Lições árabes para Nuestra América - por Marcelo SallesAndrés Soliz Rada é um dos bolivianos mais patriotas que já conheci. No breve encontro que tivemos em La Paz, pude ouvir com atenção as propostas do primeiro ministro de Hidrocarbonetos do governo Evo Morales, sua concepção indo-socialista de Estado, a luta contra interesses daninhos de multinacionais em seu país – Petrobrás incluída – e a tentativa de utilizar os recursos naturais da Bolívia para desenvolver o país e melhorar a vida de seu povo.
Mas Soliz Rada não é apenas patriota em sentido stricto. Ele é um patriota no sentido de quem defende a construção da Grande Pátria, dos caminhos que levam à unificação dos povos latino-americanos para a defesa dos interesses comuns e da soberania da região. Para tanto, ele reconhece a importância do Brasil – apesar de todos os atritos que teve com a Petrobrás durante sua gestão no ministério de Hidrocarbonetos – na liderança desse processo, que deve ser conduzido via Mercosul e Unasul.
Em artigo recente, Soliz Rada faz a defesa radical dos blocos “del sur”: “Nas mãos das atuais gerações de latino-americanos está a escolha entre o Mercosul ou a morte. A primeira implica a formação a médio prazo da Nação do Continente Latino-Americano. A segunda, resignar-se a que a América do Sul converta-se em um novo Porto Rico”, anotou na agência Bolpress.
O alerta chega em boa hora, sobretudo para aqueles que não enxergam paralelo entre as revoltas árabes e a atual situação do nosso continente. Para além das ditaduras árabes – que parecem ter sido descobertas pelas corporações de mídia agora, depois de perseguir opositores políticos por 30 anos – há que se considerar os interesses econômicos que movem montanhas. Uma boa dica vem do chanceler cubano, Bruno Rodriguez, que criticou as ameaças de invasão à Líbia em pronunciamento foi feito nesta terça-feira (1º) durante a 16ª sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. “Cuba rechaça categoricamente qualquer tentativa de aproveitar a trágica situação criada para ocupar esse país e controlar seu petróleo”, afirmou.
Também temos que ir além da mudança da posição brasileira em relação às violações de Direitos Humanos no mundo. Sim, antes nós não condenávamos quem as potências queriam condenar só porque elas assim desejavam. Agora nós condenamos, mas deixamos claro que não ficaremos à mercê do jogo político internacional, e também condenaremos as violações para as quais elas, as potências, fecham os olhos – como Guantánamo e Abu Ghraib.
Enxergar os interesses econômicos por trás das transformações no mundo árabe é fundamental para preservar a soberania dos povos latino-americanos. Se nossos povos acreditarem na auto-proclamada boa vontade e defesa dos Direitos Humanos desinteressada das grandes potências, a qualquer momento elas podem construir uma imagem negativa de determinado governo só para destituí-lo. Já fizeram isso outras vezes, basta consultar a História.
A questão se torna ainda mais central se considerarmos que o Petróleo, matriz das sociedades modernas, é um recurso finito e cada vez mais raro. Sendo que alguns países que tem mais têm descoberto o óleo nos últimos anos estão em Nuestra América, como Brasil e Venezuela.
Portanto, é necessário que os governos interessados na soberania dos povos latino-americanos invistam na defesa comum do continente. Além das armas tradicionais e da união entre os países da região, é fundamental o fomento às iniciativas de comunicação democrática, tendo em vista que muitas vezes os interesses das corporações de mídia coincidem com os das potências estrangeiras. Como já dizia José Martí, um dos libertadores da América, “um povo culto é um povo livre”.
(*) Marcelo Salles, jornalista, atuou como correspondente da revista Caros Amigos no Rio de Janeiro (2004 a 2008), e em La Paz (2008 a 2009). Artigo publicado originalmente na coluna “Até a vitória, sempre!”, no blog Escrevinhador.
Fonte: http://www.fazendomedia.com/
quinta-feira, 3 de março de 2011
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