quarta-feira, 30 de abril de 2014

Morrissey: Comparando matança de focas no Canadá ao Nazismo


Morrissey: Comparando matança de focas no Canadá ao Nazismo
Morrissey respondeu à acusação de um político canadense de que ele é "ignorante" sobre as políticas de caça marinha do país em um novo post comparando caça de focas com a Alemanha nazista.

Na quarta-feira, Sophie Doucet, um representante para o ministro da pesca federal, Gail Shea, emitiu um comunicado afirmando que Morrissey deve considerar as condições de vida dos canadenses em comunidades que vivem da pesca.

"Eu deveria lembrar Sophie Doucet que a construção e manutenção dos campos de concentração de Auschwitz também forneceu os meios de subsistência para alguns, mas isso não justificou os campos", escreveu ele. "Vamos também acrescentar que os vastos benefícios financeiros da matança de focas não estão diretamente destinado para aqueles homens e mulheres que trabalham duro e na verdade são apenas usados pelo ministro das Pescas para fazer a tarefa de cortar carne".
O cantor também zombou da alegação de Doucet de que ele se trata de uma celebridade milionária em busca de um hobby. "Posso garantir, Sophie Doucet que eu sei mais sobre a caça às focas do que eu gostaria de saber, e só deixando de ser humano eu poderia olhar para longe e não me importar", ele escreveu . "Além disso, se um desafio vem de um milionário ou de alguém que é sem-teto é uma observação que só seria feito por alguém arrogante e ignorante, com quem não se pode desenvolver o debate moral, e que acha dinheiro mais importante que as vidas de milhares de seres saudáveis. "
Morrissey pediu que cidadãos canadenses falem contra o plano de Shea , a fim de restaurar a reputação global do seu país. "O assassinato não é discutível ", escreveu ele . Ele também reiterou palavras fortes para Shea, que ele alega perdeu de vista as diferenças entre o certo e o errado em sua ganância por lucros a qualquer preço."

"Na cultura ocidental , não há aceitação da matança de focas do Canadá, e simplesmente porque alguém tem o emblema de ministro não deixa de ser um bandido de má reputação", escreveu ele.


Fonte: rede!

PM do RJ em uma imagem!

Bruno Gonzalez/Agência O Globo

Fonte: http://blogdomello.blogspot.com.br/

Campanha de colaboração financeira com a Casa Mafalda - ANA


Campanha de colaboração financeira com a Casa Mafalda

Comunicado:

Amigas, amigos,

Há muitas maneiras de gerir um espaço autônomo. Na Casa Mafalda, adotamos um modelo que chamamos de autogestão compartilhada: nossa gestão é horizontal e aberta e, mais que isso, se amplia a cada evento, com as/os organizadoras/es destes se tornando tão membros/as da gestão e responsáveis pelo espaço quanto nós.

Isso significa que a Casa não é uma balada e não está prestando serviço à ninguém.
Porém, como todos os espaços autônomos alugados, temos a cada mês o mesmo problema: pagar o aluguel – e as contas.

Parte desse problema, dentro da ideia de autogestão compartilhada, se resolve a cada evento com o consumo de bebidas e comidas de quem frequenta o espaço. Mas já há alguns meses as/os membros/as fixos da gestão tem tirado dinheiro do próprio bolso pra manter a Casa.
Por conta disso, começamos aqui (e pedimos divulgação) uma campanha de colaboração financeira mensal para a Casa Mafalda.

Por quê?

Entendemos que a existência de espaços autônomos livres e horizontais, abertos a experiências de outras relações sociais e humanas possíveis e adeptos de uma política pré-figurativa é fundamental para poder pensar um futuro território autônomo maior e mais amplo na cidade de São Paulo.
Hoje, na Casa, acontecem eventos feministas, grupos de estudo, cineclubes, shows, festas, atividades com e para crianças (e seus adultos), formação de gênero, reuniões de coletivos políticos autônomos e independentes e estão para começar aulas de português para haitianos refugiados no Brasil e atendimento psicológico para mulheres egressas do sistema prisional. Além disso, publicamos um jornalzine com temas sociais e políticos ligados aos ideais libertários.

Se você puder e quiser colaborar conosco, deposite o valor que puder na conta abaixo e nos envie um e-mail, avisando o valor doado para que possamos ter controle:contato@casamafalda.org.

Banco do Brasil – 001
AG 7009-2
Conta POUPANÇA 5651-0
Variação 96
Tiago Mendes de Almeida
Esperamos continuar abertos e, a cada dia, menos dependentes dos nossos empregos para manter a Casa.

Divulgue essa campanha, e sinta-se à vontade para entrar em contato e tirar dúvidas.

Casa Mafalda
Rua Clélia, 1895, Lapa. A três quadras do terminal Lapa e da estação Lapa da linha 8 da CPTM. São Paulo.


Notícia relacionada:

agência de notícias anarquistas-ana

A serra silencia
só se ouve agora
o grito do pardal
Rosalva

Palestina: acordo surpreendente, inimigos previsíveis – por Matthew Duss


Palestina: acordo surpreendente, inimigos previsíveis
Cinco líderes palestinos anunciam, em Gaza, a reconciliação. Da esquerda para a direita, Mustafa Barghouti (Iniciativa Nacional Palestina), Azzm al-Ahmed (Fatah), Ismail Haniyeh (Hamas), Musa Abu Marzuk (Hamas) e Jameel Shehadeh (Frente Árabe Palestina)

Fatah e Hamas, as duas grandes correntes pela independência, parecem entender-se, sob aplauso da população. Israel e EUA mostram-se inconformados…

Provavelmente é perspicaz enxergar com algum ceticismo o acordo entre as principais facções palestinas, Fatah e Hamas, anunciado na última quinta-feira (24/4).  Ambos os grupos concordaram em criar um governo de consenso e realizar eleições ainda este ano. Anunciados com similar alarme, os acordos em Cairo, em 2011, e em Doha, 2012, não levaram a lugar algum. Naquelas ocasiões, nenhuma das partes acreditou que tinha mais a ganhar do que a perder, com um acordo de compartilhamento de poder.

