sábado, 30 de janeiro de 2010

‘Aumento da tarifa de ônibus é uma afronta à população de São Paulo’ - Por Gabriel Brito


‘Aumento da tarifa de ônibus é uma afronta à população de São Paulo’

Por Gabriel Brito

No alvorecer de 2010, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab quebrou mais uma das promessas de sua campanha, aumentando a tarifa da passagem do ônibus na capital paulista de R$ 2,30 para R$ 2,70. Tal decisão onera ainda mais a mobilidade dos habitantes da capital, que gastam cada vez mais dinheiro - e tempo - para se locomoverem numa cidade já colapsada.

Apesar de ser possível a integração grátis dentro do prazo de duas horas com outro ônibus por conta do bilhete único (cartão magnético implantado pela gestão de Marta Suplicy), uma enorme parcela da população complementa seus trajetos por trens ou metrô, integração esta que tem um desconto parcial. Além do mais, com um trânsito cada vez mais paralisado, não é incomum que o tempo para a integração grátis se esgote antes da chegada do usuário ao seu local de baldeação. E vale lembrar que Kassab assumiu a cidade com a intenção de abolir o bilhete único, idéia engavetada por conta da enorme aprovação da população ao mecanismo.

De quebra, o paulistano deverá se deparar com novos aumentos, pois é o que a gestão do político do DEM pretende fazer nos trens da CPTM e no metrô – o que já ocorreu em 2009. A alegação da prefeitura para mais uma mordiscada no bolso da população é que os 600 milhões de reais anuais despejados nas empresas privadas que possuem concessões das linhas seriam insuficientes nos próximos anos para bancar o transporte público. Por isso o aumento acima até da inflação do período.

O deputado do PSOL Carlos Giannazi, em conversa com o Correio, discorda veementemente de tal justificativa e aponta outras motivações para o aumento das tarifas. "O subsídio já é alto. O que está em jogo é o lucro das empresas. Elas já têm lucros altíssimos, mas não querem abrir mão de nada. Não havia necessidade nem justificativa para o aumento. O subsídio já era suficiente, existia há muito tempo e o Kassab intensificou. Ou seja, com ele as empresas já acumularam enormes lucros nesses anos todos".

Para o parlamentar, a decisão é simplesmente inaceitável, principalmente diante das condições que os paulistanos têm enfrentado em seu dia-a-dia. "É uma afronta à população, até porque a passagem aqui na cidade já é caríssima, sem contar que através do erário ela já financia o próprio transporte. Isso mostra claramente que o prefeito está a serviço dos grandes empresários do transporte público, por sinal, de péssima qualidade, com verdadeiras carroças, superlotadas e em baixa quantidade. O transporte público, principalmente por ônibus e vans, é um dos maiores sofrimentos de São Paulo", assinala.

Tal insatisfação existe, apesar da invisibilidade do tema na mídia. Nos dias 7 e 14 de janeiro, algo em torno de 800 a 1000 habitantes da cidade se reuniram, em cada evento, para protestar contra os reajustes em frente ao Teatro Municipal. Liderados por movimentos como o Tarifa Zero, Passe Livre e Rede Contra o Aumento da Tarifa, os presentes mostraram todo seu inconformismo com mais um abusivo reajuste, em plena época de chuvas, mortes e engarrafamentos recordes.

Marca registrada
E como já é tradição das gestões demotucanas, não faltou repressão nas ocasiões citadas. "Os manifestantes reuniram-se no Teatro Municipal e de lá partiram pelas ruas do centro para o Terminal Parque Dom Pedro. Apesar do caráter lúdico da manifestação, as provocações constantes da PM criaram uma atmosfera de tensão durante todo o ato. As cenas que pudemos ver mostraram mais uma vez a crescente criminalização das lutas sociais. Ao tentarem entrar pacificamente no terminal, os manifestantes foram recebidos pela Polícia com bombas, balas de borracha, spray de pimenta e cassetetes", registrou matéria do site Passa Palavra, que também relatou espancamentos, assim como a Caros Amigos.

"Dentro desse contexto, o reajuste é uma violação da dignidade dos habitantes de São Paulo e dos usuários, que precisam pagar caro por uma passagem", completa o deputado, que também lembra o fato de o transporte público ser mais uma vítima das visões político-econômicas que o vírus neoliberal espalhou mundo afora.

"O atual modelo de concessões de linhas para empresas privadas está totalmente alinhado às políticas tucanas e do DEM, de entrega do patrimônio público ao setor privado, o que ocorre em várias esferas da administração pública, não só na capital como no estado, o que não é nada vantajoso para a cidade. Apenas segue a linha ideológica de terceirizar, privatizar, precarizar o serviço público. Essa tem sido a tônica dessas administrações, está no DNA delas, sempre em detrimento dos interesses da população", explica Giannazi.

Além de desvantajosas para a população, vale questionar a própria legitimidade/legalidade das concessões. Primeiro, por não respeitarem a vontade da população. Segundo, pela escandalosa contradição citada pelo parlamentar, já que é a própria população quem paga a conta. E paga duas vezes. Primeiro, ao financiar o subsídio, saído do cofre público, e depois por pagar a passagem no momento do uso.

Por conta dessa realidade de contínua espoliação, o deputado lembra que correto mesmo seria o transporte público gratuito. "Sou um fervoroso defensor dessa tese. No governo da Erundina já defendíamos a tarifa zero. Transporte é um direito público, que deve mesmo ser bancado pelo Estado. Quando fui vereador, apresentei três projetos nesse sentido, que até hoje estão lá parados. As empresas têm seus lobbies, seus representantes no parlamento, no executivo, até no judiciário, mas a luta por essa proposta segue existindo", afirmou.

Apesar disso, mantém os pés no chão, lembrando ser necessária maior consistência nas lutas sociais para se chegar a patamares tão elevados de justiça e direitos respeitados. "Seria justo e possível reduzir no mínimo pela metade os preços, já seria um bom começo. Precisamos entender que não temos acúmulo de lutas e um movimento forte em São Paulo para fazer esse embate. Precisamos organizar melhor os movimentos para lutarem nessas frentes, mas reduzir pela metade a tarifa já seria um grande avanço", finaliza.

Gabriel Brito é jornalista.

Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/

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