"Um político, uma farsa"
Jânio Lopo
Quando se trata de opinar sobre o caso José Sarney, noto a preocupação da elite brasileira – à frente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – em não atacá-lo frontalmente. Essa classe de privilegiados tem tido o cuidado de recomendar o estudo da biografia do acusado antes de mandá-lo à fogueira. Seria até uma atitude louvável das chamadas cabeças coroadas deste país não querer melindrar os personagens cuja história pessoal e política enriqueceram (falo no bom sentido) as páginas heróicas do Brasil. No entanto, sejamos claros e objetivos: o que devemos a Sarney? Qual a sua contribuição efetiva para que tivéssemos um passado digno e reconhecidamente de conquistas internas e externas? Não somos, verdadeiramente, uma Nação séria. Se fôssemos, não deixaríamos que figura como ele alcançasse os primeiros degraus da vida pública de Pindorama. Sarney é uma farsa. Um engodo.
Falo do ponto de vista das ações práticas. Seu passado e seu presente não o deixam mentir nem tampouco esconder o que representou e o que representa para o conjunto da nossa sociedade. Estamos falando de um homem que serviu à ditadura. Foi um dos seus principais porta-vozes. Graças aos tempos nebulosos comandados pelos militares, Sarney transformou-se num dos maiores e mais temidos coronéis do Nordeste. Acumula uma fortuna cuja origem é duvidosa.
O dono da Maranhão, como é conhecido nacionalmente, caiu de para-quedas na Presidência da República graças à inesperada morte de Tancredo Neves, eleito pelo Congresso Nacional. Sua passagem pelo cargo foi desastrosa. Experimentamos uma fase de inflação de praticamente 100 por cento ao mês. Às vésperas das eleições legislativas, o famigerado Plano Sarney zerou artificialmente os índices inflacionários, que explodiram dramaticamente após o pleito em que seu partido, o PMDB, fez todos os governadores dos estados brasileiros, com a exceção de Sergipe, onde venceu o PDS.
Sarney sempre foi um comandado dos grandes grupos econômicos. Era um fantoche nas mãos do seu escudeiro, amigo e ministro das Comunicações à época, Antonio Carlos Magalhães. Não satisfeito com a capitania maranhense, cujo eleitorado já dava sinais de querer livrar-se do donatário, invade o Amapá, tornando-se seu proprietário e por onde elegeu-se pela segunda ou terceira vez senador da República. É essa, em resumo, a sua biografia. Aliás, ia esquecendo: Sarney imortalizou-se ao ingressar (Deus sabe como) na Academia Brasileira de Letras (ABL).
Irritante é saber que nossos intelectuais ainda não levantaram a voz para condená-lo pelos escândalos que protagoniza hoje (e no passado) no Congresso Nacional. O Sarney de ontem é igualzinho ao Sarney de hoje. Sarney dos conchavos na calada da noite, Sarney dos atos secretos, Sarney preocupado em bons cargos públicos para a família e apaniguados. Que tipo de biografia é essa que temos de reverenciar ou levar em consideração como sugere Lula?
Estamos diante de um estelionato político. Já disse e repito: a esta altura não basta tirar-lhe da presidência do Senado. É imprescindível a cassação do seu mandato enquanto senador e a suspensão, por tempo indeterminado, dos seus direitos políticos, evitando, assim, que ele retorne à vida pública. Só queremos justiça e mais nada. No entanto, como este é um país injusto e desigual por conta dos sarneys que mandam e desmandam nos destinos dos mais fracos e desprotegidos, nem isso (justiça) podemos esperar."
quarta-feira, 29 de julho de 2009
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