sábado, 30 de janeiro de 2010

Agronegócio brasileiro - Por Latuff

Alguns álbuns que agitaram 2009 – Provos Brasil

Alguns álbuns que agitaram 2009 – Provos Brasil

Como diria um louco “rock é tudo, só ele impede que fiquemos loucos” alguns álbuns que deram o suporte necessário para segurar a bronca.

Provos Brasil








‘Aumento da tarifa de ônibus é uma afronta à população de São Paulo’ - Por Gabriel Brito


‘Aumento da tarifa de ônibus é uma afronta à população de São Paulo’

Por Gabriel Brito

No alvorecer de 2010, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab quebrou mais uma das promessas de sua campanha, aumentando a tarifa da passagem do ônibus na capital paulista de R$ 2,30 para R$ 2,70. Tal decisão onera ainda mais a mobilidade dos habitantes da capital, que gastam cada vez mais dinheiro - e tempo - para se locomoverem numa cidade já colapsada.

Apesar de ser possível a integração grátis dentro do prazo de duas horas com outro ônibus por conta do bilhete único (cartão magnético implantado pela gestão de Marta Suplicy), uma enorme parcela da população complementa seus trajetos por trens ou metrô, integração esta que tem um desconto parcial. Além do mais, com um trânsito cada vez mais paralisado, não é incomum que o tempo para a integração grátis se esgote antes da chegada do usuário ao seu local de baldeação. E vale lembrar que Kassab assumiu a cidade com a intenção de abolir o bilhete único, idéia engavetada por conta da enorme aprovação da população ao mecanismo.

De quebra, o paulistano deverá se deparar com novos aumentos, pois é o que a gestão do político do DEM pretende fazer nos trens da CPTM e no metrô – o que já ocorreu em 2009. A alegação da prefeitura para mais uma mordiscada no bolso da população é que os 600 milhões de reais anuais despejados nas empresas privadas que possuem concessões das linhas seriam insuficientes nos próximos anos para bancar o transporte público. Por isso o aumento acima até da inflação do período.

O deputado do PSOL Carlos Giannazi, em conversa com o Correio, discorda veementemente de tal justificativa e aponta outras motivações para o aumento das tarifas. "O subsídio já é alto. O que está em jogo é o lucro das empresas. Elas já têm lucros altíssimos, mas não querem abrir mão de nada. Não havia necessidade nem justificativa para o aumento. O subsídio já era suficiente, existia há muito tempo e o Kassab intensificou. Ou seja, com ele as empresas já acumularam enormes lucros nesses anos todos".

Para o parlamentar, a decisão é simplesmente inaceitável, principalmente diante das condições que os paulistanos têm enfrentado em seu dia-a-dia. "É uma afronta à população, até porque a passagem aqui na cidade já é caríssima, sem contar que através do erário ela já financia o próprio transporte. Isso mostra claramente que o prefeito está a serviço dos grandes empresários do transporte público, por sinal, de péssima qualidade, com verdadeiras carroças, superlotadas e em baixa quantidade. O transporte público, principalmente por ônibus e vans, é um dos maiores sofrimentos de São Paulo", assinala.

Tal insatisfação existe, apesar da invisibilidade do tema na mídia. Nos dias 7 e 14 de janeiro, algo em torno de 800 a 1000 habitantes da cidade se reuniram, em cada evento, para protestar contra os reajustes em frente ao Teatro Municipal. Liderados por movimentos como o Tarifa Zero, Passe Livre e Rede Contra o Aumento da Tarifa, os presentes mostraram todo seu inconformismo com mais um abusivo reajuste, em plena época de chuvas, mortes e engarrafamentos recordes.

Marca registrada
E como já é tradição das gestões demotucanas, não faltou repressão nas ocasiões citadas. "Os manifestantes reuniram-se no Teatro Municipal e de lá partiram pelas ruas do centro para o Terminal Parque Dom Pedro. Apesar do caráter lúdico da manifestação, as provocações constantes da PM criaram uma atmosfera de tensão durante todo o ato. As cenas que pudemos ver mostraram mais uma vez a crescente criminalização das lutas sociais. Ao tentarem entrar pacificamente no terminal, os manifestantes foram recebidos pela Polícia com bombas, balas de borracha, spray de pimenta e cassetetes", registrou matéria do site Passa Palavra, que também relatou espancamentos, assim como a Caros Amigos.

"Dentro desse contexto, o reajuste é uma violação da dignidade dos habitantes de São Paulo e dos usuários, que precisam pagar caro por uma passagem", completa o deputado, que também lembra o fato de o transporte público ser mais uma vítima das visões político-econômicas que o vírus neoliberal espalhou mundo afora.

"O atual modelo de concessões de linhas para empresas privadas está totalmente alinhado às políticas tucanas e do DEM, de entrega do patrimônio público ao setor privado, o que ocorre em várias esferas da administração pública, não só na capital como no estado, o que não é nada vantajoso para a cidade. Apenas segue a linha ideológica de terceirizar, privatizar, precarizar o serviço público. Essa tem sido a tônica dessas administrações, está no DNA delas, sempre em detrimento dos interesses da população", explica Giannazi.

Além de desvantajosas para a população, vale questionar a própria legitimidade/legalidade das concessões. Primeiro, por não respeitarem a vontade da população. Segundo, pela escandalosa contradição citada pelo parlamentar, já que é a própria população quem paga a conta. E paga duas vezes. Primeiro, ao financiar o subsídio, saído do cofre público, e depois por pagar a passagem no momento do uso.

Por conta dessa realidade de contínua espoliação, o deputado lembra que correto mesmo seria o transporte público gratuito. "Sou um fervoroso defensor dessa tese. No governo da Erundina já defendíamos a tarifa zero. Transporte é um direito público, que deve mesmo ser bancado pelo Estado. Quando fui vereador, apresentei três projetos nesse sentido, que até hoje estão lá parados. As empresas têm seus lobbies, seus representantes no parlamento, no executivo, até no judiciário, mas a luta por essa proposta segue existindo", afirmou.

Apesar disso, mantém os pés no chão, lembrando ser necessária maior consistência nas lutas sociais para se chegar a patamares tão elevados de justiça e direitos respeitados. "Seria justo e possível reduzir no mínimo pela metade os preços, já seria um bom começo. Precisamos entender que não temos acúmulo de lutas e um movimento forte em São Paulo para fazer esse embate. Precisamos organizar melhor os movimentos para lutarem nessas frentes, mas reduzir pela metade a tarifa já seria um grande avanço", finaliza.

Gabriel Brito é jornalista.

Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/

Howard Zinn: a História é feita pelos povos em movimento


Howard Zinn: a História é feita pelos povos em movimento

Morreu Howard Zinn, historiador e combatente estadunidense, um exemplo de que, como ele próprio disse, para os cientistas e os artistas não há neutralidade possível.

Com 87 anos de idade, morreu nesta quarta-feira 27 de Janeiro de 2010 após um ataque cardíaco, quando viajava com a família na Califórnia. Insigne historiador (foi um dos fundadores da denominada história radical, perspectiva que coloca em primeiro plano os movimentos sociais e suas lutas), figura proeminente nas lutas dentro dos EUA contra as guerras de agressão ao Vietname [Vietnã] e ao Iraque, «os seus escritos mudaram a consciência de toda uma geração e abriram novos caminhos ao entendimento e ao seu significado fundamental nas nossas vidas», disse uma vez, sobre ele, Noam Chomsky.

A sua obra mais conhecida, que teve grande repercussão na atitude de investigação e interpretação dos historiadores, foi publicada em 1980: A People’s History of the United States [Uma História Popular dos Estados Unidos]. Aqui, os grandes heróis não eram os Pais Fundadores - muitos deles proprietários de escravos e fortemente adeptos do status quo - mas sim os agricultores da Revolta de Shay e os organizadores dos sindicatos nos anos 1930, numa radical inversão de perspectiva entre heróis e vilões.

Como escreveu na sua autobiografia You Can’t Be Neutral on a Moving Train (1994) [Você não pode ser neutro num trem em movimento, lançada no Brasil em 2005 pela editora L-Dopa], «Desde sempre, a minha docência foi marcada pela minha própria história. Eu fazia o possível por ser justo com outros pontos de vista, mas queria algo mais do que a “objectividade”; queria que os estudantes saíssem das minhas aulas, não apenas mais bem informados, mas mais preparados para renunciarem à comodidade do silêncio, mais preparados para tomarem a palavra, para agirem contra as injustiças onde quer que as vissem. Claro que isto foi a maneira de eu arranjar muitas complicações.»

Na luta contra a guerra do Vietname [Vietnã] foram muito importantes dois livros de sua autoria: Vietnam: The Logic of Withdrawal [Vietname: A Lógica da Retirada] (1967) e Disobedience and Democracy [Desobediência e Democracia] (1968).

O Professor Zinn reformou-se cedo do ensino, para se dedicar por inteiro à militância progressista - movimentos, conferências, congressos.

Outra obra sua que deu a volta ao mundo foi um extraordinário filme intitulado The People Speak [O Povo Toma a Palavra], em que dá a voz a pessoas simples, inconformadas, lutadoras e desconhecidas, que em toda a parte (dos EUA) não se vergam e combatem pelos direitos dos trabalhadores e das comunidades - e que são evidentemente ignoradas pelos grandes médias [pela grande mídia].

Em 2003, poucas semanas antes de os EUA invadirem o Iraque, circulou por todo o mundo, traduzido em todas as línguas, um manifesto redigido por Howard Zinn em que se denunciava a perspectiva do horror que, pouco depois, atingiu o Iraque, manifesto esse que foi co-assinado por centenas de professores, cientistas, escritores e artistas de todo o mundo: Not In Our Name [Em Nosso Nome, Não]. Foi um momento em que Zinn muito ajudou o mundo a compreender que, no que respeita aos direitos humanos, à exploração, à guerra e ao imperialismo, não existe neutralidade nas ciências nem nas artes, contrariamente ao que vinha sendo defendido e imposto pela ideologia pós-moderna e neoconservadora.

Howard Zinn fará por certo muita falta aos estadunidenses e a todos os que, pelo mundo, travam difíceis combates sociais. Mas não esqueçamos que ele, e outros (como Chomsky), deixam nos EUA um rasto de seguidores e discípulos que não irão deixar vazio o seu lugar nas lutas. Passa Palavra

[Neste texto incluimos vários pedaços do artigo obituário de Mark Feeney, no Boston Globe.]

