terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Punk revisitado – por Ana Pinho

Punk revisitado
O fotógrafo Rui Mendes fala sobre suas memórias e a exposição Punk, no Espaço Revista CULT
Show da banda Camisa de Vênus, em 1985 (Foto: Rui Mendes)
Há cinco anos, Rui Mendes trabalha em um livro com seus retratos favoritos da cena musical. Ao telefone, ele respira fundo antes de responder se está pronto: “Esse ano eu acabo”. Fotógrafo há 33 anos, Mendes estima ter um acervo de um milhão de negativos, metade deles relacionados à música.
Um dos capítulos do futuro livro é o Punk, movimento de contracultura que surgiu no meio dos anos 1970 (o país de origem ainda é controverso). Foi de dentro da cena punk paulistana que vieram as 34 fotos da mostra “PUNK”, tiradas entre 1983 e 1986 e expostas no Espaço Revista CULT como parte da 4ª Mostra SP Samsung de Fotografia.
Nas fotos, bandas como Mercenárias, Inocentes e Ratos de Porão, além de punks anônimos que ilustram a diversidade da vida undergound da cidade. “Eu ia colocar o Ira!, mas eles eram proibidos pelos punks de se chamarem de punks”, conta Rui, rindo.
CULT – Você sabia que estava fotografando algo que se tornaria histórico?
Rui Mendes – Sempre tive a noção que a fotografia tem compromisso com a história. Mas que aquilo que eu estava fazendo [seria histórico] eu não tinha ideia nenhuma. Quando está vivendo aquilo, ninguém tem essa noção.
Como montou a exposição?Ela é calcada em cinco bandas: Inocentes, Mercenárias, Ratos de Porão, Olho Seco e Cólera. Também tem os baianos da Camisa de Vênus. As fotos são do período em que essas bandas tinham a identidade punk pura.
Membros da banda Inocentes, em 1986 (Foto: Rui Mendes)
O que seria a identidade punk pura?
Punk pura no sentido de barulho. Na verdade, é o seguinte: o movimento punk em São Paulo vem junto com a abertura política. Vivíamos num país muito fechado, que começa a abrir e todos começam a ter informação sobre tudo.
O que o punk fez: não precisava ser virtuoso com um instrumento pra montar uma banda. Ninguém tocava bem, era uma molecada pegando guitarra, bateria, baixo, que saía tocando sem muito compromisso com nota musical.
Qual fotografia é a mais significativa?
Todas com as Mercenárias. A Sandra Coutinho foi uma grande responsável por organizar essa galera toda que fez os festivais nos anos 1980. Ela foi casada com o Edgard Scandurra e muito importante para essa época. A gente tinha muito a ver na hora de combinar foto, figurino, locação.
Conte uma memória punk.
Bem no começo, fui fazer fotos para uma revista do José Augusto Lemos, que depois viria a ser editor da Bizz. Eram fotos do Ratos de Porão, o João Gordo nem fazia parte da banda ainda. As Mercenárias tinham o Edgard Escandurra na bateria, e o Ira! era a banda que, dessas três, era a mais conhecida. Tinha mais ou menos um ano de estrada.
Fiz os ensaios e a matéria não saiu. No meio tempo, eu estudava na ECA e criei uma chapa anarquista chamada Picaretas para ir contra a Libelu [Liberdade e Luta]. Éramos 22 pessoas e, segundo o estatuto da faculdade, cada chapa tinha direito de rodar 500 páginas de propostas. Uma semana antes, tive a ideia de racharmos as chapas.
Três dias antes, juntamos de novo e tínhamos rodado uma revista [risos]. Ganhamos a eleição por quatro votos. Foi um bafafá e o começo da derrocada da Libelu. Tive a ideia de fazer a festa do Gato Morto, já que o gato era o símbolo da Libelu. Convidei as três bandas para fazerem um show no centro acadêmico, e troquei o show pelas fotos. Uni o útil ao agradável.
Vieram os punks de Osasco, que tinham o nome de Cangaceiros, e vieram os punks da História. Meu carro virou ambulância, levei umas quatro pessoas que tinham sido agredidas com garrafada para o Hospital Universitário. Essa festa foi marcante na ECA porque foi uma loucura.
Mostra Punk, de Rui MendesDe 25/1 a 23/2
Horário de visitação:
De segunda a sexta, das 11h às 20h
Sábados, das 11h às 15h
Espaço Revista CULT
R. Inácio Pereira da Rocha, 400, São Paulo (SP)
(11) 3032-2800
GRÁTIS (11) 3032-2800 end_of_the_skype_highlighting
www.espacorevistacult.com.br

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