Mas existem razões para acreditar que dessa vez será diferente. O acordo surgiu após o envio, à Faixa de Gaza [controlada pelo Hamas], da primeira delegação da Organização pela Libertação da Palestina (OLP, dirigida pela Fatah), desde a brutal guerra civil entre os dois grupos, em 2007. O acordo foi assinado na Palestina — na cidade de Gaza, para ser exato — ao invés de alguma outra capital estrangeira. Ainda mais, a reconciliação permanece amplamente popular entre palestinos. Em março de 2011, com protestos anti-governo se espalhando pela região, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas em Gaza e na Cisjordânia para pedir o fim da divisão. Uma pesquisa de abril de 2013, feita pelo Centro de Mídia e Comunicações de Jerusalém, descobriu que mais de 90% da população eram favoráveis à reconciliação entre as duas facções.
É importante compreender de que modo as dinâmicas políticas internas da Palestina ajudaram a produzir esta mudança, ao colocarem ambas as facções sob enorme pressão. Em meio ao que seus líderes proclamaram um “Despertar Islâmico” na região, o Hamas havia construído uma visão otimista sobre suas próprias perspectivas, assumindo que iria se beneficiar do advento de uma onda de governos dominados por islâmicos, no Oriente Médio. Mas viu sua sorte mudar drasticamente, ao longo do último ano. O golpe de Estado no Egito, em julho de 2013, removeu o governo de Mohammed Morsi, dominado por membros da Irmandade Muçulmana (o Hamas foi fundado como o braço palestino da Irmandade). O novo governo militar egípcio fechou a maior parte dos túneis que ligavam o país à Faixa de Gaza, e eram vitais para abastecimento desta região. Também removeu uma fonte-chave de receitas de Hamas, que tributava o comércio nos túneis.

Mas a situação da Fatah também era difícil. Com as negociações com Israel (nas quais ele entrou contra a vontade da maioria de seu próprio partido) na UTI, o presidente palestino Mahmoud Abbas viu claramente, na reconciliação, um trunfo para ampliar sua popularidade em um momento em que está em uma posição relativamente mais forte com o Hamas. O que falta saber é se ele vê este movimento como algo destinado a fortalecer sua posição, nas negociações com Israel; se o enxerga como um passo para deixar estas negociações de lado; ou se considera ambas as hipóteses.

A reação ultrajada de legisladores norte-americanos ilustra o desafio (ainda maior) diante do qual estará o governo Obama — em seus esforços já frágeis para facilitar um acordo final entre Israel e Palestina. Os EUA e a União Europeia tratam o Hamas como uma organização terrorista, acusando-o de múltiplos atos de assassinato, entre meados dos anos 1990 e o início dos anos 2000, e por frequentes ataques a Israel, realizados a partir de Gaza, por meio de foguetes. A carta do Hamas permanece como um documento profundamente ofensivo, que cita a justificativa religiosa para matar judeus. Outra questão importante é se este acordo, e a reincorporação do Hamas à Autoridade Palestina, significam que o grupo afastou-se daquele documento, abandonando seu objetivo de longa data de destruir Israel, e se aproximou da solução de dois Estados.

Jibril Rajoub, um dirigentes graduado do Fatah, insistiu ontem que o Hamas deu o passo. “Nós não estaríamos concordando em assinar um acordo de reconciliação sem estar claro a todas as facções que estamos nos direcionando nossa nação para frente, para uma solução de dois Estados”, ele disse. “Eu espero que Israel permita a continuidade das negociações de paz, com base na ideia de dois Estados para dois povos.”

Mas isso será o suficiente para satisfazer a chamada “comunidade internacional”? Em respostas à vitória eleitoral do Hamas, em 2006, o quarteto liderado pelos EUA — que inclui a ONU, a União Europeia e a Rússia — impôs três condições ao grupo para se reunir ao governo palestino: renunciar ao terrorismo, reconhecer Israel e honrar os acordos passados assinados entre israelenses e palestinos. (Não se menciona, a respeito, o fato de o governo israelense incluir partidos que se opõem à existência do Estado palestino…)

O governo dos EUA respondeu negativamente às novidade. A porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, qualificou como “decepcionante” o acordo de unidade palestina e acrescentou que ele “levanta preocupações sobre nossos esforços para estender as negociações.” A União Europeia, por outro lado, deu boas-vindas ao acordo. “A UE clamou consistentemente por uma reconciliação intra-palestina por trás”, declarou o porta-voz Michael Mann, chamando o acordo de um “elemento importante para a unidade de um futuro Estado palestino e para alcançar a solução de dois Estados.”
Como já fez com os anúncios anteriores, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu rejeitou o movimento. “Esta noite, enquanto as conversas sobre paz estão começando a tomar rumo, o Abbas escolheu o Hamas, e não a paz” disse um comunicado divulgado por seu gabinete. “Quem quer que escolha o Hamas não quer paz”. É difícil imaginar que este apelo tenha peso junto a  Abbas, dado que as conversas de paz mantidas no último ano alcançaram pouco, e foram acompanhadas por um aumento sem precedentes da construção de colônias de ocupação israelenses.

O gabinete de segurança de Israel decidiu, na semana passada, suspender as negociações com os palestinos. Mas diversos analistas israelenses foram rápidos em afirmar que o acordo Fatah-Hamas representa uma oportunidade para seu país. Críticos das negociações notaram que a desunião entre a Cisjordânia e Gaza — uma, governada pela Autoridade Palestina  controlada pelo Fatah, outra, dirigida pelo Hamas — torna sempre mais difícil um acordo de paz. Os líderes israelenses “argumentaram que Abbas não representa, na verdade, o povo palestino e que nenhum progresso poderia ser feito enquanto o Autoridade Palestina não controlar Gaza”, escreveu Barak Ravid no diário israelense Haaretz. “O acordo de reconciliação, se implementado, poderia prover uma resposta para estes argumentos, criando um governo que representasse todos os palestinos.”
“Seria incorreto apresentar um ultimato à OLP, embora seja preciso escolher entre negociações com Israel e uma reaproximação com o Hamas, escreveu Ildo Zelkovitz, ligado ao think-tank israelense Mitvin. “A possível estabilidade do sistema político palestino pode favorecer Israel, e se a reconciliação for alcançada, qualquer processo político iniciado por Abbas com Israel pode envolver também o Hamas.

