segunda-feira, 20 de junho de 2011
A Cultura-mundo – Gilles Lipovetsky & Jean Serroy # Provos Brasil recomenda!
“Ninguém melhor do que Nietzsche conseguiu teorizar a angústia do homem moderno diante da “morte de Deus”. Mais nada é verdadeiro, mais nada é bom: quando os valores superiores perdem o direito de dirigir a existência, o homem ficou sozinho com a vida. Enquanto o sentimento de vazio aumenta, multiplicam-se comportamentos inebriante para escapar à noite de um mundo sem valor, ao abismo da falta de objetivo e de sentido. Isso posto, esse modelo que sublinha o fundamento ontológico da crise do mundo moderno é uma etapa que agora se acha transposta. Pois a desorientação contemporânea não resulta mais apenas da depreciação dos valores superiores e da ruína dos fundamentos metafísicos do saber, da lei e do poder, mas da desintegração dos pontos de referência sociais mais comuns, mais “básicos”, provocada pela nova organização do mundo....”
"Novo clima para os negócios" - por Juliana Borges
"Novo clima para os negócios" " De acordo com Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), os 141 novos projetos no setor da energia eólica que serão investidos no Brasil em dois anos proporcionarão um incremento de 4.343 MW, aos cerca de 4.500 MW previstos para a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. Fonte: ak
A capacidade de geração de energia será de 11233 MW, oque dá um média de 4.500 MW , porém na época da seca do rio Xingu, poderá cair para 1000 MW. Fonte: Ak
Fonte: http://peledaterra.blogspot.com/
A capacidade de geração de energia será de 11233 MW, oque dá um média de 4.500 MW , porém na época da seca do rio Xingu, poderá cair para 1000 MW. Fonte: Ak
Fonte: http://peledaterra.blogspot.com/
[Canadá] É a anarquia em Montreal! - por ANA
[Canadá] É a anarquia em Montreal![Nos dias 21 e 22 de maio passado ocorreu o Salão do Livro Anarquista no Centro de Educação para Adultos (CEDA) e no Centro Cultural Georges-Vanier, em Montreal. No menu: 130 expositores, uma sala de cinema, um cabaré musical e uma exposição de obras pictóricas, todas reunidas sob o tema anarquia. O Salão tentou assim ser uma tribuna aos artistas e editoras que sofrem em abrir espaço ao mercado de “massa”.]
Uma corrente solidáriaO pensamento anarquista, tal como aquele apresentado no Salão, promove a ajuda mútua, o anti-autoritarismo e a solidariedade. Para Philippe, membro do coletivo do Salão do Livro Anarquista, a anarquia “é uma corrente política de esquerda, que trabalha com a democracia direta e autônoma”. A democracia direta se faz como crítica à democracia representativa, pois preconiza a representação do cidadão por ele mesmo. De acordo com este pensamento, a presença de partidos políticos não foi aceita no Salão.A corrente de pensamento anarquista atua em oposição à opressão em todas as suas formas, tais como o capitalismo, o racismo, o patriarcalismo e o colonialismo. As obras pictóricas ou literárias que se encontravam no Salão (ensaios, poemas, hinos e outros) representavam esta corrente de pensamento. Lá se encontravam da mesma forma ateliês que permitiram a introdução da filosofia anarquista aos não-iniciados e também o diálogo entre as diversas correntes anarquistas existentes.
Um sucesso que se renova“O Salão de Montreal existe há uma dúzia de anos, ele é um dos mais famosos no mundo”, explica Philippe. Houve mais público que no ano passado – diversificado - recebemos mais de mil pessoas”. A entrada era gratuita, mas era possível contribuir financeiramente ao evento de forma voluntária.
O coletivo do Salão do Livro Anarquista apresentará uma nova edição ano que vem. Para mais informações sobre as edições precedentes, o público é convidado ao site www.salonanarchiste.ca.
G. Thibault-Delorme
Tradução > Tio TAZ
agência de notícias anarquistas-ana
Ventos nos umbrais
janelas antigas,
modernos varais.
Sandra Maria de Sousa Per
Uma corrente solidáriaO pensamento anarquista, tal como aquele apresentado no Salão, promove a ajuda mútua, o anti-autoritarismo e a solidariedade. Para Philippe, membro do coletivo do Salão do Livro Anarquista, a anarquia “é uma corrente política de esquerda, que trabalha com a democracia direta e autônoma”. A democracia direta se faz como crítica à democracia representativa, pois preconiza a representação do cidadão por ele mesmo. De acordo com este pensamento, a presença de partidos políticos não foi aceita no Salão.A corrente de pensamento anarquista atua em oposição à opressão em todas as suas formas, tais como o capitalismo, o racismo, o patriarcalismo e o colonialismo. As obras pictóricas ou literárias que se encontravam no Salão (ensaios, poemas, hinos e outros) representavam esta corrente de pensamento. Lá se encontravam da mesma forma ateliês que permitiram a introdução da filosofia anarquista aos não-iniciados e também o diálogo entre as diversas correntes anarquistas existentes.
Um sucesso que se renova“O Salão de Montreal existe há uma dúzia de anos, ele é um dos mais famosos no mundo”, explica Philippe. Houve mais público que no ano passado – diversificado - recebemos mais de mil pessoas”. A entrada era gratuita, mas era possível contribuir financeiramente ao evento de forma voluntária.
O coletivo do Salão do Livro Anarquista apresentará uma nova edição ano que vem. Para mais informações sobre as edições precedentes, o público é convidado ao site www.salonanarchiste.ca.
G. Thibault-Delorme
Tradução > Tio TAZ
agência de notícias anarquistas-ana
Ventos nos umbrais
janelas antigas,
modernos varais.
Sandra Maria de Sousa Per
domingo, 19 de junho de 2011
sábado, 18 de junho de 2011
Para Hobsbawm, crise explica deriva à direita na Europa
Para Hobsbawm, crise explica deriva à direita na EuropaO blog do italiano Beppe Grillo entrevistou Eric Hobsbawm no dia do seu 94º aniversário. Hobsbawm, que faz questão de dizer que é um historiador, não um futurologista – fala, entre outros assuntos, sobre o que é hoje o marxismo e a crise na União Europeia. Hobsbawm acredita que, no futuro próximo, praticamente todos ou quase todos os países europeus serão governados por governos de direita, de um tipo ou de outro. Para ele, a crise econômica que se arrasta desde 2008, tem muito a ver com a deriva à direita na Europa. "Acho que, hoje, só quatro economias na Europa, na União Europeia, estão sob governos de centro ou de esquerda".
Blog de Beppe Grillo
O blog de Beppe Grillo entrevistou Eric Hobsbawm, um dos maiores historiadores marxistas vivo. A entrevista aconteceu no dia do seu 94º aniversário, quando esteve em Roma para o lançamento da tradução italiana de seu livro How to Change the World - Why rediscover the inheritance of Marxism. Hobsbawm analisa a possibilidade de uma deriva rumo à direita nos próximos anos na Europa, por razões relacionadas com a depressão econômica, a ânsia por segurança e a estagnação da União Europeia, arcada sob o peso da obrigação de ser cada vez maior e maior e pela falta de visão política comum. Além disso, os movimentos de resistência têm crescido mais em regiões onde há um maior número de jovens – por exemplo no norte da África e nos países em desenvolvimento, não na Europa. Mas, acima de tudo, Hobsbawm, que faz questão de dizer que é um historiador, não um futurologista – fala-nos sobre o que é hoje o marxismo e sobre os seus efeitos.
(1) Sobre o marxismo hoje
Eric Hobsbawm: Sou o Eric Hobsbawm. Sou um historiador muito velho. Como tal, telefona-me no dia do meu 94º aniversário. Durante toda a minha vida escrevi principalmente sobre a história dos movimentos sociais, a história geral da Europa e do mundo dos séculos XIX e XX. Acho que todos os meus livros estão traduzidos para italiano e alguns foram até bastante bem recebidos.
Blog de Beppe Grillo: A nossa primeira pergunta é sobre o seu livro. O marxismo é considerado um fenômeno pós-ideológico. Poderia explicar-nos porquê? E quais serão as consequências dessa mudança?
Eric Hobsbawm: Eu não usei exatamente a expressão “fenômeno pós-ideológico” para marxismo, mas é verdade que, no momento, o marxismo deixou de ser o principal sistema de crenças associado aos grandes movimentos políticos de massa em toda a Europa. Apesar disso, acho que sobrevivem alguns pequenos movimentos marxistas. Nesse sentido, houve uma grande mudança no papel político que o marxismo desempenha na política da Europa. Há algumas partes do mundo, por exemplo, a América Latina, em que as coisas não se passaram do mesmo modo. A consequência daquela mudança, na minha opinião, é que agora todos podemos concentrar-nos mais e melhor nas mudanças permanentes que o marxismo provocou, nas conquistas permanentes do marxismo.
Essas conquistas permanentes, na minha opinião, são as seguintes: Primeiro, Marx introduziu algo que foi considerado novidade e ainda não se realizou completamente, a saber, a crença de que o sistema econômico que conhecemos não é permanente nem destinado a durar eternamente; que é apenas uma fase, uma etapa no desenvolvimento histórico que acontece de um determinado modo e deixará de existir e converter-se-á noutra coisa ao longo do tempo.
Segundo, acho que Marx concentrou-se na análise do específico modus operandi, do modo como o sistema operou e se desenvolveu. Em particular, concentrou-se no curioso e descontinuo modo através do qual o sistema cresceu e desenvolveu contradições, que por sua vez produziram grandes crises.
A principal vantagem da análise que o marxismo permite fazer é que considera o capitalismo como um sistema que origina periodicamente contradições internas que geram crises de diferentes tipos que, por sua vez, têm de ser superadas mediante uma transformação básica ou alguma modificação menor do sistema. Trata-se desta descontinuidade, deste reconhecimento de que o capitalismo opera não como sistema que tende a se auto-estabilizar, mas que é sempre instável e eventualmente, portanto, requere grandes mudanças. Esse é o principal elemento que ainda sobrevive do marxismo.
Terceiro, e acho que aí está a preciosidade do que se poderá chamar de fenômeno ideológico, o marxismo é baseado, para muitos marxistas, num senso profundo de injustiça social, de indignação contra a desigualdade social entre os pobres e os ricos e poderosos.
Quarto, e último, acho que talvez se deva considerar um elemento – que Marx talvez não reconhecesse – mas que esteve sempre presente no marxismo: um elemento de utopia. A crença de que, de um modo ou de outro, a sociedade chegará a uma sociedade melhor, mais humana, do que a sociedade na qual todos vivemos atualmente.
(2) Uma deriva à direita na Europa?
Blog: No norte da África e em alguns países europeus – Espanha, Grécia e Irlanda – alguns movimentos de jovens que nasceram na internet e usam redes, por exemplo Twitter e Facebook, estão aproximando-se da política. São movimentos que exigem mais envolvimento e mudanças radicais nas escolhas das sociedades. Mas, ao mesmo tempo, a Espanha tende à direita; a Dinamarca votou pelo encerramento das fronteiras com a Hungria; e na Finlândia, e até mesmo na França, com Marie Le Pen, estão surgindo partidos nacionalistas de extrema-direita. Não é isto uma contradição?
Eric Hobsbawm: Não, não acho. Acho que são fenômenos diferentes. Acho que, na maioria dos países ocidentais, hoje, os jovens são uma minoria politicamente ativa, largamente por efeito de como a educação é construída. Por exemplo: os estudantes sempre foram, ao longo dos séculos, elementos ativistas. Ao mesmo tempo, a juventude educada hoje é muito mais familiarizada com modernas tecnologias de informação, que transformaram a agitação política transnacional e a mobilização política transnacional.
Mas há uma diferença entre (a) esses movimentos de jovens educados nos países do ocidente, onde, em geral, toda a juventude é fenômeno de minoria, e (b) movimentos similares de jovens em países islâmicos e em outros lugares, nos quais a maioria da população tem entre 25 e 30 anos. Nesses países, portanto, muito mais do que na Europa, os movimentos de jovens são politicamente muito mais massivos e podem ter maior impacto político. O impacto adicional na radicalização dos movimentos de juventude acontece porque os jovens hoje, em período de crise econômica, são desproporcionalmente afetados pelo desemprego e, portanto, estão desproporcionalmente insatisfeitos. Mas não se pode adivinhar que rumos tomarão esses movimentos. No todo, os movimentos dessa juventude educada não são, politicamente falando, movimentos da direita. Mas eles só, eles pelos seus próprios meios, não são capazes de definir o formato da política nacional e todo o futuro. Creio que, nos próximos dois meses, assistiremos aos desdobramentos desse processo.
Os jovens iniciaram grandes revoluções, mas não serão eles que necessariamente decidirão a direção geral pela qual andarão aquelas revoluções. Cada direção, claro, depende do país e da região. Obviamente as revoluções serão muito diferentes nos países islâmicos, do que são na Europa ou, claro, nos EUA.
E é verdade que na Europa e provavelmente nos EUA pode haver uma deriva para a direita, na política. Mas isso, parece-me, será assunto da terceira pergunta.
(3) A crise econômica
Blog: Sim, a próxima pergunta é sobre a crise econômica em que vivemos desde 2008. As crises de 29, 33, levaram o fascismo ao poder. Prevê algum risco de a crise atual ter os efeitos que tiveram as crises de 28, 29, 33?
Eric Hobsbawm: Bem, não há dúvidas de que a crise, a crise econômica que se arrasta desde 2008, tem muito a ver com a deriva à direita na Europa. Acho que, hoje, só quatro economias na Europa, na União Europeia, estão sob governos de centro ou de esquerda. Algumas daquelas devem perder. A Espanha provavelmente também se moverá em direção à direita. Nesse sentido, parece verdade. Não acho que haja aí qualquer risco de ascensão do fascismo, como nos anos 1930s. O perigo do fascismo nos anos 1930s foi, em grande medida, resultado da conversão de um país em particular, um país decisivo politicamente, nomeadamente a Alemanha sob a alçada de Hitler.
Não há sinal de que nada disso esteja a acontecer hoje. Nenhum dos países importantes, segundo me parece, dá qualquer sinal nessa direção. Nem nos EUA, onde há um forte movimento direitista, pode-se concluir que aquele movimento ganhe poder nas urnas. Nem, tampouco, no caso dos partidos e movimentos de extrema-direita nos países europeus. Apesar de serem fortes, têm-se mantido como fortes minorias sem grandes hipóteses de se tornarem maiorias. Mas, sim, creio que, no futuro próximo, praticamente todos ou quase todos os países europeus serão governados por governos de direita, de um tipo ou de outro. Recorde-se que um dos efeitos logo termo da crise económica dos anos 1930s foi que praticamente toda a Europa tornou-se democrata e de esquerda, como jamais antes acontecera. Mas isso levou algum tempo. Portanto, há um risco, mas não é o mesmo risco que havia nos anos 1930. O risco é antes o de não se agir o suficiente para lidar com os problemas básicos, enaltecidos pelo capitalismo dos últimos 40 e enfatizados pelo renascimento dos estudos marxistas.
Blog: O que pensa sobre a União Europeia e sobre o que já foi conseguido? A União Europeia conseguirá consolidar-se ou voltará a ser uma simples reunião de estados?
Eric Hobsbawm: Acho que a esperança de que a União Europeia venha a ser algo mais que uma aliança de estados e área de livre comércio, essa, não tem grande futuro. Não irá muito além do que já foi até aqui, mas não acho que seja destruída.
Acho que o que já se fez, um grau de livre comércio, um grau muito mais importante de jurisprudência comum e lei comum permanecerão. A principal fraqueza da União Europeia, parece-me, razão do fracasso, foi o conflito entre a economia e a base social da União Europeia. Um conflito que resultou da tentativa para eliminar a guerra entre a França e a Alemanha e unificar economicamente as partes mais ricas e desenvolvidas da Europa. Esse objetivo foi alcançado. Tal foi misturado em seguida com um objetivo político associado à Guerra Fria e ao desenvolvimento após o fim deste período, nomeadamente o objetivo de extensão das fronteiras a todo o continente e mais além. Este processo dividiu a Europa em partes que já não são facilmente coordenáveis.
Economicamente, as grandes crises são ambas muito parecidas no que diz respeito às aquisições para a União Europeia desde os anos 1970s, na Grécia, em Portugal e na Irlanda, por exemplo. Mesmo politicamente, as diferenças entre os antigos estados comunistas e os antigos estados não comunistas da Europa enfraqueceram a capacidade de a Europa continuar a desenvolver-se. Se a Europa continuará a conseguir manter-se como está, eu não o sei. Não creio, contudo, que a União Europeia deixe de existir e acho que continuaremos a viver numa Europa mais coordenada do que a que conhecemos, digamos, desde a II Guerra Mundial.
De qualquer modo, devo dizer que está fazendo-me perguntas enquanto historiador mas sobre o futuro. Infelizmente, os historiadores sabem tanto sobre o futuro quanto qualquer outra pessoa. Por isso, as minhas previsões não são fundadas em nenhuma especial vocação que eu tenha para prever o futuro.
Tradução: Coletivo Vila Vudu
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/
Blog de Beppe Grillo
O blog de Beppe Grillo entrevistou Eric Hobsbawm, um dos maiores historiadores marxistas vivo. A entrevista aconteceu no dia do seu 94º aniversário, quando esteve em Roma para o lançamento da tradução italiana de seu livro How to Change the World - Why rediscover the inheritance of Marxism. Hobsbawm analisa a possibilidade de uma deriva rumo à direita nos próximos anos na Europa, por razões relacionadas com a depressão econômica, a ânsia por segurança e a estagnação da União Europeia, arcada sob o peso da obrigação de ser cada vez maior e maior e pela falta de visão política comum. Além disso, os movimentos de resistência têm crescido mais em regiões onde há um maior número de jovens – por exemplo no norte da África e nos países em desenvolvimento, não na Europa. Mas, acima de tudo, Hobsbawm, que faz questão de dizer que é um historiador, não um futurologista – fala-nos sobre o que é hoje o marxismo e sobre os seus efeitos.
(1) Sobre o marxismo hoje
Eric Hobsbawm: Sou o Eric Hobsbawm. Sou um historiador muito velho. Como tal, telefona-me no dia do meu 94º aniversário. Durante toda a minha vida escrevi principalmente sobre a história dos movimentos sociais, a história geral da Europa e do mundo dos séculos XIX e XX. Acho que todos os meus livros estão traduzidos para italiano e alguns foram até bastante bem recebidos.
Blog de Beppe Grillo: A nossa primeira pergunta é sobre o seu livro. O marxismo é considerado um fenômeno pós-ideológico. Poderia explicar-nos porquê? E quais serão as consequências dessa mudança?
Eric Hobsbawm: Eu não usei exatamente a expressão “fenômeno pós-ideológico” para marxismo, mas é verdade que, no momento, o marxismo deixou de ser o principal sistema de crenças associado aos grandes movimentos políticos de massa em toda a Europa. Apesar disso, acho que sobrevivem alguns pequenos movimentos marxistas. Nesse sentido, houve uma grande mudança no papel político que o marxismo desempenha na política da Europa. Há algumas partes do mundo, por exemplo, a América Latina, em que as coisas não se passaram do mesmo modo. A consequência daquela mudança, na minha opinião, é que agora todos podemos concentrar-nos mais e melhor nas mudanças permanentes que o marxismo provocou, nas conquistas permanentes do marxismo.
Essas conquistas permanentes, na minha opinião, são as seguintes: Primeiro, Marx introduziu algo que foi considerado novidade e ainda não se realizou completamente, a saber, a crença de que o sistema econômico que conhecemos não é permanente nem destinado a durar eternamente; que é apenas uma fase, uma etapa no desenvolvimento histórico que acontece de um determinado modo e deixará de existir e converter-se-á noutra coisa ao longo do tempo.
Segundo, acho que Marx concentrou-se na análise do específico modus operandi, do modo como o sistema operou e se desenvolveu. Em particular, concentrou-se no curioso e descontinuo modo através do qual o sistema cresceu e desenvolveu contradições, que por sua vez produziram grandes crises.
A principal vantagem da análise que o marxismo permite fazer é que considera o capitalismo como um sistema que origina periodicamente contradições internas que geram crises de diferentes tipos que, por sua vez, têm de ser superadas mediante uma transformação básica ou alguma modificação menor do sistema. Trata-se desta descontinuidade, deste reconhecimento de que o capitalismo opera não como sistema que tende a se auto-estabilizar, mas que é sempre instável e eventualmente, portanto, requere grandes mudanças. Esse é o principal elemento que ainda sobrevive do marxismo.
Terceiro, e acho que aí está a preciosidade do que se poderá chamar de fenômeno ideológico, o marxismo é baseado, para muitos marxistas, num senso profundo de injustiça social, de indignação contra a desigualdade social entre os pobres e os ricos e poderosos.
Quarto, e último, acho que talvez se deva considerar um elemento – que Marx talvez não reconhecesse – mas que esteve sempre presente no marxismo: um elemento de utopia. A crença de que, de um modo ou de outro, a sociedade chegará a uma sociedade melhor, mais humana, do que a sociedade na qual todos vivemos atualmente.
(2) Uma deriva à direita na Europa?
Blog: No norte da África e em alguns países europeus – Espanha, Grécia e Irlanda – alguns movimentos de jovens que nasceram na internet e usam redes, por exemplo Twitter e Facebook, estão aproximando-se da política. São movimentos que exigem mais envolvimento e mudanças radicais nas escolhas das sociedades. Mas, ao mesmo tempo, a Espanha tende à direita; a Dinamarca votou pelo encerramento das fronteiras com a Hungria; e na Finlândia, e até mesmo na França, com Marie Le Pen, estão surgindo partidos nacionalistas de extrema-direita. Não é isto uma contradição?
Eric Hobsbawm: Não, não acho. Acho que são fenômenos diferentes. Acho que, na maioria dos países ocidentais, hoje, os jovens são uma minoria politicamente ativa, largamente por efeito de como a educação é construída. Por exemplo: os estudantes sempre foram, ao longo dos séculos, elementos ativistas. Ao mesmo tempo, a juventude educada hoje é muito mais familiarizada com modernas tecnologias de informação, que transformaram a agitação política transnacional e a mobilização política transnacional.
Mas há uma diferença entre (a) esses movimentos de jovens educados nos países do ocidente, onde, em geral, toda a juventude é fenômeno de minoria, e (b) movimentos similares de jovens em países islâmicos e em outros lugares, nos quais a maioria da população tem entre 25 e 30 anos. Nesses países, portanto, muito mais do que na Europa, os movimentos de jovens são politicamente muito mais massivos e podem ter maior impacto político. O impacto adicional na radicalização dos movimentos de juventude acontece porque os jovens hoje, em período de crise econômica, são desproporcionalmente afetados pelo desemprego e, portanto, estão desproporcionalmente insatisfeitos. Mas não se pode adivinhar que rumos tomarão esses movimentos. No todo, os movimentos dessa juventude educada não são, politicamente falando, movimentos da direita. Mas eles só, eles pelos seus próprios meios, não são capazes de definir o formato da política nacional e todo o futuro. Creio que, nos próximos dois meses, assistiremos aos desdobramentos desse processo.
Os jovens iniciaram grandes revoluções, mas não serão eles que necessariamente decidirão a direção geral pela qual andarão aquelas revoluções. Cada direção, claro, depende do país e da região. Obviamente as revoluções serão muito diferentes nos países islâmicos, do que são na Europa ou, claro, nos EUA.
E é verdade que na Europa e provavelmente nos EUA pode haver uma deriva para a direita, na política. Mas isso, parece-me, será assunto da terceira pergunta.
(3) A crise econômica
Blog: Sim, a próxima pergunta é sobre a crise econômica em que vivemos desde 2008. As crises de 29, 33, levaram o fascismo ao poder. Prevê algum risco de a crise atual ter os efeitos que tiveram as crises de 28, 29, 33?
Eric Hobsbawm: Bem, não há dúvidas de que a crise, a crise econômica que se arrasta desde 2008, tem muito a ver com a deriva à direita na Europa. Acho que, hoje, só quatro economias na Europa, na União Europeia, estão sob governos de centro ou de esquerda. Algumas daquelas devem perder. A Espanha provavelmente também se moverá em direção à direita. Nesse sentido, parece verdade. Não acho que haja aí qualquer risco de ascensão do fascismo, como nos anos 1930s. O perigo do fascismo nos anos 1930s foi, em grande medida, resultado da conversão de um país em particular, um país decisivo politicamente, nomeadamente a Alemanha sob a alçada de Hitler.
Não há sinal de que nada disso esteja a acontecer hoje. Nenhum dos países importantes, segundo me parece, dá qualquer sinal nessa direção. Nem nos EUA, onde há um forte movimento direitista, pode-se concluir que aquele movimento ganhe poder nas urnas. Nem, tampouco, no caso dos partidos e movimentos de extrema-direita nos países europeus. Apesar de serem fortes, têm-se mantido como fortes minorias sem grandes hipóteses de se tornarem maiorias. Mas, sim, creio que, no futuro próximo, praticamente todos ou quase todos os países europeus serão governados por governos de direita, de um tipo ou de outro. Recorde-se que um dos efeitos logo termo da crise económica dos anos 1930s foi que praticamente toda a Europa tornou-se democrata e de esquerda, como jamais antes acontecera. Mas isso levou algum tempo. Portanto, há um risco, mas não é o mesmo risco que havia nos anos 1930. O risco é antes o de não se agir o suficiente para lidar com os problemas básicos, enaltecidos pelo capitalismo dos últimos 40 e enfatizados pelo renascimento dos estudos marxistas.
Blog: O que pensa sobre a União Europeia e sobre o que já foi conseguido? A União Europeia conseguirá consolidar-se ou voltará a ser uma simples reunião de estados?
Eric Hobsbawm: Acho que a esperança de que a União Europeia venha a ser algo mais que uma aliança de estados e área de livre comércio, essa, não tem grande futuro. Não irá muito além do que já foi até aqui, mas não acho que seja destruída.
Acho que o que já se fez, um grau de livre comércio, um grau muito mais importante de jurisprudência comum e lei comum permanecerão. A principal fraqueza da União Europeia, parece-me, razão do fracasso, foi o conflito entre a economia e a base social da União Europeia. Um conflito que resultou da tentativa para eliminar a guerra entre a França e a Alemanha e unificar economicamente as partes mais ricas e desenvolvidas da Europa. Esse objetivo foi alcançado. Tal foi misturado em seguida com um objetivo político associado à Guerra Fria e ao desenvolvimento após o fim deste período, nomeadamente o objetivo de extensão das fronteiras a todo o continente e mais além. Este processo dividiu a Europa em partes que já não são facilmente coordenáveis.
Economicamente, as grandes crises são ambas muito parecidas no que diz respeito às aquisições para a União Europeia desde os anos 1970s, na Grécia, em Portugal e na Irlanda, por exemplo. Mesmo politicamente, as diferenças entre os antigos estados comunistas e os antigos estados não comunistas da Europa enfraqueceram a capacidade de a Europa continuar a desenvolver-se. Se a Europa continuará a conseguir manter-se como está, eu não o sei. Não creio, contudo, que a União Europeia deixe de existir e acho que continuaremos a viver numa Europa mais coordenada do que a que conhecemos, digamos, desde a II Guerra Mundial.
De qualquer modo, devo dizer que está fazendo-me perguntas enquanto historiador mas sobre o futuro. Infelizmente, os historiadores sabem tanto sobre o futuro quanto qualquer outra pessoa. Por isso, as minhas previsões não são fundadas em nenhuma especial vocação que eu tenha para prever o futuro.
Tradução: Coletivo Vila Vudu
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/
Contribua para a criação do mais novo espaço autônomo em São Paulo! - por ANA
Contribua para a criação do mais novo espaço autônomo em São Paulo!Comunicado:
10 de junho de 2011 marca um grande dia na história do Autônomos & Autônomas FC: em assembléia, aprovamos a idéia da aquisição da nossa sede!
Isso significa que um novo espaço autônomo independente na cidade já é realidade. Será o Espaço Autônomo Casa Mafalda!
Mas antes de falar dele, vamos nos apresentar pra quem não nos conhece.
Quem somos?
O Autônomos FC, ou Auto como é carinhosamente chamado, é um time de futebol autogerido criado em 2006 por um grupo de punks, anarquistas e ativistas de São Paulo. Desde a sua criação, o Auto sempre tentou viver o futebol de uma maneira coletiva, sem hierarquias, com decisões coletivas e com abertura para todos e todas.
Hoje, 5 anos depois, temos dois times de futebol de campo masculino, um de futsal feminino e nos arriscamos em jogos mistos em diversas modalidades também. A partir de então, passamos a nos chamar Autônomos & Autônomas FC.
Por alguns anos pensamos estar sozinhos nessa coisa de futegol autogerido. Mas em 2009 descobrimos um time inglês, o Easton Cowboys & Cowgirls, que desde 1992 está na mesma sintonia! Depois de visitarem os palestinos e os zapatistas em Chiapas, em 2009 foi a vez de estarem por aqui pra jogar e trocar experiências conosco. Então, em 2010, foi a nossa vez de jogar, na cidade de Yorkshire, Inglaterra, a Copa do Mundo Alternativa, evento organizado por times europeus com os mesmos moldes do Auto e que acontece todo ano. Um encontro até então europeu de diversas pessoas e movimentos sociais não-hierárquicos, que tivemos a chance de conhecer nos 10 dias que ficamos por lá e por Bristol, cidade natal do Easton. Lá conhecemos e estabelecemos contatos com muita gente e muita coisa que trouxemos pro nosso dia-a-dia aqui.
Aqui, participamos em São Paulo de lutas e eventos com diversos movimentos sociais e grupos culturais, como o Movimento pelo Passe Livre, a Frente de Luta por Moradia, o Bloco Carnavalesco Filhos da Santa e a Associação Nacional dos Torcedores. E em 2012, junto ao Club Social Atlético y Deportivo Che Guevara, time hermano de ideais semelhantes aos nossos da província de Córdoba, na Argentina, estaremos organizando a primeira Copa América Alternativa!
Somos, pra além de time, um coletivo. E tentamos pensar e praticar nossas relações de uma forma horizontal, libertária, diferente da imposição hierárquica e individualista que domina o cotidiano de quase todos pelo planeta.
A idéia de ter uma sede, a Casa Mafalda, deriva da necessidade de um lugar no espaço para fortalecer essa relações. Um lugar como foram tantos outros que acabaram por terminar, como o Ay Carmela e o Espaço Impróprio.
Achamos esse lugar: é o Estúdio Fábrica Lapa, na Rua Clélia, 1745 (www.estudiofabricalapa.net), na Lapa, bem próximo ao nosso campo, o CDM Bento Bicudo.
Agora, precisamos de ajuda pra que o projeto se materialize.
Como?
Simples. Pra adquirir o ponto do local (ou seja, toda a estrutura que ele já tem e que comporta shows, festas, debates, palestras, oficinas, exposições e o que mais quisermos), nós precisamos arrecadar até o dia 01 de agosto R$ 60 mil (pra pagá-lo à vista) ou R$ 35 mil de entrada, com o resto sendo pago em parcelas (o que, esperamos, consigamos fazer com o próprio movimento do espaço).
No momento, temos R$ 15 mil. Precisamos, portanto, de no mínimo mais R$ 20 mil.
A idéia pra arrecadar essa grana é bem simples: um sistema de apadrinhamento/amadrinhamento da casa.
Funciona assim: você escolhe na lista abaixo quanto pode doar e recebe em troca uma recompensa, que pode ser horas de ensaio (caso você tenha banda), datas grátis pra eventos ou mesmo entrada livre na casa. E se você não é de São Paulo ou não costuma frequentar esse tipo de espaço mas apóia completamente a existência deles, pode contribuir e ganhar de volta uma camista da campanha do Autônomos & Autônomas FC pela sede (algo como “Casa Mafalda – eu também construí!”) e outros materiais do time.
A sua doação pode ser feita de duas formas: com um depósito na conta poupança que disponibilizaremos para isso, cujo extrato estará toda sexta-feira em nosso site para conferência de todos os padrinhos e madrinhas, ou com uma doação pelo site www.vakinha.com.br, caso você se sinta mais seguro/a fazendo assim.
Segue, então, a nossa lista de doações. E claro que se você quiser doar sem precisar de nada em troca, apenas pelo amor à camisa, ficaremos extremamente contentes!
Todos os padrinhos e madrinhas terão seus nomes em uma das paredes da casa!
R$ 10 – entrada livre em 2 shows ou eventos
R$ 20 – entrada livre em 5 shows ou eventos OU 2 horas de ensaio
R$ 50 – entrada livre em até 20 shows ou eventos e/ou 1 a 6h de ensaio
R$ 100 – entrada livre em até 50 shows ou eventos e/ou 1h a 12h horas de ensaio
R$ 250 – uma data grátis para show/evento/festa OU 30h horas de ensaio, limitadas em 10h por mês
R$ 500 – vale de R$ 500 para entrada em festas/shows/eventos OU 100 horas de ensaio, limitadas em 10h por mês OU três datas grátis para show/evento/festa, limitadas a 1 por mês
Acima de R$ 1000 – passe livre vitalício em festas/shows/eventos E passe livre vitalício no estúdio de música, limitadas em 10h mensais, OU datas grátis para festas/shows/eventos, limitadas a 4 por ano
Conta poupança para fazer a doação (não se esqueça de depois mandar um email para autonomosfc@gmail.com com seu nome, o valor e a data do depósito):
Banco do Brasil
Ag. 1894-5
Conta Poupança (01) 15943-3
Danilo Heitor Vilarinho Cajazeira
CPF 324.950.348-70
Site do Vakinha.com com o nosso projeto:
http://www.vakinha.com.br/VaquinhaP.aspx?e=40184
Como eu sei que isso vai dar certo?
Bom, o Estúdio Fábrica Lapa já existe e já dá certo há 3 anos. O que nós pretendemos é agregar novas atividades ao espaço, transformar ele de estúdio em centro cultural. Mas sem deixar de abrir as portas pra quem já faz coisas por lá, pelo contrário: a idéia é não deixar o espaço morrer e trazer mais gente pra dentro dele.
Se eu doar, quando eu posso ter minha recompensa?
O espaço só será nosso a partir de agosto. Portanto, a partir de agosto poderemos retribuir nossos padrinhos e madrinhas. Mas claro que desde já podemos ir agendando as coisas, com calma.
E se não arrecadar os R$ 35 mil necessários?
Acreditamos que vamos conseguir. Se não conseguirmos, teremos duas opções: pegar um empréstimo bancário ou desistir e devolver a grana a todos que doaram. A primeira é bem mais provável que a segunda, mas estamos confiantes que com a ajuda de todos poderemos dispensar as duas.
Dá pra conhecer o espaço antes de doar?
Sim, dá. Sempre rolam eventos por lá, é só ficar esperto no estudiofabricalapa.net. Dia 23/06 agora, por exemplo, nós do Auto estaremos fazendo um show:http://img.photobucket.com/albums/v415/mandioca/autonomos/flyerlogo.jpg ouhttp://www.autonomosfc.com.br/blog/2306-venha-conhecer-a-casa-mafalda
Porque Casa Mafalda?
Quando o Auto deixou o futebol society (ou futebol sete para alguns) para jogar na tradicional várzea paulistana, nosso primeiro campo foi na zona leste da cidade, próximo a um bairro chamado Chácara Mafalda.
Como nossa torcida na época era majoritariamente composta pelas namoradas e amigas dos jogadores e torcedores, em homenagem à elas e ao bairro escolhemos como mascote a personagem Mafalda, do cartunista argentino Quino, uma menina que questiona de forma bem humorada os pais e a todos sobre os problemas sociais, políticos e morais da humanidade.
Com o surgimento do nosso time feminino, a idéia ficou ainda mais forte, e nada mais justo do que nomear nossa casa, palavra no feminino, com o nome de nossa mascote.
Mais sobre o Autônomos & Autônomas FC
Se você quiser saber mais sobre o Auto, jogar com a gente, fazer parte da torcida, conhecer o espaço da futura Casa Mafalda ou mesmo trocar qualquer idéia, entre em contato:
www.autonomosfc.com.br
autonomosfc@gmail.com
(11) 9506-9920
Aqui há uma pequena reportagem feita pelo Carlos Carlos, do programa Bola & Arte (http://bolaearte.wordpress.com), para a TVT: http://digi.to/LI2AR
Entre em contato. Estamos sempre abertos a novas propostas. De repente você quer começar um time de basquete do Auto…
Contamos com a sua ajuda para que no dia 06 de agosto possamos fazer a grande inauguração do Espaço Autônomo Casa Mafalda!
Vamo Auto!
agência de notícias anarquistas-ana
vida repensada
noite de insônia –
manhã cansada
Zezé Pina
10 de junho de 2011 marca um grande dia na história do Autônomos & Autônomas FC: em assembléia, aprovamos a idéia da aquisição da nossa sede!
Isso significa que um novo espaço autônomo independente na cidade já é realidade. Será o Espaço Autônomo Casa Mafalda!
Mas antes de falar dele, vamos nos apresentar pra quem não nos conhece.
Quem somos?
O Autônomos FC, ou Auto como é carinhosamente chamado, é um time de futebol autogerido criado em 2006 por um grupo de punks, anarquistas e ativistas de São Paulo. Desde a sua criação, o Auto sempre tentou viver o futebol de uma maneira coletiva, sem hierarquias, com decisões coletivas e com abertura para todos e todas.
Hoje, 5 anos depois, temos dois times de futebol de campo masculino, um de futsal feminino e nos arriscamos em jogos mistos em diversas modalidades também. A partir de então, passamos a nos chamar Autônomos & Autônomas FC.
Por alguns anos pensamos estar sozinhos nessa coisa de futegol autogerido. Mas em 2009 descobrimos um time inglês, o Easton Cowboys & Cowgirls, que desde 1992 está na mesma sintonia! Depois de visitarem os palestinos e os zapatistas em Chiapas, em 2009 foi a vez de estarem por aqui pra jogar e trocar experiências conosco. Então, em 2010, foi a nossa vez de jogar, na cidade de Yorkshire, Inglaterra, a Copa do Mundo Alternativa, evento organizado por times europeus com os mesmos moldes do Auto e que acontece todo ano. Um encontro até então europeu de diversas pessoas e movimentos sociais não-hierárquicos, que tivemos a chance de conhecer nos 10 dias que ficamos por lá e por Bristol, cidade natal do Easton. Lá conhecemos e estabelecemos contatos com muita gente e muita coisa que trouxemos pro nosso dia-a-dia aqui.
Aqui, participamos em São Paulo de lutas e eventos com diversos movimentos sociais e grupos culturais, como o Movimento pelo Passe Livre, a Frente de Luta por Moradia, o Bloco Carnavalesco Filhos da Santa e a Associação Nacional dos Torcedores. E em 2012, junto ao Club Social Atlético y Deportivo Che Guevara, time hermano de ideais semelhantes aos nossos da província de Córdoba, na Argentina, estaremos organizando a primeira Copa América Alternativa!
Somos, pra além de time, um coletivo. E tentamos pensar e praticar nossas relações de uma forma horizontal, libertária, diferente da imposição hierárquica e individualista que domina o cotidiano de quase todos pelo planeta.
A idéia de ter uma sede, a Casa Mafalda, deriva da necessidade de um lugar no espaço para fortalecer essa relações. Um lugar como foram tantos outros que acabaram por terminar, como o Ay Carmela e o Espaço Impróprio.
Achamos esse lugar: é o Estúdio Fábrica Lapa, na Rua Clélia, 1745 (www.estudiofabricalapa.net), na Lapa, bem próximo ao nosso campo, o CDM Bento Bicudo.
Agora, precisamos de ajuda pra que o projeto se materialize.
Como?
Simples. Pra adquirir o ponto do local (ou seja, toda a estrutura que ele já tem e que comporta shows, festas, debates, palestras, oficinas, exposições e o que mais quisermos), nós precisamos arrecadar até o dia 01 de agosto R$ 60 mil (pra pagá-lo à vista) ou R$ 35 mil de entrada, com o resto sendo pago em parcelas (o que, esperamos, consigamos fazer com o próprio movimento do espaço).
No momento, temos R$ 15 mil. Precisamos, portanto, de no mínimo mais R$ 20 mil.
A idéia pra arrecadar essa grana é bem simples: um sistema de apadrinhamento/amadrinhamento da casa.
Funciona assim: você escolhe na lista abaixo quanto pode doar e recebe em troca uma recompensa, que pode ser horas de ensaio (caso você tenha banda), datas grátis pra eventos ou mesmo entrada livre na casa. E se você não é de São Paulo ou não costuma frequentar esse tipo de espaço mas apóia completamente a existência deles, pode contribuir e ganhar de volta uma camista da campanha do Autônomos & Autônomas FC pela sede (algo como “Casa Mafalda – eu também construí!”) e outros materiais do time.
A sua doação pode ser feita de duas formas: com um depósito na conta poupança que disponibilizaremos para isso, cujo extrato estará toda sexta-feira em nosso site para conferência de todos os padrinhos e madrinhas, ou com uma doação pelo site www.vakinha.com.br, caso você se sinta mais seguro/a fazendo assim.
Segue, então, a nossa lista de doações. E claro que se você quiser doar sem precisar de nada em troca, apenas pelo amor à camisa, ficaremos extremamente contentes!
Todos os padrinhos e madrinhas terão seus nomes em uma das paredes da casa!
R$ 10 – entrada livre em 2 shows ou eventos
R$ 20 – entrada livre em 5 shows ou eventos OU 2 horas de ensaio
R$ 50 – entrada livre em até 20 shows ou eventos e/ou 1 a 6h de ensaio
R$ 100 – entrada livre em até 50 shows ou eventos e/ou 1h a 12h horas de ensaio
R$ 250 – uma data grátis para show/evento/festa OU 30h horas de ensaio, limitadas em 10h por mês
R$ 500 – vale de R$ 500 para entrada em festas/shows/eventos OU 100 horas de ensaio, limitadas em 10h por mês OU três datas grátis para show/evento/festa, limitadas a 1 por mês
Acima de R$ 1000 – passe livre vitalício em festas/shows/eventos E passe livre vitalício no estúdio de música, limitadas em 10h mensais, OU datas grátis para festas/shows/eventos, limitadas a 4 por ano
Conta poupança para fazer a doação (não se esqueça de depois mandar um email para autonomosfc@gmail.com com seu nome, o valor e a data do depósito):
Banco do Brasil
Ag. 1894-5
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Como eu sei que isso vai dar certo?
Bom, o Estúdio Fábrica Lapa já existe e já dá certo há 3 anos. O que nós pretendemos é agregar novas atividades ao espaço, transformar ele de estúdio em centro cultural. Mas sem deixar de abrir as portas pra quem já faz coisas por lá, pelo contrário: a idéia é não deixar o espaço morrer e trazer mais gente pra dentro dele.
Se eu doar, quando eu posso ter minha recompensa?
O espaço só será nosso a partir de agosto. Portanto, a partir de agosto poderemos retribuir nossos padrinhos e madrinhas. Mas claro que desde já podemos ir agendando as coisas, com calma.
E se não arrecadar os R$ 35 mil necessários?
Acreditamos que vamos conseguir. Se não conseguirmos, teremos duas opções: pegar um empréstimo bancário ou desistir e devolver a grana a todos que doaram. A primeira é bem mais provável que a segunda, mas estamos confiantes que com a ajuda de todos poderemos dispensar as duas.
Dá pra conhecer o espaço antes de doar?
Sim, dá. Sempre rolam eventos por lá, é só ficar esperto no estudiofabricalapa.net. Dia 23/06 agora, por exemplo, nós do Auto estaremos fazendo um show:http://img.photobucket.com/albums/v415/mandioca/autonomos/flyerlogo.jpg ouhttp://www.autonomosfc.com.br/blog/2306-venha-conhecer-a-casa-mafalda
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Quando o Auto deixou o futebol society (ou futebol sete para alguns) para jogar na tradicional várzea paulistana, nosso primeiro campo foi na zona leste da cidade, próximo a um bairro chamado Chácara Mafalda.
Como nossa torcida na época era majoritariamente composta pelas namoradas e amigas dos jogadores e torcedores, em homenagem à elas e ao bairro escolhemos como mascote a personagem Mafalda, do cartunista argentino Quino, uma menina que questiona de forma bem humorada os pais e a todos sobre os problemas sociais, políticos e morais da humanidade.
Com o surgimento do nosso time feminino, a idéia ficou ainda mais forte, e nada mais justo do que nomear nossa casa, palavra no feminino, com o nome de nossa mascote.
Mais sobre o Autônomos & Autônomas FC
Se você quiser saber mais sobre o Auto, jogar com a gente, fazer parte da torcida, conhecer o espaço da futura Casa Mafalda ou mesmo trocar qualquer idéia, entre em contato:
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Aqui há uma pequena reportagem feita pelo Carlos Carlos, do programa Bola & Arte (http://bolaearte.wordpress.com), para a TVT: http://digi.to/LI2AR
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Contamos com a sua ajuda para que no dia 06 de agosto possamos fazer a grande inauguração do Espaço Autônomo Casa Mafalda!
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manhã cansada
Zezé Pina
sexta-feira, 17 de junho de 2011
quinta-feira, 16 de junho de 2011
A revolução como estado de consciência alterada - por Henrique Carneiro
A revolução como estado de consciência alteradaUm dos aspectos mais notáveis da onda revolucionária que se espalha desde o início de 2011 é seu caráter epidêmico. Essa palavra, de origem grega, quer dizer “sobre o povo”, como algo que atinge a todos de maneira praticamente involuntária, algo superior até mesmo a uma “vontade” particular ou egoística que se eleva como um arrebatamento, uma força superior que muda completamente a vida cotidiana, rompe a rotina dos dia-a-dia e cria um amálgama moral entre as pessoas. É uma forma de contágio, portanto, lembrando que antes da ideia de contaminação por uma doença, a noção de epidemia tinha um sentido dionisíaco, pois era assim que se denominava na Grécia antiga a conversão coletiva aos ritos convulsivos e ruidosos do deus da ebriedade.
É como uma embriaguez, portanto, que se manifesta esse contágio epidêmico da disposição revolucionária, cuja propagação é mimetizada e emulada por meios de comunicação em redes que se propagam não só por TV, rádio ou boca a boca, mas por uma difusão midiática nova das chamadas “redes sociais” da Internet, particularmente o twitter, onde ocorrem fenômenos virais com as mensagens que podem ser replicadas a milhares de outros emissores.
A disposição de luta que nasce com uma velocidade espantosa em povos acostumados por décadas de passividade e inação impressiona por sua intensidade psicológica que advém de um impacto moral, uma reverberação social de ondas de indignação, de sensações de que chegou o momento do basta. O auto-imolado suicídio de Mohamed Bouazizi na Tunísia, em 17 de dezembro de 2010, fez parte de uma onda de atos semelhantes que além dos desesperos individuais simbolizou o esgotamento psicológico de muitos povos num mesmo momento. Essa sincronia, esse cosmopolitismo, essa natureza culturalmente febril e viral de uma sequência de rebeliões criou ondas de choque que já atingiram, de imediato, o Mediterrâneo, levando para a Espanha, Grécia, Portugal e outros países levantes sociais de caráter semelhante: ações de rua, ocupações de praças, uso de mídias e redes de comunicação – tudo será filmado e colocado on line – e articulações que recusam o espaço institucional tradicional. Países como a China sentiram o risco e proibiram menções à Praça Tahrir. Lá, onde a Internet mais cresce e mais é controlada, a maior fortuna do país é a Baidu, equivalente chinês do Google, criada por Robin Li, que teve sua empresa como a primeira chinesa a entrar na Nasdaq.
Não é acidental que o ditador Kadafi tenha usado sistematicamente uma teoria estapafúrdia para explicar a irrupção súbita da insurreição do povo líbio contra seu governo que foi a das “pílulas alucinógenas” distribuídas pela Al Qaeda para os rebeldes. Três dias após o início do levante em Bengazi, seu filho foi à TV, em 20 de fevereiro de 2011, num discurso exaltado ameaçou mais de 100 mil mortos e acusou os rebeldes de serem drogados com alucinógenos. A versão foi repetida pelo próprio ditador quando, dias mais tarde retomou na TV a versão das “pílulas alucinógenas” de Bin Laden, e chegou a apresentar, em 04 de março de 2011, quatro containers cheios de remédios supostamente apreendidos, especialmente o opióide Tramadol, como evidência dessa conspiração “alucinógeno-fundamentalista”, numa versão que foi exibida como algo verossímil apenas pelo correspondente da Tele Sur venezuelana, Jordan Rodríguez[1]. A CNN chegou a fazer uma entrevista com o porta-voz líbio em que o repórter Anderson Cooper questionava como pílulas anestésicas opióides, que produzem sono e sedação, poderiam ajudar a despertar disposições bélicas e rebeldes[2].
O recurso a uma droga alucinógena como única explicação para as causas do levante popular é não só uma das utilizações mais grotescas dos argumentos da “guerra contra as drogas” por parte de um ditador caricato, mas é também uma mostra de como a disposição revolucionária em povos que viveram passivos por décadas é um fenômeno também de ordem psicológica, de uma disposição mental que irrompe como um relâmpago em céu claro.
A acusação às revoluções de serem obras da embriaguez é antiga. Após a derrota da Comuna de Paris, em 1871, a Academia de Medicina criou uma comissão especial para analisar as causas da irrupção revolucionária, num esforço que já era antigo de relacionar a dissidência com a doença. Sua conclusão foi de que “a Comuna se fez numa espécie de embriaguez permanente, uma vasta erupção de alcoolismo”[3]. Como sublinha Yves Lequin, “o que é novo é que o inebriamento alcoólico deixa de ser uma simples metáfora e que os médicos pretendem estabelecer sobre a frieza das observações a filiação biológica da subversão”[4].
Walter Benjamin havia se dado conta dessa força do êxtase, ao escrever sobre o surrealismo, que este, “em todos os seus livros e empreendimentos, empenha-se em conquistar as forças do êxtase para a revolução”, pois é uma “verdade, de nós conhecida, de que em qualquer ato revolucionário existe vivo um componente extático”[5].
A partir das dimensões do sonho e do êxtase, Benjamin identificava uma possibilidade de expansão da consciência racional, para um âmbito supra-racional ou supra-real como conceberam os surrealistas a denominação do seu movimento. Diante de um mundo técnico industrial no qual a humanidade é oprimida e explorada, onde a guerra é a grande meta e a publicidade o seu método de arrebanhar multidões, a “sua concepção da essência dessa época” era a seguinte: “ou bem a técnica se tornava, nas mãos das massas, o órgão sensato de uma experiência cósmica embriagadora ou então caminhava para catástrofes ainda piores do que a Primeira Guerra Mundial”[6].
A consciência política de classe foi teorizada por grande parte da tradição marxista como parte da tradição filosófica da filosofia do sujeito que via na auto-reflexividade crítica do espírito humano consigo próprio no seu desdobramento histórico como o foco cognitivo não só dos indivíduos, mas do próprio “espírito da época”. A consciência crítica de uma época sobre si própria se cristalizaria institucionalmente nas organizações sociais da classe trabalhadora como os sindicatos e os partidos. Estes, entretanto, após as ascensões e as crises das internacionais operárias, se tornaram a principal camisa de força burocrática dedicada a bloquear a luta social. A consciência política rebelde, órfã dos aparatos, e desconfiada da política institucional, emerge atualmente em manifestações muitas vezes espontâneas de rebelião, cujo caráter mais imediato é um estado de espírito de euforia coletiva, de festa transgressiva, de entusiasmo político.
Esse estado corresponde também às características de inorganicidade e perda de direitos sociais, políticos e sindicais das novas camadas do proletariado, especialmente na Europa, caracterizado pela presença de um verdadeiro apartheid em relação aos imigrantes ilegais e por uma exclusão de direitos também em relação às novas gerações de trabalhadores. O “precariado” é o termo que vem designar uma nova forma de proletariado informalizado, precarizado, terceirizado, também já chamado de “cognitariado”, termo que parece ter sido proposto originalmente por Franco Berardi[7] para se referir a um novo tipo de trabalhador empregado especialmente no campo da telemática cujas habilidades intelectuais são exploradas por meio de precarização, desregulamentação e perda dos direitos sociais do welfare state das gerações anteriores do proletariado industrial.
A palavra “precariado” parece ter surgido como um neologismo anglicizado no Japão, onde a força de trabalho desregularizada passou de 15% em 1984 para 33% em 2006[8]. O economista Guy Standing publicou o livro The Precariat. A new dangerous class, em 2011, desenvolvendo a tese de que este setor vem se tornando cada vez mais importante e socialmente conflitivo [9]. O termo se tornou comum no debate sociológico contemporâneo, a ponto de alguns, talvez apressadamente, relacioná-lo com um novo modelo de acumulação “pós-industrial” típico do século XXI[10].
O cenário contemporâneo se parece mais com uma nova divisão internacional do trabalho, no qual a high-tech, as indústrias da informação, da mídia e do espetáculo se localizam no centro, enquanto as indústrias pesadas se transferem para áreas periféricas e pior remuneradas, não havendo, portanto, em escala global, nenhuma diminuição do proletariado industrial. Mas, tanto no setor industrial como no de serviços, há um enorme esforço global de desregulamentação e perda de direitos sociais em nome da “flexibilização” que criou uma nova camada social precarizada que se concentra nos mais jovens. A exigência de que a crise desencadeada desde 2008 pelo sistema financeiro seja paga por meio dos cortes públicos e pela privatização foi a gota d´água que está fazendo a Espanha e a Grécia transbordarem.
Esses “indignados” da Europa, assim como os insurretos do mundo árabe, são os que podem despertar uma nova euforia política coletiva num mundo dominado pelos ideais de individualismo e continuidade perpétua do cotidiano. A sua apropriação dos recursos técnicos da comunicação de massas hipermidiática cria um novo fórum público de opinião e coordenação política. A ruptura do cotidiano é uma emancipação da criatividade e uma vazão de alegria e excitação contidas e se apresenta como uma consciência política não apenas crítica e voltada para a ação, mas com um potencial embriagador, que pode contagiar povos inteiros para sua elevação ao protagonismo público de uma vida social solidária em que o futuro deixa de ser a repetição do mesmo, mas uma invenção prática na novidade de cada dia, quando a política sai da sujeira cinzenta dos salões e vai para a iluminação das ruas.
Um exemplo dessa nova consciência crítica e rebelde foram as “marchas da maconha” no Brasil, cuja proibição suscitou não apenas enfrentamentos com a polícia nas ruas ou a retomada das lutas por liberdades democráticas, mas um chamado às “marchas da liberdade”, cuja próxima deverá ser realizada em várias cidades do país em 18 de junho próximo, um dia antes do dia para o qual foi chamado um protesto unificado em toda a Europa. As conexões de rebelião neste annus mirabilis de 2011 se tecem em meio a muitas coincidências felizes em que a emulação internacional da revolta volta a criar aquilo que podemos chamar de uma “atmosfera” revolucionária geral.
Bibliografia:
Benjamin, Walter, O Surrealismo, O mais recente instantâneo da inteligência européia, in Textos escolhidos, trad. José Lino Grünnewald, Col. Os Pensadores, 2. Ed., São Paulo, Abril Cultural, 1983.
Delumeau, Jean; e Lequin, Yves (orgs.), Les Malheurs des Temps. Histoire des fleaux et des calamites em France, França, Larousse, 1987.
Wiggershaus, Rolf, A Escola de Frankfurt. História, desenvolvimento teórico, significação política, Rio de Janeiro, Difel, 2002.
[1] http://multimedia.telesurtv.net/5/3/2011/28474/autoridades-libias-detuvieron-en-tayura-contenedores-con-pastillas-provenientes-de-dubai/
[2] http://www.dosenation.com/listing.php?id=8281&utm_medium=twitter&utm_source=twitterfeed
[3] Yves Lequin, Au péril de la race in Delumeau, Jean; e Lequin, Yves (orgs.), Les Malheurs des Temps. Histoire des fleaux et des calamites em France, França, Larousse, 1987 , p.438.
[4] Yves Lequin, Au péril de la race in Delumeau & Lequin, p.439.
[5] Walter Benjamin, O Surrealismo, O mais recente instantâneo da inteligência européia, in Textos escolhidos, Col. Os Pensadores, 2. Ed., São Paulo, Abril Cultural, 1983, p.83.
[6] Rolf Wiggershaus, A Escola de Frankfurt. História, desenvolvimento teórico, significação política, Rio de Janeiro, Difel, 2002, p.228.
[7] La fabbrica dell’infelicità: new economy e movimento del cognitariato. Roma, DeriveApprodi, 2001.
[8] http://search.japantimes.co.jp/cgi-bin/nn20070621f2.html
[9] http://www.policy-network.net/articles/4004/-The-Precariat-%E2%80%93-The-new-dangerous-class
[10] http://politique.eu.org/spip.php?article333
*Henrique Carneiro é professor de História Moderna da USP (Universidade de São Paulo). Originalmente publicado no Coletivo DAR (Desentorpecendo a Razão).
Fonte: Opera Mundi
É como uma embriaguez, portanto, que se manifesta esse contágio epidêmico da disposição revolucionária, cuja propagação é mimetizada e emulada por meios de comunicação em redes que se propagam não só por TV, rádio ou boca a boca, mas por uma difusão midiática nova das chamadas “redes sociais” da Internet, particularmente o twitter, onde ocorrem fenômenos virais com as mensagens que podem ser replicadas a milhares de outros emissores.
A disposição de luta que nasce com uma velocidade espantosa em povos acostumados por décadas de passividade e inação impressiona por sua intensidade psicológica que advém de um impacto moral, uma reverberação social de ondas de indignação, de sensações de que chegou o momento do basta. O auto-imolado suicídio de Mohamed Bouazizi na Tunísia, em 17 de dezembro de 2010, fez parte de uma onda de atos semelhantes que além dos desesperos individuais simbolizou o esgotamento psicológico de muitos povos num mesmo momento. Essa sincronia, esse cosmopolitismo, essa natureza culturalmente febril e viral de uma sequência de rebeliões criou ondas de choque que já atingiram, de imediato, o Mediterrâneo, levando para a Espanha, Grécia, Portugal e outros países levantes sociais de caráter semelhante: ações de rua, ocupações de praças, uso de mídias e redes de comunicação – tudo será filmado e colocado on line – e articulações que recusam o espaço institucional tradicional. Países como a China sentiram o risco e proibiram menções à Praça Tahrir. Lá, onde a Internet mais cresce e mais é controlada, a maior fortuna do país é a Baidu, equivalente chinês do Google, criada por Robin Li, que teve sua empresa como a primeira chinesa a entrar na Nasdaq.
Não é acidental que o ditador Kadafi tenha usado sistematicamente uma teoria estapafúrdia para explicar a irrupção súbita da insurreição do povo líbio contra seu governo que foi a das “pílulas alucinógenas” distribuídas pela Al Qaeda para os rebeldes. Três dias após o início do levante em Bengazi, seu filho foi à TV, em 20 de fevereiro de 2011, num discurso exaltado ameaçou mais de 100 mil mortos e acusou os rebeldes de serem drogados com alucinógenos. A versão foi repetida pelo próprio ditador quando, dias mais tarde retomou na TV a versão das “pílulas alucinógenas” de Bin Laden, e chegou a apresentar, em 04 de março de 2011, quatro containers cheios de remédios supostamente apreendidos, especialmente o opióide Tramadol, como evidência dessa conspiração “alucinógeno-fundamentalista”, numa versão que foi exibida como algo verossímil apenas pelo correspondente da Tele Sur venezuelana, Jordan Rodríguez[1]. A CNN chegou a fazer uma entrevista com o porta-voz líbio em que o repórter Anderson Cooper questionava como pílulas anestésicas opióides, que produzem sono e sedação, poderiam ajudar a despertar disposições bélicas e rebeldes[2].
O recurso a uma droga alucinógena como única explicação para as causas do levante popular é não só uma das utilizações mais grotescas dos argumentos da “guerra contra as drogas” por parte de um ditador caricato, mas é também uma mostra de como a disposição revolucionária em povos que viveram passivos por décadas é um fenômeno também de ordem psicológica, de uma disposição mental que irrompe como um relâmpago em céu claro.
A acusação às revoluções de serem obras da embriaguez é antiga. Após a derrota da Comuna de Paris, em 1871, a Academia de Medicina criou uma comissão especial para analisar as causas da irrupção revolucionária, num esforço que já era antigo de relacionar a dissidência com a doença. Sua conclusão foi de que “a Comuna se fez numa espécie de embriaguez permanente, uma vasta erupção de alcoolismo”[3]. Como sublinha Yves Lequin, “o que é novo é que o inebriamento alcoólico deixa de ser uma simples metáfora e que os médicos pretendem estabelecer sobre a frieza das observações a filiação biológica da subversão”[4].
Walter Benjamin havia se dado conta dessa força do êxtase, ao escrever sobre o surrealismo, que este, “em todos os seus livros e empreendimentos, empenha-se em conquistar as forças do êxtase para a revolução”, pois é uma “verdade, de nós conhecida, de que em qualquer ato revolucionário existe vivo um componente extático”[5].
A partir das dimensões do sonho e do êxtase, Benjamin identificava uma possibilidade de expansão da consciência racional, para um âmbito supra-racional ou supra-real como conceberam os surrealistas a denominação do seu movimento. Diante de um mundo técnico industrial no qual a humanidade é oprimida e explorada, onde a guerra é a grande meta e a publicidade o seu método de arrebanhar multidões, a “sua concepção da essência dessa época” era a seguinte: “ou bem a técnica se tornava, nas mãos das massas, o órgão sensato de uma experiência cósmica embriagadora ou então caminhava para catástrofes ainda piores do que a Primeira Guerra Mundial”[6].
A consciência política de classe foi teorizada por grande parte da tradição marxista como parte da tradição filosófica da filosofia do sujeito que via na auto-reflexividade crítica do espírito humano consigo próprio no seu desdobramento histórico como o foco cognitivo não só dos indivíduos, mas do próprio “espírito da época”. A consciência crítica de uma época sobre si própria se cristalizaria institucionalmente nas organizações sociais da classe trabalhadora como os sindicatos e os partidos. Estes, entretanto, após as ascensões e as crises das internacionais operárias, se tornaram a principal camisa de força burocrática dedicada a bloquear a luta social. A consciência política rebelde, órfã dos aparatos, e desconfiada da política institucional, emerge atualmente em manifestações muitas vezes espontâneas de rebelião, cujo caráter mais imediato é um estado de espírito de euforia coletiva, de festa transgressiva, de entusiasmo político.
Esse estado corresponde também às características de inorganicidade e perda de direitos sociais, políticos e sindicais das novas camadas do proletariado, especialmente na Europa, caracterizado pela presença de um verdadeiro apartheid em relação aos imigrantes ilegais e por uma exclusão de direitos também em relação às novas gerações de trabalhadores. O “precariado” é o termo que vem designar uma nova forma de proletariado informalizado, precarizado, terceirizado, também já chamado de “cognitariado”, termo que parece ter sido proposto originalmente por Franco Berardi[7] para se referir a um novo tipo de trabalhador empregado especialmente no campo da telemática cujas habilidades intelectuais são exploradas por meio de precarização, desregulamentação e perda dos direitos sociais do welfare state das gerações anteriores do proletariado industrial.
A palavra “precariado” parece ter surgido como um neologismo anglicizado no Japão, onde a força de trabalho desregularizada passou de 15% em 1984 para 33% em 2006[8]. O economista Guy Standing publicou o livro The Precariat. A new dangerous class, em 2011, desenvolvendo a tese de que este setor vem se tornando cada vez mais importante e socialmente conflitivo [9]. O termo se tornou comum no debate sociológico contemporâneo, a ponto de alguns, talvez apressadamente, relacioná-lo com um novo modelo de acumulação “pós-industrial” típico do século XXI[10].
O cenário contemporâneo se parece mais com uma nova divisão internacional do trabalho, no qual a high-tech, as indústrias da informação, da mídia e do espetáculo se localizam no centro, enquanto as indústrias pesadas se transferem para áreas periféricas e pior remuneradas, não havendo, portanto, em escala global, nenhuma diminuição do proletariado industrial. Mas, tanto no setor industrial como no de serviços, há um enorme esforço global de desregulamentação e perda de direitos sociais em nome da “flexibilização” que criou uma nova camada social precarizada que se concentra nos mais jovens. A exigência de que a crise desencadeada desde 2008 pelo sistema financeiro seja paga por meio dos cortes públicos e pela privatização foi a gota d´água que está fazendo a Espanha e a Grécia transbordarem.
Esses “indignados” da Europa, assim como os insurretos do mundo árabe, são os que podem despertar uma nova euforia política coletiva num mundo dominado pelos ideais de individualismo e continuidade perpétua do cotidiano. A sua apropriação dos recursos técnicos da comunicação de massas hipermidiática cria um novo fórum público de opinião e coordenação política. A ruptura do cotidiano é uma emancipação da criatividade e uma vazão de alegria e excitação contidas e se apresenta como uma consciência política não apenas crítica e voltada para a ação, mas com um potencial embriagador, que pode contagiar povos inteiros para sua elevação ao protagonismo público de uma vida social solidária em que o futuro deixa de ser a repetição do mesmo, mas uma invenção prática na novidade de cada dia, quando a política sai da sujeira cinzenta dos salões e vai para a iluminação das ruas.
Um exemplo dessa nova consciência crítica e rebelde foram as “marchas da maconha” no Brasil, cuja proibição suscitou não apenas enfrentamentos com a polícia nas ruas ou a retomada das lutas por liberdades democráticas, mas um chamado às “marchas da liberdade”, cuja próxima deverá ser realizada em várias cidades do país em 18 de junho próximo, um dia antes do dia para o qual foi chamado um protesto unificado em toda a Europa. As conexões de rebelião neste annus mirabilis de 2011 se tecem em meio a muitas coincidências felizes em que a emulação internacional da revolta volta a criar aquilo que podemos chamar de uma “atmosfera” revolucionária geral.
Bibliografia:
Benjamin, Walter, O Surrealismo, O mais recente instantâneo da inteligência européia, in Textos escolhidos, trad. José Lino Grünnewald, Col. Os Pensadores, 2. Ed., São Paulo, Abril Cultural, 1983.
Delumeau, Jean; e Lequin, Yves (orgs.), Les Malheurs des Temps. Histoire des fleaux et des calamites em France, França, Larousse, 1987.
Wiggershaus, Rolf, A Escola de Frankfurt. História, desenvolvimento teórico, significação política, Rio de Janeiro, Difel, 2002.
[1] http://multimedia.telesurtv.net/5/3/2011/28474/autoridades-libias-detuvieron-en-tayura-contenedores-con-pastillas-provenientes-de-dubai/
[2] http://www.dosenation.com/listing.php?id=8281&utm_medium=twitter&utm_source=twitterfeed
[3] Yves Lequin, Au péril de la race in Delumeau, Jean; e Lequin, Yves (orgs.), Les Malheurs des Temps. Histoire des fleaux et des calamites em France, França, Larousse, 1987 , p.438.
[4] Yves Lequin, Au péril de la race in Delumeau & Lequin, p.439.
[5] Walter Benjamin, O Surrealismo, O mais recente instantâneo da inteligência européia, in Textos escolhidos, Col. Os Pensadores, 2. Ed., São Paulo, Abril Cultural, 1983, p.83.
[6] Rolf Wiggershaus, A Escola de Frankfurt. História, desenvolvimento teórico, significação política, Rio de Janeiro, Difel, 2002, p.228.
[7] La fabbrica dell’infelicità: new economy e movimento del cognitariato. Roma, DeriveApprodi, 2001.
[8] http://search.japantimes.co.jp/cgi-bin/nn20070621f2.html
[9] http://www.policy-network.net/articles/4004/-The-Precariat-%E2%80%93-The-new-dangerous-class
[10] http://politique.eu.org/spip.php?article333
*Henrique Carneiro é professor de História Moderna da USP (Universidade de São Paulo). Originalmente publicado no Coletivo DAR (Desentorpecendo a Razão).
Fonte: Opera Mundi
[França] Eles cantam Brassens à polícia e acabam na delegacia - por ANA
[França] Eles cantam Brassens à polícia e acabam na delegacia[Num tempo em que se comemora o poeta e cantor anarquista Georges Brassens nos salões parisienses, em Toulouse, trinta e duas pessoas foram convocadas ontem à polícia por terem cantado suas cantigas e músicas hostis à polícia.]
Rememorando: Na noite de 24 de julho de 2009, um Breton chamado Rennais, de 27 anos, cantou Hécatombe, de Brassens. E isso da janela de um apartamento em Cherbourg. O público? Três policiais - que não gostaram. Julgado numa sexta feira, 27 de maio de 2011, no tribunal correcional de Rennes, foi condenado ao trabalho de interesse geral (Serviço Comunitário) de 40 horas, além de ter de pagar 100 euros para dois policiais.
Trabalhos forçados por cantar uma canção daquela maneira!
Já na quarta-feira passada, dia 8 de junho, à noite, em torno de trinta manifestantes foram detidos em frente à delegacia de polícia de Toulouse, por estarem cantando uma das grandes músicas de Georges Brassens contra a autoridade, a do brado "morte às vacas".
Do lado da polícia, o que se diz é que tais "ativistas da ultra-esquerda" não cantaram somente "Hecatomb", a música agitadora do anarquista Brassens, mas também outros textos de insulto que constituem o desprezo à nação e às forças da Ordem Pública.
Respondendo aos apelos da mobilização lançada na internet ou por mensagem de texto, os manifestantes se puseram a cantar na frente da Estação Central de Polícia, boulevarde de l'Embouchure, a música em que "bruxas gendarmicides" [exterminadoras da polícia] de Brive-la-Gaillarde se batem com os representantes da ordem, e fazem gritar um sargento: "Morte às vacas, morte às leis, viva a anarquia."
Na quarta à noite, a polícia de Toulouse não gostou do recital um tanto quanto provocativo. "Havia cerca de trinta, eles nos cercaram", contou um dos manifestantes, convocados ontem de manhã. Eles foram levados para dentro da delegacia, tiveram que se identificar e temeu-se que fossem colocados sob custódia.
Finalmente, 32 deles estão sendo convocados para serem ouvidos pela polícia, dessa vez em solo.
Uma italiana de Treviso, 27 anos, estava entre os primeiros convocados ontem pela manhã, enquanto uma vintena de pessoas a aguardava do lado de fora para lhe apoiar.
"Ontem à noite você apareceu frente à delegacia e cantou músicas que são uma afronta para a polícia", disse a policial que a ouviu, segundo ela. Conhecedora de Brassens, ela achou que seu interrogatório foi "ridículo" e "surreal": "Eu pensei que não havia nada de errado em cantar Brassen frente à delegacia. Aparentemente, há algumas pessoas que são intocáveis", disse ela.
Agora, sob todos os céus sem vergonha é um hábito bem estabelecido - quando se trata de insultar policiais - todo mundo fica amigo... cante em lugares públicos, frente à delegacias, frente aos comissariados, tribunais, nos transportes públicos, dos nossos alpendres... Cuidado com os gorilas!
Associação Os Amigos de George B.; Coral O Coração à George; Grupo George Você está aí; Libertem George!; Fração George Profundo; Memória do Comandante Acab; comandante George, a fina-flor da sociedade...
Tradução > Tio TAZ
agência de notícias anarquistas-ana
Todos os dias
Um mar de palavras
Morrem no céu da minha boca.
Perpétua Amorim
Rememorando: Na noite de 24 de julho de 2009, um Breton chamado Rennais, de 27 anos, cantou Hécatombe, de Brassens. E isso da janela de um apartamento em Cherbourg. O público? Três policiais - que não gostaram. Julgado numa sexta feira, 27 de maio de 2011, no tribunal correcional de Rennes, foi condenado ao trabalho de interesse geral (Serviço Comunitário) de 40 horas, além de ter de pagar 100 euros para dois policiais.
Trabalhos forçados por cantar uma canção daquela maneira!
Já na quarta-feira passada, dia 8 de junho, à noite, em torno de trinta manifestantes foram detidos em frente à delegacia de polícia de Toulouse, por estarem cantando uma das grandes músicas de Georges Brassens contra a autoridade, a do brado "morte às vacas".
Do lado da polícia, o que se diz é que tais "ativistas da ultra-esquerda" não cantaram somente "Hecatomb", a música agitadora do anarquista Brassens, mas também outros textos de insulto que constituem o desprezo à nação e às forças da Ordem Pública.
Respondendo aos apelos da mobilização lançada na internet ou por mensagem de texto, os manifestantes se puseram a cantar na frente da Estação Central de Polícia, boulevarde de l'Embouchure, a música em que "bruxas gendarmicides" [exterminadoras da polícia] de Brive-la-Gaillarde se batem com os representantes da ordem, e fazem gritar um sargento: "Morte às vacas, morte às leis, viva a anarquia."
Na quarta à noite, a polícia de Toulouse não gostou do recital um tanto quanto provocativo. "Havia cerca de trinta, eles nos cercaram", contou um dos manifestantes, convocados ontem de manhã. Eles foram levados para dentro da delegacia, tiveram que se identificar e temeu-se que fossem colocados sob custódia.
Finalmente, 32 deles estão sendo convocados para serem ouvidos pela polícia, dessa vez em solo.
Uma italiana de Treviso, 27 anos, estava entre os primeiros convocados ontem pela manhã, enquanto uma vintena de pessoas a aguardava do lado de fora para lhe apoiar.
"Ontem à noite você apareceu frente à delegacia e cantou músicas que são uma afronta para a polícia", disse a policial que a ouviu, segundo ela. Conhecedora de Brassens, ela achou que seu interrogatório foi "ridículo" e "surreal": "Eu pensei que não havia nada de errado em cantar Brassen frente à delegacia. Aparentemente, há algumas pessoas que são intocáveis", disse ela.
Agora, sob todos os céus sem vergonha é um hábito bem estabelecido - quando se trata de insultar policiais - todo mundo fica amigo... cante em lugares públicos, frente à delegacias, frente aos comissariados, tribunais, nos transportes públicos, dos nossos alpendres... Cuidado com os gorilas!
Associação Os Amigos de George B.; Coral O Coração à George; Grupo George Você está aí; Libertem George!; Fração George Profundo; Memória do Comandante Acab; comandante George, a fina-flor da sociedade...
Tradução > Tio TAZ
agência de notícias anarquistas-ana
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Perpétua Amorim
quarta-feira, 15 de junho de 2011
“É necessária a erradicação do capitalismo” - por István Mészáros
“É necessária a erradicação do capitalismo”
Em Salvador, o filósofo István Mészáros defende que a crise do capitalismo é estrutural
Ana Maria Amorim - Salvador, BA
De passagem pelo Brasil, o filósofo húngaro István Mészáros teve em sua agenda a conferência plenária “Crise estrutural necessita de mudança estrutural”, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), nesta segunda-feira (13). Começava com Mészáros, portanto, o II Encontro de São Lázaro, que comemora os 70 anos da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA. O Salão Nobre da Reitoria foi tomado por uma maioria jovem que recebeu Mészáros com entusiasmo e sonoras palmas.
Mészáros começa sua fala deixando claro que nada do que ele está propondo pode ser visto como uma “utopia não realizável” e que, para transformarmos este tão-chamado impossível em realidade é primordial que a crise do capitalismo seja avaliada adequadamente. “Sem uma avaliação da crise econômica e social de nossos dias, que já não pode ser negada pelos defensores da ordem capitalista, ainda que eles rejeitem a necessidade de uma mudança maior, a probabilidade de sucesso a esse respeito é insignificante”, diz o filósofo.
Natureza da crise
Para Mészáros, a crise que o mundo enfrenta é uma “crise estrutural profunda e cada vez mais grave, que necessita da adoção de remédios estruturais abrangentes, a fim de alcançar uma solução sustentável”. Apesar de comumente a crise ser apresentada como ‘atual’, Mészáros discorda que ela tenha se originado em 2007, com a explosão da bolha habitacional dos Estados Unidos. A crise teria começado há mais de quatro décadas e, em 1971, ele já escrevia no prefácio de “Teoria da Alienação em Marx” que as revoltas de maio de 68 e seus desdobramentos “salientavam dramaticamente a intensificação da crise estrutural global do capital”.
Por ser uma crise estrutural, e não apenas conjuntural, esta crise não pode ser solucionada no foco que a gera sem que não haja uma mudança desta estrutura que a criou. Mészáros reforça a diferença entre as crises conjunturais e estruturais, diferenciando-as pela impossibilidade destas realimentarem o sistema, se remodelarem a partir de uma nova forma ainda nas bases do sistema capitalista. Isto, contudo, não significa que as crises conjunturais possam se apresentar até mesmo de forma mais violenta que as crises estruturais. “O caráter não-explosivo de uma crise estrutural prolongada, em contraste com as grandes tempestades, nas palavras de Marx, através das quais crises conjunturais periódicas podem elas mesmas se liberar e solucionar, pode conduzir a estratégias fundamentalmente mal concebidas, como resultado da interpretação errônea da ausência de tempestades, como se tal ausência fosse uma evidência impressionante da estabilidade indefinida do ‘capitalismo organizado’ e da ‘integração da classe trabalhadora’”, diz Mészáros.
O que esta crise (que não é nova) teria como características que a definem como estrutural? Mészáros aponta quatro aspectos principais: o caráter universal (ou seja, não é reservada a um ramo da produção, ou estritamente financeira, por exemplo); o escopo verdadeiramente global (não envolve apenas um número limitado de países); escala de tempo extensa e contínua (“se preferir, permanente”, adiciona Mészáros, enfatizando que não se trata de mais uma crise cíclica do capital) e, por fim, modo de desdobramento gradual (“em contrates com as erupções e colapsos mais espetaculares e dramáticos do passado”, diz o filósofo). Assim é construído o cenário que qualificaria esta crise como estrutural, com a impossibilidade de solução das “tempestades” dentro da atual estrutura.
Capitalismo destrutivo
Outro ponto levantado por Mészáros – e recebido com manifestações de apoio pela platéia – foi delinear os “limites absolutos” do capitalismo. Um desses limites passa pelo papel do trabalho na sociedade, que é visto como uma necessidade, tanto para os indivíduos que produzem quando para a sociedade como um todo. Uma situação onde o trabalho seja visto como um problema, ou pior, como uma falha, tem em si um limite a ser resolvido. O capitalismo, para Mészáros, “com seu desemprego perigosamente crescente” (ainda que a questão não seja meramente numérica), apresenta no trabalho um dos seus limites.
Mészáros chama ainda a atenção para outros males dessa estrutura. A primeira questão apresentada pelo filósofo estaria no foco que o capital vem apontado, os “setores parasíticos da economia”. Para ilustrar o que seria isso, Mészáros aponta para o aventurismo especulativo que a economia tem vivenciado (e que, quando peca em seus resultados, é apontado como um fracasso individual, pertencente a um determinado grupo, quando, para o filósofo, deveria ter o sistema como grande culpado, visto que ele deveria responder por aquilo que produz para se oxigenar) e a uma “fraudulência institucionalizada”.
As guerras e o seu complexo aparato industrial militar aparecem como um desperdício autoritário ao qual o capital submete a sociedade. Este ponto é analisado por Mészáros como uma “operação criminosamente destrutiva e devastadora de uma indústria de armas permanente, juntamente com as guerras necessariamente a elas associadas”. Esta produção sistemática de conflitos e estímulo a uma produção militar resultaria no outro limite destrutivo no capitalismo, apesar de não ser apenas resultado deste, que seria a destruição ecológica: “o dinamismo monopolista militarmente embasado teve até mesmo que assumir a forma de duas devastadoras guerras mundiais, bem como da aniquilação total da humanidade implícita em uma potencial terceira guerra mundial, além da perigosa destruição atual da natureza que se tornou evidente na segunda metade do século XX”.
Criar o futuro
“Existe e deve existir esperança”, diz o filósofo. Apesar do retrato de destruição apresentado por Mészáros e vivenciado cotidianamente dentro da própria estrutura capitalista da sociedade, faz-se o esforço de pensar o futuro, não apenas como um desejo sonhador, mas sim como uma tarefa necessária para mudar o sistema.
A solução para os problemas apontados pelo capital já foram apresentados em momentos históricos anteriores. Mészáros resgata as soluções apresentadas para o capitalismo. Relembrando o liberal John Stuart Mill, Mészáros aponta como inconcebível que o capitalismo chegue a “um estado estacionário da economia”, como defendia Mill, pois faz parte da lógica capitalista a incessante expansão do capital e da sua acumulação. Retomando o ponto do limite da ecologia, fica mais visível o caráter ilusório de um freio para o capital, visto que em 2012 será realizado o Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que pretende engajar as nações em um projeto sustentável de crescimento. As tentativas de criar projeções para as taxas de emissão de carbono, por exemplo, sempre presente nas pautas ecológicas, seriam, para Mészáros, a evidência da incompatibilidade entre o capital e o freio, ainda, entre o capital e o não-avanço destrutivo na natureza.
Mészáros ainda aponta como soluções já tentadas na história: a saída social democrata, socialismo evolutivo, o Estado de Bem Estar Social e a promessa da fase mais elevada do socialismo. “O denominador comum de todas essas tentativas fracassadas – a despeito de suas diferenças principais – é que todas elas tentaram atingir seus objetivos dentro da base estrutural da ordem sociometabólica estabelecida”. Pensar a mudança sem erradicar o capital, portanto, seria deixar latente a possibilidade do capital voltar, ser “restaurado”. A mudança, para Mészáros, precisa ser estrutural e radical, como ele bem especificou para a plateia, extirpando o capital pela raiz.
O rombo estadunidense na economia, com um débito alarmante de U$ 14 trilhões, é, para o filósofo, a marca de um desperdício. Ao ver a inquietude dos capitalistas com a China e seus “três trilhões [de dólares] em caixa”, o capitalismo já pensa um “melhor uso” para esse montante. “E qual é o melhor uso? Por de volta no buraco que fizeram nos Estados Unidos?”, questiona Mészáros. Como foi gerado e como se pode assegurar que um rombo desta proporção não se repita na história são perguntas entrelaçadas ao caráter estrutural da crise e, em conseqüência disto, da resposta necessariamente estrutural que ela requer. Crise esta que tropeça em suas intermináveis guerras, devastação da natureza e contínua produção destrutiva.
Foto: Amanda Dutra/LabFoto
Fonte: http://www.brasildefato.com.br
Em Salvador, o filósofo István Mészáros defende que a crise do capitalismo é estrutural
Ana Maria Amorim - Salvador, BA
De passagem pelo Brasil, o filósofo húngaro István Mészáros teve em sua agenda a conferência plenária “Crise estrutural necessita de mudança estrutural”, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), nesta segunda-feira (13). Começava com Mészáros, portanto, o II Encontro de São Lázaro, que comemora os 70 anos da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA. O Salão Nobre da Reitoria foi tomado por uma maioria jovem que recebeu Mészáros com entusiasmo e sonoras palmas.
Mészáros começa sua fala deixando claro que nada do que ele está propondo pode ser visto como uma “utopia não realizável” e que, para transformarmos este tão-chamado impossível em realidade é primordial que a crise do capitalismo seja avaliada adequadamente. “Sem uma avaliação da crise econômica e social de nossos dias, que já não pode ser negada pelos defensores da ordem capitalista, ainda que eles rejeitem a necessidade de uma mudança maior, a probabilidade de sucesso a esse respeito é insignificante”, diz o filósofo.
Natureza da crise
Para Mészáros, a crise que o mundo enfrenta é uma “crise estrutural profunda e cada vez mais grave, que necessita da adoção de remédios estruturais abrangentes, a fim de alcançar uma solução sustentável”. Apesar de comumente a crise ser apresentada como ‘atual’, Mészáros discorda que ela tenha se originado em 2007, com a explosão da bolha habitacional dos Estados Unidos. A crise teria começado há mais de quatro décadas e, em 1971, ele já escrevia no prefácio de “Teoria da Alienação em Marx” que as revoltas de maio de 68 e seus desdobramentos “salientavam dramaticamente a intensificação da crise estrutural global do capital”.
Por ser uma crise estrutural, e não apenas conjuntural, esta crise não pode ser solucionada no foco que a gera sem que não haja uma mudança desta estrutura que a criou. Mészáros reforça a diferença entre as crises conjunturais e estruturais, diferenciando-as pela impossibilidade destas realimentarem o sistema, se remodelarem a partir de uma nova forma ainda nas bases do sistema capitalista. Isto, contudo, não significa que as crises conjunturais possam se apresentar até mesmo de forma mais violenta que as crises estruturais. “O caráter não-explosivo de uma crise estrutural prolongada, em contraste com as grandes tempestades, nas palavras de Marx, através das quais crises conjunturais periódicas podem elas mesmas se liberar e solucionar, pode conduzir a estratégias fundamentalmente mal concebidas, como resultado da interpretação errônea da ausência de tempestades, como se tal ausência fosse uma evidência impressionante da estabilidade indefinida do ‘capitalismo organizado’ e da ‘integração da classe trabalhadora’”, diz Mészáros.
O que esta crise (que não é nova) teria como características que a definem como estrutural? Mészáros aponta quatro aspectos principais: o caráter universal (ou seja, não é reservada a um ramo da produção, ou estritamente financeira, por exemplo); o escopo verdadeiramente global (não envolve apenas um número limitado de países); escala de tempo extensa e contínua (“se preferir, permanente”, adiciona Mészáros, enfatizando que não se trata de mais uma crise cíclica do capital) e, por fim, modo de desdobramento gradual (“em contrates com as erupções e colapsos mais espetaculares e dramáticos do passado”, diz o filósofo). Assim é construído o cenário que qualificaria esta crise como estrutural, com a impossibilidade de solução das “tempestades” dentro da atual estrutura.
Capitalismo destrutivo
Outro ponto levantado por Mészáros – e recebido com manifestações de apoio pela platéia – foi delinear os “limites absolutos” do capitalismo. Um desses limites passa pelo papel do trabalho na sociedade, que é visto como uma necessidade, tanto para os indivíduos que produzem quando para a sociedade como um todo. Uma situação onde o trabalho seja visto como um problema, ou pior, como uma falha, tem em si um limite a ser resolvido. O capitalismo, para Mészáros, “com seu desemprego perigosamente crescente” (ainda que a questão não seja meramente numérica), apresenta no trabalho um dos seus limites.
Mészáros chama ainda a atenção para outros males dessa estrutura. A primeira questão apresentada pelo filósofo estaria no foco que o capital vem apontado, os “setores parasíticos da economia”. Para ilustrar o que seria isso, Mészáros aponta para o aventurismo especulativo que a economia tem vivenciado (e que, quando peca em seus resultados, é apontado como um fracasso individual, pertencente a um determinado grupo, quando, para o filósofo, deveria ter o sistema como grande culpado, visto que ele deveria responder por aquilo que produz para se oxigenar) e a uma “fraudulência institucionalizada”.
As guerras e o seu complexo aparato industrial militar aparecem como um desperdício autoritário ao qual o capital submete a sociedade. Este ponto é analisado por Mészáros como uma “operação criminosamente destrutiva e devastadora de uma indústria de armas permanente, juntamente com as guerras necessariamente a elas associadas”. Esta produção sistemática de conflitos e estímulo a uma produção militar resultaria no outro limite destrutivo no capitalismo, apesar de não ser apenas resultado deste, que seria a destruição ecológica: “o dinamismo monopolista militarmente embasado teve até mesmo que assumir a forma de duas devastadoras guerras mundiais, bem como da aniquilação total da humanidade implícita em uma potencial terceira guerra mundial, além da perigosa destruição atual da natureza que se tornou evidente na segunda metade do século XX”.
Criar o futuro
“Existe e deve existir esperança”, diz o filósofo. Apesar do retrato de destruição apresentado por Mészáros e vivenciado cotidianamente dentro da própria estrutura capitalista da sociedade, faz-se o esforço de pensar o futuro, não apenas como um desejo sonhador, mas sim como uma tarefa necessária para mudar o sistema.
