quinta-feira, 25 de julho de 2013
Anarquistas Palestinos em Conversação: Recalibrando o anarquismo em um país colonizado - Por Joshua Stephens
Anarquistas Palestinos em Conversação: Recalibrando o anarquismo em um país colonizado
“Honestamente, ainda estou tentando desencanar dos hábitos nacionalistas", brinca o ativista Ahmad Nimer, enquanto conversamos do lado de fora do café Ramallah. O assunto da nossa conversa parece improvável: viver em uma Palestina anarquista. "Em um país colonizado, é um tanto difícil convencer as pessoas de uma solução não autoritária e não estatal. Você encontra, no geral, uma mentalidade - frequentemente próxima do nacionalismo - estritamente anticolonial", lamenta Nimer. De fato, anarquistas na Palestina atualmente tem um problema de visibilidade. Apesar do destaque da atividade anarquista internacional e israelense, não parece haver uma percepção correspondente do anarquismo entre os próprios Palestinos.
“A discussão contemporânea sobre temáticas anarquistas desloca sua ênfase na direção de algo como uma aproximação do poder: rejeitar o poder de cima, a favor do empoderamente. Quando você fala sobre anarquismo enquanto um conceito político, é definido como rejeição ao Estado", explica Saed Abu-Hijleh, um professor de geografia humana na Universidade An-Najah, em Nablus. "Fala sobre liberdade e auto-organização da sociedade sem a interferência do Estado". Mas como pessoas sem Estado se engajam com o anarquismo, um termo que implica oposição à forma do Estado enquanto condição de sua existência?
Na Palestina, elementos da luta popular amiúde se auto-organizaram historicamente. Mesmo não havendo identificação explícita enquanto "anarquismo". "As pessoas já realizavam organizações horizontais, ou não hierárquicas por todas as suas vidas", disse Beesan Ramadan, outra anarquista local, que descreve o anarquismo enquanto "tática", apesar de questionar a necessidade de um rótulo. Ela continua, "Já está na minha cultura e no próprio modo através do qual o ativismo Palestino funciona e funcionou. Durante a Primeira Intifada, por exemplo, quando a casa de alguém era demolida, as pessoas se organizavam para reconstruí-la, quase espontaneamente. Enquanto uma Palestina anarquista, procuro retornar às raízes da Primeira Intifada. Não veio de uma decisão política. Veio contra a vontade da OLP (Organização para a Libertação da Palestina". Yasser Arafat declarou independência em Novembro de 1988, após a Primeira Intifada ter começado em Dezembro de 1987”, diz Ramadan, continuando "...para sabotar os esforços da Primeira Intifada".
O caso Palestino aprofundou suas complicações nas décadas recentes. O panorama de uma auto-organização preponderantemente horizontal na Primeira Intifada, foi substituída em 1993 com a assinatura dos Acordos de Oslo e a criação de cima para baixo da Autoridade Palestina (AP) que criaram. "Agora, aqui na Palestina", observa Ramadan, "nós não temos o significado de autoridade que outras pessoas desafiam... Nós temos a AP e a ocupação, e nossas prioridades são sempre confusas. A AP e os Israelenses [estão no] mesmo patamar porque a AP é uma ferramenta para Israelenses oprimirem Palestinos". Nimer também compartilha sua perspectiva, argumentando que agora, a AP se expandiu muito mais amplamente, e que muitos agora a observam como uma “proxy-occupation”.
“Ser um anarquista não significa carregar uma bandeira rubro-negra ou participar do Black Bloc", ressalta Ramadan, se referindo às táticas anarquistas de protestos estabelecidas, de vestir roupas negras e cobrir a o rosto. "Eu não quero imitar nenhum grupo ocidental no modo que "fazem" o anarquismo... não vai funcionar aqui, porque você precisa criar uma nova consciência nas pessoas, e elas não entendem este conceito". Entretanto, Ramadan acredita que a baixa visibilidade dos anarquistas Palestinos, e a falta de consciência sobre o anarquismo entre Palestinos de maneira mais ampla, não necessariamente significa que existem poucos. "Eu acho que existe um bom número de anarquistas na Palestina", ela percebe, apesar de admitir mais tarde, "... mas, por agora, é uma opinião individual, apesar de estarmos todos ativos em nossos próprios meios".
Esta falta de um movimento anarquista unificado na Palestina pode ser resultante do fato de os anarquistas Ocidentais nunca terem realmente focado no colonialismo. "[Escritores ocidentais] não tiveram essa necessidade", argumenta Budour Hassan, um ativista e estudante de direito. "A luta deles era diferente". Nimer também acrescenta: "Para um anarquista nos Estados Unidos, a descolonização pode fazer parte de uma luta antiautoritária; para mim, é simplesmente o que precisa acontecer".
Significativamente, Hassan amplia sua própria compreensão do anarquismo além das posições que se colocam meramente contra o Estado ou o autoritarismo colonial. Ela se refere ao romancista Palestino e nacionalista Árabe Ghassan Kanafani, percebendo que apesar de ter desafiado a ocupação, "...ele também desafiou as relações patriarcais e a burguesia... é por isso que eu penso que Árabes - anarquistas Palestinos, do Egito, da Síria, de Bahrain - precisam começar a reformular o anarquismo de um modo que possa refletir nossas experiências de colonialismo, nossas experiências enquanto mulheres em uma sociedade patriarcal, e assim por diante".
“Apenas fazer parte de uma oposição política não irá salvar você", adverte Ramadan, acrescentando que para muitas mulheres, "Quando você se levanta contra a ocupação, também precisa se levantar contra a família". De fato, a superênfase de retratos de mulheres nos protestos, ela continua, mascara o fato de que na realidade, muitas mulheres precisam lutar só para estarem lá. Mesmo comparecer em reuniões vespertinas requer das mulheres jovens uma superação das limitações sociais não enfrentadas, em contrapartida, pelos homens.
“Enquanto Palestinos, temos que estabelecer uma conexão com os anarquistas Árabes", diz Ramadan, influenciada pela sua leitura do material proveniente de anarquistas no Egito e na Síria. "Nós também temos muito em comum e, em função do isolamento, acabamos encontrando anarquistas internacionais que às vezes, por mais que sua política seja boa, permanece presa em suas ideias errôneas e Islamofobia".