Fonte: http://passapalavra.info/

Eduardo Galeano: "ainda temos capacidade de loucura"

Eduardo Galeano: "ainda temos capacidade de loucura"

O escritor uruguaio se submeteu a perguntas enviadas pelos leitores da BBC:

- Quais são os ingredientes que usa na sua vida para manter o entusiasmo e a felicidade? Deveríamos engarrafá-los e distribuí-los, mas com patente.

EG - Engarrafá-los, eu não posso, porque se evaporam facilmente. O que têm de bom é que retornam sempre, mesmo se às vezes parece que foram embora para sempre. Suponho que por gentileza de Deus ou do Diabo.

- Para quem você escreve? É possível pensar – nas palavras de Umberto
Eco – em um leitor modelo?

EG – Eu escrevo para os amigos que ainda não conheço. Os que eu conheço já estão fartos de me escutar.

- Eu lhe digo que não tenho dinheiro para comprar livros e tampouco onde eu vivo tem livrarias que os vendam. Por isso não sei o que lhe perguntar. Só me ocorre o seguinte: o que você sente de tanto escrever e escrever, quando finalmente o mundo continua mais ou menos igual ou pior?

EG – A verdade é que nem eu mesmo me entendo. Eu escrevo para os que não podem me ler, porque os livros estão tão caros que daqui a pouco serão vendidos em joalherias. Mas isso sim, acredite, as palavras viajam caminhos misteriosos e andam por onde elas querem, sem pedir autorização.

- De que equipe de futebol você é torcedor (No Uruguai e no mundo)?

EG – Eu ainda sou torcedor do Nacional, aqui no Uruguai, o clube dos meus amores desde minha mais tenra infância, mas sobretudo sou torcedor do bom futebol e quando esse milagre acontece, eu o agradeço sem olhar a cor da camiseta. E se o bom futebol provem de um clube pequeno, quase desconhecido, então melhor ainda.

- Alguma vez você disse que cai e levanta várias vezes ao dia. Eu não se como me levantar. Como você faz?

EG - Pode te parecer uma besteira, mas eu te juro o que eu penso: se eu caio, é porque eu estava caminhando. E andar vale a pena, mesmo se a gente cai. Eu sou caminhante, na beira do rio a que chamamos mar, aqui em Montevideu, caminho horas e horas, e as palavras caminham dentro de mim e comigo. Às vezes elas se vão e me custa muito seguir sozinho, sem elas.

- O que é a vida para você, em uma única palavra?

EG – Em quatro palavras, não em uma: uma caixa de surpresas.

- Com o que você sonha? Você tem um sonho reiterado?

EG – Meus sonhos são de uma mediocridade inconfessável. Os que mais se repetem são os mais estúpido, eu perco um avião, discuto com um burocrata, coisas assim. Que feio, não? Eu me consolo recordando aqueles versos de Pedro Salinas que dizem que: “os sonhos são verdadeiros sonhos quando se desensonham e em matéria moral encarnam”.

- Você escreve tomando mate?

EG – Não, eu já não tomo mate. Tive que parar, há anos, como deixei também o cigarro, que tanto me acompanhou durante tanto tempo. Agora eu escrevo com cerveja ou algum outro trago. E enquanto eu escrevo, falo sozinho, em voz alta. Quem me vê de longe pensa que eu sou um bêbado perdido. Perdido eu sou, talvez, não sei; mas bêbado, não. Eu gosto de beber e por isso não me embebedo: o trago exige que não lhe faltem ao respeito.

- Por que as pessoas continuam acreditando em Deus? Você considera que essa crença atrasa o ser humano?

EG – Deus é o nome que nós damos à fé e por isso é múltipla, mesmo se muitos acreditem que a diversidade da fé é uma heresia digna de castigo.

- O que você opina do Prêmio Nobel recebido por Barack Obama? Como se justifica receber esse prêmio?

EG – Me pareceu uma piada de mau gosto. Mas não é nada raro, levando em conta que há um século o Prêmio Nobel da Paz foi concedido a Teddy Roosevelt, um apaixonado da guerra, que até escreveu um livro propondo a guerra como remédio para a covardia e a fraqueza dos machos no mundo.

- O que você acha do nacionalismo e do patriotismo? São bons ou criam mais problemas? São partes inseparáveis da identidade?

EG – Antes de que se inventasse essa palavra horrível, globalização, que designa a ditadura universal do dinheiro, existia outra, linda, generosa, a palavra internacionalismo. Eu continuo preferindo-a. Para mim, continua significando algo assim como que podemos ser compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham vontade de justiça e vontade de beleza, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido onde tenham vivido, sem que importem nem um pouquinho as fronteiras do mapa, nem do tempo.

- Nossa América toda, tem possibilidades de se curar?

EG – Claro que sim. Não está tão doente, se a comparamos. Ainda temos, por exemplo, capacidade de loucura, que é o sintoma infalível da boa saúde.

- Eu gostaria de saber como você vê o século XXI. Com pessimismo? Com otimismo?

EG – Eu não acredito nos otimistas full-time. Esses são farsantes ou cegos. Eu sou otimista e também pessimista, conforme a hora e o dia, creio e descreio, celebro e lamento este tempo nosso e este mundo que nos toca viver. Cada tempo tem seu contratempo, é verdade, mas também é verdade que cada cara contem sua contracara. A contradição é o motor da vida: da vida humana e de todas as outras vidas.
Assumir isso me ajuda a não me arrepender das minhas tristezas, das minhas depressões, das minhas músicas ruins: elas são pares inseparáveis de mim. Não tenho mais talento do que aquele que provém da experiência; todo o trabalho que eu tenho todo dia perseguindo as palavras que fogem.

- Como você vê o mundo e o estado da sociedade atual? Você acredita que pode ficar de pé o mundo de cabeça pra baixo? O que você acha que faz falta para que se produza uma mudança transcendental em cada um dos habitantes deste planeta?

EG - Não sei, não creio nas fórmulas mágicas. Eu sei, simplesmente, por experiência, que vale a pena que a gente se una para lutar juntos pelas coisas em que vale a pena acreditar. Sós, sozinhos, pouco ou nada podemos fazer. Mais do que isso, eu te digo: não devemos desalentar-nos tão facilmente. Se as coisas não saem como a gente gostaria, bom, é preciso aprender a arte da paciência, é preciso aceitar que a realidade muda no ritmo que ela quer e não no que a gente decide que ela deva mudar. “Se a realidade não me obedece, não me merece”, dizem ou pelo menos acreditam alguns intelectuais. Eu não.”

- O que fazer diante do desânimo e da impotência depois de ler seus escritos? Que soluções você propõe diante da dominação e da exploração que sofremos sempre?

EG - Eu não vendo receitas da felicidade e te recomendo que não acredite nos bandidos que a vendem. Eu tampouco creio nos dogmáticos religiosos ou políticos que vendem certezas. Para mim, as únicas certezas dignas de fé são as que tomam café de dúvidas a cada manhã.

- Se você entrasse hoje numa máquina do tempo e ela o levasse cem anos para o futuro, o que acha que encontraria quando saísse dela?

EG - Não tenho a menor idéia, nem quero tê-la. Cada vez quem uma cigana se aproxima de mim e me pega a mão para ler o meu futuro, eu lhe peço que, por favor, não cometa essa crueldade. O melhor que tem o futuro é que tem muito mistério.

- O que é para você a esquerda? Por acaso essa dicotomia de esquerda contra direita não caducou na década de 70? Até quando o mal de muitos será culpa de uns poucos “malvados”? Até quando seguirá vendendo a vitimização como tática para a transformação social?

EG – A culpa é de todos, nos dizem os culpados de que as relações humanas tenham se envenenado e os culpados de que estejamos ficando sem planeta. Tinha razão dona Concepción Arenal, mulher luminosa, que se formou como advogada disfarçada de homem, com duplo corsê e teve a coragem de dizer o que os homens diziam, em meados do século XIX: “Se a culpa é de todos, não é de ninguém. Quem generaliza, absolve.”

- Estou de acordo com todos os males do capitalismo que o distinguido escritor coloca em destaque, mas e os males do socialismo? Qual seria a melhor via para um desenvolvimento mais humano?

EG – O século XX divorciou a justiça da liberdade. A metade do mundo sacrificou a justiça em nome da liberdade e a outra sacrificou a liberdade em nome da justiça. Essa foi a tragédia do século passado. O desfio do século atual consiste, acho eu, em unir a essas duas irmãs siamesas que foram obrigadas a viver separadas. A justiça e a liberdade querem viver bem pegadinhas.

- Como fazer que o mundo entenda a diferença entre a verdadeira esquerda, identificada com o povo, da demagoga, como a burocracia soviética ou a cubana?

EG - Cada um entende à seu modo e maneira, e age do seu modo e maneira. Eu sou muito respeitoso com as idéias e as vidas dos demais.

- Você não acha que as palavras “pobre” e “grátis” criaram uma mentalidade resignada nas pessoas deprimidas dado que, por esperar tudo grátis do “papai governo”, fazem muito pouco ou nada para superar suas condições de vida e preferem continuar vivendo na pobreza?

EG- A caridade pode produzir, as vezes, algo disso. A caridade é vertical, da esmola, semeia costumes ruins, como os folgados. Além disso, é humilhante. Como diz um provérbio africano, a mão que dá está sempre acima da mão que recebe. Mas as relações de solidariedade, que são horizontais, geram respostas completamente diferentes.

- Eu sempre me perguntei como você faz para encontrar combinações tão felizes de palavras, palavras que a gente escutou (e escreveu) centenas de vezes e que quando você as junta parecem um discurso novo.

EG - Muito obrigado pelo elogio. Eu só posso te dizer que nenhuma fada visitou meu berço. Eu não tenho mais talento do que o que provêm da experiência: o muito trabalho de cada dia é gasto perseguindo palavras que fogem.

- Há quase 40 anos de As veias abertas da América Latina, você pensou em escrever uma segunda parte?

EG – Na verdade todos escrevemos um único livro, que vai mudando e vai se multiplicando à medida que a vida vive e o escritor escreve. Para mim, As Veias Abertas foi um porto de partida, não um porto de chegada. Desde aí, eu acho, eu multipliquei minha visão do mundo.

