sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O Horror Sionista continua promovendo seu Holocausto moderno!

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"O que Israel está fazendo com os palestinos é muito pior do que o apartheid sul-africano”. – por Katarina Peixoto

"O que Israel está fazendo com os palestinos é muito pior do que o apartheid sul-africano”.
Para Ronnie Kasrils, Israel só vai parar com o expansionismo e com a opressão de fora para dentro. “Um movimento de solidariedade internacional aos palestinos tem um papel muito importante. Foi assim que nós derrubamos o apartheid. Nós tínhamos razão. Levou tempo, mas Leclerc teve de libertar Mandela e dizer ‘vamos conversar’, que era o que nós dizíamos que tinha de ser feito. "Eu acredito que este é o aspecto mais importante da luta em solidariedade ao povo palestino. É preciso denunciar os assentamentos, mas é preciso boicotar, também. É preciso constrange-los materialmente, economicamente”, defendeu.

Ele tem 73 anos e nasceu numa comunidade judaica de Joanesburgo, formada por fugitivos do extermínio em Vilna e em Riga, na Lituânia, no início do século XX. Aos 9 anos, numa sessão de cine-notícias entre filmes, viu as imagens que começavam a circular, no mundo, dos campos de concentração nazistas. Voltou para casa e perguntou a sua mãe, a quem diz dever a sua consciência frente à opressão e à intolerância, se o que acontecia na sua vizinhança e no seu país, com a população negra, era a mesma coisa. Se a pobreza, a humilhação e a segregação a que estavam condenados pelos brancos era a mesma coisa que, no cine-notícia que acabara de ver, chamaram de antissemitismo. “A minha mãe, que não era uma intelectual, cuja família tinha uma delicatessen, mas que frequentou a escola até os 16 anos, disse que não, que não era a mesma coisa. Mas que aquilo que eu tinha visto e que tinha acabado de acontecer com o nosso povo na Europa tinha começado dessa mesma maneira que eu descrevera, ali (na África do Sul)”. Esse é o tipo de coisa que Ronnie Kasrils começa a contar, assim que senta na mesa e pede que nos apresentemos, para uma conversa com alguns dos mais proeminentes participantes do Fórum Social Mundial Palestina Livre, que começa nesta quinta (29) e vai até domingo, em Porto Alegre.

Ronnie
, ou “Ronaldo”, como ele gosta de se chamar, aqui, é um homem extraordinário e um sujeito adorável. Parece muito mais jovem, talvez pela exuberância, talvez pela natureza de seu compromisso moral com o mundo. É muito raro, quando se trata da questão palestina, que algum militante abra sorrisos tão largos e demonstre tamanho otimismo, como o faz Kasrils, um escritor, ativista, ex-ministro de estado da África do Sul pós-apartheid e membro do Tribunal Russell para a Palestina. Ele começou a falar de sua vida, de suas trajetórias e de suas escolhas. É difícil de acreditar, mas Kasrils, aos dez anos, fez parte do Betar, o movimento da juventude sionista criado por Ze'ev Jabotinsky, o pai do revisionismo sionista, um movimento de extrema direita, que defende o que chamam de Israel bíblica, algo que hoje implicaria a incorporação da Síria, do Líbano, da Jordânia e do norte do Egito. Ronnie contou esse fato pitoresco rindo, para em seguida deixar claro: “Éramos muito influenciados por um professor, que estimulava um sentimento de violência e de conflito, inclusive entre nós, e mesmo físico, como se isso nos fortalecesse, como um projeto pedagógico. Éramos meninos, tínhamos pouco mais de dez anos, mas entendemos que ele era doente. Era um louco”. O seu engajamento no Betar se desfez com essa descoberta e também com a entrada no ensino médio, num colégio da elite branca, onde conheceu um professor história, Teddy Gordon, também judeu, que lhe ensinou sobre a Revolução Francesa.

É difícil descrever à altura o brilho nos olhos do sul-africano, quando falou de seu professor, a quem atribui a mudança mais definitiva na sua vida. Ronnie Kasrils é um homem poderoso e mundialmente conhecido, pegou em armas com Mandela, foi ministro de estado, mas quem mudou a sua vida, em termos políticos, foi o professor de história que lhe deu aula sobre um acontecimento chamado Revolução Francesa. “Eu era, até então, um péssimo aluno, eu era um atleta, não era da ala dos intelectuais, como Richard Goldstone, que era meu colega. Mas quando esse professor começou a dar aula eu me tornei o melhor aluno, e saí do colégio de maneira promissora”, disse, sorrindo, convincente. Kasrils tem aquela capacidade rara de nos ensinar a mirar a história com ganas de atribuir-lhe sentido e com a confiança em tal coisa. A escolha por nos contar essa história, essa pequena parte dela, era uma operação deliberada e ao mesmo tempo refinada. Era como se ele estivesse nos dizendo: olha aqui, gurizada, eu passei a levar a sério um ponto de vista universalista e é deste ponto de vista que eu estou aqui.

A ligação com a esquerda judaica e a luta contra o apartheid sul-africano

“Mas eu também saí do Betar por uma outra razão”, conta, rindo. “As meninas do Habonim Dror eram muito mais bonitas” e, na época, Kasrils não era exatamente um militante da esquerda judaica socialista, que buscava criar um lar nacional judaico a partir da cultura e da educação e da vida kibutziana.

“O que me tornou de esquerda foi o massacre de Shaperville, de março de 1961, em que 69 militantes pacifistas negros foram mortos e centenas ficaram feridos. Ali eu tomei a decisão de que iria fazer alguma coisa. A minha família nunca foi militante, de esquerda, mas eu tinha um tio na Cidade do Cabo que era advogado e comunista. Eu peguei um ônibus e fui para a casa dele. Cheguei lá e disse: eu quero me juntar a vocês”. Ele nos olha bem sério, encosta-se na cadeira, abre um sorriso e completa: “Então foi assim que eu comecei. Eu tinha de pôr em contato os núcleos da resistência ao apartheid, os membros dos partidos comunistas, da esquerda. E o meu tio estava isolado, noutra cidade. Eu disse que iria fazer isso. E fiz”.

Quando Mandela convocou à luta armada, após os acontecimentos de Shaperville, Kasrils se juntou a ele. Treinou na União Soviética, recebeu formação militar e esteve em vários países africanos, quando se tornou chefe de inteligência militar do movimento Lança de Uma Nação, o braço armado do Congresso Nacional Africano, liderado por Nelson Mandela. Passou cinco anos na cadeia, perdeu o emprego como executivo de uma empresa de telefonia, foi perseguido e banido da comunidade branca sul-africana. E se tornou ministro de estado da África do Sul pós-apartheid. Foi então que se voltou para a questão palestina.

A luta contra o apartheid israelense

Com o fim do apartheid e a primeira eleição democrática da África do Sul, Kasrils se tornou ministro de estado. E, depois do ministério da defesa, foi nomeado ministro para assuntos de água e florestas, de 1999-2004. Nesse período, ocorreu a segunda intifada e o muro de anexação de territórios palestinos, pelo então governo de Ariel Sharon, começou a ser erguido, anexando territórios palestinos para construir assentamentos, esmagando casas e vilas palestinas, segregando bairros, vilas e famílias, dividindo a região e instaurando um sistema identificado pelo sul-africano como muito mais hostil que o apartheid sul-africano. Em 2001 ele redigiu a “Declaração de Consciência de Sul-Africanos Judeus”, contra as políticas israelenses nos territórios palestinos ocupados. Passou a ser acusado de antissemita, pela direita judaica local, e viajou para a Cisjordânia, como ministro para assuntos de água e florestas. Lá conheceu Jamal Juma, que dava início ao movimento de resistência não violenta Stop the Wall.

O que você defende como solução, os dois estados, as fronteiras da linha verde, um só estado para dois povos? Eu perguntei e isso parece não ter ecoado como uma questão a ser respondida. Kasrils olha para mim e diz que Israel só vai mudar, só vai parar com o expansionismo e com a opressão de fora para dentro. “Um movimento de solidariedade internacional aos palestinos tem um papel muito importante. Foi assim que nós derrubamos o apartheid. Nós tínhamos razão. Levou tempo, mas Leclerc teve de libertar Mandela e dizer ‘vamos conversar’, que era o que nós dizíamos que tinha de ser feito. Mas é preciso constranger economicamente, não apenas politicamente. O programa de Desinvestimento e de Boicote significou o começo do fim do apartheid e nós terminamos vencendo. Eu acredito que este é o aspecto mais importante da luta em solidariedade ao povo palestino. É preciso denunciar os assentamentos, mas é preciso boicotar, também. É preciso constrange-los materialmente, economicamente”, defendeu. Para Kasrils, o fato de que em Israel os cidadãos palestinos são cidadãos de segunda classe, com direitos limitados e sem o grau de liberdade civil dos israelenses configura apartheid. “No regime do apartheid, diante de um mestiço que não se sabia ao certo se era negro ou não, passavam um pente para ver se iria ou não deslizar sobre o cabelo. Caso o pente parasse, a pessoa iria para os setores dos negros”.

Em Israel não é assim, mas não precisa ser, lembrou. Há um muro que consegue separar as sociedades, anexando territórios dos palestinos, mas que afasta completamente os dois povos, promovendo limpeza étnica e criando “coisas como rodovias em que só judeus podem trafegar. Isso é uma violência que nem o apartheid sul-africano cometeu. O que o estado de Israel está fazendo com os palestinos é muito pior do que aquilo que acontecia no apartheid sul-africano”, concluiu.

O Fórum vai de 29 de novembro a 01 de dezembro e tomará conta da Rua dos Andradas, no centro de Porto Alegre. Confira programação aqui: www.wsfpalestine.net
Fotos: Carlos Carvalho

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Vítima da invasão humana: Conheça a incrível história do elefante que descarrilou um trem para defender seu rebanho - Por Stephen Messenger (Care2)

Vítima da invasão humana: Conheça a incrível história do elefante que descarrilou um trem para defender seu rebanho
Foto: Reprodução/Care2

No século XIX, época em que começou a expansão urbana contínua em terras selvagens, não faltaram exemplos para destacar a luta entre o mundo natural e o mundo que os seres humanos se esforçaram para construir, e alguns dos exemplos mais angustiantes destas lutas provavelmente foram perdidos através do tempo. Felizmente, não este. As informações são da Care2.

Nos últimos anos, Ky Cheah, de 68 anos de idade, mantém um blog no qual registra memórias de sua infância quando cresceu em Teluk Anson, na Malásia. E enquanto todos esses fatos pessoais serão, sem dúvida, valorizados por sua família e pelas gerações vindouras, estamos todos com sorte pelo fato de uma história oral, em especial, ter sobrevivido sob sua administração.

Cheah escreve que, um dia, quando ainda era um menino e procurava castanhas perto de trilhos antigos na sua cidade, ele se deparou com uma placa misteriosa que dizia: “Está enterrado aqui um elefante selvagem que, em defesa de seu rebanho, descarrilou um trem no dia 17 de setembro de 1894″.

O jovem, muito curioso para conhecer os detalhes que cercavam o incidente, foi procurar por pessoas que estavam vivas no momento para falar sobre o caso, e ouviu muitas histórias sobre o triste episódio do elefante que se suicidou nos trilhos do trem.

Rumores diziam que ele estava buscando vingança por um bezerro morto anteriormente pelo mesmo trem, enquanto outros alegaram que ele estava apenas defendendo seu rebanho do “novo inimigo” que invadiu seu domínio.

A ferrovia ligando Teluk Anson a Tapah foi concluída em 1893 e seu ruído diário através da selva anunciava a ameaça ao habitat dos gigantes e gentis elefantes.

As pessoas contaram que o maquinista não pode fazer nada porque o elefante havia ficado desafiadoramente sobre os trilhos do trem e se recusou a ceder, apesar da assovio alto do trem que se aproximava em sua direção. O animal era muito grande e mais alto do que o “Cavalo de Ferro”, e colidiu com ele na cabeça a 80 km/h. O impacto descarrilou a locomotiva e três vagões.

Em seu blog, Cheah convida outras pessoas a acrescentar mais para a notável história do heroico elefante, mas parece que só a ele restou a responsabilidade de registrar essa história para a posteridade. Felizmente, junto com a história oral, uma velha fotografia granulada confirma que o fato realmente ocorreu.

Cheah suspeita que o humilde marcador do túmulo do elefante tenha sido absorvido pela selva. “Não importa”, diz ele. “Uma selva prosperando de novo talvez seja o maior monumento de todos”.
Este post foi publicado originalmente por Stephen Messenger, pela TreeHugger.

Tradução por Patrícia Tai (da Redação)

Castells vê "expansão do não-capitalismo" - por Paul Mason

Castells vê "expansão do não-capitalismo"
Culturas econômicas alternativas teriam sido reforçadas pela crise. Mas sociólogo adverte: sistema não entrará em colapso por si mesmo

O professor Manuel Castells é um dos sociólogos mais citados no mundo. Em 1990, quando os mais tecnologicamente integrados de nós ainda lutavam para conseguir conectar seus modens, o acadêmico espanhol já documentava o surgimento da Sociedade em Rede e estudava a interação entre o uso da internet, a contracultura, movimentos de protesto urbanos e a identidade pessoal.
Paul Mason, editor de notícias econômicas da rádio BBC, entrevistou o professor Castells na London School of Economics (Escola de Economia de Londres) sobre seu último livro, “Aftermath: The Cultures of Economic Crisis” (“Resultado: as Culturas da Crise Econômica”), ainda sem tradução para português.

Castells sugere que talvez estejamos prestes a ver o surgimento de um novo tipo de economia. Os novos estilos de viver dão sentido à existência, mas a mudança tem também um segundo motor: consumidores que não têm dinheiro para consumir.

São práticas econômicas não motivadas pelo lucro, tais como o escambo, as moedas sociais, as cooperativas, as redes de agricultura e de ajuda mútua, com serviços gratuitos – tudo isso já existe e está se expandindo ao redor do mundo, diz ele. Se as instituições políticas vão se abrir para as mudanças que acontecem na sociedade – é cedo para saber. Seguem trechos da conversa.

O que é surgimento de novas culturas econômicas?
Quando menciono essa Cultura Econômica Alternativa, é uma combinação de duas coisas. Várias pessoas têm feito isso já há algum tempo, porque não concordam com a falta de sentido em suas vidas. Agora, há algo mais — é a legião de consumidores que não podem consumir. Como não consomem — por não terem dinheiro, nem crédito, nem nada — tentam dar sentido a suas vidas fazendo alguma coisa diferente. Portanto, é por causa das necessidades e valores — as duas coisas juntas — que isso está se expandindo.

Você escreveu que as economias são culturais. Pode falar mais sobre isso?
Se queremos trabalhar para ganhar dinheiro, para consumir, é porque acreditamos que comprando um carro novo ou uma nova televisão, ou um apartamento melhor, seremos mais felizes. Isso é uma forma de cultura. As pessoas estão revertendo essa noção. Pelo contrário: o que é importante em suas vidas não pode ser comprado, na maioria dos casos. Mas elas não têm mais escolha porque já foram capturadas pelo sistema. O que acontece quando a máquina não funciona mais? As pessoas dizem “bem, eu sou mesmo burro. Estou o tempo todo correndo atrás de coisa nenhuma”.

Qual a importância dessa mudança cultural?
É fundamental, porque desencadeia uma crise de confiança nos dois maiores poderes do mundo: o sistema político e o financeiro. As pessoas não confiam mais no lugar onde depositam seu dinheiro, e não acreditam mais naqueles a quem delegam seu voto. É uma crise dramática de confiança – e se não há confiança, não há sociedade. O que nós não vamos ver é o colapso econômico per se, porque as sociedades não conseguem existir em um vácuo social. Se as instituições econômicas e financeiras não funcionam, as relações de poder produzem transformações favoráveis ao sistema financeiro, de forma que ele não entre em colapso. As pessoas é que entram em colapso em seu lugar.

A ideia é que os bancos vão ficar bem, nós não. Aí está a mudança cultural. E grande: uma completa descrença nas instituições políticas e financeiras. Algumas pessoas já começam a viver de modo diferente, conforme conseguem – ou porque desejam outras formas de vida, ou porque não têm escolha. Estou me referindo ao que observei em um dos meus últimos estudos sobre pessoas que decidiram não esperar pela revolução para começar a viver de outra maneira – o que resulta na expansão do que eu chamo de “práticas não-capitalistas”.

São práticas econômicas, mas que não são motivadas pelo lucro – redes de escambo, moedas sociais, cooperativas, autogestão, redes de agricultura, ajuda mútua, simplesmente pela vontade de estar junto, redes de serviços gratuitos para os outros, na expectativa de que outros também proverão você. Tudo isso existe e está se expandindo ao redor do mundo.

Na Catalunha, 97% das pessoas que você pesquisou estavam engajadas em atividades econômicas não-capitalistas.

Bem, estão entre 30-40 mil os que são engajados quase completamente em modos alternativos de vida. Eu distinguo pessoas que organizam a vida conscientemente através de valores alternativos de pessoas que têm vida normal, mas que têm costumes que podem ser vistos como diferentes, em muitos aspectos. Por exemplo, durante a crise, um terço das famílias de Barcelona emprestaram dinheiro, sem juros, para pessoas que não são de sua família.

O que é a Sociedade em Rede?
É uma sociedade em que as atividades principais nas quais as pessoas estão engajadas são organizadas fundamentalmente em rede, ao invés de em estruturas verticais. O que faz a diferença são as tecnologias de rede. Uma coisa é estar constantemente interagindo com pessoas na velocidade da luz, outra é simplesmente ter uma rede de amigos e pessoas. Existe todo tipo de rede, mas a conexão entre todas elas – sejam os mercados financeiros, a política, a cultura, a mídia, as comunicações etc –, é nova por causa das tecnologias digitais.

Então, nós vivemos numa Sociedade em Rede. Podemos deixar de viver nela?

Podemos regredir a uma sociedade pré-eletricidade? Seria a mesma coisa. Não, não podemos. Apesar de agora muitas pessoas estarem dizendo “por que não começamos de novo?” É um grande movimento, conhecido como “decrescimento”. Algumas pessoas querem tentar novas formas de organização comunitária etc.

No entanto, o interessante é que, para as pessoas se organizarem e debaterem e se mobilizarem pelo decrescimento e o comunitarismo, elas têm que usar a internet. Não vivemos numa cultura de realidade virtual, mas de real virtualidade, porque nossa virtualidade – significando as redes da internet – é parte fundamental da nossa realidade. Todos os estudos mostram que as pessoas que são mais sociáveis na internet são também mais sociáveis pessoalmente.

Existem diversos grupos que hoje protestam sobre o assunto A, amanhã sobre o assunto B, e à noite jogam World of Warcraft (jogo RPG online de aventura). Mas será que eles vão conseguir o que Castro e Guevara conquistaram?

O impacto nas instituições políticas é quase insignificante, porque elas são hoje impermeáveis a mudanças. Mas, se você olhar para o que está acontecendo em termos de consciência… há coisas que não existiam três anos, como o grande debate sobre a desigualdade social.

Em termos práticos, o sistema é muito mais forte do que os movimentos nascentes… você atinge a mente das pessoas por um processo de comunicação, e esse processo, hoje, acontece fundamentalmente pela internet e pelo debate. É um processo longo, que vai das mentes das pessoas às instituições da sociedade. Vamos usar um exemplo histórico: a partir do fim do século XIX, na Europa, existiam basicamente os Conservadores e os Liberais, direita e esquerda. Mas então alguma coisa aconteceu – a industrialização, os movimentos da classe trabalhadora, novas ideologias. Nada disso estava no sistema político. Depois de vinte ou trinta anos, vieram os socialistas e depois a divisão dos socialistas… e os liberais basicamente desapareceram. Isso mudará a política, mas não por meio de ações políticas organizadas da mesma maneira. Por quê? Porque as redes não necessitam de organizações hierárquicas.

Onde isso vai dar?

Tudo isso não vai virar uma grande coalizão eleitoral, não vai virar nenhum novo partido, nenhum novo coisa nenhuma. É simplesmente a sociedade contra o Estado e as instituições financeiras – mas não contra o capitalismo, aliás, contra insitituições financeiras, o que é diferente.

Com esse clima, acontece que nossas sociedades se tornarão cada vez mais ingovernáveis e, em consequência, poderá ocorrer todo tipo de fenômeno – alguns muito perigosos. Veremos muitas expressões de formas alternativas de política, que escaparão das correntes principais de instituições políticas tradicionais. E algumas, é claro, voltando ao passado e tentando construir uma comunidade primitiva e nacionalista para atacar todos os outros movimentos e, finalmente, conseguir ter uma sociedade excluída do mundo, que oprime seu próprio povo.

Mas acontece que, em qualquer processo de mudança social desorganizada e caótica, todos esses fenômenos coexistem. E o modo como atuam uns contra os outros vai depender, em última análise, de as instituições políticas abrirem suficientemente seus canais de participação para a energia de mudança que existe na sociedade. Então talvez elas possam superar a resistência das forças reacionárias que também estão presentes em todas as sociedades.

Entrevista a Paul Mason | Tradução: Gabriela Leite | Imagem: Binho Ribeiro

Jamal Juma: sem o fim da ocupação, os palestinos farão uma terceira intifada – por Katarina Peixoto

Jamal Juma: sem o fim da ocupação, os palestinos farão uma terceira intifada
"O problema é a ocupação, esse é o maior dos problemas. A aprovação na ONU não vai mudar isso. A ONU fracassou, a comunidade internacional fracassou conosco”. Para ativista palestino, a continuação da ocupação e do expansionismo israelense está tornando uma terceira intifada inevitável.

Porto Alegre - Jamal Juma é um ativista que todos os que fazem parte do mundo do Fórum Social Mundial, em todos os continentes, conhecem. E admiram. Ele é coordenador de um movimento social de resistência não violenta à ocupação israelense, materializada no Muro de Anexação de territórios palestinos, o que começou a ser erguido há pouco mais de dez anos, na Cisjordânia. Sujeito tranquilo, pacifista intransigente, foi preso em fins de 2009 sob a acusação (ou seja, a falta dela) de que estaria plantando oliveiras e liderando marchas de protesto contra o Muro. Se tem alguma evidência do quanto a democracia israelense está corroída, é a prisão de Jamal: mais de dez dias numa sela com vômito e fezes, sem acusação formal, sem processo, pelo fato de ser um pacifista, isto mesmo, de resistir sem violência. A sua libertação se deu graças à pressão internacional mobilizada por Maren Mantovani, ativista italiana e coordenadora de relações internacionais do Stop The Wall, que mora em Ramalah há dez anos. Foi preciso que sete embaixadores interviessem no Knesset, o parlamento israelense, para obrigar Israel a libertar o ativista.

Em janeiro de 2010, num vídeo, Jamal cumprimentou os participantes de uma das edições do FSM, em Porto Alegre . Ele tinha, então, acabado de sair da prisão. Estava abatido, mas sorridente. Nos Fóruns anteriores, ele parecia ainda mais otimista. Defendia que a única saída para os problemas oriundos do expansionismo sionista era a retomada da solução de um estado para dois povos, uma bandeira pacifista originária dos partidos comunistas europeus, na década de sessenta.

Ontem, aqui em Porto Alegre, Jamal parecia mudado. Ele chegou depois de nossa longa conversa com Ronnie Kasrils, sentou-se à mesa e começou imediatamente a falar. Disse que as coisas estavam muito piores, na região, que tinha havido recrudescimento, que Israel seguia de maneira incontrolada com os assentamentos, que a população estava sem esperanças. Perguntei-lhe sobre as expectativas para amanhã (hoje, dia 29/11), quando a Autoridade Nacional Palestina apresentará o projeto de reconhecimento da Palestina como estado observador, na Assembleia Geral das Nações Unidas, e tudo está a indicar que será reconhecida como tal.

“Não tenho expectativas. Não vai mudar nada. Não significa coisa alguma em relação à ocupação e ao muro. E o problema é a ocupação, esse é o maior dos problemas. A aprovação na ONU não vai mudar isso. A ONU fracassou, a comunidade internacional fracassou conosco”. Perguntei-lhe o que pensava sobre as declarações dos membros da diplomacia do Fatah, de que esse reconhecimento seria um primeiro passo para que Israel recue para as fronteiras da linha verde (1967), e ele foi enfático: disse que não acreditava nisso, que uma solução diplomática a partir da comunidade internacional iria demover Israel de sua política expansionista.

Não fiz a pergunta que gostaria de ter feito: a sua posição sobre a solução de dois estados mudou? Agora você defende dois estados, e não mais um só estado? Jamal tem razão em não responder a essas perguntas. “Eu estou aqui para discutir as condições de qualquer debate sobre estado, diplomacia, ONU, Lei Internacional, que Israel não cumpre, mesmo. Estou aqui para falar do que há de mais fundamental, que é o reconhecimento dos direitos do povo palestino”, disse Jamal, em tom grave.

Fracassos da diplomacia, intifadas e expansionismo israelenseSe o movimento diplomático não trará frutos quanto à ocupação e se a população está sem esperanças, sobretudo depois deste último ataque israelense a Gaza, não estaríamos diante de uma terceira intifada? Qual o risco de uma terceira intifada e qual seria a diferença desta intifada em relação às outras? A resposta veio na hora:

“Já estamos caminhando para a terceira intifada, é inevitável isso. A população não aguenta mais. Pagamos duas vezes o preço da água, que nos é racionada, de uma água que é nossa, de nosso território, que foi usurpado, enquanto os assentados vivem em abundância, alguns com piscina em casa, jogando água fora, pagando menos”. Ronnie Raskils, que estava sentado ao lado de Jamal, olha para mim e diz: “Isto é muito pior do que o apartheid. E repete: é inacreditável, mas é verdade. Eu vi com meus olhos, quando estive lá, como ministro”. Por que a proposta palestina na ONU é inútil? Jamal responde que o muro separou vilas, cidades, famílias, que desagregou comunidades inteiras, que recortou populações e que não é uma votação na ONU que vai desfazer o dano causado.

Comentei que a segunda intifada ocorreu há pouco mais de dez anos, quando também começou a instalação do muro de concreto em territórios ocupados. Observei a diferença fundamental entre a primeira e a segunda intifada e perguntei qual seria a característica dessa terceira intifada, que ele aponta como provável e de certa forma já em curso. “A primeira intifada foi um levante popular, e as crianças e adolescentes começaram a jogar pedras após a operação ‘quebra ossos’, comandada, preste atenção nisso, por Yitzhak Rabin. Os militares israelenses chegavam perto dos adolescentes e batiam em seus braços, quebrando os seus ossos, com o objetivo único de amedrontar, calar as bocas e aterrorizá-los. Estávamos em 1987 e a resposta não tardou, eclodiu a primeira intifada, que foi um levante sobretudo contra as lideranças locais, palestinas, que nada faziam diante dessa humilhação. A resposta israelense foi brutal: ataques aéreos sobre ruas cheias de gente, indiscriminadamente. Foi uma repressão tão violenta que sufocou o caráter popular das manifestações”.

Daí vieram os Acordos de Oslo, eu disse. Que Israel não cumpriu, porque não desocupou nada e, numa operação deliberada de provocação, Ariel Sharon deu início a segunda intifada, retrucou Jamal, mais ou menos com essas palavras. A segunda intifada foi caracterizada, do lado palestino, pela figura do homem bomba palestino, pelo fortalecimento do Hamas, sobretudo na Faixa de Gaza e pelo consequente enfraquecimento político do Fatah. Do lado israelense, a resposta à segunda intifada foi especialmente brutal: ataques aéreos em resposta às explosões dos homens bomba, sistematização da demolição de casas e da intensificação das construções nos assentamentos e a precarização e discriminação da cidadania dos árabes israelenses, sobretudo os moradores de Jerusalém. Mas o seu aspecto mais duradouro e medonho foi e segue sendo o erguimento do muro do apartheid, como os movimentos sociais palestinos e de solidariedade à resistência palestina passaram a chamar, e que Israel chama de Muro de contenção de terroristas.

