Fazendo a guerra para trazer a "paz" – Por Noam Chomsky
Do The New York Times
Um debate está em andamento nas Nações Unidas sobre uma política que pode parecer incontestável: uma estrutura internacional para evitar crimes graves contra a humanidade.
A estrutura é chamada de "responsabilidade para proteger", ou R2P, no linguajar da ONU. Uma versão limitada da R2P, adotada na Cúpula Mundial da ONU em 2005, reafirmou direitos e responsabilidades que foram aceitas pelos estados membros no passado e, algumas vezes, foram implementadas por eles.
Entretanto, as discussões sobre a R2P ou a sua prima, "intervenção humanitária", são interrompidas regularmente pelo chacoalhar de um rabo-de-palha: a história, até o presente.
Ao longo da história, poucos princípios de relações internacionais se aplicam de forma geral. Um é a máxima de Tucídides, que os fortes fazem o que querem enquanto os fracos sofrem o que devem.
Outro princípio é que praticamente cada uso da força em relações internacionais foi acompanhado por uma retórica imponente sobre a responsabilidade solene de proteger as populações que sofrem, e as justificações fatuais para isto.
Evidentemente, os poderosos preferem esquecer a história e aguardar. Para os fracos, esta não é uma escolha sábia.
O rabo-de-palha fez uma aparição na primeira discussão considerada pela Corte Internacional de Justiça há 60 anos, o caso Canal Corfu sobre um incidente envolvendo a Grã-Bretanha e a Albânia.
A corte determinou que "pode apenas considerar o direito suposto de intervenção como a manifestação de uma política de força, tal como, no passado, deu origem à maioria dos abusos graves e como tal não pode, independente das falhas na organização internacional, encontrar um lugar no direito internacional (...); pela natureza das coisas, (intervenção) isto estaria reservado para os estados mais poderosos e pode facilmente levar à distorção da administração da própria justiça".
A mesma perspectiva permeou o primeiro encontro da Cúpula do Sul de 133 estados em 2000. Sua declaração, certamente com o bombardeio da Sérvia em mente, rejeitou - o assim chamado - "direito" de intervenção humanitária, que não tem base legal na Carta das Nações Unidas ou nos princípios gerais do direito internacional.
O texto reafirma a Declaração das Nações Unidas a respeito de Relações Amigáveis (1970). Tem sido repetido desde então, entre outros, pelo Encontro Ministerial do movimento Não-alinhado na Malásia, em 2006, novamente representando as vítimas tradicionais na Ásia, África, América Latina e no mundo árabe.
A mesma conclusão foi obtida em 2004 pelo Painel de Alto Nível da ONU para Ameaças, Desafios e Mudança. O painel concluiu que, na Carta da ONU, "o Artigo 51 não precisa de extensão, nem de restrição do seu escopo há muito entendido".
O painel acrescentou: "Para aqueles impacientes com tal reação, a resposta deve ser que, em um mundo cheio de percepções de ameaças em potencial, o risco para a ordem global e a norma de não intervenção sobre a qual continua a se basear é simplesmente grande demais para a legalidade da ação preventiva unilateral, como oposta a uma ação sancionada coletivamente, ser aceita. Permitir que alguém aja desta forma é dar permissão a todos" - o que é, naturalmente, impensável.
A mesma posição padrão foi adotada pela Cúpula Mundial da ONU em 2005. A Cúpula também declarou a disposição de "agir coletivamente através do Conselho de Segurança, de acordo com a Carta caso os meios pacíficos sejam inadequados e as autoridades nacionais estejam obviamente falhando em proteger suas populações" de crimes graves.
No máximo, a frase enfatiza o texto do Artigo 42 sobre autorizar o Conselho de Segurança a recorrer à força. E a frase mantém o rabo-de-palha - se podemos considerar o Conselho de Segurança como um juiz neutro, não sujeito à máxima de Tucídides.
Esta hipótese, no entanto, é indefensável.
O Conselho é controlado pelos seus cinco membros permanentes, e eles não são iguais em autoridade operacional. Uma indicação é o recorde de vetos - a forma mais extrema de violação de uma Resolução do Conselho de Segurança.
Durante os últimos 25 anos, a China e a França juntas vetaram 7 resoluções; a Rússia, 6; o Reino Unido, 10; e os Estados Unidos, 45, incluindo até resoluções apelando para os estados observarem o direito internacional.
Uma forma de mitigar este efeito no consenso da Cúpula Mundial seria eliminar o veto, de acordo com o desejo da maioria da população dos Estados Unidos. Mas tais heresias são impensáveis, tanto quanto aplicar a R2P agora mesmo àqueles que precisam desesperadamente de proteção, mas que não estão na lista de protegidos dos poderosos.
Tem havido desvios da restrição do Canal Corfu e de seus descendentes. O Ato Constitutivo da União Africana afirma "O direito da União de intervir em um Estado Membro com respeito a circunstâncias graves". Isto difere da Carta da Organização dos Estados Americanos, que impede a intervenção "por qualquer razão que seja, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro estado".
A razão para a diferença é clara. A Carta da OEA busca dissuadir a intervenção por parte dos Estados Unidos, mas após o desaparecimento dos estados com regime de apartheid, a UA não encara um problema parecido.
Eu sei de apenas uma proposta de alto nível para estender a R2P para além do consenso da cúpula e da extensão da UA: o Relatório da Comissão Internacional sobre Intervenção e Soberania Estatal sobre a Responsabilidade de Proteger (2001).
A comissão examina a situação na qual "o Conselho de Segurança rejeita uma proposta ou falha em lidar com ela em um tempo razoável". Neste caso, o relatório autoriza "ação dentro da área de jurisdição por organizações regionais ou sub-regionais sujeitas a pedirem autorização subsequente pelo Conselho de Segurança".
Neste ponto, o rabo-de-palha chacoalha de forma bem barulhenta. Os poderosos determinam de forma unilateral a sua própria "área de jurisdição". A OEA e a UA não podem fazer isto, mas a OTAN pode, e faz.
A OTAN determinou que a sua "área de jurisdição" se estende aos Balcãs, Afeganistão e além deles.
Os direitos expansivos acordados pela comissão Internacional estão, na prática, restritos apenas a OTAN, em violação aos princípios do Canal Corfu e abrindo a porta para a R2P como uma arma de intervenção imperial à vontade.
A "responsabilidade de proteger" sempre foi seletiva. Assim, não se aplicou às sanções contra o Iraque impostas pelos Estados unidos e Reino Unido e administradas pelo Conselho de Segurança, condenadas como "genocidas" pelos ilustres diplomatas responsáveis, ambos dos quais renunciaram em protesto.
Também não há intenção hoje de aplicar a R2P ao povo de Gaza, uma "população protegida" por quem as Nações Unidas são responsáveis.
E nada sério se considera a respeito da pior catástrofe na África, se não no mundo: o conflito sanguinário no leste do Congo. Lá, como a BBC acabou de relatar, as multinacionais são acusadas, mais uma vez, de violarem uma resolução da ONU contra o comércio ilícito de minerais preciosos - financiando a violência.
Nem a R2P é convocada a responder à fome generalizada nos países pobres.
Há muitos anos, a UNICEF relatou que 16 mil crianças morrem a cada dia por falta de comida, e muitas mais por doenças facilmente evitáveis. Os números são mais altos agora. Somente no sul da África, o nível de mortes é do nível de Ruanda, não em 100 dias, mas todos os dias. Uma ação sob a R2P seria bastante fácil, se houvesse a disposição.
Nestes e em muitos outros casos a seletividade está de acordo com a máxima de Tucídides e com as expectativas da C.I.J. 60 anos atrás.
Mas as máximas que orientam, em grande parte, as relações internacionais não são imutáveis e, de fato, se tornaram menos hostis ao longo dos anos como resultado do efeito civilizador dos movimentos populares.
Para tal reforma progressiva, a R2P pode ser uma ferramenta valiosa, tanto quanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos tem sido.
Mesmo que certos estados não respeitem a Declaração Universal, e alguns rejeitem formalmente grande parte dela (incluindo, crucialmente, o estado mais poderoso do mundo), apesar de tudo, ela serve como um ideal ao qual ativistas podem apelar em esforços educacionais e organizacionais, geralmente de forma efetiva.
A discussão da R2P pode ser parecida. Com comprometimento suficiente, infelizmente não detectável ainda entre os poderosos, ela poderia ser, de fato, significativa.
Fonte: http://terramagazine.terra.com.br/
sexta-feira, 31 de julho de 2009
As opções muito limitadas de Obama - Por Immanuel Wallerstein
As opções muito limitadas de Obama
Obama tem sofrido pressões consideráveis, principalmente das forças conservadoras dentro dos Estados Unidos, para assumir uma posição "mais dura" sobre as eleições iranianas e em outros temas. O que pode um presidente fazer? Refugiar-se na famosa citação de John F. Kennedy, uma citação que Obama fez mais que uma vez: "Não devemos nunca negociar por medo, mas nunca devemos ter medo de negociar." Isto não quer dizer que o presidente dos EUA seja impotente. Significa apenas que o melhor que pode fazer é negociar, ao mesmo tempo que se esquiva das críticas em casa. A análise é de Immanuel Wallerstein.
Immanuel Wallerstein - Esquerda.Net
Data: 30/07/2009
Durante as últimas semanas, a atenção mundial esteve concentrada no Irã, onde houve um enorme conflito sobre as contestadas eleições presidenciais. Parece agora bastante claro que Mahmoud Ahmadinejad tomará posse como o próximo presidente do Irão com o pleno apoio do ayatollah Ali Khamenei. O presidente Barack Obama tem sofrido pressões consideráveis, principalmente das forças conservadoras dentro dos Estados Unidos, para assumir uma posição "mais dura" sobre as eleições iranianas.
Ao mesmo tempo, ao que parece, ele tem recebido conselhos opostos de Pequim. M.K. Bhadrakumar (1) disse que Pequim alertou para a possibilidade de "deixar o génio da mobilização popular sair da garrafa, numa região altamente volátil que está à espera de explodir." O mau exemplo de Pequim é a Tailândia, um país que não é dos mais importantes para a maioria dos comentadores e políticos americanos.
Seja como for, não é de todo claro o que quer dizer assumir uma posição "mais dura", mas parece evidente que Obama foi cauteloso nas suas declarações públicas. Vejam o que tem ocorrido neste mesmo período. Em 24 de Julho, a Casa Branca anunciou que se prepara para reenviar um embaixador para a Síria, desfazendo uma decisão de há quatro anos do presidente Bush. E, em 25 de Junho, o presidente Hugo Chávez da Venezuela anunciou que o seu país e os Estados Unidos vão reenviar os seus embaixadores, os mesmo que tinham sido declarados persona non grata nos últimos dias da administração Bush.
Há quem se pergunte o que sentiu Obama quando leu as transcrições das gravações do presidente Nixon, que foram tornadas públicas a 23 de Junho. Entre outras coisas, estas fitas revelam uma conversa que Nixon teve com o secretário de Estado Henry Kissinger em 20 de Janeiro de 1973, sobre um acordo que os Estados Unidos estavam à beira de concluir com o governo do Vietnã do Norte. Nixon e Kissinger viam-no como um acordo para salvar a face, que permitiria aos Estados Unidos uma retirada "com honra" da guerra, sabendo que, depois de uma "pausa decente", o acordo resultaria numa vitória militar do Viet Minh.
Eles tinham um pequeno problema. Havia resistências ao acordo, por motivos óbvios, do presidente Nguyen Van Thieu, do Vietnã do Sul. A discussão Nixon-Kissinger era sobre como lidar com este problema. Kissinger disse que o problema era se Thieu "vai deixar-nos assinar" o acordo. Nixon disse: "Deixar-nos... ha ha". Nixon prosseguiu dizendo que Kissinger tinha de dizer a Thieu que os EUA "cortariam as verbas de assistência" se ele se recusasse a alinhar. Continuou: "Não sei se a ameaça vai muito longe ou não, mas eu não faria nada... cortaria a cabeça dele, se necessário."
A única coisa que Obama sabe é que já não é realmente possível para o presidente dos Estados Unidos cortar a cabeça de ninguém, inimigo ou aliado, que o desafie. Já em Julho de 2007, Obama mostrou compreensão desta nova realidade, quando respondeu a uma entrevista durante a campanha presidencial. A questão era: "Está disposto a encontrar-se separadamente, sem pré-condições, durante o primeiro ano da sua administração, em Washington ou qualquer outro lugar, com os líderes do Irã, Síria, Venezuela, Cuba e Coreia do Norte?" Resposta: "Estou." Foi atacado imediatamente pela sua rival democrata nas primárias, Hillary Clinton, que o acusou de "ingenuidade". Agora é Hillary Clinton, como secretária de Estado de Obama, que está a cumprir o compromisso.
A verdade é que Obama não tem muita escolha. Não parece haver formas práticas que lhe permitam "cortar a cabeça" de Ahmadinejad, Chávez, Assad, Castro ou Kim Jong-Il. E não são só estas as cabeças que ele não pode cortar. Não pode afastar o primeiro-ministro de Israel, Nethanyau, do cargo. Também não pode fazer o Hamas desaparecer de Gaza. Sarkozy, Merkel, Putin, e Hu Jintao parecem todos bastante seguros nas suas posições. A verdade é que Obama vai em breve descobrir, se não o fez já, que não há muito que possa fazer em relação ao primeiro-ministro Nouri al-Maliki do Iraque, apesar de ser provável que al-Maliki se distancie cada vez mais da política dos EUA.
Que pode então um pobre presidente fazer? Refugiar-se na famosa citação do presidente John F. Kennedy, uma citação que Obama fez mais que uma vez: "Não devemos nunca negociar por medo, mas nunca devemos ter medo de negociar." Isto não quer dizer que o presidente dos Estados Unidos seja impotente. Significa apenas que o melhor que pode fazer é negociar, ao mesmo tempo que se esquiva das críticas em casa.
No fundo, Obama partilha a preocupação de Pequim - não deixar o gênio da mobilização popular sair da garrafa, porque o mundo de hoje é altamente "volátil" - e nenhum governo pode estar seguro do que vai acontecer. Governos, de todos os gêneros, podem fazer concessões a mobilizações populares. Mas governos, de todos os gêneros, não estão realmente dispostos a submeter as suas políticas e o seu poder às reivindicações populares.
Tradução de Luis Leiria (Esquerda.net)
(1) M K Bhadrakumar: diplomata de carreira do ministério dos Negócios Estrangeiros da Índia por mais de 29 anos, com cargos como embaixador no Uzbequistão (1995-98) e na Turquia (1998-2001). Atualmente escreve em diversos jornais.
Fonte: Agência Carta Maior
Obama tem sofrido pressões consideráveis, principalmente das forças conservadoras dentro dos Estados Unidos, para assumir uma posição "mais dura" sobre as eleições iranianas e em outros temas. O que pode um presidente fazer? Refugiar-se na famosa citação de John F. Kennedy, uma citação que Obama fez mais que uma vez: "Não devemos nunca negociar por medo, mas nunca devemos ter medo de negociar." Isto não quer dizer que o presidente dos EUA seja impotente. Significa apenas que o melhor que pode fazer é negociar, ao mesmo tempo que se esquiva das críticas em casa. A análise é de Immanuel Wallerstein.
Immanuel Wallerstein - Esquerda.Net
Data: 30/07/2009
Durante as últimas semanas, a atenção mundial esteve concentrada no Irã, onde houve um enorme conflito sobre as contestadas eleições presidenciais. Parece agora bastante claro que Mahmoud Ahmadinejad tomará posse como o próximo presidente do Irão com o pleno apoio do ayatollah Ali Khamenei. O presidente Barack Obama tem sofrido pressões consideráveis, principalmente das forças conservadoras dentro dos Estados Unidos, para assumir uma posição "mais dura" sobre as eleições iranianas.
Ao mesmo tempo, ao que parece, ele tem recebido conselhos opostos de Pequim. M.K. Bhadrakumar (1) disse que Pequim alertou para a possibilidade de "deixar o génio da mobilização popular sair da garrafa, numa região altamente volátil que está à espera de explodir." O mau exemplo de Pequim é a Tailândia, um país que não é dos mais importantes para a maioria dos comentadores e políticos americanos.
Seja como for, não é de todo claro o que quer dizer assumir uma posição "mais dura", mas parece evidente que Obama foi cauteloso nas suas declarações públicas. Vejam o que tem ocorrido neste mesmo período. Em 24 de Julho, a Casa Branca anunciou que se prepara para reenviar um embaixador para a Síria, desfazendo uma decisão de há quatro anos do presidente Bush. E, em 25 de Junho, o presidente Hugo Chávez da Venezuela anunciou que o seu país e os Estados Unidos vão reenviar os seus embaixadores, os mesmo que tinham sido declarados persona non grata nos últimos dias da administração Bush.
Há quem se pergunte o que sentiu Obama quando leu as transcrições das gravações do presidente Nixon, que foram tornadas públicas a 23 de Junho. Entre outras coisas, estas fitas revelam uma conversa que Nixon teve com o secretário de Estado Henry Kissinger em 20 de Janeiro de 1973, sobre um acordo que os Estados Unidos estavam à beira de concluir com o governo do Vietnã do Norte. Nixon e Kissinger viam-no como um acordo para salvar a face, que permitiria aos Estados Unidos uma retirada "com honra" da guerra, sabendo que, depois de uma "pausa decente", o acordo resultaria numa vitória militar do Viet Minh.
Eles tinham um pequeno problema. Havia resistências ao acordo, por motivos óbvios, do presidente Nguyen Van Thieu, do Vietnã do Sul. A discussão Nixon-Kissinger era sobre como lidar com este problema. Kissinger disse que o problema era se Thieu "vai deixar-nos assinar" o acordo. Nixon disse: "Deixar-nos... ha ha". Nixon prosseguiu dizendo que Kissinger tinha de dizer a Thieu que os EUA "cortariam as verbas de assistência" se ele se recusasse a alinhar. Continuou: "Não sei se a ameaça vai muito longe ou não, mas eu não faria nada... cortaria a cabeça dele, se necessário."
A única coisa que Obama sabe é que já não é realmente possível para o presidente dos Estados Unidos cortar a cabeça de ninguém, inimigo ou aliado, que o desafie. Já em Julho de 2007, Obama mostrou compreensão desta nova realidade, quando respondeu a uma entrevista durante a campanha presidencial. A questão era: "Está disposto a encontrar-se separadamente, sem pré-condições, durante o primeiro ano da sua administração, em Washington ou qualquer outro lugar, com os líderes do Irã, Síria, Venezuela, Cuba e Coreia do Norte?" Resposta: "Estou." Foi atacado imediatamente pela sua rival democrata nas primárias, Hillary Clinton, que o acusou de "ingenuidade". Agora é Hillary Clinton, como secretária de Estado de Obama, que está a cumprir o compromisso.
A verdade é que Obama não tem muita escolha. Não parece haver formas práticas que lhe permitam "cortar a cabeça" de Ahmadinejad, Chávez, Assad, Castro ou Kim Jong-Il. E não são só estas as cabeças que ele não pode cortar. Não pode afastar o primeiro-ministro de Israel, Nethanyau, do cargo. Também não pode fazer o Hamas desaparecer de Gaza. Sarkozy, Merkel, Putin, e Hu Jintao parecem todos bastante seguros nas suas posições. A verdade é que Obama vai em breve descobrir, se não o fez já, que não há muito que possa fazer em relação ao primeiro-ministro Nouri al-Maliki do Iraque, apesar de ser provável que al-Maliki se distancie cada vez mais da política dos EUA.
Que pode então um pobre presidente fazer? Refugiar-se na famosa citação do presidente John F. Kennedy, uma citação que Obama fez mais que uma vez: "Não devemos nunca negociar por medo, mas nunca devemos ter medo de negociar." Isto não quer dizer que o presidente dos Estados Unidos seja impotente. Significa apenas que o melhor que pode fazer é negociar, ao mesmo tempo que se esquiva das críticas em casa.
No fundo, Obama partilha a preocupação de Pequim - não deixar o gênio da mobilização popular sair da garrafa, porque o mundo de hoje é altamente "volátil" - e nenhum governo pode estar seguro do que vai acontecer. Governos, de todos os gêneros, podem fazer concessões a mobilizações populares. Mas governos, de todos os gêneros, não estão realmente dispostos a submeter as suas políticas e o seu poder às reivindicações populares.
Tradução de Luis Leiria (Esquerda.net)
(1) M K Bhadrakumar: diplomata de carreira do ministério dos Negócios Estrangeiros da Índia por mais de 29 anos, com cargos como embaixador no Uzbequistão (1995-98) e na Turquia (1998-2001). Atualmente escreve em diversos jornais.
Fonte: Agência Carta Maior
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Qual a relevância dos jornalões?
Qual a relevância dos jornalões?
Por Venício A. de Lima em 28/7/2009
A atual conjuntura política, marcada pela crise no Senado Federal e pelas suspeitas em relação à administração da Petrobras, recoloca em pauta uma velha questão sobre o alcance e a influência dos jornalões da grande mídia: a Folha de S.Paulo, o Estado de S.Paulo e O Globo: merecem eles a importância que a elite política e os "intelectuais" lhes atribuem na formação da opinião pública brasileira, vis à vis, por exemplo, a televisão e/ou a internet?
Há alguns anos, muito antes da expansão da internet, venho insistindo que não (ver, por exemplo, "Jornal ou TV: qual mídia é mais importante na formação da opinião pública brasileira?" in Comunicação, Mídia e Consumo, vol. 2, nº 3, março de 2005). Não merecer a importância que se atribui a eles não significa que devam ser ignorados. Absolutamente. Significa, ao contrário, não se atribuir a eles uma relevância nacional que, se algum dia tiveram, não têm mais.
A apresentação deste argumento, todavia, mesmo diante de várias evidências, inclusive sobre a penetração da internet e a relativa democratização do seu acesso, é frequentemente rechaçada por diferentes interlocutores que acreditam ser ainda os jornalões e seus colunistas os principais responsáveis pela definição da agenda pública nacional.
O tema é complexo e, claro, não se pretende esgotá-lo e, muito menos, resolvê-lo. Apenas aceitar o desafio de continuar o debate.
Dois aspectos do argumento
Não vou retomar aqui todos os aspectos do argumento. Os dados relativos à queda de circulação dos jornalões são por demais conhecidos. Da mesma forma, já se discutiu muito sobre o "aproveitamento", por emissoras de rádio e televisão, via agências de notícias, das matérias produzidas pelos jornalões. Creio que não há dúvida também sobre as importantes questões que surgiram recentemente quanto à credibilidade dos jornalões. Não pretendo, portanto, retomar esses pontos. Quero apenas lembrar dois aspectos.
Primeiro, o caráter regional dos jornalões. O Globo é, sobretudo, um jornal carioca, da mesma forma que a Folha e o Estadão são jornais paulistas. Eles não são jornais que circulam e/ou são lidos nacionalmente.
O segundo aspecto é, na verdade, um desdobramento do primeiro e merece ser explorado um pouco mais. Para quem exatamente os jornalões estão falando?
Uma das linhas de pesquisa sobre "a produção das notícias" (newsmaking) que se consolidou dentro do campo de estudo da Comunicação, nos últimos anos, busca relacionar a imagem da realidade social construída na e pela mídia aos valores partilhados e interiorizados pelos jornalistas acerca de como devem exercer sua profissão.
Há evidencias de que, na seleção das matérias a serem noticiadas, predominam as referências implícitas ao grupo de colegas e às fontes em relação às referências implícitas ao próprio público, isto é, às audiências e/ou aos leitores. Isto significa que, enquanto o público em geral é pouco conhecido pelos jornalistas, o contexto profissional-organizativo-burocrático imediato exerce uma influência decisiva na seleção do que vai ser noticiado. Vale dizer, a origem principal das expectativas, orientações e valores profissionais dos jornalistas não é o "público" para o qual eles e elas deveriam escrever, mas o "grupo de referência" constituído, sobretudo, por colegas e fontes.
Na verdade, as fontes com as quais os jornalistas "conversam" regularmente constituem um público fundamental para suas próprias notícias. Jornalistas recebem muito mais "reações" sobre suas matérias, coberturas, reportagens e análises de suas próprias fontes do que de qualquer outro grupo social. Eles estão permanentemente em contato com suas fontes e delas recebem cumprimentos, correções, reclamações, afrontas, negativas de acesso, cassação de credenciais etc.
Verifica-se, portanto, que, como afirmou Bernardo Kucinski, "a elite dominante é, ao mesmo tempo, a fonte, a protagonista e a leitora das notícias; uma circularidade que exclui a massa da população da dimensão escrita do espaço público". Ora, essa constatação é verdadeira para todo o território nacional. Desta forma, além de não ser nacional, os jornalões são excludentes porque lidos, sobretudo, apenas pela elite brasileira – seja ela nacional, regional ou local.
E as conseqüências?
A prática profissional do jornalismo, não só nos jornalões, cria uma relação circular entre jornalista-fonte-jornalista que se auto-alimenta permanentemente. E essa relação circular jornalista-fonte-jornalista tende a se tornar assimétrica, enfraquecendo a fonte e fortalecendo os jornalistas. Enfraquece a fonte na medida em que, para tornar públicas as informações de seu interesse, ela fica "cativa" de um pequeno grupo de jornalistas. Por outro lado, fortalece os jornalistas (a) por eles terem o privilégio do acesso contínuo a fontes "autorizadas" e "acreditadas"; (b) por terem a opção de selecionar, omitir, enfatizar e distorcer informações; e, ainda, (c) por "operarem" protegidos e no interesse dos grupos de mídia no qual trabalham.
Parece correto afirmar, portanto, que os jornalões e seus jornalistas funcionam dentro de uma circularidade restrita a camadas específicas da elite política e "intelectual" brasileira. Nada mais do que isso.
Registre-se que a supervalorização indevida do poder dos jornalões, muitas vezes, provoca uma avaliação equivocada de qual realmente é a "opinião pública" majoritária no país e, consequentemente, pode conduzir a equívocos importantes, inclusive na formulação de políticas públicas por parte de setores do poder público.
Resta saber qual o poder concreto que esta elite política e "intelectual" exerce na vida política nacional. Nos processos eleitorais, se a eleição presidencial de 2006 servir como exemplo, as diversas "esferas públicas" que coexistem e funcionam na sociedade brasileira, fora do alcance dos jornalões, revelaram uma relativa autonomia.
Será que funciona também assim nos outros inúmeros aspectos da vida cotidiana? Essa é a questão.
Fonte:http://blogentrelinhas.blogspot.com/
Por Venício A. de Lima em 28/7/2009
A atual conjuntura política, marcada pela crise no Senado Federal e pelas suspeitas em relação à administração da Petrobras, recoloca em pauta uma velha questão sobre o alcance e a influência dos jornalões da grande mídia: a Folha de S.Paulo, o Estado de S.Paulo e O Globo: merecem eles a importância que a elite política e os "intelectuais" lhes atribuem na formação da opinião pública brasileira, vis à vis, por exemplo, a televisão e/ou a internet?
Há alguns anos, muito antes da expansão da internet, venho insistindo que não (ver, por exemplo, "Jornal ou TV: qual mídia é mais importante na formação da opinião pública brasileira?" in Comunicação, Mídia e Consumo, vol. 2, nº 3, março de 2005). Não merecer a importância que se atribui a eles não significa que devam ser ignorados. Absolutamente. Significa, ao contrário, não se atribuir a eles uma relevância nacional que, se algum dia tiveram, não têm mais.
A apresentação deste argumento, todavia, mesmo diante de várias evidências, inclusive sobre a penetração da internet e a relativa democratização do seu acesso, é frequentemente rechaçada por diferentes interlocutores que acreditam ser ainda os jornalões e seus colunistas os principais responsáveis pela definição da agenda pública nacional.
O tema é complexo e, claro, não se pretende esgotá-lo e, muito menos, resolvê-lo. Apenas aceitar o desafio de continuar o debate.
Dois aspectos do argumento
Não vou retomar aqui todos os aspectos do argumento. Os dados relativos à queda de circulação dos jornalões são por demais conhecidos. Da mesma forma, já se discutiu muito sobre o "aproveitamento", por emissoras de rádio e televisão, via agências de notícias, das matérias produzidas pelos jornalões. Creio que não há dúvida também sobre as importantes questões que surgiram recentemente quanto à credibilidade dos jornalões. Não pretendo, portanto, retomar esses pontos. Quero apenas lembrar dois aspectos.
Primeiro, o caráter regional dos jornalões. O Globo é, sobretudo, um jornal carioca, da mesma forma que a Folha e o Estadão são jornais paulistas. Eles não são jornais que circulam e/ou são lidos nacionalmente.
O segundo aspecto é, na verdade, um desdobramento do primeiro e merece ser explorado um pouco mais. Para quem exatamente os jornalões estão falando?
Uma das linhas de pesquisa sobre "a produção das notícias" (newsmaking) que se consolidou dentro do campo de estudo da Comunicação, nos últimos anos, busca relacionar a imagem da realidade social construída na e pela mídia aos valores partilhados e interiorizados pelos jornalistas acerca de como devem exercer sua profissão.
Há evidencias de que, na seleção das matérias a serem noticiadas, predominam as referências implícitas ao grupo de colegas e às fontes em relação às referências implícitas ao próprio público, isto é, às audiências e/ou aos leitores. Isto significa que, enquanto o público em geral é pouco conhecido pelos jornalistas, o contexto profissional-organizativo-burocrático imediato exerce uma influência decisiva na seleção do que vai ser noticiado. Vale dizer, a origem principal das expectativas, orientações e valores profissionais dos jornalistas não é o "público" para o qual eles e elas deveriam escrever, mas o "grupo de referência" constituído, sobretudo, por colegas e fontes.
Na verdade, as fontes com as quais os jornalistas "conversam" regularmente constituem um público fundamental para suas próprias notícias. Jornalistas recebem muito mais "reações" sobre suas matérias, coberturas, reportagens e análises de suas próprias fontes do que de qualquer outro grupo social. Eles estão permanentemente em contato com suas fontes e delas recebem cumprimentos, correções, reclamações, afrontas, negativas de acesso, cassação de credenciais etc.
Verifica-se, portanto, que, como afirmou Bernardo Kucinski, "a elite dominante é, ao mesmo tempo, a fonte, a protagonista e a leitora das notícias; uma circularidade que exclui a massa da população da dimensão escrita do espaço público". Ora, essa constatação é verdadeira para todo o território nacional. Desta forma, além de não ser nacional, os jornalões são excludentes porque lidos, sobretudo, apenas pela elite brasileira – seja ela nacional, regional ou local.
E as conseqüências?
A prática profissional do jornalismo, não só nos jornalões, cria uma relação circular entre jornalista-fonte-jornalista que se auto-alimenta permanentemente. E essa relação circular jornalista-fonte-jornalista tende a se tornar assimétrica, enfraquecendo a fonte e fortalecendo os jornalistas. Enfraquece a fonte na medida em que, para tornar públicas as informações de seu interesse, ela fica "cativa" de um pequeno grupo de jornalistas. Por outro lado, fortalece os jornalistas (a) por eles terem o privilégio do acesso contínuo a fontes "autorizadas" e "acreditadas"; (b) por terem a opção de selecionar, omitir, enfatizar e distorcer informações; e, ainda, (c) por "operarem" protegidos e no interesse dos grupos de mídia no qual trabalham.
Parece correto afirmar, portanto, que os jornalões e seus jornalistas funcionam dentro de uma circularidade restrita a camadas específicas da elite política e "intelectual" brasileira. Nada mais do que isso.
Registre-se que a supervalorização indevida do poder dos jornalões, muitas vezes, provoca uma avaliação equivocada de qual realmente é a "opinião pública" majoritária no país e, consequentemente, pode conduzir a equívocos importantes, inclusive na formulação de políticas públicas por parte de setores do poder público.
Resta saber qual o poder concreto que esta elite política e "intelectual" exerce na vida política nacional. Nos processos eleitorais, se a eleição presidencial de 2006 servir como exemplo, as diversas "esferas públicas" que coexistem e funcionam na sociedade brasileira, fora do alcance dos jornalões, revelaram uma relativa autonomia.
Será que funciona também assim nos outros inúmeros aspectos da vida cotidiana? Essa é a questão.
Fonte:http://blogentrelinhas.blogspot.com/
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Não esqueçamos o assassinato de Natalia Estemirova! - Por André Glucksmann
Não esqueçamos o assassinato de Natalia Estemirova!
André Glucksmann*
Vocês sabem tudo. Há muito tempo. Não há nenhum mistério. Natalia Estemirova foi eliminada porque ela combatia a mentira e a obscuridade do Estado, porque ela falava demais, porque ela investigava com muita precisão, porque ela acusava os mandatários dos crimes cotidianos na Chechênia, o ditador Kadyrov, os serviços secretos do exército russo, as diversas máfias que agem livremente, e seus chefes no Kremlin. As capturas extrajudiciais executadas por homens encapuzados, as casas de civis incendiadas em "punição", às vezes com seus moradores deliberadamente presos dentro delas, as tomadas de reféns que os serviços públicos devolvem com vida ou em pedaços em troca de dólares, as mulheres violentadas diante de seus maridos.
Vocês sabem tudo. Nenhuma novidade no martírio checheno desde a primeira guerra desencadeada por Moscou em 1994. Nenhuma novidade, além do fato de que a vitória russa foi declarada, que reina a paz putiniana, e que o terror continua.
Nenhuma novidade. Diante do cadáver de Natalia Estemirova, encontro desesperadamente as mesmas palavras e os mesmos pensamentos, as mesmas emoções e as mesmas lágrimas que tive na morte de minha amiga Anna Politkovskaia. Que me apresentou sua amiga, pedindo que a apoiasse para o prêmio Sakharov (ela recebeu a medalha Schuman). Elas se conheciam desde a primeira guerra, tendo ambas partido, intrépidas, em busca da verdade sobre um massacre de longa duração, que eliminou um em cada cinco civis. Ambas, cassandras de nossos tempos, falavam para as paredes, prevendo que o caos se estenderia ao Cáucaso (o que aconteceu), e que os acertos de contas mafiosos e oficiais ganhariam a própria Rússia (o que aconteceu).
A Chechênia? Um império minúsculo, mas um caso clássico para a humanidade: um milhão de habitantes antes da guerra, 200 mil mortos, 40 mil crianças mortas (e quantos órfãos?), uma capital devastada, cidades e vilarejos reduzidos a cinzas. E depois? A educação pelo medo e pela corrupção, ou como calar o povo. Não somente os chechenos, mas os russos e se possível nós, pacíficos cidadãos das nações democráticas. As fachadas reluzentes dos imóveis reconstruídos em Grozny mentem.
Nenhuma novidade no oeste; do lado da Europa tranquila e ainda próspera, já estão acostumados. A leste, os assassinatos se sucedem, se parecem e causam em nós algumas indignações logo esquecidas. É claro, não declararemos guerra - ainda que fria - contra a grande Rússia, então voltemos logo às atividades normais. Esse tipo de conduta de evasão provoca há muito tempo a zombaria da dupla que dirige o Kremlin, que não se constrange de caricaturar publicamente nossos representantes, e suscita a ironia entristecida dos dissidentes que compartilham de nosso gosto pela liberdade e democracia.
Serguei Kovaliev, o amigo de Sakharov, pergunta para quê servem os diplomatas e as chancelarias se a única alternativa é ou a guerra, ou uma complacência definitiva com o domínio das máfias e do despotismo? Para quê servem os ministros das Relações Exteriores se eles se mostram incapazes de planejar pressões econômicas, culturais ou diplomáticas que possam civilizar os tantos preocupantes vizinhos em nossas fronteiras?
No entanto, há uma novidade. Após o assassinato ainda não solucionado de Anna Politkovskaia, Ramzam Kadyrov, protegido de Putin suspeito de ser mandatário do crime, mandou erguer na capital um epitáfio de mármore negro em homenagem aos jornalistas e combatentes dos direitos humanos "assassinados por sua liberdade de expressão". Não, vocês não estão sonhando.
Após o assassinato de Natalia Estemirova, ele tornou pública sua indignação e se colocou como chefe de uma investigação para punir os culpados. Medvedev também. O ápice dessa piada foi atingido em Berlim: Angela Merkel pediu uma investigação, Medvedev prometeu uma, e depois a chanceler alemã e o presidente russo se abraçaram, prometendo um ao outro uma amizade industrial indestrutível. Belo festival de contratos fabulosos, somente dois dias após a descoberta de Natalia, com duas balas na nunca, à beira de uma estrada.
Kadyrov sabe punir, e até gosta disso, é o que dizem. Punir quem? Seu primeiro "ato de justiça" diz muito sobre isso: ele está processando Oleg Orlov, fundador do Memorial [organização de direitos humanos] junto com Sakharov e companheiro de luta de Natalia Estemirova. Sim, Medvedev, o clone "bonzinho" de Putin, vai conduzir uma investigação para persuadir o mundo inteiro. Ele encontrou os assassinos de Anna? Ou os de Stanislav Markelov e de Anastasia Barburova? Ou os da multidão de anônimos? Ele entregou à Grã-Bretanha o assassino de Alexandre Litvinenko? Não! Ele comparece à Duma e faz zombarias na televisão. Ele jura que fará o impossível; ele, que acaba de promover a caça aos "antipatriotas", ou seja, aqueles que estudam os crimes de Stálin durante a Segunda Guerra Mundial, antes e depois.
Orwell revelou a novilíngua moderna: "Guerra é paz, escravidão é liberdade". Ele mostrava esses paradoxos particulares da propaganda totalitária. Progresso estranho: as democracias agora se empenham para não ficarem para trás de uma hipocrisia.
Em 17 de julho, uma caminhonete amarela transportou o corpo de Natalia, cercada de seus amigos, os melhores, os mais corajosos e os mais audaciosos de Grozny. Ela subiu lentamente a avenida Putin, a "Champs-Elysées" da capital, reconstruída e batizada com o nome de seu carrasco. Essa "avenida Putin" onde Natacha nunca andou quando estava viva, rejeitando a injúria cínica feita a seu povo dizimado, forçado a uma completa humilhação.
Em Moscou, prestando homenagem a Natacha, nova mártir da verdade, ao lado das mentes inconformistas do Memorial, estava a incansável Ludmila Alexeyevna, 82, figura da dissidência antissoviética. Em Paris, durante uma breve cerimônia na fonte Saint-Michel, abracei Natalia Gorbanevskaia, a poeta que protestou, com seu bebê nos braços, na praça Vermelha em agosto de 1968, contra os tanques russos que esmagavam uma Praga insurgente. Ela fora enviada a um hospital psiquiátrico.
Inabaláveis mulheres de fibra, vocês são mais determinadas do que toda essa selvageria, mais fortes que nossos retraimentos. Vocês conhecem o orgulho dos povos caucasianos, a dignidade da cultura russa que sempre foi de resistência, e se nossa humanidade tem um rosto, é o de vocês. Anna e Natacha, obrigado.
*André Glucksmann é filósofo.
Tradução: Lana Lim
Fonte: ANA
André Glucksmann*
Vocês sabem tudo. Há muito tempo. Não há nenhum mistério. Natalia Estemirova foi eliminada porque ela combatia a mentira e a obscuridade do Estado, porque ela falava demais, porque ela investigava com muita precisão, porque ela acusava os mandatários dos crimes cotidianos na Chechênia, o ditador Kadyrov, os serviços secretos do exército russo, as diversas máfias que agem livremente, e seus chefes no Kremlin. As capturas extrajudiciais executadas por homens encapuzados, as casas de civis incendiadas em "punição", às vezes com seus moradores deliberadamente presos dentro delas, as tomadas de reféns que os serviços públicos devolvem com vida ou em pedaços em troca de dólares, as mulheres violentadas diante de seus maridos.
Vocês sabem tudo. Nenhuma novidade no martírio checheno desde a primeira guerra desencadeada por Moscou em 1994. Nenhuma novidade, além do fato de que a vitória russa foi declarada, que reina a paz putiniana, e que o terror continua.
Nenhuma novidade. Diante do cadáver de Natalia Estemirova, encontro desesperadamente as mesmas palavras e os mesmos pensamentos, as mesmas emoções e as mesmas lágrimas que tive na morte de minha amiga Anna Politkovskaia. Que me apresentou sua amiga, pedindo que a apoiasse para o prêmio Sakharov (ela recebeu a medalha Schuman). Elas se conheciam desde a primeira guerra, tendo ambas partido, intrépidas, em busca da verdade sobre um massacre de longa duração, que eliminou um em cada cinco civis. Ambas, cassandras de nossos tempos, falavam para as paredes, prevendo que o caos se estenderia ao Cáucaso (o que aconteceu), e que os acertos de contas mafiosos e oficiais ganhariam a própria Rússia (o que aconteceu).
A Chechênia? Um império minúsculo, mas um caso clássico para a humanidade: um milhão de habitantes antes da guerra, 200 mil mortos, 40 mil crianças mortas (e quantos órfãos?), uma capital devastada, cidades e vilarejos reduzidos a cinzas. E depois? A educação pelo medo e pela corrupção, ou como calar o povo. Não somente os chechenos, mas os russos e se possível nós, pacíficos cidadãos das nações democráticas. As fachadas reluzentes dos imóveis reconstruídos em Grozny mentem.
Nenhuma novidade no oeste; do lado da Europa tranquila e ainda próspera, já estão acostumados. A leste, os assassinatos se sucedem, se parecem e causam em nós algumas indignações logo esquecidas. É claro, não declararemos guerra - ainda que fria - contra a grande Rússia, então voltemos logo às atividades normais. Esse tipo de conduta de evasão provoca há muito tempo a zombaria da dupla que dirige o Kremlin, que não se constrange de caricaturar publicamente nossos representantes, e suscita a ironia entristecida dos dissidentes que compartilham de nosso gosto pela liberdade e democracia.
Serguei Kovaliev, o amigo de Sakharov, pergunta para quê servem os diplomatas e as chancelarias se a única alternativa é ou a guerra, ou uma complacência definitiva com o domínio das máfias e do despotismo? Para quê servem os ministros das Relações Exteriores se eles se mostram incapazes de planejar pressões econômicas, culturais ou diplomáticas que possam civilizar os tantos preocupantes vizinhos em nossas fronteiras?
No entanto, há uma novidade. Após o assassinato ainda não solucionado de Anna Politkovskaia, Ramzam Kadyrov, protegido de Putin suspeito de ser mandatário do crime, mandou erguer na capital um epitáfio de mármore negro em homenagem aos jornalistas e combatentes dos direitos humanos "assassinados por sua liberdade de expressão". Não, vocês não estão sonhando.
Após o assassinato de Natalia Estemirova, ele tornou pública sua indignação e se colocou como chefe de uma investigação para punir os culpados. Medvedev também. O ápice dessa piada foi atingido em Berlim: Angela Merkel pediu uma investigação, Medvedev prometeu uma, e depois a chanceler alemã e o presidente russo se abraçaram, prometendo um ao outro uma amizade industrial indestrutível. Belo festival de contratos fabulosos, somente dois dias após a descoberta de Natalia, com duas balas na nunca, à beira de uma estrada.
Kadyrov sabe punir, e até gosta disso, é o que dizem. Punir quem? Seu primeiro "ato de justiça" diz muito sobre isso: ele está processando Oleg Orlov, fundador do Memorial [organização de direitos humanos] junto com Sakharov e companheiro de luta de Natalia Estemirova. Sim, Medvedev, o clone "bonzinho" de Putin, vai conduzir uma investigação para persuadir o mundo inteiro. Ele encontrou os assassinos de Anna? Ou os de Stanislav Markelov e de Anastasia Barburova? Ou os da multidão de anônimos? Ele entregou à Grã-Bretanha o assassino de Alexandre Litvinenko? Não! Ele comparece à Duma e faz zombarias na televisão. Ele jura que fará o impossível; ele, que acaba de promover a caça aos "antipatriotas", ou seja, aqueles que estudam os crimes de Stálin durante a Segunda Guerra Mundial, antes e depois.
Orwell revelou a novilíngua moderna: "Guerra é paz, escravidão é liberdade". Ele mostrava esses paradoxos particulares da propaganda totalitária. Progresso estranho: as democracias agora se empenham para não ficarem para trás de uma hipocrisia.
Em 17 de julho, uma caminhonete amarela transportou o corpo de Natalia, cercada de seus amigos, os melhores, os mais corajosos e os mais audaciosos de Grozny. Ela subiu lentamente a avenida Putin, a "Champs-Elysées" da capital, reconstruída e batizada com o nome de seu carrasco. Essa "avenida Putin" onde Natacha nunca andou quando estava viva, rejeitando a injúria cínica feita a seu povo dizimado, forçado a uma completa humilhação.
Em Moscou, prestando homenagem a Natacha, nova mártir da verdade, ao lado das mentes inconformistas do Memorial, estava a incansável Ludmila Alexeyevna, 82, figura da dissidência antissoviética. Em Paris, durante uma breve cerimônia na fonte Saint-Michel, abracei Natalia Gorbanevskaia, a poeta que protestou, com seu bebê nos braços, na praça Vermelha em agosto de 1968, contra os tanques russos que esmagavam uma Praga insurgente. Ela fora enviada a um hospital psiquiátrico.
Inabaláveis mulheres de fibra, vocês são mais determinadas do que toda essa selvageria, mais fortes que nossos retraimentos. Vocês conhecem o orgulho dos povos caucasianos, a dignidade da cultura russa que sempre foi de resistência, e se nossa humanidade tem um rosto, é o de vocês. Anna e Natacha, obrigado.
*André Glucksmann é filósofo.
Tradução: Lana Lim
Fonte: ANA
Dave Mahoney é sentenciado a 90 dias de prisão.... Por ANA
Dave Mahoney é sentenciado a 90 dias de prisão, mas ele deve cumprir 56 dias da sentença
O anarquista Dave Mahoney – “a criança cartaz do RNC” do promotor Richard Dusterhoft – foi sentenciado na semana passada a 90 dias de prisão pela juíza Paulette Flynn no Tribunal de Justiça do condado de Ramsey. Com quatro dias de crédito por tempo servido somado ao bom comportamento, Mahoney provavelmente cumprirá 56 dias da sentença, fazendo com que seu último dia na prisão seja em 2 de setembro – aniversário de um ano da Marcha das Pessoas Pobres na Convenção Nacional Republicana (RNC) em St. Paul e dois dias antes do aniversário de sua detenção.
Mahoney foi preso pelo FBI e acusado de promover assaltos em segundo grau e ameaças terroristas durante os protestos contra a Convenção Nacional Republicana (RNC), em setembro de 2008, em St Paul, Minneapolis.
Chegando ao Tribunal vestindo uma camiseta escrita “Defenda o RNC 8” e juntamente com 20-30 amigo/as, Mahoney colocou um suéter antes de encarar a Juíza Flynn. Discursando ao seu favor, o advogado Bob Kolstad disse que estava “honrado de ter sido escolhido para representar o Sr. Mahoney”, e fez referências ao seu estreito laço com familiares e amigo/as que ele diz “serem muito dedicados ao que considero uma causa válida [a luta libertária]”.
Após cumprir a sentença, Mahoney voltará para a Inglaterra. A possibilidade de poder fazer isso foi um ponto crucial nas negociações de seu “plea agreement” (acordo processual). Sob o acordo, ele se declarou culpado de um ataque de segundo grau em troca de nove outros delitos que foram excluídos. Provavelmente ele voltará aos Estados Unidos durante os sete anos de sua liberdade condicional, porém exigem que Mahoney informe o oficial do condado de Ramsey e se submeta a sua supervisão.
Na corte, a retórica do promotor Dusterhoft foi típica, mas limitada. Ele pediu à Juíza Flynn para seguir o “plea agreement” – ela fez ao pé da letra – e chamou a acusação de “muito séria – poderia ser muito pior”. Kolstad, no entanto, pediu por uma sentença mais curta e para que metade dela fosse cumprida sob monitoramento domiciliar, um pedido que Flynn negou. Kolstad também fez referência ao recentemente falecido Secretário de Defesa Robert McNamara e o fato de ele nunca ter cumprido uma sentença por seus sucessivos crimes contra a humanidade, enquanto o delito alegado de Mahoney estava “em contraste, somente uns poucos momentos de sua vida”. Mahoney se recusou a falar alguma coisa em seu favor.
Lendo a sentença após se referir às “grandes quantidades de cartas que elogiosamente falavam do Mr. Kolstad” (daí então ela se corrigiu falando “Mr. Mahoney”), a juíza então leu o texto errado da sentença. Ela fez referências sobre uma possível sentença antes do “plea agreement” que daria 21 meses de prisão ao invés de 3. Se passaram alguns poucos segundos até o advogado Kolstad corrigir o erro; Flynn deu uma risadinha antes de corrigir seu engano.
Quando a fala da Juíza Flynn terminou, Mahoney foi levado diretamente em custódia para a prisão após abraçar Kolstad, e o/as apoiadore/as levantaram seus punhos no ar.
Visitas ao David na prisão estão começando a ser organizadas. Você pode escrever para ele no seguinte endereço:
David Terrence Mahoney
297 S. Century Ave
St. Paul, MN 55119 - EUA
http://helpdavemahoney.blogspot.com/
Tradução > Marcelo Yokoi
agência de notícias anarquistas-ana
A mão que me espera
traça o caminho da volta
abrindo janelas.
Eolo Yberê Libera
O anarquista Dave Mahoney – “a criança cartaz do RNC” do promotor Richard Dusterhoft – foi sentenciado na semana passada a 90 dias de prisão pela juíza Paulette Flynn no Tribunal de Justiça do condado de Ramsey. Com quatro dias de crédito por tempo servido somado ao bom comportamento, Mahoney provavelmente cumprirá 56 dias da sentença, fazendo com que seu último dia na prisão seja em 2 de setembro – aniversário de um ano da Marcha das Pessoas Pobres na Convenção Nacional Republicana (RNC) em St. Paul e dois dias antes do aniversário de sua detenção.
Mahoney foi preso pelo FBI e acusado de promover assaltos em segundo grau e ameaças terroristas durante os protestos contra a Convenção Nacional Republicana (RNC), em setembro de 2008, em St Paul, Minneapolis.
Chegando ao Tribunal vestindo uma camiseta escrita “Defenda o RNC 8” e juntamente com 20-30 amigo/as, Mahoney colocou um suéter antes de encarar a Juíza Flynn. Discursando ao seu favor, o advogado Bob Kolstad disse que estava “honrado de ter sido escolhido para representar o Sr. Mahoney”, e fez referências ao seu estreito laço com familiares e amigo/as que ele diz “serem muito dedicados ao que considero uma causa válida [a luta libertária]”.
Após cumprir a sentença, Mahoney voltará para a Inglaterra. A possibilidade de poder fazer isso foi um ponto crucial nas negociações de seu “plea agreement” (acordo processual). Sob o acordo, ele se declarou culpado de um ataque de segundo grau em troca de nove outros delitos que foram excluídos. Provavelmente ele voltará aos Estados Unidos durante os sete anos de sua liberdade condicional, porém exigem que Mahoney informe o oficial do condado de Ramsey e se submeta a sua supervisão.
Na corte, a retórica do promotor Dusterhoft foi típica, mas limitada. Ele pediu à Juíza Flynn para seguir o “plea agreement” – ela fez ao pé da letra – e chamou a acusação de “muito séria – poderia ser muito pior”. Kolstad, no entanto, pediu por uma sentença mais curta e para que metade dela fosse cumprida sob monitoramento domiciliar, um pedido que Flynn negou. Kolstad também fez referência ao recentemente falecido Secretário de Defesa Robert McNamara e o fato de ele nunca ter cumprido uma sentença por seus sucessivos crimes contra a humanidade, enquanto o delito alegado de Mahoney estava “em contraste, somente uns poucos momentos de sua vida”. Mahoney se recusou a falar alguma coisa em seu favor.
Lendo a sentença após se referir às “grandes quantidades de cartas que elogiosamente falavam do Mr. Kolstad” (daí então ela se corrigiu falando “Mr. Mahoney”), a juíza então leu o texto errado da sentença. Ela fez referências sobre uma possível sentença antes do “plea agreement” que daria 21 meses de prisão ao invés de 3. Se passaram alguns poucos segundos até o advogado Kolstad corrigir o erro; Flynn deu uma risadinha antes de corrigir seu engano.
Quando a fala da Juíza Flynn terminou, Mahoney foi levado diretamente em custódia para a prisão após abraçar Kolstad, e o/as apoiadore/as levantaram seus punhos no ar.
Visitas ao David na prisão estão começando a ser organizadas. Você pode escrever para ele no seguinte endereço:
David Terrence Mahoney
297 S. Century Ave
St. Paul, MN 55119 - EUA
http://helpdavemahoney.blogspot.com/
Tradução > Marcelo Yokoi
agência de notícias anarquistas-ana
A mão que me espera
traça o caminho da volta
abrindo janelas.
Eolo Yberê Libera
Um político, uma farsa - Por Jânio Lopo (ANA)
"Um político, uma farsa"
Jânio Lopo
Quando se trata de opinar sobre o caso José Sarney, noto a preocupação da elite brasileira – à frente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – em não atacá-lo frontalmente. Essa classe de privilegiados tem tido o cuidado de recomendar o estudo da biografia do acusado antes de mandá-lo à fogueira. Seria até uma atitude louvável das chamadas cabeças coroadas deste país não querer melindrar os personagens cuja história pessoal e política enriqueceram (falo no bom sentido) as páginas heróicas do Brasil. No entanto, sejamos claros e objetivos: o que devemos a Sarney? Qual a sua contribuição efetiva para que tivéssemos um passado digno e reconhecidamente de conquistas internas e externas? Não somos, verdadeiramente, uma Nação séria. Se fôssemos, não deixaríamos que figura como ele alcançasse os primeiros degraus da vida pública de Pindorama. Sarney é uma farsa. Um engodo.
Falo do ponto de vista das ações práticas. Seu passado e seu presente não o deixam mentir nem tampouco esconder o que representou e o que representa para o conjunto da nossa sociedade. Estamos falando de um homem que serviu à ditadura. Foi um dos seus principais porta-vozes. Graças aos tempos nebulosos comandados pelos militares, Sarney transformou-se num dos maiores e mais temidos coronéis do Nordeste. Acumula uma fortuna cuja origem é duvidosa.
O dono da Maranhão, como é conhecido nacionalmente, caiu de para-quedas na Presidência da República graças à inesperada morte de Tancredo Neves, eleito pelo Congresso Nacional. Sua passagem pelo cargo foi desastrosa. Experimentamos uma fase de inflação de praticamente 100 por cento ao mês. Às vésperas das eleições legislativas, o famigerado Plano Sarney zerou artificialmente os índices inflacionários, que explodiram dramaticamente após o pleito em que seu partido, o PMDB, fez todos os governadores dos estados brasileiros, com a exceção de Sergipe, onde venceu o PDS.
Sarney sempre foi um comandado dos grandes grupos econômicos. Era um fantoche nas mãos do seu escudeiro, amigo e ministro das Comunicações à época, Antonio Carlos Magalhães. Não satisfeito com a capitania maranhense, cujo eleitorado já dava sinais de querer livrar-se do donatário, invade o Amapá, tornando-se seu proprietário e por onde elegeu-se pela segunda ou terceira vez senador da República. É essa, em resumo, a sua biografia. Aliás, ia esquecendo: Sarney imortalizou-se ao ingressar (Deus sabe como) na Academia Brasileira de Letras (ABL).
Irritante é saber que nossos intelectuais ainda não levantaram a voz para condená-lo pelos escândalos que protagoniza hoje (e no passado) no Congresso Nacional. O Sarney de ontem é igualzinho ao Sarney de hoje. Sarney dos conchavos na calada da noite, Sarney dos atos secretos, Sarney preocupado em bons cargos públicos para a família e apaniguados. Que tipo de biografia é essa que temos de reverenciar ou levar em consideração como sugere Lula?
Estamos diante de um estelionato político. Já disse e repito: a esta altura não basta tirar-lhe da presidência do Senado. É imprescindível a cassação do seu mandato enquanto senador e a suspensão, por tempo indeterminado, dos seus direitos políticos, evitando, assim, que ele retorne à vida pública. Só queremos justiça e mais nada. No entanto, como este é um país injusto e desigual por conta dos sarneys que mandam e desmandam nos destinos dos mais fracos e desprotegidos, nem isso (justiça) podemos esperar."
Jânio Lopo
Quando se trata de opinar sobre o caso José Sarney, noto a preocupação da elite brasileira – à frente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – em não atacá-lo frontalmente. Essa classe de privilegiados tem tido o cuidado de recomendar o estudo da biografia do acusado antes de mandá-lo à fogueira. Seria até uma atitude louvável das chamadas cabeças coroadas deste país não querer melindrar os personagens cuja história pessoal e política enriqueceram (falo no bom sentido) as páginas heróicas do Brasil. No entanto, sejamos claros e objetivos: o que devemos a Sarney? Qual a sua contribuição efetiva para que tivéssemos um passado digno e reconhecidamente de conquistas internas e externas? Não somos, verdadeiramente, uma Nação séria. Se fôssemos, não deixaríamos que figura como ele alcançasse os primeiros degraus da vida pública de Pindorama. Sarney é uma farsa. Um engodo.
Falo do ponto de vista das ações práticas. Seu passado e seu presente não o deixam mentir nem tampouco esconder o que representou e o que representa para o conjunto da nossa sociedade. Estamos falando de um homem que serviu à ditadura. Foi um dos seus principais porta-vozes. Graças aos tempos nebulosos comandados pelos militares, Sarney transformou-se num dos maiores e mais temidos coronéis do Nordeste. Acumula uma fortuna cuja origem é duvidosa.
O dono da Maranhão, como é conhecido nacionalmente, caiu de para-quedas na Presidência da República graças à inesperada morte de Tancredo Neves, eleito pelo Congresso Nacional. Sua passagem pelo cargo foi desastrosa. Experimentamos uma fase de inflação de praticamente 100 por cento ao mês. Às vésperas das eleições legislativas, o famigerado Plano Sarney zerou artificialmente os índices inflacionários, que explodiram dramaticamente após o pleito em que seu partido, o PMDB, fez todos os governadores dos estados brasileiros, com a exceção de Sergipe, onde venceu o PDS.
Sarney sempre foi um comandado dos grandes grupos econômicos. Era um fantoche nas mãos do seu escudeiro, amigo e ministro das Comunicações à época, Antonio Carlos Magalhães. Não satisfeito com a capitania maranhense, cujo eleitorado já dava sinais de querer livrar-se do donatário, invade o Amapá, tornando-se seu proprietário e por onde elegeu-se pela segunda ou terceira vez senador da República. É essa, em resumo, a sua biografia. Aliás, ia esquecendo: Sarney imortalizou-se ao ingressar (Deus sabe como) na Academia Brasileira de Letras (ABL).
Irritante é saber que nossos intelectuais ainda não levantaram a voz para condená-lo pelos escândalos que protagoniza hoje (e no passado) no Congresso Nacional. O Sarney de ontem é igualzinho ao Sarney de hoje. Sarney dos conchavos na calada da noite, Sarney dos atos secretos, Sarney preocupado em bons cargos públicos para a família e apaniguados. Que tipo de biografia é essa que temos de reverenciar ou levar em consideração como sugere Lula?
Estamos diante de um estelionato político. Já disse e repito: a esta altura não basta tirar-lhe da presidência do Senado. É imprescindível a cassação do seu mandato enquanto senador e a suspensão, por tempo indeterminado, dos seus direitos políticos, evitando, assim, que ele retorne à vida pública. Só queremos justiça e mais nada. No entanto, como este é um país injusto e desigual por conta dos sarneys que mandam e desmandam nos destinos dos mais fracos e desprotegidos, nem isso (justiça) podemos esperar."
China: Trabalhadores de fábrica de aço matam gerente - ANA
China: Trabalhadores de fábrica de aço matam gerente
Cerca de 30 mil trabalhadores de uma siderúrgica na China entraram em confronto com a polícia em protesto contra o plano de unir a usina com outra empresa e mataram a golpes o gerente geral da empresa, informou uma organização de direitos humanos neste sábado (25). Centenas de pessoas ficaram feridas no confronto, que ocorreu na sexta-feira, na cidade de Tonghua, disse o Centro de Informação para os Direitos Humanos e a Democracia, em Hong Kong.
Os trabalhadores do Tonghua Iron and Steel Group se opõem à intenção de que a Jianlong Steel assuma o controle da empresa, indicou o centro, acrescentando que a Jianlong, sediada em Pequim, controlou temporariamente a empresa no ano passado e os trabalhadores a culpam pelos problemas financeiros sofridos durante aquele tempo.
Nos protestos, os trabalhadores atacaram o gerente geral da Jianlong, Chen Guojun, e o mataram a golpes, disse o centro. Amigos de Chen confirmaram a morte do gerente. Os trabalhadores se irritaram porque Chen recebeu cerca de 3 milhões de yuans (US$ 438.000) no ano passado, enquanto aposentados receberam apenas 200 yuans (US$ 29) por mês, explicou o centro.
Os trabalhadores não permitiram que os serviços médicos entrassem na siderúrgica para ajudar o gerente, tendo também bloqueado estradas e destruído três viaturas da polícia, na cidade de Tonghua.
Fonte: ANA
Cerca de 30 mil trabalhadores de uma siderúrgica na China entraram em confronto com a polícia em protesto contra o plano de unir a usina com outra empresa e mataram a golpes o gerente geral da empresa, informou uma organização de direitos humanos neste sábado (25). Centenas de pessoas ficaram feridas no confronto, que ocorreu na sexta-feira, na cidade de Tonghua, disse o Centro de Informação para os Direitos Humanos e a Democracia, em Hong Kong.
Os trabalhadores do Tonghua Iron and Steel Group se opõem à intenção de que a Jianlong Steel assuma o controle da empresa, indicou o centro, acrescentando que a Jianlong, sediada em Pequim, controlou temporariamente a empresa no ano passado e os trabalhadores a culpam pelos problemas financeiros sofridos durante aquele tempo.
Nos protestos, os trabalhadores atacaram o gerente geral da Jianlong, Chen Guojun, e o mataram a golpes, disse o centro. Amigos de Chen confirmaram a morte do gerente. Os trabalhadores se irritaram porque Chen recebeu cerca de 3 milhões de yuans (US$ 438.000) no ano passado, enquanto aposentados receberam apenas 200 yuans (US$ 29) por mês, explicou o centro.
Os trabalhadores não permitiram que os serviços médicos entrassem na siderúrgica para ajudar o gerente, tendo também bloqueado estradas e destruído três viaturas da polícia, na cidade de Tonghua.
Fonte: ANA
Um grupo anarquista picha os muros de aproximadamente vinte igrejas em Barcelona - Ana
Um grupo anarquista picha os muros de aproximadamente vinte igrejas em Barcelona
A ação foi em alusão à queima de igrejas que aconteceram durante a Semana Trágica, que nesses dias se cumprem exatamente cem anos.
As pichações foram reivindicadas por um grupo chamado "La Gallinaire" através de um comunicado que acabava com o lema "a luta continua". As paróquias atacadas pertencem aos bairros de Sarrià, Poblenou, Gràcia, Sant Gervasi, Raval, Eixample, Sant Andreu e o Clot e em algumas delas suas fechaduras foram tapadas com silicone.
Os Mossos´Esquadra garantiram que investigarão o caso, embora nem o Arcebispo nem nenhum responsável das igrejas haviam apresentado uma denúncia formal. A nota do protesto, que os libertários colaram nas portas dos templos, apresentava passagens anarquistas e foi assinado "Nem Deus Nem Capital". Além do mais, incluía algumas frases com os quais foram "ilustrados” os muros dos templos de Barcelona: "A Igreja contamina, embora hoje não queime", "a única igreja que ilumina é a que queima" e “1909-2009, a luta continua".
O objetivo do grupo, de acordo com o panfleto, era o de impedir a missa dominical no mesmo dia, 26 de julho, em que começou "uma Semana Trágica para a Igreja e o Estado, mas que para milhares de pessoas significou momentos de rebelião, comunidade, dignidade e aprendizagem". E mais: "Embora nos templos atuais tenham mais turistas que crentes, a hierarquia católica continua impondo sua hipócrita moral".
Semana Trágica
A Semana Trágica é o nome usado para referenciar os sangrentos acontecimentos desenvolvidos em Barcelona e outras cidades da Catalunha, de 26 de julho a 2 de agosto de 1909, com o enfrentamento do exército e a classe operária, apoiada pelos anarquistas, socialistas e republicanos, que queimaram igrejas e conventos, obrigando as autoridades a abandonar a cidade. A repressão que se seguiu à Semana Trágica prendeu e condenou dezenas de pessoas, entre elas do educador anarquista e criador da Escola Moderna Francisco Ferrer y Guardia, preso em 1º de setembro, acusado de ser o líder intelectual da Semana Trágica. O Tribunal de Guerra reunido para os julgamentos aplicou penas que variavam de prisão perpétua à execução. No dia 9 de outubro, o Conselho de Guerra abriu a sessão e ouviu as contraditórias testemunhas que acusavam Ferrer. No mesmo dia foi dado o veredicto final: a pena de morte. A execução ocorreu em 13 de outubro de 1909, na Fortaleza de Montjuich. Seu ultimo grito: "viva a escola moderna".
agência de notícias anarquistas-ana
A nuvem atenua
O cansaço das pessoas
Olharem a lua.
Matsuo Bashô
A ação foi em alusão à queima de igrejas que aconteceram durante a Semana Trágica, que nesses dias se cumprem exatamente cem anos.
