Cinco anos da tragédia de New Orleans e do fracasso da FEMA
Carlos Drummond De Campinas (SP)
Cinco anos depois de New Orleans ser arrasada pelo furacão Katrina e, na sequência, virtualmente abandonada pelo governo de George Walker Bush, a cidade dos Estados Unidos se reergue lentamente e, em grande medida, por esforço próprio. O governo Obama prometeu auxílio, mas até agora nenhuma mudança fundamental ocorreu no sistema institucional de ações emergenciais em catástrofes do gênero. O desmonte ou enfraquecimento extremo do aparelho do estado americano nos anos do primado neoliberal incluiu o esfrangalhamento da agência ambiental FEMA (Federal Emergency Management Agency), fato que agravou em muito as consequências do desastre de 2005.
O virtual aniquilamento da agência ambiental não resultou, no entanto, da incompetência do Estado, conforme a interpretação liberal. A falta de eficiência existiu, não como fruto natural do aparelho público, mas em decorrência da inanição financeira e do raquitismo político impostos pela supremacia do dinheiro à lógica de funcionamento de todas as instituições não privadas.
As agências regulatórias já tiveram mais poder e efetividade de ação. A própria FEMA, no início do milênio, era uma agência eficiente. Até que Bush decidiu, em 2000, entregá-la a um cupincha político sem experiência em catástrofes naturais e outros tipos de desastre. O posto foi apenas um trampolim para ele lançar-se, dois anos depois, à montagem de um promissor escritório de lobby de empresas especializadas na atuação em desastres e grandes projetos de reconstrução. Longe de ser um gesto isolado, a demissão parece ter funcionado como uma senha. Quatro anos mais tarde, dois terços dos principais quadros da FEMA haviam saído para trabalhar nessas empresas ou em escritórios de lobby.
As imagens dos mortos e dos trinta mil desabrigados em desespero no ginásio Superdome retrataram com força o fracasso completo da FEMA, mas a história recente mostra que a decadência de todo o aparato regulatório americano foi um desastre previsível a partir do estrangulamento desse sistema, ditado pelo interesse privado. O mesmo que proporcionou gordo faturamento às empresas especializadas em desastres e aos escritórios de lobby quando News Orleans submergiu.
Carlos Drummond é jornalista.
carlos_drummond@terra.com.br
Fonte: Terra Magazine
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
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