Tradução: Emir Sader

Fonte: www.cartamaior.com.br

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Pensamentos de um Judeu no Dia de Lembrança do Holocausto


Pensamentos de um Judeu no Dia de Lembrança do Holocausto

Neste dia de Lembrança do Holocausto de 2010, que evoca o extermínio deliberado de seis milhões de judeus pelo regime nazi da Alemanha, terei muito que ponderar. Mas enquanto judeu consciente, não me é preciso um dia oficial de Lembrança do Holocausto para reflectir sobre o seu significado. O Holocausto está cravado na minha consciência desde criança e tem sido forçosamente objecto de reflexão ao longo da minha vida.

Antes de mais, o Holocausto pertence à Humanidade e não apenas a nós judeus. Não deveremos cobiçar a sua memória. Sobretudo enquanto judeu, parece-me necessário evocar a memória de todos os seres inocentes, muitos mais milhões ainda, que foram escravizados, dizimados e exterminados - judeus, ciganos, polacos, eslavos, homossexuais, pessoas com deficiências e outras - em nome do mito da raça suprema. É preciso reflectir sobre o racismo e a intolerância em geral, que se prolongaram ao longo do século XX e deste século, que motivaram os crimes enormes que, hoje em dia, rotulamos como “genocídios”. Parece impensável, mas à nossa volta continua a oprimir-se e a destruir-se povos por pertencerem a grupos étnicos diferentes em lutas competitivas por territórios, recursos e poder político.

Contudo, neste dia de Lembrança do Holocausto de 2010 os meus pensamentos são focados em vários temas específicos. Em primeiro lugar, no conflito entre os judeus de Israel e os árabes da Palestina. Para muitos judeus, a sobrevivência do Holocausto traduziu-se na procura de refúgio exclusivo num Estado-fortaleza de Israel na esperança de que o que aconteceu não voltasse a acontecer. Entendo essa procura mas não aceito a falsa segurança que se tenha obtido à custa do povo palestiniano. Apesar da crença bíblica na nossa eleição pelo Todo-Poderoso como o seu povo ou de estratégia sionista da separação, face às normas da civilização moderna que emergiu dos escombros da Segunda Guerra Mundial a nossa procura de salvação e de auto-determinação não nos conferiu o direito de desapropriar um outro povo que habitava esse território durante a nossa longa Diáspora, facto que de algum modo foi reconhecido pelas Nações Unidas ao dividir a Palestina, por bem ou por mal, em dois estados para dois povos. Na guerra que sucedeu a essa decisão da comunidade internacional, Israel ganhou a sua independência e mais terra ainda e os palestinianos sofreram um desastre nacional, ficando com apenas 22% da sua Palestina. E desde a guerra de 1967, em que Israel conquistou os territórios que tinham permanecido dos palestinianos, esse povo, o nosso Outro, tem vindo a sofrer uma ocupação cruel – através da qual Israel continua a apropriar-se ilegalmente de mais território e mais recursos palestinianos. Desde 1948 que o povo da Palestina tem sido progressivamente desapossado da sua terra secular e tem sofrido o desmembramento da sua nação. Alguns chamam a essa experiência genocídio. Os palestinianos referem-se não a uma Shoah mas a uma Naqba. Quer concorde ou não com o rótulo, enquanto judeus temos que ponderar o seu significado e a diferença aparente entre duas palavras que implicam, ambas, a destruição de um povo.

Outro dos meus pensamentos dirige-se mais particularmente ao povo palestiniano de Gaza, cercado e preso no que me parece cada vez mais um campo de concentração. Acabámos de assinalar a passagem de um ano sobre o fim do massacre da operação Chumbo Fundido que resultou em 1.400 mortos, 313 dos quais crianças e numa destruição massiva.

Mesmo que se reconheça ao Estado de Israel o direito de se defender, como refere o Relatório Goldstone, o direito internacional nunca poderia justificar nem a desproporcionalidade da Operação Chumbo Fundido nem a manutenção deste cerco desumano. O direito internacional exige que se procure esgotar todas as possibilidades de resolução pacífica da situação antes do recurso à violência – o que Israel não fez, mantendo o cerco. Mas não se tratou de um caso de defesa legítima. Israel procurava um pretexto para restabelecer a sua força dissuasora na região e deliberadamente rompeu as tréguas em vigor na altura. A reacção previsível do Hamas ao ataque israelita do dia 4 de Novembro de 2008 forneceu ao Israel um pretexto para a sua guerra.

Deveremos ver nas bombinhas de Gaza não um pretexto para um castigo colectivo mas um sinal da aflição e mesmo da resistência de um povo, por mais mal dirigido que possa ser.

Actualmente, em vez de investigar as alegações contra as suas forças armadas, como pedido pelo Relatório Goldstone, Israel está a investir muito esforço na propaganda para contrariar esse Relatório preparado para as Nações Unidas pelo judeu sionista Richard Goldstone. Israel tem estado assim na vanguarda das tentativas para mudar as leis que regulam a guerra. Mobilizando argumentos sobre as “assimetrias” na guerra contra o terrorismo, Israel está a enfraquecer o direito internacional, que tanto deve às lições do Holocausto, para facilitar a sua guerra contra o povo palestiniano. A única assimetria pertinente em causa é a do poder militar de Israel em relação a uma população sem meios eficazes para a sua defesa.

É intolerável que nada de efectivo tem sido feito para acabar com o cerco a Gaza ou aliviá-lo. Israel nem sequer deixa entrar cimento no território. Em contradição com os valores humanistas que se tornaram oficiais depois do Holocausto, o mundo ocidental só permite que esta situação (que a Amnistia Internacional apelidou de “castigo colectivo”) se tenha produzido e mantido devido à demonização racista dos árabes e dos muçulmanos em geral e dos palestinianos em particular. Apontando o dedo aos fundamentalistas islâmicos do Hamas, a propaganda israelita tem diabolizado o povo palestiniano de Gaza devido à sua resistência a Israel.

Ironicamente, a ocupação e o anti-semitismo reforçam-se mutuamente.

Para muitos judeus, cuja consciência social nasceu da nossa história de opressão e do Holocausto, a política de Israel constitui uma mácula indelével na nossa tradição supostamente humanista. Mas a propaganda israelita frequentemente intitula judeus que pensam como eu “self-hating Jews”, ou seja, judeus que se negam a si próprios. Esta táctica apagou a crítica da ocupação durante muito tempo, mas está a perder eficácia depois do massacre de Gaza. Actualmente, o alvo dessa propaganda é o próprio juiz Goldstone, tratando-o de “anti-semita” numa campanha cujo objectivo é descredibilizar o relatório da sua comissão sobre os crimes de guerra em Gaza.

Porém, há cada vez mais judeus que, como eu, consideram a política dos governos de Israel inconsistente com a sua identidade de judeu num mundo que conheceu o Holocausto. Propomos a alternativa de uma paz justa com base no direito internacional e o fim do cerco ilegal de Gaza e o fim da ocupação dos territórios palestinianos.

Eis o que muito me dá que pensar neste Dia de Lembrança do Holocausto, mas nisso pensarei enquanto judeu consciente e, neste fim-de-semana, juntar-me-ei nestes pensamentos a judeus de diferentes países europeus num congresso em Paris dos Judeus Europeus para uma Paz Justa.

Lisboa, 27 de Janeiro de 2010,

Alan Stoleroff
Professor universitário

Fonte: http://todosporgaza.blogspot.com/

Lançamento do Aviso Final zine no festival ABC do Som‏ - Dia 31/01/2010


Lançamento do Aviso Final zine no festival ABC do Som

No próximo domingo, dia 31 de janeiro, finalmente estarei lançando o Aviso Final zine # 25 em São Caetano do Sul. Será no festival ABC DO SOM organizado pelo Cidadão do Mundo. Especialmente neste terceiro dia do festival os shows acontecerão ao ar livre, num palco montado próximo a sede do Cidadão, na rua Rio Grande do Sul, 78. Dentre as diversas atrações, destaco os shows das lendárias bandas punks DZK, Cólera e Inocentes; e principalmente o Hellsakura da guitarrista e vocalista Cherry tocando pela primeira vez no ABC paulista. Imperdível! Vale lembrar que os shows serão transmitidos pela Rádio do Cidadão do Mundo (www.cidadaodomundo.org.br).
Acompanhe a programação completa dos 3 dias de festival em http://festivalabcdosom2009.blogspot.com/

Forte abraço!

Renato Donisete

www.fotolog.com/aviso_final

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

"A esquerda não soube dar respostas à crise do capitalismo" - Por Bia Barbosa


"A esquerda não soube dar respostas à crise do capitalismo"


Na avaliação de ativistas do movimento altermundista, nem governos nem movimentos populares apresentaram alternativas concretas à ultima crise sistêmica do capital, perdendo uma oportunidade histórica para, de fato, superá-lo. Buscar essas respostas é mais um desafio colocado para o Fórum Social Mundial. Para o venezuelano Edgardo Lander, "o capitalismo, como sistema global, é incompatível com a preservação da vida". Quem quiser discutir superação do capitalismo sem discutir o Estado que queremos estará girando em falso. A resistência eterna é o caminho da derrota", diz Emir Sader.

Bia Barbosa

A crise internacional vivida pelo sistema capitalista no último ano expôs a fragilidade do modelo neoliberal. Mesmo para os mais adeptos da teoria do livre mercado, ficaram explícitas suas conseqüências em relação à desigualdade social e à concentração de renda e o absolutismo o modelo passou a ser questionado. Segundo as Nações Unidas, em 2009 mais de um bilhão de pessoas passou fome; um bilhão também não teve acesso à água. Há aqueles que afirmam que ultrapassamos os limites da sobrevivência da humanidade. Apesar do quadro apocalíptico, muitos países começam a sair da crise econômica sem que respostas concretas de superação do capitalismo tenham sido trazidas à mesa. Na avaliação de ativistas do movimento altermundista que participam das atividades da décima edição do Fórum Social Mundial em Porto Alegre, nem governos nem movimentos populares apresentaram alternativas ao sistema hegemonizado pelo capital, perdendo uma oportunidade histórica para, de fato, superá-lo.