Falta saber se os EUA terminarão optando por este ponto de vista. Para o secretário de Estado, John Kerry, que vê um acordo entre Israel e Palestinos como uma prioridade de sua passagem pelo posto, o anúncio da reconciliação Fatah-Hamas complica um processo já difícil. Mas apesar das dificuldades das últimas semanas, e como já notei, ele pode agir com criatividade. A questão é se se será suficientemente criativo para converter os fatos recentes numa oportunidade.

Tradução: Gabriela Leite
Fonte: http://outraspalavras.net/

terça-feira, 29 de abril de 2014

(EUA) Mumia Abu-Jamal: A nossos apoiadores - ANA


(EUA) Mumia Abu-Jamal: A nossos apoiadores

[A seguir, mensagem de Mumia Abu-Jamal pela passagem de seu sexagésimo aniversário, em 24 de abril de 2014.

Neste meu sexagésimo ano de vida, me sinto obrigado a compartilhar com todas e todos vocês, um sentimento de gratidão além de qualquer coisa que tenham escutado e além de qualquer coisa que eu tenha dito.

Estou aqui, entre os vivos, devido a cada um de vocês, pessoas conhecidas e desconhecidas, que se uniram conosco nesta batalha pela vida, liberdade e justiça.

Alguns de vocês têm sido golpeados. Alguns têm sido encarcerados. A maioria tem sido ameaçada. No entanto, seguiram na luta, custasse o que custasse, durante anos.

Não estamos onde queríamos estar, mas estamos aqui, porque vocês estão aí. Sua luta se tornou nossa e tocou a muitas pessoas em todas as partes do mundo.

Que fique bem claro. Eu respiro hoje porque vocês lutaram por minha respiração. O Estado odeia-os e ataca-os porque lutaram por mim, comigo, em todos os momentos.

Me sinto honrado por seu apoio e por isso, cheio de energia.

As lutas como esta demonstram o que é possível e o que não terminamos. Eles se viram obrigados a reescrever algumas leis devido a nossa luta. E como a luz do sol, como a chuva, seguimos avançando, seguimos movendo-nos.

A todas e todos, lhes agradeço tudo o que têm feito e tudo o que está por fazer. 

Amo-os. Movamo-nos! Que viva John África!

Pela liberdade!

Da nação encarcerada, sou Mumia Abu-Jamal.

Quinta-feira, 24 de abril de 2014.

• A foto em anexo: Mumia com seu filho Jamal e seu irmão Keith

Notícia relacionada:

agência de notícias anarquistas-ana
Cai a chuva fina
Só alguns gatos pingados
Esperam a lua.
Zekan Fernandes

Acorda Brasil, acorda meu povo – por Provos Brasil


Acorda Brasil, acorda meu povo
E o povo continua sendo tratado da pior maneira possível. 

Em São Paulo, cidade aonde existe o maior custo para se utilizar o transporte coletivo à situação só se agrava.
A pergunta é simples, como um pobre diabo que vive no fundão de Guaianases vai conseguir um trabalho tendo que desembolsar quase 10 reais para chegar ao centro da Cidade. 
Quem vai financiar esse pobre diabo? O bilhete único?

As pessoas não tem grana, as pessoas que trabalham e precisam do transporte público sofrem horrores diários, e de quase todas as formas...

E os tais “secretários de transportes”, aqueles senhores que nem sabem o que é um Busão, não utilizam os transportes públicos e passam a ser “otoriadade” no assunto! 
O governo porco do Estado de São Paulo esta esperando acontecer uma desgraça para culpar alguém, já que eles são os inocentes da história...

Provos Brasil 

·         * Fotos retiradas da rede!

segunda-feira, 28 de abril de 2014

(Israel) Cinco crianças são condenadas à prisão perpétua por atira pedas. – por ANA


(Israel) Cinco crianças são condenadas à prisão perpétua por atira pedas.
Ali Shamlawi, Mohamad Kleib, Mohamad Suleiman, Ammar Souf e Tamer Souf enfrentam uma condenação à prisão perpétua; são acusados de jogar pedras contra um veículo de um colono israelense que teve um acidente. Os menores negam estar envolvidos e suas famílias apelam para a justiça internacional.

O carro onde estavam os colonos israelenses foi atingido por um caminhão que estava parado perto do assentamento ilegal de Yakir. Embora o caminhoneiro alegue ter parado porque havia um pneu furado, os colonos testemunharam contra um grupo de crianças palestinas.

As organizações de direitos humanos e direitos da criança denunciam que 74% das crianças palestinas presas pelo regime de Israel estão sujeitas a violência física durante a detenção, a transferência para a prisão ou o interrogatório.

A autoridade israelense é a única autoridade no mundo que processa crianças em tribunais militares, sem sequer assegurar-lhes um julgamento justo e com garantias.

De acordo com as últimas estatísticas, 173 crianças palestinas estão em prisões israelitas, 16 deles tem entre 12 e 16 anos.

Notícia relacionada:

agência de notícias anarquistas-ana
Entrada do templo
Os galhos de sakura
na cabeça do Buda
Antonio Malta Mitori

Contra a cooperação de universidades do Rio Grande do Sul com Israel - por Latuff

Fonte: http://latuffcartoons.wordpress.com/

Os barões da banca e da droga – por Eric Toussaint


Os barões da banca e da droga
Na última década, o HSBC colaborou com os cartéis da droga do México e da Colômbia na lavagem de dinheiro num montante de cerca de 880 bilhões de dólares. 

