A Palestina está à venda em Jerusalém: "Excelente localização"
por Michelle Amaral da Silva
Área à venda é a mesma na qual Israel prometeu que não haveria novas construções, para que, os palestinos pudessem ir do norte ao sul da Cisjordânia
11/05/2009
Daphna Golan
Esperemos que a Casa Branca seja assinante dos jornais de Jerusalém, e leia-os antes da chegada de Benjamin Netanyahu a Washington. Basta passar os olhos pelos anúncios gigantes de 'novos empreendimentos imobiliários', para que se economizem quantidades consideráveis de dinheiro, tempo e lamentações dos contribuintes norte-americanos e israelenses.
Há anos Israel promete que não haverá novas construções nas colônias na Cisjordânia. O presidente Shimon Peres reiterou essa promessa recentemente ao primeiro-ministro tcheco, Mirek Topolanek, que atualmente ocupa a presidência da União Europeia. Topolanek, por sua vez, prometeu trabalhar para melhorar as relações entre Israel e a Europa. Netanyahu, em sua visita aos EUA, certamente repetirá as mesmas mentiras já mentidas por Peres.
Essa semana, um jornal de Jerusalém noticiou que qualquer fábrica de propriedade de cidadão israelense que deseje transferir-se para a colônia de Ma'aleh Adumim terá vantagens de três tipos.
Primeiro, a "excelente localização", a dez minutos de Jerusalém. O mapa mostrado no anúncio só indica colônias israelenses como locais recomendados para instalações de fábricas – nenhuma comunidade palestina, sequer as localizadas ao lado, porta com porta, das colônias israelenses.
A segunda vantagem anunciada é a acessibilidade. Caso os norte-americanos não entendam, aí está dito que Israel construiu estradas para uso exclusivo de israelenses, de modo que possam viver e trabalhar nos territórios ocupados sem jamais cruzarem com palestinos.
A estrada 443 foi pavimentada, para dar mais 'acessibilidade' até Ma'aleh Adumim. O Estado afirmou, ante a Alta Corte de Justiça, que a estrada – construída em terra expropriada de palestinos – visava a beneficiar a "população local". Estranhamente, comprovando exatamente o contrário disso, a estrada é vedada aos palestinos e só israelenses transitam ali.
Terceiro, o anúncio promete as mesmas deduções de impostos que se oferecem para construções na chamada "Área A, de Prioridade Nacional", e acrescenta: "a área industrial na colônia de Ma'aleh Adumim é a maior reserva de terra em toda a área de Jerusalém. Os lotes estão à venda por preços módicos."
É exatamente a mesma área na qual Israel prometeu que não haveria novas construções, para que, algum dia, os palestinos pudessem movimentar-se livremente entre o norte e o sul da Cisjordânia.
Se alguém na Casa Branca ou nos EUA ainda pensa que as novas construções em Ma'aleh Adumim seriam exceção à regra, os enormes anúncios publicitários publicados nos jornais de Jerusalém comprovam que, sim, há projeto já em andamento para novas construções em todos os territórios ocupados à volta de Jerusalém.
Há, por exemplo, anúncio de "oportunidade de ouro" em Har Homa, mas nenhuma informação sobre os palestinos em cujas terras as novas casas estão sendo construídas.
O anúncio tampouco fala da vila de Nuaman que ali existia e cujas terras foram anexadas a Israel, mas cujos moradores têm documentos de identidade palestinos e, portanto, são classificados como residentes ilegais... dentro de suas próprias casas e em terrenos de sua propriedade.
O muro da separação aprisiona os moradores de Nuaman e os separa, simultaneamente, tanto de Jerusalém – cidade à qual absolutamente não podem chegar – como, também, da Cisjordânia. Só podem entrar na Cisjordânia quando os pontos de fronteira estão abertos.
Outro anúncio, de construção "nascida numa colher de prata", exibe um prédio e apartamento modelos, mas sem dizer que estão localizados na área das cidades de Sur Baher, Umm Tuba, Abu Dis e Beit Sahour. São cidades e vilas palestinas, algumas delas incluídas na jurisdição municipal de Jerusalém, que foram varridas, não apenas do mapa exibido nos anúncios publicitários desses novos 'empreendimentos imobiliários', mas também da consciência do governo de Israel, o qual tampouco jamais ofereceu aos palestinos qualquer plano de zoneamento que lhes permitisse pensar em construir moradias, pavimentar estradas e construir escolas.
Hoje, quando os contribuintes norte-americanos estão obrigados a sobreviver às dificuldades da crise econômica, Israel bem poderia poupar-lhes o dinheiro que investem na construção e na manutenção das colônias ilegais.
Em vez de torrar tempo e recursos tentando entender por que Israel insiste em construir estradas, 'projetos imobiliários' e colônias exclusivas para israelenses, a Casa Branca bem poderia providenciar uma assinatura dos jornais de Jerusalém.
Ali os norte-americanos seriam facilmente informados – e poderiam informar o primeiro-ministro de Israel e sua trupe – de que só seriam bem-vindos, para discutir o apoio dos EUA, se, e se somente se, os israelenses realmente pararem de construir 'empreendimentos imobiliários' ilegais nos territórios palestinos ocupados.
Daphna Golan é professor de Direito, na Universidade Hebraica de Jerusalém.
O artigo original pode ser lido em:http://www.haaretz.com/hasen/spages/1083089.html
Fonte: http://www.brasildefato.com.br
segunda-feira, 11 de maio de 2009
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