São mais de 700 quilômetros de extensão, ladeados por uma faixa de 60 metros de largura, denominada unilateralmente de “zona de exclusão” e incorpora territórios palestinos. Vai sem dizer que, se os governos de Israel dizem a verdade, isto é, que o Muro é uma medida para contenção da infiltração de terroristas e homens-bomba, e não uma medida para anexar à força mais territórios palestinos, não tem justificativa moral para seguir nas construções ilegais, comportando-se como um estado pária em relação à comunidade internacional.

Segundo Jamal, de 2002 para cá, após a construção do muro de anexação, o que houve foi a intensificação dos assentamentos e das construções. Além do incentivo à imigração, do subsídio às construções de condomínios novos em territórios palestinos, um novo elemento foi introduzido, como que para dar suporte ideológico ao expansionismo: líderes, a maior parte rabinos, cujo papel é incentivar a crença teocrática no destino daqueles territórios. “Um dos rabinos, mostrando-se bastante compreensivo, chegou a dizer que os palestinos tinham feito um grande favor ao povo judeu, de cultivar aquelas terras e de prepara-las, para que, quando nós chegássemos, pudéssemos desfrutá-la. Isso foi obra de deus, disse ele”, ironizou o ativista palestino. Perguntei se a percepção de que Israel estaria fomentando uma espécie de “cinturão” de assentados fundamentalista procedia. “Não”, respondeu. Segundo Jamal, apenas 20% dos assentados são ortodoxos ou fundamentalistas. “O resto são imigrantes do Leste Europeu e da Rússia, que chegaram mais recentemente, empobrecidos e que se tornam cativos do discurso fundamentalista no mais das vezes para manter as suas casas, mas não significa que sejam religiosos. São trabalhadores, que foram incentivados a vir para Israel, a viver em nosso território como se fosse deles”.

O impacto da primavera árabe sobre a terceira intifadaE se a terceira intifada está por vir, se é inevitável que ecloda, qual seria a sua característica, em comparação com as outras duas? Fiz essa pergunta porque, entre a explosão da segunda intifada e a véspera da votação do reconhecimento da palestina como estado observador, na ONU, passaram-se mais de dez anos de Fóruns Sociais mundo afora e isso fortaleceu e disseminou a questão palestina , mobilizando organizações em todos os continentes, o que deu uma outra dimensão ao drama palestino e arregimentou muito mais apoio e solidariedade internacional. Eu perguntei mais ou menos isto: na segunda intifada, os palestinos não tinham vocês. Será que agora, dez anos depois, com a dimensão internacional que a questão palestina ganhou, não mudou nada? “Sim”, respondeu.

“Mudou muita coisa. Mas nós somos um povo que vive sob ocupação há cem anos”, respondeu, altivo. Nós aprendemos muito com a ocupação britânica, com as políticas colonialistas de dividir para conquistar, dos ingleses e, de sessenta anos para cá, com a brutalidade sionista, acrescentou Jamal. Foi como se tivesse me dito que não dá para olhar o drama dos palestinos com base nos últimos dez anos, que não é o movimento por ele também criado, não é a resistência pacífica e não violenta que explicariam, isoladamente, um processo de opressão, renegação e exclusão territorial de um século.

Ronnie Kasrils interrompe Jamal e pede que ele volte a falar do que seria a terceira intifada, de quais seriam, na sua opinião, as suas características. “Acredito que a terceira intifada, sobretudo após esse último ataque de Israel a Gaza, será mais parecida com a primeira, terá um caráter mais popular”. Marco Weissheimer então perguntou se a Primavera Árabe, que resultou na mudança de poder no Egito e na Tunísia, explicaria essa característica, de um levante mais popular, socialmente enraizado. Jamal responde que sim, a mudança no Egito e na Tunísia, que enviaram ministros a Gaza, logo que começou o ataque israelense a Gaza e ofereceram ajuda aos palestinos que vivem encarcerados a céu aberto, como lembrou, estabeleceu uma mudança importante no estado das coisas.

Os palestinos saíram do isolamento a que o próprio mundo árabe parece tê-los condenado, e isso implica mudanças nas ações políticas e de resistência não violenta, mas Jamal também mudou. Em contraste com o otimismo de Kasrils, o ativista palestino não demonstra otimismo com o dia de amanhã, para os palestinos.

Fotos: Carlos Carvalho

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Como sempre o Povo é enganado com o beneplácito da mídia – por Provos Brasil

Como sempre o Povo é enganado com o beneplácito da mídia
REUTERS/Nacho Doce

Hoje pela manhã ouvindo as rádios paulistas (CBN / ESTADÃO-ESPN / BANDEIRANTES) quase meu café da manha voltou “na Copa terá uma linha especial de trens da CPTM que atenderá o Estádio do Corinthians em 18 minutos”... o povo é besta mesmo!

Dizem na matéria que será uma “nova linha”, eu não sei mais quem eles querem enganar, os moradores da região Leste de São Paulo estão casados de saber que o transporte coletivo que os atente é um Lixo para dizer o mínimo.

Alguns já se esqueceram da corrida presidencial de 2010, na propaganda eleitoral (acho tão estranho essas matérias/imagens não serem vinculadas em nenhuma das campanhas dos adversários), o candidato José Serra dizia, isso em 2010, que o cidadão iria pegar o Metrô na estação Corinthians-Itaquera e que em 23 minutos estariam na nova estação (que até hoje não existe) da Vila Sônia as portas do Estádio do Morumbi.

Não vou ficar aqui nessa de “pão e circo”, mas torço com toda a força para que um dia o Povão abra os olhos e deixe de ser enganado por essa mídia e por esses políticos canalhas que infectam o nosso Brasil, essa será a “Copa dos Tolos”, reclamam de incentivos fiscais a região em torno de 400 milhões de reais, e tem praças em São Paulo sendo restauradas que custam a metade, vai saber...

O transporte coletivo Paulista é o mais caro e um dos piores, quem utiliza os ônibus, trens e metrôs sabem bem o que é isso, e quando avistarem esses Canalhas por perto, mostre sua Indignação.

Como sempre os que dizem sobre transportes coletivos não fazem uso do mesmo, tudo fica na propaganda, tudo é limpo, claro, organizado e funciona, mas só na TV!

Provos Brasil

Bancada evangélica e a "cura gay" - por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff 

Eduardo Galeano: “Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?”

Eduardo Galeano: “Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?”
O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de “danos colaterais”, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez “danos colaterais”, três são crianças.

Para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe pretextos. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, acabará por multiplicá-los.

Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma armadilha sem saída, desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições em 2006.

Algo parecido havia ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e, desde então, viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que foram palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há muitos anos, o direito à existência da Palestina.

Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel está apagando-a do mapa. Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam a pilhagem, em legítima defesa.

Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços seguem. O apetite devorador se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que burla as leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros.

Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não conseguiu bombardear impunemente ao País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico pôde arrasar a Irlanda para liquidar o IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência manda chuva que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?
O exército israelense, o mais moderno e sofisticado mundo, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de “danos colaterais”, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez “danos colaterais”, três são crianças. E somam aos milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando com êxito nesta operação de limpeza étnica.

E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense. Gente perigosa, adverte outro bombardeio, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos convidam a crer que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada “comunidade internacional”, existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos adotam quando fazem teatro?

Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial se ilumina uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.

Diante da tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E, como sempre, os países europeus esfregam as mãos. A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama alguma que outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caçada de judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antissemitas. Eles estão pagando, com sangue constante e sonoro, uma conta alheia.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

"Eu Apoio a Causa Indígena" - por Latuff

http://www.causaindigena.org

Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

FSM Palestina Livre anuncia atividades!

FSM Palestina Livre anuncia atividades

Organização divulga mensagem de boas-vindas, programa de conferências e eventos auto-gestionados.
Bem-vindas/os ao Fórum Social Mundial Palestina Livre!

Chegou a hora e, depois de dois anos de debates e trabalho coletivo, milhares de ativistas e organizações de 36 países estão se reunindo em Porto Alegre para fazer deste Fórum Social Mundial Palestina Livre um evento histórico.

Quando decidimos a data para esta convergência em solidariedade ao povo palestino – exatamente 65 anos depois que a ONU aprovou o Plano de Divisão da Palestina – sabíamos que seria realizado em um momento-chave da história. Os recentes ataques a Gaza, que em apenas uma semana deixaram mais de 150 palestinos mortos e quase 1000 feridos, tornaram este evento urgente. Queremos que o mundo escute nosso grito de solidariedade a Gaza e que saiba que apoiamos a luta da Palestina!

Quando as organizações palestinas e brasileiras concordaram no local, Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, ficamos orgulhosos de trazer o FSM Palestina Livre para esta cidade tão intimamente ligada à história do processo do Fórum Social Mundial. Nos últimos dois anos, o processo de preparação, organização e mobilização para o FSM Palestina Livre aumentou a consciência e solidificou compromissos com o movimento global de solidariedade à Palestina em Porto Alegre, na região e no Brasil em geral, e já criou um impacto duradouro.

O fórum está baseado em um forte processo que construiu um consenso entre os comitês palestino, brasileiro e internacional, fundamentado no Documento de Referência desenvolvido na Palestina no início de 2012. O Documento de Referência faz uma análise básica da situação na Palestina, identifica claramente as principais demandas e indica estratégias de solidariedade para uma paz justa, baseada em direitos humanos e no direito internacional.

O programa de eventos autogestionados e as sessões principais vão expandir e desenvolver ainda mais este consenso através de propostas de discussões e planos de ação, campanhas e iniciativas. As principais conferências estão programadas de forma a apresentar em seqüência os objetivos básicos da luta palestina, os marcos legais das nossas demandas, campanhas de solidariedade ao redor do mundo, formas de construir a solidariedade à Palestina dentro dos movimentos sociais e, finalmente, situar a luta palestina entre as lutas dos movimentos globais e locais por liberação.
Esperamos que o FSM Palestina Livre possa efetivamente contribuir para construir um apoio concreto à causa palestina e reforçar nossa luta comum por um mundo sem os muros da opressão.

Ato "Levante-se pela vida das mulheres", dia 27, 9h, Delegacia de Mulheres, Ribeira, Natal, RN - por Latuff

Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

Estado Assassino: Danos causados pela ofensiva israelense em Gaza passam de US$ 300 milhões!!!

Estado Assassino: Danos causados pela ofensiva israelense em Gaza passam de US$ 300 milhões

A agricultura foi o setor que mais sofreu perdas, cerca de US$ 120 milhões, enquanto o comércio, outros US$ 40 milhões.
Criança observa os destroços de uma casa bombardeada pela força aérea israelense na operação "Pilar Defensivo"

Os danos causados pela operação israelense "Pilar Defensivo" em Gaza já passam de US$ 300 milhões, mais de um terço no setor agrícola, informou neste sábado (24/11) um relatório da câmara de Comércio da Faixa de Gaza. O relatório, que pede que Gaza seja declarada como zona de desastre econômico, inclui nessas estatísticas a destruição ocasionada pelos oito dias de bombardeios israelenses e as despesas extraordinárias de saúde. Na operação, quase 170 foram mortos e mais de 1.300 ficaram feridos.

Por setores, o agrícola foi o que mais sofreu perdas, cerca de US$ 120 milhões, enquanto a atividade comercial perdeu outros US$ 40 milhões. O resto das perdas se concentram nos danos às casas, edifícios públicos e infraestruturas de todo tipo que foram atacadas pela Força Aérea israelense.

Para devolver a Gaza seu ritmo habitual de atividade econômica, a Câmara de Comércio pediu que Israel levante as restrições que impôs à Faixa em 2006 e que foram aliviadas em 2010.

Hoje, o escritório do primeiro-ministro Ismail Haniyeh informou que, no marco das negociações para resolver todos os tipos de problemas que são foco de tensão na zona, Israel aceitou a ampliação da zona de pesca em Gaza de três a seis milhas e autorizou que os agricultores trabalharem em suas terras nas zonas próximas à fronteira.

Agência Efe!

O antissemitismo como chantagem política: a propósito da nova agressão de Israel à Faixa de Gaza - por Atilio A. Boron

O antissemitismo como chantagem política: a propósito da nova agressão de Israel à Faixa de Gaza
Quem condena a nova agressão perpetrada por Israel na Faixa de Gaza se expõe a receber uma reiterada desqualificação: “antissemita”. Para esses inveterados racistas, qualquer crítica às políticas genocidas do Estado de Israel, qualquer denúncia de suas atrocidades e de sua barbárie só pode nascer de um intenso ódio ao povo judeu. Tamanha confusão entre povo e regime político não é casual nem gratuita.

Constitui, em realidade, a absurda chantagem metodicamente utilizada pela direita reacionária israelense e seus aliados no império para desacreditar qualquer denúncia de crimes do Estado de Israel e seu curso suicida de ações que, no longo prazo, terá como vítima o próprio povo judeu.

Essa postura não é exclusividade nenhuma dos fascistas israelenses: lembra o que adotavam seus congêneres argentinos quando qualificavam de “campanha anti-argentina” as críticas de dentro e fora do país que se dirigiam contra a ditadura terrorista cívico-militar que semeou destruição e morte na segunda metade dos anos 70.

Eles também equiparavam maliciosamente povo e governo – como hoje fazem os racistas judeus – para desvirtuar qualquer ataque contra o Estado terrorista, como se fosse uma agressão contra o povo argentino. Em ambos os casos, o que se pretende é defender um regime político nefasto que, no caso de Israel, foi denunciado por eminentes personalidades da comunidade judia, dentro e fora do país.

São conhecidas – apesar de oficialmente silenciadas – as dúvidas que Albert Einstein e o grande filósofo judeu Martin Buber abrigavam em relação à forma concreta que estava tomando a criação do Estado de Israel, já em seus primeiros anos de vida. Pouco antes do desencadeamento da operação “Pilar Defensivo”, Noam Chomsky informava sobre o que pôde ver em sua recente visita à Faixa de Gaza, e suas críticas foram demolidoras. Pode-se ver o vídeo correspondente em www.democracynow.org/2012/11/14/noam_chomsky_on_gaza_and_the

A lista de eminentes judeus inconformados com as políticas do Estado de Israel seria interminável: Daniel Barenboim e sua nobre cruzada pacifista com o palestino Edward Said nos vêm imediatamente à mente, o mesmo que o vibrante testemunho de Norman Filkelstein, um cientista político estadunidense, filho de sobreviventes dos campos de concentração do nazismo. Em uma conferência oferecida em 2010 na Universidade de Waterloo (Canadá), disse que “não há nada mais desprezível que usar o sofrimento e o martírio daqueles (que morreram em campos de concentração) para justificar a tortura, a brutalidade, a destruição de lares que Israel promove diariamente com os palestinos. Portanto, me nego a ser pressionado ou intimidado por suas lágrimas de crocodilo” (em referência a uma das assistentes de sua conferência). Essa passagem de sua apresentação na Universidade de Waterloo pode ser vista em https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=gE8GESi35Yw

Ao anterior, poderiam ser agregadas as múltiplas organizações judias que rejeitam essa espúria identificação entre povo e regime. Uma delas, denominada Jews for Justice for Palestinians. Two peoples - one future, tem com lema uma citação do Rabino Hillel, do século I antes de Cristo, que, para horror dos ultraortodoxos de hoje em dia, reza assim: “O que queres para ti não faça com teu vizinho. Isso é toda a Torá. O resto são comentários”. Hillel se antecipou nada menos que em 1800 anos ao célebre imperativo categórico que popularizou Immanuel Kant: “Aja de forma tal que tua máxima ação possa se tornar lei universal”. Obviamente, não serão os ensinamentos daquele sábio judeu ou as do filósofo prussiano que Netanyahu vai assimilar, assim como seu chanceler fascista Avigdor Lieberman e os falcões israelenses; escutarão melhor os torpes balbucios de alguns decrépitos sucessores de Hillel, movidos por um ódio imensurável ao povo palestino, de cujas terras se apoderaram, e dos quais in pectore se coloca em dúvida sua própria condição humana.

Isso permite compreender as razões pelas quais o governo de Israel pôde mobilizar sem escrúpulo algum sua infernal máquina bélica contra um povo indefeso, sem exército, sem aviação, sem marinha de guerra, sem status internacional reconhecido, bloqueado por terra, ar e mar, impossibilitado de receber ajuda externa (medicamentos, alimentos, roupa etc.) e trancafiado como “animais em jaula”, como recorda Chomsky na entrevista supracitada. Mas há algo mais: segundo informa Walter Goobar, o jornalista israelense Aluf Benn publicou no diário Haaretz uma matéria na qual assegura que Ahmed Jabari – o chefe militar do Hamas, cujo assassinato desencadeou a violência – era o “responsável pela manutenção da segurança de Israel na Faixa de Gaza”. Em um giro demasiadamente sinistro dos acontecimentos, Jabari não foi eliminado por ser um chefe terrorista, como disse a propaganda sionista, mas porque estava negociando um acordo de paz.

Como assegura Goobar, “essa não é uma afirmação retórica nem obra de uma manobra de vitimização do Hamas, pois quem o afirma é nada menos que Gershon Baskin, um mediador israelense que levava e trazia propostas entre Jabari e os altos cargos israelenses” (1). Tem um sentido: nem o complexo militar-industrial estadunidense e nem o fundamentalismo racista israelense estão interessados, minimamente, em chegar à paz nessa parte do mundo. A guerra é um grande negócio e também um recurso para tratar de estabilizar a cambaleante situação geopolítica que impera no Oriente Médio.

Além do mais, neste caso, a operação quase não tem custos para Israel, porque não são dois exércitos que se enfrentam – e que poderiam infligir-se danos relativamente semelhantes –, mas uma formidável força militar que conta com todo o apoio da maior potência militar da história da humanidade e uma população civil encurralada e inerme, que só consegue repelir o ataque com o voluntarismo de seus milicianos, mal podendo equiparar a fenomenal desproporção existente entre os armamentos de ambas as partes. A recontagem de vítimas de um e outro lado exime maiores comentários.

Com tais antecedentes à vista, é apropriado caracterizar o Estado de Israel como um “Estado canalha”, que viola flagrantemente, com o incondicional apoio do amo imperial, a legislação internacional, as resoluções da ONU e o direito das pessoas. Tal como destaca Finkelstein, nenhuma chantagem de “antissemitismo” pode dissolver o caráter genocida de tais políticas; nenhum esquema extorsivo, cuja eficácia obedece aos imperdoáveis horrores da shoah perpetrados pelo regime nazista (e tolerados pelas potências imperialistas da época), pode operar o milagre de transformar o vício em virtude ou o crime em bondade.

Diante disso, nenhum homem ou mulher deve permanecer calado. O silêncio cúmplice dos anos 30 e 40 possibilitou o extermínio dos judeus na Alemanha nazista. A comunidade internacional não pode incorrer novamente em semelhante erro, sobretudo quando sabemos que os governos das principais potências, sob a direção dos EUA, não farão absolutamente nada para deter essa carnificina. Porque, desde 1948 até hoje, são cúmplices e participantes necessários de quantos crimes tenha cometido o Estado de Israel. Se existe isso que alguns chamam de “sociedade civil mundial”, deve se manifestar, agora, antes que seja tarde demais.

Fechamos essa breve reflexão citando as atualíssimas palavras de Leon Rozitchner, um grande filósofo marxista, judeu, argentino, falecido pouco mais de um ano atrás. Um mestre no sentido mais integral do termo, que no “Epílogo” de um notável livro de sua autoria, Ser Judeu, se perguntava o seguinte:
“Que estranha inversão se produziu nas entranhas desse povo humilhado, perseguido, assassinado, para humilhar, perseguir e assassinar aqueles que reivindicam o mesmo que os judeus reivindicavam antes para si mesmos? Que estranha vitória póstuma do nazismo, que estranha destruição inseminou a barbárie nazista no espírito judeu? Que estranha capacidade volta a despertar nesta tomada de territórios alheios, onde a segurança que se reclama é sobre o fundo da destruição e dominação do outro pela força e o terror! Vê-se, então, que, quando o Estado de Israel enviava suas armas aos regimes da América Latina e África, já ali era visível a nova e estúpida coerência dos que se identificam com seus próprios perseguidores. Os judeus latino-americanos não esquecemos. Não esqueçamos tampouco de Chatila e Sabra”.
Nota:

1) Ver Walter Goobar, “Os verdadeiros alvos de Benjamin Netanyahu”, em Miradas Al Sur, ano 5, edição número 235. Domingo, 18 de novembro de 2012 http://sur.infonews.com/notas/los-verdaderos-blancos-de-benjamin-netanyahu

Atilio Borón é doutor em Ciência Política pela Harvard University, professor titular de Filosofia da Política da Universidade de Buenos Aires e ex-secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO). Website: www.atilioboron.com.ar
Tradução: Gabriel Brito.
Fonte: Correio da Cidadania.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Caça aos abutres - Por Mike Elkin

Caça aos abutres

Um novo site do Quênia, Mavulture.com, que significa “muitos abutres” em swahili, reúne, condensa e publica irregularidades cometidas por dirigentes políticos quenianos

Criado no dia 13, o site é o mais recente projeto do ativista Boniface Mwangi, conhecido por seus grafites e murais políticos em toda Nairóbi, bem como por suas exposições fotográficas sobre a violência desatada neste país depois das eleições presidenciais de 2007. Depois do anúncio dos polêmicos resultados das eleições de dezembro daquele ano, ocorreram enfrentamentos tribais em todo o país, deixando cerca de 1.200 mortos e o deslocamento de 600 mil pessoas.

Fotógrafo independente, Mwangi, 29 anos, recebeu em 2008 e 2010 o Prêmio Fotográfico Mohamed Amin, concedido pela rede de televisão CNN, por sua cobertura da violência pós-eleitoral. “Já visitaram o Mavulture.com?”, perguntou em sua conta no Twitter a revista queniana de entretenimento Blink. “Creio que devem visitá-la antes de votarem no próximo ano”, ressaltou. Os quenianos voltarão às urnas em março de 2013 para escolher um novo presidente.

O ativista político Boniface Mwangi é conhecido por seus grafites e murais em Nairóbi (Mike Elkin/IPS).

O site apresenta até agora os perfis de 17 políticos, incluindo Uhuru Kenyatta, filho do primeiro presidente do Quênia, atual candidato presidencial e um dos homens investigados pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade durante a violência de 2007. Lavagem de dinheiro, apropriação de terras, tráfico de drogas e assassinato são algumas das acusações que constam no Mavulture.com. Além dos artigos, o site inclui vídeos e infográficos sobre cada político, bem como cartazes de “Procurado”, ao estilo do Velho Oeste, que podem ser baixados pelos internautas. O site é financiado por doadores anônimos.

Mwangi disse à IPS, em entrevista em seu escritório em Nairóbi, que o objetivo da página é informar os quenianos sobre o histórico de suas autoridades. “Vamos publicar os registros de cada pessoa do governo, cada caso de corrupção em que se envolvem e cada acusação contra eles”, afirmou. “Desta forma, na hora de votar, as pessoas poderão contar com esta plataforma para ter uma perspectiva informada. Temos corrupção em grande escala neste país, e os mesmos tipos envolvidos nos últimos 49 anos”, detalhou.

“Desta forma será possível comparar. Quando dizem que estamos todos unidos, nós vemos que não é bem assim. Nossas crianças não vão a escolas estrangeiras e não têm casas na Grã-Bretanha”, ressaltou Mwangi. O índice de percepção de corrupção de 2011, elaborado pela organização Transparência Internacional, coloca o Quênia com 2,2 pontos em dez, no posto 154 na lista de 183 países relacionados. Segundo a organização, a corrupção custa ao Quênia mais de US$ 357 milhões por ano.

Mwangi contou que se dedicou ao ativismo político após sentir frustração e raiva pela violência pós-eleitoral. Em 2009, criou a exposição fotográfica itinerante Picha Mtaani, com imagens dos assassinatos, para recordar aos quenianos o ocorrido. Depois organizou um grupo de artistas para pintar controvertidos murais por toda Nairóbi, ilustrando os políticos do país como abutres e criticando a população por sempre votar neles.

Em junho deste ano, liderou uma mobilização que colocou 49 ataúdes negros na porta do parlamento enquanto este estava em sessão. Os caixões representavam cada um dos anos que os políticos gozaram de impunidade desde a independência em 1963, e neles estava escrito: “Enterrem os abutres com seu voto”. Cada um também estava identificado com um escândalo político.

As autoridades pintaram por cima de muitos murais na capital, mas uma das imagens mais marcantes de Mwangi permanece intacta, perto do mercado da cidade. Nela, um homem com cabeça de abutre está sentado em um trono mostrando um malicioso sorriso. Em uma das mãos segura uma xícara de chá e a outra está algemada a uma maleta. O homem-abutre está pensando: “Eles saqueiam, violam, queimam e matam em minha defesa. Eu roubo seus impostos e me aproprio de terras, mas os idiotas ainda votam em mim”.

“Você sabe o que faz um abutre?”, pergunta o taxista Kimani Jong Kimani Nganga enquanto olha o mural. “Come carne. Temos políticos que desde as eleições estão nos comendo. Devemos mudar isso”, respondeu. Mwangi explicou que desejava provocar uma resposta entre os quenianos, pois sua indiferença diante de claros abusos políticos e econômicos apenas fortalece os que se aproveitam do sistema.

“Há pouco tempo, professores e médicos fizeram uma greve em protesto por seus baixos salários. Ao mesmo tempo, os legisladores se reuniram no parlamento e em 30 minutos concederam aumento a eles mesmos”, recordou Mwnagi. “Não houve nenhum alvoroço por isso. Duzentos legisladores podem fazer isto em um país de 40 milhões de habitantes e ninguém ir às ruas protestar. Como se chama isso? É ilógico que as pessoas possam ser escravas de um sistema e nunca denunciá-lo. Veem a injustiça diariamente e apenas ficam olhando”, afirmou de forma veemente.

Uma das principais razões do silêncio é o temor de sofrer represálias, reconheceu Mwangi. Por isso ele planeja um protesto em que todos os manifestantes usem máscaras. “Este país é muito pequeno. A maioria das empresas é propriedade de políticos e abutres. Por isso algumas pessoas temem sofrer represálias ou serem demitidas”, enfatizou. O ativista também comentou a ironia de que “com máscaras as pessoas possam mostrar seu verdadeiro rosto”.

Com a colaboração de Lucas Laursen.

Gaza ou a revisão da história – por José Manuel Pureza - Diário de Notícias

Gaza ou a revisão da história
Há sessenta e quatro anos que Israel usa dois discursos para legitimar as suas intervenções nos territórios ilegitimamente ocupados da Palestina: um é o discurso da "eliminação definitiva do terror palestino"; o outro é o da "legítima defesa contra os ataques de que Israel é alvo". Ambos projetam uma revisão ardilosa da História. Atacar Gaza dá votos e legitima o imobilismo político de Tel Aviv. E sobretudo desvia a atenção da História real para uma História conveniente.

Há sessenta e quatro anos que Israel usa dois discursos para legitimar as suas intervenções nos territórios ilegitimamente ocupados da Palestina: um é o discurso da "eliminação definitiva do terror palestino"; o outro é o da "legítima defesa contra os ataques de que Israel é alvo". Ambos projetam uma revisão ardilosa da História.

Há sessenta e quatro anos que Israel anuncia a vitória definitiva contra os seus inimigos próximos. Para só citar dois momentos recentes, foi assim quando da guerra contra o Hezbollah em 2006 e foi assim de novo na Operação Chumbo Fundido, de 2008-2009, contra o Hamas. Em ambos os casos, o uso claramente desproporcional da força por Israel foi justificado como necessário para pôr fim definitivo às agressões continuadas pelo grupo pró-iraniano no Sul do Líbano ou do grupo dominante na Faixa de Gaza contra o Estado de Israel. Afinal, ambas as eliminações definitivas do terror foram um fiasco absoluto: os foguetes continuam a ser lançados de Gaza e o Hezbollah tem hoje um arsenal de mísseis e uma influência política no Sul do Líbano bem maiores do que os que possuía em 2006.

Falsa é igualmente a narrativa da resposta em legítima defesa. Cada violação dos sucessivos cessar-fogo é invariavelmente apresentada como simples retaliação de ataques anteriores e exteriores. Invariavelmente, Israel projeta dos palestinos a imagem de um povo que faz da agressão o seu modus vivendi, ao passo que Israel será uma vítima inocente que mais não faz do que defender-se. Para ajudar à composição do argumento, os palestinos atacam sempre com poucos mísseis mas maus e agressivos (neste caso, iranianos) e Israel defende-se sempre com muitos mísseis mas bons e defensivos (neste caso, norte-americanos de última geração).

