quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Eco-Sabotagem - Por Dave Foreman

Eco-Sabotagem - Por Dave Foreman

Dave Foremam é um eco-guerrilheiro norte-americano, fundador do Earth First!, considerado um grupo de sabotadores ecológicos ou eco-terroristas. O texto a seguir expõe os princípios básicos de ecosabotagem e, apesar de ter se passado quase duas décadas de sua publicação, ele mantém um frescor atual ao lidar com temática tão cara aos militantes ambientalistas radicais quanto a alguns grupos libertários contemporâneos.

Ecosabotagem: o programa estratégico de Dave Foreman,

Dave Foremam é um eco-guerrilheiro norte-americano, fundador do Earth First!, considerado um grupo de sabotadores ecológicos ou eco-terroristas. O texto a seguir expõe os princípios básicos de ecosabotagem e, apesar de ter se passado quase duas décadas de sua publicação, ele mantém um frescor atual ao lidar com temática tão cara aos militantes ambientalistas radicais quanto a alguns grupos libertários contemporâneos.

É chegada a hora de homens e mulheres, individualmente ou em pequenos grupos de atuar de maneira heróica e conscientemente ilegal em defesa da natureza, metendo bastões entre as engrenagens do sistema para destruí-lo. Esta sabotagem estratégica pode ser fácil, sem riscos, e inclusive divertido; sem dúvidas o importante é que pode resultar em algo eficaz para acabar com a derrubada de florestas, extração de gás e petróleo, a mineração, construção de novas estradas, construção de linhas elétricas, armadilhas de caça de animais, e todas as formas de destruição da natureza, incluindo a cancerosa expansão das áreas urbanas. Para obter êxito, a sabotagem deve ser bem estudada e planejada.

A sabotagem é não-violenta. A sabotagem é uma resistência não-violenta à destruição das riquezas naturais e dos territórios não-contaminados. Não intenciona causar perigo aos seres humanos ou a outras formas de vida. Dirige-se às máquinas e aos instrumentos inanimados. Toma-se todas as precauções para reduzir ao mínimo o risco para as pessoas (sabotadores incluídos).

A sabotagem é não-organizada. Não pode existir uma direção central ou uma organização da sabotagem. Qualquer tipo de estrutura alimentaria as infiltrações de agentes provocadores e por tanto a repressão. Trata-se de autênticas ações individuais, e por isso a comunicação entre sabotadores é difícil e perigosa. Uma discussão anônima através de anúncios em algumas revistas, é, por exemplo, um canal de comunicação mais segura para aperfeiçoar as técnicas da estratégia e das medidas de segurança.

A sabotagem é individual. Realizam a sabotagem pessoas individuais ou pequenos grupos de pessoas que se conheçam há certo tempo. Nestes grupos as relações de trabalho são ótimas e se desenvolvem em plena confiança. Quanto mais pessoas estão implicadas, maiores são os riscos de infiltração e delação. Os defensores da Terra evitam trablahar com pessoas que não fazem tempo que se conheçam, com quem não saiba ter a boca fechada e quem tem projeto grandiosos ou ideais violentos (pois podem ser agentes da polícia ou desequilibrados perigosos).

A sabotagem é comedida. Os ecologistas escolhem bem seus alvos. O vandalismo casual e insensato é contraproducente. Os sabotadores sabem que não se pode deter um comércio de madeira destruindo todos os utensílios para o corte de madeira que se encontrem. Primeiro há que assegura-se de que pertencem ao verdadeiro culpado. Os sabotadores se perguntam qual é o ponto débil de um projeto de destruição da natureza e o atacam. O vandalismo insensato leva a perder a popularidade e a simpatia.

A sabotagem é oportuna. A sabotagem se realiza em um momento e um lugar adequados. Há momentos em que a sabotagem pode ser contraproducente. Em geral, os sabotadores não deveriam atuar quando está em curso uma ação de desobediência civil não-violenta contra o projeto em questão (piquetes ou similares). A sabotagem poderia obscurecer os resultados da ação direta e os ocupantes poderiam ser culpados pela eco-sabotagem e ver-se em perigo diante dos trabalhadores e da polícia. Ademais a sabotagem pode resultar inoportuna durante o desenvolvimento de negociações delicadas para proteção de certas áreas. Esta regra tem também suas exceções, o guerreiro da Terra pensa sempre: a sabotagem ajudará ou obstacularizará a proteção dessa área?

A sabotagem é onipresente. A sabotagem é um movi\mento que recorre EE UU. as agências governamentais e os predadores do território desde do Maine ao Hawai sabem que a destruição que realizam das riquezas naturais pode encontrar oposição. A sabotagem em escala nacional forçará a indústria a retirar-se de áreas virgens.

A sabotagem é variada. Qualquer um em qualquer situação pode ser um sabotador. Há quem eleja uma vasta zona intacta, a declare zona a proteger e resista a qualquer intrusão. Outros se especializam contra a derrubada de florestas e contra a presença de praticantes de off-road em diversas áreas. Certos sabotadores tomam como objetivo um projeto concreto, como uma grande linha elétrica, a construção de auto-estrada ou uma prospecção petrolífera. Outros operam a partir do pátio de sua casa, e outros estão tranquilamente em casa enquanto protejem eco-sabotadores a milhas de distância. Há os solitários e há os que operam em pequenos grupos.

A sabotagem é divertida. Apesar de tratar-se de uma atividade muito séria e potencialmente perigosa, a sabotagem também é divertida. Sente-se satisfação, um fluxo de excitação e uma incomparável cumplicidade ao escapulir-se à noite para resistir a estas forças estranhas que estão em Houston, Tókio, Washington ou no Pentágono.

O Eco-sabotador não é um revolucionário. De fato, não deseja derrubar nenhum sistema social, político ou econômico. É simplesmente uma defesa não-violenta da Natureza, que intenta manter a civilização industrial fora das áreas virgens ou provocar sua retirada daquelas áreas que deveriam voltar a ser virgens. Os explosivos, armas de fogo ou outros instrumentos devem ser evitados pois provocam investigações mais rigorosas por parte da lei, repressão e perda de popularidade (o grupo Direct Action é um bom exemplo do que nós não somos).

A sabotagem é simples. Utiliza-se o meio mais simples e a tática mais segura. Salvo quando seja necessário, se evitam ações complicadas. Os meios mais eficazes para deter a destruição da natureza são, geralmente, os mais simples: tornar ?inviáveis? as árvores e as estradas. Entretanto, há casos em que é necessários operações mais complexas, porém o eco-sabotador pensa sempre: ?Qual é o modo mais simples de fazê-lo?

A sabotagem é ética e consciente. A sabotagem não é um ato de gentileza. Os sabotadores são profundamente conscientes da gravidade do que fazem, das graves ações que cometem. São reflexivos. Porém, os sabotadores, mesmo que não-violentos, são guerreiros. Expõem-se pessoalmente a serem massacrados ou feridos. Suas mentes e seus corações são puros. Sabem desenvolver a mais moral de todas as ações: proteger a vida, defender a Terra.

Um movimento baseado nestes princípios poderia proteger milhas de quilômetros de território com mais facilidade do que qualquer atuação dos governos, do Congresso, poderia assegurar a reprodução do urso grizzly e outras formas de vida ameaçadas, muito mellhor que um exército de guardas-florestais, poderia provocar a retirada da civilização industrial de grandes áreas de selvas, montanhas, desertos, planícies, lagunas, costas, tundras, dunas e florestas que são mais adequados para a conservação das riquezas naturais para prover de matérias-primas a insaciável sociedade tecnológica.
Se os comerciantes sabem que uma parte das madeiras está danificada, não haverá ofertas para adquiri-las. Se um supervisor florestal sabe que uma estrada será continuamente destruída, não tentará construí-la. Se os geólogos sabem que será continuamente molestada uma área, irá a outra parte. Se os apaixonados praticantes de off-road sabem que encontrarão os pneus furados em lugares solitários, não perturbarão mais estas áreas. John Muir disse que se algum dia houvesse uma guerra entre raças, ele estaria do lado dos ursos. Pois bem, este dia chegou.

Dave Foreman.

[Extraído da revista anarquista Revuelta, plataforma de divulgacion del pensamiento libertário, n. 10, Barcelona, abril 1992, publicação do Grupo Revuelta]

[livre tradução: Coletivo 12 Macacos]

Fonte: coletivo12macacos@yahoo.com.br

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