Pulitzer:
um tapa na cara do Estado de vigilância
Maior
prêmio jornalístico do mundo é concedido a reportagens baseadas em vazamentos
de Edward Snowden — o homem que Washington persegue em toda parte
A
Universidade de Colombia concedeu a honraria mais prestigiada do jornalismo, a
medalha de ouro do Prêmio Pulitzer, aos jornais que publicaram artigos
baseados em documentos vazados pelo ex-contratado pela Agência de Segurança
Nacional dos EUA, Edward Snowden.
O Washington
Post foi escolhido por artigos escritos por Barton Gellman e pela cineasta
Laura Poitras, enquanto o britânico The Guardian, por textos de Glenn Greenwald,
Ewan MacAskill e Pitras. Os quatro jornalistas fizeram amplo uso do material
vazado por Snowden. Grenwald, Poitras e MacAskill encontraram-se com ele em
Hong Kong em 2013, para iniciar o processo que expôs a espionagem ilegal e
inconstitucional praticada pala Agência Nacional de Segurança (NSA)
norte-americana.
A decisão
da Universidade de Columbia é um tapa na cara do governo de Obama e dos
aparatos de inteligência dos EUA e do Reino Unido. O governo norte-americano
esta tentando extraditar Snowden para julgamento, prisão e possível execução
como traidor. Tanto Washington quanto Londres ameaçaram e procuraram intimidar
os jornalistas honrados pelos prêmios.
A medalha é
oferecida “por um exemplo incomum de serviço público meritório, prestado por um
jornal ou site de notícias.” Ao Washington Post, “por sua revelação de
vigilância secreta generalizada pela Agência Nacional de Segurança, marcada por
relatos competentes e perspicazes que ajudaram o público a entender como as
revelações se encaixam no quadro geral da segurança nacional”; ao Guardian,
“por sua revelação da espionagem secreta promovida pela NSA, que ajudou,
através de reportagens ativas, a acender o debate sobre a relação entre o
governo e o público, sobre questões de segurança e privacidade”.
Uma medalha
de ouro semelhante foi oferecida ao New York Times em 1972, por ter publicado
os Documentos do Pentágono (Pentagon Papers), vazados por outro denunciante
vindo de dentro do aparato de segurança nacional, o antigo oficial Daniel
Ellsberg.
Edward
Snowden emitiu uma declaração na segunda-feira, através da Fundação Liberdade
da Imprensa [Freedom of the Press Foundation], parabenizando os dois jornais e
chamando o prêmio de uma “defesa a todos os que acreditam que o público tem um
papel no governo”. Ele prosseguiu: “Devemos isso aos esforços dos
repórteres corajosos e seus colegas, que continuaram trabalhando diante de uma
intimidação extraordinária, incluindo a destruição forçada de materiais
jornalísticos, o uso inapropriado de leis de terrorismo, e tantas outras
maneiras de pressão para tentar fazê-los interromper o que o mundo agora
reconhece como um trabalho de importância pública vital. Essa decisão nos
faz lembrar de que uma imprensa livre pode conseguir mudar o que uma consciência
individual não pode. Meus esforços seriam inexpressivos sem a dedicação, paixão
e habilidade destes jornais. Eles têm minha gratidão e respeito pelo serviço
extraordinário a nossa sociedade. Seu trabalho nos permite pensar num futuro
melhor e numa democracia mais responsável.”
Os mesmos
quatro jornalistas receberam o prêmio George Polk por reportagens sobre
segurança nacional, recebido na última sexta-feira, num hotel em Manhattan,
Nova York. Greenwald e Poitras, ambos cidadãos norte-americanos, retornaram aos
Estados Unidos para receber o prêmio, sua primeira visita ao país desde que
redigiram, em conjunto, os relados sobre a espionagem e vigilância do NSA.
Greenwald agora mora no Brasil, e Poitras em Berlim, para evitar a
interferência norte-americana em seu trabalho jornalístico.
Ambos
disseram que não foram impedidos de entrar no país. Ao se pronunciarem na
cerimônia do prêmio Polk, homenagearam Snowden. “Este prêmio é, na verdade,
para Edward Snowden”, disse Poitras. Greenwald acrescentou: “o que ele fez,
assumindo sua responsabilidade, merece graditão — não indiciamentos e décadas
de prisão”.
Em seu
discurso de aceitação no Polk, MacAskil apontou que o Guardian enfrentou um
ataque muito mais duro do governo no Reino Unido do que a edição
norte-americana do Guardian, ou o Washington Post, já enfrentaram nos
Estados Unidos. Em certo ponto, os agentes da inteligência britânica visitaram
a redação do Guardian, para supervisionar a destruição de drives de computador,
em um esforço pesado de intimidação.
Greenwald
ainda não fez um comentário público sobre o prêmio Pulitzer, mas Poitras disse:
“Eu acho que são ótimas notícias. É um testamento à coragem de Snowden, uma reivindicação
por sua coragem e seu desejo de fazer o público saber o que o governo está
fazendo”.
Poitras e
Snowden também receberam o prêmio Ridenhour, que homenageia um veterano do
Vietnã que trabalhou com Seymour Hersh para expôr o massacre de My Lai. Editores
dos dois jornais fizeram declarações cumprimentando tanto os jornalistas quanto
Edward Snowden. Alan Rusbridger, o editor-chefe do Guardian, disse:
“Estamos particularmente agradecidos por nossos colegas pelo mundo que apoiaram
o Guardian em circunstâncias que ameaçaram sufocar nossas reportagens. E
compartilhamos essa honra não apenas com os colegas do Washington Post, mas
também com Edward Snowden, que arriscou muito em nome do bem público e hoje
está sendo reconhecido por este prestigioso prêmio.”
Janine
Gibson, editora do Guardian norte-americano, disse que ganhar o prêmio foi
importante. Referindo-se à escolha da Universidade de Columbia, ela foi além:
“Acredito que essas palavras dizem alguma coisa sobre o que Edward Snowden fez,
e o que os repórteres e editores fizeram, face a muita retórica e oposição.”
O editor
executivo do Washington Post, Martin Baron, afirmou que a reportagem expôs uma
política nacional “com profundas implicações para os direitos constitucionais
dos cidadãos norte-americanos” e os direitos individuais ao redor do mundo.
“Divulgar a expansão maciça da rede de vigilância da NSA foi um serviço
público”, disse. “Ao construir um sistema de espionagem com foco e capacidade
de intromissão espantosos, nosso governo também solapou abruptamente a
privacidade individual. Tudo isso foi feito em segredo, sem debate público, e
com fiscalização relaxada.”
Ele disse
também que sem as revelações de Snowden, “nós nunca teríamos sabido o quão
longe este país se afastou dos direitos individuais em favor do poder de
Estado.
World Socialist |
Tradução: Gabriela Leite
Fonte: http://outraspalavras.net/
Nenhum comentário:
Postar um comentário