Esta onda de violência que de novo atingiu os 1,7 milhões de pessoas presas no gueto de Gaza voltou a ser explicada da mesma forma enganosa. Faltou dizer, nessa narrativa para consumo preguiçoso, que Netanyahu e Liberman vão a votos em janeiro e que a aliança de governo entre os dois está longe de ter sondagens animadoras. E faltou dizer também que o assassinato do dirigente do Hamas, Ahmed Jabari, associado nesse momento às negociações de um acordo, foi o momento em que a guerra escalou vertiginosamente.

A aposta de Israel num clima de permanente crispação que lhe permita assegurar o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia tem no rigor da História o seu grande inimigo. E a História tem três aspetos que nenhuma estratégia israelense de revisionismo conseguirá apagar: primeiro, a ocupação dos territórios palestinianos, contra o Direito Internacional, é a causa primeira e última do conflito; segundo, o povo da Palestina continua privado de ter um Estado, de ter comércio normal, de ter liberdade de movimentos, de ter dignidade; terceiro, a macabra bolsa de mortos (16 palestinos por cada israelense, tendo sido de 111 por 1 em 2009) é como todas as bolsas: alimenta-se a sim própria.

É por isso que este ataque contra Gaza não foi senão o último antes do próximo. Porque, haja calmaria ou não, atacar Gaza dá votos e legitima o imobilismo político de Tel Aviv. E sobretudo desvia a atenção da História real para uma História conveniente.

domingo, 25 de novembro de 2012

Impressões de uma visita a Gaza – por Noam Chomsky

Impressões de uma visita a Gaza
Na Faixa de Gaza, a área de maior densidade populacional do planeta, um milhão e meio de pessoas estão constantemente sujeitas a eventuais e amiúde ferozes e arbitrárias punições, cujo propósito não é senão humilhar e rebaixar a população palestina e ulteriormente garantir tanto o esmagamento das esperanças de um futuro decente quanto à nulidade do vasto apoio internacional para um acordo diplomático que sancione o direito a essas esperanças.
Uma noite encarcerado é o bastante para que se conheça o sabor de estar sob total controle de uma força externa. E dificilmente demora mais de um dia em Gaza para que se comece a perceber como é tentar sobreviver na maior prisão a céu aberto do mundo. Na Faixa de Gaza, a área de maior densidade populacional do planeta, um milhão e meio de pessoas estão constantemente sujeitas a eventuais e amiúde ferozes e arbitrárias punições, cujo propósito não é senão humilhar e rebaixar a população palestina e ulteriormente garantir tanto o esmagamento das esperanças de um futuro decente quanto a nulidade do vasto apoio internacional para um acordo diplomático que sancione o direito a essas esperanças.

O comprometimento a isso por parte das lideranças políticas israelenses foi ilustrado expressivamente nos últimos dias, quando eles advertiram que ‘enlouqueceriam’ se os direitos palestinos fossem reconhecidos, mesmo que limitadamente, pela ONU. Essa postura não é nova. A ameaça de ‘enlouquecer’ (‘nishtagea’) tem raízes profundas, lá nos governos trabalhistas dos anos 1950 e em seus respectivos “complexos de Sansão”: “se nos contrariarem, implodimos as paredes do Templo à nossa volta”. À época, essa ameaça era inútil; hoje não é mais.

A humilhação deliberada também não é nova, apesar de adquirir novas formas constantemente. Há trinta anos, líderes políticos, inclusive alguns dos mais notórios ‘falcões’ (sionistas mais conservadores), apresentaram ao primeiro-ministro um relato detalhado de como colonos regularmente violavam palestinos da forma mais vil e com total impunidade. A proeminente analista Yoram Peri notou com repugnância que a tarefa do exército não é a de defender o Estado, mas de “acabar com os direitos de pessoas inocentes somente porque são araboushim (uma ofensa racial) vivendo numa terra que Deus nos prometeu”.

O povo de Gaza foi selecionado para punições particularmente cruéis. É quase miraculoso que eles suportem tal existência. Raja Shehadeh descreveu como eles o fazem num eloquente livro de memórias, A Terceira Via, escrito há 30 anos. O texto relata seu trabalho como advogado empenhado na tarefa de tentar proteger direitos elementares num sistema legal feito para ser insuficiente, além de sua experiência como um resistente que vê sua casa tornar-se uma prisão por ocupantes violentos e nada pode fazer além de “aguentar”.

A situação piorou muito desde o texto de Shehadeh. Os acordos de Oslo, celebrados com muita cerimônia em 1993, determinaram que Gaza e a Cisjordânia eram uma só entidade territorial. Os EUA e Israel puseram sua estratégia de separá-los para funcionar já naquela época, de forma a barrar um acordo diplomático e punir os araboushim em ambos os territórios.

A punição aos moradores de Gaza tornou-se ainda mais severa em janeiro de 2006, quando eles cometeram um crime hediondo: votaram no “lado errado” na primeira eleição do mundo árabe, elegendo o Hamas. Demonstrando seu amor pela democracia, os EUA e Israel, apoiados pela tímida União Europeia, impuseram um sítio brutal e ataques militares ostensivos logo de cara. Os norte-americanos também imediatamente recorreram ao procedimento operacional padrão para momentos em que populações desobedientes elegem o governo errado: prepararam um golpe militar para restabelecer a ordem.

O povo de Gaza cometeu um crime ainda pior um ano depois. Barraram a tentativa de golpe, levando a uma forte escalada do sítio e das ofensivas militares. Isso culminou, no inverno de 2008-9, na Operação Chumbo Fundido, um dos mais covardes e perversos exercícios de poder militar na memória recente, na qual uma população civil sem defesa e enclausurada ficou sujeita à implacável ofensiva de um dos mais avançados sistemas militares do mundo, que conta com o apoio das armas e da diplomacia estadunidense. Um testemunho inesquecível do morticínio – infanticídio, nas palavras deles – é o livro Eyes in Gaza, de dois corajosos doutores noruegueses, Mads Gilbert e Erik Fosse, que à época trabalhavam no principal hospital de Gaza.

O Presidente Obama não foi capaz de dizer uma palavra além de reiterar sua sincera simpatia pelas crianças sob ataque – na cidade israelense de Sderot. A investida minuciosamente planejada foi levada a cabo justamente antes do empossamento de Barack, assim ele pôde dizer que era hora de vislumbrar o futuro, não o passado.

Obviamente, havia pretextos – sempre há. O de costume, apresentado assim que necessário, é a “segurança”: neste caso, os foguetes caseiros de Gaza. Como de costume, também, o pretexto carecia de credibilidade. Em 2008, estabeleceu-se uma trégua entre Israel e o Hamas. E o governo israelense reconheceu formalmente que o Hamas cumpriu a trégua. Nenhuma bomba do Hamas foi disparada até que Israel rompeu a trégua encoberto pelas eleições presidenciais norte-americanas de 4 de novembro de 2008, invadindo Gaza por motivos ridículos e matando meia-dúzia de membros do Hamas. O governo de Israel foi aconselhado por suas mais altas autoridades de inteligência de que a trégua poderia ser retomada por suavizar o bloqueio criminoso e acabar com as ofensivas militares. Mas o governo de Ehud Olmert, por reputação um “pombo” (termo para os sionistas “moderados”), preferiu rejeitar estas opções e lançar mão de sua enorme vantagem no quesito violência: a Operação Chumbo Fundido.

O modelo de bombardeio da Operação Chumbo Fundido foi analisado cuidadosamente pelo respeitado defensor dos direitos humanos Raji Sourani, natural de Gaza. Ele aponta que o bombardeio concentrou-se ao norte, mirando civis indefesos nas áreas de maior densidade populacional, sem qualquer desculpa do ponto de vista militar. O objetivo, ele sugere, talvez tenha sido mover a população intimidada para o sul, próximo à fronteira com o Egito. Mas, apesar da avalanche terrorista, os resistentes não se moveram.

Outro objetivo provavelmente era movê-los para lá da fronteira. Desde o início da colonização sionista dizia-se que os árabes não tinham motivo para estar na Palestina. Eles podiam continuar felizes noutro lugar e deveriam ser “transferidos” de maneira educada, sugeriam os pombos. Esta, que claramente não é uma preocupação menor do governo egípcio, talvez seja a razão pela qual o Egito não abre sua fronteira seja para civis, seja para os suprimentos dos quais o país necessita desesperadamente.

Sourani e outras fontes dignas de reconhecimento notam que a disciplina dos resistentes oculta um barril de pólvora que pode explodir inesperadamente, como aconteceu na primeira Intifada em Gaza em 1989, após anos de repressão indigna de qualquer interesse ou nota.

Só para mencionar um dos inumeráveis casos, pouco antes da eclosão da Intifada, uma menina palestina, Intissar al-Atar, foi assassinada no pátio da escola pelo morador de um assentamento judeu próximo. Ele era um dos milhares de colonos israelenses trazidos para Gaza, o que violava leis internacionais, sob proteção da enorme presença de um exército que assumiu o controle das terras e da escassa água da Faixa. O assassino da estudante, Shimon Yifrah, foi preso. No entanto, foi solto rapidamente quando o tribunal determinou que “o delito não foi severo o suficiente” para justificar a detenção. O juiz comentou que Yifrah só pretendia assustar a garota por atirar na direção dela, não matá-la, assim, “o caso não é o de um criminoso que deve ser punido com um aprisionamento”. Yifrah recebeu uma pena suspensa de 7 meses, o que levou os outros colonos presentes à sala de tribunal a dançar e cantar. E o silêncio, pra variar, reinou. Afinal, a rotina é essa.