Em um pequeno trecho publicado na Jadaliyya (revista online) intitulado "Esclarecimentos Anarquistas, Liberais, e Autoritários: Notas da Primavera Árabe", Mohammed Bamyeh argumenta que as recentes insurreições Árabes refletem "...uma rara combinação de métodos anarquistas e intenções liberais", notando que "...o estilo revolucionário é anarquista, no sentido de que necessita pouca organização, liderança, ou mesmo coordenação, [e] tende a desconfiar de partidos e hierarquias mesmo após o sucesso da revolução”.
Para Ramadan, o nacionalismo também representa um problema significante. "As pessoas precisam do nacionalismo em tempos de luta", ela admite, "[Mas] às vezes se torna um obstáculo... Você sabe o que sentido negativo do nacionalismo significa? Significa que você só pensa enquanto Palestino, que os Palestinos são os únicos que sofrem no mundo". Nimer também acrescenta, "Estamos falando sobre sessenta anos de ocupação e limpeza étnica, e sessenta anos de resistência através do nacionalismo. Isso é muito longo, não é saudável. As pessoas podem ir do nacionalismo ao fascismo muito rapidamente".
As multidões de Dezembro no Cairo, na praça Tahrir, podem ainda oferecer esperança para os Palestinos anarquistas. Enquanto o presidente Mohamed Morsi consolida poderes executivos, legislativos e judiciais em seu escritório, grupos anarquistas se juntam às manifestações. Estes Egípcios atualmente chamam a si próprios de anarquistas e abraçam o anarquismo enquanto tradição política. De volta à Ramallah, Nimer reflete: "Frequentemente, sou pessimista, mas você não pode descontar nos Palestinos. Podemos irromper a qualquer momento. A Primeira Intifada começou com um acidente de carro”.
Este artigo apareceu originalmente na edição de Fevereiro da revista Libanesa "O Posto Avançado".
Tradução > Malobeo
agência de notícias anarquistas-ana
no canto da janela
nova linha do horizonte:
o fio da aranha.
Tânia Diniz
quarta-feira, 24 de julho de 2013
[EUA] A entrevista de Mumia Abu-Jamal que tentaram esconder - por ANA
[EUA] A entrevista de Mumia Abu-Jamal que tentaram esconder
[No último dia 5 de junho, após Mumia Abu-Jamal conceder uma entrevista telefônica ao programa radiofônico do advogado Michael Coard chamado “Radio Courtroom” (Tribunal na Rádio), o Departamento de Correções (DOC) estadunidense proibiu as chamadas telefônicas para ele como castigo. E somente em 13 de julho, depois de uma campanha popular de pressão, Mumia voltou a receber ligações e participar do programa de rádio do advogado Michael Coard. E, finalmente, depois de um ano e meio, o DOC aprovou as visitas normais do filho de Mumia, Jamal Hart, que poderá também levar o seu filho e neta de um ano para visitar Mumia. Pois é, Mumia é bisavô! A seguir, a transcrição da entrevista de Mumia que tentaram esconder. Mumia livre já!]
Michael Coard > Hoje é um dia absolutamente histórico. É a estreia do Radio Prison Showapresentado por Mumia Abu-Jamal e co-apresentado por seu advogado Michael Coard, do programa Radio Courtroom em 900AM-WURD. Estaremos em contato com Mumia Abu-Jamal periodicamente. Mumia o pai. Mumia o esposo. Mumia o jornalista. Mumia o autor. Mumia o revolucionário. E Mumia preso temporário. Antes de qualquer coisa, Mumia, como se sente hoje?
Mumia Abu-Jamal < Muito bem. Obrigado por perguntar.
Michael > E te pergunto sinceramente. Falo por parte da comunidade e estamos preocupados por sua situação, seu bem estar. Mas este é seu programa, Mumia. Pode improvisar. Eu nada mais vou fazer que lançar umas poucas perguntas e espero que o leve aonde quiser. Primeiro gostaria que repartisse com os ouvintes o que é o trabalho rotineiro ou a brutalidade cotidiana que ocorre na prisão. Coloquemos os ouvintes em seus sapatos. Conte-nos de um dia seu e de qualquer outra coisa que queira acrescentar.
Mumia < Pois, se eu pudesse modificar um pouquinho a pergunta...
Michael > Sim, por favor.
Mumia < Falaria do dia de uma pessoa típica, porque acredito que de muitas maneiras, minha realidade não é igual. Eu trabalho todos os dias. Leio muito diariamente. Passo muito tempo estudando. Não estou dizendo que não existem outras pessoas que não fazem o mesmo. Sim, existem. Há homens que me superam nisto, mas não acredito que seja um acontecimento raro, notável ou desconhecido que muitas pessoas que não vão bem na escola se graduam no sistema industrial carcerário, ou como dizemos, o complexo industrial carcerário. E aqui estão mal equipados para estudar porque têm dificuldades para ler, escrever, compreender. Muitos homens são analfabetos. Por isso, seu dia consiste em trabalho monótono e pesado. Trabalho árduo. Porque há poucas opções para alguém que deseja obter educação.
Desgraçadamente, como mencionei, estar aqui é uma espécie de graduação. Existem aqueles que leem e estudam se encontram possibilidade, e pela primeira vez em sua vida aprendem coisas fora do ambiente escolar que deveriam ter aprendido muitos anos antes. Mas para a maioria, desgraçadamente, há só oportunidades perdidas devido às ações do senhor que alguns chamamos entre risadas “o primeiro presidente negro” (risos). Falo de William Jefferson Clinton. Fez muitos cortes em bolsas de estudo e outras oportunidades educativas. A lógica do ex-presidente era que estas coisas não estavam disponíveis a pessoas no “mundo livre” e por isso, não deveriam estar disponíveis aos presos. É uma visão invertida do mundo.
Na verdade, estes programas devem estar disponíveis a todas as pessoas nos Estados Unidos. Mas como bem sabe, sendo advogado, não há tal coisa como um direito constitucional a educação. Por isso temos milhões de pessoas que não podem desenvolver-se, não podem aprender. E essa é a experiência de muitos homens neste tipo de situação.
Michael > Mumia, me agrada que tenha modificado minha pergunta, e antes de chegar à segunda, me permita te perguntar sobre o que disse ao modificá-la. Mumia, por que e como é tão desinteressado? Por que pensa sempre na situação de outros e nunca fala das injustiças que fizeram a você pessoalmente?
Mumia < Pois, eu não diria nunca, diria raras vezes (risos). A verdade é que [interrupção]... Falemos desta prisão onde estou, por exemplo. Aqui tem cerca de 2.200 homens. Tem 51.000 no estado da Pensilvânia. Se checasse os 50 estados e Porto Rico, encontraria 2.5 milhões de pessoas, quase a maioria dos quais são pessoas afro-americanas. Por isso, não podemos ignorar o que, e o que seria para qualquer comunidade uma imensa catástrofe.
Michelle Alexander escreveu um aclamado livro intitulado “O Novo Jim Crow¹”, no qual faz algumas observações arrepiantes muito fundamentais. Por exemplo, diz que o número de homens negros na prisão nos Estados Unidos hoje em dia supera o número de pessoas mantidas em regime de escravidão em 1855 justamente antes da Guerra Civil. Também diz que o número atual de homens negros, e mulheres negras também, nas prisões dos Estados Unidos supera o número de encarcerados na África do Sul durante o regime de apartheid em seu apogeu. Lá pessoas negras em todas as partes do país, incluindo líderes, legisladores, acadêmicos e ativistas protestavam contra a feiura do regime de apartheid. Pois nós já ultrapassamos essa feia realidade, mas a camuflamos com um presidente negro, prefeitos negros, diretores e comissários carcerários negros. E o efeito em nossa comunidade é profundo.
Então quando falo de tudo isto é porque não se comenta o suficiente. O faço porque a realidade é óbvia todos os dias. Se mais pessoas falassem disto, eu não teria que dizer uma só palavra, não? (risos)
Michael > Bem dito. Queremos escutar mais sobre isto. Me deixe te fazer outra pergunta: Quanta fé tem, se é que tem, no sistema legal?
Mumia < Bem, acredito que a fé é para amantes ou sacerdotes, digo gente religiosa. Não acredito que a lei seja um lugar para o amor ou a religião. Durante muitos anos tenho dito que não tenho nenhuma fé, nenhuma confiança no sistema. Nenhuma. E o sistema tem mostrado que tenho razão.
É interessante que me pergunte isto agora mesmo. Estou escrevendo um livro junto com o cineasta Steve Vittoria, e por isso estou investigando a Suprema Corte. Tenho lido uns quatro livros sobre o tema dentro das últimas três semanas. E quanto mais leio, menos motivo tenho para ter fé nesta instituição tão apregoada. O que os juízes tem feito é apoiar todo tipo de repressão jamais conhecida pela humanidade.
Michael > Sim, concordo.
Mumia < Ou quando não o fazem, quando criticaram ou expressaram oposição ao injusto, ou o declararam inconstitucional, o que passa no mundo real é muito diferente do que encontramos em suas opiniões.
Michael > Sim, sim.
Mumia < Houve um caso decidido em meados de 1880, onde determinaram que o confinamento em solitária (o isolamento prolongado em uma cela) era inconstitucional, que era um castigo cruel e incomum. Imagina! Seria assombroso obter uma decisão como aquela hoje em dia, quando existe muito mais gente confinada em solitárias por um fator ao redor de 1.000.
Pelo menos 25.000 pessoas vivem em isolamento quase total em todas as partes do país nas prisões de controle em cada estado e no sistema federal. Estamos falando de manter aos homens sós em uma cela, muitas vezes com nada, não durante dias ou meses, mas durante anos e décadas.
Sob a lei internacional, isto normalmente se chama “tortura”, porque somos animais sociais, criaturas sociais a quem nos faz falta a interação social com outras pessoas.
Então ter fé na lei seria uma loucura.
Michael > Bem dito. E me permita seguir com outra pergunta. Se as pessoas razoáveis já não tem fé ou confiança no sistema, que fazemos quando há uma injustiça descarada? Que fazemos a respeito do complexo industrial carcerário? E suponho que a pergunta mais ampla é buscamos reforma ou buscamos revolução? Como se promove uma mudança se não trabalhamos desde dentro, usando o sistema, usando a lei?
Mumia < Pois eu considero de uma maneira um pouco diferente e te direi o porquê. Antes mencionei a Michelle Alexander. E tem um motivo para retomar o que disse. Em seu livro “O Novo Jim Crow”, ela diz que dada a magnitude do complexo industrial carcerário hoje em dia, nada menos que um movimento massivo começará a sacudir esse baluarte de repressão. É o que impactou o sistema original de segregação racial denominado “Jim Crow” e faz falta o mesmo agora. Se as pessoas decidirem... Não diz na Declaração de Independência que as pessoas tem direito de mudar ou abolir seu governo?
Michael > Sim senhor, sim senhor.
Mumia < É algo que as pessoas têm que decidir. E diz respeito aos que chamamos ativistas, ou radicais, ou revolucionários, fazer este chamado. Cabe a eles organizar as pessoas, levantar um movimento [interrupção], um movimento dirigido a esta grande injustiça social de nossos tempos.
Michael > Mumia, falas desta grande injustiça social de nossos tempos. Se tivesse que classificar as grandes injustiças atuais, se sentiria a vontade dizendo, está é mais grave, esta é a segunda? Qual considera a mais flagrante, se é que tem uma mais flagrante? Seria o complexo industrial carcerário? Seria outra coisa? Haverá um monte? Você, o que diria?
Mumia < Para que haja claridade, evitaria falar de um monte, ainda que talvez um monte de injustiças venham a mente. (risos) Para simplificar, e para explicar claramente a necessidade de organizar um movimento, diria que não é uma coincidência que na cidade da Filadélfia estão fechando 27 escolas, principalmente na comunidade negra. Em Chicago, estão fechando 54 escolas. Poderíamos falar do mesmo no Harlem ou em Rochester ou em Detroit – em cidades por todas as partes da nação negra. A educação é a porta, ou me permita reformular isso – a falta de educação é a porta para o complexo industrial carcerário.
E por que acha que estão fechando escolas principalmente na comunidade negra? Porque têm planos para que todos os jovens de toda uma geração migrem para as ruas e logo depois para as prisões onde podem os explorar economicamente. Milhões de dólares que se devem gastar nas comunidades negras da Filadélfia Norte, Filadélfia Oeste e Germantown irão para os povos carcerários de Waynesburg ou até aqui em Mahanoy. Porque o censo conta as pessoas. [interrupção]. Então o dinheiro recolhido dos impostos que se devem gastar em transportes, educação e saúde se gasta nesta parte do estado onde agora há mais gente (encarcerada). E Filadélfia Norte, Filadélfia Oeste e Germantown perdem cada vez mais. A educação e o complexo industrial carcerário estão relacionados. São parte da mesma coisa.
