Depois da crise, a barbárie? Por Carolina Noury
Ela começou discreta, e aos poucos foi tomando proporções cada vez maiores até atingir o mercado financeiro e refletir no mundo inteiro.
Tudo começou em 2007, nos Estados Unidos, com a crise das hipotecas decorrente do aumento da inadimplência, passou para o mercado imobiliário e teve seu agravamento com a quebra do banco de investimentos americano Lehman Brothers, em 2008, quando a crise então se tornou global. Cada segmento da sociedade foi atingido de uma maneira, assim como cada tipo de mídia abordou o assunto de maneira diferente.
Na opinião do escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação, Vito Giannotti, a mídia empresarial “procurou assustar a humanidade como se a crise fosse uma catástrofe natural. Desastre que iria exigir sacrifícios, perdas e prejuízos de todos. Na verdade estes todos eram os trabalhadores. Os já miseráveis do mundo que produzem todos os lucros do sistema e que agora teriam que aceitar rebaixar salários e entregar direitos para salvar o país. Ou seja, garantir que os patrões saíssem da crise com um mínimo de prejuízos e, se possível, com lucros ainda maiores”.
Já a mídia alternativa “se limitou a rezar o mantra ‘os trabalhadores não vão pagar pela crise’. Em alguns casos os trabalhadores resistiram e enfrentaram a perspectiva de saída da crise apontada pelos patrões”, completou Vito.
Um ponto que teve bastante destaque na grande mídia foi a questão do consumo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva incentivou diversas vezes a população a não parar de consumir para que não houvesse o risco dos trabalhadores perderem seus empregos. O que era veiculado, de fato, por trás desse discurso era o que o professor da Escola de Serviço Social da UFRJ, Mauro Iasi, chamou de mito do liberalismo no qual se acredita que aumentando o consumo, tem-se uma tendência a aumentar a produção e consequentemente gerar mais empregos. Com mais pessoas trabalhando e recebendo salário, teria-se um aumento do consumo. Praticamente um mundo perfeito.
No curso sobre a crise do capitalismo promovido pelo jornal Brasil de Fato, o professor Mauro destruiu essa ideia de mundo perfeito. Lembrando os estudos de Marx, Mauro Iasi desmistificou o mito. Na verdade, quando há o aumento no consumo, estimula-se a concorrência que, por sua vez, estimula a formação de monopólios. Com os monopólios formados, paradoxalmente, a tendência é de uma queda na taxa de lucro.
Mauro destacou a atualidade do pensamento marxista para compreender esta crise. O capitalismo visa a obtenção de lucro. Com a tendência da queda na taxa de juros, o sistema encontrou alternativas para superar e continuar a acumular. Algumas possibilidades são: o aumento da exploração do trabalho; a criação de um exército de reserva para baratear o custo da força de trabalho e a diminuição dos salários, explicou o professor.
Além do aumento da exploração e da precarização das relações de trabalho, Mauro lembrou ainda que determinadas medidas tomadas pelo Estado, como subsídios e isenções ao capital afetam, mesmo que indiretamente, a vida dos trabalhadores, uma vez que esses benefícios são fornecidos através de cortes nos serviços públicos.
As crises são cíclicas, naturais e necessárias do sistema capitalista. Para Antonio Licha, do grupo de análise de conjuntura do Instituto de Economia da UFRJ, apesar do caráter cíclico, não é possível prever quando haverá uma próxima crise, mesmo se possível prevê-la, não seria possível evitá-la.
Na análise de Licha, a crise atingiu o Brasil de maneira violenta e não como uma marola como esperava o presidente Lula antes dos meses negros. Na opinião do professor, essa foi a pior crise pela qual o país já passou. “Nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2008 nós atravessamos o olho do furacão. Não sabíamos o que viria a seguir. Era um contexto de grande incerteza. O setor que mais sofreu os impactos da crise foi o industrial e, por isso, o nível de desemprego não foi tão elevado”, avaliou.
Para Licha, as políticas adotadas pelo governo brasileiro procuraram suavizar os impactos da crise, porém “o governo poderia ter investido em programas sociais para ajudar aqueles que perderam o emprego”, ressalvou.
Após fazer um balanço desses 12 meses de crise, Antonio Licha se mostrou otimista na recuperação do país. Entretanto, ele advertiu que não se pode garantir que o Brasil não entrará novamente em recessão. “Os determinantes e a recuperação da crise não dependem do Brasil, é muito mais estrangeira, vai depender do mercado financeiro americano”.
As vítimas da crise são sempre os trabalhadores. Para Vito Giannotti, a consequência da atual crise é a intensificação da exploração do trabalhador. “Para os 80% da sociedade que vive do seu trabalho [a consequência da crise] pode ser um desastre. A guerra é uma das alternativas perfeitamente possíveis para o capitalismo eliminar um ou dois bilhões de excedente humano. O desemprego pode fazer morrer milhões, e daí? Qual o problema para o sistema? Nenhum. Os trabalhadores vão piorar suas vidas”.
O perverso sistema sempre encontra mecanismos para se reestruturar, como o neoliberalismo. Só nos resta saber qual será o próximo passo: a barbárie? Está cada vez mais nítida a necessidade de se estabelecer uma nova ordem.
Fonte: http://www.fazendomedia.com/
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
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