ISRAEL MONTA CAMPANHA NA MÍDIA
Por The Guardian (*)
Israel montou ampla campanha de mídia – que ingleses e norte-americanos chamam de public relations (PR) campaign – para convencer corações e mentes em todo o planeta, de que o Hamás é culpado pela morte e destruição que o mundo está assistindo pelos noticiários de televisão.
Para evitar que se repetisse a onda de crítica, em todo o mundo, que atingiu Israel no início de 2008, quando Israel invadiu Gaza para prender militantes que lançavam foguetes de quintal – brincadeira de criança, comparada ao brutal ataque hoje em curso –, Israel decidiu precaver-se.
“No passado, nosso primeiro-ministro recebia telefonemas de funcionários e políticos. Quando dizíamos a eles ‘Vocês entendem nossa reação, não é? Não podemos admitir aqueles foguetes que...’ eles respondiam ‘Que foguetes?!’ Não tinham qualquer informação sobre nossos problemas”, disse o porta-voz do governo israelense, Yigal Palmor.
Então, enquanto os chefes-da-guerra armavam seus aviões-bombardeiros, o ministério do Exterior preparava ampla campanha de divulgação, para conter as críticas contra o assalto à Palestina, que viria no sábado.
Todos os diplomatas israelenses tiveram o fim-de-semana suspenso e foram chamados às embaixadas. E foi montado em Sderot, junto à fronteira norte de Gaza, um centro de imprensa, multilíngue, para o qual foram convocados jornalistas do mundo inteiro.
Em Telavive, a ministra do Exterior telefonou a David Miliband, secretário de Relações Exteriores da Inglaterra; a Condoleezza Rice, secretária de Estado dos EUA; a Ban-ki-Moon, secretário-geral da ONU; a Javier Solana, chefe de política internacional da União Européia, e aos ministros do Exterior da Rússia, da China, França e Alemanha.
Ontem [27/12], no centro de imprensa de Sderot, Tzipi Livni falou a 80 representantes de países e a altos funcionários de suas embaixadas.
“Concluímos que é essencial divulgar o contexto no qual estamos tomando as necessárias decisões em Israel, e que os acontecimentos seguem uma sequência lógica”, disse Palmor.
Para Israel, a “seqüência lógica” que levou ao brutal bombardeio da Faixa de Gaza não começa pela ocupação de território palestino, em 1967 – única seqüência lógica que os palestinos bombardeados conhecem.
Para Israel, a “seqüência lógica” começa há três anos, com a decisão de retirar os acampamentos militares e as colônias de civis da área da Faixa de Gaza.
“Poderíamos começar por 1948 [ano em que a Palestina foi dividida, para criar Israel], mas queremos concentrar-nos na situação atual. Comecemos, então, pela retirada, em 2005” - prosseguiu o porta-voz. “Palestinos militantes chegaram a dizer que a evacuação seria vitória sua, resultado dos ataques de foguetes e fogo continuado, sobre cidades do sul de Israel.”
Depois de cercar Gaza – o chamado “Muro da Vergonha”, na Palestina – antes de retirar-se da Faixa, Israel passou a impor um bloqueio cada vez mais forte, que impedia, no final de 2005, que quem trabalhasse em Gaza entrasse em território israelense; em 2006, foi bloqueado todo o tráfego de caminhões e o abastecimento; finalmente, em meados de 2007, foram bloqueados até os caminhões de ajuda humanitária.
Perguntado sobre se a campanha de propaganda internacional estaria dando resultado, o porta-voz respondeu que ainda é cedo para avaliar.
Seja como for, os ataques começaram no sábado, no mesmo momento em que matérias que repetiam a fala ouvida no centro de imprensa de Sderot e passavam a ser repetidas, sem alteração, em todo o mundo.
Condoleezza Rice culpou o Hamás “por quebrar o pacto de cessar-fogo e pelo reinício da violência”. Máhmude Abbas, presidente da Autoridade Palestina, disse que os bombardeios poderiam ter sido evitados.
“Sabíamos que havia esse perigo e que teríamos de evitar qualquer pretexto que Israel pudesse usar”, disse Abbas ontem [27/12], enquanto prosseguia o bombardeio sobre Gaza.
(*) Fonte: Jornal The Guardian, 28/12/2008, original aqui.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
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