Michael > Mumia, recebemos o aviso de que só temos mais 60 segundos nesta chamada. Não deixe de falar, por favor. Queremos escutar suas sábias palavras. Só quero te perguntar mais uma coisa. Como mantém sua agilidade mental, seu senso de humor? Estou te disparando perguntas e suas respostas são rápidas e às vezes divertidíssimas. Como o faz?
Mumia < Leio muito. Estudo muito. Tornou-se um hábito que não posso deixar. Tem que estar preparado quando uma oportunidade se apresenta, como é o caso agora. Obrigado, meu irmão. Foram grandiosos esses 15 minutos.
Michael > Obrigado a você, Mumia, e vamos seguir com isto. Muitíssimo obrigado por seu tempo. Diria “fique firme”, mas sei que de todo modo já vai o fazer.
A Rádio Prision Show com Mumia Abu-Jamal e Michael Coard é transmitida toda a primeira quarta-feira de cada mês, às 12hs (horário estadunidense) como um segmento da Rádio Courtroom em 900AM-WURD, na Filadélfia.
Assine uma petição para exigir sua libertação imediata:
Escreva uma carta a Mumia:
Mumia Abu-Jamal #AM8335
SCI Mahanoy
301 Morea Road
Frackville, PA 17932
EUA
Infos sobre o caso Mumia, em português:
Tradução > Caróu
agência de notícias anarquistas-ana
Flores azuis
no fundo de águas rasas.
Dama-do-lago.
Gladston Salles
terça-feira, 23 de julho de 2013
Para desempatar o jogo – por Vinicius Souza & Maria Eugênia Sá
Para desempatar o jogo
Saldo das mobilizações de junho ainda é ambíguo. É hora de impulsionar novas pautas e enfrentar manipulação da mídia
Junho de 2013 não será esquecido tão cedo. Pela primeira vez desde a campanha pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor, centenas de milhares de pessoas foram (e algumas continuam indo) às ruas gritar por direitos, por projetos, protestar contra uma infinidade de fatos e apoiar causas das quais muitas vezes não têm a mínima informação. Os grupos que iniciaram esses protestos, como o Movimento Passe Livre (MPL), perderam rapidamente o controle e o rumo das massas.
Percebendo a chance de aproveitar as passeatas para desgastar o governo federal, a grande mídia muda radicalmente seu discurso (literalmente do dia para a noite) e propagandeia bandeiras mais do que suspeitas, de modo a contemplar interesses específicos e diluir tudo o mais numa pauta infinita de reivindicações abstratas. Jornais, revistas e TVs usam todo o seu conhecimento sobre o funcionamento da indústria cultural, construído ao longo de mais de cem anos, para introduzir como gritos de guerra slogans vazios retirados de propagandas comerciais como “o gigante acordou” (Johnny Walker – “estranhamente” semelhante a palavras de ordem evocadas na fatídica Marcha da Família com Deus pela Liberdadede 1964) e “vem pra rua” (Fiat).
Ato contínuo, policiais à paisana e grupos de extrema direita, como skinheads, infiltram-se nas manifestações incitando atos de vandalismo de jovens pobres sedentos por adrenalina e expulsando com grande violência ativistas de partidos de esquerda que nunca dormiram ou saíram das ruas. As bases para um golpe jurídico/midiático no estilo dos realizados recentemente no Paraguai e Honduras, estão lançadas, sob os aplausos de uma oposição sem projeto, apelo ou apoio popular. Mas, num gesto de argúcia política, a presidenta Dilma vira o jogo em dois discursos e uma série de reuniões com movimentos e partidos, usando a vontade de participação direta da população na política para impulsionar projetos discutidos sem resultado há décadas no Congresso.
A volta do debate
Uma coisa não se pode negar aos meninos do MPL: eles trouxeram de volta às ruas e às redes o ato de discutir política, um tema quase tabu até ontem, mesmo nas mesas de bar. E, ainda mais incrível, no meio de um torneio mundial de futebol vencido por um bom time brasileiro, como há décadas não se via.
Isso não é pouco se pensarmos que a moçada, especialmente da “nova classe média”, cresceu ouvindo dizer que somente carnaval e futebol unem o Brasil, que todo político é ladrão e que não existe mais esquerda e direita. Por isso vídeos simples e diretos, como o do PC Siqueira são fundamentais para explicar conceitos básicos que a maioria não aprendeu na escola e que muitos não discutem nas universidades privadas que preparam “para o trabalho” e não para a cidadania.
Os memes de internet, como o vídeo citado, sátiras, cartuns e outras formas de expressão de ideias na rede, fazem parte da cultura dessa juventude e a impulsionou para além das telas, alcançando as praças e avenidas. Obviamente, a indústria do marketing descobriu seu potencial de mobilização (pela vertente do consumo) antes dos cientistas políticos. Um exemplo do ativismo que saiu do Facebook e influiu decisivamente na política real foi o evento Amor Sim, Russomano Não, que ajudou a desmascarar uma candidatura de direita apoiada pela igreja evangélica, que queria transformar cidadãos em “consumidores de serviços públicos”. As festas na Praça Roosevelt, rebatizada Praça Rosa, com mais de 20 mil pessoas, apesar de “apartidárias”, empurraram o candidato do PT, Fernando Haddad, à vitória nas eleições para prefeito de São Paulo. As tentativas do PSDB em criar seus próprios eventos nos mesmos moldes não conseguiram juntar mais do que 200 apoiadores na praça. Assim, o território virtual segue numa imensa disputa pelos corações e mentes das novas gerações.
A captura pela grande mídia
A tomada das ruas por centenas de milhares de pessoas, contudo, não pode ser atribuída exclusivamente às redes sociais. O conhecido e longamente estudado papel dos oligopólios dos meios de comunicação de massa no imaginário e nas ações das populações tem se destacado mais uma vez. O claro ponto de inflexão foi a semana de 10 de junho, quando a Veja São Paulo trazia que “a cidade” “pagava o pato” pelas manifestações, Arnaldo Jabor chamava os manifestantes de criminosos na Globo e Folha e Estadão trouxeram editoriais exigindo da polícia e dos governos “medidas enérgicas” para devolver aos cidadãos de bem o “direito de ir e vir” com seus carros. Seu enclave simbólico era a avenida Paulista, que não podia ter o tráfego interrompido devido aos diversos hospitais na região. Depois de segunda, 17 de junho, a via tem sido fechada praticamente todas as noites, sem que saiba notícia de um único paciente em ambulância que tenha morrido por causa disso.
