terça-feira, 24 de agosto de 2010

PM Press: editora independente e anarquista - por ANA

PM Press: editora independente e anarquista

[Ramsey Kanaan é co-fundador da PM Press, uma das mais interessantes editoras do mundo libertário hoje em dia. Powell's Chris Faatz encontrou com ele no mês passado e o entrevistou. Reproduzimos a seguir esta conversa.]

Chris Faatz > Ramsey, quais são as origens da PM Press? Pelo que sei você foi um dos fundadores da AK Press. Você pode falar um pouco sobre esta experiência? Como a AK Press influenciou a fundação da PM?

Ramsey Kanaan < Pelos meus pecados, eu sou/fui, de fato, o fundador da AK. Na verdade a AK foi nomeada dessa forma por causa da minha mãe – Ann Kanaan – embora freqüentemente eu tivesse o hábito de falar para os companheiros que minha mãe se chamava Kalashnikov. Passei grande parte das três décadas (comecei jovem, aos 13 anos) com a AK, e quando ela ficou maior do que eu, nós a estruturamos como uma cooperativa de trabalhadores no Reino Unido. Então quase tudo que aprendi sobre publicação, distribuição, propaganda, escrever, editar, trabalho cooperativo, administrar um negócio, etc., etc., foi feito através da rubrica da AK.

A maioria das coisas foi inventada na medida em que íamos desenvolvendo o trabalho. Estou muito orgulhoso das coisas que fizemos com/na AK – e a PM foi iniciada por mim e outro membro da AK, Craig O'Hara. Somos agora muito sortudos por podermos fazer ainda mais com a PM. Mesmos fins, meios similares, somente tomando um alcance mais amplo de formatos, gêneros e plataformas, para levar as idéias lá fora, e esperançosamente, para que os companheiros possam interagir com elas.

Faatz > Olhando atentamente o teu catálogo e os livros que você já publicou, fica bem aparente que a PM opera desde uma perspectiva radical, libertária, até mesmo anarquista. Que tipo de mercado você encontra para este tipo de material?

Kanaan < Bem, há o mercado que já existe – basicamente o que restou do “movimento” dos anos 60, somado às ultimas gerações de jovens ativistas, que vieram através do punk, do movimento por outra globalização, e por aí vai. O desafio, penso eu, sempre foi apreender não somente a melhor maneira de informar “o movimento”, mas apreender a melhor forma de levar as idéias para todas as pessoas. Realmente, como ativamente contribuir para construir um “movimento” que esteja genuinamente disposto a desmontar o Capital e o Estado.

Não há um caminho “correto”. Em termos de idéias, estamos explorando todos os aspectos da arte, da cultura, da ficção, da música, do vídeo, dos textos acadêmicos e dos manifestos inspiradores, para que as palavras, os sons, e as imagens possam ser levadas além... e esperançosamente, construir uma audiência.

Faatz > Resumidamente, como você definiria o anarquismo para aqueles que estão curiosos?

Kanaan < Isto dependeria do público é claro. Para aqueles que não são muito bem versados em teoria política (ou prática), eu definiria o anarquismo pela noção senso comum de que as pessoas são mais capazes de organizar suas próprias vidas sem o estorvo da hierarquia, da autoridade, estado, capitalismo, etc. É uma forma particular de organização horizontal, oposta às organizações verticais, social e economicamente. Para os mais sofisticados, a resposta rápida seria de que o anarquismo é a auto-emancipação da classe trabalhadora.

Faatz > Dito isto, todo mundo que sabe alguma coisa sobre anarquismo tem um livro ou texto introdutório para recomendar a amigos e colegas de trabalho que pensam que anarquia é desordem, caos, e um mundo sem escrúpulos. Um dos meus favoritos é o “Anarquismo” do Daniel Guerin. Qual que você recomendaria? Da lista da PM, qual seria o mais indicado para as pessoas que querem conhecer mais sobre a forma de política libertária?

Kanaan < Guerin é certamente um dos meus favoritos. Assim como o Mulher à Beira do Tempo de Marge Piercy. E Anarquia em Ação do Colin Ward. Com relação ao que a PM publicou, o monumental Exigindo o Impossível de Peter Marshall é uma introdução de 1000 páginas ao largo rio da anarquia. O livro de Stuart Christie e Albert Meltzer, As Comportas da Anarquia, é uma fantástica introdução ao bom e velho anarquismo classista. E o Por Todas as Pessoas de John Curl é uma maravilhosa escavação da ocultada história dos movimentos e trabalhos cooperativos na América do Norte.

Faatz > É engraçado você ter mencionado a novela Mulher à Beira do Tempo. Em se tratando de ficção, eu amo o “Os Despossuídos” da Ursula Leguin. Quais outras incursões literárias às idéias libertárias que você pode recomendar?

Kanaan < A trilogia Marte, e o “Os Anos do Arroz e do Sal” de Kim Stanley Robinson deveriam ser lidos. Stanley Robson é um socialista utópico, o que é absolutamente perfeito para mim. Notícias de Lugar Nenhum de William Morris não somente representa uma sociedade socialista, mas os processos e armadilhas para se chegar lá.

Faatz > Você não publica somente livros. Quais outros materiais que você também disponibiliza?

Kanaan < A nossa intenção é levar as idéias lá fora. Fazemos isso através de vários gêneros de livros (arte gráfica, quadrinhos, ficção, não-ficção, etc.), formatos de livros (nossos títulos estão todos disponíveis em cópia impressa e em todos os diversos formatos eletrônicos) e lançando DVDs e CDs (novamente, ambos em cópia impressa e eletronicamente) – documentários, música, narrações. Tudo que os companheiros estiverem envolvidos.

Faatz > Falando de música, você publicou alguns livros substanciais sobre as políticas da música. Você poderia dizer alguma coisa sobre eles?

Kanaan < Tenho interesse em trazer ao público os potenciais emancipatórios, ou elementos, em todas as formas de cultura. Como cresci escutando música punk (e também música folk) é de alguma forma mais fácil começar com o que você já conhece. Nós publicamos o “A História do Crass”, sem dúvida a biografia definitiva (baseada em entrevistas com todos os membros da banda) do grupo que não somente criou o gênero conhecido agora como anarco-punk, mas revolucionou uma geração – e continua a revolucionar quase trinta anos após a banda ter acabado. E com o “Vida Sóbria para a Revolução” nós estamos examinando o objetivo radical da cena “straight-edge” – uma subcultura musical que se abstém do uso de drogas, álcool e tabaco. Muitas vezes puritanamente conservador, é claro, mas novamente contendo todos os tipos de idéias, ações e aderências revolucionárias.

Faatz > Quais são as diretrizes para escolher os materiais que você publica? Qual é, brevemente, o objetivo?

Kanaan < Temos dois critérios. Primeiro e antes de tudo, tudo o que publicamos tem que ser bom! Partimos do princípio de que o material esteja, amplamente falando, deixando/adicionando alguma coisa para o mundo. Mas tem que ter qualidade, tanto o material como o visual. O segundo critério no qual temos que pensar é se temos a capacidade de vendê-lo. O que, infelizmente, não é o caso para tudo que queremos fazer.

Faatz > Vi o lançamento de três livros do Paul Goodman. O que provocou o interesse sobre ele, e porque você escolheu publicá-lo nestes tempos?

Kanaan < Goodman é uma das muitas grandes figuras (escritores/autores/palestrantes/ativistas) que não somente tiveram um grande impacto em seu tempo (no caso de Goodman, seu Absurdo Crescente vendeu um milhão de cópias no começo dos anos 60), mas cujas vozes/idéias são tão relevantes hoje como foram ontem. Traçando a Fronteira Mais uma Vez (uma coleção de seus escritos anarquistas) e o Nova Reformação (seu último livro de crítica social, publicado em 1970, na altura de sua desilusão com o movimento da década de 60 que ele mesmo ajudou a parir) estão publicados agora. O Paul Goodman Reader sairá em poucos meses – a coleção definitiva, reunindo a vasta extensão de seus escritos (e ficções e poesias), seguida de uma coleção de palestras e conferências que nunca foram publicadas antes.

Faatz > Você também está publicando um livro do Gustav Landauer. Quem foi Landauer, e porque você acha que ele é importante nos tempos de hoje?

Kanaan < Landauer foi o anarquista alemão mais conhecido, e foi criminalmente negligenciado fora do universo germanófano. Como Goodman, eles escreveu bastante sobre política, atualidades, arte, literatura, e – juntamente com seu amigo bom amigo Martin Buber – propagou um espiritualismo judaico secular. Ele esteve ativo no levante/comuna bávara de 1920, foi capturado e assassinado. Esta é a maior coleção de seus escritos políticos que foi traduzido e publicado em inglês. Estamos bastante entusiasmados! E como os companheiros irão descobrir, seus escritos oferecem muito mais do que somente uma curiosidade histórica.

Faatz > Por fim, um dos livros mais animadores e impressionantes que eu já vi é o Exigindo o Impossível: Uma História do Anarquismo do Peter Marshall. Como é que foi a resposta gerada por este monumental livro de 840 páginas?

Kanaan > Por enquanto ele está vendendo bem, e começou a ganhar uma maior atenção nas resenhas – também deveria, naturalmente. Vendeu 1000 cópias nos primeiros meses de publicação, e as vendas parecem estar melhorando, portanto estamos muito contentes.

Faatz < Muito obrigado, Ramsey, pela disposição.

PM Press: http://www.pmpress.org/

Tradução > Marcelo Yokoi

agência de notícias anarquistas-ana
Árvore amiga
enfeita meus cabelos
com flores amarelas

Rosalva

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