As pichações foram reivindicadas por um grupo chamado "La Gallinaire" através de um comunicado que acabava com o lema "a luta continua". As paróquias atacadas pertencem aos bairros de Sarrià, Poblenou, Gràcia, Sant Gervasi, Raval, Eixample, Sant Andreu e o Clot e em algumas delas suas fechaduras foram tapadas com silicone.
Os Mossos´Esquadra garantiram que investigarão o caso, embora nem o Arcebispo nem nenhum responsável das igrejas haviam apresentado uma denúncia formal. A nota do protesto, que os libertários colaram nas portas dos templos, apresentava passagens anarquistas e foi assinado "Nem Deus Nem Capital". Além do mais, incluía algumas frases com os quais foram "ilustrados” os muros dos templos de Barcelona: "A Igreja contamina, embora hoje não queime", "a única igreja que ilumina é a que queima" e “1909-2009, a luta continua".
O objetivo do grupo, de acordo com o panfleto, era o de impedir a missa dominical no mesmo dia, 26 de julho, em que começou "uma Semana Trágica para a Igreja e o Estado, mas que para milhares de pessoas significou momentos de rebelião, comunidade, dignidade e aprendizagem". E mais: "Embora nos templos atuais tenham mais turistas que crentes, a hierarquia católica continua impondo sua hipócrita moral".
Semana Trágica
A Semana Trágica é o nome usado para referenciar os sangrentos acontecimentos desenvolvidos em Barcelona e outras cidades da Catalunha, de 26 de julho a 2 de agosto de 1909, com o enfrentamento do exército e a classe operária, apoiada pelos anarquistas, socialistas e republicanos, que queimaram igrejas e conventos, obrigando as autoridades a abandonar a cidade. A repressão que se seguiu à Semana Trágica prendeu e condenou dezenas de pessoas, entre elas do educador anarquista e criador da Escola Moderna Francisco Ferrer y Guardia, preso em 1º de setembro, acusado de ser o líder intelectual da Semana Trágica. O Tribunal de Guerra reunido para os julgamentos aplicou penas que variavam de prisão perpétua à execução. No dia 9 de outubro, o Conselho de Guerra abriu a sessão e ouviu as contraditórias testemunhas que acusavam Ferrer. No mesmo dia foi dado o veredicto final: a pena de morte. A execução ocorreu em 13 de outubro de 1909, na Fortaleza de Montjuich. Seu ultimo grito: "viva a escola moderna".
agência de notícias anarquistas-ana
A nuvem atenua
O cansaço das pessoas
Olharem a lua.
Matsuo Bashô
segunda-feira, 27 de julho de 2009
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Sionistas promovem pogroms na Cisjordânia - Por Victor Barone
Sionistas promovem pogroms na Cisjordânia
O termo pogrom desenvolveu-se na Europa a partir de atos de extrema violência contra judeus e outras minorias étnicas e difundiu-se internacionalmente após a onda de ataques que varreu o sul da Rússia entre 1881 e 1884, levando à emigração maciça dos judeus. Durante o período do nazismo na Alemanha e no leste europeu, assim como havia acontecido na Rússia Czarista, os pogroms continuaram sustentados por ressentimentos econômicos, sociais e políticos. Estupros, assassinatos, vandalismo e expropriações foram marcas desta prática odiosa, exacerbada pelo preconceito racial e religioso, do qual os judeus foram os principais alvos.
Seria de se esperar que os que sentiram na pele a injustiça e a violência se levantassem contra qualquer forma de pogrom moderno, alçando seu sofrimento como testemunho de que a barbárie do homem contra o homem não pode ser justificada, em especial levando em conta a fé e a raça. Ledo engano.
O ataque promovido entre segunda e terça-feira por cerca de 30 colonos sionistas contra propriedades palestinas e motoristas palestinos em Nablus foi apenas uma macabra mostra do que vem acontecendo na região. Judeus fundamentalistas, que consideram que o Velho Testamento é algo como uma escritura de propriedade sobre toda a região a que chamam Eretz Israel, têm promovido violência gratuita contra árabes-israelenses dentro do território de Israel, contra palestinos no território ocupado da Cisjordânia e até mesmo contra judeus que se opõem a ocupação.
No episódio, os vândalos - alguns deles montados em cavalos - incendiaram campos de cultivo e cerca de 1500 oliveiras (atitude que está se tornando comum por parte do governo israelense) nas vilas de Burin e Asira al-Kabaliya, na área de Yitzhar, além de apedrejaram carros de palestinos. Eles protestavam contra a remoção de um posto ilegal de um assentamento judaico situado nos arredores. Pelo menos dois palestinos ficaram feridos e um jornalista que cobria as agressões foi espancado pelos fanáticos.
“Colonos linha-dura geralmente atacam propriedades palestinas como retaliação por seus assentamentos demolidos e evacuados, uma tática que eles chamam de ‘etiqueta de preço’ (price tag).”, informa a reportagem do Estadão. Vale lembrar que os “colonos linha-dura” são, na verdade, fundamentalistas que fazem diferenciação entre seres humanos. Para eles, os palestinos (e qualquer um que os contrarie) estão em uma categoria inferior. Vale lembrar também que os assentamentos demolidos ou evacuados são considerados ilegais até mesmo para o Governo de Israel.
Ponta do iceberg
Este não foi um incidente isolado. O radicalismo religioso e o sionismo têm promovido nos últimos anos posturas de extrema agressividade. Em setembro passado, Zeev Sternhell, professor da Universidade Judaica, sentiu na pele os resultados deste pogrom às avessas quando uma bomba caseira explodiu de fronte a sua casa, em Jerusalém, ferindo-o levemente.
Sternhell é conhecido por suas críticas veementes aos assentamentos israelenses na Cisjordânia. As autoridades encontraram folhetos nas proximidades da casa nos quais eram oferecidos US$ 300 mil a quem matasse um integrante do Peace Now, grupo israelense que condena a ocupação dos territórios palestinos.
As ações dos sionistas parecem estar se adensando nos últimos meses. Em março, um grupo de colonos extremistas atacou dezenas de casas e lojas palestinas em Jerusalém Leste. Os colonos marcharam pela cidade gritando palavras de ordem contra árabes e palestinos, pedindo sua expulsão da Cidade Santa. No dia 2 de junho, a ação da polícia israelense contra um pequeno assentamento ilegal localizado próximo à cidade palestina de Nablus e do assentamento de Elon Moreh, um dos primeiros fundados na Cisjordânia, causou reação imediata. Veículos com placas da Palestina foram apedrejados, estradas de acesso a Jerusalém e Tel Aviv foram bloqueadas com pneus queimados e campos de cultivo palestinos foram incendiados. Ao menos seis pessoas ficaram feridas, uma delas gravemente.
Uma simples busca no google revela a banalização destes ataques que, na maioria das vezes, é acompanhada de longe pela polícia e pelo exército de Israel.
O fascismo religioso
Gabriel Paciornik, blogueiro e estudante de desenho industrial que vive em Israel há 12 anos, explica quem são os radicais de direita que patrocinam a violência contra os palestinos e os ativistas que lutam pela paz entre os dois povos.
“Existem vários tipos de radicais de direita. Na base da pirâmide estão os colonos radicais. São os que sustentam com ações toda a gama de pensamento teórico e teológico a respeito da relação com os palestinos, povos árabes e a terra. Eles se baseiam em duas importantes mentalidades. A primeira é a do ‘Halutz’, ou pioneirismo dos velhos tempos de Ben-Gurion. É uma forma de nostalgia num mundo já tão menos radical e romântico do que naquela época. A outra é de base teológica: esta terra pertence aos judeus. Por motivos religiosos, históricos e, por que não? Por usucapião (seguindo o chavão ‘quando aqui chegamos não havia nada, vocês não cuidaram dessa terra, nós viemos e fizemos milagres’). Consideram qualquer um que não pense desta maneira como traidores e anti-sionistas. Acreditam num estilo de vida preso à terra e são a grande maioria, se não todos, profundamente religiosos e místicos. Servem exército e são normalmente os mais disciplinados soldados.”
Para Paciornik, os mais perigosos representantes da direita israelense são as lideranças politico-religiosas dos colonos. “São, a maioria deles, adeptos da expulsão dos palestinos de tudo que foi um dia historicamente pertencente a Israel. Isso inclui parte da Jordânia, Egito, Síria e Líbano. Para eles não existe política internacional, acordos e o inimigo é qualquer um e qualquer coisa que se oponha a sua ideologia. E, recentemente, incluem aqui outros judeus também (a quem chamam não de inimigos, mas de traidores, o que, pela Torá, é tão ruim ou pior que um inimigo). Não escondem esses objetivos e recentemente não escondem tampouco seus métodos.”.
No artigo “O fascismo? Pode, sim, acontecer em Israel” (aqui em inglês), o jornalista israelense Uri Avnery aponta o destino a que os israelenses, subjugados pelos radicais sionistas, estarão sujeitos.
“No plano das idéias, há duas visões em confronto, em Israel, dois modos de ver, tão distantes um do outro quanto o Oriente é distante do Ocidente. Por um lado, há uma Israel culta, moderna, secular, liberal e democrática, que vive em paz e em parceria com a Palestina, vendo-a como parte integrante e integral da Região. Por outro lado, há uma Israel fanática, religiosa, fascista, que se auto-exclui, tanto quanto se auto-exclui da humanidade civilizada, gente que ‘duela sozinha e não será reconhecida entre as nações’ (Números, 23:9), onde a ‘espada devorará para sempre’ (2, Samuel 2:26)."
Diz Avnery: “Durante os últimos meses, aumentou muitíssimo o número de incidentes nos quais colonos atacam soldados, policiais e ‘esquerdistas’ palestinos. São atos cometidos abertamente, para aterrorizar e intimidar. Colonos vandalizam as vilas palestinas cujas terras cobiçam ou invadem; ou agem por vingança. São pogroms no sentido clássico da palavra: atos de vandalismo, executados por grupos armados, intoxicados de ódio contra população civil desarmada; e o exército e a polícia apenas observam. Os Pogromchiks destroem, ferem e matam.”.
Tudo isso ocorre sem que o Estado tome atitudes concretas. Sob o nazismo, os agentes da lei na República de Weimar passavam a mão na cabeça de criminosos nazistas a quem classificavam como “patriotas equivocados”. Em Israel o mesmo fenômeno ocorre hoje.
Fonte: http://escrevinhamentos.blogspot.com/
O termo pogrom desenvolveu-se na Europa a partir de atos de extrema violência contra judeus e outras minorias étnicas e difundiu-se internacionalmente após a onda de ataques que varreu o sul da Rússia entre 1881 e 1884, levando à emigração maciça dos judeus. Durante o período do nazismo na Alemanha e no leste europeu, assim como havia acontecido na Rússia Czarista, os pogroms continuaram sustentados por ressentimentos econômicos, sociais e políticos. Estupros, assassinatos, vandalismo e expropriações foram marcas desta prática odiosa, exacerbada pelo preconceito racial e religioso, do qual os judeus foram os principais alvos.
Seria de se esperar que os que sentiram na pele a injustiça e a violência se levantassem contra qualquer forma de pogrom moderno, alçando seu sofrimento como testemunho de que a barbárie do homem contra o homem não pode ser justificada, em especial levando em conta a fé e a raça. Ledo engano.
O ataque promovido entre segunda e terça-feira por cerca de 30 colonos sionistas contra propriedades palestinas e motoristas palestinos em Nablus foi apenas uma macabra mostra do que vem acontecendo na região. Judeus fundamentalistas, que consideram que o Velho Testamento é algo como uma escritura de propriedade sobre toda a região a que chamam Eretz Israel, têm promovido violência gratuita contra árabes-israelenses dentro do território de Israel, contra palestinos no território ocupado da Cisjordânia e até mesmo contra judeus que se opõem a ocupação.
No episódio, os vândalos - alguns deles montados em cavalos - incendiaram campos de cultivo e cerca de 1500 oliveiras (atitude que está se tornando comum por parte do governo israelense) nas vilas de Burin e Asira al-Kabaliya, na área de Yitzhar, além de apedrejaram carros de palestinos. Eles protestavam contra a remoção de um posto ilegal de um assentamento judaico situado nos arredores. Pelo menos dois palestinos ficaram feridos e um jornalista que cobria as agressões foi espancado pelos fanáticos.
“Colonos linha-dura geralmente atacam propriedades palestinas como retaliação por seus assentamentos demolidos e evacuados, uma tática que eles chamam de ‘etiqueta de preço’ (price tag).”, informa a reportagem do Estadão. Vale lembrar que os “colonos linha-dura” são, na verdade, fundamentalistas que fazem diferenciação entre seres humanos. Para eles, os palestinos (e qualquer um que os contrarie) estão em uma categoria inferior. Vale lembrar também que os assentamentos demolidos ou evacuados são considerados ilegais até mesmo para o Governo de Israel.
Ponta do iceberg
Este não foi um incidente isolado. O radicalismo religioso e o sionismo têm promovido nos últimos anos posturas de extrema agressividade. Em setembro passado, Zeev Sternhell, professor da Universidade Judaica, sentiu na pele os resultados deste pogrom às avessas quando uma bomba caseira explodiu de fronte a sua casa, em Jerusalém, ferindo-o levemente.
Sternhell é conhecido por suas críticas veementes aos assentamentos israelenses na Cisjordânia. As autoridades encontraram folhetos nas proximidades da casa nos quais eram oferecidos US$ 300 mil a quem matasse um integrante do Peace Now, grupo israelense que condena a ocupação dos territórios palestinos.
As ações dos sionistas parecem estar se adensando nos últimos meses. Em março, um grupo de colonos extremistas atacou dezenas de casas e lojas palestinas em Jerusalém Leste. Os colonos marcharam pela cidade gritando palavras de ordem contra árabes e palestinos, pedindo sua expulsão da Cidade Santa. No dia 2 de junho, a ação da polícia israelense contra um pequeno assentamento ilegal localizado próximo à cidade palestina de Nablus e do assentamento de Elon Moreh, um dos primeiros fundados na Cisjordânia, causou reação imediata. Veículos com placas da Palestina foram apedrejados, estradas de acesso a Jerusalém e Tel Aviv foram bloqueadas com pneus queimados e campos de cultivo palestinos foram incendiados. Ao menos seis pessoas ficaram feridas, uma delas gravemente.
Uma simples busca no google revela a banalização destes ataques que, na maioria das vezes, é acompanhada de longe pela polícia e pelo exército de Israel.
O fascismo religioso
Gabriel Paciornik, blogueiro e estudante de desenho industrial que vive em Israel há 12 anos, explica quem são os radicais de direita que patrocinam a violência contra os palestinos e os ativistas que lutam pela paz entre os dois povos.
“Existem vários tipos de radicais de direita. Na base da pirâmide estão os colonos radicais. São os que sustentam com ações toda a gama de pensamento teórico e teológico a respeito da relação com os palestinos, povos árabes e a terra. Eles se baseiam em duas importantes mentalidades. A primeira é a do ‘Halutz’, ou pioneirismo dos velhos tempos de Ben-Gurion. É uma forma de nostalgia num mundo já tão menos radical e romântico do que naquela época. A outra é de base teológica: esta terra pertence aos judeus. Por motivos religiosos, históricos e, por que não? Por usucapião (seguindo o chavão ‘quando aqui chegamos não havia nada, vocês não cuidaram dessa terra, nós viemos e fizemos milagres’). Consideram qualquer um que não pense desta maneira como traidores e anti-sionistas. Acreditam num estilo de vida preso à terra e são a grande maioria, se não todos, profundamente religiosos e místicos. Servem exército e são normalmente os mais disciplinados soldados.”
Para Paciornik, os mais perigosos representantes da direita israelense são as lideranças politico-religiosas dos colonos. “São, a maioria deles, adeptos da expulsão dos palestinos de tudo que foi um dia historicamente pertencente a Israel. Isso inclui parte da Jordânia, Egito, Síria e Líbano. Para eles não existe política internacional, acordos e o inimigo é qualquer um e qualquer coisa que se oponha a sua ideologia. E, recentemente, incluem aqui outros judeus também (a quem chamam não de inimigos, mas de traidores, o que, pela Torá, é tão ruim ou pior que um inimigo). Não escondem esses objetivos e recentemente não escondem tampouco seus métodos.”.
No artigo “O fascismo? Pode, sim, acontecer em Israel” (aqui em inglês), o jornalista israelense Uri Avnery aponta o destino a que os israelenses, subjugados pelos radicais sionistas, estarão sujeitos.
“No plano das idéias, há duas visões em confronto, em Israel, dois modos de ver, tão distantes um do outro quanto o Oriente é distante do Ocidente. Por um lado, há uma Israel culta, moderna, secular, liberal e democrática, que vive em paz e em parceria com a Palestina, vendo-a como parte integrante e integral da Região. Por outro lado, há uma Israel fanática, religiosa, fascista, que se auto-exclui, tanto quanto se auto-exclui da humanidade civilizada, gente que ‘duela sozinha e não será reconhecida entre as nações’ (Números, 23:9), onde a ‘espada devorará para sempre’ (2, Samuel 2:26)."
Diz Avnery: “Durante os últimos meses, aumentou muitíssimo o número de incidentes nos quais colonos atacam soldados, policiais e ‘esquerdistas’ palestinos. São atos cometidos abertamente, para aterrorizar e intimidar. Colonos vandalizam as vilas palestinas cujas terras cobiçam ou invadem; ou agem por vingança. São pogroms no sentido clássico da palavra: atos de vandalismo, executados por grupos armados, intoxicados de ódio contra população civil desarmada; e o exército e a polícia apenas observam. Os Pogromchiks destroem, ferem e matam.”.
Tudo isso ocorre sem que o Estado tome atitudes concretas. Sob o nazismo, os agentes da lei na República de Weimar passavam a mão na cabeça de criminosos nazistas a quem classificavam como “patriotas equivocados”. Em Israel o mesmo fenômeno ocorre hoje.
Fonte: http://escrevinhamentos.blogspot.com/
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Carniceiro racista visita o Brasil - Por Altamiro Borges
Carniceiro racista visita o Brasil
Nos meses de abril e maio passado, a mídia hegemônica fez um baita escândalo contra a visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que estava agendada há meses para assinar vários acordos comerciais de interesse dos dois países. A TV Globo chegou a dar destaque a um reduzido protesto da comunidade israelense no Rio Janeiro. Alegando compromissos eleitorais, o governo iraniano cancelou a viagem na última hora, o que foi comemorado como “uma vitória dos direitos humanos” pela mídia colonizada, ventríloqua dos interesses imperiais dos EUA.
Logo na seqüência, em junho, a mesma “grande imprensa” fez o maior escarcéu com o resultado das eleições no Irã, que garantiram 64% dos votos para Ahmadinejad. Ela amplificou a mentira de que a eleição fora fraudada. Nem o alerta de um diretor da “informada” CIA, confirmando a legitimidade do pleito, serviu para acalmar os ânimos colonizados dos barões da mídia. Eles não disfarçaram o temor com a rebeldia crescente do Irã, que coloca em risco os “valores ocidentais” e desafia o decadente imperialismo. Nos mesmos dias, o assassinato de dezenas de indígenas no Peru, um país vizinho, foi ofuscado pelas manchetes contra a “fraude” no Irã. Haja engodo!
Rechaçar a visita do ministro-terrorista
Agora, esta mesma mídia manipuladora silencia sobre a visita ao Brasil, em julho, de um dos maiores carniceiros da Israel, o ministro de Relações Exteriores Avigdor Lieberman. Neste caso, não há dúvidas ou suspeitas: Lieberman é um racista assumido, que prega descaradamente ações terroristas. O jornal Água Verde, publicado no Paraná, preparou um dossiê sobre esse asqueroso personagem que, evidentemente, não será reproduzido pela chamada “grande imprensa”. Vale à pena conhecer sua história, até para organizar, desde já, protestos contra a sua indesejada visita.
“Virá ao Brasil no final deste mês de julho o racista e terrorista israelense Avigdor Lieberman, ministro das Relações Exteriores de Israel, com a única tarefa de pressionar o governo brasileiro a romper relações com o Irã, país com o qual o Brasil tem ótimas relações comerciais. Em todo o país estão sendo organizadas manifestações de repúdio à vinda de Lieberman, um judeu sionista (racista) nascido na Moldávia.
Lieberman participou da quadrilha liderada por Ariel Sharon e responde a processos na Justiça por envolvimento com o crime organizado (Máfia Russa), incluindo tráfico de drogas. Ele é fundador do partido de extrema direita Yisrael Beitenu (“Israel é nossa casa”), que apoiou o atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em troca de cargos no governo. Entre as declarações racistas e criminosas do terrorista Lieberman destacamos as seguintes:
“Transformar o Irã num aterro”
- Em 1998, ele defendeu a inundação do Egito através do bombardeio da Represa de Assuã;
- Em 2001, como ministro da Infraestrutura Nacional de Israel, propôs que a Cisjordânia fosse dividida em quatro cantões sem governo palestino central e sem a possibilidade dos palestinos transitarem na região;
- Em 2002 o jornal israelense Yedioth Ahronoth publicou a seguinte declaração de Lieberman: “As 8 da manhã nós vamos bombardear todos os seus centros comerciais, à meia-noite as estações de gás, e às duas horas vamos bombardear seus bancos”.
- Em 2003 o diário israelense Haaretz informou que Lieberman defendeu que os milhares de prisioneiros palestinos detidos em Israel fossem afogados no Mar Morto, oferecendo, cinicamente, ônibus para o transporte;
- Em maio de 2004, ele propôs um plano de transferência de territórios palestinos, anexando os territórios palestinos e expulsando a população nativa;
- Em maio de 2004, afirmou que 90% dos 1,2 milhão de cidadãos palestinos de Israel “tinham de encontrar uma nova entidade árabe para viver”, fora das fronteiras de Israel. “Aqui não é o lugar deles. Eles podem pegar suas trouxas e dar no pé!”
- Em maio de 2006, ele defendeu o assassinato dos membros árabes do Knesset (Parlamento israelense) que haviam se encontrado com os membros do Hamas integrantes da Autoridade Palestina para discutir acordos de paz na região;
- Em dezembro de 2008, defendeu o uso de armas químicas e nucleares contra a Faixa de Gaza, afirmando que seria “perda de tempo usar armas convencionais. Devemos jogar uma bomba atômica em Gaza para reduzir o tempo de conflito, assim como os EUA atacaram em Hiroshima na Segunda Guerra”, afirmou em entrevista em jornal israelense Haaretz;
- Em junho de 2009, discursou no Knesset israelense ameaçando “transformar o Irã num aterro”, através do bombardeio do país com armas nucleares.
Fonte: www.estadoanarquista.org/blog
Unidade da esquerda palestina - Emir Sader
Unidade da esquerda palestina
A questão palestina é a mais injusta em um mundo povoado de injustiças. A ocupação colonial dos terrritórios palestinos visa não apenas bloquear a possibilidade - reconhecida, da mesma forma que a existência do estado de Israel, do direito dos palestinos de possuir um estado com as mesmas características -, mas a tentar aniquilar a identidade, a memória e capacidade de resistência dos palestinos.
Uma das fraquezas dessa luta é a falta de unidade da esquerda palestina, o que favorece a difícil contraposição entre a chamada Autoridade Palestina e o Hamas, cuja polarização, ao invés de contribuir para unir o povo palestino, agudiza suas contradições e apela até mesmo para a violência para tentar resolver seus conflitos.
Uma conferência que busca unir todas as forças da esquerda palestina, características por seu caráter unitário e laico, se realizou no final de junho. Difundimos aqui as resoluções, pedindo sua máxima difusão.
Resolução final da Conferência Internacional “Experiências de unificação de partidos e movimentos de esquerda na Palestina e no mundo”
Em um ambiente cheio de confiança e de esperança sobre a retomada da esquerda palestina de seu papel e posição de liderança na luta de libertação do nosso povo da ocupação colonial e da hegemonia colonial imperialista e na liderança da luta democrática dos setores marginalizados contra a injustiça e a corrupção e para conseguir a justiça social, o Tayyar Nacional Democrático Progressista organizou junto com a Fundação Rosa Luxemburgo na Palestina uma Conferencia Internacional com o título “As experiências de unificação de partidos e movimentos de esquerda na Palestina e no mundo” do dia 26 ao dia 28 de junho de 2009. A Conferência discutiu com a presença de líderes e intelectuais do Brasil, de El Salvador, do Paraguai, da Bolívia, da Índia, da Alemanha, da França, da Grécia, da Bélgica, da Espanha, da Noruega e da Palestina, vários temas importantes.
A Conferência foi aberta com o discurso de Tayyar Nacional Democrático Progressista no seu caráter de organizador e com a palavra da fundação da esquerda alemã Rosa Luxemburgo na Palestina. A primeira sessão constou de três intervenções que trataram da experiência das forças e partidos da esquerda para conseguir a unidade e liderar a luta dos setores marginalizados na Bolívia, em El Salvador e no Paraguai. A segunda sessão constou de três exposições que trataram do papel dos jovens e dos movimentos sociais e das experiências de unidade da esquerda e das conquistas obtidas na Alemanha, na França e na Grécia. A terceira sessão se concentrou em apresentar e tratar de resolver sobre critérios sobre o desenvolvimento dos movimentos políticos na América Latina e sobre a construção da unidade da esquerda no Sul da Ásia e sobre os efeitos da crise financeira internacional sobe as opções da esquerda no mundo.
O segundo dia foi aberto com a participação de Gaza através de uma vídeo conferência com a palavra do comitê organizador e em seguida, na primeira sessão, foram apresentadas três visões de três dos partidos da esquerda – o Partido do Povo Palestino, a Frente Popular e a Frente Democrática sobre as necessidades e os mecanismos de unidade da esquerda palestina. E na segunda sessão três intervenções trataram das experiências do passado da unidade da esquerda palestina e as causas da divisão e das diferenças entre os partidos da esquerda desde 1967, e a quarta intervenção tratou da realidade das forças de esquerda na Palestina em geral.
A sexta sessão se dedicou a apresentar as exposições de Tayyar e as justificações da sua existência e seu futuro, seus mecanismos e seu programa político. E se terminou com a sessão de recomendações na qual se constituiu um comitê de seguimento para colocar em pratica as resoluções da Conferência.
À margem da Conferência os convidados dos países estrangeiros realizaram visitas às regiões de Nablus, de Jerusalém, de Belém e de Hebron, onde tiveram a oportunidade de ver de perto as práticas da ocupação, especialmente o colonialismo e a demolição de casas e o Muro da segregação racial, além de visitarem algumas instituições e lugares importantes e levaram a cabo reuniões com os ativistas de Tayyar que lhes explicaram todos os aspectos da vida do povo palestino e seu sofrimento com a ocupação e suas ações e sobre os preparativos para realizar o Congresso Constituinte do Tayyar, além de se entrevistar com os líderes dos partidos de esquerda.
A Conferência, depois da sua conclusão, tendo realizado seus objetivos, ressalta o seguinte:
1. As tarefas de libertação nacional e o fim da ocupação nacional e da hegemonia colonial imperialista são enormes e requerem os grandes sacrifícios e a liderança e a luta do povo palestino, e isto não se consegue sem a participação forte e ativa da esquerda palestina na luta nacional e nos órgãos de liderança.
2. A Resistência à ocupação e às suas práticas e colonialismo e a construção do muro e a demolição de casas e a matança e a prisão são tarefas permanentes que requerem que a esquerda deve trabalhar para sua permanência e sua difusão para ser método de vida.
3. As forças de luta palestina devem estar unidas na luta contra a ocupação e as diferenças devem ser resolvidas mediante o dialogo profundo e não cair na violência e no uso das armas entre estas forças nacionais e se deve terminar com as detenções políticas.
4. Os participantes de forças, partidos, organizações, pessoas esquerdistas, democráticas e progressistas reiteraram a importância da unidade da esquerda em todos os lugares e especialmente na Palestina pela existência da ocupação e dos grandes sacrifícios para sua Resistência e pela situação de divisão que existe e pela qual uma de suas causas e a fraqueza da influencia da esquerda sobre os temas políticos e sociais.
5. A tarefa de construir um estado livre e democrático baseado nos princípios de justiça social não se consegue sem a unidade ativa das forças de esquerda e das forças progressistas.
6. As duas tarefas de reativar e unificar a esquerda com seus componentes de forças e partidos políticos e organizações e marcos sociais e populares e personalidades são duas tarefas paralelas e não separáveis.
7. As experiências fracassadas do passado por distintas razões não anulam a importância desta idéias e a e ao contrário demonstram a necessidade da sociedade palestina por esta unidade e em especial os setores mais prejudicados pela permanência da ocupação e suas práticas e suas repressões e os setores que são mais prejudicados pelas políticas de direita na Palestina e no Islã político.
8. As forças de esquerda estão obrigadas a colocar em prática o que decidiram sobre a importância de sua unidade e qualquer diferença em relação aos mecanismos dessa unidade não deve representar um meio para fugir dessa obrigação por parte de uma dessas forças, dado que os impedimentos são internos às forças de esquerda.
9. A unidade da esquerda não é simbólica para as estruturas dos partidos de esquerda, mas deve ser unidade de trabalho e ação que se penetre na luta nacional e social de todos os componentes da esquerda de partidos e forças e marcos sindicais e populares e forças e marcos sindicais e populares e instituições e personalidade, e esta unidade deve representar uma posição única de todos os temas presentes e, além disso, a unidade da estruturas e marcos organizativos e sociais e populares.
10. As experiências de unidade da esquerda em outros lugares do mundo apresentam alguns casos de sucesso, dado que os partidos unidos da esquerda chegaram ao poder em distintos países e em alguns conseguiram grandes êxitos, estas experiências representam um fator de impulso para a unidade.
11. As experiências dos povos que vimos nesta Conferência nos dão a esperança e o impulso para o trabalho permanente para conseguir a unidade da esquerda na Palestina.
12. A Conferência aprecia as posições da Venezuela e da Bolívia de romper suas relações diplomáticas com o Estado de Israel e solicita a todos os países do mundo e em especial aqueles em que as forças da esquerda têm um papel importante a que tomem uma posição similar. E a Conferência reivindica desenvolvimento de relações de amizade baseadas na luta comum contra as forças da repressão e para levar a cabo uma campanha de solidariedade com o povo da palestina em sua luta pela libertação nacional. E aqui reivindicamos a nossos companheiros nos partidos de esquerda a que apóiem a campanha para boicotar o estado de Israel e para pressionar a seus países para que não se aprove o Tratado de Livre Comércio com Israel.
13. A Conferência aprecia e respeita as lutas do povo palestino e os grandes sacrifícios de seus membros de mártires e feridos e prisioneiros resistentes, elogia as lutas de todos os povos reprimidos pelo colonialismo em todas as suas formas.
14. Nossos companheiros, depois de percorrer todas as regiões da pátria e de ver de perto as condições de vida do povo palestino através da Conferência e de suas viagens nas distintas regiões do país expressam sua solidariedade e apoio ao povo palestino e às suas forças de esquerda e democráticas.
15. Nos despedimos das delegações visitantes da Palestina e da esquerda palestina, apreciando muitíssimo sua participação para o sucesso desta Conferência através de suas intervenções e presença nas sessões e atividades e por suportas as dificuldades da viagem e cruzar as fronteiras nos aeroportos e pontos de controle.
16. Tayyar agradece a todos os que ajudaram na organização desta Conferência e, em especial, a Fundação Rosa Luxemburgo da Alemanha e sua equipe de trabalho em Ramallah e na Alemanha e ao comitê organizador desta Conferência e aos voluntários de todas as regiões, aos expositores e aos dirigentes das sessões e aos jornalistas e aos órgãos da mídia por cobrir esta Conferencia, suas sessões e atividades.
Além disso, agradece a todos os que participaram nesta Conferência de todas as cidades e províncias, e a nossos companheiros dentro da linha verde (Palestina 1948) e na faixa de Gaza, que participaram de algumas sessões pela vídeo conferência.
Finalmente, Tayyar Nacional Democrático Progressista continuará seus passos para fundar-se como um marco unido e agrupador dos esforços de todos os nacionalistas democráticos e, ao mesmo tempo, está aberto e disposto a aceitar qualquer iniciativa e mudança nas posições das forças e partidos existentes da esquerda.
O sucesso alcançado por esta Conferência deve ser aproveitado para conseguir a unidade em todos os lugares em que se há conseguido e especialmente nos países árabes pelo que decidimos realizar esta Conferência da esquerda em forma constante e anualmente.
Palestina, 29 de junho de 2009
Fonte: Blog do Emir (www.cartamaior.com.br)
A questão palestina é a mais injusta em um mundo povoado de injustiças. A ocupação colonial dos terrritórios palestinos visa não apenas bloquear a possibilidade - reconhecida, da mesma forma que a existência do estado de Israel, do direito dos palestinos de possuir um estado com as mesmas características -, mas a tentar aniquilar a identidade, a memória e capacidade de resistência dos palestinos.
Uma das fraquezas dessa luta é a falta de unidade da esquerda palestina, o que favorece a difícil contraposição entre a chamada Autoridade Palestina e o Hamas, cuja polarização, ao invés de contribuir para unir o povo palestino, agudiza suas contradições e apela até mesmo para a violência para tentar resolver seus conflitos.
Uma conferência que busca unir todas as forças da esquerda palestina, características por seu caráter unitário e laico, se realizou no final de junho. Difundimos aqui as resoluções, pedindo sua máxima difusão.
Resolução final da Conferência Internacional “Experiências de unificação de partidos e movimentos de esquerda na Palestina e no mundo”
Em um ambiente cheio de confiança e de esperança sobre a retomada da esquerda palestina de seu papel e posição de liderança na luta de libertação do nosso povo da ocupação colonial e da hegemonia colonial imperialista e na liderança da luta democrática dos setores marginalizados contra a injustiça e a corrupção e para conseguir a justiça social, o Tayyar Nacional Democrático Progressista organizou junto com a Fundação Rosa Luxemburgo na Palestina uma Conferencia Internacional com o título “As experiências de unificação de partidos e movimentos de esquerda na Palestina e no mundo” do dia 26 ao dia 28 de junho de 2009. A Conferência discutiu com a presença de líderes e intelectuais do Brasil, de El Salvador, do Paraguai, da Bolívia, da Índia, da Alemanha, da França, da Grécia, da Bélgica, da Espanha, da Noruega e da Palestina, vários temas importantes.
A Conferência foi aberta com o discurso de Tayyar Nacional Democrático Progressista no seu caráter de organizador e com a palavra da fundação da esquerda alemã Rosa Luxemburgo na Palestina. A primeira sessão constou de três intervenções que trataram da experiência das forças e partidos da esquerda para conseguir a unidade e liderar a luta dos setores marginalizados na Bolívia, em El Salvador e no Paraguai. A segunda sessão constou de três exposições que trataram do papel dos jovens e dos movimentos sociais e das experiências de unidade da esquerda e das conquistas obtidas na Alemanha, na França e na Grécia. A terceira sessão se concentrou em apresentar e tratar de resolver sobre critérios sobre o desenvolvimento dos movimentos políticos na América Latina e sobre a construção da unidade da esquerda no Sul da Ásia e sobre os efeitos da crise financeira internacional sobe as opções da esquerda no mundo.
O segundo dia foi aberto com a participação de Gaza através de uma vídeo conferência com a palavra do comitê organizador e em seguida, na primeira sessão, foram apresentadas três visões de três dos partidos da esquerda – o Partido do Povo Palestino, a Frente Popular e a Frente Democrática sobre as necessidades e os mecanismos de unidade da esquerda palestina. E na segunda sessão três intervenções trataram das experiências do passado da unidade da esquerda palestina e as causas da divisão e das diferenças entre os partidos da esquerda desde 1967, e a quarta intervenção tratou da realidade das forças de esquerda na Palestina em geral.
A sexta sessão se dedicou a apresentar as exposições de Tayyar e as justificações da sua existência e seu futuro, seus mecanismos e seu programa político. E se terminou com a sessão de recomendações na qual se constituiu um comitê de seguimento para colocar em pratica as resoluções da Conferência.
À margem da Conferência os convidados dos países estrangeiros realizaram visitas às regiões de Nablus, de Jerusalém, de Belém e de Hebron, onde tiveram a oportunidade de ver de perto as práticas da ocupação, especialmente o colonialismo e a demolição de casas e o Muro da segregação racial, além de visitarem algumas instituições e lugares importantes e levaram a cabo reuniões com os ativistas de Tayyar que lhes explicaram todos os aspectos da vida do povo palestino e seu sofrimento com a ocupação e suas ações e sobre os preparativos para realizar o Congresso Constituinte do Tayyar, além de se entrevistar com os líderes dos partidos de esquerda.
A Conferência, depois da sua conclusão, tendo realizado seus objetivos, ressalta o seguinte:
1. As tarefas de libertação nacional e o fim da ocupação nacional e da hegemonia colonial imperialista são enormes e requerem os grandes sacrifícios e a liderança e a luta do povo palestino, e isto não se consegue sem a participação forte e ativa da esquerda palestina na luta nacional e nos órgãos de liderança.
2. A Resistência à ocupação e às suas práticas e colonialismo e a construção do muro e a demolição de casas e a matança e a prisão são tarefas permanentes que requerem que a esquerda deve trabalhar para sua permanência e sua difusão para ser método de vida.
3. As forças de luta palestina devem estar unidas na luta contra a ocupação e as diferenças devem ser resolvidas mediante o dialogo profundo e não cair na violência e no uso das armas entre estas forças nacionais e se deve terminar com as detenções políticas.
4. Os participantes de forças, partidos, organizações, pessoas esquerdistas, democráticas e progressistas reiteraram a importância da unidade da esquerda em todos os lugares e especialmente na Palestina pela existência da ocupação e dos grandes sacrifícios para sua Resistência e pela situação de divisão que existe e pela qual uma de suas causas e a fraqueza da influencia da esquerda sobre os temas políticos e sociais.
5. A tarefa de construir um estado livre e democrático baseado nos princípios de justiça social não se consegue sem a unidade ativa das forças de esquerda e das forças progressistas.
6. As duas tarefas de reativar e unificar a esquerda com seus componentes de forças e partidos políticos e organizações e marcos sociais e populares e personalidades são duas tarefas paralelas e não separáveis.
7. As experiências fracassadas do passado por distintas razões não anulam a importância desta idéias e a e ao contrário demonstram a necessidade da sociedade palestina por esta unidade e em especial os setores mais prejudicados pela permanência da ocupação e suas práticas e suas repressões e os setores que são mais prejudicados pelas políticas de direita na Palestina e no Islã político.
8. As forças de esquerda estão obrigadas a colocar em prática o que decidiram sobre a importância de sua unidade e qualquer diferença em relação aos mecanismos dessa unidade não deve representar um meio para fugir dessa obrigação por parte de uma dessas forças, dado que os impedimentos são internos às forças de esquerda.
9. A unidade da esquerda não é simbólica para as estruturas dos partidos de esquerda, mas deve ser unidade de trabalho e ação que se penetre na luta nacional e social de todos os componentes da esquerda de partidos e forças e marcos sindicais e populares e forças e marcos sindicais e populares e instituições e personalidade, e esta unidade deve representar uma posição única de todos os temas presentes e, além disso, a unidade da estruturas e marcos organizativos e sociais e populares.
10. As experiências de unidade da esquerda em outros lugares do mundo apresentam alguns casos de sucesso, dado que os partidos unidos da esquerda chegaram ao poder em distintos países e em alguns conseguiram grandes êxitos, estas experiências representam um fator de impulso para a unidade.
11. As experiências dos povos que vimos nesta Conferência nos dão a esperança e o impulso para o trabalho permanente para conseguir a unidade da esquerda na Palestina.
12. A Conferência aprecia as posições da Venezuela e da Bolívia de romper suas relações diplomáticas com o Estado de Israel e solicita a todos os países do mundo e em especial aqueles em que as forças da esquerda têm um papel importante a que tomem uma posição similar. E a Conferência reivindica desenvolvimento de relações de amizade baseadas na luta comum contra as forças da repressão e para levar a cabo uma campanha de solidariedade com o povo da palestina em sua luta pela libertação nacional. E aqui reivindicamos a nossos companheiros nos partidos de esquerda a que apóiem a campanha para boicotar o estado de Israel e para pressionar a seus países para que não se aprove o Tratado de Livre Comércio com Israel.
13. A Conferência aprecia e respeita as lutas do povo palestino e os grandes sacrifícios de seus membros de mártires e feridos e prisioneiros resistentes, elogia as lutas de todos os povos reprimidos pelo colonialismo em todas as suas formas.
14. Nossos companheiros, depois de percorrer todas as regiões da pátria e de ver de perto as condições de vida do povo palestino através da Conferência e de suas viagens nas distintas regiões do país expressam sua solidariedade e apoio ao povo palestino e às suas forças de esquerda e democráticas.
15. Nos despedimos das delegações visitantes da Palestina e da esquerda palestina, apreciando muitíssimo sua participação para o sucesso desta Conferência através de suas intervenções e presença nas sessões e atividades e por suportas as dificuldades da viagem e cruzar as fronteiras nos aeroportos e pontos de controle.
16. Tayyar agradece a todos os que ajudaram na organização desta Conferência e, em especial, a Fundação Rosa Luxemburgo da Alemanha e sua equipe de trabalho em Ramallah e na Alemanha e ao comitê organizador desta Conferência e aos voluntários de todas as regiões, aos expositores e aos dirigentes das sessões e aos jornalistas e aos órgãos da mídia por cobrir esta Conferencia, suas sessões e atividades.
Além disso, agradece a todos os que participaram nesta Conferência de todas as cidades e províncias, e a nossos companheiros dentro da linha verde (Palestina 1948) e na faixa de Gaza, que participaram de algumas sessões pela vídeo conferência.
Finalmente, Tayyar Nacional Democrático Progressista continuará seus passos para fundar-se como um marco unido e agrupador dos esforços de todos os nacionalistas democráticos e, ao mesmo tempo, está aberto e disposto a aceitar qualquer iniciativa e mudança nas posições das forças e partidos existentes da esquerda.
O sucesso alcançado por esta Conferência deve ser aproveitado para conseguir a unidade em todos os lugares em que se há conseguido e especialmente nos países árabes pelo que decidimos realizar esta Conferência da esquerda em forma constante e anualmente.
Palestina, 29 de junho de 2009
Fonte: Blog do Emir (www.cartamaior.com.br)
quinta-feira, 16 de julho de 2009
terça-feira, 14 de julho de 2009
Atos secretos I – Por Provos Brasil
Atos secretos I – Por Provos Brasil
Existem muitas coisas que acontecem no Brasil que ninguém em plena consciência acharia possível. Como pode a mídia ficar sabendo que funcionários do Senado em pleno século XXI decidem por iniciativa própria terem Planos de Saúde vitalícios? Enquanto os trabalhadores e os sem-empregos nada tem. Aumentos salariais para pequenos grupos de “amiguinhos”, e outras tantas mamatas e praticamente ninguém faz nada. Fazem sim, aí aparece o Ministério Público dizendo que vai investigar, vai apurar fatos!? Contra todos esses fatos não há argumentos, ou melhor, não existem argumentos para esses tipos de coisas. O congresso nacional (Senado/Câmara) faz o que bem entende isso legitimado pelo tal “voto”, voto esse que da carta branca para esses ladrões fazerem o quem querem como o dinheiro que é arrecadado através de impostos e outras coisas.
Provos Brasil
Ateus, saiam do armário! - Por Idelber Avelar
Ateus, saiam do armário!
[Idelber Avelar]
Ateísmo e falsas simetrias
O Biscoito Fino e a Massa combate as falsas simetrias desde outubro de 2004. Outro dia, numa mesa de bar, tive que ouvir a velha história de que “machismo” e “feminismo” são duas coisas idênticas; de que as mulheres deveriam abandonar essa história de feminismo porque ... afinal de contas, somos todos seres humanos! Uma amiga querida, feminista, encarregou-se de explicar o óbvio: que o machismo é a justificativa ideológica de uma opressão milenar, que subjuga as mulheres, relega-as à condição de serventes, e que o feminismo representa a luta por uma sociedade em que todos tenhamos os mesmos direitos-- uma sociedade em que as mulheres possam, por exemplo, legislar sobre seu próprio útero. Daí, a conversa da nossa interlocutora descambou para a discussão do racismo, onde ela de novo repetia a ladainha de que uma camisa 100% negro e uma camisa 100% branco representavam coisas igualmente reprováveis, como se não tivesse havido aquele pequeno detalhe chamado escravidão.
Está em curso uma perigosa tendência a silenciar os ateus. O argumento – calhorda, cafajeste, ignorante – é que cada vez que um ateu sai do armário, se assume como tal e começa, a partir dali, a articular publicamente suas razões para ser ateu, ele está repetindo, mimetizando, reproduzindo a doutrinação evangélica com a qual somos bombardeados todos os dias. Cada vez que os ateus começamos a falar publicamente sobre essa mais óbvia e razoável das escolhas vem alguém nos acusar de ... estar querendo evangelizar os outros!
Dá pra imaginar uma simetria mais falsa?
Uma pesquisa recente, da Fundação Perseu Abramo, mostra que os ateus representamos o grupo social mais discriminado socialmente. Mais que negros. mulheres, travestis, gays, lésbicas. Mais, até mesmo, que transsexuais. Eu não estou dizendo que a discriminação cotidiana que sofre, por exemplo, um ateu branco, é comparável à que sofre um negro de qualquer crença. Não é. Não é, em primeiro lugar, porque ser negro e, até certo ponto, ser gay, são coisas impossíveis de se esconder. Ser ateu, não. Mas se você perguntar a um brasileiro em qual membro de grupo social ele não aceitaria votar de jeito nenhum, os ateus estamos, disparados, em primeiro lugar. Vivemos ainda nesse estranho regime que associa a moralidade à crença religiosa, como se existisse alguma relação entre religiosidade e comportamento moral, como se não se soubéssemos nada sobre a lambança feita pelos padres com as crianças e adolescentes – para não falar dos séculos de lambança obscurantista e anticientífica promovida pelas religiões.
A crítica que ouço por aí a Richard Dawkins – que ele está liderando um movimento ateu que tem caráter evangelizante, doutrinador, e que portanto ele acaba se parecendo a um crente – é de uma burrice digna de um cristão. Nós passamos séculos em que os ateus não tínhamos sequer o direito de falar na esfera pública enquanto tais. Nós vivemos num mundo onde professores são despedidos por serem ateus; adolescentes recebem suspensão na escola por serem ateus; políticos que se declaram ateus têm pouquíssimas chances de serem eleitos. Essa mais razoável e óbvia das conclusões filosóficas – a de que o mundo não foi criado por nenhum ser onipotente – ainda é motivo de perseguição severa para qualquer um que a abrace.
Apesar do caráter laico da República Federativa do Brasil, garantido na nossa constituição, as religiões ainda gozam desses estranhos privilégios: não pagam impostos, por exemplo. A pior parte é que elas podem dar palpite em absolutamente tudo -- desde o currículo escolar até o útero alheio – mas, no momento em que são questionadas, o debate é silenciado com aquele mais cretino dos argumentos, ah, tem que respeitar minha religião.
Entendam o ponto de vista d' O Biscoito Fino e a Massa sobre isso: tem que respeitar religião porra nenhuma. Tem que acabar com essa história de que, todas vezes que apontamos a misoginia, a homofobia, os estupros de crianças, a guerra anticiência, os séculos de lambança obscurantista, sempre aparece alguém para dizer "ah, tem que respeitar minha religião".
Ideias não foram feitas para serem "respeitadas". Ideias foram feitas para serem debatidas, questionadas, copiadas, circuladas, disseminadas, combatidas e defendidas, parodiadas e criticadas. De preferência com argumentos. Seres humanos merecem respeito. Pregação contra o que seres humanos são, por sua própria essência e identidade (gênero, raça, orientação sexual) não pode ser confundida com sátira antirreligiosa. A maioria dos carolas adora confundir sátira antirreligiosa com ataque misógino ou homofóbico. Não entendem que sua superstição é, essa sim, uma opção.
As três famílias que chamo de minhas – a sanguínea, a de meu amor e a da mãe de meus filhos, todas elas majoritamente católicas – são testemunhas de que jamais invadi um ritual religioso deles para fazer sátira, questionar o que quer que seja ou tentar converter quem quer que seja. O ritual acontece no espaço privado – que é onde ele tem o direito constitucional de acontecer – sem que eu jamais o desrespeite. Mas isso não é porque eu “respeito a religião”. Isso é porque eu os respeito, como pessoas. Tenho a opção de acompanhar o ritual em silêncio ou afastar-me porque, afinal de contas, são três famílias maravilhosas.
Entendam: o debate na esfera pública são outros quinhentos. E, neste debate, nós chegamos para ficar. Ateus, saiam do armário. Sem medo. É muito melhor.
Fonte: www.novae.inf.br
[Idelber Avelar]
Ateísmo e falsas simetrias
O Biscoito Fino e a Massa combate as falsas simetrias desde outubro de 2004. Outro dia, numa mesa de bar, tive que ouvir a velha história de que “machismo” e “feminismo” são duas coisas idênticas; de que as mulheres deveriam abandonar essa história de feminismo porque ... afinal de contas, somos todos seres humanos! Uma amiga querida, feminista, encarregou-se de explicar o óbvio: que o machismo é a justificativa ideológica de uma opressão milenar, que subjuga as mulheres, relega-as à condição de serventes, e que o feminismo representa a luta por uma sociedade em que todos tenhamos os mesmos direitos-- uma sociedade em que as mulheres possam, por exemplo, legislar sobre seu próprio útero. Daí, a conversa da nossa interlocutora descambou para a discussão do racismo, onde ela de novo repetia a ladainha de que uma camisa 100% negro e uma camisa 100% branco representavam coisas igualmente reprováveis, como se não tivesse havido aquele pequeno detalhe chamado escravidão.
Está em curso uma perigosa tendência a silenciar os ateus. O argumento – calhorda, cafajeste, ignorante – é que cada vez que um ateu sai do armário, se assume como tal e começa, a partir dali, a articular publicamente suas razões para ser ateu, ele está repetindo, mimetizando, reproduzindo a doutrinação evangélica com a qual somos bombardeados todos os dias. Cada vez que os ateus começamos a falar publicamente sobre essa mais óbvia e razoável das escolhas vem alguém nos acusar de ... estar querendo evangelizar os outros!
Dá pra imaginar uma simetria mais falsa?
Uma pesquisa recente, da Fundação Perseu Abramo, mostra que os ateus representamos o grupo social mais discriminado socialmente. Mais que negros. mulheres, travestis, gays, lésbicas. Mais, até mesmo, que transsexuais. Eu não estou dizendo que a discriminação cotidiana que sofre, por exemplo, um ateu branco, é comparável à que sofre um negro de qualquer crença. Não é. Não é, em primeiro lugar, porque ser negro e, até certo ponto, ser gay, são coisas impossíveis de se esconder. Ser ateu, não. Mas se você perguntar a um brasileiro em qual membro de grupo social ele não aceitaria votar de jeito nenhum, os ateus estamos, disparados, em primeiro lugar. Vivemos ainda nesse estranho regime que associa a moralidade à crença religiosa, como se existisse alguma relação entre religiosidade e comportamento moral, como se não se soubéssemos nada sobre a lambança feita pelos padres com as crianças e adolescentes – para não falar dos séculos de lambança obscurantista e anticientífica promovida pelas religiões.
A crítica que ouço por aí a Richard Dawkins – que ele está liderando um movimento ateu que tem caráter evangelizante, doutrinador, e que portanto ele acaba se parecendo a um crente – é de uma burrice digna de um cristão. Nós passamos séculos em que os ateus não tínhamos sequer o direito de falar na esfera pública enquanto tais. Nós vivemos num mundo onde professores são despedidos por serem ateus; adolescentes recebem suspensão na escola por serem ateus; políticos que se declaram ateus têm pouquíssimas chances de serem eleitos. Essa mais razoável e óbvia das conclusões filosóficas – a de que o mundo não foi criado por nenhum ser onipotente – ainda é motivo de perseguição severa para qualquer um que a abrace.
Apesar do caráter laico da República Federativa do Brasil, garantido na nossa constituição, as religiões ainda gozam desses estranhos privilégios: não pagam impostos, por exemplo. A pior parte é que elas podem dar palpite em absolutamente tudo -- desde o currículo escolar até o útero alheio – mas, no momento em que são questionadas, o debate é silenciado com aquele mais cretino dos argumentos, ah, tem que respeitar minha religião.
Entendam o ponto de vista d' O Biscoito Fino e a Massa sobre isso: tem que respeitar religião porra nenhuma. Tem que acabar com essa história de que, todas vezes que apontamos a misoginia, a homofobia, os estupros de crianças, a guerra anticiência, os séculos de lambança obscurantista, sempre aparece alguém para dizer "ah, tem que respeitar minha religião".
Ideias não foram feitas para serem "respeitadas". Ideias foram feitas para serem debatidas, questionadas, copiadas, circuladas, disseminadas, combatidas e defendidas, parodiadas e criticadas. De preferência com argumentos. Seres humanos merecem respeito. Pregação contra o que seres humanos são, por sua própria essência e identidade (gênero, raça, orientação sexual) não pode ser confundida com sátira antirreligiosa. A maioria dos carolas adora confundir sátira antirreligiosa com ataque misógino ou homofóbico. Não entendem que sua superstição é, essa sim, uma opção.
As três famílias que chamo de minhas – a sanguínea, a de meu amor e a da mãe de meus filhos, todas elas majoritamente católicas – são testemunhas de que jamais invadi um ritual religioso deles para fazer sátira, questionar o que quer que seja ou tentar converter quem quer que seja. O ritual acontece no espaço privado – que é onde ele tem o direito constitucional de acontecer – sem que eu jamais o desrespeite. Mas isso não é porque eu “respeito a religião”. Isso é porque eu os respeito, como pessoas. Tenho a opção de acompanhar o ritual em silêncio ou afastar-me porque, afinal de contas, são três famílias maravilhosas.
Entendam: o debate na esfera pública são outros quinhentos. E, neste debate, nós chegamos para ficar. Ateus, saiam do armário. Sem medo. É muito melhor.
Fonte: www.novae.inf.br
Carta aberta do eco-anarquista estadunidense Hugh Farrrel - ANA
Carta aberta do eco-anarquista estadunidense Hugh Farrrel
[Hugh Farrell foi preso no dia 24 de abril de 2009, juntamente com Gina “Tiga” Wertz, acusados de formação de quadrilha por publicamente se organizarem contra a polêmica megarodovia I-69. As acusações pesam um máximo de 12 anos de prisão. O apoio ainda é indispensável, incluindo fundos, já que menos de um terço do total dos custos legais estimados em 30.000 dólares foi arrecadado até agora. Esta é a primeira declaração pública desde que foram presos.]
Para todos meus amigo/as e companheiro/as,
Nas oito semanas desde a nossa prisão, tenho me sentido mais coberto pela solidariedade de vocês do que pela perseguição do Estado. É como deveria ser, e freqüentemente me sinto incapaz de expressar o quanto sou grato pelas diversas iniciativas e esforços de levantamentos de fundos que tantos de vocês têm empreendido desde então.
Durante alguns momentos de isolamento, das vezes quando a repressão está tão palpável que mal posso respirar, as ações que muitos de vocês estão fazendo me mantêm firme e forte: as cartas, os abraços, as palavras inteligentes e carinhosas que têm sido ditas ou estão circulando. Apesar dos esforços das autoridades, permaneço como parte dos meus pares, das minhas comunidades.
Não devemos esquecer que são estas comunidades, estas relações e conexões, que estão realmente sob ataque, e de uma maneira ainda mais coordenada e sórdida. O Estado está criando uma maneira de tirar o foco da atenção quando clama que as manifestações espetaculares ou a desobediência civil são os maiores obstáculos para a construção da I-69. O que o Estado teme são as reuniões coletivas onde muitas pessoas podem sentar-se juntas para começar, por mais que incomodamente ou dolorosamente, a fazer senso de um projeto rodoviário que nenhum leigo jamais pretenderia se dar conta. O Estado teme estes momentos quando as pessoas jovens, marginalizadas, como eu, das cidades ou dos subúrbios e aparentemente desiludidos com tudo, começam a irromper de nossa isolação imposta e auto-imposta. Eles temem quando começamos a conversar com pessoas muito diferentes de nós, de nossos círculos, com camponeses e outros, sobre os impactos diferentes e similares que a I-69 terá sobre as nossas vidas.
É este potencial para a comunicação que está sob ataque, que a polícia chama de “formação de quadrilha”. Quando eles dizem “conspiração”, eles estão se referindo à nossa capacidade de respirarmos juntos.
Especificamente este é o porquê de eu estar tão agradecido a todos vocês, aqueles que eu já conheço e aqueles que ainda não conheci: todas estas potencialidades estão agora mais vivas em mim do que antes da prisão. Não me entendam mal, a repressão já tem exigido um custo alto. Ser legalmente capturado pelo Estado tem cortado muitos de meus relacionamentos, especialmente aqueles com pessoas socialmente mais distantes de mim, principalmente porque grande parte do meu tempo é gasto lidando com as questões legais. Esta é, é claro, uma das metas da repressão, e é um problema que ainda não me dirigi. Além do mais, outras pessoas têm sido sujeitas de perseguição ao meu lado – Tiga, é claro, as 16 acusações com os bloqueios atuais, Chad Frazier que foi sentenciado há dois meses pela resistência à I-69 (e que agora está livre novamente!), e muitas outras, em lugares mais distantes e envolvidas em “outras” lutas onde estão sendo pegas em similares batidas, vigilância, e acosso governamental.
Deixe-me também escrever sobre algumas atualizações processuais pessoal. Contratei os serviços dos advogados que confio para lidar com as dimensões legais do meu caso. Igualmente, três semanas atrás, Tiga fez o mesmo, com uma empresa diferente. Isto significa que a vasta quantidade de dinheiro levantada desde que nós fomos afiançados tem ido para as nossas despesas judiciais, uma situação que, infelizmente, continuará pelos meses ou anos seguintes já que os custos processuais continuarão subindo. Em geral, minhas condições de fiança não têm sido muito onerosas; ter pedido permissão da corte para deixar Indiana é a restrição mais desafiante, já que isto torna mais difícil de ver as pessoas que amo.
Tem havido um enorme bloqueio de notícias sobre o nosso caso. Tanto que encontrei pessoas que acreditam que a história toda é somente um boato na internet ou um apelo por atenção. Aparentemente, lembrando a mídia, “que o que aparece é real, e o que é real deve aparecer”. Este é um óbvio ponto de partida da estratégia policial que em outros casos similares, onde prisões e batidas foram acompanhadas por um frenesi jornalístico. Nestas situações, a saturação da mídia e o escrutínio foram empregados como armas poderosas contra o/as acusado/as, assim nós podemos assumir que há razões específicas de não termos sofrido isso, ainda.
Desta forma, acredito ser muito importante se opor a este silêncio deliberado, chamando atenção e visibilidade ao caso, especialmente em seus elementos mais embaraçosos. É possível alcançar isto através de diversas maneiras, que lancem um holofote sobre a repressão na medida em que aparece no Medo Verde e no sistema carcerário como um todo, e não somente em nosso caso. E isto pode ser alcançado através de uma maior criatividade, ao invés de somente enviar comunicados de imprensa.
Freqüentemente se esquece que estas transmissões são em si mesmas um projeto. Neste ponto, os extremos de silêncio e as conversas sem sentido são as pré-condições para a repressão contra Tiga e eu, além de ser a base para a repressão contra os estratos sociais inteiros que estão sendo tarjado ao encarceramento. Daí, a pré-condição para socialmente responder à opressão deve ser um esforço coletivo para criar o espaço e a capacidade para comunicações reais (e encontros com diversos outros).
Existem muitas formas de você contribuir efetivamente com a nossa defesa. Levantar fundos tem sido muito útil e continuará a ser importante. Mas, além disso, uma dimensão mais importante de solidariedade é continuar aprofundando e estendendo os relacionamentos e as discussões sobre este caso. As acusações apresentadas contra Tina e eu são uma tentativa de espalhar o silêncio e o isolamento. Vamos evitar isto a todo custo. Respirando com você,
Hugh Farrell
25 de junho de 2009
Contato: freetigaandhugh@mostlyeverything.net
Mais infos: http://mostlyeverything.net/index.html
Tradução > Marcelo Yokoi
agência de notícias anarquistas-ana
[Hugh Farrell foi preso no dia 24 de abril de 2009, juntamente com Gina “Tiga” Wertz, acusados de formação de quadrilha por publicamente se organizarem contra a polêmica megarodovia I-69. As acusações pesam um máximo de 12 anos de prisão. O apoio ainda é indispensável, incluindo fundos, já que menos de um terço do total dos custos legais estimados em 30.000 dólares foi arrecadado até agora. Esta é a primeira declaração pública desde que foram presos.]
Para todos meus amigo/as e companheiro/as,
Nas oito semanas desde a nossa prisão, tenho me sentido mais coberto pela solidariedade de vocês do que pela perseguição do Estado. É como deveria ser, e freqüentemente me sinto incapaz de expressar o quanto sou grato pelas diversas iniciativas e esforços de levantamentos de fundos que tantos de vocês têm empreendido desde então.
Durante alguns momentos de isolamento, das vezes quando a repressão está tão palpável que mal posso respirar, as ações que muitos de vocês estão fazendo me mantêm firme e forte: as cartas, os abraços, as palavras inteligentes e carinhosas que têm sido ditas ou estão circulando. Apesar dos esforços das autoridades, permaneço como parte dos meus pares, das minhas comunidades.
Não devemos esquecer que são estas comunidades, estas relações e conexões, que estão realmente sob ataque, e de uma maneira ainda mais coordenada e sórdida. O Estado está criando uma maneira de tirar o foco da atenção quando clama que as manifestações espetaculares ou a desobediência civil são os maiores obstáculos para a construção da I-69. O que o Estado teme são as reuniões coletivas onde muitas pessoas podem sentar-se juntas para começar, por mais que incomodamente ou dolorosamente, a fazer senso de um projeto rodoviário que nenhum leigo jamais pretenderia se dar conta. O Estado teme estes momentos quando as pessoas jovens, marginalizadas, como eu, das cidades ou dos subúrbios e aparentemente desiludidos com tudo, começam a irromper de nossa isolação imposta e auto-imposta. Eles temem quando começamos a conversar com pessoas muito diferentes de nós, de nossos círculos, com camponeses e outros, sobre os impactos diferentes e similares que a I-69 terá sobre as nossas vidas.
É este potencial para a comunicação que está sob ataque, que a polícia chama de “formação de quadrilha”. Quando eles dizem “conspiração”, eles estão se referindo à nossa capacidade de respirarmos juntos.
Especificamente este é o porquê de eu estar tão agradecido a todos vocês, aqueles que eu já conheço e aqueles que ainda não conheci: todas estas potencialidades estão agora mais vivas em mim do que antes da prisão. Não me entendam mal, a repressão já tem exigido um custo alto. Ser legalmente capturado pelo Estado tem cortado muitos de meus relacionamentos, especialmente aqueles com pessoas socialmente mais distantes de mim, principalmente porque grande parte do meu tempo é gasto lidando com as questões legais. Esta é, é claro, uma das metas da repressão, e é um problema que ainda não me dirigi. Além do mais, outras pessoas têm sido sujeitas de perseguição ao meu lado – Tiga, é claro, as 16 acusações com os bloqueios atuais, Chad Frazier que foi sentenciado há dois meses pela resistência à I-69 (e que agora está livre novamente!), e muitas outras, em lugares mais distantes e envolvidas em “outras” lutas onde estão sendo pegas em similares batidas, vigilância, e acosso governamental.
Deixe-me também escrever sobre algumas atualizações processuais pessoal. Contratei os serviços dos advogados que confio para lidar com as dimensões legais do meu caso. Igualmente, três semanas atrás, Tiga fez o mesmo, com uma empresa diferente. Isto significa que a vasta quantidade de dinheiro levantada desde que nós fomos afiançados tem ido para as nossas despesas judiciais, uma situação que, infelizmente, continuará pelos meses ou anos seguintes já que os custos processuais continuarão subindo. Em geral, minhas condições de fiança não têm sido muito onerosas; ter pedido permissão da corte para deixar Indiana é a restrição mais desafiante, já que isto torna mais difícil de ver as pessoas que amo.
Tem havido um enorme bloqueio de notícias sobre o nosso caso. Tanto que encontrei pessoas que acreditam que a história toda é somente um boato na internet ou um apelo por atenção. Aparentemente, lembrando a mídia, “que o que aparece é real, e o que é real deve aparecer”. Este é um óbvio ponto de partida da estratégia policial que em outros casos similares, onde prisões e batidas foram acompanhadas por um frenesi jornalístico. Nestas situações, a saturação da mídia e o escrutínio foram empregados como armas poderosas contra o/as acusado/as, assim nós podemos assumir que há razões específicas de não termos sofrido isso, ainda.
Desta forma, acredito ser muito importante se opor a este silêncio deliberado, chamando atenção e visibilidade ao caso, especialmente em seus elementos mais embaraçosos. É possível alcançar isto através de diversas maneiras, que lancem um holofote sobre a repressão na medida em que aparece no Medo Verde e no sistema carcerário como um todo, e não somente em nosso caso. E isto pode ser alcançado através de uma maior criatividade, ao invés de somente enviar comunicados de imprensa.
Freqüentemente se esquece que estas transmissões são em si mesmas um projeto. Neste ponto, os extremos de silêncio e as conversas sem sentido são as pré-condições para a repressão contra Tiga e eu, além de ser a base para a repressão contra os estratos sociais inteiros que estão sendo tarjado ao encarceramento. Daí, a pré-condição para socialmente responder à opressão deve ser um esforço coletivo para criar o espaço e a capacidade para comunicações reais (e encontros com diversos outros).
Existem muitas formas de você contribuir efetivamente com a nossa defesa. Levantar fundos tem sido muito útil e continuará a ser importante. Mas, além disso, uma dimensão mais importante de solidariedade é continuar aprofundando e estendendo os relacionamentos e as discussões sobre este caso. As acusações apresentadas contra Tina e eu são uma tentativa de espalhar o silêncio e o isolamento. Vamos evitar isto a todo custo. Respirando com você,
Hugh Farrell
25 de junho de 2009
Contato: freetigaandhugh@mostlyeverything.net
Mais infos: http://mostlyeverything.net/index.html
Tradução > Marcelo Yokoi
agência de notícias anarquistas-ana
Giovanni Arrighi - Por José Luís Fiori
Giovanni Arrighi
Do ponto de vista teórico, Giovanni Arrighi foi um “heterodoxo”, que soube retomar com criatividade a tradição da grande teoria social dos séculos XIX e XX, de Marx, Weber, Schumpeter e Braudel, para estudar as “ondas longas” econômicas e políticas do capitalismo. Sua ousadia intelectual merece reconhecimento e homenagem em um tempo de mesquinharias e de grande pobreza de idéias.
Data: 12/07/2009
Morreu nos Estados Unidos, dia 19 de junho de 2009, na cidade de Baltimore, o economista italiano Giovanni Arrighi, que foi professor na Universidade Johns Hopkins nos últimos anos de sua vida. Arrighi nasceu em Milão, em 1937, estudou na Universidade de Bocconi, e na década de 1960 participou da geração de cientistas sociais europeus e norteamericanos que trabalharam na África e se dedicaram ao estudo do desenvolvimento econômico nos países da periferia capitalista. De volta à Itália, na década dos 70, e depois nos Estados Unidos, a partir dos anos 80, Giovanni Arrighi dedicou quase três décadas de sua vida intelectual ao estudo da “crise da hegemonia norteamericana” dos anos 70, e das transformações econômicas e políticas mundiais das décadas seguintes, que passaram pela expansão vertiginosa da China e de grande parte da Ásia, e chegaram até a crise financeira de 2008.
Pouco a pouco, Arrighi mudou sua preocupação teórica do tema do crescimento econômico dos países periféricos e atrasados, para o estudo mais amplo do desenvolvimento histórico do capitalismo e do “sistema mundial moderno”, que se formou, se expandiu e se consolidou a partir da Europa, desde o século XVI. Marx teve uma presença decisiva na formação do pensamento de Giovanni Arrighi, mas sua extensa investigação sobre os ciclos e as crises econômicas e políticas da história capitalista partiu de outro lado, de três teses “heterodoxas” do historiador francês Fernand Braudel. Segundo Braudel, o capitalismo não é igual à economia de mercado, pelo contrário, é o “anti-mercado”, e o segredo de seu crescimento contínuo são os “lucros extraordinários” dos “grandes predadores” que não se comportam como o empresário típico ideal da teoria econômica convencional. Em segundo lugar, para Braudel, a força originária do capitalismo não veio da extração da mais valia dos trabalhadores, mas sim da associação entre os “príncipes” e os “banqueiros” europeus, que se consolida muito antes do século XVI. E, finalmente, sempre segundo Braudel, todos os grandes ciclos de expansão do capitalismo chegam a uma fase “outonal”, onde as finanças substituem a atividade produtiva, na liderança da produção da riqueza.
Giovanni Arrighi parte destas três idéias básicas e formula sua própria teoria, em seu admirável livro “O longo século vinte”, publicado em 1994. Ali, ele desenvolve, de forma mais acabada, suas próprias teses sobre o papel da concorrência estatal e da concorrência capitalista no desenvolvimento da história moderna. Uma sucessão de ciclos de acumulação econômica, liderados por uma sucessão de potências hegemônicas que mantiveram a ordem política e o funcionamento da economia mundial, graças à sua capacidade crescente de projetar seu poder nacional sobre um espaço cada vez mais global: Holanda, no século XVII, Grã Bretanha, no século XIX, e os Estados Unidos no século XX.
Segundo Arrighi, entretanto, estas sucessivas “situações hegemônicas” não suspendem os processos de competição e centralização do capital e do poder, responsáveis pela repetição periódica de grandes crises e longos períodos de transição e reorganização da base produtiva, assim como de mudança na liderança mundial do sistema. Desde o ponto de vista estritamente econômico, cada um destes grandes ciclos de acumulação, seguiu uma alternância regular, de épocas de expansão material com épocas de grande expansão financeira. Nos períodos “produtivos” o capital monetário põe em movimento uma massa crescente de produtos; no segundo período, o capital se libera de seu “compromisso” com a produção e se acumula – predominantemente – sob a forma financeira. Durante esta segunda fase, segundo Arrighi, é que se acelera a formação das estruturas e das estratégias dos Estados e dos capitais que deverão suceder ao antigo hegemón e assumir o comando do processo de acumulação econômica dali em diante, dando curso ao movimento contínuo de internacionalização das estruturas e instituições capitalistas.
Para Giovanni Arrighi, o conceito de “hegemonia mundial” se refere à capacidade de um Estado de liderar, mais que dominar, o sistema político e econômico mundial formado pelos Estados soberanos e suas economias nacionais. E as “crises de hegemonia” que se sucederam através da história são rupturas e mudanças de rumo na liderança, anunciadas pelas “expansões financeiras”, mas também pela intensificação da competição estatal; pela escalada dos conflitos sociais e coloniais ou civilizatórios; e pela emergência de novas configurações de poder capazes de desafiar e superar ao antigo Estado hegemônico. São crises que não ocorrem de repente, nem de uma só vez. Pelo contrário, aparecem separadas no tempo, primeiro na forma de uma “crise inicial”, e depois de algumas décadas na forma de uma grande “crise terminal”, quando então já existiria o novo “bloco de poder e capital”, capaz de reorganizar o sistema e liderar seu novo ciclo produtivo. Entre essas duas crises, é quando a expansão material dá lugar a “momentos maravilhosos” de acumulação da riqueza financeira, como ocorreu ao terminar o século XIX, e agora novamente, no final do século XX.
Giovanni Arrighi concluiu sua extensa investigação histórica com a certeza de que a “crise inicial” da hegemonia norteamericana começou na década de 1970, e que sua “crise terminal” está em pleno curso, neste início do século XXI, quando já se anuncia um novo ciclo de acumulação capitalista liderado por um ou por vários países asiáticos.
A teoria das previsões históricas de Giovani Arrighi pode ser criticada desde vários pontos de vista. Mas existe uma virtude em sua obra que transcende todas as críticas: Arrighi foi um dos raros economistas de sua geração que resistiu à tendência dominante do pensamento acadêmico do final do século XX, as pequenas narrativas e a construção de modelos formais inócuos. Do ponto de vista teórico, Giovani Arrighi foi um “heterodoxo”, que soube retomar com criatividade a tradição da grande teoria social dos séculos XIX e XX, de Marx, Weber, Schumpeter e Braudel, para estudar as “ondas longas” econômicas e políticas do capitalismo. Sua ousadia intelectual merece reconhecimento e homenagem em um tempo de mesquinharias e de grande pobreza de idéias.
Tradução de Katarina Peixoto a partir do texto em espanhol publicado em Sin Permiso.
Do ponto de vista teórico, Giovanni Arrighi foi um “heterodoxo”, que soube retomar com criatividade a tradição da grande teoria social dos séculos XIX e XX, de Marx, Weber, Schumpeter e Braudel, para estudar as “ondas longas” econômicas e políticas do capitalismo. Sua ousadia intelectual merece reconhecimento e homenagem em um tempo de mesquinharias e de grande pobreza de idéias.
Data: 12/07/2009
Morreu nos Estados Unidos, dia 19 de junho de 2009, na cidade de Baltimore, o economista italiano Giovanni Arrighi, que foi professor na Universidade Johns Hopkins nos últimos anos de sua vida. Arrighi nasceu em Milão, em 1937, estudou na Universidade de Bocconi, e na década de 1960 participou da geração de cientistas sociais europeus e norteamericanos que trabalharam na África e se dedicaram ao estudo do desenvolvimento econômico nos países da periferia capitalista. De volta à Itália, na década dos 70, e depois nos Estados Unidos, a partir dos anos 80, Giovanni Arrighi dedicou quase três décadas de sua vida intelectual ao estudo da “crise da hegemonia norteamericana” dos anos 70, e das transformações econômicas e políticas mundiais das décadas seguintes, que passaram pela expansão vertiginosa da China e de grande parte da Ásia, e chegaram até a crise financeira de 2008.
Pouco a pouco, Arrighi mudou sua preocupação teórica do tema do crescimento econômico dos países periféricos e atrasados, para o estudo mais amplo do desenvolvimento histórico do capitalismo e do “sistema mundial moderno”, que se formou, se expandiu e se consolidou a partir da Europa, desde o século XVI. Marx teve uma presença decisiva na formação do pensamento de Giovanni Arrighi, mas sua extensa investigação sobre os ciclos e as crises econômicas e políticas da história capitalista partiu de outro lado, de três teses “heterodoxas” do historiador francês Fernand Braudel. Segundo Braudel, o capitalismo não é igual à economia de mercado, pelo contrário, é o “anti-mercado”, e o segredo de seu crescimento contínuo são os “lucros extraordinários” dos “grandes predadores” que não se comportam como o empresário típico ideal da teoria econômica convencional. Em segundo lugar, para Braudel, a força originária do capitalismo não veio da extração da mais valia dos trabalhadores, mas sim da associação entre os “príncipes” e os “banqueiros” europeus, que se consolida muito antes do século XVI. E, finalmente, sempre segundo Braudel, todos os grandes ciclos de expansão do capitalismo chegam a uma fase “outonal”, onde as finanças substituem a atividade produtiva, na liderança da produção da riqueza.
Giovanni Arrighi parte destas três idéias básicas e formula sua própria teoria, em seu admirável livro “O longo século vinte”, publicado em 1994. Ali, ele desenvolve, de forma mais acabada, suas próprias teses sobre o papel da concorrência estatal e da concorrência capitalista no desenvolvimento da história moderna. Uma sucessão de ciclos de acumulação econômica, liderados por uma sucessão de potências hegemônicas que mantiveram a ordem política e o funcionamento da economia mundial, graças à sua capacidade crescente de projetar seu poder nacional sobre um espaço cada vez mais global: Holanda, no século XVII, Grã Bretanha, no século XIX, e os Estados Unidos no século XX.
Segundo Arrighi, entretanto, estas sucessivas “situações hegemônicas” não suspendem os processos de competição e centralização do capital e do poder, responsáveis pela repetição periódica de grandes crises e longos períodos de transição e reorganização da base produtiva, assim como de mudança na liderança mundial do sistema. Desde o ponto de vista estritamente econômico, cada um destes grandes ciclos de acumulação, seguiu uma alternância regular, de épocas de expansão material com épocas de grande expansão financeira. Nos períodos “produtivos” o capital monetário põe em movimento uma massa crescente de produtos; no segundo período, o capital se libera de seu “compromisso” com a produção e se acumula – predominantemente – sob a forma financeira. Durante esta segunda fase, segundo Arrighi, é que se acelera a formação das estruturas e das estratégias dos Estados e dos capitais que deverão suceder ao antigo hegemón e assumir o comando do processo de acumulação econômica dali em diante, dando curso ao movimento contínuo de internacionalização das estruturas e instituições capitalistas.
Para Giovanni Arrighi, o conceito de “hegemonia mundial” se refere à capacidade de um Estado de liderar, mais que dominar, o sistema político e econômico mundial formado pelos Estados soberanos e suas economias nacionais. E as “crises de hegemonia” que se sucederam através da história são rupturas e mudanças de rumo na liderança, anunciadas pelas “expansões financeiras”, mas também pela intensificação da competição estatal; pela escalada dos conflitos sociais e coloniais ou civilizatórios; e pela emergência de novas configurações de poder capazes de desafiar e superar ao antigo Estado hegemônico. São crises que não ocorrem de repente, nem de uma só vez. Pelo contrário, aparecem separadas no tempo, primeiro na forma de uma “crise inicial”, e depois de algumas décadas na forma de uma grande “crise terminal”, quando então já existiria o novo “bloco de poder e capital”, capaz de reorganizar o sistema e liderar seu novo ciclo produtivo. Entre essas duas crises, é quando a expansão material dá lugar a “momentos maravilhosos” de acumulação da riqueza financeira, como ocorreu ao terminar o século XIX, e agora novamente, no final do século XX.
Giovanni Arrighi concluiu sua extensa investigação histórica com a certeza de que a “crise inicial” da hegemonia norteamericana começou na década de 1970, e que sua “crise terminal” está em pleno curso, neste início do século XXI, quando já se anuncia um novo ciclo de acumulação capitalista liderado por um ou por vários países asiáticos.
A teoria das previsões históricas de Giovani Arrighi pode ser criticada desde vários pontos de vista. Mas existe uma virtude em sua obra que transcende todas as críticas: Arrighi foi um dos raros economistas de sua geração que resistiu à tendência dominante do pensamento acadêmico do final do século XX, as pequenas narrativas e a construção de modelos formais inócuos. Do ponto de vista teórico, Giovani Arrighi foi um “heterodoxo”, que soube retomar com criatividade a tradição da grande teoria social dos séculos XIX e XX, de Marx, Weber, Schumpeter e Braudel, para estudar as “ondas longas” econômicas e políticas do capitalismo. Sua ousadia intelectual merece reconhecimento e homenagem em um tempo de mesquinharias e de grande pobreza de idéias.
Tradução de Katarina Peixoto a partir do texto em espanhol publicado em Sin Permiso.
Os mapas da alma não têm fronteiras - Eduardo Galeano
Os mapas da alma não têm fronteiras
Eu não conheço felicidade maior que a alegria de reconhecer-me nos demais. Talvez essa seja, para mim, a única imortalidade digna de fé. Reconhecer-me nos demais, reconhecer-me em minha pátria e em meu tempo, e também me reconhecer em mulheres e homens que são meus compatriotas, nascidos em outras terras, e reconhecer-me em mulheres e homens que são meus contemporâneos, vividos em outros tempos. As palavras são de Eduardo Galeano ao ser condecorado com a Ordem de Maio, da República Argentina.
Eduardo Galeano - Página 12
Data: 13/07/2009
(*) Palavras proferidas em Montevidéu, dia 9 de julho, quando Galeano foi condecorado com a Ordem de Maio, da República Argentina.
Permitam-me agradecer esta premiação que estou recebendo, que para mim é um símbolo da terceira margem do rio. Nesta terceira margem, nascida do encontro das outras duas, florescem e se multiplicam, juntas, nossas melhores energias, que nos salvam do rancor, da mesquinhez, da inveja e de outros venenos que abundam no mercado.
Aqui estamos, pois, na terceira margem do rio, argentinos e uruguaios, uruguaios e argentinos, rendendo homenagem a nossa vida compartilhada, e, portanto, estamos celebrando o sentido comunitário da vida, que é a expressão mais íntima do sentido comum.
Ao fim e ao cabo, e perdão por ir tão longe, para um ponto onde a história ainda não se chamava assim, lá no remoto tempo das cavernas, como se viraram para sobreviver aqueles indefesos, inúteis, desamparados avôs da humanidade? Talvez tenham sobrevivido, contra toda evidência, porque foram capazes de compartilhar a comida e souberam defender-se juntos. E se passaram os anos, milhares e milhares de anos, e vemos que o mundo raramente recorda essa lição de sentido comum, a mais elementar de todas e a que mais nos faz falta hoje.
Eu tive a sorte de viver em Buenos Aires, nos anos 70. Cheguei corrido pela ditadura militar uruguaia e acabei saindo corrido pela ditadura militar Argentina. Não saí: me saíram. Mas nestes anos comprovei, uma vez mais, que aquela lição pré histórica de sentido comum não havia sido esquecida de todo. A energia solidária crescia e cresce ao vai e vem das ondas que nos levam e nos trazem, argentinos que vêm e vão, uruguaios que vamos e viemos. E no tempo das ditaduras, soubemos compartilhar a comida e soubemos defender-nos juntos, e ninguém se sentia herói nem mártir por dar abrigo aos perseguidos que cruzavam o rio, indo para lá ou vindo de lá.
A solidariedade era, e segue sendo, um assunto de sentido comum e, portanto, era, e segue sendo, a coisa mais natural do mundo. Talvez por isso sua energia, sempre viva, foi mais viva do que nunca nos anos do terror, alimentada pelas proibições que queriam mata-la. Como o bom touro de lida, a solidariedade cresce no castigo.
E quero dar um testemunho pessoal de meu exílio na Argentina.
Quero render homenagem a uma aventura chamada Crise, uma revista cultural que alguns escritores e artistas fundaram com o generoso apoio de Federico Vogelius, onde eu pude aportar algo do muito que me havia ensinado Carlos Quijano, em meus tempos do semanário Marcha.
A revista Crise tinha um nome um tanto deprimente, mas era uma jubilosa celebração da cultura vivida como comunhão coletiva, uma festa do vínculo humano encarnado na palavra compartilhada. Queríamos compartilhar a palavra, como se fosse pão.
Nós, sobreviventes daquela experiência criadora, que morreu afogada pela ditadura militar, seguimos acreditando no que acreditávamos então.
Acreditávamos, acreditamos, que para não ser mudo é preciso começar por não ser surdo, e que o ponto de partida de uma cultura solidária está na boca daqueles que fazem cultura sem saber que a fazem, anônimos conquistadores dos sóis que as noites escondem, e eles, e elas, são também aqueles que fazem história sem saber que a fazem. Porque a cultura, quando é verdadeira, cresce desde o pé, como alguma vez cantou Alfredo Zitarrosa, e desde o pé cresce a história. A única coisa que se faz desde cima são os poços.
A ditadura militar acabou com a revista e exterminou muitas outras expressões de fecundidade social. Os fabricantes de poços castigaram o imperdoável pecado do vínculo, a solidariedade cometida em suas múltiplas formas possíveis, e a máquina da separação continuou trabalhando a serviço de uma tradição colonial, imposta pelos impérios que nos dividiram para reinar e que nos obrigam a aceitar a solidão como destino.
À primeira vista, o mundo parece uma multidão de solidões amontoadas, todos contra todos, salve-se quem puder; mas o sentido comum, o sentido comunitário, é um bichinho duro de matar. A esperança ainda tem quem a espere, alentada pelas vozes que ressoam desde nossa origem comum e nossos assombrosos espaços de encontro.
Eu não conheço felicidade maior que a alegria de reconhecer-me nos demais. Talvez essa seja, para mim, a única imortalidade digna de fé. Reconhecer-me nos demais, reconhecer-me em minha pátria e em meu tempo, e também me reconhecer em mulheres e homens que são meus compatriotas, nascidos em outras terras, e reconhecer-me em mulheres e homens que são meus contemporâneos, vividos em outros tempos.
Os mapas da alma não têm fronteiras.
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Agência Carta Maior
Eu não conheço felicidade maior que a alegria de reconhecer-me nos demais. Talvez essa seja, para mim, a única imortalidade digna de fé. Reconhecer-me nos demais, reconhecer-me em minha pátria e em meu tempo, e também me reconhecer em mulheres e homens que são meus compatriotas, nascidos em outras terras, e reconhecer-me em mulheres e homens que são meus contemporâneos, vividos em outros tempos. As palavras são de Eduardo Galeano ao ser condecorado com a Ordem de Maio, da República Argentina.
Eduardo Galeano - Página 12
Data: 13/07/2009
(*) Palavras proferidas em Montevidéu, dia 9 de julho, quando Galeano foi condecorado com a Ordem de Maio, da República Argentina.
Permitam-me agradecer esta premiação que estou recebendo, que para mim é um símbolo da terceira margem do rio. Nesta terceira margem, nascida do encontro das outras duas, florescem e se multiplicam, juntas, nossas melhores energias, que nos salvam do rancor, da mesquinhez, da inveja e de outros venenos que abundam no mercado.
Aqui estamos, pois, na terceira margem do rio, argentinos e uruguaios, uruguaios e argentinos, rendendo homenagem a nossa vida compartilhada, e, portanto, estamos celebrando o sentido comunitário da vida, que é a expressão mais íntima do sentido comum.
Ao fim e ao cabo, e perdão por ir tão longe, para um ponto onde a história ainda não se chamava assim, lá no remoto tempo das cavernas, como se viraram para sobreviver aqueles indefesos, inúteis, desamparados avôs da humanidade? Talvez tenham sobrevivido, contra toda evidência, porque foram capazes de compartilhar a comida e souberam defender-se juntos. E se passaram os anos, milhares e milhares de anos, e vemos que o mundo raramente recorda essa lição de sentido comum, a mais elementar de todas e a que mais nos faz falta hoje.
Eu tive a sorte de viver em Buenos Aires, nos anos 70. Cheguei corrido pela ditadura militar uruguaia e acabei saindo corrido pela ditadura militar Argentina. Não saí: me saíram. Mas nestes anos comprovei, uma vez mais, que aquela lição pré histórica de sentido comum não havia sido esquecida de todo. A energia solidária crescia e cresce ao vai e vem das ondas que nos levam e nos trazem, argentinos que vêm e vão, uruguaios que vamos e viemos. E no tempo das ditaduras, soubemos compartilhar a comida e soubemos defender-nos juntos, e ninguém se sentia herói nem mártir por dar abrigo aos perseguidos que cruzavam o rio, indo para lá ou vindo de lá.
A solidariedade era, e segue sendo, um assunto de sentido comum e, portanto, era, e segue sendo, a coisa mais natural do mundo. Talvez por isso sua energia, sempre viva, foi mais viva do que nunca nos anos do terror, alimentada pelas proibições que queriam mata-la. Como o bom touro de lida, a solidariedade cresce no castigo.
E quero dar um testemunho pessoal de meu exílio na Argentina.
Quero render homenagem a uma aventura chamada Crise, uma revista cultural que alguns escritores e artistas fundaram com o generoso apoio de Federico Vogelius, onde eu pude aportar algo do muito que me havia ensinado Carlos Quijano, em meus tempos do semanário Marcha.
A revista Crise tinha um nome um tanto deprimente, mas era uma jubilosa celebração da cultura vivida como comunhão coletiva, uma festa do vínculo humano encarnado na palavra compartilhada. Queríamos compartilhar a palavra, como se fosse pão.
Nós, sobreviventes daquela experiência criadora, que morreu afogada pela ditadura militar, seguimos acreditando no que acreditávamos então.
Acreditávamos, acreditamos, que para não ser mudo é preciso começar por não ser surdo, e que o ponto de partida de uma cultura solidária está na boca daqueles que fazem cultura sem saber que a fazem, anônimos conquistadores dos sóis que as noites escondem, e eles, e elas, são também aqueles que fazem história sem saber que a fazem. Porque a cultura, quando é verdadeira, cresce desde o pé, como alguma vez cantou Alfredo Zitarrosa, e desde o pé cresce a história. A única coisa que se faz desde cima são os poços.
A ditadura militar acabou com a revista e exterminou muitas outras expressões de fecundidade social. Os fabricantes de poços castigaram o imperdoável pecado do vínculo, a solidariedade cometida em suas múltiplas formas possíveis, e a máquina da separação continuou trabalhando a serviço de uma tradição colonial, imposta pelos impérios que nos dividiram para reinar e que nos obrigam a aceitar a solidão como destino.
À primeira vista, o mundo parece uma multidão de solidões amontoadas, todos contra todos, salve-se quem puder; mas o sentido comum, o sentido comunitário, é um bichinho duro de matar. A esperança ainda tem quem a espere, alentada pelas vozes que ressoam desde nossa origem comum e nossos assombrosos espaços de encontro.
Eu não conheço felicidade maior que a alegria de reconhecer-me nos demais. Talvez essa seja, para mim, a única imortalidade digna de fé. Reconhecer-me nos demais, reconhecer-me em minha pátria e em meu tempo, e também me reconhecer em mulheres e homens que são meus compatriotas, nascidos em outras terras, e reconhecer-me em mulheres e homens que são meus contemporâneos, vividos em outros tempos.
Os mapas da alma não têm fronteiras.
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Agência Carta Maior
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Eduardo Galeano: a palavra e a publicidade
Eduardo Galeano: a palavra e a publicidade
Se você busca a verdade, beba a cerveja Heineken. Quer autenticidade? Fume cigarros Winston. Busca a rebeldia? Compre uma máquina Canon. Está inconformado com a situação do mundo? Coma um hambúrguer da Burger King. Deseja afirmar sua personalidade? Use um cartão Visa. Quer defender o meio ambiente? Espelhe-se no exemplo da Shell. Hoje em dia, a publicidade tem a seu cargo o dicionário da linguagem universal. Se ela, a publicidade, fosse Pinóquio, seu nariz daria várias voltas ao mundo.
Eduardo Galeano
Hoje em dia, a publicidade tem a seu cargo o dicionário da linguagem universal. Se ela, a publicidade, fosse Pinóquio, seu nariz daria várias voltas ao mundo.
“Busque a verdade”: a verdade está na cerveja Heineken.
“Você deve apreciar a autenticidade em todas suas formas”: a autenticidade fumega nos cigarros Winston.
Os tênis Converse são solidários e a nova câmara fotográfica da Canon se chama Rebelde: “Para que você mostre do que é capaz”.
No novo universo da computação, a empresa Oracle proclama a revolução: “A revolução está em nosso destino”. A Microsoft convida ao heroísmo: “Podemos ser heróis”. A Apple propõe a liberdade: “Pense diferente”.
Comendo hambúrgueres Burger King, você pode manifestar seu inconformismo: “Às vezes é preciso rasgar as regras”.
Contra a inibição, Kodak, que “fotografa sem limites”.
A resposta está nos cartões de crédito Diner's: “A resposta correta em qualquer idioma”. Os cartões Visa afirmam a personalidade: “Eu posso”.
Os automóveis Rover permitem que “você expresse sua potência”, e a empresa Ford gostaria que “a vida estivesse tão bem feita” quanto seu último modelo.
Não há melhor amiga da natureza do que a empresa petrolífera Shell: “Nossa prioridade é a proteção do meio ambiente”.
Os perfumes Givenchy dão eternidade; os perfumes dão eternidade; os perfumes Dior, evasão; os lenços Hermès, sonhos e lendas.
Que não sabe que a chispa da vida se acende para quem bebe Coca-Cola?
Se você quer saber, fotocópias Xerox, “para compartilhar o conhecimento”.
Contra a dúvida, os desodorantes Gillette: “Para você se sentir seguro de si mesmo”.
Fonte: Agência Carta Maior
Se você busca a verdade, beba a cerveja Heineken. Quer autenticidade? Fume cigarros Winston. Busca a rebeldia? Compre uma máquina Canon. Está inconformado com a situação do mundo? Coma um hambúrguer da Burger King. Deseja afirmar sua personalidade? Use um cartão Visa. Quer defender o meio ambiente? Espelhe-se no exemplo da Shell. Hoje em dia, a publicidade tem a seu cargo o dicionário da linguagem universal. Se ela, a publicidade, fosse Pinóquio, seu nariz daria várias voltas ao mundo.
Eduardo Galeano
Hoje em dia, a publicidade tem a seu cargo o dicionário da linguagem universal. Se ela, a publicidade, fosse Pinóquio, seu nariz daria várias voltas ao mundo.
“Busque a verdade”: a verdade está na cerveja Heineken.
“Você deve apreciar a autenticidade em todas suas formas”: a autenticidade fumega nos cigarros Winston.
Os tênis Converse são solidários e a nova câmara fotográfica da Canon se chama Rebelde: “Para que você mostre do que é capaz”.
No novo universo da computação, a empresa Oracle proclama a revolução: “A revolução está em nosso destino”. A Microsoft convida ao heroísmo: “Podemos ser heróis”. A Apple propõe a liberdade: “Pense diferente”.
Comendo hambúrgueres Burger King, você pode manifestar seu inconformismo: “Às vezes é preciso rasgar as regras”.
Contra a inibição, Kodak, que “fotografa sem limites”.
A resposta está nos cartões de crédito Diner's: “A resposta correta em qualquer idioma”. Os cartões Visa afirmam a personalidade: “Eu posso”.
Os automóveis Rover permitem que “você expresse sua potência”, e a empresa Ford gostaria que “a vida estivesse tão bem feita” quanto seu último modelo.
Não há melhor amiga da natureza do que a empresa petrolífera Shell: “Nossa prioridade é a proteção do meio ambiente”.
Os perfumes Givenchy dão eternidade; os perfumes dão eternidade; os perfumes Dior, evasão; os lenços Hermès, sonhos e lendas.
Que não sabe que a chispa da vida se acende para quem bebe Coca-Cola?
Se você quer saber, fotocópias Xerox, “para compartilhar o conhecimento”.
Contra a dúvida, os desodorantes Gillette: “Para você se sentir seguro de si mesmo”.
Fonte: Agência Carta Maior
terça-feira, 7 de julho de 2009
segunda-feira, 6 de julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
G8 2009, desde Roma olhando até Áquila e o mundo - ANA
G8 2009, desde Roma olhando até Áquila e o mundo
“Sete ventos nos calendários e as geografias de baixo: primeiro vento, uma digna juventude raivosa”
(Subcomandante Marcos, EZLN, Chiapas, México, mensagem para a Grécia rebelde, dezembro de 2008)
Em 8, 9 e 10 de julho o presidente-patrão do governo italiano, Silvio Berlusconi, será o porta-voz oficial da Cúpula dos “Potentes” da Terra, dedicada à questão da crise global, que se reunirá em uma fortaleza da polícia de Estado (guarda da finança) de Coppito (Áquila).
Nesta temporada de especulação e guerra, a decisão de ampliar a cúpula a outras nações (transformando de G-8 em um real G-14/G-21), reflete a necessidade de aumentar o nível de conscientização global para seguir legitimando a quebra da política capitalista. Desta maneira, esta cúpula oferece a possibilidade de fazer frente aos crescentes signos de hostilidade que estão se estendendo em todos os rincões do planeta, ditando medidas estratégicas para seguir protegendo um sistema que explora as riquezas mundiais em benefício de poucos.
Por trás da comédia criada a ponto de levar os chefes da política mundial ao acampamento de quem sofreu com o terremoto italiano, está a vontade de confirmar seu domínio capitalista sobre nossas vidas: re-financiar a especulação financeira, salvar os bancos, aumentar a precariedade da questão de direitos trabalhistas, impulsionar a cooperação internacional em praticas de repressão social, acompanhar a exploração sem fronteiras da humanidade e os recursos naturais do planeta.
Este G-8/G14/G21 além de situar-se em um contexto que quer transformar uma “tragédia” em um grande plano de especulação, se desenvolve em uma cenografia histórico-social pintada por fortes contestações globais contra este modelo: desde “El corralito” na Argentina em 2001, a revolta do Alto da Bolívia, Oaxaca, até a recente e ativa resistência dos povos indígenas da Amazônia Peruana. Seguindo a revolta contra a CPE e a explosão dos trens franceses nos subúrbios em 2006 e as numerosas revoltas dos migrantes presos em toda a Europa (desde o Peloponeso até Ceuta, Melilla e Lamedusa). Por último, a revolta grega de dezembro de 2008 e sua conseqüente repressão, as contestações contra as medidas econômicas anti-crises na Islândia como em Dublin, os violentos distúrbios durante a cúpula do G-20 em Londres onde Ian Thomlison foi assassinado por um policial, até a OTAN em Estrasburgo, e o 1º de Maio em Berlim.
A contestação do G-8 de julho é o último encontro de uma série de manifestações e ações diretas que são praticados nos últimos meses na Itália. A partir das cúpulas sobre Agricultura e Ambiente, sobre a privatização das universidades, o G-20 dos ministros da economia de 28 de março, e a cúpula das justiças e dos interiores de 28/29 de maio. Até chegar a mobilização de 16 de junho, dia em que as comunidades afetadas pelo terremoto de Abruzzo protestaram em Roma contra as políticas de enganação sobre a reconstrução e contra a especulação na questão das “emergências” a serem adotadas.
A assembléia nacional de 1º de junho que teve lugar na região de Abruzzo impulsionou a proposta de uma “radical e ampla mobilização” desde a primeira semana de julho até os dias em que os chefes de estado e do governo se reunirão em Coppito para a cúpula dedicada a crise global.
Este marco, a rede NÂO G-8 de Roma reúne a demanda e convoca para o dia da chegada das delegações internacionais (7 de julho) em seu caminho até o G8 em Áquila, um dia de“ Bem-vindos aos responsáveis desta crise” bloqueando a cidade e proporcionando “Info Point” para quem quiser participar. Ademais, propomos construir um “mapa das crises”, com ações diretas que se realizarão cada qual com seus grupos de afinidades, como ocorreu em Londres no G-20 e como ocorre em várias partes da Europa, já há alguns meses. Por último, no dia 10 de julho, convocamos em Áquila uma manifestação internacional em solidariedade às populações afetadas pelo terremoto, e contra o G-8 e para reivindicar uma reconstrução social dos territórios afetados.
Nós, ativistas e militantes autóctones, migrantes, em situação de precariedade social, criadores de formas independentes, antifascistas, anti-racistas e antimilitaristas a aderirmos à mani do dia 10 em Áquila, impulsionando o princípio de “propagação” das mobilizações e fazendo um chamado a todos os movimentos de luta, coletivos e redes disponíveis para que se construam e pratiquem os “mapas das crises” com ações descentralizadas no maior número de cidades da Itália e da Europa.
Propomos ainda um método de convergência eficaz entre os movimentos, caracterizado pela horizontalidade e intercâmbio, dando desta maneira continuidade às iniciativas e ações diretas contra quem são os verdadeiros responsáveis da crise. Desta maneira denunciaremos publicamente:
- os responsáveis que seguem alimentando o sistema capitalista que explora os recursos do planeta.
- os responsáveis de quem acaba com a liberdade individual.
- os responsáveis das precariedades e mortes da situação trabalhista
Com estas propostas, e com estes objetivos, hoje propomos uma política de cooperação ativa e uma conexão entre as práticas sociais, a partir das ações intencionadas para julho de 2009.
“Akat qhiparux waranq waranqanakax kutinixa (voltarei e seremos milhões)”
Tupac Katari, 1781
V de Violeta: É a cor de maior espectro visível com maior freqüência e menor comprimento de onda.
É a cor do movimento de liberação das mulheres e da autodeterminação sexual, é a cor do sonho, da metamorfose, da magia. Além disso, é a cor da escravidão no século XVI na Inglaterra, era a cor do luto, na capoeira é associada à Orixá Iansã, deusa dos ventos e das tormentas, na cidade de Lima é a cor de homenagem a Cristo negro, “senhor dos milagres”, e homem que move o mundo, o capitão dos terremotos. Nos dias do G8 o violeta será a nossa cor.
V de Vingança: é uma palavra dura, que não deixa espaços.
É uma homenagem para quem levanta todas as manhãs, anda de ônibus, carro ou moto, chega ao seu trabalho e encontra a morte. É a homenagem para quem abandona seu país em busca de um futuro melhor e encontra os CIE (Centros de identificação e Expulsão). Serão nossas palavras, nossas mãos, nossas emoções e nossa raiva que derrubará a vingança. É um corpo coletivo que se move rapidamente dentro das metrópoles. Essa mesma velocidade que nos leva de uma exploração à outra e que determina uma constante negação de um futuro, a reenviamos a quem expropria e explora nossas vidas.
V de Vitória: a imagem clássica, dedos indicador e médio, signo de uma força que ganha.
A vitória que buscamos é querer o tempo que nos roubam e a voz que nos sufoca. É a necessidade de novas opções políticas, econômicas e sociais e contra quem constantemente reproduz as crises, o capital e seu domínio. O que buscamos é a vitória por haver ganhado um metro a mais, por tomar o ar a plenos pulmões depois de haver aberto um possível projeto de liberdade e luta.
É a vitória anticapitalista que queremos reproduzir e sustentar. São as pequenas vitórias que constroem o caminho. São as decisões de seguir e comprometer-se, desta vez, assim como muitas vezes mais.
V de Violeta,
V de Vingança,
V de Vitória!
V-Strategy, Roma, Itália, junho 2009
Tradução > Palomilla Negra
agência de notícias anarquistas-ana
“Sete ventos nos calendários e as geografias de baixo: primeiro vento, uma digna juventude raivosa”
(Subcomandante Marcos, EZLN, Chiapas, México, mensagem para a Grécia rebelde, dezembro de 2008)
Em 8, 9 e 10 de julho o presidente-patrão do governo italiano, Silvio Berlusconi, será o porta-voz oficial da Cúpula dos “Potentes” da Terra, dedicada à questão da crise global, que se reunirá em uma fortaleza da polícia de Estado (guarda da finança) de Coppito (Áquila).
Nesta temporada de especulação e guerra, a decisão de ampliar a cúpula a outras nações (transformando de G-8 em um real G-14/G-21), reflete a necessidade de aumentar o nível de conscientização global para seguir legitimando a quebra da política capitalista. Desta maneira, esta cúpula oferece a possibilidade de fazer frente aos crescentes signos de hostilidade que estão se estendendo em todos os rincões do planeta, ditando medidas estratégicas para seguir protegendo um sistema que explora as riquezas mundiais em benefício de poucos.
Por trás da comédia criada a ponto de levar os chefes da política mundial ao acampamento de quem sofreu com o terremoto italiano, está a vontade de confirmar seu domínio capitalista sobre nossas vidas: re-financiar a especulação financeira, salvar os bancos, aumentar a precariedade da questão de direitos trabalhistas, impulsionar a cooperação internacional em praticas de repressão social, acompanhar a exploração sem fronteiras da humanidade e os recursos naturais do planeta.
Este G-8/G14/G21 além de situar-se em um contexto que quer transformar uma “tragédia” em um grande plano de especulação, se desenvolve em uma cenografia histórico-social pintada por fortes contestações globais contra este modelo: desde “El corralito” na Argentina em 2001, a revolta do Alto da Bolívia, Oaxaca, até a recente e ativa resistência dos povos indígenas da Amazônia Peruana. Seguindo a revolta contra a CPE e a explosão dos trens franceses nos subúrbios em 2006 e as numerosas revoltas dos migrantes presos em toda a Europa (desde o Peloponeso até Ceuta, Melilla e Lamedusa). Por último, a revolta grega de dezembro de 2008 e sua conseqüente repressão, as contestações contra as medidas econômicas anti-crises na Islândia como em Dublin, os violentos distúrbios durante a cúpula do G-20 em Londres onde Ian Thomlison foi assassinado por um policial, até a OTAN em Estrasburgo, e o 1º de Maio em Berlim.
A contestação do G-8 de julho é o último encontro de uma série de manifestações e ações diretas que são praticados nos últimos meses na Itália. A partir das cúpulas sobre Agricultura e Ambiente, sobre a privatização das universidades, o G-20 dos ministros da economia de 28 de março, e a cúpula das justiças e dos interiores de 28/29 de maio. Até chegar a mobilização de 16 de junho, dia em que as comunidades afetadas pelo terremoto de Abruzzo protestaram em Roma contra as políticas de enganação sobre a reconstrução e contra a especulação na questão das “emergências” a serem adotadas.
A assembléia nacional de 1º de junho que teve lugar na região de Abruzzo impulsionou a proposta de uma “radical e ampla mobilização” desde a primeira semana de julho até os dias em que os chefes de estado e do governo se reunirão em Coppito para a cúpula dedicada a crise global.
Este marco, a rede NÂO G-8 de Roma reúne a demanda e convoca para o dia da chegada das delegações internacionais (7 de julho) em seu caminho até o G8 em Áquila, um dia de“ Bem-vindos aos responsáveis desta crise” bloqueando a cidade e proporcionando “Info Point” para quem quiser participar. Ademais, propomos construir um “mapa das crises”, com ações diretas que se realizarão cada qual com seus grupos de afinidades, como ocorreu em Londres no G-20 e como ocorre em várias partes da Europa, já há alguns meses. Por último, no dia 10 de julho, convocamos em Áquila uma manifestação internacional em solidariedade às populações afetadas pelo terremoto, e contra o G-8 e para reivindicar uma reconstrução social dos territórios afetados.
Nós, ativistas e militantes autóctones, migrantes, em situação de precariedade social, criadores de formas independentes, antifascistas, anti-racistas e antimilitaristas a aderirmos à mani do dia 10 em Áquila, impulsionando o princípio de “propagação” das mobilizações e fazendo um chamado a todos os movimentos de luta, coletivos e redes disponíveis para que se construam e pratiquem os “mapas das crises” com ações descentralizadas no maior número de cidades da Itália e da Europa.
Propomos ainda um método de convergência eficaz entre os movimentos, caracterizado pela horizontalidade e intercâmbio, dando desta maneira continuidade às iniciativas e ações diretas contra quem são os verdadeiros responsáveis da crise. Desta maneira denunciaremos publicamente:
- os responsáveis que seguem alimentando o sistema capitalista que explora os recursos do planeta.
- os responsáveis de quem acaba com a liberdade individual.
- os responsáveis das precariedades e mortes da situação trabalhista
Com estas propostas, e com estes objetivos, hoje propomos uma política de cooperação ativa e uma conexão entre as práticas sociais, a partir das ações intencionadas para julho de 2009.
“Akat qhiparux waranq waranqanakax kutinixa (voltarei e seremos milhões)”
Tupac Katari, 1781
V de Violeta: É a cor de maior espectro visível com maior freqüência e menor comprimento de onda.
É a cor do movimento de liberação das mulheres e da autodeterminação sexual, é a cor do sonho, da metamorfose, da magia. Além disso, é a cor da escravidão no século XVI na Inglaterra, era a cor do luto, na capoeira é associada à Orixá Iansã, deusa dos ventos e das tormentas, na cidade de Lima é a cor de homenagem a Cristo negro, “senhor dos milagres”, e homem que move o mundo, o capitão dos terremotos. Nos dias do G8 o violeta será a nossa cor.
V de Vingança: é uma palavra dura, que não deixa espaços.
É uma homenagem para quem levanta todas as manhãs, anda de ônibus, carro ou moto, chega ao seu trabalho e encontra a morte. É a homenagem para quem abandona seu país em busca de um futuro melhor e encontra os CIE (Centros de identificação e Expulsão). Serão nossas palavras, nossas mãos, nossas emoções e nossa raiva que derrubará a vingança. É um corpo coletivo que se move rapidamente dentro das metrópoles. Essa mesma velocidade que nos leva de uma exploração à outra e que determina uma constante negação de um futuro, a reenviamos a quem expropria e explora nossas vidas.
V de Vitória: a imagem clássica, dedos indicador e médio, signo de uma força que ganha.
A vitória que buscamos é querer o tempo que nos roubam e a voz que nos sufoca. É a necessidade de novas opções políticas, econômicas e sociais e contra quem constantemente reproduz as crises, o capital e seu domínio. O que buscamos é a vitória por haver ganhado um metro a mais, por tomar o ar a plenos pulmões depois de haver aberto um possível projeto de liberdade e luta.
É a vitória anticapitalista que queremos reproduzir e sustentar. São as pequenas vitórias que constroem o caminho. São as decisões de seguir e comprometer-se, desta vez, assim como muitas vezes mais.
V de Violeta,
V de Vingança,
V de Vitória!
V-Strategy, Roma, Itália, junho 2009
Tradução > Palomilla Negra
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