Ficamos nisso, sob um sol infinito, por umas 2 horas. Fomos muito bem acolhidos pelo grupo. A solidariedade que tiveram conosco foi impressionante, incluindo água, comida, protetor solar, e a busca por um entrosamento constante. Por Passa Palavra
Primeira coisa a se destacar foi a nossa ingenuidade. Saímos de Goiânia cedo, chegamos em Brasília às 9h50 e achávamos que iríamos entrar no plenário. Ledo engano. Existem trajes próprios para poder entrar no “Supremo”. Além disso, o julgamento seria somente às 13h00 (segundo o flanelinha [guarda] do estacionamento do Supremo Tribunal Federal, tudo lá sempre ocorre pela tarde).
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Ligamos para um companheiro que estava vindo de São Paulo, que confirmou o ato, daí demos uma espiada na manifestação dos bombeiros em frente ao congresso (tinha pouca gente) e ficamos depois esperando os manifestantes chegarem. Quando chegaram, (hahaha), aquela coisa engraçada, criança, adulto, idosa, enfim, aquela gente fazendo barulho e cheia de panfletos, cordéis [literatura de cordel], letras ensaiadas, carriola de som… Excetuando o tom monocromático das vestimentas, parecia quase uma folia de reis, ou um bloco de maracatu.
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Os manifestantes eram poucos mas muito loucos (desculpem a rima pobre), mas muito engraçado. Ficamos nisso, sob um sol infinito, por umas 2 horas. Fomos muito bem acolhidos pelo grupo. A solidariedade que tiveram conosco foi impressionante, incluindo água, comida, protetor solar, e a busca por um entrosamento [relacionamento] constante.
Nisso resolvemos também perguntar quem eram eles, a história do coletivo, etc… Foi muito interessante porque conhecemos toda a história deles em pouquíssimo tempo, ficamos sabendo seus referenciais teóricos, a questão dos Gundrisse, lei do valor, etc. Mas resolvemos não entrar no mérito de nada disso, naquele momento, para nós o que importava era fazer o barulho junto e seguimos no festejo manifestante.
Alguns representantes indígenas se juntaram ao nosso movimento. Falaram de suas reivindicações (queriam substituir o presidente da FUNAI por um indígena, que era bacharel em direito), e que estavam em cerca de sessenta e duas pessoas acampadas em um lugar próximo, em Brasília mesmo, com a expectativa de chegarem mais pessoas para acampar. Eles também ficaram conosco um bom tempo, vestiram a camiseta, ou seja, também apoiaram a luta pela libertação do Battisti.
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Fiquei com aquela sensação de mesquinharia gratuita. Enquanto o que a gente fazia procurava estabelecer alguma comunicação com as pessoas e com o STF, aqueles se preocupavam tão somente em mostrar que estiveram ali, e como zumbis assoprando apitos, passaram e não disseram absolutamente nada do porquê de estarem ali. Se não fosse uma garota que se destacou do bloco e se juntou a nós, jamais saberíamos do que se tratava.
Depois disso, já extremamente cansados, sentamos todos, e o povo da Crítica arrumou uma gambiarra [engenhoca], onde se ligou um celular [telemóvel] na carriola de som, e ficamos ouvindo o julgamento, ali, na frente do supremo. Todos atentos e… Chega a manifestação do holocausto de novo! Daí o companheiro de São Paulo foi conversar com um dos dirigentes para ver se eles davam um tempo, pois estávamos tentando ouvir o julgamento, e nisso começaram a discutir feio. Parece que nosso companheiro, argumentando a importância de acompanharmos o julgamento, perguntou o que o cara [gajo] achava da Dilma, a resposta foi que ela era sua ídola. Então, nosso companheiro falou que o que o Battisti tinha feito na Itália era parecido com o que a Dilma tinha feito aqui no Brasil… O cara ficou muito macho [zangado], achei que fossem para as vias de fato. Não contente, o cara começou a gritar para o nosso lado, falando que estávamos acobertando um assassino e que ele merecia mesmo era a forca! O cara estava descontrolado, mas acabou indo embora e nos deixou em paz.
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Nesse meio tempo vinha um cara da Carta Capital falar conosco, passar as informações, veio um outro repórter da Época, e uns outros caras que não consegui saber quem eram. Fomos escutando os votos e quando chegou no 6×3 começou a festa. Nesse momento já estávamos completamente destruídos, cansados, famintos…. Resolvemos ir embora, já estávamos no nosso limite, apesar de só algum tempo depois termos conseguido a notícia quente, que o Cesare iria sair no mesmo dia. Ainda restaria cerca de 3 horas de estrada, que correu bem.
Fonte: http://passapalavra.info
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