“O capitalismo, como sistema global, é incompatível com a preservação da vida. Hoje vivemos uma exigência radical de reverter essa lógica de crescimento e promover uma radical redistribuição do acesso dos seres humanos aos bens comuns”, afirma Edgardo Lander, da Universidade Central da Venezuela. “No entanto, a sociedade capitalista conseguiu a incrível globalização da subjetividade, da consolidação no imaginário da realização da vida pelo consumo. Este padrão individualista de consumo e de produção do conhecimento está a ponto de ganhar a batalha final”, avalia.

Para Paulo Vizentini, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mesmo que a esquerda diga que outro mundo é possível, ela não ainda sabe muito bem que mundo é esse, nem como chegar lá. “Nos últimos anos, começou-se a resgatar o conceito de desenvolvimento e a promover uma maior intervenção do Estado, com a volta das políticas sociais, que haviam sido abandonadas nos anos 90. No entanto, ao olharmos para o quadro em âmbito global, os avanços são menores do que o desejado”, acredita Vicentine.

“O mais sério é a incapacidade de articular uma resposta política à crise econômica internacional. Não houve uma resposta tão forte quanto era necessário. A esquerda ainda age muito na resistência, sem ocupar espaços que são abertos. Há um sistema que de certa forma está falindo, mas consegue sobreviver face à ausência de uma posição mais contundente. Somam-se a isso as tentativas de cooptação de países emergentes, como China e Brasil, via a construção de propostas como o G2 [China e EUA], para que abandonem um novo projeto de desenvolvimento”, completa.

Ao mesmo tempo, os fatores de consolidação do socialismo como um sistema alternativo ao capital se retraíram. Para muitos, não é possível falar em socialismo do século XXI sem que se faça um balanço aprofundado e crítico do que aconteceu com o socialismo no século XX. “E o socialismo fracassou por duas razões fundamentais: não aprofundou a democracia e a possibilidade de participação popular, e deu continuidade a um modelo de desenvolvimento tão devastador quanto o capitalismo”, acredita o venezuelano Lander. Em relação aos partidos políticos e aos governos progressistas, a avaliação dos ativistas também é de extraordinárias debilidades.

“Do ponto de vista do padrão produtivo, do conceito de desenvolvimento e de progresso, os governos tidos como progressistas da América Latina, que chegaram ao poder com um projeto de mudança, que eram uma expressão de resistência a essa forma de desenvolvimento, não alteraram nada, e alguns ainda aprofundaram e acentuaram este padrão civilizatório na mesma direção”, diz ainda Lander.

O pesquisador da Universidade Central da Venezuela lembrou da luta do MST contra a legalização dos transgênicos durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, que acabaram sendo liberados na gestão Lula. E, na Venezuela, apesar dos avanços no debate sobre a superação do capitalismo, a economia do país é mais dependente do petróleo na gestão Chávez do que era há dez anos.

“Hoje só existe um grande projeto de sociedade de consumo. Então esta decadência do capitalismo é relativa, lenta, sem que surja no horizonte uma alternativa. E o capitalismo não terminará se não houver uma alternativa”, sentencia Emir Sader, do CLACSO (Conselho Latino-americano de Ciências Sociais).

Desafios para os movimentos do Fórum Social Mundial
Se a crise de 2008 confirmou que as idéias do FSM estavam corretas, a ausência de concretude nas alternativas já desenvolvidas e a sobrevivência do capitalismo a mais uma avalanche revelam que os desafios dos movimentos populares organizados em torno do Fórum são ainda maiores e sua luta continua extremamente atual.

“Há uma oportunidade que está aberta e da qual não soubemos tirar o devido proveito. As eleições no Chile e o desfecho em Honduras soam como um alerta da disposição a uma contra-ofensiva para que mesmo os governos mais moderados não tenham possibilidade de continuidade dos seus governos. É necessário analisar as mudanças e organizar uma estratégica rapidamente, que passe por uma política de aliança com novas forças sociais de apoio para projetos dessa natureza. Falar de multipolaridade é falar de novos pólos emergentes de poder. Isso não será ainda a democracia, mas criará uma correlação de forças que permitirá um realinhamento de políticas e colocará a luta num outro patamar importante”, acredita Paulo Vizentini.

Para o sociólogo Emir Sader, o processo para a construção da disputa de hegemonia por um mundo multipolar precisa necessariamente discutir as políticas dos governos que foram construídos na mesma onda do Fórum Social Mundial. “O Fórum tem que discutir temas centrais de alternativas. Não podemos nos limitar a debater questões sociais. Quem quiser discutir superação do capitalismo sem discutir o Estado que queremos estará girando em falso. A resistência eterna é o caminho da derrota, e o Fórum tem que se abrir para este processo senão ficará para trás. Tem que se reciclar e aderir a esta dinâmica”, conclui.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br
Foto: By Jorel

Enquanto isso, no Jardim Pantanal



Foto retirada do: Blog do Mílton Jung

Enquanto as crianças do Jardim Pantanal começam a buscar novas formas de brincadeiras e com isso sujeitas a uma infinidades de doenças e bactérias sobem para 64 o números de vítimas no Estado de São Paulo.

As pessoas morrem e ninguém é responsabilizado!

Provos Brasil

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Jornalistas bundões - Por Wladimyr Ungaretti

Jornalistas bundões

Gostaria de dar o nome de alguns desses bundões. Os que com a bunda pregada diante dos computadores, das modernas redações, são os donos do mundo.

Wladimyr Ungaretti

Blog Ponto de Vista


Andréia vive pelos bares do Mercado Público de Porto Alegre. Quer casar com um coroa, branco. Promete fidelidade e dedicação. Sempre usou camisinha. Tem 38 anos. Disse que já foi mais bonita, mas quer voltar a se cuidar.

Estava tentando levantar uma grana para visitar o filho em Florianópolis. É super bem humorada. Suas observações sobre os frequentadores dos bares é de quem sabe tudo da vida. De uma vida sofrida.

Ele é Paulo Monteiro. Um técnico em enfermagem. Está sumido do emprego. Deveria estar trabalhando em um hospital de Porto Alegre. Um dos filhos, o que está com o cartão bancário dele, treina no Grêmio. O outro estuda para prestar vestibular na medicina. Ele admite que têm problemas de alcoolismo. Quando fala que está morando na rua começa a chorar. Estava se preparando para dormir na rua Voluntários da Pátria. Não tinha feito uma refeição durante todo o dia. Não disse muito mais do que isso. É super educado.

Anderson Alexandre procurava o que comer no lixo da Avenida Independência (PA). O iogurte, de todos os potinhos que encontrou, estava estragado. No máximo conseguiu uma ou outra fruta. Recolheu algum material de plástico para vender. É mais um morador de rua que vive do lixo.

Os jornalistas são uns bundões. Pontodevista está sob censura. Gostaria de dar o nome de alguns desses bundões. Os que com a bunda pregada diante dos computadores, das modernas redações, são os donos do mundo. O fotojornalismo é das fotos/divulgação, do material já editado pelas agências ou das pautas da perfumaria. Não posso fazer nada. É a minha opinião. O meu final de segunda-feira foi marcado por estas histórias de vida. Com 78 quilos (quatro a mais que Tarso de Castro) de músculos e fúria, sem o seu talento, transfiro esta porrada a todos vocês. Jornalistas bundões um dia serão obrigados a prestar conta das histórias não contadas. Por nos empanturrarem de tanto lixo perfumado. Todos com diploma. O jornal “Última Hora” de Porto Alegre, sob a orientação de Samuel Wainer, começou a circular em fevereiro de 1960. Ninguém tinha diploma.

Não compre nenhum jornal, pelo menos hoje. Existem melhores textos de ficção. Lixo ficcional não serve para nada. Intoxica. Os marginais, os que estão à margem, vão comer os bundões. Qualquer dias desses.

Palavras como estiletes. Quero perfurar a alma das pessoas.

* Wladimyr Ungaretti é jornalista e professor de jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Atualmente ele está sendo processado e seu blog Ponto de Vista está sob censura por criticar o material fotográfico do jornal Zero Hora

Fonte: http://www.brasildefato.com.br

Guerra contra o uso medicinal da maconha – Por Latuff

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A maldição branca - Por Eduardo Galeano


A maldição branca

No primeiro dia deste ano, a liberdade completou dois séculos de vida no mundo. Ninguém se inteirou disso, ou quase ninguém.

O Haiti foi o primeiro país onde se aboliu a escravidão. Contudo, as enciclopédias mais conhecidas e quase todos os livros de escola atribuem à Inglaterra essa histórica honra. É verdade que certo dia o império que fora campeão mundial do tráfico negreiro mudou de idéia; mas a abolição britânica ocorreu em 1807, três anos depois da revolução haitiana, e resultou tão pouco convincente que em 1832 a Inglaterra teve de voltar a proibir a escravidão.

Nada tem de novo o menosprezo pelo Haiti. Há dois séculos, sofre desprezo e castigo. Thomas Jefferson, prócer da liberdade e dono de escravos, advertia que o Haiti dava o mau exemplo, e dizia que se deveria "confinar a peste nessa ilha". Seu país o ouviu. Os Estados Unidos demoraram 60 anos para reconhecer diplomaticamente a mais livre das nações. Por outro lado, no Brasil chamava-se de haitianismo a desordem e a violência. Os donos dos braços negros se salvaram do haitianismo até 1888. Nesse ano o Brasil aboliu a escravidão. Foi o último país do mundo a fazê-lo.

O Haiti voltou a ser um país invisível, até a próxima carnificina. Enquanto esteve nas TVs e nas páginas dos jornais, no início deste ano, os meios de comunicação transmitiram confusão e violência e confirmaram que os haitianos nasceram para fazer bem o mal e para fazer mal o bem. Desde a revolução até hoje, o Haiti só foi capaz de oferecer tragédias. Era uma colônia próspera e feliz e agora é a nação mais pobre do hemisfério ocidental. As revoluções, concluíram alguns especialistas, levam ao abismo. E alguns disseram, e outros sugeriram, que a tendência haitiana ao fratricídio provém da selvagem herança da África. O mandato dos ancestrais. A maldição negra, que empurra para o crime e o caos.

Da maldição branca não se falou.

A Revolução Francesa havia eliminado a escravidão, mas Napoleão a ressuscitara:

- Qual foi o regime mais próspero para as colônias?

- O anterior.

- Pois, que seja restabelecido.

E, para substituir a escravidão no Haiti, enviou mais de 50 navios cheios de soldados. Os negros rebelados venceram a França e conquistaram a independência nacional e a libertação dos escravos.

Em 1804, herdaram uma terra arrasada pelas devastadoras plantações de cana-de-açúcar e um país queimado pela guerra feroz. E herdaram "a dívida francesa". A França cobrou caro a humilhação imposta a Napoleão Bonaparte. Recém-nascido, o Haiti teve de se comprometer a pagar uma indenização gigantesca, pelo prejuízo causado ao se libertar. Essa expiação do pecado da liberdade lhe custou 150 milhões de francos-ouro. O novo país nasceu estrangulado por essa corda presa no pescoço: uma fortuna que atualmente equivaleria a US$ 21,7 bilhões ou a 44 orçamentos totais do Haiti atualmente. Muito mais de um século demorou para pagar a dívida, que os juros multiplicavam. Em 1938, por fim, houve e redenção final.

Nessa época, o Haiti já pertencia aos brancos dos Estados Unidos.

Nem Bolívar
Em troca dessa dinheirama, a França reconheceu oficialmente a nova nação. Nenhum outro país a reconheceu. O Haiti nasceu condenado à solidão. Tampouco Simon Bolívar a reconheceu, embora lhe devesse tudo. Barcos, armas e soldados lhe foram dados pelo Haiti em 1816, quando Bolívar chegou à ilha, derrotado, e pediu apoio e ajuda. O Haiti lhe deu tudo, com a única condição de que libertasse os escravos, uma idéia que até então não lhe havia ocorrido. Depois, o herói venceu sua guerra de independência e expressou sua gratidão enviando a Port-au-Prince uma espada de presente. Sobre reconhecimento, nem uma palavra.

Na realidade, as colônias espanholas que passaram a ser países independentes continuavam tendo escravos, embora algumas também tivessem leis que os proibia. Bolívar decretou a sua em 1821, mas, na realidade, não se deu por inteirada. Trinta anos depois, em 1851, a Colômbia aboliu a escravidão, e a Venezuela em 1854.

Em 1915, os fuzileiros navais desembarcaram no Haiti. Ficaram 19 anos. A primeira coisa que fizeram foi ocupar a alfândega e o escritório de arrecadação de impostos. O exército de ocupação reteve o salário do presidente haitiano até que este assinasse a liquidação do Banco da Nação, que se converteu em sucursal do City Bank de Nova York. O presidente e todos os demais negros tinham a entrada proibida nos hotéis, restaurantes e clubes exclusivos do poder estrangeiro. Os ocupantes não se atreveram a restabelecer a escravidão, mas impuseram o trabalho forçado para as obras públicas.

E mataram muito. Não foi fácil apagar os fogos da resistência. O chefe guerrilheiro Charlemagne Péralte, pregado em cruz contra uma porta, foi exibido, para escárnio, em praça pública.

A missão civilizadora terminou em 1934. Os ocupantes se retiraram deixando no país uma Guarda Nacional, fabricada por eles, para exterminar qualquer possível assomo de democracia. O mesmo fizeram na Nicarágua e na República Dominicana. Algum tempo depois, Duvalier foi o equivalente haitiano de Somoza e Trujillo.

E, assim, de ditadura em ditadura, de promessa em traição, foram somando-se as desventuras e os anos. Aristide, o cura rebelde, chegou à presidência em 1991. Durou poucos meses. O governo dos Estados Unidos ajudou a derrubá-lo, o levou, o submeteu a tratamento e, uma vez reciclado, o devolveu, nos braços dos fuzileiros navais, à Presidência. E novamente ajudou a derrubá-lo, neste ano de 2004, e outra vez houve matança. E de novo os fuzileiros, que sempre regressam, como a gripe.

Entretanto, os especialistas internacionais são muito mais devastadores do que as tropas invasoras. País submisso às ordens do Banco Mundial e do Fundo Monetário, o Haiti havia obedecido suas instruções sem pestanejar. Eles o pagaram negando-lhe o pão e o sal.

Náufragos anônimos
Teve seus créditos congelados, apesar de ter desmantelado o Estado e liquidado todas as tarifas alfandegárias e subsídios que protegiam a produção nacional. Os camponeses plantadores de arroz, que eram a maioria, se converteram em mendigos ou emigrantes em balsas. Muitos foram e continuam indo parar nas profundezas do Mar do Caribe, mas esses náufragos não são cubanos e raras vezes aparecem nos jornais.

Agora, o Haiti importa todo seu arroz dos Estados Unidos, onde os especialistas internacionais, que é um pessoal bastante distraído, se esquecem de proibir as tarifas alfandegárias e os subsídios que protegem a produção nacional.

Na fronteira onde termina a República Dominicana e começa o Haiti, há um cartaz que adverte: o mau passo.

Do outro lado está o inferno negro. Sangue e fome, miséria, pestes…

Nesse inferno tão temido, todos são escultores. Os haitianos têm o costume de recolher latas e ferro velho e, com antiga maestria, recortando e martelando, suas mãos criam maravilhas que são oferecidas nos mercados populares.

O Haiti é um país jogado no lixo, por eterno castigo à sua dignidade. Ali jaz, como se fosse sucata. Espera as mãos de sua gente.

Eduardo Galeano é escritor e jornalista uruguaio, autor de As Veias Abertas da América Latina e Memórias do Fogo.

Fonte: http://www.operamundi.com.br

Balanço do "outro mundo possível" - Por Emir Sader


Balanço do "outro mundo possível"

Aos dez anos de Seattle e do primeiro Fórum Social Mundial, o balanço que é preciso fazer é da luta pelo “outro mundo possível”. Um balanço do FSM deve ser não o balanço dos Fóruns, mas dos objetivos a que se propôs, quando começamos a organizá-los, há uma década. A avaliação do FSM ter que ser feita em função das suas contribuições à construção de alternativas ao neoliberalismo.

A análise é de Emir Sader.
Data: 24/01/2010

Aos dez anos de Seattle e do primeiro Fórum Social Mundial, o balanço que é preciso fazer é da luta pelo “outro mundo possível”. Um balanço do FSM deve ser não o balanço dos Fóruns, mas dos objetivos a que se propôs, quando começamos a organizá-los, há uma década.

Uma outra ótica seria vítima do corporativismo, da crença que a evolução interna de uma organização é a história política dessa organização. A história e o balanço de um partido político deve ser o balanço dos objetivos a que esse partido se propõe. Um balanço do FSM não é um balanço da situação das ONGs ou dos movimentos sociais. Ao contrário, estes devem ser avaliados em função da contribuição que tenham feito à construção do “outro mundo possível”.

Por isso, a referência a estabelecer como parâmetro de avaliação é a situação de criação do “outro mundo possivel”. Há uma década o neoliberalismo ainda reinava soberanamente como modelo hegemônico, seja em escala mundial, seja na América Latina. Na sucessão da primeira geração de mandatários que o personificavam – Reagan, Thatcher -, para a segunda – Clinton, Blair – se ampliava o consenso da extrema direita para forças originariamente alternativas a ela: os democratas norteamericanos, os trabalhistas ingleses. Enquanto que no continente, ao extremismo de direita de Pinochet se somavam formas nacionalistas – como o peronismo de Menem e os governos do PRI mexicano -, assim como social democratas, como os socialistas chilenos, AD da Venezuela, os tucanos brasileiros.

Nossas sociedades foram profunda e extensamente transformadas conforme esse receituário, os Estado nacionais enfraquecidos, os patrimônios públicos privatizados, os direitos sociais recortados, o capital especulativo incentivado, resultando no aumento brutal da desigualdades, da concentração de renda, da exclusão dos direitos à massa da população, do empobrecimento generalizado das sociedades e dos Estados.

Passados dez anos, o mundo continua sob hegemonia conservadora, mesmo se debilitado na sua legitimidade, o modelo neoliberal segue hegemônico. A diferença substancial vem da América Latina, onde um conjunto de governos, mesmo se diferenciados entre si, passaram a colocar em prática políticas contrapostas ao modelo neoliberal, depois de ter sido a região privilegiada de dominação neoliberal, com a maior quantidade e as modalidades mais radicais de governos neoliberais.

A região apresenta hoje os mais importantes processos de integração regional em contraposição aos Tratados de Livre Comércio propostos pelo neoliberalismo. O grande projeto norteamericano, que buscava estender a livre comércio a todo o continente, a Alca, foi derrotado e, no seu espaço, se fortaleceu o Mercosul, se desenvolveram o Banco do Sul, Unasul, o Conselho Sulamericano de Defesa, a Alba – entre outras iniciativas. São espaços alternativos, em que se desenvolvem, em distintos níveis, formas de intercambio privilegiado entre os países da região, acompanhadas da diversificação do comércio internacional dos países que participam dela.

Ao mesmo tempo, em alternativa ao privilégio dos ajustes fiscais, se desenvolveram políticas sociais que melhoraram significativamente o nível de vida e diminuíram os graus de desigualdade no continente de maior desigualdade no mundo. Os mercados internos de consumo popular se ampliam e se aprofundam.

A combinação desses três elementos – diversificação do comércio internacional, com diminuição do peso do centro do capitalista e aumento importante do peso dos intercâmbios do Sul do mundo; intensificação substantiva do comércio entre os países da região; expansão, inclusive durante a crise, do mercado interno de consumo popular – fez com que os países incorporados aos processos de integração regional, resistiram muito melhor aos duros efeitos da crise e vários deles voltaram a crescer.

Por outro lado, projetos como os de alfabetização – que fizeram com que a Venezuela, a Bolívia e o Equador tenham se somado a Cuba, como os territórios livres de analfabetismo nas Américas -, de formação de várias gerações de médicos pobres no continente, pelas Escolas Latinoamericanas de Medicina, em Cuba e na Venezuela - de recuperação da visão de mais de 2 milhões de pessoas, na Operação Milagre – demonstram como a recuperação de direitos essenciais tem que se fazer na esfera pública e não na mercantil.

Os intercâmbios solidários dentro da Alba são exemplos concretos do “comércio justo”, pregado pelo FSM desde seus inícios, em espaços com critérios das possibilidades e das necessidades de cada país, em contraposição clara às normas do mercado, do livre comércio e da OMC.

Sem ir mais longe, a avaliação do FSM ter que ser feita em função das suas contribuições à construção de alternativas ao neoliberalismo, do “outro mundo possível”. Sem uma compreensão concreta da força e da abrangência da hegemonia neoliberal, assim como das condições inéditas concretas em que se constroem alternativas, o debate passaria longe da realidade concreta de luta contra o neoliberalismo.

É também indispensável compreender que esse movimento passou da fase de resistência, predominante na ultima década do século passado, e a fase de construção de alternativas. A visão da “autonomia dos movimentos sociais” teve vigência na primeira etapa, porém quando pretenderam estendê-la para a década seguinte, cometeram equívocos fundamentais. O movimento mais significativo – e que, não por acaso, se dá no processo mais importante de construção de alternativas atualmente, o de Bolívia – foi o da fundação do MAS pelos movimentos sociais bolivianos, a partir da consciência de que, depois de derrubar vários presidentes, sucessivamente, constituíram um partido, disputaram as eleições e elegeram a Evo Morales presidente do país. Retomaram laços com a esfera política, de outra forma, convocando a Assembléia Constituinte e passando à refundação do Estado boliviano.

Outros movimentos, que mantiveram a visão equivocada e corporativa da “autonomia” ou se isolaram ou praticamente desapareceram da cena política. Essa “autonomia”, se fosse – como ocorria anteriormente – em relação a políticas de subordinação de classes, tinha um sentido. Mas se se trata de autonomia em relação à política, ao Estado, à luta por uma nova hegemonia, é um conceito corporativo, adaptado às condições de resistência, mas completamente equivocado quando se trata de construir condições de construção de hegemonias alternativas.

No FSM de Belém foi possível constatar, com a presença de cinco presidentes latinoamericanos comprometidos, de formas distintas, com a construção de alternativas ao neoliberalismo, quanto avançou e tem reconhecimento da luta iniciada há 10 anos. Já o FSM decepcionou. Não foram elaboradas propostas de enfrentamento da crise econômica. Não se fizeram balanços e discussões com esses e outros governos, junto aos movimentos sociais, para discutir as contribuições que tenham e os problemas pendentes.

Em suma, ao ter ainda ONGs como protagonistas centrais, ao auto-limitar-se à esfera social, ao fechar os olhos para os governos que estão avançando em projetos de superação do neoliberalismo, ao não encarar o tema das guerras – e, com elas, do imperialismo -, o FSM foi perdendo transcendência, tornando-se um encontro para intercâmbio de experiências – concepção pregada pelas ONGs, que o tornam intranscendente.

O balanço, pelo menos na América Latina, da luta por um “outro mundo possível”, é muito positivo, ainda mais se considerarmos o entorno conservador predominante no mundo. Já o FSM, ficou girando em falso, sem capacidade de acompanhar esses avanços e os temas da hegemonia imperial no mundo, entre eles o dos epicentros de guerra imperial no mundo – Iraque, Afeganistão, Palestina, Colômbia.

Fonte: www.cartamaior.com.br

sábado, 23 de janeiro de 2010

Mesmo afogada, população é reprimida pelo poder público de SP - Por Rodrigo Mendes


Mesmo afogada, população é reprimida pelo poder público de SP

Escrito por Rodrigo Mendes; colaborou Gabriel Brito
23-Jan-2010


A intensa série de chuvas no último mês, em todo o país, tem causado enchentes e desastres, destruindo cidades inteiras, desabrigando milhares de pessoas e provocando uma quantidade alta de mortes. Em diversas regiões do Brasil, o drama se repete. O problema não é novo, ainda que seja mais cômodo para governantes tratarem-no como se o fosse, lidando com a tragédia de forma "emergencial", como simples e imprevisíveis desvarios da natureza.

Também é emblemática a cobertura unidimensional do tema. Especialistas e estudos verificados pela reportagem apontam que a política de moradia e urbanização das cidades influencia diretamente nessa situação. Primeiro porque a falta de uma política que permita às pessoas terem acesso à moradia digna em zonas mais centrais da cidade – em geral em milhares de imóveis vazios usados para obtenção de lucro fácil por meio da especulação imobiliária – induz à ocupação irregular, em condições mais que precárias, em áreas que deveriam ser protegidas, aumentando a impermeabilização do solo, dentre outras conseqüências.

Isso provoca um aumento generalizado do trânsito, situação aguda que se tornou crônica em São Paulo. As condições de moradia também são um caso de saúde pública alarmante, pois as doenças proliferam sob condições de vida tão degradantes. E a qualidade da água usada para abastecer a cidade fica ameaçada. Segundo estudo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, desde 1996 aumentou em 50% a urbanização do entorno da represa Guarapiranga, responsável por boa parte da água fornecida à região metropolitana de São Paulo.

E quando as comunidades de moradores conseguem avançar no processo de urbanização, isso ainda não os livra dos riscos de chegarem do trabalho e terem em suas casas metros de água alagada, destruindo por completo seus pertences. Relato de uma moradora do Jardim Lucélia, na região do Grajaú, que se localiza inteiramente sobre área de mananciais, retrata a situação.

Segundo ela, neste mês se presenciou o primeiro caso de enchente no bairro em 21 anos, coincidindo com o início de obras de canalização do córrego vizinho. Diversas casas foram tomadas pela água e várias pessoas que estavam dentro de suas residências ficaram presas pela pressão da água. "A força da água não deixava a gente abrir a porta", explica. Essa moradora conta que, com sua família, foi obrigada a pular a janela para conseguir sair e presenciar o desespero dos vizinhos.

Enormes perdas foram relatadas, incluindo eletrodomésticos, alimentos e móveis. Muitas famílias ficaram absolutamente impossibilitadas de sequer entrar de volta em suas casas e de ter acesso à comida. Ela diz que "antes de sair de casa, começamos a receber vários telefonemas de vizinhos, pedindo ajuda para saírem de casa ou salvar suas coisas".

A população então foi às ruas, iniciando um protesto pela falta de atenção do poder público. Para essa moradora, "a política de habitação que temos leva a isso, as pessoas não têm acesso ao direito básico de ter uma moradia decente". Com a chegada da polícia e a diminuição do nível da água, os ânimos foram sendo acalmados, até que a comunidade decidiu ir à subprefeitura da Capela do Socorro, responsável pela área, pressionar por medidas em favor das pessoas que estavam desalojadas e em condições sub-humanas.

Com a ajuda da polícia, os manifestantes pararam dois ônibus, que foram autorizados pela empresa proprietária a levá-los à sede da subprefeitura. "Depois que apenas algumas pessoas haviam entrado, trancaram o portão, não queriam deixar mais ninguém entrar", conta. Após muita insistência, a comunidade foi recebida e conseguiu a garantia de que seriam mandados dois caminhões, um pipa para o abastecimento de água – ironicamente, nem água para limpar as casas as pessoas tinham – e outro para a remoção do lixo trazido pela enxurrada.

Passado o prazo que os responsáveis haviam dado para os serviços serem feitos, um novo protesto começou. "Já dava para esperar isso, as pessoas estavam na rua há bastante tempo, não tinham acesso à comida, não tinham como dar banho nas crianças", diz a moradora. "Começamos a preparar refeições coletivas, pois era o que dava para fazer".

Com esse novo protesto iniciado, a polícia não demorou mais do que vinte minutos para aparecer, dessa vez com uma postura muito menos cooperativa para com a população.

Ameaçando manifestantes, os agentes da lei usaram balas de borracha e a tropa de choque sacou seus escudos, ao mesmo tempo em que removia as identificações de seus uniformes. "Vários de nós pedíamos calma aos policiais, mas eles nos desrespeitaram, xingaram cidadãos" acusa.

Essa moradora pondera que o protesto poderia ter tomado rumos muito mais violentos, já que as condições degradantes das pessoas da região são desesperadoras. Ainda assim, ela conta que grande parte da mídia, como a rede Globo e o apresentador José Luiz Datena, assumiram a postura condenável e já tão conhecida de criminalizar o movimento, que está organizado e canaliza os anseios e problemas da comunidade local.

A rede Globo chegou a veicular, segundo esse relato, que a subprefeitura tentou tomar medidas para auxiliar os moradores mas foi impedida pela população. Como se vê pelo relato, houve pressão intensa para que algo fosse feito, mas o que prevaleceu foi o descaso.

Hoje, a situação não está estabilizada. Ainda há possibilidade de novas cheias e famílias ainda se encontram em situação de risco. Segundo o relato feito à reportagem, a comunidade ainda está organizada, esperando que o poder público, que deixou a situação chegar a tal ponto, reaja para reverter a situação da região.

Rodrigo Mendes é jornalista.

Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/

A grande mídia unida contra a democracia - Por João Brant

A grande mídia unida contra a democracia

João Brant - Observatório do Direito à Comunicação
19.01.2010

Primeiro foram as críticas desqualificadoras da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). Depois, os ataques contra as medidas do Programa Nacional de Direitos Humanos. Agora, os grandes jornais apontam suas armas para o texto-base da Conferência Nacional de Cultura. Em comum, propostas que visam algum grau de democratização da comunicação e veículos que não aceitam os princípios constitucionais e são contra a punição para violações de direitos humanos praticada pelos meios de comunicação.

Os últimos dois meses foram agitados para os interessados na defesa da liberdade de expressão e do direito à comunicação. Leitores desavisados terão certeza de que a liberdade de expressão nunca esteve tão ameaçada. Segundo uma campanha do CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), estão querendo soltar o monstro da censura. Para os mais tarimbados, fica ao menos a dúvida: que propostas justificam tamanho alvoroço das grandes corporações de comunicação? Por que motivo as matérias e argumentos são tão parecidos? Se a análise vai a fundo, desvela-se uma cobertura que escamoteia interesses privados e que se transforma em campanha propagandística. Com requintes de má fé.

Farsa em três atos
Em geral, quando se fala de “ações orquestradas da grande mídia”, esta é muito mais uma figura de linguagem do que uma literalidade. Na maioria das vezes, os grandes meios de comunicação são como um quarteto de cordas, que não precisa de maestro – os músicos se acertam pelos ouvidos e por discretas trocas de olhares. Mas isso não se aplica ao tratamento dado ao tema da comunicação no último mês. Quem leu os grandes jornais, por exemplo, percebeu que a Associação Nacional de Jornais assumiu o literal papel de maestrina para este tema.

No caso da Confecom, o grande bloqueio se deu antes de sua realização, quando as principais entidades representativas do setor empresarial resolveram abandonar o barco. Bandeirantes, RedeTV! e as empresas de telecomunicações continuaram no processo até o fim. Das 665 propostas aprovadas, 601 obtiveram consenso ou mais de 80% de aprovação nos grupos de trabalho e nem precisaram ser votadas. Outras 64 foram aprovadas na plenária final, dentre elas nenhuma entendida por qualquer setor como tema sensível.

Nenhuma das 665 propostas atenta contra a liberdade de expressão ou contra a Constituição Federal. Ao contrário, várias delas buscam ampliar o alcance da liberdade de expressão nos meios de comunicação (hoje restrita a seus donos) e regulamentar artigos da Carta Magna que estão há 21 anos sem ser aplicados, especialmente pela pressão contrária de parte do setor empresarial. Dois temas foram destacados pelos grandes veículos ao criticarem as resoluções: uma proposta que estabelece um Conselho Nacional de Comunicação e outra que estabelece um Conselho Federal dos Jornalistas.

No primeiro caso, trata-se de um órgão para formulação, deliberação e monitoramento de políticas públicas, baseado nos princípios da Constituição, justamente com o papel de buscar equilíbrio no setor. Conselhos similares existem em várias democracias avançadas, inclusive nos Estados Unidos, onde ele é entendido como garantidor da liberdade de expressão. No segundo caso, trata-se de um conselho profissional da categoria, como já têm os médicos e advogados, cujo projeto inclui, como uma das infrações disciplinares de um jornalista, “obstruir, direta ou indiretamente, a livre divulgação de informação ou aplicar censura”. Como se vê, o oposto do que a maioria das notícias veiculadas tentaram dizer ao leitor.

Segundo ato
A farsa seguiu com a acusação de que o terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos representaria uma peça autoritária. Um conjunto de medidas de defesa de direitos humanos, da memória e da verdade foi tachado como se fosse o oposto do que é. Deve ser por isso que os setores militares conservadores se rebelaram para defender os "princípios democráticos" que sempre os guiaram contra o "autoritarismo" daqueles que lutaram contra a ditadura. Alguém consegue acreditar?

Nas propostas relacionadas à comunicação, duas pseudo-ameaças à liberdade de expressão. No primeiro caso, a defesa da regulamentação de um artigo da Constituição Federal com a indicação de que ele aponte punições para violações a direitos humanos. De novo não há aí nenhuma restrição, apenas a determinação de responsabilidades posteriores a publicação, como estabelece a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José), ratificado pelo Brasil. Na ausência destas definições, estaremos legitimando o racismo, a homofobia e o uso de concessões públicas para defender assassinatos de pessoas, fato infelizmente recorrente.

A outra proposta atacada foi a de “elaborar critérios de acompanhamento editorial a fim de criar um ranking nacional de veículos de comunicação comprometidos com os princípios de Direitos Humanos, assim como os que cometem violações”. Na prática, essa é a proposta de institucionalização da Campanha pela Ética na TV (“Quem financia a baixaria é contra a cidadania”), que nunca serviu para atacar liberdade de expressão, mas, ao contrário, ajudou a criar pontes entre os espectadores, usuários do serviço de rádio e TV e as emissoras. Estas, embora recebam uma concessão para cumprir um serviço público, nunca admitem se submeter a obrigações de serviço público, nem mesmo àquelas estabelecidas pela Constituição Federal. Alguns podem até questionar a utilidade desse ranking, mas certamente ele não representa ataque à liberdade de expressão. O restante da diretriz 22 (que trata sobre comunicação) do PNDH-3, trata da garantia ao direito à comunicação democrática e ao acesso à informação. Mas disso nenhum meio de comunicação falou.

Terceiro ato
As recentes críticas ao texto-base da Conferência Nacional de Cultura são o ápice da farsa (termo talvez mal-apropriado aqui, já que ela nada tem de cômica). O Estado de S. Paulo, O Globo e a Folha de S. Paulo atacaram o texto por ele dizer que “o monopólio dos meios de comunicação representa uma ameaça à democracia e aos direitos humanos, principalmente no Brasil, onde a televisão e o rádio são os equipamentos de produção e distribuição de bens simbólicos mais disseminados, e por isso cumprem função relevante na vida cultural”.

A contestação foi à afirmação de que há ocorrência de monopólio nos meios de comunicação no Brasil. O trecho fica mais claro se citada a frase imediatamente anterior: “A produção, difusão e acesso às informações são requisitos básicos para o exercício das liberdades civis, políticas, econômicas, sociais e culturais”. É um texto, portanto, que defende as liberdades, e aponta a concentração nos meios de comunicação como ameaça à democracia e aos direitos humanos. Com ele concordariam até os republicanos dos Estados Unidos, como demonstram recentes votações no Congresso daquele país. Mas não os jornais brasileiros.

É preciso deixar claro que “monopólio” ali é usado em sentido amplo e agregador. Até porque, embora a Constituição Federal (de novo...), em seu artigo 220, proíba a existência de monopólios e oligopólios, nunca houve a regulamentação deste artigo. Portanto o Brasil não tem como estabelecer critérios precisos para determinar se há ou não ocorrência de monopólio neste setor. Qual a referência? A propriedade? O controle? A participação na audiência? A participação no mercado publicitário? Todas as democracias avançadas estabelecem medidas não apenas anti-monopólios e oligopólios, mas anti-concentração, combinando os diferentes critérios citados acima. No Brasil, os únicos limites à concentração existentes foram estabelecidos em 1967 e são mais tênues do que os aplicados nos Estados Unidos, França e Reino Unido. O próprio Estadão já tocou, em editoriais recentes, no problema da concentração no rádio e na TV; agora nega sua existência.

Também não passou despercebida pelos jornais a proposta de regulamentação do artigo 221 da Constituição Federal, que prevê a regionalização da produção de rádio e TV e o estímulo à produção independente. A matéria usa uma declaração completamente equivocada do deputado Miro Teixeira para dizer que o artigo não admite regulamentação. Embora haja pareceres que defendem que o artigo pode ser auto-aplicável, o seu inciso III diz justamente que as rádios e TVs deverão atender ao princípio de “regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei”. Isto é, ele não só admite como solicita regulamentação. Bola fora ou má fé?

Outro ponto atacado pelos jornais é o trecho em que o texto defende o fortalecimento das rádios e TVs públicas e sua maior independência em relação aos governos. Diz o texto preparado pelo Ministério da Cultura: “As TVs e rádios públicas são estratégicas para que a população tenha acesso aos bens culturais e ao patrimônio simbólico do país em toda sua diversidade. Para tanto, elas precisam aprofundar a relação com a comunidade, que se traduz no maior controle social sobre sua gestão, no estabelecimento de canais permanentes dedicados à expressão das demandas dos diversos grupos sociais, na adoção de um modelo aberto à participação de produtores independentes e na criação de um sistema de financiamento que articule o compromisso de Municípios, Estados e União”. Assim, o texto defende o controle social sobre as mídias públicas justamente para que estes veículos não sejam apropriados pelos governos. O foco é justamente a defesa da liberdade de expressão para todos e todas. Onde há ataque à mídia? Onde há ameaça à liberdade de expressão?

Dejà vu
Para quem acompanha esse debate, esse comportamento não é novidade, embora o tom raivoso e histérico nunca deixe de assustar. Parte dos meios de comunicação não aceita nenhum tipo de medida que possa diminuir o poder absoluto exercido hoje por eles. Regras que em outros países democráticos são entendidas como condições mínimas para o exercício democrático, aqui são tratadas como ameaças à liberdade de expressão. A grita esconde, na verdade, a defesa de interesses corporativos, em que a liberdade de imprensa se transforma em liberdade de empresa.

A liberdade de expressão defendida por esses setores não é a liberdade ampla, mas a liberdade de poucas famílias. Contra qualquer medida que ameace esse poderio, lança-se o discurso da volta da censura, independentemente de não haver em nenhum desses documentos propostas que prevejam a análise prévia da programação. Independentemente de esses veículos negarem o direito à informação de seus leitores e omitirem informações e opiniões relevantes para a compreensão autônoma dos fatos, agindo de forma censora. Independentemente de os setores proponentes dessas medidas terem sido justamente aqueles que mais lutaram contra a censura estabelecida pela ditadura militar, da qual boa parte desses veículos foi parceira.

Nessa situação, quem deve ficar apreensivo com a reação são os setores que tem apreço à democracia. Como lembra um importante estudioso das políticas de comunicação, foi com este mesmo tom de “ameaça à democracia” que estes jornais prepararam as condições para o acontecimento que marcaria o 1º de abril de 1964. De novo, aqui eles não mostram nenhum apego à Constituição Federal e ao verdadeiro significado da democracia. Obviamente não há hoje condições objetivas e subjetivas para qualquer golpe de Estado, mas os meios de comunicação já deixaram claro de que lado estão.

Fonte: http://www.novae.inf.br

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Convite para Novo Parque Aquático de SP

Convite para Novo Parque Aquático de SP



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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Ativista processada no Rio de Janeiro!


Ativista processada no Rio de Janeiro!

A Ativista pelos direitos animais (humanos e não-humanos), Bianca Kölling Turano, militante do movimento pela Libertação Animal, está sendo processada judicialmente por alguns de seus atos em prol dos animais.

Bianca foi testemunha de uma situação de isolamento contínuo, imposta a uma cadela da raça boxer chamada Shakira. Este animal vive em uma varanda de 12m², tendo pouco contato com os humanos, estando sozinha a maior parte de seus dias e noites e, assim, demonstrando visíveis sinais de depressão e tristeza (existem fotografias e filmagens que confirmam esta afirmação).

Uma vizinha da Ativista, que também presenciava toda a situação pela qual passava a cachorrinha, chegou a entrar com uma ação judicial em face dos proprietários de Shakira e conseguiu a posse provisória do animal, através de liminar posteriormente caçada, quando Shakira teve que voltar para os antigos donos.

Por importar-se com o destino e o bem-estar de Shakira, Bianca escreveu uma carta relatando sua preocupação ao proprietário da cadela boxer, divulgou a situação para outros ativistas em prol dos direitos dos animais e participou de uma manifestação aberta pela libertação e pela felicidade da boxer Shakira.

As ações foram parar nos jornais, televisão, Ministério Público e, então, na Justiça.

Bianca Turano está respondendo a dois processos judiciais, a saber:

•Processo No 0059950-20.2

2009.001.059854-2

AC a ser realizada em 29/01/2010, às 12:10h.

•Processo No 0166727-29.2009.8.19.0001

2009.001.167376-6

AC a ser realizada em 03/02/2010, às 10:00h.

E a SVB, Sociedade Vegetariana Brasileira; organização da qual Bianca é coordenadora na cidade do Rio de Janeiro; também está sendo processada:

•Processo No 0020913-41.2009.8.19.0209

2009.209.021288-0

Pensamos que cada um de vocês já acompanhou casos de Ativistas pelos Direitos Animais sendo processados lá fora e a grande mobilização de grupos ativistas quando isso acontece. Achamos bonito ver suas ações, divulgamos, nutrimos admiração. Agora a coisa está acontecendo aqui, em nosso país, no Brasil! Uma Ativista está sendo processada! E ela precisa desse suporte. Nós precisamos desse suporte. Porque, amanhã, poderá ser qualquer um de nós. E nós não queremos ficar sozinhos, não é? E os animais também não.

Então, pedimos a ajuda de todos vocês! É importante que os ativistas do Brasil estejam cientes do caso, divulguem a situação para seus contatos e através de seus meios e que nos unamos para dar suporte para Bianca, que tem realizado um incansável trabalho, há anos, por acreditar na abolição da escravidão animal.

Caso alguém tenha idéias de como ajudá-la, favor entrar em contato (svb.gruporio@gmail.com), pois os Ativistas não devem jamais se sentir desprotegidos e desamparados quando da realização de suas ações.

Que este caso possa trazer uma boa decisão para todos aqueles que arriscam a comodidade de suas vidas em prol de algo maior.

Contamos com o suporte de todos os veganos e Ativistas do Brasil.

Fonte: http://gato-negro.org/blog

Entrevista a elementos do Indymedia Portugal - Por Passa Palavra

Entrevista a elementos do Indymedia Portugal

O Indymedia Portugal voltou à rede em Novembro de 2009, depois de uma ausência prolongada. O Passa Palavra dirigiu algumas perguntas ao colectivo que assegura o seu funcionamento, no sentido de conhecer melhor esta experiência de comunicação alternativa e possibilitar o debate entre companheiros envolvidos em projectos semelhantes. Por Passa Palavra

Passa Palavra - Como definiriam vocês a natureza e o âmbito do Indymedia [-PT] recentemente reactivado?

Indymedia-PT - Após o encerramento do Indymedia [-PT], algo que se deveu essencialmente a dificuldades de ordem técnica (problemas com o servidor e ausência de uma pessoa com conhecimentos informáticos), sentimos que a sua função principal – a de constituir uma plataforma contra-informativa – não havia sido colmatada por outro meio. Apesar da expansão de blogues, algo que vemos como um fenómeno extremamente positivo, constatámos não existir um dispositivo que compile a informação publicada nesses mesmos blogues. De certa forma, é esse o desafio do colectivo editorial do Indymedia: continuar a divulgar aquilo que costuma ser ignorado e desvalorizado pelos meios de comunicação convencionais, através quer da produção de informação, quer da divulgação da actividade de outros colectivos. Queremos que as pessoas tenham no Indymedia um meio de informação que lhes interessa e no qual podem participar, escrevendo os seus artigos e comentando outros. O ideal seria que cada vez mais gente criasse o hábito de, quando participa numa manifestação, num debate, num piquenique ou o que seja, escrever qualquer coisa sobre como foi, tirar fotos ou filmar, e depois partilhar, publicando-o no Indymedia. Que quando alguém tem uma informação que acha importante divulgar, mesmo algo que encontra na net ou escreve num blog, a adapte para uma notícia e publique. No fundo, que todas as pessoas que sonham e lutam por um mundo mais justo passem a contar com o Indymedia para informar e serem informadas. O colectivo de voluntários que faz a gestão do site é também aberto a todos os que nele queiram participar, e a sua mailing list de discussão é pública.

PP - De que maneira e em que grau os colaboradores do projecto estão envolvidos noutros movimentos sociais existentes em Portugal?

Ind. - É difícil responder a essa questão. O meio de funcionamento, pela net e à distância, e o facto de constituir (para o actual colectivo editorial) uma experiência nova, leva a que o conhecimento inter-pessoal seja (ainda) bastante reduzido. Portanto, do pouco que sabemos uns dos outros, existem no colectivo desde pessoas ligadas a grupos ecologistas a dinamizadores de centros sociais, desde membros de grupos de reflexão política a pessoas ligadas a outros projectos contra-informativos. A variedade de «origens» é, deste ponto de vista, uma mais-valia, permitindo ensinar, aprendendo e aprender, ensinando.

PP - Sentem algum eco da vossa actividade junto desses movimentos sociais? Conhecem, da parte dos activistas e pessoas envolvidas, algum tipo de avaliação do papel do Indymedia no que diz respeito às suas lutas/movimentos?

Ind. - Uma vez que o sítio foi relançado há pouco mais que um mês, é ainda bastante cedo para falarmos de um eco junto dos movimentos sociais. Ainda para mais, quando estamos a falar da realidade portuguesa, caracterizada pela quase completa inexistência de movimentos sociais, pelo menos que sejam merecedores de tal termo. No passado, o Indymedia [-PT] desenvolveu esforços no sentido de uma aproximação a determinados grupos, com os quais sentia necessidade de comunicar e trocar experiências. Deste ponto de vista, destacamos a relação que se estabeleceu com a Associação contra a Exclusão e pelo Desenvolvimento (ACED). Tentou igualmente estar presente em «situações chave», como aconteceu nos despejos da Azinhaga de Bezouros ou na manifestação da Rua do Carmo, duramente reprimida pela polícia. Nalguns casos, nomeadamente neste último, o que foi publicado pelo e no Indymedia foi algo importante. Contudo, as limitações inerentes ao projecto, em particular o número de pessoas envolvidas, fizeram com que estes momentos não fossem tantos como os que desejávamos.

PP - Como é que vocês próprios avaliam o papel desempenhado pelo Indymedia-PT nas lutas sociais, desde a sua origem até os dias de hoje?

Ind. - Aconteceu, uma vez, um membro do colectivo Indymedia encontrar-se nIum protesto em que participavam pouco mais de dez pessoas. Uma das organizadoras perguntou-lhe até que ponto é que o Indymedia, mediante um apelo de mobilização, poderia garantir a comparência [comparecimento] de mais pessoas num curto espaço de tempo. A resposta foi obviamente negativa. Acho que um bom ponto de partida para qualquer actividade de natureza política (neste caso, contra-informativa) passa por vontade, humildade e realismo. O Indymedia [-PT] é um colectivo com poucas pessoas, essencialmente baseado na internet e que opera num país em que a fraca mobilização social, mesmo nas situações mais crispadas (como é a actual), é a norma.

PP - Num contexto de refluxo das lutas sociais qual o papel desses espaços de informação alternativa e como podem ajudar a reverter esse quadro?

Ind. - Em primeiro lugar, abandonando qualquer tendência sectária. Não temos que ser todos amigos ou sequer gostar uns dos outros. Mas uma atitude que passa por destacar apenas as diferenças e declará-las irreconciliáveis constitui uma solução estúpida, não só em termos estratégicos, como igualmente em termos humanos. Porque reduzir a potencialidade inerente à comunicação e partilha a uma unidade redutora é, por e simplesmente, pobre. Tal não deve significar, contudo, o abandono de uma perspectiva crítica, quer em relação aos outros, quer em relação a nós próprios. Em segundo lugar, é necessário encarar o «outro» projecto contra-informativo e/ou a «outra» iniciativa de uma forma não concorrencial. Deixemos a competição para a SONAE e a Impresa [1]. Finalmente, é importante desenvolver uma solidariedade não paternalista, que rejeite qualquer espírito de vanguarda.

PP - Houve algum facto político que tenha contribuído e dado novo fôlego à reconstituição do Indymedia Portugal?

Ind. - Não houve nenhum facto em particular. Como referimos, apenas uma tendência, a de não existir suficiente ligação entre vários grupos contra-informativos.

PP - Que tipo de relações e ligações possui o Indymedia Portugal com outros projectos semelhantes, seja a rede mundial em que está inserido, sejam outras realidades de comunicação e informação alternativa?

Ind. - No passado, o Indymedia-PT teve uma forte ligação com o Indymedia-Galiza, algo que ainda se mantém através de alguns contactos que foram estabelecidos. Chegámos a organizar, no seio da rede Indymedia global, um colectivo específico – o Indymedia Portugaliza – essencialmente fruto da partilha de princípios políticos, da proximidade geográfica e da afinidade cultural. No entanto, quer a existência de algumas divisões entre o Indymedia galego, quer alguma incompreensão de ambas as partes sobre questões fracturantes (por exemplo, a questão do nacionalismo ou da língua) acabaram por dificultar essa colaboração. Actualmente, estamos a estabelecer novos contactos.

PP - Há algum tipo de problema - legal, técnico, de segurança - com o qual se vejam confrontados e que assuma particular importância no funcionamento do projecto?

Ind. - O nosso principal problema, desde sempre, foi a falta de pessoas com conhecimentos técnicos, capazes de resolver problemas num curto espaço de tempo. Neste específico ponto, o Indymedia-PT sempre foi particularmente dependente. Actualmente, embora existam mais pessoas disponíveis para colmatar esta falta, continua a ser um aspecto algo preocupante. Para além disto, consideramos que a sobrevivência do Indymedia depende sempre da participação das pessoas, não só através da aplicação de conhecimentos informáticos, como também na publicação de editoriais e de notícias no newswire, ou propostas que impliquem um alargamento qualitativo do Indymedia, para fora dos computadores.

Nota do Passa Palavra:
[1] A SONAE, de Belmiro de Azevedo, é o maior grupo económico português, possuindo vários órgãos de informação, entre os quais o principal diário de referência (o jornal Público). A Impresa, de Francisco Balsemão, é um grande grupo da comunicação que controla vários diários e revistas e um canal de televisão (a SIC).

Fonte: http://passapalavra.info/