, já estão sabendo cantar as músicas? (risos)
Em muitos lugares sim, porque lá as pessoas decoram as letras no encarte e ja vão para os shows com os fonemas decorados! (risos) E todos os discos que lançamos tem tradução para o Inglês, então eles sabem sobre o que falamos em cada letra. Sempre nos preocupamos com isso.
Falando ainda dessa turnê, to ligada que vcs foram parar em países que nem a gente aqui ouve falar, a banda passou por alguns perrengues ou foi tudo tranquilo?
Cada turne tem a sua novidade, né? Dessa vez fomos até a Turquia, fizemos um show bem legal em Instambul. Mas ja rodamos a Europa praticamente toda: Noruega, Suecia, Dinamarca, Portugal, Espanha, Polonia, Rep. Tcheca, Romênia, Bulgária, Eslovênia… muito lugar. Fizemos turnês de 3 meses, turnes com 56 shows em 2 meses, muita coisa!
E vou te falar, nem sempre é facil. As pessoas acham que é só diversão, mas não é. Tem momentos dificeis, viagens longas, tem que ter responsabilidade. Tem horas que agente fica em um ritmo quase militar! Comendo fora de hora, dormindo fora de hora, cada dia em um pais, um dia é frio, no outro calor… tem que gostar muito do que faz, se não, desiste.
E a comunicação com a mulecada que curte o som de vocês? É na base da mímica mesmo? (risos)
Então, nos shows nos comunicamos em Inglês. Na europa praticamente todos falam ingles. Ás vezes, no leste europeu é um pouquinho mais complicado, tem mais pessoas que não sabem falar ingles, mas mesmo assim infinitamente mais do que no Brasil. E eles estão acostumados com ciclo de bandas em turne por la, principalmente as bandas americanas.
Lá fora vocês eram igualmente conhecidos ou era mais aquela coisa “ouvi falar dessa banda brasileira”?
Hoje em dia já estamos bem conhecidos. Certos lugares até nos assustamos, porque nem imaginávamos que tinhamos fãs na Romênia, por exemplo. Daí agente chega lá e um monte de gente querendo ver, fazer entrevista. Acho muito Importante representar o que acontece aqui no Brasil lá fora, tanto a parte musical, quanto na parte social também. Assumimos essa responsabilidade sem querer. Engraçado que lá as pessoas vêem a gente como uma espécie de renovação do metal sul americano depois do Sepultura. Nós começamos a entender isso e assumimos essa responsabilidade!
Caralho! e vocês achavam que o Confronto ia tomar essas proporções?
Então, na verdade não imaginávamos não. Mas pra ser sincero com você, pra nós ainda é só o começo! A brincadeira está começando agora!
Vão rolar mais shows no exterior esse ano ou vão ficar mais por aqui mesmo, pra fazer a alegria da galera?
Se tudo correr conforme o planejado, daqui a mais ou menos uns dois meses estaremos partindo para parte Sul Americana da turnê. Quando voltarmos faremos Centro, norte e Nordeste do Brasil. Mas o difícil é conciliar isso com processo de composição do novo disco, mas agente não consegue parar.
E vocês tem vontade de tocar com alguma banda ainda, ou já realizaram isso?
Já tocamos com bastante banda que agente ouvia quando moleque, bandas que nos influeciaram, bandas que queríamos ver de perto, que éramos fãs e derrepente estávamos dividindo palco com elas. Confronto ja tocou com Napalm Death, Sick Of It All, Agnostic Front, Madball, Misery Index, Converge, Voivod, The Haunted… me orgulho muito de tocar sempre com Ratos de Porão, Sepultura… são bandas que crescemos ouvindo. Te confesso que gostaria de fazer um show com Machine head e Cavalera Conspiracy.
Ah, isso é questão de tempo!
Tomara! E tomara que não seja muito tempo, hehe!
E essa “comparação” com o Sepultura na gringa, o que vocês estão achando disso?
Pra nós é motivo de orgulho, mas eu acho que é necessario uma renovação. No metal brasileiro não podemos viver só de Sepultura, tem que aparecer outras bandas, sejam elas de metal ou hardcore. Sepultura é a banda nacional de maior expressão, a história que eles criaram foi maravilhosa e motivo de inspiração para todos, inclusive para nós. Após o Sepultura, tudo relacionado ao metal, principalmente as bandas se convencionaram a procurar o mercado internacinal e fazer dele o seu guia querem repetir a mesma história deles. Existem outras histórias para serem escritas, principalmente dentro do próprio país. Todos reclamam que no Brasil as coisas são difíceis, não tem público, é desorganizado, não tem cena, não tem nada, mas se reparar bem, a maioria não tenta fazer algo que realmente possa ir de frente a essa ótica negativa. Grande parte quer montar banda, cantar em inglês, arrumar uma gravadora lá fora e na primeira oportunidade, ir embora. Não tenho absolutamente nada contra as bandas cantarem em inglês, irem lá pra fora; cada um tem que fazer o que é melhor pra si e procurar seus meios de fazer o que gosta e o que acredita, mas acho que poucos tentam realmente fazer coisas voltadas para o que temos aqui dentro. O primeiro passo, independente de cantar em inglês ou português, é fazer as coisas de acordo com a sua própria cultura, mostras as diferentes realidades que existem aqui no Brasil.
O que falta pra cena brasileira dar certo, na tua opinião?
Temos que tentar fazer o melhor possível aqui dentro. Melhores shows, melhores produções, pegar o que tem de bom lá fora e tentar reproduzir aqui dentro. Claro, aqui as dificuldades são maiores, mas ainda sim temos que buscar. Acredito que temos que tentar dar uma cara própria ao metal que é feito na América do Sul. O que eu acho incrível é que quando as bandas internacionais vem pra cá, os shows são lotados, você vê as pessoas andando com camisa de banda na rua. Ou seja, público tem! O que falta é que eles tenham identificação com as bandas daqui. Lógico que isso acontece por uma série de fatores, não é algo simples. Mas também não adianta reclamar, dizer que aqui não vira e fazer as coisas voltadas exclusivamente lá pra fora.
Então o que falta pra mais bandas brasileiras chegarem lá como o Confronto, além de divulgação?
Não acredito que exista uma fórmula perfeita para fazer com que as coisas funcionem para uma banda. E também não acredito que o Confronto tenha chegado “lá”. Acho que estamos engatinhando e que falta muita coisa ainda.
Vocês já conseguem viver da banda?
Em primeiro lugar, a banda precisa encontrar uma maneira de se sustentar sozinha. Essa parte já passamos. Depois, tem que ter retorno do que você investe nela. Por esse ponto de vista, não temos do que reclamar. Agora, viver de banda é algo relativo. Se viver é a banda fazer com que vc compre uma casa, carro novo, pague as suas viagens, diversão, uma vida boa… não. A banda não nos sustenta assim. Mas conseguimos pagar nossas contas. Eu vivo em função da banda, os outros caras fazem alguns trabalhos paralelos, mas sempre levamos a banda como ocupação principal.
Pra finalizar, o que a gente pode esperar para esse ano da banda?
Esse ano sera o último ano da turnê “Confronto – 10 anos de tour” que é a tour de divulgação do nosso DVD “Dez anos de Guerra”. Ainda falta passar por algumas cidades de Brasil e fazer a parte Sul Americana. E fora isso estamos inteiramente voltados para as músicas do proximo album, estamos o tempo todo criando, escrevendo… mente voltada para as coisas que virão.
Fonte: http://www.hornsup.net
quarta-feira, 2 de março de 2011
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