Morre aos 59 anos o antropólogo David Graeber, creditado pelo slogan “Nós somos os 99%”
Americano dividia o tempo entre lecionar na London School of Economics e apoiar lutas sociais
Morreu nesta quarta (2) em Veneza o antropólogo, economista e ativista anarquista David Graeber. Ele foi participante ativo do movimento antiglobalização na virada do milênio e um dos idealizadores do Occupy Wall Street em 2011. A morte foi anunciada pela esposa de Graeber, Nika Dubrovsky, pelo Twitter, sem divulgar a causa.
Graeber nasceu e cresceu em Nova York. Os pais, operários, levavam a política para dentro de casa. Kenneth Graeber, o pai, era comunista e havia lutado ao lado dos republicanos na Guerra Civil Espanhola (1936-1939). A mãe, Ruth Rubinstein, era do sindicato de costureiras.
Após se graduar pela Universidade Estadual de Nova York, Graeber fez mestrado e doutorado na Universidade de Chicago, com um período de bolsa para pesquisa etnográfica na zona rural de Madagascar.
Dois anos depois da obtenção do título de PhD, foi contratado como professor assistente na Universidade de Yale, onde permaneceu até 2005, quando foi demitido.
Na época, Graeber afirmou que a demissão teve motivações políticas –desde 1999, com as mobilizações globais contra a OMC (Organização Mundial do Comércio), o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o G8, o antropólogo participava ativamente de protestos e se identificava como anarquista.
Após a demissão, Graeber mudou-se para a Inglaterra e passou a dar aulas na Universidade de Londres e posteriormente na London School of Economics.
Graeber publicou dez livros, mas apenas dois foram traduzidos no Brasil: “Dívida: os Primeiros 5.000 Anos” (Três Estrelas, 2016, 704 págs.) e “Um Projeto de Democracia: uma História, uma Crise, um Movimento” (Paz & Terra, 2015, 308 págs.), no qual relata a construção do movimento Occupy Wall Street.
O antropólogo é frequentemente creditado pelo slogan “Nós somos os 99%”, que marcou as mobilizações sociais após a crise de 2008 nos Estados Unidos. Ele negava a autoria individual, afirmando que, assim como o próprio movimento Occupy, o slogan foi uma construção coletiva.
Em seu livro mais recente, ainda sem tradução no Brasil, “Bullshit Jobs”, de 2018, Graeber questiona o papel social do trabalho. Ele afirma que o avanço tecnológico tornou os empregos de “colarinho branco” inúteis e que a relação entre trabalho e valor pessoal, especialmente em um período de redução de empregos e automação, é nociva para a sociedade. Graeber argumenta que uma solução possível para o problema seria a renda básica universal.
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