quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

BHObama: Pentágono, CIA e novos ventos – NovaE

BHObama: Pentágono, CIA e novos ventos
As indicações pelo presidente BHObama dos nomes de John Brennan para a CIA e de Chuck Hagel, primeiro veterano da guerra do Vietnã a ocupar o cargo, para o Departamento de Defesa (Pentágono) estão de acordo com os novos ventos da política do país para a guerra contra os inimigos clássicos e pela busca da reconquista da hegemonia perdida.
John Kerry, que assumirá o Departamento de Estado, em substituição a Hillary Clinton, terá em Hagel companhia acessível para levar à frente as alterações necessárias à diplomacia de paz e guerra do país.
John Brennan
John Brennan é um exemplar perfeito da aliança das forças que conduzem o poder nos EUA: funcionários especializados civis, forças armadas, executivos e proprietários de grandes corporações principalmente de armamentos, conselheiros aliados a influentes organizações não governamentais, financistas e banqueiros, titulares de universidades, e, por fim e menos importantes, políticos eleitos.
A expressão clássica que define a movimentação das pessoas entre essas forças componentes do poder é “porta giratória”: por exemplo, militares de alta patente que comandaram tropas ou ocuparam cargos governamentais e entram para a reserva tendem a deter altos cargos em empresas de armamentos; secretários do Tesouro quase sempre deixam corporações financeiras para exercer o poder.
John Brennan foi conselheiro de contraterrorismo do Departamento de Segurança Interna e vice de segurança nacional, executivo do Citicorp, chefe do centro nacional de contraterrorismo, membro de universidade em New York, e tem muitos anos de carreira na CIA, por exemplo como analista e ex-chefe da importante agência da Arábia Saudita. Chefiou empresas particulares de análise de segurança e ocupou cargos elevados de inteligência em vários governos, de Clinton a BHObama, . Foi também, por anos, o encarregado de levar ao presidente dos EUA um consolidado dos relatórios diários das 16 agências de inteligência do país, fato que em geral abre a primeira hora de cada manhã de trabalho na Casa Branca.
Defendeu técnicas de tortura, seqüestro e entrega de presos a países para serem torturados, agravadas nos dois governos Bush e continuadas pelo governo BHObama. Também defende os ataques com drones, aviões não tripulados operados a partir de bases no território dos EUA, contra alvos no Paquistão, Yemen, Somália, Afeganistão e outros países, que com frequência matam civis. Aconselha BHObama quanto à lista de ‘pessoas inimigas’ a serem assassinadas, tarefa a que se entrega o presidente. É considerado ‘linha dura’ ou ‘falcão’.
Sua posição como chefe da CIA reforça a progressiva mudança do perfil da agência, anteriormente centrada mais em análises de inteligência e aconselhamento aos governos. Os dois mandatos de Bush filho (Buh pai foi chefe da CIA antes de ser presidente) aos poucos retiraram da CIA parte desse papel, e enfatizaram cada vez mais a atuação direta nas técnicas ilegais e ações contra inimigos baseadas em táticas típicas terroristas: prisões secretas de tortura e morte de ‘inimigos’, bombardeios e atentados, assassinatos seletivos, derrubada de governos legítimos, etc. As deficiências das análises de inteligência colaboram para a claudicante diplomacia dos últimos governos com relação a países de maioria muçulmana, por exemplo.
Uma das suas funções principais será a reorientação das alianças da CIA com núcleos chamados terroristas, principalmente de muçulmanos e mercenários, ou ambos. A morte recente do embaixador dos EUA e de três agentes de inteligência no ‘compound’ da CIA (que a grande mídia desinformadora chama de ‘consulado’) em Benghazi, na Líbia, a cidade-sede em que se iniciou a ‘guerra dos EUA-Otan’ contra Gaddafi, acendeu a luz vermelha no governo BHObama. A cesta de grupos reunidos antiGaddafi incluía até mesmo grupos já classificados como terroristas ou da Al Qaida pelo governo dos EUA.
Aliados e inimigos
A CIA ou organiza, ou usa ou se desfaz, de grupos assim ao sabor das conveniências estratégicas e dos interesses da política externa do país. Três exemplos saltam à vista: a ficção da ‘organização Al Qaida’, que teve Osama bin Laden como figura exponencial nas décadas de 1980 e 1990; a rede Hezb-i Islami, do ‘senhor da guerra’ e traficante afegão Gulbuddin Hekmatiar; e o grupo fortemente armado do paquistanês Jalaluddin Haqqani, aliado do Taleban e ainda próximo do serviço de inteligência ISI do seu país, mas recentemente classificado como ‘organização terrorista’ pelo governo BHObama. O Paquistão vê o Taleban, da etnia pashtun, como apoio após a retirada prevista das forças armadas ocidentais e da presença crescente da influência da Índia, da Rússia, do Irã e outros países sobre o agora frágil governo afegão.
Os grupos de Haqqani e Hekmatiar existem e operaram ao lado da CIA em vários momentos do passado recente, como no combate aos invasores soviéticos no Afeganistão, na década de 1980. Hoje, com a reativação plena da produção de papoula e do tráfico de ópio, após a deposição do governo do Taleban que havia reduzido quase a zero a sua produção, o espaço das forças de Hekmatiar vem sendo exigido pela própria CIA. A agência fatura alto no mundo todo (México, Honduras, Afeganistão, país de fachada Kosovo, sul da Ásia, etc.) com o tráfico internacional de drogas para financiar suas operações secretas. Hekmatiar deve ceder espaço também para membros da família do presidente afegão Hamid Karzai, mergulhada até o pescoço no negócio bilionário do ópio. Mais de 90% da produção mundial atual vem do Afeganistão.
Al Qaida
Já a Al Qaida é ficção conveniente que individualiza num só nome dezenas de grupos, pagos de início em geral pela Arábia Saudita, formados por mercenários que combatem por dinheiro e jihadistas combatentes pela fé islâmica e que nem sempre se mantêm fiéis aos seus contratantes. Osama bin Laden, membro da família mais rica da Arábia Saudita depois da família real, liderou contra os soviéticos tropas treinadas no Paquistão, pagas pelo reino saudita e supervisionadas pela CIA.
O nome Al Qaida é apenas uma abreviação de nomes árabes para ‘database’, rede de internet e intranet usada para recrutamento e formação de milícias de combatentes e de troca de mensagens e informações cifradas, inicialmente a partir da Arábia Saudita. Mas é bastante conveniente para carimbar oposições variadas, como grupos contrários ainda atuantes na Líbia, no Yemen e, há pouco tempo, no Mali, o que obrigou o envolvimento de tropas do ‘governo socialista’ de François Hollande.
O presidente francês mostra assim as mesmas garras do seu antecessor de direita Nicolas Sarkozy, filhote originário da máfia de Marselha. Além do mais, Bush transformou-a em palavra mágica: classificar um grupo como parte da Al Qaida autoriza qualquer medida militar, assassinatos e destruição de cidades e países.
A partir do momento em que divergiu de seus associados poderosos, levado por sua conhecida fé muçulmana, Osama bin Laden em 2001 foi vitimado pela acusação falsa do governo Bush de ter sido responsável pelo ataque às torres do World Trade Center em New York .(O governo Bush declarou-se desinformado sobre o atentado, mas, apenas 1 hora após o ataque à segunda torre, acusou Osama bin Laden de ‘autor’. É para rir, ou refletir.) O ataque, sabe-se hoje, teve minucioso e longo preparo para antes, durante e após o evento, e foi levado à frente pelo serviço de inteligência israelense Mossad, em conluio com setores de proa da área de inteligência dos EUA e do governo.
Na Síria atual, por exemplo, combatem muitos grupos, até mesmo de condenados à morte ou prisão perpétua na Arábia Saudita, liberados e pagos para o combate à ditadura de Assad, e também grupos de voluntários islâmicos que pretendem instalar emirado sob a lei da sharia.
É o caso dos grupos salafistas, ramo dos sunitas que prega rigor na interpretação do Corão e se acredita o único intérprete das intenções do profeta. Esta é a razão que torna delicado o envolvimento pleno da Otan: são aliados de ocasião, apenas até a deposição do ditador. Não estão interessados nas balelas de ‘democracia’ e ‘liberdade’, palavras ocas na voz dos representantes do Ocidente. E sabem que, apesar de aliados no momento na Síria, países como EUA, França e Reino Unido bombardeiam muçulmanos em vários países.
Uma missão fundamental de Brennan é neutralizar ou exterminar boa parte desses grupos, dispersos por vários pontos do planeta, antes aliados da CIA ou do seu equivalente MI6 britânico em episódios de guerra, que se tornam empecilhos e podem levar a situações de confronto indesejáveis com as forças que os apoiaram (remember Benghazi. A Itália acaba de fechar seu consulado na cidade, após ataque armado ao cônsul italiano). Além, sim, de manter as práticas ilegais que tornaram os EUA condenáveis e bandidos perante as leis internacionais.
Chuck Hagel
Indicado por BHObama para o Departamento de Defesa, ao qual se subordina o Pentágono, o ex-senador republicano por Arkansas Chuck Hagel vem enfrentando acirrada campanha contrária da parte dos mais notórios grupos de neoconservadores do país. Quase todos esses neocons são remanescentes da era Bush, em que ocuparam cargos-chave no governo, congregados em torno do ‘projeto de um novo século americano’. A campanha é orquestrada pelos lobbies pró-Israel e pela Aipac, sigla que reúne as forças organizadas que operam em favor das teses sionistas, e que detêm imenso poder sobre a política e a imprensa estadunidenses. Seu mais notório agente na imprensa é Rupert Murdoch, que comanda meios relevantes como o Wall Street Journal e a rede Fox News de TV, e que, embora nascido na Austrália, é cidadão israelense e notório sionista.
Murdoch é o maior empresário de mídia do mundo, e seus métodos sujos de obter informação e de exercer influência sobre governos vêm tendo o véu levantado após o episódio de o seu jornal de maior tiragem do Reino Unido, News of the World, ter sido obrigado ao fechamento e alguns ex-dirigentes estarem sob processo na justiça.
O alcance das manobras de Murdoch pode ser visto na viagem que o diretor da sua Fox News fez ao Afeganistão para tentar convencer o então famoso general David Petraeus a candidatar-se a presidente contra BHObama. Para o mafioso Murdoch, a sua poderosa rede de mídia com certeza poderia elegê-lo. Petraeus, que não aceitou o convite, foi um tempo depois defenestrado da chefia da CIA e destinado a longa quarentena após revelação de escândalo, sob a alegação de que teria uma amante, sua biógrafa. O que a imprensa omitiu é que a amante é oficial da área de inteligência. O jogo é pesado.
A campanha contra a indicação de Hagel assenta sobre acusações de antissionismo, e até mesmo de antissemitismo. Embora republicano, Hagel opôs-se à guerra contra o Iraque, que chamou de novo Vietnã; defende o fim das sanções e conversações com o Irã; e adota posições críticas à política israelense para os países vizinhos e a questão palestina. E é aí que se funda em parte a razão da sua indicação por BHObama. O governo de extrema-direita de Biniamin Netanyahu alinhou-se abertamente com o candidato republicano Mitt Romney contra BHObama. Se tivesse recebido sinal verde do governo estadunidense, Israel já teria atacado o Irã há muito, o que seria bastante provável sob um governo do arcaico e obtuso Romney.
Novas tarefas
A diplomacia dos EUA e do Reino Unido, ao lado da submissa Otan, vem sofrendo sucessivos revezes na região, dadas as suas antigas alianças, o apoio aberto às ditaduras do mundo árabe e muçulmano e uma aliança quase incondicional com Israel. A chamada Primavera Árabe, cujos episódios mais importantes até aqui foram a deposição do ditador egípcio Hosni Mubarak, 29 anos no poder, e do fantoche que mandava na Tunísia, vem afetando as relações dos líderes do Ocidente com as lideranças emergentes de alguns países. Até mesmo velhas ditaduras, como as da Arábia Saudita e do Bahrein, vêm sendo sacudidas por sólidos movimentos de oposição, aos quais respondem invariavelmente com repressão e assassinatos.
Uma tarefa básica de Hagel, em conjunto com John Kerry, será conduzir os novos movimentos militares e diplomáticos (o que para os EUA sempre foram face e anverso da moeda) para evitar que o seu país seja afastado desses cenários em que a realidade muda com rapidez e novos atores militares e políticos, como o Irã dos aiatolás ou a China de forças armadas de 2 milhões de membros, dividem as cenas com velhas potências decadentes.
A missão central de Hagel na região será então administrar essas questões do ângulo militar e tentar reformular a posição dos EUA em moldes mais simpáticos aos novos ventos e às visões muçulmanas. Para tanto, uma questão central é redefinir o comportamento do governo dos EUA com relação ao Estado de Israel. Como BHObama comprovou durante a campanha da reeleição, Israel ocupa-se e se preocupa com Israel, e os EUA são considerados aliados obrigatórios e, de preferência, obedientes. Lobbies, a Aipac, mídia e finanças nas mãos de sionistas estão de plantão para garantir esse alinhamento automático. E para tentar bloquear nomes como Hagel, que enfrenta oposição crescente dessas forças.
Novos eixos
Além disso, a política de guerra dos EUA vem passando por recomposições estratégicas, e os eixos que a norteavam, antes voltados com prioridade para a URSS e depois Rússia, Ásia central e Oriente Médio, agora direcionam-se também para a Ásia do Pacífico e a África. Na impossibilidade física e financeira de abraçar o mundo, os EUA optam por se concentrar contra a China. Tal atitude exige também a reavaliação da questão iraniana, que iria arejar o panorama do Oriente Médio e da Ásia central, fato que seria favorecido sob o comando de Hagel.
A criação há poucos anos do AfriCom, comando africano das forças armadas dos EUA ainda com sede na Alemanha, junto com a reativação do SouthCom, que tem a seu cargo os cucarachas das Américas, destinou-se a incrementar essa nova estratégia. Para 2013, o Africom planeja enviar e/ou manter soldados em 35 países africanos. Os dois governos do desastrado Bush e de seus neocons de visão unilateral abriram amplas galerias para a presença cada vez maior da China na África.
Na Líbia de Gaddafi, por exemplo, chineses mantinham mais de 50 mil profissionais em algumas dezenas de grandes projetos conjuntos. As riquezas minerais e de energia da África estavam, assim, sendo drenadas prioritariamente pelos chineses, que importam, por exemplo, um terço de toda a sua energia de fornecedores africanos.
O zelo do governo BHObama quanto aos novos eixos da estratégia político-militar do país transparece, por exemplo, nas ações diplomáticas com relação a Mianmar. Veja-se a publicidade que se dá à pessoa política de Aung San Suun Kyi, oportunamente agraciada com o nobel da paz em 1991, filha de um dos fundadores da república, que se opunha aos ditadores militares e esteve presa em casa por 15 anos, e a visita amistosa recente de Hillary Clinton ao país antes inimigo. Mianmar sempre foi um aliado fundamental da China.
Outro ponto de atrito é constituído pelo Paquistão, aliado da China e que se mantém às turras e choques frequentes com os EUA. A China vem implantando um porto em Gwadar, cidade situada na província do Baluchistão, que, não por acaso, vai ficando cada vez mais conflagrada com movimentos pró-independência e bandos armados. É quase possível ver a assinatura de serviços de inteligência atrás desses bandos, que ao mesmo tempo desestabilizam o Paquistão e ameaçam os interesses chineses.

OS EUA vêm armando maciçamente alguns países vizinhos da China e incentivando sua oposição a pretensões chinesas a ilhas e mares territoriais também reivindicados por esses países. Além de se colocarem contra seu grande inimigo atual, os EUA valem-se da venda de armamento para injetar fundos essenciais na sua combalida economia. Assim, avultam clientes como Taiwan, Indonésia, Vietnã e outros, além da aliada incondicional Austrália. E também o Japão, em litígio eterno com a China, e, como muitos, em conflito pela posse de áreas situadas em regiões de riqueza e petróleo, e que se candidata a ampliar as suas forças armadas, impedidas por imposição dos EUA e aliados desde o fim da Segunda Guerra. A situação é outro campo de atuação para o novo secretário de Defesa, caso o Senado aprove seu nome, e para o queixudo John Kerry.
O novo filme
Por mais que pareça inovador, o governo BHObama segue o script do filme em que os eleitos pretendem ser os autores, mas representam apenas papéis de atores secundários, como os de Ronald Reagan em sua carreira de ator de segunda classe de filmes bangbang classe B. Reagan tornou-se figura de proa da direita estadunidense e exerceu a presidência do país, além de ter sido depois o conferencista mais valorizado da sua história. Para ele, o filme deu certo: finalmente, achou seu papel.
BHObama parece ainda um ator à procura do seu papel. Representa bem, expõe o essencial da vida familiar, posa de simpático, adota posições progressistas em políticas de direitos civis de gays, negros, imigrantes etc. Enquanto ficar nessa modesta posição, haverá estabilidade.
Na oposição feroz à nomeação do republicano Hagel, que exercerá inclusive o controle da redução do orçamento inchado da defesa, maior que o de todos os países do planeta somados, e que é político nem tão progressista assim, anuncia-se uma tormenta nova em sua administração. As forças que se opõem a mudanças no jogo são as forças que sempre ditaram as regras. Além disso, os novos eixos estratégicos da diplomacia de paz e guerra exigem mais recursos, não cortes.
A se ver o que virá. Kennedy não deu conta.


Fonte: http://www.novae.inf.br/

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