quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Mensalão nada, o nome é Seculão. Ou Permanentão. Ou Desdessemprão – por Observar e Absorver

Mensalão nada, o nome é Seculão. Ou Permanentão. Ou Desdessemprão

A marionete política, o cidadão comum na hora de folga, cabeça feita. O hospital público que parece uma cadeia, a escola pública em ruínas. A meia altura, do lado esquerdo, alguns "revolucionários" fazem barulho, sem nenhum efeito, afastados da massa abaixo da corrente pesada da escravidão contemporânea. Estas correntes são muito bem feitas de mentiras e sua força depende de o quanto acreditamos nelas. Tomar consciência é um permanente romper correntes.

Tenho uma desagradável sensação quando ouço falarem do tal mensalão, revelado por um fascínora às vésperas do próprio julgamento, pra tumultuar tudo e minimizar ao máximo os próprios danos. No que, aliás, foi muito bem sucedido, tá lá ele na lista dos deputados federais, depois de um período de férias forçadas em suas fazendas. As "revelações" excitaram a mídia, que evitou investigar a fundo pra não aparecer o próprio rabo e os dos seus aliados na política e no poder econômico. É evidente que houve corrupção, mas essa corrupção não se resume ao mensalão. É a prática parlamentar, desde que o parlamento foi criado. A mídia falar tão repetidamente, martelando jargões como slogans publicitários, batendo claramente na administração petista, é parte de uma campanha visando diminuir o capital eleitoral do PT e aliados. Desmoralizar os desafetos. Política partidária do pior nível, feita pela mídia, com publicidade pesada exercida pelo que apresentam como "jornalismo". Uma disputa pela gerência, nada mais, pois o patrão é o poder econômico, grandes bancos nacionais, mas sobretudo internacionais, e mega-empresas nacionais, mas sobretudo idem. E a mídia joga do lado do PSDB, mais elitista, privatista geral,  servidor das elites estrangeiras, mais linha dura com os pobres, sobretudo os que se organizam. Estes recebem os títulos de baderneiros, vândalos e terroristas. E são implacavelmente atacados pelas forças de segurança toda vez que algum interesse empresarial está em jogo, com o apoio do judiciário na criminalização dos movimentos sociais. O chamado mensalão é a parte forte da campanha, descaradamente utilizado no período eleitoral, para favorecer os peessedebistas contra os petistas. O buraco, no entanto, é bem mais embaixo. 

Protógenes Queiroz, o delegado que prendeu o banqueiro envolvido na compra do congresso pra mudar a constituição e reeleger o presidente (além de vários outros crimes envolvendo enormes cifras), entrou com ordem de busca e apreensão na casa do banqueiro e encontrou um fundo falso no armário. Dentro, um disco rígido continha informações sobre as movimentações financeiras do Opportunity, banco sediado nas ilhas Cayman e pertencente ao dito banqueiro. Esse disco foi estudado por Protógenes e guardado em sigilo pela Polícia Federal. Depois a justiça requereu e guardou essa fonte de informações, sem jamais revelar o seu conteúdo. Mino Carta, jornalista e dono da revista semanal "Carta Capital", pergunta a Paulo Lacerda, chefe de Protógenes na Operação Chacal, da Polícia Federal, e na Satyagraha, que levou ao banqueiro. Reproduzo as palavras de Mino:

"Por que o mensalão petista vai ao tribunal antes daqueles tucanos que o precederam? E por que Daniel Dantas (banqueiro dono do Opportunity), que esteve por trás de todos, não está no banco dos réus? Por que as operações policiais que desnudaram seus crimes adernaram miseravelmente? Por que o disco rígido do Opportunity, sequestrado pela Polícia Federal durante a Operação Chacal e entregue ao STF, nunca foi aberto? No fim de 2005 dirigi esta pergunta ao então diretor da PF, Paulo Lacerda, na presença de Luiz Gonzaga Belluzzo e Sergio Lirio. O delegado, anos depois desterrado para Portugal, respondeu: ‘Se abrirem, a República acaba’."

Acaba, por quê? Porquê vem à tona a prática cotidiana de compra do congresso nacional? Acho que o que aparece é a inexistência da república. Da democracia. Porque nunca houve, foi sempre uma fachada, desde que se instaurou a democracia, a república e mesmo a independência, que escondia a dependência econômica, política, cultural e militar das potências estrangeiras da época. As chamadas instituições democráticas estão postas sob controle desde sua criação. O que está acontecendo é o começo de um despertamento. Informações que nunca estiveram disponíveis estão sendo conhecidas, notícias que jamais são transmitidas pela mídia privada circulam na internet, pra todo lado. O que vai acontecer, não dá pra saber. Mas que vai acontecer, vai. Já tá acontecendo, divagazim...

Protógenes se elegeu pelo PC do B de São Paulo, apesar de ser de Niterói, e luta por uma CPI da Privataria Tucana, com base no livro de mesmo nome que denuncia, com provas documentais ocupando metade das páginas, as falcatruas nas “vendas” das empresas públicas mais ricas e rentáveis à ganância dos mega-empresários, propinas, compras de parlamentares, promiscuidade público-privada pura. Luta solitária e sem frutos. A política institucional foi esterilizada, não funciona e foi regulamentada pra não funcionar. A não ser em benefício dos privilegiados donos do poder, os financiadores das campanhas eleitorais, que é a grande feira de políticos. Os que não se enquadram nos costumes, se conseguem furar o bloqueio e se elegem por um furo da estrutura, são isolados nos parlamentos, não conseguem aprovar – ou mesmo apresentar em tribuna – a maior parte dos seus projetos. E nos executivos são cercados pela mídia e pelos vícios do sistema, o controle sobre a estrutura administrativa das empresas parasitas que dependem do Estado e têm grande penetração nos organismos estatais através de relacionamentos e corrupção, em relações de conivência. Essa área é toda minada. Embora alguns avanços sempre se consigam, desde que não ameacem diretamente as estruturas da sociedade, de privilégios pra alguns e exploração da maioria - os dois lados da mesma moeda.

A árvore não nasce das folhas pra raiz. Esse é o grande engano da intelectualidade revolucionária. Das folhas eles acreditam que, por ver melhor o terreno, devem comandar as raízes. Mas não descem lá e não as conhecem. Alguns as desprezam, outros têm medo delas, muitos as duas coisas. Mas as raízes estão aí, firmes, sustentando toda a árvore social, inconcientes da sua força, entorpecidas pelas fumaças midiáticas, desprovidas dos nutrientes educacionais, sem perceber a própria sabedoria e o próprio valor, a capacidade de superar obstáculos, dificuldades, problemas e fatalidades. As raízes precisam de um pouco de conhecimento e muita consciência da realidade. Assim se faz uma revolução. Independente da política partidária, os movimentos acontecem. Em toda parte. E a América Latina tem sido um grande foco.

Talvez seja assim mesmo, as mudanças partem de dentro dos indivíduos, espalhados no mundo inteiro, contaminando, transformando, operando e cooperando, descobrindo novas formas de relações, percebendo as induções, discernindo, escolhendo por si e pela coletividade. As coletividades se formam. Percebem-se. Sem coordenação visível, o processo caminha seus passos cada vez mais acelerados, embora ainda lentos. A rigidez e a intolerância perdem espaço a partir das relações pessoais. Os costumes são questionados, os valores induzidos são denunciados como nunca. Os efeitos ainda não aparecem na coletividade, as coisas vão solidificando aos poucos, a criança engatinha. Ingenuidade acreditar em efeito imediato, o caminho é longo. Participar dele já é a satisfação que espero da vida. Caminhar do jeito que se quer, e não do jeito que mandam caminhar. É o sentido da vida, no momento. E é fonte de contágio.

Uma visão maior não significa superioridade. Responsabilidade é o que significa. Conscientizemos uns aos outros, sempre que possível. Com respeito, com carinho, que é a melhor maneira de trocar conhecimentos, sentimentos, idéias, o jeito mais tranqüilo, seguro e proveitoso. E com humildade, principal requisito pra um aprendizado constante. Despertamos cada vez mais e um despertamento traz outro, em sucessão infinita. No indivíduo e na coletividade. 

Reportagem de Paulo Nogueira sobre o uso de Marcos Valério pela mídia:

Nenhum comentário: