quinta-feira, 9 de abril de 2015

Hipocrisia hemorrágica - Por: Evandro Aranha


Hipocrisia hemorrágica

Há sangue em minhas mãos,
por todas as vezes que fui cúmplice.
De crimes.
Do ódio.
Do mal.

Nunca matei um negro,
mas já ri de piadas racistas.
Nunca estuprei uma mulher,
mas objetifiquei algumas delas
Nunca agredi um homossexual,
Deus me livre!
Mas já torci várias vezes
Para o meu filho não ser gay.

Já vi injustiças acontecendo
E me calei;
Vi o mal nascendo
Nada fiz;
E enquanto ele era regado
Eu olhava para o lado
Mudava de assunto
E até de assento
E deixava pra lá.

Há sangue em minhas mãos

Sangue de gente inocente
Que por ser “diferente”
Era excluída
E não era vista
Como gente
Como a gente
É.

Vejo fantasmas
Daqueles que morreram
E que ainda vivem
No sangue
Que ainda corre
Em minhas mãos

E esse sangue
Não seca
Tal como a chaga
Que nunca se cura
Como a fenda
Que nunca se fecha
E como o bem
Que quando não feito
Volta
E te tortura.

Há sangue em minhas mãos
Meu próprio sangue jorra
Hipocrisia hemorrágica.

Pelos vãos dos meus dedos
O sangue que goteja
Beijando o chão
Avisa-me
Que estou pronto
Para nascer de novo
Um novo eu
Para o povo.

Por: Evandro Aranha

Ilustra: Felipe Machado Dutra

Fonte: http://revistavaidape.com.br/blog/2015/04/hipocrisia-hemorragica/

Nenhum comentário: