De mal a piorPor Aprille Muscara, da IPS
Washington, Estados Unidos, 14/3/2011 – A situação na Costa do Marfim se deteriora pela negativa de Laurent Gbagbo de abandonar a Presidência, apesar dos protestos da oposição e da comunidade internacional, e pela ineficácia de órgãos regionais na mediação. O país está cada vez mais perto de uma guerra civil, aumenta a violência contra manifestantes pacíficos e civis inocentes, e se agrava a crise humanitária para as centenas de milhares de pessoas refugiadas que vivem em acampamentos.
O regime de Gbagbo foi acusado de cometer crimes de guerra e recebeu sanções da comunidade internacional, cuja intervenção foi solicitada pela oposição para acabar com o banho de sangue e tirar o homem forte. Os problemas deste país o dividiram nos últimos três meses e, entretanto, não atraiu a atenção internacional como a Líbia.
“Um aparece na mídia minuto a minuto, no Twitter e em blogs”, disse a ativista Sokari Ekine. “Outro apenas começa a emergir da periferia da consciência internacional”, acrescentou. “Ao contrário da Líbia, a Costa do Marfim carece de importância estratégica e a possível perda de seu principal recurso, o cacau, não causa pânico em mercados ou governos”, explicou.
Há alguns meses o cacau alcançou seu preço máximo em 30 anos devido ao conflito no principal país exportador, deixando “as prateleiras sem barras de chocolate”, mas “o petróleo é mais importante na vida moderna”, coincidiu o jornal The Financial Times. “Contudo, para os agricultores que o colhem, e para a economia do país, o cacau é fundamental para a subsistência e vale a pena lutar por ele”, ressaltou Sokari.
Antes de começaram as revoltas populares no mundo árabe e a atenção do Ocidente se concentrar no Norte da África, numerosos analistas internacionais vincularam o futuro do continente africano à forma como for resolvido o conflito nesse país. “Se a situação não for solucionada de maneira adequada, os democratas africanos poderão ir para casa”, disse Christopher Fomunyoh, do Instituto Nacional Democrático, em um painel sobre o assunto realizado há dois meses. “Os votos devem ser contados depois da votação ou não haverá democracia no continente”, disse o presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan.
Este ano, haverá 20 eleições na África e os observadores consideram que a Costa do Marfim é um teste sobre as possibilidades de democratização do continente. O segundo turno das eleições presidenciais na Costa do Marfim foi em novembro e o conflito começou quando a comissão eleitoral declarou vencedor Alessane Ouattara, com 54,1% dos votos, contra 45,9% para Gbagbo.
Após dois meses de silêncio, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, divulgou um comunicado, no dia 9, pedindo a Gbagbo que deixe o poder com urgência. “Estou particularmente consternado pelo assassinato indiscriminado de civis desarmados em manifestações pacíficas, inclusive muitas mulheres. Todas as partes devem se esforçar para protegê-los”, acrescentou.
Estimativas da Organização das Nações Unidas indicam que na semana retrasada morreram 27 pessoas, elevando para 400 o número de mortos desde meados de dezembro. A oposição afirma que o número é muito maior. A declaração coincidiu com a cúpula da União Africana (UA) da semana passada, na qual um painel de resolução de disputas, integrado por sete chefes de Estado, voltou a se reunir para tentar negociar o fim do confronto entre Gbagbo e Ouattara.
Se as eleições marfinenses foram um teste sobre as possibilidades de democratização da África, a capacidade da UA, e de outros órgãos regionais, para acabar com o conflito serve para medir o compromisso do continente e a solidez de suas instituições de integração. Agora, parece que não vencem o desafio. Representantes de Gbagbo rejeitaram a primeira proposta do painel para sair do impasse. O grupo decidiu reclamar que deixasse o poder e insistiu na legitimidade de Ouattara.
Alguns propuseram um acordo para combater o poder, semelhante ao que acabou sendo aceito por Robert Mugabe, que também se negava a deixar a presidência do Zimbábue. O painel da UA é formado pelos presidentes de Burkina Faso, Chade, Mauritânia, África do Sul e Tanzânia. Além de Jonathan, presidente da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Ecowas), também participou o presidente da UA, Teodor Obiang, que junto com o líder líbio, Muammar Gadafi, é o mandatário africano há mais tempo no cargo.
Os observadores alertam para uma escalada de violência na medida em que Gbagbo se garantir no poder e não prosperar a mediação da UA e da Ecowas. “Existe o perigo de ressurgir uma guerra civil no país”, alertou no dia 11 Navi Pillay, chefe da organização Human Rights Watch na sede da ONU, que pediu o fim do conflito. “A situação se deteriora de forma alarmante, com aumento dos choques interétnicos e intercomunitários. Partidários dos dois lados atentam contra os direitos humanos e cometem violações, sequestros e assassinatos”, acrescentou. Envolverde/IPS
Fonte: http://www.envolverde.com.br(IPS/Envolverde)
terça-feira, 15 de março de 2011
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