sábado, 30 de janeiro de 2010
Howard Zinn: a História é feita pelos povos em movimento
Howard Zinn: a História é feita pelos povos em movimento
Morreu Howard Zinn, historiador e combatente estadunidense, um exemplo de que, como ele próprio disse, para os cientistas e os artistas não há neutralidade possível.
Com 87 anos de idade, morreu nesta quarta-feira 27 de Janeiro de 2010 após um ataque cardíaco, quando viajava com a família na Califórnia. Insigne historiador (foi um dos fundadores da denominada história radical, perspectiva que coloca em primeiro plano os movimentos sociais e suas lutas), figura proeminente nas lutas dentro dos EUA contra as guerras de agressão ao Vietname [Vietnã] e ao Iraque, «os seus escritos mudaram a consciência de toda uma geração e abriram novos caminhos ao entendimento e ao seu significado fundamental nas nossas vidas», disse uma vez, sobre ele, Noam Chomsky.
A sua obra mais conhecida, que teve grande repercussão na atitude de investigação e interpretação dos historiadores, foi publicada em 1980: A People’s History of the United States [Uma História Popular dos Estados Unidos]. Aqui, os grandes heróis não eram os Pais Fundadores - muitos deles proprietários de escravos e fortemente adeptos do status quo - mas sim os agricultores da Revolta de Shay e os organizadores dos sindicatos nos anos 1930, numa radical inversão de perspectiva entre heróis e vilões.
Como escreveu na sua autobiografia You Can’t Be Neutral on a Moving Train (1994) [Você não pode ser neutro num trem em movimento, lançada no Brasil em 2005 pela editora L-Dopa], «Desde sempre, a minha docência foi marcada pela minha própria história. Eu fazia o possível por ser justo com outros pontos de vista, mas queria algo mais do que a “objectividade”; queria que os estudantes saíssem das minhas aulas, não apenas mais bem informados, mas mais preparados para renunciarem à comodidade do silêncio, mais preparados para tomarem a palavra, para agirem contra as injustiças onde quer que as vissem. Claro que isto foi a maneira de eu arranjar muitas complicações.»
Na luta contra a guerra do Vietname [Vietnã] foram muito importantes dois livros de sua autoria: Vietnam: The Logic of Withdrawal [Vietname: A Lógica da Retirada] (1967) e Disobedience and Democracy [Desobediência e Democracia] (1968).
O Professor Zinn reformou-se cedo do ensino, para se dedicar por inteiro à militância progressista - movimentos, conferências, congressos.
Outra obra sua que deu a volta ao mundo foi um extraordinário filme intitulado The People Speak [O Povo Toma a Palavra], em que dá a voz a pessoas simples, inconformadas, lutadoras e desconhecidas, que em toda a parte (dos EUA) não se vergam e combatem pelos direitos dos trabalhadores e das comunidades - e que são evidentemente ignoradas pelos grandes médias [pela grande mídia].
Em 2003, poucas semanas antes de os EUA invadirem o Iraque, circulou por todo o mundo, traduzido em todas as línguas, um manifesto redigido por Howard Zinn em que se denunciava a perspectiva do horror que, pouco depois, atingiu o Iraque, manifesto esse que foi co-assinado por centenas de professores, cientistas, escritores e artistas de todo o mundo: Not In Our Name [Em Nosso Nome, Não]. Foi um momento em que Zinn muito ajudou o mundo a compreender que, no que respeita aos direitos humanos, à exploração, à guerra e ao imperialismo, não existe neutralidade nas ciências nem nas artes, contrariamente ao que vinha sendo defendido e imposto pela ideologia pós-moderna e neoconservadora.
Howard Zinn fará por certo muita falta aos estadunidenses e a todos os que, pelo mundo, travam difíceis combates sociais. Mas não esqueçamos que ele, e outros (como Chomsky), deixam nos EUA um rasto de seguidores e discípulos que não irão deixar vazio o seu lugar nas lutas. Passa Palavra
[Neste texto incluimos vários pedaços do artigo obituário de Mark Feeney, no Boston Globe.]
Fonte: http://passapalavra.info/
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário