EUA fez ameaças contra tupamaros para resgatar agente da polícia americana em 1970
Há 40 anos, o governo dos EUA incitou o uruguaio a ameaçar de morte prisioneiros tupamaros e seus familiares para conseguir o resgate do assessor policial estadunidense Dan Mitrione, revelam documentos secretos divulgados na semana passada pela primeira vez.
Por David Brooks
Há 40 anos, o governo dos EUA incitou o uruguaio a ameaçar de morte prisioneiros `tupamaros` e seus familiares para conseguir o resgate do assessor policial estadunidense Dan Mitrione, revelam documentos secretos divulgados na semana passada pela primeira vez.
O National Security Archive (NSA), organização independente de investigação, divulgou documentos que demonstram que o governo de Richard Nixon enviou uma mensagem ao seu embaixador no Uruguai, Charles Adair, recomendando que "ameaçasse matar (Raúl) Sendic (recém-detido na época) e outros prisioneiros chave do MLN (Movimento de Libertação Nacional) se Mitrione fosse assassinado". O mensageiro, enviado pelo secretário de Estado, William Rogers, sublinhava que se "isso não fosse considerado, o governo uruguaio deveria ser abordado imediatamente".
A mensagem urgente era para responder ao últimato emitido pelos tupamaros que executariam Dan Mitrione, diretor da Oficina de Segurança Pública da Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA (USAID), ao meio-dia de 9 de agosto de 1970, a quem haviam sequestrado dez dias antes, se 150 dos tupamaros detidos não fossem liberados pelo governo. Momentos depois de receber o mensageiro, o embaixador Adair reportou ao Departamento de Estado: "uma ameaça foi feita a esses prisioneiros para avisá-los que integrantes do `Esquadrão da Morte` tomariam uma ação com os familiares dos prisioneiros se Mitrione fosse assassinado".
O cadáver de Mitrione foi achado na manhã de 10 de agosto quando as exigência dos tupamaros não foram cumpridas pelo governo uruguaio. Carlos Osorio, diretor do projeto da região da NSA, comentou que "os documentos revelam que os EUA foram até o limite da ética" num esforço para salvar Mitrione, um aspecto do caso que permaneceu oculto em documentos secretos durante anos. Deveria haver uma desclassificação plena para estabelecer a verdade sobre a política norte-americana com o Uruguai nos anos 60 e 70".
Osorio indicou que os documentos norte-americanos oferecem "provas irrefutáveis" de que os "esquadrões da morte" eram uma polícia do governo uruguaio e portanto constituiriam provas chaves nos casos sobre esses eventos perante os tribunais uruguaios.
Clara Aldrighi, professora de história da Universidade da República no Uruguai, que colaborou com a NSA na análise dos documentos, afirmou que "depois da morte de Dan Mitrione o governo uruguaio acionou os esquadrões da morte ilegais para caçar a matar os rebeldes". Reiterou também que o governo uruguaio deveria desclassificar seus documentos oficiais sobre esse período de sua história.
Um dos documentos difundidos na semana passada no site da NSA é o primeiro reconhecimento oficial dos EUA detectado até agora sobre a existência dos "esquadrões da morte"uruguaios e, assim, prova que Washington sabia de sua existência.
A história de Mitrione foi a base para o filme Estado de Sitio, de Costa-Gavras, que mostra o apoio norte-ameriacno a uma ditadura que torturava, com um assessor dos EUA que treinava as forças de segurança com técnicas de "interrogação" e anti-rebeldia. Ele foi chefe de polícia de Richmond, Indiana, e depois agente do FBI. Em meados dos anos 60 foi contratado pela USAID para capacitar policiais no Brasil e no Uruguai, países onde se empregou a tortura, entre outras violações de direitos humanos, por governos ditatoriais. Segundo alguns historiadores especializados no tema, Mitrione mostrou técnicas de tortura a oficias uruguaios. Foi através de Mitrione que a USAID impulsionou a consolidação da Direção Nacional de Informação e Inteligência, o DNII, que se encarregou de operações anti-rebeldia no Uruguai. Quando o filme Estado de Sitio estreou, não foi exibido em Richmond, onde vive a família de Mitrione.
Para ver os documentos oficiais e outros relacionados com o caso relacionado aos arquivos do governo do Uruguai divulgados na semana passada, veja a página da NSA na internet: www.gwu.edu/~nsarchiv/
Com informações do La Jornada. Tradução de André Rossi.
Fonte: http://www.revistaforum.com.br/
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