A esquerda organizada sempre esteve presente nos movimentos sociais e nas ruas, sem no entanto conseguir contagiar as “massas” depois da redemocratização. E quando conseguia números expressivos de participação popular em marchas que cortaram o país, normalmente era reprimida e jamais devidamente representada nos telejornais. Vereadores e deputados do PT, por exemplo, sofreram o mesmo peso da PM e da Guarda Civil Metropolitana, com bombas de gás e balas de borracha, ombro a ombro com integrantes do MPL quando o ex-prefeito Gilberto Kassab (sucessor de José Serra) aumentou as tarifas de ônibus acima da inflação em 2011. Obviamente isso não saiu no Jornal Nacional.
Mas quando o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, manda no dia 13 a cavalaria, a Tropa de Choque e os batalhões do Tático Móvel e Rocam lançarem sua violência indistintamente contra manifestantes, transeuntes e até a grande mídia, ferindo vários jornalistas da Folha de S. Paulo, a coisa muda de figura. É impagável a cena do âncora da Band, Boris Casoy, que teria pertencido no final dos anos 1960 ao Comando de Caça aos Comunistas da Universidade Mackenzie, tendo de admitir, com voz trêmula, que a polícia atirou primeiro e usou força excessiva.
Sem condição de segurar a torrente de vídeos e fotos da violência policial, a imprensa muda de estratégia. As manifestações passam a ser retratadas como grandes contingentes cívicos, pintados de verde e amarelo, tentando segurar pequenos grupos de vândalos desordeiros, esses sim merecedores de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Ao mesmo tempo, a pauta muda. Já não se trata mais dos preços das passagens e da repressão oficial que continua a matar nas periferias, mas “contra tudo o que está aí”, “tanta coisa que não cabe num cartaz”, brasileiros patriotas contra os “desmandos” e a “corrupção” do governo, especialmente o Federal. Arnaldo Jabor pede desculpas na CBN por chamar os manifestantes de criminosos para emendar que a causa “real” dos protestos é a insatisfação geral com os governantes e, veja só, a “inflação”.
As pautas oportunistas
Entre todas as pautas oportunistas, no entanto, a escolhida como primeira grande meta é a derrubada no Congresso da Proposta de Emenda Constitucional número 37, a PEC37, que regulamentaria as atividades do Ministério Público.
Chamada maliciosamente de “PEC da Imunidade”, era apresentada como o fim das investigações sobre políticos corruptos. Nenhum grande meio de comunicação disse à população que os partidos contrários à proposta, especialmente DEM e PSDB, estavam entre os três (junto com o PMDB) que tiveram mais parlamentares cassados por corrupção nesse século. Não houve qualquer tipo de discussão ou debate mais profundo sobre o tema, mas em questão de horas dezenas de milhares de cartazes bem feitos, laminados em plástico, e grandes faixas plotadas em material nobre foram distribuídos entre os manifestantes de norte a sul do Brasil. Ninguém disse quem pagou por isso, mas as TVs fizeram questão de mostrar a “reivindicação cívica da população” em seus noticiários e nas bocas dos comentaristas. Pressionado pela mídia, o Congresso votou em peso contra a proposta.
Com o apoio da imprensa, protestos isolados tornam-se catárticos, arregimentando centenas de milhares de pessoas que gritam contra os partidos e levantam bandeiras fascistas que incluem a volta dos militares ao poder, a diminuição da maioridade penal, a pena de morte, a criminalização do aborto…
A eles se somam cartazes contra a importação de médicos estrangeiros, por hospitais com “padrão FIFA”, contra o “ato médico”, por mais saúde e educação, contra o pastor/deputado Marcos Feliciano, pela liberação da maconha, contra a Copa do Mundo, pela prisão dos “mensaleiros”, contra a Usina de Belo Monte, pelo impeachment da presidenta, e uma infinidade de outras. É importante notar, contudo, que os oligopólios midiáticos, assim como a esquerda, não têm controle sobre temas, tamanho ou impacto real das manifestações. Diferente do mundo em que os meios de comunicação de massa unidirecionais produziam um “efeito manada” a seu bel prazer, na sociedade em redes de comunicação em que vivemos, o melhor termo para o que ocorre é o swarming, ou, em português, enxameamento. As ideias se reúnem em grupos como enxames de abelhas, que apesar de terem comportamento semelhantes agem separadamente, com objetivos próprios.
Assim, entender o funcionamento e as dinâmicas de uma população conectada via Internet e usar as mesmas ferramentas é fundamental. Nesse sentido é temeroso o pouco e burocrático uso de canais como o Blog do Planalto e o Twitter da Dilma, que poderiam ter servido de boa ponte direta com a população e com coletivos que iniciaram os protestos. Pior, só a falta de regulamentação dos meios de comunicação, cujas propostas objetivas, sistematizadas nos principais municípios e todos os estados brasileiros no processo da Confecom, em 2009, seguem na gaveta do Ministro Paulo Bernardo. O político, aliás, bem no meio de junho, concedeu longa entrevista à revista Veja, baluarte da imprensa de extrema direita, em que é chamado de “bom petista” ao afirmar que o PT tem “obsessão de censurar a imprensa” e ao endossar a visão de que “os manifestantes estão protestando contra tudo”.
O Governo contra-ataca
Vendo o perigo para o país e para o seu governo, a presidenta Dilma, por outro lado, decide falar diretamente com a população em um pronunciamento em rede nacional na noite de 21 de junho. Ela tenta contemporizar com os mais diversos setores e até certo ponto aceita a pauta “contra tudo” ditada pela mídia, citando a corrupção, as necessidades de melhorias na educação e na saúde e as “minorias truculentas”. Não deixa de falar, contudo, da história de luta pela democracia no país “para que a voz das ruas fosse ouvida”. E aí ela dá os informes essenciais: o anúncio de um pacto pela mobilidade urbana (para atacar a primeira e mais objetiva reivindicação dos protestos); a pressão para a aprovação no Congresso de 100% dos royalties do petróleo para a educação; a importação de médicos para atender melhor a população; e a disponibilidade de receber pessoalmente os representantes dos movimentos organizados, sindicalistas e políticos.
De fato, na segunda 24, ela recebe todos os governadores e prefeitos das capitais para lançar na mesa uma proposta que pode realmente mudar o Brasil: um plebiscito sobre a reforma política que o Congresso, por seus interesses corporativos, não conseguiu votar nos últimos 30 anos. É um gesto político digno de uma grande estadista e que, segundo o especialista em sociedades em rede Manuel Castells, a separa de outros governantes por ser “a primeira líder mundial que presta atenção, que ouve as demandas de pessoas nas ruas”. E ainda, a presidenta levou a oposição, que não poderia dar o braço a torcer, a dizer que consulta popular é antidemocrático. Depois de sentar com representantes do MPL e outros movimentos sociais, de receber os líderes das centrais sindicais e dos partidos aliados, Dilma viu, ainda, a oposição “tão democrática” se recusar a dialogar alegando que o convite foi feito muito em cima da hora.
Melhor do que isso, só se também estivessem na pauta mais visível as questões da violência policial e da democratização dos meios de comunicação. Ambas afetam diariamente a vida de milhões de brasileiros fora da elite econômica. A segunda, no entanto, seria de enorme ajuda nos próximos meses, para desfazer as mentiras disseminadas pela Grande Mídia. A disputa pela narrativa em torno da reforma política e da situação do Brasil e dos brasileiros será brutal. Um aperitivo da batalha midiática que está por vir pode ser visto na virada de junho para julho, com os jornais e revistas de circulação nacional decretando o fim do mandato de Dilma e imensas quedas na sua popularidade, ameaçando a reeleição em 2014.
Os dados, contudo, continuam rolando. Se o plebiscito (praticamente descartado no Congresso) de fato ocorrer ainda esse ano — e para isso temos de ir às ruas e às redes para pressionar o Legislativo e o Judiciário –, será uma oportunidade ímpar de atacar a principal fonte de corrupção política: o financiamento privado de campanhas. A partir daí haverá uma nova correlação de forças dentro do Congresso, com políticos, de todos os partidos, menos atrelados aos poderes econômicos. Com isso, todas as outras pautas tradicionais da esquerda brasileira, como a reforma agrária, a democratização dos meios de comunicação, os orçamentos participativos, a melhor distribuição de renda, a questão da violência policial, a reforma urbana, o direito ao transporte, saúde e educação gratuitos, a igualdade de gêneros, a memória histórica e punição dos crimes da ditadura, entre outras, poderão ser debatidas com muito mais transparência e democracia.
Junho acabou com o embate político empatado. O início de julho esfriou os ânimos e o Congresso decretou recesso “branco” dia 17. Não houve um golpe rápido como no Paraguai, mas sua possibilidade ainda não pode ser ignorada.
Sem dúvida, a imagem da presidenta, e de todos os outros políticos, sofreu algum arranhão. Se bem que é cedo para a oposição cantar vitória e Dilma já havia demonstrado que responde melhor sob pressão. No Rio de Janeiro, a polícia continua batendo na Zona Sul e matando nas favelas. Os médicos mostram todo o seu corporativismo na Paulista. E a nave segue.
O MPL entornou a garrafa e já não importa chorar sobre o leite derramado. É hora dos verdadeiros democratas buscarem, nas ruas e nas redes, ouvir e falar com a massa dos brasileiros para impulsionar, também nas ruas e nas redes, as pautas que verdadeiramente interessam à maior parte da população. Para isso, temos de ser mais ágeis e criativos do que os detentores dos grandes veículos de comunicação, usando melhor do que eles os meios que nos restam: os digitais e o bom e velho boca a boca.
Este texto foi publicado originalmente no jornal Ideias em Revista, do SISEJUFE-RJ (www.sisejufe.org.br)
Fonte: http://outraspalavras.net/
sábado, 20 de julho de 2013
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Levantes aqui, ali e em toda parte – por Immanuel Wallerstein.*
Levantes aqui, ali e em toda parte
O levante, agora persistente, na Turquia foi seguido por uma revolta ainda maior no Brasil, que por sua vez foi acompanhada por manifestações menos noticiadas, mas não menos reais, na Bulgária. Obviamente, estes protestos não foram os primeiros, e muito menos os últimos, em uma série realmente mundial de revoltas, nos últimos anos. Há muitas maneiras de analisar este fenômeno. Eu o vejo como um processo contínuo de algo que começou com a revolução mundial de 1968.
É claro que todas as revoltas são particulares em seus detalhes e na correlação de forças interna em cada país. Mas existem certas similaridades que devem ser notadas, se quisermos dar sentido ao que está acontecendo e decidir o que todos nós, como indivíduos e como grupos, deveríamos fazer.
A primeira característica em comum é que todas as revoltas tendem a começar muito pequenas — um punhado de pessoas corajosas manifestando-se sobre algo. E então, se elas “pegam”, coisa que é que é muito imprevisível, tornam-se maciças. De repente, não apenas o governo está sob ataque, mas, em alguma extensão, o Estado enquanto tal. Esses levantes reúnem tanto aqueles que querem a substituição do governo por outro melhor quanto os que questionam a própria legitimidade do Estado. Ambos grupos invocam o tema da democracia e dos direitos humanos, embora sejam variadas as definições que dão a esses dois termos. No conjunto, o tom dessas manifestações começa do lado esquerdo do espectro político.
O governo no poder reage, obviamente. Ou ele tenta reprimir as revoltas; ou tenta abrandá-las com algumas concessões; ou faz ambas as coisas. A repressão normalmente funciona, mas algumas vezes é contraproducente para o governo no poder, trazendo ainda mais pessoas às ruas. Concessões geralmente funcionam, mas algumas vezes podem ser ruins para o governo, levando as pessoas a ampliar suas demandas. De modo geral, os governos recorrem à repressão com mais frequência que às concessões. E, também grosso modo, a repressão tende a funcionar em um relativo curto prazo.
A segunda característica comum dessas revoltas é que nenhuma delas continua na velocidade máxima por muito tempo. Muitos manifestantes dão-se por vencidos após medidas repressivas. Ou são de alguma maneira cooptados pelo governo. Ou ficam cansados por causa do enorme esfoço que as manifestações frequentes requerem. Essa diminuição da intensidade dos protestos é absolutamente normal. Ela não indica uma derrota.
Esse é o terceiro fator em comum, nos levantes. Embora terminem, deixam um legado. Mudam algo na política de seus países, e quase sempre para melhor. Forçam a entrada de alguma questão principal — por exemplo, as desigualdades — na agenda pública. Ou fazem crescer o senso de dignidade entre os extratos inferiores da população. Ou ampliam o ceticismo diante da retórica com a qual os governos tendem a encobrir suas políticas.
A quarta característica em comum é que, em cada onda de protestos, muitos que se unem ao movimento (especiamente os mais tardios) não chegam para reforçar os objetivos iniciais, mas para pervertê-los — ou para tentar conduzir ao poder político grupos de direita que são distintos daqueles que estão atualmente no poder, mas de maneira alguma mais democráticos ou preocupados com os direitos humanos.
O quinto traço em comum é que todos eles acabam envolvidos no jogo geopolítico. Governos poderosos, de fora do país nos quais os tumultos estão ocorrendo, trabalham intensamente (embora nem sempre com com sucesso), para ajudar grupos aliados a seus interesses a alcançar o poder. Isso acontece tão frequentemente que uma das questões imediatas sobre cada movimento específico é sempre — ou deveria ser — saber quais suas consequências, em termos do sistema mundial como um todo. Isso é muito difícil, já que os desdobramentos geopolíticos potenciais podem levar alguns a desejar rumos opostos às intenções anti-autoritárias originais do movimento.
Finalmente, devemos lembrar a respeito deste tema, e de tudo que está acontecendo agora, que estamos no meio de uma transição estrutural: de uma economia mundial capitalista que está se esgotando para um novo tipo de sistema. Mas ele pode ser melhor ou pior. Essa é a batalha real dos próximos vinte a quarenta anos. E a posição a assumir aqui, ali e em qualquer lugar deve ser decidida em função desta grande batalha política mundial.
* Publicado originalmente em iwallerstein.com, em 1 de julho de 2013. A tradução é de Gabriela Leite para o OutrasPalavras.
Immanuel Wallerstein nasceu em Nova York (Estados Unidos), em 1930. É doutor em Sociologia pela Universidade Columbia, onde lecionou — foi também professor nas universidades McGill e Binghamton. Desde 2000, é pesquisador-sênior do Departamento de Sociologia da Universidade Yale. Estudioso do marxismo e crítico do capitalismo global é uma das principais referências teóricas dos movimentos antiglobalização.
[Argentina] Chamada para o V° Encontro Social desde abaixo e por fora do Estado - por ANA
[Argentina] Chamada para o V° Encontro Social desde abaixo e por fora do Estado
Estimados companheirxs:
Para participar do V° Encontro Social desde abaixo e por fora do Estado a realizar-se na cidade de Entre Ríos no mês de setembro (14 e 15) necessitamos que enviem um e-mail a encuentrodesdeabajo@gmail.com detalhando:
• Organização social a que pertencem e espaço em que se desenvolvem.
• Lugar de onde viajam.
• Quantidade de companheirxs que vão participar do encontro.
Uma vez recebido o e-mail se enviará uma planilha de inscrição e toda a informação necessária para participar.
Anexamos a este e-mail um convite e caracterização do Encontro Social.
Convite:
V° Encontro Social desde abaixo e por fora do Estado
Temos o prazer de convidá-lx para o espaço que nos damos um conjunto de organizações sociais no país: O Encontro Social Desde Abaixo e por fora do Estado, que neste ano se realizará nos dias 14 e 15 de setembro de 2013.
Desde algum tempo, militantes organizados em diferentes províncias e localidades, nos encontramos, a partir de Jujuy até a Tierra del Fuego, a partir de Buenos Aires a La Rioja, já que decidimos fazer nosso lugarzinho xs exploradxs do trabalho, xs excluidxs do bairro, xs deserdadxs do campo, xs originárixs da terra, xs marginalizadxs da educação... xs de abaixo, necessitamos juntarmos-nos uma vez mais, este ano mais que nunca, tendo em conta que os de acima tem hegemonizado os discursos sobre a democracia e desperdiçado todo tipo de recursos em seu golpe eleitoral.
Assim como o fizemos em novembro de 2010 em José C. Paz (província de Buenos Aires), em abril de 2011 em Rosário, em dezembro de 2011 em Chaco, em 2012 em Córdoba, neste encontro nos juntaremos para debater em oficinas e em plenária a forma de multiplicar e fortalecer os espaços de resistência do qual fazemos parte. Sem irmos atrás de qualquer proposta eleitoral nem recorrermos ao Estado, nestes momentos de definição e luta devemos marcar uma postura que só beneficie xs de abaixo. Como já o fizemos na campanha “Os Políticos Não Servem”, temos que aprofundar e multiplicar relações e as ações que viemos levando adiante em cada localidade para conseguir essa mudança que tanto almejamos, desde abaixo e por fora do Estado, com esforço e militância.
Como sempre dizemos, estamos em busca de um mundo mais justo onde haja possibilidades para todos e todas. Para isto nos organizamos SEM líderes NEM chefes, NEM DEPENDÊNCIA de nenhum partido político, nem governo algum. Para que nossos filhos cresçam livres em um mundo melhor e mais são.
Nossa luta é para alcançar a dignidade humana sem que ninguém seja privilegiado sobre o resto. Nossa luta não quer pessoas que mandem e pessoas que obedeçam, senão pessoas que participem de igual a igual.
Nossa luta é por liberdade!
Bem vindos ao V° Encontro Social desde abaixo e por fora do Estado - setembro de 2013, Entre Ríos. Em breve enviaremos circular com a info necessária para chegar ao lugar e organizar a estadia, bem como a ficha de inscrição.
Te esperamos!
Arriba lxs que lutam!
Comissão Organizadora do V° Encontro Social desde abaixo e por fora do Estado
Tradução > Caróu
agência de notícias anarquistas-ana
Mensagem no ar
Tributo à minha saudade —
Sabiá-laranjeira
Neiva Pavesi
Homicídios entre jovens crescem 326% e negros são maiores vítimas – por Daniele Silveira
Homicídios entre jovens crescem 326% e negros são maiores vítimas
Estudo aponta o homicídio como a principal causa de mortes não naturais e violentas entre os jovens. Em 2011, a cada 100 mil jovens, 53,4 foram assassinados
As mortes não naturais e violentas, como acidentes, homicídio ou suicídio, cresceram 207,9% entre os jovens entre o período de 1980 e 2011. O número é ainda maior quando analisado somente os assassinatos, com aumento de 326,1%. Os dados fazem parte do Mapa da Violência 2013: Homicídio e Juventude no Brasil, publicado nesta quinta-feira (18), pelo Centro de Estudos Latino-Americanos.
Para o levantamento foram utilizados dados do Subsistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. De acordo com a publicação, do total de jovens com idade entre 14 e 25 anos que morreram em 2011, 73,2% chegaram a óbito de forma violenta.
O homicídio é a principal causa de mortes não naturais e violentas entre os jovens. Em 2011, a cada 100 mil jovens, 53,4 foram assassinados. No mesmo período, a taxa de mortes em acidentes de transporte, como carros ou motos, registrou 27,7 óbitos.
Segundo o Mapa, negros são maioria entre as vítimas de homicídio. De 2002 a 2010, dos 231 mil homicídios de jovens registrados, 122,5 mil eram negros, o que corresponde a 53%. No período, houve acréscimo de 18,4% nos casos de negros assassinados, enquanto entre os brancos ocorreu um decréscimo de 39,8%.
(Foto: Reprodução)
quarta-feira, 17 de julho de 2013
Funcionários de deputado são detidos tentando derrubar barracos de acampados – por Railton Teixeira
Funcionários de deputado são detidos tentando derrubar barracos de acampados
Dez homens, com fardamento da Usina Laginha, de propriedade do deputado federal João Lyra (PSD-AL), foram detidos após atacarem barracos de militantes do MLST
Depois de incendiar, ameaçar e atirar nos agricultores, o latifúndio voltou a agir na tarde desta segunda-feira (15), mas, desta vez, com veículos e fardamentos da usina (Foto: Railton Teixeira / Brasil de Fato)
Funcionários e veículos da Usina Laginha, de propriedade do deputado federal João Lyra (PSD), foram detidos e encaminhados para a Delegacia de Polícia Civil de União dos Palmares, na zona da mata alagoana, após mais uma investida contra as famílias do acampamento Santo Antônio da Lavagem. Depois de incendiar, ameaçar e atirar nos agricultores, o latifúndio voltou a agir na tarde desta segunda-feira (15), mas, desta vez, com veículos e fardamentos da usina.
No último dia 7, um bando de pistoleiros efetuou diversos disparos contra as famílias acampadas nas terras da usina falida, com a promessa de que voltariam e, da próxima vez, seria ‘pior’, relataram os camponeses. Na ocasião, o Pelotão de Operações de Polícia Especial da PM recolheu 40 cápsulas de pistola 380 e outras oito foram entregues pelos agricultores ao delegado da cidade.
De acordo com Marcos Marques, desde o final da manhã dessa segunda-feira, veículos não identificados circulavam na região e, no período da tarde, inúmeras ligações com cunho de ameaças foram registradas. “Estava na cidade quando o meu telefone tocou. Diziam que iriam tocar fogo nos barracos, nos matar. E outros companheiros receberam ligações do mesmo número”, enfatizou Marques.
Com medo de uma nova investida, Marques compareceu ao Batalhão da Polícia Militar da cidade e informou sobre o ocorrido. Uma guarnição foi deslocada até o local e “justamente no momento em que estávamos chegando, os veículos começavam a ação de derrubada dos barracos”, explicou.
Dez homens, com fardamento da Usina Laginha, três veículos de pequeno porte e um grande – conhecido como recolhedeira – foram encaminhados para a Delegacia. Os acusados foram ouvidos e logo após foram liberados depois da confecção do Termo Circunstancial de Ocorrências (TCO).
O acampamento Santo Antônio da Lavagem é acompanhado pelo Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) e, de acordo com Josival Oliveira, dirigente nacional em Alagoas, essa série de atentados contra os trabalhadores é a prova de que o estado ainda vive a época da Colônia.
“Aqui quem fala mais alto é o coronel. É ele quem dita as ordens e quem manda bater, agredir e até matar. A impunidade e a violência tem que ter um basta neste estado”, destacou Oliveira.
Ainda de acordo com ele, essas famílias são vítimas da fragilidade da política da reforma agrária que não beneficia os trabalhadores, mas investe no agronegócio e no latifúndio. “Principalmente da parte daqueles que se dizem nossos representantes e mandam matar os agricultores, mas continuaremos acampados, produzindo naquela terra que foi tomada do povo pobre daquele lugar. As ocupações irão continuar com toda força”, concluiu Josival Oliveira.
, de Maceió para o Brasil de Fato
Fonte: http://revistaforum.com.br
terça-feira, 16 de julho de 2013
[França] 1993-2013: 20 anos sem Léo Ferré - por ANA
[França] 1993-2013: 20 anos sem Léo Ferré
Morrer, num 14 de julho - não havia outro dia para que Léo Ferré o fizesse! E, em julho de 2012, Max Leroy nos propôs seu primeiro texto¹: um livro que inscreve Léo Ferré na longa tradição anarquista. À ocasião desses dois aniversários, o Ateliê de Criação Libertária [Editora] vos propõe de obter tal obra sob diversos formatos:
• A versão em papel, por 12 euros.
• A versão ebook (diversos formatos possíveis) por 4 euros: poderá ler ainda o livro no tablet, smartphone, computador .
• A versão em papel + versão ebook por apenas 1 euro a mais: por 13 euros, você terá o prazer de ter entre as mãos o livro... e de o ter também no seu tablet, smartphone e computador.
E, sobretudo, não se esqueça de escutar ou reescutar as canções do “pai” Ferré, elas não vão no pacote!
Lágrimas Libertárias - Política de Léo Ferré
Max Leroy - 154 páginas
O cantor é conhecido: nenhuma necessidade de reapresentá-lo. Mas quem foi o poeta e o escritor? E mais particularmente o escritor político da Irlanda do Norte à queda de Allende, da guerra da Argélia à ditadura Franquista, Léo Ferré foi uma testemunha crítica do seu tempo. Se ele hesitou em se considerar como um “militante”, sua obra e sua vida testemunham todo tempo um engajamento contínuo. É este engajamento, inscrito na longa tradição anarquista que é posto à prova ao longo de todo seu livro. "Homens de pé não se deitam a não ser para morrer", disse um dia.
Se o homem morreu, o poeta demora a esvanecer, seus versos batem à porta de nosso tempo.
[1] Em 2013, Max Leroy tornou a nos apresentar Jean Sénac, "poeta, socialista, anarquista, revolucionário, cristão incrédulo, homossexual... "; nascido pé-negro (pied-noir: filho de franceses nascido na Argélia) e filho espiritual de Camus, ele tomou pra si a causa da independência da Argélia. Uma Argélia para todos: árabes, berbéres, kabyles, judeus ou europeus. Ele predisse que seria assassinado, e foi encontrado nas favelas de Argel, rua Eliseu Reclus, o crânio fraturado e o corpo repleto de cortes de faca. Cidadão do Vulcão - Epitáfio para Jean Sénac.
Tradução > TAZ
agência de notícias anarquistas-ana
olhos dos meninos
as luzes do pisca-pisca
se multiplicaram
José Marins
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