O caso do banco britânico HSBC constitui um exemplo suplementar da doutrina «demasiado grandes para serem encarcerados». Em 2014, o grupo mundial HSBC emprega 260.000 pessoas, está presente em 75 países e declara 54 milhões de clientes.

No decurso do último década, o HSBC colaborou com os cartéis da droga do México e da Colômbia – responsáveis por (dezenas de) milhares de assassinatos com armas de fogo – na lavagem de dinheiro num montante de cerca de 880 bilhões de dólares.

As relações comerciais do banco britânico com os cartéis da droga perduraram, apesar das dezenas de notificações e avisos de diversas agências governamentais dos EUA (entre as quais o OCC - Office of the Comptroller of the Currency).

Os lucros obtidos não só levaram o HSBC a ignorar os avisos, mas, pior ainda, a abrir balcões especiais no México, onde os narcotraficantes podiam depositar caixas cheias de dinheiro líquido, para facilitar o processo de lavagem.

Apesar da atitude abertamente provocatória do HSBC contra a lei, as consequências legais da sua colaboração directa com as organizações criminais foram praticamente nulas. Em Dezembro de 2012, o HSBC teve de pagar uma multa de 1900 milhões de dólares – o que equivale a uma semana de receitas do banco – para fechar o processo de lavagem.

Nem um só dirigente ou empregado foi sujeito a procedimento criminal, embora a colaboração com organizações terroristas ou a participação em actividades ligadas ao narcotráfico sejam passíveis de cinco anos de prisão. Ser dirigente de um grande banco dá direito a carta branca para facilitar, com total impunidade, o tráfico de drogas duras ou outros crimes.

O International Herald Tribune (IHT) fez uma reportagem sobre os debates realizados no departamento de Justiça. Segundo as informações obtidas pelo jornal, vários procuradores pretendiam que o HSBC se declarasse culpado e reconhecesse ter violado a lei que o obriga a informar as autoridades sobre a ocorrência de transações superiores a 10.000 dólares identificados como tendo origem duvidosa. Daí resultaria a cassação da licença bancária e o término das actividades do HSBC nos EUA. Após vários meses de discussão, a maioria dos procuradores tomou outro rumo e decidiu que melhor seria não processar o banco por atividades criminosas, pois era necessário evitar o seu encerramento. Convinha mesmo evitar manchar demasiado a sua imagem.

A modesta multa de 1900 milhões de dólares é acompanhada duma espécie de liberdade condicionada: se, entre 2013 e 2018, concluírem que o HSBC não pôs fim definitivo às práticas que originaram a sanção (não é uma condenação), o Departamento de Justiça poderá reabrir o processo. Em resumo, a medida pode resumir-se assim: «Anda, meu patife, passa para cá uma semana do teu ordenado, e não voltes a repetir a brincadeira nos próximos cinco anos». Aí está um belo exemplo de «demasiado grande para ser condenado».

Em Julho de 2013, numa das reuniões da comissão senatorial que investigou o caso HSBC, Elizabeth Warren, senadora democrata do Estado de Massachusetts, apontou o dedo a David Cohen, representante do Ministério das Finanças e subsecretário responsável pela luta contra o terrorismo e a espionagem financeira.

A senadora disse, grosso modo, o seguinte: «O governo dos EUA leva muito pouco a sério a lavagem de dinheiro (…) É possível encerrar um banco que se dedica ao lavagem de dinheiro, as pessoas envolvidas podem ser interditas de praticar uma profissão ou actividade financeira e toda a gente pode ser mandada para a prisão. Ora, em Dezembro de 2012, o HSBC (…) confessou ter lavado 881 bilhões de dólares dos cartéis mexicanos e colombianos da droga; o banco admitiu igualmente ter violado as sanções. O HSBC não o fez apenas uma vez, é um procedimento recorrente. O HSBC pagou uma multa mas nenhuma pessoa foi banida do comércio bancário e não se ouviu falar dum possível encerramento das actividades do HSBC nos EUA. Gostaria que respondesse à seguinte questão: quantos bilhões de dólares um banco tem de lavar, antes de se considerar a possibilidade de encerrar a prática?»

O representante do Tesouro acusou o golpe, respondendo que o processo era demasiado complexo para permitir uma conclusão. A senadora declarou a seguir que quando um pequeno vendedor de cocaína é apanhado, fica uns quantos anos na prisão, enquanto um banqueiro que lava bilhões de dólares de droga pode regressar tranquilamente a casa, sem receio da Justiça. Esta passagem da audiência está disponível em vídeo e vale a pena vê-la. (ver abaixo)
A biografia de Stephen Green ilustra bem a relação simbiótica entre a finança e a governança. A coisa vai ainda mais longe, pois ele não se contentou em servir os interesses do grande capital, enquanto banqueiro e ministro; é também prior da igreja oficial anglicana e escreveu dois livros sobre ética e negócios, um dos quais intitulado «Servir a Deus? Servir a Mamom?». O título do livro remete para o Novo Testamento. «Ninguém pode servir dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao Mamom». Mamom representa a riqueza, a avareza, o lucro, o tesouro. Encontramos esta palavra em aramaico, hebraico e fenício. Por vezes Mamom é usado como sinónimo de Satã. Quanto a Stephan Green, é elogiado pelas mais altas autoridades universitárias e é manifestamente intocável.

Passemos em revista alguns elementos da sua biografia. Começa a sua carreira no ministério britânico do Desenvolvimento Ultramarino, depois passa para o setor privado e trabalha para o consultor internacional McKinsey. Em 1982 é contratado pelo HSBC (Hong Kong Shanghai Banking Corporation), o mais imporrtante banco britânico, onde ascende rapidamente a funções de alta responsabilidade. Finalmente, em 2003, torna-se director executivo do HSBC e em 2006 acede à presidência do grupo, onde permanece até 2010.

As acusações feitas pelas autoridades americanas em matéria de lavagem de 881 bilhões de dólares do dinheiro dos cartéis da droga e de outras organizações criminosas dizem respeito ao período 2003-2010. Segundo o relato das 334 páginas tornadas públicas por uma comissão do Senado norte-americano em 2012, Stephan Green, desde 2005, foi informado por um empregado do banco que o HSBC tinha mecanismos de lavagem no México e levava a cabo múltiplas operações suspeitas. Ainda em 2005, a agência financeira Bloomberg, com sede em Nova Iorque, acusa o HSBC de lavagem de dinheiro da droga.

Stephen Green responde que se trata de um ataque irresponsável e sem fundamento, que põe em causa a reputação dum grande banco internacional acima de todas as suspeitas. Em 2008, uma agência federal norte-americana comunica a Stephen Green que as autoridades mexicanas descobriram a existência de operações de lavagem realizadas pelo HSBC México e uma das suas filiais num paraíso fiscal das Caraíbas («Cayman Islands Branch»). A agência acrescenta que a situação pode implicar uma responsabilidade penal para o HSBC.

A partir desse momento, as autoridades norte-americanas de controle dirigem repetidos avisos à direção do banco, muitas vezes aflorando a gravidade dos fatos. O banco promete alterar os seus comportamentos, mas na realidade prossegue as práticas criminosas. Finalmente os avisos dão lugar em Outubro de 2010 a um aviso para pôr termo às práticas ilegais. Em finais de 2012, após a apresentação pública do relatório da comissão senatorial e meses de debate entre diferentes agências de segurança dos EUA, é aplicada uma multa de 1900 milhões de dólares à HSBC.

Stephen Green está em boa posição para saber o que fazia o banco no México, nos paraísos fiscais, no Médio Oriente e nos Estados Unidos, pois além de dirigir o conjunto do grupo HSBC, dirigiu no passado o HSBC Bermudas (estabelecido num paraíso fiscal), o HSBC México, o HSBC Médio Oriente. Presidiu igualmente o HSBC Private Banking Holdings (Suíça) SA e o HSBC América do Norte Inc.

Quando veio a público, em 2012, que o HSBC teria de pagar uma considerável multa nos EUA por branqueamento de dinheiro dos cartéis da droga, Stephen Green já tinha passado de grande patrão do HSBC a ministro do governo conservador-liberal conduzido por David Cameron.

Voltemos um pouco atrás para descobrir que o timing seguido por Stephen Green foi perfeito. Coisa de artista. Em Fevereiro de 2010, publica o livro O Justo Valor: Reflexões sobre a Moeda, a Moralidade e Um Mundo Incerto. O livro é apresentado ao público nestes termos: «Será que alguém pode ser ao mesmo tempo uma pessoa ética e um homem de negócios eficaz? Stephen Green, simultaneamente sacerdote e presidente do HSBC, acha que sim.» Reparem que a «pessoa ética e o homem de negócios eficaz» são identificados com o «sacerdote e presidente do HSBC». A publicidade é patente. Na mesma época recebe o título de doutor honoris causa, concedido pela School of Oriental and African Studies (SOAS) da Universidade de Londres.

Em Outubro de 2010, pela segunda vez desde 2003, a justiça dos EUA avisa o HSBC para que ponha termo às suas actividades criminosas. O público ainda não está ao corrente. É tempo de Stephen Green abandonar o navio. Em 16 de Novembro de 2010, a pedido de David Cameron, é nobilitado pela rainha de Inglaterra e passa a ser o «barão» Stephen Green de Hurstpierpoint do condado do Sussex ocidental. Nada disto pode acontecer por acaso. Para um homem de negócios que permitiu o branqueamento de dinheiros dos «barões» da droga, trata-se duma bela promoção. À conta disso torna-se membro da Câmara dos Lordes em 22 de Novembro de 2011. Se lessem isto num blog, diriam certamente que o autor estava a exagerar.

Em Dezembro de 2010 demite-se da presidência do HSBC e em Fevereiro de 2011 sobe a ministro do Comércio e Investimento. Depois de empossado no cargo, coloca os seus bons serviços à disposição do patronato britânico, com o qual mantém relações muito frutuosas e estreitas, uma vez que desde Maio de 2010 ocupa o posto de vice-presidente da Confederação da Indústria Britânica.

Desempenha um papel igualmente importante na promoção de Londres, que se prepara para receber os Jogos Olímpicos em Julho de 2012. É durante esse mês que uma comissão norte-americana envia o seu relatório sobre a questão do HSBC. Stephen Green recusa responder às perguntas dos membros da Câmara dos Lordes em relação à sua implicação no escândalo. É protegido pelo presidente do grupo dos lordes conservadores, que diz que um ministro não tem de vir diante do Parlamento dar explicações sobre negócios estranhos ao seu ministério.

David Cameron afirmou em 2013 que lorde Green fez um «soberbo trabalho» ao intensificar os esforços do Governo britânico para reforçar as exportações britânicas, para fazer avançar os tratados comerciais e especialmente o tratado transatlântico entre a União Europeia e os EUA. Lorde Green esforçou-se muito para aumentar as vendas de armas britânicas nos mercados mundiais. Terminou o seu mandato de ministro em Dezembro de 2013 e dedicou o seu precioso tempo a dar conferências (certamente muito bem remuneradas) e a receber os favores propiciados por numerosas autoridades acadêmicas.

A sua carreira certamente não ficará por aqui. A sua hipocrisia não tem limites. Em Março de 2009, quando o HSBC estava metido até ao pescoço na lavagem de dinheiros de organizações criminosas, Green teve o descaramento de declarar, numa conferência de imprensa a propósito das responsabilidades na crise iniciada em 2007-2008: «Estes acontecimentos evocam a questão da ética do sector financeiro. Dá a impressão que, muito frequentemente, os responsáveis não se perguntam se as suas decisões são correctas e apenas se ralam com a sua legalidade e conformidade aos regulamentos. É necessário que este sector retome o sentido da correcção ética como motor das suas actividades.» É assim que Stephen Green, vampiresco tubarão, navegando acima das leis, se dirige aos sabujos que vão pressurosos repercutir as suas belas palavras na grande imprensa.

