Um chamado anarquista à Greve Geral de 14 de Julho de 2019
Às Barricadas!
“(…)Os trabalhadores são explorados e oprimidos porque,
estando desorganizados em tudo que concerne à proteção de seus interesses, são
coagidos, pela fome ou pela violência brutal, a fazer o que os dominadores, em
proveito dos quais a sociedade atual está organizada, querem. Os trabalhadores
se oferecem, eles próprios (enquanto soldado e capital), à força que os
subjuga. Nunca poderão se emancipar enquanto não tiverem encontrado na união a
força moral, a força econômica e a força física que são necessárias para abater
a força organizada dos opressores.”
A ORGANIZAÇÃO DAS MASSAS OPERÁRIAS CONTRA O GOVERNO E OS
PATRÕES
Agitazione d’Ancone, 1897
Errico Malatesta
O mundo assiste a crescente ascensão da extrema-direita ao
poder com olhares perdidos em meio à tanta desinformação. Não poderia ser
diferente no Brasil, onde ainda vivemos um período pós-colonial com forças
dominantes afins aos discursos de ódio que atacam as liberdades e o pensamento
libertário como um todo. Este país sofre com o apagar de suas muitas
identidades culturas há séculos, portanto não trata-se aqui de apontar alguma
novidade. Porém, é necessário compreendermos que a imposição das classes
dominantes nunca foi silenciosa ou permissiva, como muitos parecem acreditar em
meio à tanta incredulidade e paralisia.
A pólvora acesa em 2013 deve seu rastilho às muitas revoltas
sangrentas que nós, exploradas e explorados, enfrentamos desde a chegada dos
colonizadores, e diferentemente do que argumenta a esquerda reformista
institucional, a semente protofascista vem sendo cultivada por décadas e
décadas com políticas vindas de governos da social democracia e ditos de
esquerda e não pela insurreição nas ruas em 2013, como assim acusam os
partidários da esquerda que insistem em dizer que a culpa da queda dos seus
líderes foi a massiva organização popular nesse período assim como o surgimento
do fascismo no país. E se a memória recente nos trás este ano emblemático,
talvez seja porque nas ruas, nas avenidas e noites de barricada, conseguimos
entrever uma possibilidade, uma alternativa de luta contra o que está posto
enquanto status quo. Nunca começou naquele ano, mas também nunca terminou após
o mesmo. Vemos companheiras e companheiros entregues ao conformismo dos tempos
de Bolsonaro na presidência da república e os novos (e velhos) fascistas
desfilando abertamente suas práticas de terror em toda a sociedade. De fato,
mesmo nos espaços mais periféricos das capitais e cidades mais
industrializadas, nunca vimos uma explosão de violência, ódio e disputas tão
expressivas como vemos agora. Essa barbárie, tão bem profetizada por Rosa
Luxemburgo em seus escritos, não acontece sem motivo ou por simples erros de
gestão pública. A barbárie é fruto do sistema de classes que, ano após ano,
cria raízes cada vez mais profundas na mentalidade do povo brasileiro. É
necessário o ódio a si mesmo, ao produto que nos tornamos graças ao processo de
exploração e destituição permanente de uma sociedade refém do capital global.
Tal ódio estimula o afastamento, a individualização acentuada, a falsa ideia da
ineficácia de tudo que se diz social. Inclusive, neste sentido, o governo de
Jair Bolsonaro expõe publicamente, todos os dias, sua completa negação às
ideologias de cunho social.