Assim que Yifrah foi libertado, a imprensa israelense reportou que uma patrulha armada atirou no pátio de um colégio para meninos de 6 a 12 anos num campo de refugiados da Cisjordânia, ferindo cinco crianças. O ataque só pretendia “assustá-los”. Não houve punições e o evento, para variar, não atraiu atenção. Era só mais um episódio do programa de “analfabetismo como punição”, disse a imprensa israelense, programa que incluía o fechamento de escolas, uso de bombas de gás, espancamento de estudantes a coronhadas, bloqueio de auxílio médico para vítimas; e para além das escolas predominou a mesma brutalidade, que até asseverou-se durante a Intifada, sob ordens do Ministro da Defesa Yitzhak Rabin, outro bem conceituado “pombo”.

Minha impressão inicial, depois de uma visita de alguns dias, foi de admiração ao povo palestino. Não só pela habilidade de levar a vida, mas também pela vitalidade da juventude, particularmente a universitária, com a qual eu passei um bom tempo numa conferência internacional. Mas também fui capaz de perceber que a pressão pode tornar-se grande demais. Relatos apontam que entre a população masculina jovem há uma frustração crescente e o reconhecimento de que, sob comando dos EUA e de Israel, o futuro não é promissor.

A Faixa de Gaza parece uma típica sociedade de terceiro mundo, com bolsões de riqueza rodeados por uma pobreza medonha. Não é, entretanto, um lugar “subdesenvolvido”. Na verdade, é “des-desenvolvido”, e de maneira muito sistemática, pegando emprestado um termo de Sara Ray, a maior especialista acadêmica em Gaza. Gaza poderia ter se tornado uma região mediterrânea próspera, com rica agricultura, uma promissora indústria pesqueira, praias maravilhosas e, como descobriu-se há dez anos, a perspectiva de uma extensa reserva de gás natural dentro dos limites de suas águas. Coincidentemente ou não, foi há uma década que Israel intensificou seu bloqueio naval, levando navios pesqueiros em direção à costa.

As perspectivas favoráveis foram frustradas em 1948, quando a Faixa tornou-se abrigo da enxurrada de refugiados palestinos que fugiram ou foram expulsos à força do que hoje é Israel.

Na verdade, eles continuaram sendo expulsos quatro anos depois, como informou no periódico Ha’aretz (25.12.2008) o estudioso Beni Tziper. Ele afirma que, já em 1953, “avaliava-se necessário varrer os árabes da região”.

Isso foi em 1953, quando a necessidade de militarização ainda não se insinuava. As conquistas israelenses de 1967 ajudaram a administrar os golpes posteriores. Vieram então os terríveis crimes já mencionados, que continuam até hoje.

É fácil notar os sinais de tais crimes, mesmo numa visita breve. Num hotel perto da costa pode-se ouvir as metralhadoras israelenses empurrando pescadores para fora das águas de Gaza, em direção à própria costa. Assim, eles são levados a pescar em águas que estão poluidíssimas porque norte-americanos e israelenses não permitem a reconstrução dos sistemas de esgoto e energia que eles próprios destruíram.

Os Acordos de Oslo planejavam duas usinas de dessalinização, imprescindíveis em função da aridez da região. Uma, instalação muito avançada, foi construída – em Israel. A segunda é em Khan Yunis, sul da Faixa de Gaza. O engenheiro encarregado de tentar obter água potável para a população explicou que essa usina foi projetada de forma tal que é incapaz de usar água do mar, ela depende de reservas subterrâneas, um sistema mais barato que, no entanto, degrada o aquífero já deficiente. Mesmo assim, a água é limitadíssima. A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), que cuida dos refugiados (mas não dos outros moradores de Gaza), recentemente lançou um relatório advertindo que os danos ao aquífero podem em breve tornar-se “irreversíveis”, e que, sem ações reparadoras, Gaza talvez deixe de ser um “local habitável” em 2020.

Israel permite a entrada de concreto para projetos da UNRWA, mas não para os palestinos comprometidos com as enormes necessidades de reconstrução. O equipamento pesado permanece ocioso a maior parte do tempo, já que Israel não permite materiais para reparo. Tudo isso é parte do programa descrito por Dov Weisglass, conselheiro do primeiro-ministro Ehud Olmert, depois de os palestinos terem deixado de seguir certas ordens na eleição de 2006: “a ideia”, disse ele, “é aplicar uma dieta aos palestinos, mas não deixá-los morrer de fome”. Não seria de bom tom.

O plano está sendo seguido conscienciosamente. Sara Roy nos dá vasta evidência disso em seus estudos. Recentemente, após anos de esforços, a Gisha, organização israelense pelos direitos humanos, conseguiu obter uma ordem judicial exigindo que o governo divulgue os planos da “dieta”. Jonathan Cook, jornalista em Israel, assim os resume: “oficiais de saúde forneceram cálculos do número mínimo de calorias que Gaza precisa para que os 1.5 milhão de habitantes não fiquem desnutridos. Esse número traduziu-se no número de caminhões de comida que Israel supostamente permite a cada dia, uma média de apenas 67 caminhões – bem menos do que a metade do requerido. E que se compare com isso os 400 caminhões diários de antes do bloqueio”. Segundo relatórios da ONU, mesmo essas estimativas são bastante generosas.

O resultado da imposição da dieta, observa o especialista em Oriente Médio Juan Cole, é que “cerca de 10% das crianças palestinas com menos de cinco anos tiveram seu crescimento atrofiado pela desnutrição. Além disso, a anemia hoje afeta dois terços das crianças mais jovens, 58,6% das crianças em idade escolar e mais de um terço das grávidas”. Os EUA e Israel querem ter certeza de que nada além da mera sobrevivência seja possível.

“O que devemos ter em mente”, diz Raji Sourani, “é que a ocupação e o encerramento absoluto é um ataque em andamento contra a dignidade humana do povo de Gaza em particular, e contra os palestinos em geral. É degradação, humilhação, isolamento e fragmentação sistemática do povo palestino”. Essa conclusão é confirmada por muitas outras fontes. Em um dos mais importantes periódicos médicos do mundo, The Lancet, um físico de Stanford, horrorizado com o que viu, descreveu a Faixa de Gaza como um tipo de “laboratório de observação da completa ausência de dignidade”, condição que tem efeitos “devastadores” sobre o bem-estar físico, mental e social da população. “A constante vigilância vinda do céu, punições coletivas por bloqueios e isolamentos, invasão de lares e de sistemas de comunicação, além de restrições aos que tentam viajar, casar ou trabalhar, tornam difícil viver de maneira digna em Gaza”.

Havia esperanças de que o novo governo egípcio de Mohammed Mursi, menos servil à Israel do que a ditadura de Mubarak, pudesse abrir a Travessia de Rafah, única saída de Gaza que não está sujeita a controle israelense direto. Até houve uma pequena abertura. A jornalista Leila el-Haddad escreve que a reabertura sob Mursi “é simplesmente um retorno ao status quo de anos anteriores: somente os palestinos portadores de identidades de Gaza aprovadas por Israel podem usar a Travessia”, o que exclui inclusive a família da jornalista.

Ademais, continua Leila, “Rafah não leva à Cisjordânia e não permite o transporte de bens, restrito às travessias controladas por Israel e sujeito às proibições a materiais de construção e exportação”. A restrição à Travessia de Rafah não muda o fato, também, de que “Gaza permanece sob apertado sítio marítimo e aéreo e fechada para qualquer capital cultural, econômico ou acadêmico que venha do resto dos territórios palestinos, o que viola as obrigações dos EUA e de Israel segundo o Acordo de Oslo˜.

Os efeitos disso são dolorosamente evidentes. No hospital de Khan Yunis, o diretor, que também é cirurgião-chefe, descreve enfurecido tanto a falta de remédios para aliviar o sofrimento dos pacientes quanto a dos equipamentos cirúrgicos mais simples.

Relatos pessoais dão vivacidade à corrente aversão à obscenidade da ocupação. Um exemplo é o testemunho de uma jovem que desesperou-se quando seu pai, que se orgulharia ao saber que sua filha foi a primeira mulher do campo de refugiados a receber um diploma avançado, “faleceu após seis meses de luta contra o câncer, aos 60 anos. A ocupação israelense negou que ele fosse aos hospitais de Israel para tratar-se. Eu tive de suspender meus estudos, meu trabalho e minha vida para ficar ao lado de sua cama. Todos nós, incluindo meu irmão e minha irmã, sentamo-nos ao lado de meu pai, assistindo seu sofrimento impotentes e sem esperança. Ele morreu durante o desumano bloqueio a Gaza no verão de 2006, com pouquíssimo acesso a serviços de saúde. Sentir-se impotente e sem esperança é o sentimento mais terrível que alguém pode ter. É um sentimento que mata o espírito e quebra o coração. Podemos lutar contra a ocupação, mas não podemos lutar contra o sentimento de impotência. Não se pode nem dissolver esse sentimento”.

Aversão à obscenidade combinada com culpa: nós podemos acabar com esse sofrimento e permitir aos resistentes a vida de paz e dignidade que eles merecem.

(*) Noam Chomsky visitou a Faixa de Gaza nos dias 25 a 30 de outubro.
Tradução de André Cristi.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/