Green e todos quantos organizaram o branqueamento de dinheiro no seio do HSBC devem responder pelos seus atos perante a justiça e ser condenados severamente, sofrer privação de liberdade e ser obrigados a realizar trabalhos de utilidade pública. O HSBC deveria ser encerrado e a direcção despedida. Em seguida o mastodonte HSBC deveria ser retalhado, sob controlo cidadão, numa série de bancos públicos de média dimensão, cujas missões seriam estritamente definidas e exercidas no quadro dum estatuto de serviço público.

Tradução: Rui Viana Pereira
Revisão: Maria da Liberdade
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

Urgente: Grupo Saravá está prestes a perder seu principal servidor! – por ANA



Urgente: Grupo Saravá está prestes a perder seu principal servidor! 
Comunicado:
PRIMEIRO ROUBO DE DADOS APÓS APROVAÇÃO DO MARCO CIVIL: ATAQUE POLICIAL À PRIVACIDADE PODE OCORRER DEPOIS DE EVENTO NETMUNDIAL.

Por conta de um processo que corre em segredo de justiça contra a Rádio Muda, a mais antiga rádio livre em operação no Brasil, o principal servidor do Grupo Saravá poderá ser apreendido nesta próxima segunda-feira, 28 de abril, às 13h.

A Rádio teve seus equipamentos apreendidos mais uma vez em 24 de fevereiro deste ano [1]. Na esteira desse processo, a procuradoria do Ministério Público Federal (MPF) prosseguiu o inquérito, desta vez mirando os dados disponíveis no site da rádio que possam identificar seus participantes. Uma requisição do MPF assinada pelo Procurador Edilson Vitorelli Diniz Lima formalizou o pedido.
O servidor do Grupo Saravá que está localizado na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, hospedava a plataforma radiolivre.org, incluindo o site da Rádio Muda – muda.radiolivre.org, e hospeda outros diversos projetos de pesquisa e de extensão, relacionados além da Unicamp a outras universidades públicas brasileiras.

O Saravá é um grupo de estudos que há dez anos oferece infraestrutura tecnológica, reflexão política e sistemas de comunicação autônomos e seguros de forma gratuita a grupos de pesquisa e movimentos sociais [2]. Em 2008 um dos seus servidores já foi apreendido e até hoje não foi devolvido [3].

Agora, em 2014, logo após a aprovação do Marco Civil da Internet [4] e a realização de uma conferência mundial sobre a internet na qual o Brasil tentou figurar como bastião da proteção da liberdade na internet, nos deparamos com mais uma tentativa de sequestro de dados, prejudicando a privacidade de projetos de pesquisas e o livre acesso a informações com o fechamento de listas de discussão, sites e ferramentas.

Julgamos desproporcional a quebra de sigilo de comunicação para os fins do inquérito do MPF. Ademais, o servidor não possui registros que possam identificar usuários/as como parte de sua política de privacidade [5].

Pedimos solidariedade a todos os grupos, indivíduos e instituições que lutam por uma sociedade e uma internet livre. Na próxima segunda-feira, 28 de abril, às 13h, haverá uma manifestação na frente do prédio do Centro de Processamento de Dados do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, todo apoio é bem vindo.

Pela internet, haverá manifestação em redes sociais e através do envio de mensagens de repúdio ao Ministério Público Federal. Hashtags: #SaravaLivre, #netmundial1984, #sarava, #privacidade, #OurNetMundial, #marcocivildainternet.

Exigimos a imediata interrupção das investidas policiais contra o servidor do Grupo Saravá e os dados dos/as usuários/as.

[2] Princípios do Saravá: https://www.sarava.org/pt-br/principios
[3] Sequestro do Saravá em 2008: https://www.sarava.org/pt-br/node/44

agência de notícias anarquistas-ana
Quase desperdício
Moscas sobre caquis podres
Só o sapo come.
Anibal Beça

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Para ir além do alimento-mercadoria - Por Juliana Dias

Para ir além do alimento-mercadoria.
Livro propõe alternativas a uma indústria alimentar que padronizou dietas, disseminou agrotóxicos e “aditivos”, reduziu comida a consumo e não venceu a fome

O sistema alimentar moderno transformou radicalmente a estrutura social, econômica, política e cultural das sociedades. Inspirada na lógica industrial, os objetivos estão centrados numa economia de baixo custo e grande escala, projetada com tecnologia e eficiência para oferecer “mais por menos” ao consumidor final. Essa equação se traduz em mais produtos na prateleira a um preço cada vez menor de produção, que beneficia exclusivamente os grandes fabricantes e redes varejistas multinacionais.

Em O Fim dos Alimentos (Editora Eevier, à venda na internet), o jornalista norte-americano Paul Roberts descortina o cenário da economia alimentar, com um panorama inédito que reúne subsídios para compreender sintomas que vão da obesidade ao declínio das refeições preparadas em casa. Nutrida por desigualdade e injustiça, esta economia reproduz um ciclo tendencioso e vicioso, em que a demanda do consumidor, seus desejos e interesses implacáveis são utilizados como justificativa para manter um modelo de produção, consumo e distribuição questionável.

A concorrência do setor varejista espreme ao máximo os lucros da cadeia produtiva para se manter no topo da preferência de seu cliente. Este cliente, por sua vez, parece também ter sido moldado geneticamente, culturalmente e socialmente para absorver mais calorias em nome da conveniência e da falta de tempo que o próprio sistema o enreda. Quanto menos tempo se tem para cuidar da alimentação, mais as empresas alimentícias lucram com inovações que facilitam um estilo de vida em que o trabalho ocupa a maior parte do dia e cada vez exige mais, assim como a cadeia produtiva precisa ser cada vez mais eficiente.

A antropóloga Mary Douglas, no livro O Mundo dos Bens (Editora UFRJ, à venda na internet) supõe que a capacidade essencial do consumo é dar sentido. Trata-se de um sistema de significação, e a verdadeira necessidade que supre é a simbólica. Para cumprir com excelência tal missão, as verbas de marketing e publicidade dão conta de explorar a experiência alimentar, abarcando os valores de uma cultura ou sociedade. A culpa, a insegurança e a vida corrida ganham significado no ato de consumir. No final das contas, quem ganha com tanto tempo e energia desprendidos em prol de um modelo capitalista que consome, esvazia?

Roberts indica um caminho em que gigantes como a Nestlé e o Mc Donald’s mais parecem maquinar contra a humanidade, exaurindo suas forças, como se as pessoas e os recursos fossem infinitos, ou substituíveis infinitamente.

A industrialização da refeição começa no campo epistemológico ao conceituar alimento como mercadoria, sem considerar, como aponta o autor, que o alimento em si não é fundamentalmente um fenômeno econômico. “O produto subjacente – o que comemos – nunca na verdade se conformou aos rigores do modelo industrial moderno”. No entanto, a crise alimentar, ele alerta, é fundamentalmente econômica. A partir desta constatação, podemos pensar nas outras dimensões em que essa crise atinge, como a perda do saber e fazer tradicionais. O jornalista sugere que as relações familiares, a identidade cultural e diversidade ética estavam intimamente relacionadas com o ato de preparar e consumir comida. Agora, esta função está a cargo de grandes corporações.
As culturas alimentares que tratavam a culinária como elemento central para a manutenção da estrutura social e da tradição estão lentamente sendo trocadas por uma cultura alimentar globalizada. “A refeição social é obsoleta e a arte da cozinha é feitichizada em livros de receitas e programas culinários”.

Os alimentos foram dissecados em sua essência e transformados em insumos. O dicionário Houaiss define o verbete como “bem utilizado ou transformado em outros produtos pelo processo produtivo de uma empresa; ou fator de produção”. A etimologia traz a ideia de “tomar, invadir; despender, gastar”. Exatamente como faz a marcha da economia alimentar.

Roberts explica que o alimento é tão impróprio à produção em massa que tivemos de reengendrar plantas e animais para torná-los mais eficientes economicamente. E para corrigir os efeitos colaterais, ergueu-se uma indústria de medicamentos, flavorizantes, aditivos e fertilizantes em prol da qualidade, percebida na textura e no sabor de quem compra. Tudo pode ser constituído. O crescimento desproporcional dos frangos compromete a umidade da carne, por isso, injeções de salmora e outras substâncias garantem o aspecto natural. Todo o esforço da indústria está em parecer caseiro, artesanal e natural, como se estivesse sido feito em casa, na hora. Em nome dessa naturalidade, a saúde das plantas, dos animais, do solo e do homem podem estar ameaçadas.
A indústria construiu uma reputação baseada na capacidade de produzir comida suficiente para abastecer a população com segurança. Com a análise de Roberts, observamos que esta relação de confiança é sustentada com altos investimentos em tecnologia, mas que não são suficientes para impedir práticas fraudulentas – como colocar carne de cavalo em lasanhas, hambúrgueres e kebabs no Reino Unido; e adicionar ureia no leite do Rio Grande do Sul, ambos acontecimentos do primeiro semestre de 2013. Para o autor, o mais grave é que apesar de toda eficiência e abundância, o sistema alimentar moderno não chegou nem perto de erradicar a fome. Roberts suspeita que “há algo de muito errado quando ninguém é produtor, quando ninguém é cozinheiro, e quando o mais próximo que se chega de produzir uma refeição é no buffet de restaurante a quilo”.

A economia alimentar cresceu num contexto da Segunda Guerra Mundial e Revolução Industrial. Aliou-se a fome com a vontade de comer. Num primeiro estágio, a produção industrial caiu como uma luva, era sinal de fartura e progresso. Mas esta máquina alimentar já indica sinal de desgastes. Esta iminente crise será a mais problemática porque a produção ocorre num contexto global, onde os custos são mais baixos. Entretanto, torna-se vulnerável às intempéries como meios de transportes ou capacidade de exportadores. Outro fator apontado no livro é a resistência à mudança. Por isso, sua manutenção depende de investimento contínuo em produção. Por ser tão bem arranjado, uma mudança genuína deve partir de fora da lógica predominante. Caso contrário, as alternativas são incorporadas e reinventadas, como os alimentos orgânicos e os produtos saudáveis. Ademais, a propaganda de bom preço e qualidade esconde muitos dos verdadeiros custos. Os consumidores, peça-chave que roda essa engrenagem demonstra pouca inclinação a prestar mais atenção ao que come.

Roberts cita iniciativas em prol de um modelo alternativo, como levar a agricultura aos ambientes urbanos, comida de verdade nos refeitórios da escola e técnicas culinárias na sala de aula. No Brasil, a Lei de Alimentação Escolar (11.497) determina que a Educação Alimentar e Nutricional perpasse o currículo e o processo de ensino-aprendizagem. Diante do panorama exposto, os educadores deveriam tomar parte na discussão sobre o sistema alimentar, considerando não apenas a saúde, mas a complexidade que esta economia engendra. Faz-se necessário uma narrativa abrangente, interdisciplinar e transdisciplinar sobre o que se come, que pode se construída na base da educação, assim como a indústria busca novos consumidores desde o ventre materno. Nos três primeiros capítulos, o livro trata de três grandes mudanças na relação de produção, distribuição e consumo.

Fome de progresso
O autor inicia a obra situando o leitor a respeito da evolução do homem em busca de alimentos. A carne e, posteriormente a agricultura, foram cruciais para desenvolvimento humano e fixação na terra. Desde os primórdios da sociedade, a segurança alimentar se apresentou como uma questão militar e política. A capacidade de produzir grãos caminha com o incremento na produção de carne. A partir de 1500 e 1700 a redescoberta da carne teve papel fundamental para o crescimento da população mundial. Durante séculos, a fome destruiu de forma eficaz a capacidade mental, social e produtiva de populações inteiras. A constante ameaça da escassez versus o crescimento populacional impulsionou inovações e tecnologias, que afastaram o fantasma da fome; e ampliou a baixa estatura provocada pela desnutrição.

Na visão do autor, o globalismo, ou o sistema alimentar internacional foi gerado sob a ideologia do livre-comércio. A fome transformou o alimento em mercadoria e desencadeou uma abundante produção de comida. Os Estados Unidos, berço desta superabundância, o congresso criou um vasto sistema de apoio a produção de alimentos. Segundo o economista de Havard Ray Goldberg, o sistema foi “o maior serviço de utilidade quase-pública do mundo”.

A padronização tornou-se um princípio norteador da produção. Em nome desse padrão de qualidade, o alimento é esmiuçado, descaracterizado e reconstituído. O agricultor moderno concentrou seus esforços em uma só cultura, como milho e soja, base para uma infinidade de produtos; ou espécie de gado. Em 1957, Goldberg e John Davis sugeriram o termo agronegócio (conjunto de operações da cadeia produtiva, do trabalho agropecuário até a comercialização/Houaiss) ao invés de agricultura (trabalho do campo, arte de cultivar).
Conforme o jornalista “a uniformidade e a especialização haviam sido os marcos da economia alimentar moderna em seus primórdios; a consolidação e a desigualdade seriam seu legado mais duradouro”.

É muito fácil hoje
A etapa seguinte da economia alimentar foi protagonizada pelos fabricantes de alimentos. O agronegócio resultou em menos gastos para os consumidores; e os produtos de conveniência resultaram em menos tempo gasto no preparo das refeições. A Nestlé é o principal exemplo de Roberts por ser a líder mundial da indústria alimentícia; e ser alvo de inúmeras polêmicas. Nas sociedades industrializadas, o tempo se converteu em uma valiosa mercadoria. Empresas como a suíça Nestlé passaram a atender, além da demanda de preço, a praticidade. A fabricação de alimentos se enfileirou na esteira do modelo fabril e automobilístico, com grande volume, padronização e variedade. Interessante destacar que o paladar é conservador. O historiador Enrique Renteria (2007) afirma que essa importância dada à alimentação é surpreendente visto que é na escolha do que comemos que mostramos menos ousadia. Da mesma forma, Roberts ressalta que o sucesso de empresas como a Nestlé e o Mc Donald’s assinala um dos desenvolvimentos mais radicais e potencialmente inquietantes da história da economia alimentar, pois os seres humanos são de fato inerentemente “conservadores em se tratando de alimentos”.

O sistema de produção, distribuição, divulgação e consumo de alimentos ganhou terreno à medida que o comensal perdeu a capacidade de preparar e entender sua própria comida. Tem o mérito de instigar o apetite por novidades embaladas e com rótulos indecifráveis. As mudanças na forma de comer foram acolhidas ou consideradas como um mal necessário, pois permitiu o controle maior do tempo. Mas ao longo do processo de industrialização do comer os consumidores se mostram cada vez mais dispostos a aceitar produtos sintéticos ou processados. E para convencer o cliente desta “necessidade” a publicidade e o marketing são ostensivos. O autor informa que a indústria alimentícia americana gasta cerca de US$ 33 bilhões por ano, atrás apenas do setor automobilístico. Além da comunicação, o setor investe em analistas de diversas áreas como antropologia e psicologia. Até 2030, a previsão do tempo de cozinha ideal deve ficar entre 5 a 15 minutos. O futuro do alimento, adverte Roberts, é ser um acessório. O sucesso desse modelo se baseia no declínio contínuo da refeição à mesa como uma parte significativa da cultura.

A multidimensionalidade da alimentação (Fischler, 1995) é reduzida a uma mercadoria, desprovida de sua essência, mas enxertada de sentido para consumidor, com informações angariadas em pesquisas de comportamento. O relatório anual do Mc Donald’s, de 1994, avalia que se deve monitorar as mudanças nos estilos de vida dos consumidores e intercepta-los a cada vida. Não é tão difícil monitorar quando as relações também se tornam padronizadas e previsíveis; e a agenda de compromissos abarrotada é uma angústia universal.

Compre um e leve outro grátis
A terceira etapa da cadeia produtiva alimentar é ainda mais cruel e espreme produtores e fabricantes contra suas margens de lucro. Quem dá as cartas são as grandes redes varejistas com operações internacionais. Na liderança está o Wal-Mart, tão demonizado quanto a Monsanto, a Nestlé e o Mc Donald’s. Os fornecedores escolhidos são obrigados a praticamente zerar o lucro para entregar produtos com qualidade, uniformidade e volume. Qualquer irregularidade, isso inclui verduras e legumes, os alimentos/produtos são devolvidos e o fornecedor descredenciado. O Wal-Mart inovou a oferecer descontos diários a sua clientela. Para isso, reduziu os estoques internos, pressionou fabricantes que por sua vez cobraram mais eficiência dos produtores. Em troca, o volume de vendas em contraponto com uma necessidade constante de inovação e investimentos para manter a produção em patamares elevados. “A cultura alimentar é definida pelo preço, com base no valor intrínseco e no tamanho da porção e num sistema de produção global tão enxuto e just in time que é ao mesmo tempo propenso a sofrer contratempos”, afirma o autor, se referindo a exigência de perfeição. Os processadores de carne foram as primeiras vítimas do grande aperto varejista. Daí para se obter frangos em 40 dias foi uma trajetórias de demandas baseadas em custo e eficiência. Entretanto, os mercados mais promissores estão nos países emergentes e em desenvolvimento, que enfrentam desafios em termos de segurança alimentar, bem como de estrutura como ferrovias, depósitos e infraestrutura para distribuição de produtos. Até quando a pressão por preço vai nortear a produção, a distribuição e o consumo, quando estamos lidando com mercadorias forjadas a partir de recursos finitos, como o solo, a água, os animais?

do site Malagueta

Fonte: http://outraspalavras.net/