A solução para os problemas apontados pelo capital já foram apresentados em momentos históricos anteriores. Mészáros resgata as soluções apresentadas para o capitalismo. Relembrando o liberal John Stuart Mill, Mészáros aponta como inconcebível que o capitalismo chegue a “um estado estacionário da economia”, como defendia Mill, pois faz parte da lógica capitalista a incessante expansão do capital e da sua acumulação. Retomando o ponto do limite da ecologia, fica mais visível o caráter ilusório de um freio para o capital, visto que em 2012 será realizado o Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que pretende engajar as nações em um projeto sustentável de crescimento. As tentativas de criar projeções para as taxas de emissão de carbono, por exemplo, sempre presente nas pautas ecológicas, seriam, para Mészáros, a evidência da incompatibilidade entre o capital e o freio, ainda, entre o capital e o não-avanço destrutivo na natureza.
Mészáros ainda aponta como soluções já tentadas na história: a saída social democrata, socialismo evolutivo, o Estado de Bem Estar Social e a promessa da fase mais elevada do socialismo. “O denominador comum de todas essas tentativas fracassadas – a despeito de suas diferenças principais – é que todas elas tentaram atingir seus objetivos dentro da base estrutural da ordem sociometabólica estabelecida”. Pensar a mudança sem erradicar o capital, portanto, seria deixar latente a possibilidade do capital voltar, ser “restaurado”. A mudança, para Mészáros, precisa ser estrutural e radical, como ele bem especificou para a plateia, extirpando o capital pela raiz.
O rombo estadunidense na economia, com um débito alarmante de U$ 14 trilhões, é, para o filósofo, a marca de um desperdício. Ao ver a inquietude dos capitalistas com a China e seus “três trilhões [de dólares] em caixa”, o capitalismo já pensa um “melhor uso” para esse montante. “E qual é o melhor uso? Por de volta no buraco que fizeram nos Estados Unidos?”, questiona Mészáros. Como foi gerado e como se pode assegurar que um rombo desta proporção não se repita na história são perguntas entrelaçadas ao caráter estrutural da crise e, em conseqüência disto, da resposta necessariamente estrutural que ela requer. Crise esta que tropeça em suas intermináveis guerras, devastação da natureza e contínua produção destrutiva.
Foto: Amanda Dutra/LabFoto
Fonte: http://www.brasildefato.com.br
Paz ou guerra em setembro de 2011? - por Reginaldo Nasser
Paz ou guerra em setembro de 2011?
O presidente Barack Obama, antecipando as movimentações para o período eleitoral de 2012, iniciou uma mudança radical em sua equipe de segurança nacional que pode ter graves repercussões no Oriente Médio. Para Israel e os EUA, recorrer à ONU e não acreditar em Netanyahu e Obama passou a ser denominado de unilateralismo e ameaça à Paz! No momento em que cresce o apoio da comunidade internacional para o reconhecimento diplomático de um Estado Palestino na Assembléia Geral da ONU, em setembro, aumentam também as possibilidades de um ato tresloucado da direita israelense com o apoio do democrata Obama.
No dia 23 de maio o presidente Barack Obama proferiu um discurso sobre a política externa dos EUA para o Oriente Médio no Departamento de Estado, declarando seu apoio à primavera árabe e reiterando sua crença a solução de dois Estados é a melhor maneira de resolver o conflito israel-palestino. No dia seguinte, foi a vez do primeiro ministro israelense, Netanyahu, dar seu recado. Em seu discurso no congresso rejeitou várias afirmações de Obama, sendo efusivamente aplaudido pelos congressistas (29 aclamações). Atribuiu a responsabilidade do conflito aos palestinos devido à não aceitação da existência do Estado de Israel: “eles simplesmente não querem acabar com o conflito. Eles continuam educando suas crianças para o ódio. Eles continuam com a fantasia de que Israel será um dia inundada pelos palestinos refugiados”. Assim, a proposta do governo israelense foi clara: só poderá existir um estado Palestino desmilitarizado e dentro de fronteiras diferentes daquelas acordadas em 1967 na Resolução 242 da ONU. Consequentemente, não aceitar essa proposta, é, para Netanyahu, sinal de que os palestinos não desejam a paz.
Equanto isso em Jerusalém, o ex-chefe da Mossad, Meir Dagan, que dirigiu a organização entre 2002-2010, criticou, publicamente, o governo israelense por “falta de discernimento e flexibilidade”, chamando-o de "imprudente e irresponsável" no tratamento da política de segurança de Israel. Dagan considera uma ameaça maior o isolamento de Israel por um grande segmento da comunidade internacional como provável resultado do esforço da Palestina em obter o reconhecimento de seu Estado. Ele alerta que diante da pressão internacional, Israel poderá trazer à tona o velho argumento de responder aos pequenos incidentes forçando uma solução militar.
Dagan não é nenhum pacifista utópico. Quando foi escolhido para ser chefe da Mossad, Sharon disse que ele queria uma Mossad com "uma faca entre os dentes." Nos últimos meses, o chefe militar, Gabi Ashkenazi, e o diretor da agência de segurança Shin Bet, Yuval Diskin, também renunciaram. Portanto, além de indicar a existência de fissuras dentro do establishment de segurança nacional de Israel, a saída desse triunvirato, de acordo com o próprio Dagan, demonstra que Netanyahu está removendo aqueles que até então resistiam à sua estratégia de atacar o Irã.
Dagan não acredita em uma paz com a Síria, se opõe fortemente à criação de um Estado Palestino nas fronteiras de 1967 ou a qualquer compromisso sobre os refugiados, mas acha que Israel, por seu próprio bem, deve tomar a iniciativa no processo de paz. Principalmente nesse momento em que ocorrem mudanças regionais, ele está preocupado, em primeiro lugar pelo que está acontecendo no Egito.
Ao mesmo tempo, o presidente Obama, antecipando as movimentações para o período eleitoral de 2012, iniciou uma mudança radical em sua equipe de segurança nacional que pode ter graves repercussões no Oriente Médio. O presidente nomeou o diretor da CIA, Leon Panetta, para assumir o posto de secretário de Defesa, escolheu o comandante da guerra do Afeganistão, general David Petraeus, para substituir Panetta na agência de inteligência e indicou o General Martin Dempsey para chefe do Estado-Maior das forças armadas dos EUA. A nomeação desse último foi feita no 'Memorial Day', o feriado anual que recorda os americanos mortos em combate, e ocorre em um momento crítico de reorganização do aparato de defesa e segurança dos Estados Unidos.
Nas últimas duas décadas, Dempsey passou a maior parte do seu tempo dedicado ao Oriente Médio: oficial de operações com o corpo de blindados na Guerra do Golfo(1991); chefe da delegação americana que treinou a guarda nacional saudita; comandante de uma divisão de blindados no Iraque em 2003; oficial responsável pela formação do novo exército iraquiano, e finalmente chefiando o Comando Central, que abrange o Irã, Egito, Síria e a Jordânia. Além disso, Dempsey é bastante familiarizado com as Forças de Defesa de Israel por meio de intercâmbio de informações e de opiniões entre as forças de ambos os exércitos nos últimos anos. É um estudioso e admirador das ações de Israel na Guerra de 1973, Guerra do Líbano (2006) e das ações contra o terrorismo nos territórios ocupados.
Portanto, como bem observou Amir Oren (Obama's new security staff may approve attack on Iran Haaretz 01/06/2011) as mudanças na equipe de segurança nacional dos EUA são não apenas um assunto norteamericano. Apesar de o próprio Oren reconhecer ser difícil, Dempsey, no início do seu mandato, convencer Obama a atacar o Irã, ou mesmo permitir Israel fazê-lo, não se pode negligenciar seus estreitos laços com o pessoal da forças de Defesa israelenses e a confiança do Congresso norte-americano nos planos de Netanyahu.
Para Israel e os EUA, recorrer à ONU e não acreditar em Netanyahu e Obama passou a ser denominado de unilateralismo e ameaça à Paz! No momento em que cresce o apoio da comunidade internacional para o reconhecimento diplomático de um Estado Palestino na Assembléia Geral da ONU, em setembro, aumentam também as possibilidades de um ato tresloucado da direita israelense com o apoio do democrata Obama.
Fonte: Carta Maior
O presidente Barack Obama, antecipando as movimentações para o período eleitoral de 2012, iniciou uma mudança radical em sua equipe de segurança nacional que pode ter graves repercussões no Oriente Médio. Para Israel e os EUA, recorrer à ONU e não acreditar em Netanyahu e Obama passou a ser denominado de unilateralismo e ameaça à Paz! No momento em que cresce o apoio da comunidade internacional para o reconhecimento diplomático de um Estado Palestino na Assembléia Geral da ONU, em setembro, aumentam também as possibilidades de um ato tresloucado da direita israelense com o apoio do democrata Obama.
No dia 23 de maio o presidente Barack Obama proferiu um discurso sobre a política externa dos EUA para o Oriente Médio no Departamento de Estado, declarando seu apoio à primavera árabe e reiterando sua crença a solução de dois Estados é a melhor maneira de resolver o conflito israel-palestino. No dia seguinte, foi a vez do primeiro ministro israelense, Netanyahu, dar seu recado. Em seu discurso no congresso rejeitou várias afirmações de Obama, sendo efusivamente aplaudido pelos congressistas (29 aclamações). Atribuiu a responsabilidade do conflito aos palestinos devido à não aceitação da existência do Estado de Israel: “eles simplesmente não querem acabar com o conflito. Eles continuam educando suas crianças para o ódio. Eles continuam com a fantasia de que Israel será um dia inundada pelos palestinos refugiados”. Assim, a proposta do governo israelense foi clara: só poderá existir um estado Palestino desmilitarizado e dentro de fronteiras diferentes daquelas acordadas em 1967 na Resolução 242 da ONU. Consequentemente, não aceitar essa proposta, é, para Netanyahu, sinal de que os palestinos não desejam a paz.
Equanto isso em Jerusalém, o ex-chefe da Mossad, Meir Dagan, que dirigiu a organização entre 2002-2010, criticou, publicamente, o governo israelense por “falta de discernimento e flexibilidade”, chamando-o de "imprudente e irresponsável" no tratamento da política de segurança de Israel. Dagan considera uma ameaça maior o isolamento de Israel por um grande segmento da comunidade internacional como provável resultado do esforço da Palestina em obter o reconhecimento de seu Estado. Ele alerta que diante da pressão internacional, Israel poderá trazer à tona o velho argumento de responder aos pequenos incidentes forçando uma solução militar.
Dagan não é nenhum pacifista utópico. Quando foi escolhido para ser chefe da Mossad, Sharon disse que ele queria uma Mossad com "uma faca entre os dentes." Nos últimos meses, o chefe militar, Gabi Ashkenazi, e o diretor da agência de segurança Shin Bet, Yuval Diskin, também renunciaram. Portanto, além de indicar a existência de fissuras dentro do establishment de segurança nacional de Israel, a saída desse triunvirato, de acordo com o próprio Dagan, demonstra que Netanyahu está removendo aqueles que até então resistiam à sua estratégia de atacar o Irã.
Dagan não acredita em uma paz com a Síria, se opõe fortemente à criação de um Estado Palestino nas fronteiras de 1967 ou a qualquer compromisso sobre os refugiados, mas acha que Israel, por seu próprio bem, deve tomar a iniciativa no processo de paz. Principalmente nesse momento em que ocorrem mudanças regionais, ele está preocupado, em primeiro lugar pelo que está acontecendo no Egito.
Ao mesmo tempo, o presidente Obama, antecipando as movimentações para o período eleitoral de 2012, iniciou uma mudança radical em sua equipe de segurança nacional que pode ter graves repercussões no Oriente Médio. O presidente nomeou o diretor da CIA, Leon Panetta, para assumir o posto de secretário de Defesa, escolheu o comandante da guerra do Afeganistão, general David Petraeus, para substituir Panetta na agência de inteligência e indicou o General Martin Dempsey para chefe do Estado-Maior das forças armadas dos EUA. A nomeação desse último foi feita no 'Memorial Day', o feriado anual que recorda os americanos mortos em combate, e ocorre em um momento crítico de reorganização do aparato de defesa e segurança dos Estados Unidos.
Nas últimas duas décadas, Dempsey passou a maior parte do seu tempo dedicado ao Oriente Médio: oficial de operações com o corpo de blindados na Guerra do Golfo(1991); chefe da delegação americana que treinou a guarda nacional saudita; comandante de uma divisão de blindados no Iraque em 2003; oficial responsável pela formação do novo exército iraquiano, e finalmente chefiando o Comando Central, que abrange o Irã, Egito, Síria e a Jordânia. Além disso, Dempsey é bastante familiarizado com as Forças de Defesa de Israel por meio de intercâmbio de informações e de opiniões entre as forças de ambos os exércitos nos últimos anos. É um estudioso e admirador das ações de Israel na Guerra de 1973, Guerra do Líbano (2006) e das ações contra o terrorismo nos territórios ocupados.
Portanto, como bem observou Amir Oren (Obama's new security staff may approve attack on Iran Haaretz 01/06/2011) as mudanças na equipe de segurança nacional dos EUA são não apenas um assunto norteamericano. Apesar de o próprio Oren reconhecer ser difícil, Dempsey, no início do seu mandato, convencer Obama a atacar o Irã, ou mesmo permitir Israel fazê-lo, não se pode negligenciar seus estreitos laços com o pessoal da forças de Defesa israelenses e a confiança do Congresso norte-americano nos planos de Netanyahu.
Para Israel e os EUA, recorrer à ONU e não acreditar em Netanyahu e Obama passou a ser denominado de unilateralismo e ameaça à Paz! No momento em que cresce o apoio da comunidade internacional para o reconhecimento diplomático de um Estado Palestino na Assembléia Geral da ONU, em setembro, aumentam também as possibilidades de um ato tresloucado da direita israelense com o apoio do democrata Obama.
Fonte: Carta Maior
terça-feira, 14 de junho de 2011
Rio Xingu - por Juliana Borges
Antes de cometar qualquer asneira anônima, leia :
A seguir, as alternativas colocadas por Célio Bermann à construção de Belo Monte e que são silenciados por Thiago ramos:
Argumento 1: repotenciação das hidrelétricas com mais de 20 anos, que poderia aumentar a capacidade de geração do País em 12%
Argumento 2: diminuição do índice de perdas em geração, transmissão e distribuição de 15% para 6% - 33 milhões de MW de sobra
Argumento 3: complementação da motorização de usinas. Muitas têm menos turbinas em funcionamento do que o previsto
Que conhecer melhor a questão? http://www.prpa.mpf.gov.br/noticias/A_questao_energetica_do_pais_e_Belo_Monte.pdf
Ainda não foi o suficiênte?
Energia eólica recebe R$ 25 bilhões em investimentos e vai produzir mais que Belo Monte (procurar na rede)
É me parece que se houver sacrifício , ele certamente será em vão...
Fonte: http://peledaterra.blogspot.com/
Anarquistas: um século de movimento libertário na Espanha - por ANA
Anarquistas: um século de movimento libertário na EspanhaFinalmente um livro sobre anarquismo na Espanha que estávamos esperando. Finalmente um livro que corrija os erros e lugares comuns, desde onde a historiografia burguesa seguia denegrindo-o. Finalmente um livro que não acaba em 1939, mas que sabe rastrear até nossos dias a vitalidade e a energia do movimento libertário. Finalmente um livro escrito a partir de baixo, como deve ser, e com a determinação de resgatar experiências que, a partir de baixo, têm dado forma poliédrica ao anarquismo na Espanha.
Estamos, sem dúvida, diante do grande acontecimento literário de 2010 e tenho certeza que ele permanecerá por um longo tempo, para se tornar um clássico, porque Dolors Martin escreveu o melhor livro sobre anarquismo hispânico nos últimos vinte anos, e um dos melhores livros sobre o assunto de todos os tempos.
Sem uma ordem cronológica, tendo mais experiências associativas, políticas e culturais que conseguiu implementar o movimento libertário na Espanha, Martin faz uma reflexão sobre a constituição da CNT e o significado de suas conferências e acordos ali tomados. Nos fala sobre a guerra, coletivizações, mas também de outros ensaios de antes e depois: como as comunas, cooperativas de produção, os ateneus. Nos fala de associações ácratas, do internacionalismo proletário, da cultura anarquista: suas linguagens, seus romances, suas revistas, jornais, ensaios, teatro, canções, pedagogia e uma filosofia de vida construída e vivida em torno do naturismo, vegetarianismo, pacifismo, nudismo, e ambientalismo, em que os anarquistas espanhóis foram precursores em sua tentativa de vivê-la como uma revolução do agora, fazendo do anarquismo o que é, não é apenas uma opção política, mas uma forma de viver.
E também, como dissemos, nos fala do presente, da CNT de anteontem, da contracultura, das Jornadas Libertárias de Barcelona, as disfunções entre os anarquistas mais velhos, conservadores das essências, e os jovens que se aproximam do movimento de outros parâmetros culturais; e também da CNT a partir de agora, da sua reconstrução, suas divisões, o seu futuro quando tudo oscilava e cada vez mais olhos se voltam para poder olhar a Anarquia.
Dolors Martin conseguiu combinar todo o anterior para moldar um incomum livro de história, da nossa história, limpo de lendas negras, colocando fenômenos como "A mão negra", a "Semana Trágica" ou "o gangsterismo" no seu verdadeiro contexto e dimensão da repressão e da criminalidade do Estado. Salientando o papel sempre obscurecido das companheiras através das Mulheres Livres e vários grupos de afinidade, onde desempenharam um papel fundamental, também travando a sua própria luta contra os excessos machistas de seus companheiros de organização. Sublinhando que significou, na década de setenta, a reconstrução do imaginário anarquista no espaço público, a melodia doce com os hippies: concertos, festivais, fanzines, revistas, a transgressão no vestir, os papéis sexuais e, finalmente, o despertar de uma liberdade que durou o breve tempo que permitiu a quebra do Estado totalitário e sua reorganização partidária. Insistindo em tudo de bom e aproveitável posto em prática cada vez que as pessoas decidiam viver em Anarquia.
Nossos mais sinceros parabéns à autora desta jóia editorial convidada a se juntar à mais seleta biblioteca anarquista, e na esperança de que a semente libertária que se aninha a ela não pare por aí e volte a florescer em uma nova oportunidade.
Antonio Orihuela
Anarquistas: un siglo de movimiento libertario en España
Dolors Marin
Editorial Ariel. 2010
agência de notícias anarquistas-ana
Amanhece em silêncio
O som em meus ouvidos
Da brisa que me tocou
Shibumi
Estamos, sem dúvida, diante do grande acontecimento literário de 2010 e tenho certeza que ele permanecerá por um longo tempo, para se tornar um clássico, porque Dolors Martin escreveu o melhor livro sobre anarquismo hispânico nos últimos vinte anos, e um dos melhores livros sobre o assunto de todos os tempos.
Sem uma ordem cronológica, tendo mais experiências associativas, políticas e culturais que conseguiu implementar o movimento libertário na Espanha, Martin faz uma reflexão sobre a constituição da CNT e o significado de suas conferências e acordos ali tomados. Nos fala sobre a guerra, coletivizações, mas também de outros ensaios de antes e depois: como as comunas, cooperativas de produção, os ateneus. Nos fala de associações ácratas, do internacionalismo proletário, da cultura anarquista: suas linguagens, seus romances, suas revistas, jornais, ensaios, teatro, canções, pedagogia e uma filosofia de vida construída e vivida em torno do naturismo, vegetarianismo, pacifismo, nudismo, e ambientalismo, em que os anarquistas espanhóis foram precursores em sua tentativa de vivê-la como uma revolução do agora, fazendo do anarquismo o que é, não é apenas uma opção política, mas uma forma de viver.
E também, como dissemos, nos fala do presente, da CNT de anteontem, da contracultura, das Jornadas Libertárias de Barcelona, as disfunções entre os anarquistas mais velhos, conservadores das essências, e os jovens que se aproximam do movimento de outros parâmetros culturais; e também da CNT a partir de agora, da sua reconstrução, suas divisões, o seu futuro quando tudo oscilava e cada vez mais olhos se voltam para poder olhar a Anarquia.
Dolors Martin conseguiu combinar todo o anterior para moldar um incomum livro de história, da nossa história, limpo de lendas negras, colocando fenômenos como "A mão negra", a "Semana Trágica" ou "o gangsterismo" no seu verdadeiro contexto e dimensão da repressão e da criminalidade do Estado. Salientando o papel sempre obscurecido das companheiras através das Mulheres Livres e vários grupos de afinidade, onde desempenharam um papel fundamental, também travando a sua própria luta contra os excessos machistas de seus companheiros de organização. Sublinhando que significou, na década de setenta, a reconstrução do imaginário anarquista no espaço público, a melodia doce com os hippies: concertos, festivais, fanzines, revistas, a transgressão no vestir, os papéis sexuais e, finalmente, o despertar de uma liberdade que durou o breve tempo que permitiu a quebra do Estado totalitário e sua reorganização partidária. Insistindo em tudo de bom e aproveitável posto em prática cada vez que as pessoas decidiam viver em Anarquia.
Nossos mais sinceros parabéns à autora desta jóia editorial convidada a se juntar à mais seleta biblioteca anarquista, e na esperança de que a semente libertária que se aninha a ela não pare por aí e volte a florescer em uma nova oportunidade.
Antonio Orihuela
Anarquistas: un siglo de movimiento libertario en España
Dolors Marin
Editorial Ariel. 2010
agência de notícias anarquistas-ana
Amanhece em silêncio
O som em meus ouvidos
Da brisa que me tocou
Shibumi
Temores de nova guerra civil - por Simba Russeau
Temores de nova guerra civil
Aumento da violência onde será a fronteira entre Sudão do Norte e Sudão do Sul avivou os temores de novos enfrentamentos armados. Problema se deve mais a interesses pela água e terras do que pelas reservas de petróleo.
A escalada de violência onde será a fronteira entre Sudão do Norte e Sudão do Sul avivou os temores de novos enfrentamentos armados, mas observadores afirmam que o problema se deve mais a interesses pela água e pelas terras do que pelas reservas de petróleo. “A população afirma que a terra é mais importante para os principais grupos tribais do que o petróleo”, disse à IPS o professor de Ciências Políticas da Universidade Americana do Cairo, Ibrahim el Nur.
“Abyei é como a Cachemira em termos de composição populacional. As pessoas têm vínculos históricos tanto com o Sul quanto com o Norte, competem por fontes de água, como Kiir ou Bahr el Arab, reclamam terras de pastagem e as fronteiras são ambíguas”, explicou Nur. A região, localizada em um grande vale conhecido como Bacia de Muglad, tem 10.460 quilômetros quadrados disputados entre o Norte e o Sul.
O Acordo Geral de Paz (CPA) pôs fim, em 2005, à guerra civil mais longa da África. Também concedeu a Abyei um status especial e pediu uma Unidade Conjunta Integrada, composta por soldados do Norte e do Sul. Nove meses antes do CPA, foi assinado o Protocolo de Abyei, que habilitava os moradores a votarem em um referendo no dia 9 de janeiro, mas a consulta foi adiada indefinidamente após uma disputa entre as tribos misseriya e ng’ik sobre os que poderiam ser eleitos para decidir o futuro da região.
O maior oleoduto do Nilo foi um ponto de confronto entre os dois lados até que o Tribunal Permanente de Arbitragem, com sede em Haia (Holanda), concedeu, em 2009, ao Norte o direito de mantê-lo. O oleoduto atravessa Abyei, levando mais de um quarto do petróleo exportado por esse país, indo da central cidade de Heglig até Porto Sudão, ao Norte, no Mar Vermelho. “Quando foi descoberto petróleo na Bacia de Muglad, Cartum também se opôs à realização de um referendo em Abyei e mandou para a prisão todos que fizessem campanha”, disse à IPS o especialista Douglas Johnson.
“Os miserriya temiam que, se os ng’ok votassem pela união ao Sul, as restrições da polícia dessa região, já existentes em Bahr el Ghazal e na parte alta do Nilo, também fossem aplicadas às áreas de pastagem”, disse Johnson, autor de The Root Causes of Sudan’s Civil Wars (As Raízes das Guerras Civis do Sudão). “A expansão da agricultura mecanizada na província de Kordofan do Sul” eliminou áreas de pastagem. O restante sofre pressão do crescimento do gado dos misseriya e ng’ok”, acrescentou.
O Rio Nilo, o mais longo do mundo, com 6.700 quilômetros, atravessa dez países no Nordeste da África e é uma fonte vital de água para Egito e Sudão. A distribuição da Iniciativa da Bacia do Nilo, um acordo de cooperação para desenvolver o rio entre os dez países, está baseado em contratos coloniais assinados na década de 1930. O pacto, assinado em 1959, entre Sudão e Egito para que o primeiro utilizasse 23 bilhões de metros cúbicos de água ao ano e o segundo 55,5 bilhões corre perigo com a secessão do Sudão do Sul.
“Para o Egito, o Nilo é uma questão de vida ou morte. Toda medida tomada por um país que possa afetar seu curso alto pode ser motivo de guerra para esta nação. Por isso, a derrubada do regime de Hosni Mubarak preferiu a agitação no Sudão a um governo forte capaz de usar o recurso compartilhado”, acrescentou Nur.
“Outra fonte de tensão na região é o fenômeno da apropriação da terra”, disse Hammou Laamrani, especialista em gestão de água do Centro Internacional de Pesquisa e Desenvolvimento, com sede no Cairo. “Empresários árabes e chineses investem dinheiro na agricultura do Sudão, o que dificulta as negociações porque não é o Estado que desenvolve o setor, são outros que produzem com recursos locais e mandam a colheita para seus países”, afirmou Laamrani à IPS. “Na fase de transição do Sudão, tudo parece ser motivo de conflito, não apenas a água, mas também petróleo, terra, movimento de população e gado”, acrescentou.
No Sudão, maior país da África, o clima varia de árido no Norte e Noroeste a um tipo tropical no Sudoeste. No ocidente semiárido a água potável é escassa. A chuva, um recurso fundamental nesse país, diminui de Sul para Norte variando de uma média de 120 centímetros ao ano, no Sul, a menos de 10 centímetros no Norte. Pelo padrão de chuvas do Sudão, os misseriya, nômades do Norte, dependem dos cursos de água e das pradarias dos sedentários ng’ok, que têm vínculos históricos com o Sul, para manter seu gado durante a estação seca.
“Os misseriya e os ng’ok desenvolveram diferentes espécies, os primeiros precisavam de animais que pudessem sobreviver no solo quente e arenoso ao Norte do cinturão de dunas que os separam dos ng’ok, e os destes últimos necessitavam estar adaptados a condições úmidas e pantanosas”, segundo Johnson. “O fim da primeira guerra civil e a criação da região do Sul coincidiu com uma grave redução das chuvas no centro do país, e os cursos de água do Sul e as pradarias ficaram mais importantes para os misseryia do que antes de 1969”, acrescentou.
“Observando a situação na província sudanesa de Darfur se vê que essas condições não estão excluídas, o conflito também se converteu em uma questão de água e terra”, acrescentou Laamrani. A crise sudanesa levou a União Africana a realizar uma cúpula de dois dias, a partir do dia 12, em Adis Abeba, para discutir questões fundamentais com vistas à independência do Sudão do Sul, que incluíram a retirada de soldados, envio de uma patrulha de segurança encabeçada pela UA e um acordo sobre o status regional de Abyei.
Por Envolverde/IPS.
Fonte:http://www.revistaforum.com.br
Aumento da violência onde será a fronteira entre Sudão do Norte e Sudão do Sul avivou os temores de novos enfrentamentos armados. Problema se deve mais a interesses pela água e terras do que pelas reservas de petróleo.
A escalada de violência onde será a fronteira entre Sudão do Norte e Sudão do Sul avivou os temores de novos enfrentamentos armados, mas observadores afirmam que o problema se deve mais a interesses pela água e pelas terras do que pelas reservas de petróleo. “A população afirma que a terra é mais importante para os principais grupos tribais do que o petróleo”, disse à IPS o professor de Ciências Políticas da Universidade Americana do Cairo, Ibrahim el Nur.
“Abyei é como a Cachemira em termos de composição populacional. As pessoas têm vínculos históricos tanto com o Sul quanto com o Norte, competem por fontes de água, como Kiir ou Bahr el Arab, reclamam terras de pastagem e as fronteiras são ambíguas”, explicou Nur. A região, localizada em um grande vale conhecido como Bacia de Muglad, tem 10.460 quilômetros quadrados disputados entre o Norte e o Sul.
O Acordo Geral de Paz (CPA) pôs fim, em 2005, à guerra civil mais longa da África. Também concedeu a Abyei um status especial e pediu uma Unidade Conjunta Integrada, composta por soldados do Norte e do Sul. Nove meses antes do CPA, foi assinado o Protocolo de Abyei, que habilitava os moradores a votarem em um referendo no dia 9 de janeiro, mas a consulta foi adiada indefinidamente após uma disputa entre as tribos misseriya e ng’ik sobre os que poderiam ser eleitos para decidir o futuro da região.
O maior oleoduto do Nilo foi um ponto de confronto entre os dois lados até que o Tribunal Permanente de Arbitragem, com sede em Haia (Holanda), concedeu, em 2009, ao Norte o direito de mantê-lo. O oleoduto atravessa Abyei, levando mais de um quarto do petróleo exportado por esse país, indo da central cidade de Heglig até Porto Sudão, ao Norte, no Mar Vermelho. “Quando foi descoberto petróleo na Bacia de Muglad, Cartum também se opôs à realização de um referendo em Abyei e mandou para a prisão todos que fizessem campanha”, disse à IPS o especialista Douglas Johnson.
“Os miserriya temiam que, se os ng’ok votassem pela união ao Sul, as restrições da polícia dessa região, já existentes em Bahr el Ghazal e na parte alta do Nilo, também fossem aplicadas às áreas de pastagem”, disse Johnson, autor de The Root Causes of Sudan’s Civil Wars (As Raízes das Guerras Civis do Sudão). “A expansão da agricultura mecanizada na província de Kordofan do Sul” eliminou áreas de pastagem. O restante sofre pressão do crescimento do gado dos misseriya e ng’ok”, acrescentou.
O Rio Nilo, o mais longo do mundo, com 6.700 quilômetros, atravessa dez países no Nordeste da África e é uma fonte vital de água para Egito e Sudão. A distribuição da Iniciativa da Bacia do Nilo, um acordo de cooperação para desenvolver o rio entre os dez países, está baseado em contratos coloniais assinados na década de 1930. O pacto, assinado em 1959, entre Sudão e Egito para que o primeiro utilizasse 23 bilhões de metros cúbicos de água ao ano e o segundo 55,5 bilhões corre perigo com a secessão do Sudão do Sul.
“Para o Egito, o Nilo é uma questão de vida ou morte. Toda medida tomada por um país que possa afetar seu curso alto pode ser motivo de guerra para esta nação. Por isso, a derrubada do regime de Hosni Mubarak preferiu a agitação no Sudão a um governo forte capaz de usar o recurso compartilhado”, acrescentou Nur.
“Outra fonte de tensão na região é o fenômeno da apropriação da terra”, disse Hammou Laamrani, especialista em gestão de água do Centro Internacional de Pesquisa e Desenvolvimento, com sede no Cairo. “Empresários árabes e chineses investem dinheiro na agricultura do Sudão, o que dificulta as negociações porque não é o Estado que desenvolve o setor, são outros que produzem com recursos locais e mandam a colheita para seus países”, afirmou Laamrani à IPS. “Na fase de transição do Sudão, tudo parece ser motivo de conflito, não apenas a água, mas também petróleo, terra, movimento de população e gado”, acrescentou.
No Sudão, maior país da África, o clima varia de árido no Norte e Noroeste a um tipo tropical no Sudoeste. No ocidente semiárido a água potável é escassa. A chuva, um recurso fundamental nesse país, diminui de Sul para Norte variando de uma média de 120 centímetros ao ano, no Sul, a menos de 10 centímetros no Norte. Pelo padrão de chuvas do Sudão, os misseriya, nômades do Norte, dependem dos cursos de água e das pradarias dos sedentários ng’ok, que têm vínculos históricos com o Sul, para manter seu gado durante a estação seca.
“Os misseriya e os ng’ok desenvolveram diferentes espécies, os primeiros precisavam de animais que pudessem sobreviver no solo quente e arenoso ao Norte do cinturão de dunas que os separam dos ng’ok, e os destes últimos necessitavam estar adaptados a condições úmidas e pantanosas”, segundo Johnson. “O fim da primeira guerra civil e a criação da região do Sul coincidiu com uma grave redução das chuvas no centro do país, e os cursos de água do Sul e as pradarias ficaram mais importantes para os misseryia do que antes de 1969”, acrescentou.
“Observando a situação na província sudanesa de Darfur se vê que essas condições não estão excluídas, o conflito também se converteu em uma questão de água e terra”, acrescentou Laamrani. A crise sudanesa levou a União Africana a realizar uma cúpula de dois dias, a partir do dia 12, em Adis Abeba, para discutir questões fundamentais com vistas à independência do Sudão do Sul, que incluíram a retirada de soldados, envio de uma patrulha de segurança encabeçada pela UA e um acordo sobre o status regional de Abyei.
Por Envolverde/IPS.
Fonte:http://www.revistaforum.com.br
Estado Assassino: Israel rejeitará novamente a paz? - por Robert Fisk
Israel rejeitará novamente a paz?Robert Fisk revela bastidores da longa negociação que permitiu acordo entre grupos palestinos. E comenta reações de Telavive e Washington
Tradução: Coletivo Vila Vudu
Encontros secretos entre intermediários palestinos, agentes da inteligência do Egito, o ministro turco de Relações Exteriores, o presidente Mahmoud Abbas e Khaled Meshaal, líder do Hamás – uma ida secreta a Damasco, tendo de desviar da cidade de Deraa, em rebelião – levaram à unidade dos palestinos que tanto perturbou os governos de Israel e dos EUA. Em maio, Fatah e Hamás puseram fim a anos de conflitos, com um acordo crucial para alcançar o reconhecimento internacional do estado palestino.
Várias cartas detalhadas, aceitas pelos dois lados, das quais The Independent tem cópias, mostram o quanto foram complexas as negociações. O Hamás também buscou – e obteve – o apoio do presidente sírio Bachar al-Assad, do vice-presidente Farouk al-Sharaa e de seu ministro de Relações Exteriores, Walid Moallem. Entre os resultados, há um acordo feito por Meshaal para pôr fim aos ataques de foguetes do Hamás, de Gaza, contra Israel – porque a resistência passaria a ser direito exclusivo do estado – e um acordo pelo qual o estado palestino reivindica fronteiras baseadas nas fronteiras de Israel em 1967.
“Sem a boa vontade de todos os lados, o auxílio dos egípcios e a aceitação pelos sírios – além do desejo dos palestinos de unir-se, desde o início da Primavera Árabe –, não teríamos conseguido fazer o que fizemos”, disse-me pessoalmente um dos principais intermediários, Munib Masri, 75 anos. Foi Masri quem ajudou a estabelecer um ‘Fórum Palestino’ de independentes, depois de o Hamás ter alcançado extraordinária vitória eleitoral em 2006. “Sempre entendi que as divisões que se criaram seriam uma catástrofe, e passamos quatro anos andando para frente e para trás entre os vários partidos”, disse Masri. “Abu Mazen (Mahmoud Abbas) pediu-me várias vezes que mediasse os contatos. Começamos a nos encontrar na Cisjordânia. Todos participaram. Reunimos muitas capacidades.”
Em três anos, membros do Fórum Palestino viajaram mais de 12 vezes a Damasco, ao Cairo, a Gaza e à Europa e várias iniciativas foram rejeitadas. Masri e seus colegas negociaram diretamente com o primeiro-ministro Hanniyeh do Hamás em Gaza. Adotaram a chamada “iniciativa de troca de prisioneiros” de Marwan Barghouti, alto líder do Fatah, que está preso em Israel; então, com os ventos das revoluções na Tunísia e no Egito, a juventude palestina, dia 15 de março, exigiu que os partidos se unissem e pusessem fim à rivalidade entre Fatah e Hamás. Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel sempre se recusou a negociar com Abbas porque, dizia ele, os palestinos estavam divididos. Dia 16 de março, em discurso, Abbas disse que estava “pensando em ir a Gaza”. Masri, que estava presente, subiu numa cadeira e aplaudiu.
“Supus que o Hamás responderia positivamente” – Masri recorda. “Mas nos primeiros dois ou três dias depois do discurso de Abbas, a resposta foi negativa. O Hamás queria eleições imediatas e nada de diálogo.” Abbas partiu para Paris e Moscou – para mostrar desagrado, aos olhos de alguns de seus associados. Mas o Fórum não desistiu.
“Redigimos um memorando – dissemos que íamos visitar os egípcios, para nos congratular com a revolução deles. Tivemos duas reuniões com o chefe da inteligência egípcia, Khaled Orabi – o pai de Orabi foi general do exército ao tempo do rei Farouk – e nos encontramos com Mohamed Ibrahim, do departamento de inteligência.” O pai de Ibrahim tornou-se muito conhecido na guerra de 1973, quando capturou o oficial israelense de mais alta patente no Sinai. A delegação também se reuniu com assessores de Ibrahim, Nadr Aser e Yassir Azawi.
Sete membros de cada grupo palestino formaram a delegação que foi ao Cairo. Eis os nomes que, no futuro, estarão nos livros de história da Palestina: pela Cisjordânia, o Dr. Hanna Nasser (reitor da Universidade Bir Zeit e da comissão eleitoral central palestina); Dr. Mamdouh Aker (presidente da sociedade de direitos humanos); Mahdi Abdul-Hadi (presidente de uma associação política em Jerusalém); Hanni Masri (analista político); Iyad Masrouji (comerciante de produtos farmacêuticos); Hazem Quasmeh (dirige uma Organização Não Governamental) e o próprio Munib Masri.
O ‘lado’ de Gaza foi representado por Eyad Sarraj (que não pôde viajar ao Cairo por ter adoecido); Maamoun Abu Shahla (membro da diretoria do Banco Palestino); Faysal Shawa (comerciante e proprietário de terras); Mohsen Abu Ramadan (escritor); Rajah Sourani (militante árabe de direitos humanos, que não viajou ao Cairo); ‘Abu Hassan’ (membro da Jihad Islâmica, indicado por Sarraj); e Sharhabil Al-Zaim (advogado em Gaza).
“Esses homens passaram muito tempo discutindo com o alto escalão do serviço de inteligência do mukhabarat egípcio” – Masri lembra. “Nos encontramos com eles dia 10 de abril, mas enviamos um documento antes de viajar. Por isso o contato tornou-se tão importante. Em Gaza havia dois ‘lados’ diferentes. Falamos sobre a microssituação, sobre os gazenses presos em Gaza, sobre direitos humanos, sobre o bloqueio egípcio, sobre dignidade. Shawa dizia “sentimos como se não tivéssemos dignidade – e sentimos que a culpa é nossa”. Nadr Asr, do departamento de inteligência disse: “Vamos mudar tudo isso.”
“Voltamos às 19h, para nos reunirmos outra vez com Khaled Orabi. Eu disse: “Escute, preciso saber, de você: a nova iniciativa agrada a vocês, um pacote que é situação de ganha-ganha para todos? O caso da Palestina continua ‘quente’ no Cairo? Ele respondeu: “É processo meio longo – mas, sim, gostamos da ideia. Vocês conseguem pressionar os dois lados, o Fatah e o Hamás, e trazê-los para o projeto? Mas, sim, trabalharemos com vocês. Procurem o Fatah e o Hamás – e tratem tudo isso como assunto confidencial.” Nós aceitamos. Fomos falar com Amr Moussa (agora, candidato à presidência do Egito pós-revolução) na Liga Árabe. De início, mostrou-se muito cauteloso – mas no dia seguinte, quando nos reunimos com a equipe dele, todos foram muito positivos. Dissemos: ‘Deem uma chance à ideia’. Dissemos que a Liga Árabe foi criada para a Palestina, que a Liga Árabe tem papel importante em Jerusalém.”
A delegação visitou também Nabil al-Arabi, no ministério de Relações Exteriores do Egito. “Al-Arabi disse: ‘Posso chamar o ministro das Relações Exteriores da Turquia, que está no Egito?’ O ministro veio e discutimos juntos a iniciativa. Ali descobri que o ‘novo’ Egito estava muito confiante no sucesso da nossa iniciativa: eles quiseram [itálicos] discutir na presença da Turquia. Assim, discutimos todos juntos e eu voltei com os outros para Amã, às 21h.”
O grupo foi à Cisjordânia, para relatar o que fora feito – “estávamos felizes, nunca antes nos sentíramos como naquele dia” – e informar a Azzam Ahmed (chefe do grupo do Fatah que trabalhava pela reconciliação) que o grupo se preparava para apoiar a iniciativa de Mahmoud Abbas sobre Gaza. “Tivemos sete grandes reuniões na Palestina para reunir ali todos os grupos e os independentes. Abbas já nos dera um aval presidencial. Conversei com Khaled Meshaal (líder do Hamás, que vive em Damasco) por telefone. Meshaal perguntou: ‘Abu Mazzen (Abbas) concorda com tudo isso?’ Respondi que a questão não era essa. Dia seguinte fui a Damasco com Hanna Nasser, Mahdi Abdul Hadi e Hanni Masri. Por causa dos problemas na Síria, tivemos de contornar Deraa. Tenho boa relação com Meshaal. Ele disse que havia lido o nosso documento – e que achava que valia a pena trabalhar sobre a ideia.”
O fato de que os dois lados quisessem saber o que o outro pensava da iniciativa, antes de decidir, era sinal de que persistia a desconfiança entre o Hamás e Abbas. “Meshaal perguntou-me: ‘O que diz Abu Mazzen (Abbas)?’ Eu ri e respondi: ‘Você sempre pergunta isso. Estou aqui para saber o que vocês [itálicos] querem. Nos encontramos com assessores de Meshaal, Abu Marzouk, Izzat Rishiq e Abu Abdu Rahman. Lemos e revisamos o documento do acordo durante seis horas e meia. A única coisa que não arrancamos de Meshaal foi que o governo fosse constituído por acordo. Dissemos a ele que o governo seria governo de união nacional – sob a condição que teríamos de ser capazes de organizar e realizar eleições, levantar o bloqueio de Gaza e reconstruir Gaza, que tínhamos de obedecer à lei internacional, à Carta da ONU e às resoluções da ONU. Meshaal pediu três ou quatro dias. Aceitou que a resistência só aconteceria ‘na defesa do interesse nacional do país’ – e que teria de ser ‘aqlaqi’ – ética. Os ataques de foguetes contra civis tinham de acabar. Em outras palavras: ele tinha de garantir que não haveria mais foguetes de Gaza, contra Israel.”
Meshaal contou a Masri e acompanhantes que estivera com o presidente Bashar Assad da Síria, com seu vice-presidente Sharaa e com o ministro sírio de Relações Exteriores Moallem. “Disse que queria o apoio deles – mas no fim, prevaleceu a palavra do povo palestino. Estávamos muito felizes – dissemos que ‘surgiu uma pequena brecha’. Meshaal disse: ‘Nós não vamos deixar vocês sem apoio’. Dissemos que levaríamos a palavra dele ao Fatah e aos independentes na Cisjordânia, e aos egípcios. Na Cisjordânia, o Fatah chamava a iniciativa de ‘iniciativa do Hamás’ – mas dissemos que não, a iniciativa é de todos. Dois dias depois, Meshaal disse que falara com a inteligência do Egito e que eles estavam gostando do que tínhamos proposto.”
As conversações foram bem sucedidas. Meshaal concordou com enviar dois de seus principais homens ao Cairo. A equipe de Masri esperava que Abbas fizesse o mesmo. Quatro representantes – dois de cada lado – viajaram ao Egito dia 22 de abril. Um ano antes, quando houve um impasse entre os dois lados palestinos, no Egito, o regime de Moubarak tentara criar obstáculos ainda maiores para impedir qualquer reconciliação. Meshaal chegou a reunir-se, sem qualquer resultado, com Omar Sulieman – factótum da inteligência de Mubarak e o melhor amigo de Israel no mundo árabe – em Mecca. Se alguém ainda duvidasse, ali se comprovou que Sulieman realmente trabalhava para os israelenses. Dessa vez, tudo foi mesmo muito diferente.
No dia que Abbas e Meshaal foram ao Cairo, foram os dois governos completos, exceto os dois primeiros-ministros rivais, Fayad e Hanniyeh. O Hamás declarou que, ao longo dos últimos quatro anos, os israelenses haviam roubado ainda mais terras em Jerusalém e construído mais colônias exclusivas para judeus na Cisjordânia ocupada. Meshaal irritou-se, quando supôs que não o deixariam falar do pódio, como os demais presentes – e falou, no evento. E o Hamás aceitou a fórmula sobre as fronteiras de 1967, consciente de que assim reconhecia a existência de Israel; aceitou também a referência à resistência; e também concordou em ceder mais tempo a Abbas, para mais negociações.
No momento em que o Hamás passasse a integrar o governo de união, estaria reconhecendo o estado de Israel. Mas se não integrasse o governo, ninguém reconheceria coisa alguma e não haveria acordo. “Não é justo dizer ao Hamás ‘faça isso ou aquilo’”, diz Masri. “Claro que a resistência é direito recíproco. Mas se o Hamás não se integrasse ao governo de união nacional, passaria a ser apenas um partido político, sem tribuna para dizer o que querem dizer. Os EUA portanto que se preparem para conhecer o Hamás ativo na formação do governo. Esse governo respeitará as resoluções da ONU e a legislação internacional. Essa ação tem de ser mútua. Os dos lados perceberam que, por pouco, teriam perdido o barco da Primavera Árabe. Não foi trabalho meu – foi resultado da conjunção de muitos esforços. Não fosse pela mediação dos egípcios e pela boa vontade dos dois grupos palestinos, nada teria acontecido.” No dia seguinte à assinatura do acordo, partidários do Hamás e de Abbas concordaram em parar de prender militantes de um lado e de outro.
Hoje afinal se conhece a história da unificação dos palestinos. A reação de Netanyahu, primeiro-ministro de Israel à novidade – depois de ter-se negado a negociar com os palestinos porque estavam divididos – foi decidir que não negociaria com Abbas, se o Hamás fosse integrado ao governo palestino. O presidente Obama virtualmente ignorou a iniciativa da unidade palestina.
Mas falar de “fronteiras de 1967” implica que o Hamás reconhece a existência de Israel; e a decisão negociada sobre a resistência implica o fim dos foguetes de Gaza contra Israel. A disposição para subordinar-se à legislação internacional e às resoluções da ONU implica que a paz pode ser completada e que um estado palestino pode ser criado. Essa, pelo menos, é a opinião dos dois lados palestinos. O mundo esperará para saber se Israel outra vez rejeitará a paz.
Fonte: http://www.outraspalavras.net/
Tradução: Coletivo Vila Vudu
Encontros secretos entre intermediários palestinos, agentes da inteligência do Egito, o ministro turco de Relações Exteriores, o presidente Mahmoud Abbas e Khaled Meshaal, líder do Hamás – uma ida secreta a Damasco, tendo de desviar da cidade de Deraa, em rebelião – levaram à unidade dos palestinos que tanto perturbou os governos de Israel e dos EUA. Em maio, Fatah e Hamás puseram fim a anos de conflitos, com um acordo crucial para alcançar o reconhecimento internacional do estado palestino.
Várias cartas detalhadas, aceitas pelos dois lados, das quais The Independent tem cópias, mostram o quanto foram complexas as negociações. O Hamás também buscou – e obteve – o apoio do presidente sírio Bachar al-Assad, do vice-presidente Farouk al-Sharaa e de seu ministro de Relações Exteriores, Walid Moallem. Entre os resultados, há um acordo feito por Meshaal para pôr fim aos ataques de foguetes do Hamás, de Gaza, contra Israel – porque a resistência passaria a ser direito exclusivo do estado – e um acordo pelo qual o estado palestino reivindica fronteiras baseadas nas fronteiras de Israel em 1967.
“Sem a boa vontade de todos os lados, o auxílio dos egípcios e a aceitação pelos sírios – além do desejo dos palestinos de unir-se, desde o início da Primavera Árabe –, não teríamos conseguido fazer o que fizemos”, disse-me pessoalmente um dos principais intermediários, Munib Masri, 75 anos. Foi Masri quem ajudou a estabelecer um ‘Fórum Palestino’ de independentes, depois de o Hamás ter alcançado extraordinária vitória eleitoral em 2006. “Sempre entendi que as divisões que se criaram seriam uma catástrofe, e passamos quatro anos andando para frente e para trás entre os vários partidos”, disse Masri. “Abu Mazen (Mahmoud Abbas) pediu-me várias vezes que mediasse os contatos. Começamos a nos encontrar na Cisjordânia. Todos participaram. Reunimos muitas capacidades.”
Em três anos, membros do Fórum Palestino viajaram mais de 12 vezes a Damasco, ao Cairo, a Gaza e à Europa e várias iniciativas foram rejeitadas. Masri e seus colegas negociaram diretamente com o primeiro-ministro Hanniyeh do Hamás em Gaza. Adotaram a chamada “iniciativa de troca de prisioneiros” de Marwan Barghouti, alto líder do Fatah, que está preso em Israel; então, com os ventos das revoluções na Tunísia e no Egito, a juventude palestina, dia 15 de março, exigiu que os partidos se unissem e pusessem fim à rivalidade entre Fatah e Hamás. Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel sempre se recusou a negociar com Abbas porque, dizia ele, os palestinos estavam divididos. Dia 16 de março, em discurso, Abbas disse que estava “pensando em ir a Gaza”. Masri, que estava presente, subiu numa cadeira e aplaudiu.
“Supus que o Hamás responderia positivamente” – Masri recorda. “Mas nos primeiros dois ou três dias depois do discurso de Abbas, a resposta foi negativa. O Hamás queria eleições imediatas e nada de diálogo.” Abbas partiu para Paris e Moscou – para mostrar desagrado, aos olhos de alguns de seus associados. Mas o Fórum não desistiu.
“Redigimos um memorando – dissemos que íamos visitar os egípcios, para nos congratular com a revolução deles. Tivemos duas reuniões com o chefe da inteligência egípcia, Khaled Orabi – o pai de Orabi foi general do exército ao tempo do rei Farouk – e nos encontramos com Mohamed Ibrahim, do departamento de inteligência.” O pai de Ibrahim tornou-se muito conhecido na guerra de 1973, quando capturou o oficial israelense de mais alta patente no Sinai. A delegação também se reuniu com assessores de Ibrahim, Nadr Aser e Yassir Azawi.
Sete membros de cada grupo palestino formaram a delegação que foi ao Cairo. Eis os nomes que, no futuro, estarão nos livros de história da Palestina: pela Cisjordânia, o Dr. Hanna Nasser (reitor da Universidade Bir Zeit e da comissão eleitoral central palestina); Dr. Mamdouh Aker (presidente da sociedade de direitos humanos); Mahdi Abdul-Hadi (presidente de uma associação política em Jerusalém); Hanni Masri (analista político); Iyad Masrouji (comerciante de produtos farmacêuticos); Hazem Quasmeh (dirige uma Organização Não Governamental) e o próprio Munib Masri.
O ‘lado’ de Gaza foi representado por Eyad Sarraj (que não pôde viajar ao Cairo por ter adoecido); Maamoun Abu Shahla (membro da diretoria do Banco Palestino); Faysal Shawa (comerciante e proprietário de terras); Mohsen Abu Ramadan (escritor); Rajah Sourani (militante árabe de direitos humanos, que não viajou ao Cairo); ‘Abu Hassan’ (membro da Jihad Islâmica, indicado por Sarraj); e Sharhabil Al-Zaim (advogado em Gaza).
“Esses homens passaram muito tempo discutindo com o alto escalão do serviço de inteligência do mukhabarat egípcio” – Masri lembra. “Nos encontramos com eles dia 10 de abril, mas enviamos um documento antes de viajar. Por isso o contato tornou-se tão importante. Em Gaza havia dois ‘lados’ diferentes. Falamos sobre a microssituação, sobre os gazenses presos em Gaza, sobre direitos humanos, sobre o bloqueio egípcio, sobre dignidade. Shawa dizia “sentimos como se não tivéssemos dignidade – e sentimos que a culpa é nossa”. Nadr Asr, do departamento de inteligência disse: “Vamos mudar tudo isso.”
“Voltamos às 19h, para nos reunirmos outra vez com Khaled Orabi. Eu disse: “Escute, preciso saber, de você: a nova iniciativa agrada a vocês, um pacote que é situação de ganha-ganha para todos? O caso da Palestina continua ‘quente’ no Cairo? Ele respondeu: “É processo meio longo – mas, sim, gostamos da ideia. Vocês conseguem pressionar os dois lados, o Fatah e o Hamás, e trazê-los para o projeto? Mas, sim, trabalharemos com vocês. Procurem o Fatah e o Hamás – e tratem tudo isso como assunto confidencial.” Nós aceitamos. Fomos falar com Amr Moussa (agora, candidato à presidência do Egito pós-revolução) na Liga Árabe. De início, mostrou-se muito cauteloso – mas no dia seguinte, quando nos reunimos com a equipe dele, todos foram muito positivos. Dissemos: ‘Deem uma chance à ideia’. Dissemos que a Liga Árabe foi criada para a Palestina, que a Liga Árabe tem papel importante em Jerusalém.”
A delegação visitou também Nabil al-Arabi, no ministério de Relações Exteriores do Egito. “Al-Arabi disse: ‘Posso chamar o ministro das Relações Exteriores da Turquia, que está no Egito?’ O ministro veio e discutimos juntos a iniciativa. Ali descobri que o ‘novo’ Egito estava muito confiante no sucesso da nossa iniciativa: eles quiseram [itálicos] discutir na presença da Turquia. Assim, discutimos todos juntos e eu voltei com os outros para Amã, às 21h.”
O grupo foi à Cisjordânia, para relatar o que fora feito – “estávamos felizes, nunca antes nos sentíramos como naquele dia” – e informar a Azzam Ahmed (chefe do grupo do Fatah que trabalhava pela reconciliação) que o grupo se preparava para apoiar a iniciativa de Mahmoud Abbas sobre Gaza. “Tivemos sete grandes reuniões na Palestina para reunir ali todos os grupos e os independentes. Abbas já nos dera um aval presidencial. Conversei com Khaled Meshaal (líder do Hamás, que vive em Damasco) por telefone. Meshaal perguntou: ‘Abu Mazzen (Abbas) concorda com tudo isso?’ Respondi que a questão não era essa. Dia seguinte fui a Damasco com Hanna Nasser, Mahdi Abdul Hadi e Hanni Masri. Por causa dos problemas na Síria, tivemos de contornar Deraa. Tenho boa relação com Meshaal. Ele disse que havia lido o nosso documento – e que achava que valia a pena trabalhar sobre a ideia.”
O fato de que os dois lados quisessem saber o que o outro pensava da iniciativa, antes de decidir, era sinal de que persistia a desconfiança entre o Hamás e Abbas. “Meshaal perguntou-me: ‘O que diz Abu Mazzen (Abbas)?’ Eu ri e respondi: ‘Você sempre pergunta isso. Estou aqui para saber o que vocês [itálicos] querem. Nos encontramos com assessores de Meshaal, Abu Marzouk, Izzat Rishiq e Abu Abdu Rahman. Lemos e revisamos o documento do acordo durante seis horas e meia. A única coisa que não arrancamos de Meshaal foi que o governo fosse constituído por acordo. Dissemos a ele que o governo seria governo de união nacional – sob a condição que teríamos de ser capazes de organizar e realizar eleições, levantar o bloqueio de Gaza e reconstruir Gaza, que tínhamos de obedecer à lei internacional, à Carta da ONU e às resoluções da ONU. Meshaal pediu três ou quatro dias. Aceitou que a resistência só aconteceria ‘na defesa do interesse nacional do país’ – e que teria de ser ‘aqlaqi’ – ética. Os ataques de foguetes contra civis tinham de acabar. Em outras palavras: ele tinha de garantir que não haveria mais foguetes de Gaza, contra Israel.”
Meshaal contou a Masri e acompanhantes que estivera com o presidente Bashar Assad da Síria, com seu vice-presidente Sharaa e com o ministro sírio de Relações Exteriores Moallem. “Disse que queria o apoio deles – mas no fim, prevaleceu a palavra do povo palestino. Estávamos muito felizes – dissemos que ‘surgiu uma pequena brecha’. Meshaal disse: ‘Nós não vamos deixar vocês sem apoio’. Dissemos que levaríamos a palavra dele ao Fatah e aos independentes na Cisjordânia, e aos egípcios. Na Cisjordânia, o Fatah chamava a iniciativa de ‘iniciativa do Hamás’ – mas dissemos que não, a iniciativa é de todos. Dois dias depois, Meshaal disse que falara com a inteligência do Egito e que eles estavam gostando do que tínhamos proposto.”
As conversações foram bem sucedidas. Meshaal concordou com enviar dois de seus principais homens ao Cairo. A equipe de Masri esperava que Abbas fizesse o mesmo. Quatro representantes – dois de cada lado – viajaram ao Egito dia 22 de abril. Um ano antes, quando houve um impasse entre os dois lados palestinos, no Egito, o regime de Moubarak tentara criar obstáculos ainda maiores para impedir qualquer reconciliação. Meshaal chegou a reunir-se, sem qualquer resultado, com Omar Sulieman – factótum da inteligência de Mubarak e o melhor amigo de Israel no mundo árabe – em Mecca. Se alguém ainda duvidasse, ali se comprovou que Sulieman realmente trabalhava para os israelenses. Dessa vez, tudo foi mesmo muito diferente.
No dia que Abbas e Meshaal foram ao Cairo, foram os dois governos completos, exceto os dois primeiros-ministros rivais, Fayad e Hanniyeh. O Hamás declarou que, ao longo dos últimos quatro anos, os israelenses haviam roubado ainda mais terras em Jerusalém e construído mais colônias exclusivas para judeus na Cisjordânia ocupada. Meshaal irritou-se, quando supôs que não o deixariam falar do pódio, como os demais presentes – e falou, no evento. E o Hamás aceitou a fórmula sobre as fronteiras de 1967, consciente de que assim reconhecia a existência de Israel; aceitou também a referência à resistência; e também concordou em ceder mais tempo a Abbas, para mais negociações.
No momento em que o Hamás passasse a integrar o governo de união, estaria reconhecendo o estado de Israel. Mas se não integrasse o governo, ninguém reconheceria coisa alguma e não haveria acordo. “Não é justo dizer ao Hamás ‘faça isso ou aquilo’”, diz Masri. “Claro que a resistência é direito recíproco. Mas se o Hamás não se integrasse ao governo de união nacional, passaria a ser apenas um partido político, sem tribuna para dizer o que querem dizer. Os EUA portanto que se preparem para conhecer o Hamás ativo na formação do governo. Esse governo respeitará as resoluções da ONU e a legislação internacional. Essa ação tem de ser mútua. Os dos lados perceberam que, por pouco, teriam perdido o barco da Primavera Árabe. Não foi trabalho meu – foi resultado da conjunção de muitos esforços. Não fosse pela mediação dos egípcios e pela boa vontade dos dois grupos palestinos, nada teria acontecido.” No dia seguinte à assinatura do acordo, partidários do Hamás e de Abbas concordaram em parar de prender militantes de um lado e de outro.
Hoje afinal se conhece a história da unificação dos palestinos. A reação de Netanyahu, primeiro-ministro de Israel à novidade – depois de ter-se negado a negociar com os palestinos porque estavam divididos – foi decidir que não negociaria com Abbas, se o Hamás fosse integrado ao governo palestino. O presidente Obama virtualmente ignorou a iniciativa da unidade palestina.
Mas falar de “fronteiras de 1967” implica que o Hamás reconhece a existência de Israel; e a decisão negociada sobre a resistência implica o fim dos foguetes de Gaza contra Israel. A disposição para subordinar-se à legislação internacional e às resoluções da ONU implica que a paz pode ser completada e que um estado palestino pode ser criado. Essa, pelo menos, é a opinião dos dois lados palestinos. O mundo esperará para saber se Israel outra vez rejeitará a paz.
Fonte: http://www.outraspalavras.net/
segunda-feira, 13 de junho de 2011
A heresia comunista de Daniel Bensaid - por Michael Löwy
A heresia comunista de Daniel Bensaid
Escrito quando do falecimento de Daniel Bensaïd, em 2010
“Auguste Blanqui, comunista herético” é o título de um artigo que Daniel Bensaïd e eu redigimos juntos em 2006 (para um livro sobre os socialistas do século XIX na França, organizado por nossos amigos Philipe Corcuff e Alain Maillard) [no Brasil, o artigo foi publicado na revista Margem Esquerda, nº 10]. Esse conceito se aplica perfeitamente a seu próprio pensamento, obstinadamente fiel à causa dos oprimidos, mas alérgico a qualquer ortodoxia.Conferência de Bensaïd em Barcelona em 2008
Daniel havia escrito alguns livros importantes antes de 1989, mas a partir daquele ano, com a publicação de Moi la Révolution : Remembrances d’un bicentenaire indigne [Eu, a revolução: Remembranças de um bicentenário indigno] (Gallimard, 1989) e Walter Benjamin, sentinelle messianique [Walter Benjamin, sentinela messiânico] (Plon, 1990), começa um novo período, que se caracteriza não apenas por uma enorme produtividade – dezenas de obras, dentre as quais várias consagradas a Marx – mas também por uma nova qualidade de escrita, uma fantástica efervescência de ideias, uma surpreendente inventividade. Apesar de sua grande diversidade, esses escritos não deixam de ser tecidos com fios vermelhos comuns: a memória das lutas – e suas derrotas – do passado, o interesse pelas novas formas de anticapitalismo e a preocupação com os novos problemas que se colocam à estratégia revolucionária. Sua reflexão teórica era inseparável de sua militância, quer ele escreva sobre Joana D’arc – Jeanne de guerre lasse [Joana D’arc de guerra cansada] (Gallimard, 1991) – ou sobre a fundação do NPA (Prendre parti [Tomar partido], com Olvier Besancenot, 2009). Seus escritos têm, consequentemente, uma forte carga pessoal emocional, ética e política, que lhes dá uma qualidade humana pouco comum. A multiplicidade de suas referências pode tomar desvios: Marx, Lenin e Trotsky, com certeza, mas também Auguste Blanqui, Charles Péguy, Hannah Arendt, Walter Benjamin, sem esquecer Blaise Pascal, Chateaubriand, Kant, Nietzsche e muitos outros. Apesar de toda essa surpreendente variedade, aparentemente eclética, seu discurso não deixa de ter uma notável coerência.
“Eu leio seus livros sem parar como remédios contra a burrice e o egoísmo”, escreveu recentemente seu amigo, o poeta Serge Pey. Se os livros de Daniel são lidos com tanto prazer, é porque eles foram escritos com a pena afiada de um verdadeiro escritor, que tem o dom da fórmula: uma fórmula que pode ser assassina, irônica, nervosa ou poética, mas que vai sempre direto ao ponto. Esse estilo literário, próprio ao autor e inimitável, não é gratuito, mas vem a serviço de uma ideia, de uma mensagem, de um apelo: não se dobrar, não se resignar, não se reconciliar com os vencedores.
Esta ideia se chama comunismo. Ela não poderia ser identificada com os crimes burocráticos cometidos em seu nome, assim como o cristianismo não pode ser reduzido à Inquisição e às dragonnades [espécie de polícia religiosa criada durante o reinado de Luis XIV para perseguir protestantes e reconvertê-los ao catolicismo]. O comunismo, em última análise, é apenas a esperança de suprimir a ordem existente, o nome secreto da resistência e da sublevação, a expressão da grande cólera negra e vermelha dos oprimidos. É o sorriso dos explorados que esperam ao longe os tiros de fuzil dos insurgentes em junho de 1848 – episódio contado com inquietude por Alexis de Tocqueville e reinterpretado por Toni Negri. Seu espírito sobreviverá ao triunfo atual da mundialização capitalista, tal como o espírito do judaísmo durante a destruição do Templo e a expulsão da Espanha (gosto dessa comparação insólita e um pouco provocadora).
O comunismo não é o resultado do “Progresso” ou das leis da História (com P e H maiúsculos): trata-se de uma eterna luta, incerta e anunciada. A política, que é a arte estratégica do conflito, da conjuntura e do contratempo, implica numa responsabilidade humanamente falível, e deve ser confrontada com as incertezas de uma história aberta.
O comunismo do século XXI era, para Daniel, o herdeiro das lutas do passado, da Comuna de Paris, da Revolução de Outubro, das ideias de Marx e Lênin, e dos grandes vencidos que foram Trotsky, Rosa Luxemburgo, Che Guevara. Mas também algo de novo, a altura das questões do presente: um eco-comunismo (termo que ele inventou), integrando centralmente o combate ecológico contra o capital.
Para Daniel, o espírito do comunismo não podia ser reduzido às suas falsificações burocráticas. Se ele era, com suas últimas energias, contra a tentativa da Contra-Reforma liberal de dissolver o comunismo no stalinismo, ele não reconhecia tampouco que pode-se fazer a economia de um balanço crítico dos erros que desarmaram os revolucionários de Outubro em face das provas da história, favorecendo a contrarrevolução termidoriana: confusão entre povo, partido e Estado, cega em relação ao perigo burocrático. É preciso retirar disto certas lições históricas já esboçadas por Rosa Luxemburgo em 1918: a importância da democracia socialista, do pluralismo político, da separação dos poderes, da autonomia dos movimentos sociais sem relação ao Estado.
A fidelidade ao espectro do comunismo não impede que Daniel advogue em favor de uma renovação profunda do pensamento marxista, especialmente sobre dois terrenos onde a tradição falha em particular: o feminismo e a ecologia. As feministas – como Christine Delphy – por criticar a abordagem de Engels, que definia a opressão doméstica como um arcaísmo pré-capitalista que em breve se apagaria com a assalariação das mulheres. No movimento operário, ele forneceu muitas vezes um sexismo grosseiro, principalmente ao retomar a seu favor a noção burguesa de salário mínimo. A necessária aliança entre a consciência de gênero e a consciência de classe não pode ser feita sem um retorno crítico dos marxistas sobre sua teoria e sua prática.
O mesmo vale para a questão do meio ambiente: habitualmente ligado ao compromisso fordista e à lógica produtiva do capitalismo, o movimento operário era indiferente ou hostil para com a ecologia. Por seu lado, os partidos Verdes têm a tendência de se contentar com uma ecologia de mercado e com um reformismo social-liberal. Ora, o antiprodutivismo de nosso tempo deve necessariamente ser um anticapitalismo: o paradigma ecológico é inseparável do paradigma social. Diante dos danos catastróficos provocados no meio ambiente pela lógica do valor de mercado, é preciso propor a necessidade de uma mudança radical do modelo de consumo, de civilização e de vida.
*
A filosofia de Daniel Bensaïd não era um exercício acadêmico, mas estava atravessada, de um lado a outro, pelo fogo da indignação, um fogo que, segundo ele, não pode ser apagado nos mornos da resignação consensual. Daí o seu desprezo pelo “homo resignatus”, político ou intelectual que é reconhecido à distância por sua impassibilidade batraquiana perante a ordem impiedosa das coisas. Para além da modernidade e da pós-modernidade, nos resta, dizia Daniel, a força irredutível da indignação, a incondicional recusa da injustiça, que são o contrário exato do costume e da resignação. “A indignação é um começo. Uma maneira de se erguer e de se colocar em movimento. Primeiro a gente se indigna, se insurge e depois vê”.
Seu hino poético-filosófico à glória da resistência – esta “paixão messiânica de um mundo justo que não aceita sacrificar o “cintilar do possível diante da terna fatalidade do real” – se inspira ao mesmo tempo na paciência do marrano e na impaciência messiânica de Franz Rosenzweig e Walter Benjamin. É também inspirado na profecia do Antigo Testamento, que não se propõe predizer, como a adivinhação antiga o futuro, mas, ao contrário, soar o alerta da catástrofe possível. O profeta bíblico, como já o havia sugerido Max Weber em seu trabalho sobre o judaísmo antigo, não procede com ritos mágicos, mas convida a agir. Contrariamente ao esperar e ver apocalíptico e aos oráculos de um destino inexorável, a profecia é uma antecipação condicional, significada pelo oulai (“se”) hebraico. Ela busca desviar a trajetória catastrófica, conjurar o pior, manter aberto o feixe dos possíveis, logo ela é um apelo estratégico à ação. Segundo Daniel, há profecia em toda grande aventura humana, amorosa, estética ou revolucionária.
*
Entre todas as “heresias” de Daniel Bensaïd, quer dizer, suas contribuições para a renovação do marxismo, a mais importante, a meus olhos, é a sua ruptura radical com o cientificismo, o positivismo e o determinismo que se impregnaram tão profundamente no marxismo “ortodoxo”, principalmente na França.
Um de seus últimos escritos foi uma longa introdução aos escritos de Marx sobre a Comuna – uma brilhante e enérgica defesa e ilustração do político enquanto pensamento estratégico revolucionário. A doutrina oficial pretende que não há pensamento político em Marx, já que a sua teoria se resume ao determinismo econômico. Ora, a leitura de seus escritos políticos, principalmente a sequência Lutas de classe na França, O 18 de brumário de Luís Bonaparte e A guerra civil na França (os dois últimos publicado no Brasil pela Boitempo em 2011) mostra, muito pelo contrário, uma leitura estratégica dos acontecimentos, levando em consideração a temporalidade própria do político, os antípodas do tempo mecânico do relógio e do calendário. O tempo não-linear e sincopado das revoluções no qual se cavalgam as tarefas do passado, do presente e do futuro é sempre aberto à contingência. A interpretação de Marx por DB é, certamente, influenciada por Walter Benjamin e pelas polêmicas antipositivistas de Blanqui, dois pensadores revolucionários aos quais ele rende uma homenagem apoiada.
Auguste Blanqui é uma referência importante nesta abordagem crítica. No artigo de 2006, mencionado mais acima, ele lembra a polêmica de Blanqui contra o positivismo, esse pensamento de progresso em boa ordem, de progresso sem revolução, esta “doutrina execrável do fatalismo histórico” erigida na religião. Contra a ditadura do fato consumado, acrescentava Bensaïd, Blanqui proclamava que o capítulo das bifurcações ficava aberto à esperança. Contra “a mania do progresso e do desenvolvimento contínuo”, a irrupção eventual do possível no real se chamava revolução. A política que prevalece sobre a história. E propunha as condições de uma temporalidade estratégica e não mais mecânica, “homogênea e vazia”. Logo, para Blanqui, “a engrenagem das coisas humanas não é fatal como a do universo, ela é modificável em cada minuto”. Daniel Bensaïd comparava esta fórmula com ade Walter Benjamin: cada segundo é a porta estreita por onde pode surgir o Messias, quer dizer, a revolução, esta irrupção eventual do possível no real.
Sua releitura de Marx, à luz de Blanqui, de Walter Benjamine de Charles Péguy, o conduz a conceber a história como uma série de ramificações e bifurcações, um campo de possíveis onde a luta de classes ocupa um lugar decisivo, mas cujo resultado é “imprevisível”. Em Le pari mélancolique [A aposta melancólica] (Fayard, 1997), talvez seu mais belo livro, o mais “inspirado”, ele retoma uma fórmula de Pascal para afirmar que a ação emancipadora é “um trabalho para o incerto”, implicando numa aposta no futuro: uma esperança que não é demonstrável cientificamente, mas sobre a qual envolve-se a existência por inteiro. Redescobrindo a interpretação marxista de Pascal de Lucien Goldmann, ele define o envolvimento político como uma aposta pensada sobre o devir histórico, “com o risco de perder tudo ou de se perder”. A aposta é inelutável, num sentido ou no outro: como escrevia Pascal, “embarcamos”. Na religião do deus oculto (Pascal) como na política revolucionária (Marx), a obrigação da aposta define a condição trágica do homem moderno.
A revolução deixa, portanto, de ser o produto necessário das leis da história, ou das contradições econômicas do capital para se transformar numa hipótese estratégica, um horizonte ético, “sem o qual a vontade renuncia, o espírito da resistência capitula, a fidelidade falha, a tradição se perde”. A ideia de revolução se opõe à sequência mecânica de uma temporalidade implacável. Refratária à conduta causal dos fatos ordinários, ela é interrupção. Momento mágico, a revolução leva ao enigma da emancipação em ruptura com o tempo linear do progresso, esta ideologia da caixa de poupança tão violentamente denunciada por Péguy, onde a cada minuto, a cada hora que passa supõe-se trazer algum crescimento à sua pequena poupança através de aumentos nos juros.
Em consequência, como ele explica em Fragments mécréants [Fragmentos canalhas] (Lignes, 2005), o homem revolucionário é o da dúvida em oposição ao homem de fé, um indivíduo que aposta nas incertezas do século, e que põe uma energia absoluta a serviço de certezas relativas. Logo, alguém que tenta, incansavelmente, praticar esse imperativo exigido por Walter Benjamin em seu último escrito, as Teses Sobre o conceito de história (1940): escovar a história a contrapelo.
*
Daniel fará falta. Já o faz, cruelmente. Mas pensamos que ele gostaria que nos lembrássemos da famosa mensagem de Joe Hill, o I.W.W., o poeta e músico do sindicalismo revolucionário norte-americano, a seus camaradas, às vésperas de ser fuzilado pelas autoridades (sob falsas acusações) em 1915: “Don’t mourn, organize!”. Não lamentem, organizem (a luta)!
***
Daniel Bensaïd (1946-2010), filósofo e dirigente da Liga Comunista Revolucionária, foi um dos militantes mais destacados dos movimentos de Maio de 1968. Foi professor de Filosofia da Universidade de Paris VIII. Autor de muitas obras, tem, entre as publicadas em português, Os irredutíveis (Boitempo, 2008), Marx, o intempestivo (1999) e, em co-autoria com Michael Löwy, Marxismo, modernidade e utopia (2000).
*Michael Löwy se formou em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo e vive em Paris desde 1969. Diretor emérito de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), é autor de Walter Benjamin: aviso de incêndio (Boitempo, 2005) e Lucien Goldmann ou a dialética da totalidade (Boitempo, 2009) e organizador de Revoluções (2009), dentre outras publicações. Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente, às sextas-feiras.
Traduzido do francês por Leonardo Gonçalves.
Fonte: Opera Mundi
Escrito quando do falecimento de Daniel Bensaïd, em 2010
“Auguste Blanqui, comunista herético” é o título de um artigo que Daniel Bensaïd e eu redigimos juntos em 2006 (para um livro sobre os socialistas do século XIX na França, organizado por nossos amigos Philipe Corcuff e Alain Maillard) [no Brasil, o artigo foi publicado na revista Margem Esquerda, nº 10]. Esse conceito se aplica perfeitamente a seu próprio pensamento, obstinadamente fiel à causa dos oprimidos, mas alérgico a qualquer ortodoxia.Conferência de Bensaïd em Barcelona em 2008
Daniel havia escrito alguns livros importantes antes de 1989, mas a partir daquele ano, com a publicação de Moi la Révolution : Remembrances d’un bicentenaire indigne [Eu, a revolução: Remembranças de um bicentenário indigno] (Gallimard, 1989) e Walter Benjamin, sentinelle messianique [Walter Benjamin, sentinela messiânico] (Plon, 1990), começa um novo período, que se caracteriza não apenas por uma enorme produtividade – dezenas de obras, dentre as quais várias consagradas a Marx – mas também por uma nova qualidade de escrita, uma fantástica efervescência de ideias, uma surpreendente inventividade. Apesar de sua grande diversidade, esses escritos não deixam de ser tecidos com fios vermelhos comuns: a memória das lutas – e suas derrotas – do passado, o interesse pelas novas formas de anticapitalismo e a preocupação com os novos problemas que se colocam à estratégia revolucionária. Sua reflexão teórica era inseparável de sua militância, quer ele escreva sobre Joana D’arc – Jeanne de guerre lasse [Joana D’arc de guerra cansada] (Gallimard, 1991) – ou sobre a fundação do NPA (Prendre parti [Tomar partido], com Olvier Besancenot, 2009). Seus escritos têm, consequentemente, uma forte carga pessoal emocional, ética e política, que lhes dá uma qualidade humana pouco comum. A multiplicidade de suas referências pode tomar desvios: Marx, Lenin e Trotsky, com certeza, mas também Auguste Blanqui, Charles Péguy, Hannah Arendt, Walter Benjamin, sem esquecer Blaise Pascal, Chateaubriand, Kant, Nietzsche e muitos outros. Apesar de toda essa surpreendente variedade, aparentemente eclética, seu discurso não deixa de ter uma notável coerência.
“Eu leio seus livros sem parar como remédios contra a burrice e o egoísmo”, escreveu recentemente seu amigo, o poeta Serge Pey. Se os livros de Daniel são lidos com tanto prazer, é porque eles foram escritos com a pena afiada de um verdadeiro escritor, que tem o dom da fórmula: uma fórmula que pode ser assassina, irônica, nervosa ou poética, mas que vai sempre direto ao ponto. Esse estilo literário, próprio ao autor e inimitável, não é gratuito, mas vem a serviço de uma ideia, de uma mensagem, de um apelo: não se dobrar, não se resignar, não se reconciliar com os vencedores.
Esta ideia se chama comunismo. Ela não poderia ser identificada com os crimes burocráticos cometidos em seu nome, assim como o cristianismo não pode ser reduzido à Inquisição e às dragonnades [espécie de polícia religiosa criada durante o reinado de Luis XIV para perseguir protestantes e reconvertê-los ao catolicismo]. O comunismo, em última análise, é apenas a esperança de suprimir a ordem existente, o nome secreto da resistência e da sublevação, a expressão da grande cólera negra e vermelha dos oprimidos. É o sorriso dos explorados que esperam ao longe os tiros de fuzil dos insurgentes em junho de 1848 – episódio contado com inquietude por Alexis de Tocqueville e reinterpretado por Toni Negri. Seu espírito sobreviverá ao triunfo atual da mundialização capitalista, tal como o espírito do judaísmo durante a destruição do Templo e a expulsão da Espanha (gosto dessa comparação insólita e um pouco provocadora).
O comunismo não é o resultado do “Progresso” ou das leis da História (com P e H maiúsculos): trata-se de uma eterna luta, incerta e anunciada. A política, que é a arte estratégica do conflito, da conjuntura e do contratempo, implica numa responsabilidade humanamente falível, e deve ser confrontada com as incertezas de uma história aberta.
O comunismo do século XXI era, para Daniel, o herdeiro das lutas do passado, da Comuna de Paris, da Revolução de Outubro, das ideias de Marx e Lênin, e dos grandes vencidos que foram Trotsky, Rosa Luxemburgo, Che Guevara. Mas também algo de novo, a altura das questões do presente: um eco-comunismo (termo que ele inventou), integrando centralmente o combate ecológico contra o capital.
Para Daniel, o espírito do comunismo não podia ser reduzido às suas falsificações burocráticas. Se ele era, com suas últimas energias, contra a tentativa da Contra-Reforma liberal de dissolver o comunismo no stalinismo, ele não reconhecia tampouco que pode-se fazer a economia de um balanço crítico dos erros que desarmaram os revolucionários de Outubro em face das provas da história, favorecendo a contrarrevolução termidoriana: confusão entre povo, partido e Estado, cega em relação ao perigo burocrático. É preciso retirar disto certas lições históricas já esboçadas por Rosa Luxemburgo em 1918: a importância da democracia socialista, do pluralismo político, da separação dos poderes, da autonomia dos movimentos sociais sem relação ao Estado.
A fidelidade ao espectro do comunismo não impede que Daniel advogue em favor de uma renovação profunda do pensamento marxista, especialmente sobre dois terrenos onde a tradição falha em particular: o feminismo e a ecologia. As feministas – como Christine Delphy – por criticar a abordagem de Engels, que definia a opressão doméstica como um arcaísmo pré-capitalista que em breve se apagaria com a assalariação das mulheres. No movimento operário, ele forneceu muitas vezes um sexismo grosseiro, principalmente ao retomar a seu favor a noção burguesa de salário mínimo. A necessária aliança entre a consciência de gênero e a consciência de classe não pode ser feita sem um retorno crítico dos marxistas sobre sua teoria e sua prática.
O mesmo vale para a questão do meio ambiente: habitualmente ligado ao compromisso fordista e à lógica produtiva do capitalismo, o movimento operário era indiferente ou hostil para com a ecologia. Por seu lado, os partidos Verdes têm a tendência de se contentar com uma ecologia de mercado e com um reformismo social-liberal. Ora, o antiprodutivismo de nosso tempo deve necessariamente ser um anticapitalismo: o paradigma ecológico é inseparável do paradigma social. Diante dos danos catastróficos provocados no meio ambiente pela lógica do valor de mercado, é preciso propor a necessidade de uma mudança radical do modelo de consumo, de civilização e de vida.
*
A filosofia de Daniel Bensaïd não era um exercício acadêmico, mas estava atravessada, de um lado a outro, pelo fogo da indignação, um fogo que, segundo ele, não pode ser apagado nos mornos da resignação consensual. Daí o seu desprezo pelo “homo resignatus”, político ou intelectual que é reconhecido à distância por sua impassibilidade batraquiana perante a ordem impiedosa das coisas. Para além da modernidade e da pós-modernidade, nos resta, dizia Daniel, a força irredutível da indignação, a incondicional recusa da injustiça, que são o contrário exato do costume e da resignação. “A indignação é um começo. Uma maneira de se erguer e de se colocar em movimento. Primeiro a gente se indigna, se insurge e depois vê”.
Seu hino poético-filosófico à glória da resistência – esta “paixão messiânica de um mundo justo que não aceita sacrificar o “cintilar do possível diante da terna fatalidade do real” – se inspira ao mesmo tempo na paciência do marrano e na impaciência messiânica de Franz Rosenzweig e Walter Benjamin. É também inspirado na profecia do Antigo Testamento, que não se propõe predizer, como a adivinhação antiga o futuro, mas, ao contrário, soar o alerta da catástrofe possível. O profeta bíblico, como já o havia sugerido Max Weber em seu trabalho sobre o judaísmo antigo, não procede com ritos mágicos, mas convida a agir. Contrariamente ao esperar e ver apocalíptico e aos oráculos de um destino inexorável, a profecia é uma antecipação condicional, significada pelo oulai (“se”) hebraico. Ela busca desviar a trajetória catastrófica, conjurar o pior, manter aberto o feixe dos possíveis, logo ela é um apelo estratégico à ação. Segundo Daniel, há profecia em toda grande aventura humana, amorosa, estética ou revolucionária.
*
Entre todas as “heresias” de Daniel Bensaïd, quer dizer, suas contribuições para a renovação do marxismo, a mais importante, a meus olhos, é a sua ruptura radical com o cientificismo, o positivismo e o determinismo que se impregnaram tão profundamente no marxismo “ortodoxo”, principalmente na França.
Um de seus últimos escritos foi uma longa introdução aos escritos de Marx sobre a Comuna – uma brilhante e enérgica defesa e ilustração do político enquanto pensamento estratégico revolucionário. A doutrina oficial pretende que não há pensamento político em Marx, já que a sua teoria se resume ao determinismo econômico. Ora, a leitura de seus escritos políticos, principalmente a sequência Lutas de classe na França, O 18 de brumário de Luís Bonaparte e A guerra civil na França (os dois últimos publicado no Brasil pela Boitempo em 2011) mostra, muito pelo contrário, uma leitura estratégica dos acontecimentos, levando em consideração a temporalidade própria do político, os antípodas do tempo mecânico do relógio e do calendário. O tempo não-linear e sincopado das revoluções no qual se cavalgam as tarefas do passado, do presente e do futuro é sempre aberto à contingência. A interpretação de Marx por DB é, certamente, influenciada por Walter Benjamin e pelas polêmicas antipositivistas de Blanqui, dois pensadores revolucionários aos quais ele rende uma homenagem apoiada.
Auguste Blanqui é uma referência importante nesta abordagem crítica. No artigo de 2006, mencionado mais acima, ele lembra a polêmica de Blanqui contra o positivismo, esse pensamento de progresso em boa ordem, de progresso sem revolução, esta “doutrina execrável do fatalismo histórico” erigida na religião. Contra a ditadura do fato consumado, acrescentava Bensaïd, Blanqui proclamava que o capítulo das bifurcações ficava aberto à esperança. Contra “a mania do progresso e do desenvolvimento contínuo”, a irrupção eventual do possível no real se chamava revolução. A política que prevalece sobre a história. E propunha as condições de uma temporalidade estratégica e não mais mecânica, “homogênea e vazia”. Logo, para Blanqui, “a engrenagem das coisas humanas não é fatal como a do universo, ela é modificável em cada minuto”. Daniel Bensaïd comparava esta fórmula com ade Walter Benjamin: cada segundo é a porta estreita por onde pode surgir o Messias, quer dizer, a revolução, esta irrupção eventual do possível no real.
Sua releitura de Marx, à luz de Blanqui, de Walter Benjamine de Charles Péguy, o conduz a conceber a história como uma série de ramificações e bifurcações, um campo de possíveis onde a luta de classes ocupa um lugar decisivo, mas cujo resultado é “imprevisível”. Em Le pari mélancolique [A aposta melancólica] (Fayard, 1997), talvez seu mais belo livro, o mais “inspirado”, ele retoma uma fórmula de Pascal para afirmar que a ação emancipadora é “um trabalho para o incerto”, implicando numa aposta no futuro: uma esperança que não é demonstrável cientificamente, mas sobre a qual envolve-se a existência por inteiro. Redescobrindo a interpretação marxista de Pascal de Lucien Goldmann, ele define o envolvimento político como uma aposta pensada sobre o devir histórico, “com o risco de perder tudo ou de se perder”. A aposta é inelutável, num sentido ou no outro: como escrevia Pascal, “embarcamos”. Na religião do deus oculto (Pascal) como na política revolucionária (Marx), a obrigação da aposta define a condição trágica do homem moderno.
A revolução deixa, portanto, de ser o produto necessário das leis da história, ou das contradições econômicas do capital para se transformar numa hipótese estratégica, um horizonte ético, “sem o qual a vontade renuncia, o espírito da resistência capitula, a fidelidade falha, a tradição se perde”. A ideia de revolução se opõe à sequência mecânica de uma temporalidade implacável. Refratária à conduta causal dos fatos ordinários, ela é interrupção. Momento mágico, a revolução leva ao enigma da emancipação em ruptura com o tempo linear do progresso, esta ideologia da caixa de poupança tão violentamente denunciada por Péguy, onde a cada minuto, a cada hora que passa supõe-se trazer algum crescimento à sua pequena poupança através de aumentos nos juros.
Em consequência, como ele explica em Fragments mécréants [Fragmentos canalhas] (Lignes, 2005), o homem revolucionário é o da dúvida em oposição ao homem de fé, um indivíduo que aposta nas incertezas do século, e que põe uma energia absoluta a serviço de certezas relativas. Logo, alguém que tenta, incansavelmente, praticar esse imperativo exigido por Walter Benjamin em seu último escrito, as Teses Sobre o conceito de história (1940): escovar a história a contrapelo.
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Daniel fará falta. Já o faz, cruelmente. Mas pensamos que ele gostaria que nos lembrássemos da famosa mensagem de Joe Hill, o I.W.W., o poeta e músico do sindicalismo revolucionário norte-americano, a seus camaradas, às vésperas de ser fuzilado pelas autoridades (sob falsas acusações) em 1915: “Don’t mourn, organize!”. Não lamentem, organizem (a luta)!
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Daniel Bensaïd (1946-2010), filósofo e dirigente da Liga Comunista Revolucionária, foi um dos militantes mais destacados dos movimentos de Maio de 1968. Foi professor de Filosofia da Universidade de Paris VIII. Autor de muitas obras, tem, entre as publicadas em português, Os irredutíveis (Boitempo, 2008), Marx, o intempestivo (1999) e, em co-autoria com Michael Löwy, Marxismo, modernidade e utopia (2000).
*Michael Löwy se formou em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo e vive em Paris desde 1969. Diretor emérito de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), é autor de Walter Benjamin: aviso de incêndio (Boitempo, 2005) e Lucien Goldmann ou a dialética da totalidade (Boitempo, 2009) e organizador de Revoluções (2009), dentre outras publicações. Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente, às sextas-feiras.
Traduzido do francês por Leonardo Gonçalves.
Fonte: Opera Mundi
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