Na esteira do projeto de destruir o Brasil enquanto país
independente dos jogos econômicos de agendas dominantes, encontramos mais um
ataque ao povo: a reforma da previdência. Não é mero acaso que assistimos o
desmonte da educação pública alcançar níveis alarmantes enquanto nos
aproximamos da derradeira votação acerca da reforma da previdência. O governo
que defende um projeto de país que seja apenas colônia de países desenvolvidos
precisa atacar a educação pública, sobretudo as universidades públicas, pois é
neste espaço que o pensamento livre encontra meios de fortalecimento e criação
de alternativas aos discursos totalizantes que hoje espalham-se como pólen por
todo o território brasileiro. A perversão está em transformar um debate tão
sério em cortina de fumaça para manter as amarras acerca da reforma da
previdência sobre total controle nos bastidores do poder. E não devemos nos
enganar em acreditar que a imprensa empresarial está ao lado dos explorados,
muito pelo contrário. Se hoje, empresas como a Rede Globo mantém um ataque
sistemático ao governo e demonstram dúvida da capacidade de articulação para
forçar a aprovação da reforma da previdência, é justamente porque a audiência
desse conflito é de interesse destas empresas de comunicação. É óbvio que as
mesmas defendem uma reforma que beneficiará grandes corporações em detrimento
da sociedade. Porém, estas mesmas corporações entendem que podem lucrar tanto
na via da aprovação quanto na via do falso destaque às oposições. À Rede Globo
não importa se a extrema-direita ou a esquerda institucional estão brigando, o
importante é a briga. E nisso, a população explorada segue perdida em nuvens de
informação e falsas afirmativas, aumentando seu ódio pelas coletividades e seu
afastamento das lutas sociais.
Exatamente pelas questões resumidamente apresentadas é que
acreditamos na necessidade dos anarquistas apostarem na constante inserção nos
meios sociais de luta contra a exploração dos governos e o fascismo latente da
extrema-direita brasileira. Não é no isolamento ou em algum exílio autoimposto
que conseguiremos romper a bolha criada pela mídia capitalista e pelo
bombardeio de fake news dos grupos pró-Bolsonaro. A compreensão sobre os fatos
e o apoio popular não se refletem em likes ou demonstração de interesse em
eventos de facebook. É preciso reinventar a militância anarquista no Brasil e
retomarmos a compreensão de que o anarquismo se constrói no cotidiano da vida
dos trabalhadores. É preciso refazer o caminho rumo aos trabalhos de base, mas
não com as falsas fantasias das organizações fantasmas. Ter uma base significa
pertencimento. É preciso entender que o anarquista só exercita suas práticas se
está em constante diálogo com a população, ainda que isso signifique estar só
no meio de tantas opiniões e discursos diferentes. E que fique bem claro: isso
não é o mesmo que abrir canal de diálogo com fascistas, pois subentende-se aqui
que o diálogo defendido é com o povo explorado, exausto de tanta opressão e que
almeja a luta contra o sistema dominante.
Eis aqui um chamado anarquista para a construção da greve
geral. Compreendemos que esse processo não é feito de forma imediatista,
tampouco acreditamos que algumas semanas sejam o suficiente para uma greve
expressiva. Entretanto, o silêncio não é uma opção para os que acreditam em
tudo o que dissemos até aqui. E se o dia 14 de Julho já está posto como mais
uma chance, então devemos abraçar tal chamado e nos organizarmos para além
dele. Fazemos aqui um chamado para as barricadas, para a sabotagem, para a
construção da guerra social contra as classes que dominam e corroem as
estruturas da sociedade brasileira. Convocamos aqui os anarquistas à luta, ao
trabalho permanente pela libertação dos explorados!
Esmaguemos o fascismo!
Que os governos voltem a temer a anarquia!
“Hoje se exige imperiosamente uma decisão de nossa parte: ir
para as massas e criar a revolução com elas, ou então abster-se e renunciar à
revolução social”
Nestor Makhno
Liberdade para Rafael Braga!
“Que as chamas da insurreição iluminem o caminho para a liberdade”
R.I.A
Fonte: https://redinfoa.org/um-chamado-anarquista-a-greve-geral-de-14-de-julho-de-2019-as-barricadas/
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Fonte: https://noticiasanarquistas.noblogs.org/
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