quarta-feira, 30 de novembro de 2011

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Coringa nos Quadrinhos: a Origem de um Símbolo - por Tiago André Vargas

Coringa nos Quadrinhos: a Origem de um Símbolo
Um dos maiores personagens da fantástica DC Comics, aclamado por muitos como o maior vilão dos quadrinhos de todos os tempos... Senhoras e senhores, coloquem um sorriso no rosto pois estamos falando do caótico, do sádico, do excêntrico e inconfundível psicopata: Coringa!“O homem comum. Fisicamente ridículo, ele possui, por outro lado, uma deturpada visão de valores. Observem o seu repugnante senso de humanidade, a disforme consciência social e o asqueroso otimismo. É mesmo de dar náuseas, não?” Coringa, em "A Piada Mortal".

Pode parecer piada, mas o personagem Coringa (Joker) consegue contestar sua própria origem! E não falo nos quadrinhos ou no cinema, mas sim da própria realidade. Isso acontece pela dúbia versão apresentada pelos seus criadores Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane. Robinson fala que a origem do personagem se deve a uma carta de baralho que ele levou, contendo o desenho que carrega o nome Joker, enquanto Finger e Kane atribuem sua criação a uma atuação de Conrad Veidt em O homem que ri. Alegam que a carta serviu apenas para atribuir alguns elementos à nova personagem - por exemplo, o baralho que sempre carrega consigo. Evidentemente, é uma pequena disputa autoral para conquistar o singular título de criador, e é facto reconhecido pelos três que todos tiveram participação no processo de invenção do nosso piadista.Uma vez nos quadrinhos, sua primeira aparição foi em Batman #1 (1940). Nesta edição, o Coringa era um maníaco homicida simples (caso isso seja possível) fadado para morrer sem ter grande importância na saga do homem-morcego. Todavia, o editor Whitney Ellsworth sugeriu que ele fosse poupado e, às pressas, foi elaborado outro desfecho para a edição. No número seguinte, o simpático vilão se recuperava em um hospital. Não sabia ainda que no futuro seria impensável pensar em Batman sem pensar em Coringa.

A origem da personagem Coringa tem contraversões, sendo que a mais aceita é a presente em Batman: A Piada Mortal, de Alan Moore e Brian Bolland. Coringa seria então um homem comum, casado, assistente de um laboratório químico levando uma vida cotidiana. Acreditando possuir inegável talento para a comédia, o homem pacato e de nome desconhecido é possuído pela fantástica perspectiva de mudar sua vida. Larga o emprego e se joga ao seu sonho. Infelizmente, o talento que acreditava possuir não é reconhecido pelos outros: simplesmente, ele não conseguia fazer ninguém rir.Enquanto seu sonho era despedaçado, sua mulher ficou grávida, o aluguel atrasado, o quarto imundo em que residiam, com cheiro de gato, não era o lugar que ele sonhara para ver seus filhos crescer. Perante esta situação dramática, ele tomou uma decisão igualitária: aceitou ajudar dois criminosos a entrarem no antigo laboratório em que trabalhava, num assalto em busca de uma vida melhor para sua família.

Antes de efetuar o crime, foi avisado de que sua mulher havia morrido enquanto testava um aquecedor de mamadeiras. Um curto circuito. E é isso, a vida e toda sua fortuita injustiça, o argumento sedimentar para a loucura dada como um presente de Natal. O personagem, atônito, não tem mais motivos para realizar o crime premeditado, porém seus comparsas, indiferentes a sua ruína, o forçam a dar continuidade.Havia um outro criminoso chamado Capuz Vermelho e, astutamente, os criminosos deram ao nosso homem um capuz para que, no caso de algo dar errado, a polícia acreditasse que era tudo culpa deste bandido. Durante o assalto as coisas realmente dão errad: surge a figura de Batman e, para não ser pego, o homem comum fantasiado de Capuz Vermelho salta de uma grade caindo dentro de um grande tonel de conteúdo químico. Ao sair do tonel, o seu aspeto físico é o que conhecemos hoje: pele branca, cabelos verdes, terno roxo, etc.. No entanto, muito mais do que a aparência física, a sua personalidade havia mudado drasticamente e para ver isso bastava olhar para o seu sorriso. Tal como Coringa explica nesta edição, basta apenas um dia ruim para você abraçar a loucura e dela nunca mais soltar.

Todos os poderes do Coringa têm algum vínculo com a comédia, um sarcasmo sanguinário. São flores na lapela do terno esguichando ácido. Tortas recheadas com cianeto, charutos com nitroglicerina, descargas elétricas fatais ao alcance de um aperto de mão, gases que levam a vítima a sorrir até a morte, etc.. Para o desenvolvimento destas armas, bem como dos planos grandiosos, sábios e complexos que constantemente testam a habilidade de Batman, retrata-se o Coringa como um mestre nas áreas de química e engenharia.Por fim, são incontáveis os confrontos que fizeram Batman e Coringa se baterem de frente, permitindo o provável desfecho em que um elimina o outro - o que nunca aconteceu. Batman carrega nobremente os princípios da lei e matar Coringa seria, além de criminoso, o ato que comprovaria tudo aquilo em que seu arqui-inimigo acredita. Já Coringa aparenta ter consciência da doentia dependência que tem em relação a Batman: a questão não é matar, mas sim todos os princípios relativos ao bem e ao mal que, com a mesma honradez, carrega às avessas.

A luz precisa da escuridão, o bem precisa do mal e Batman precisa do Coringa para existir. E vice-versa.
Fonte: http://obviousmag.org/

2ª Feira Anarquista de São Paulo -Dia 04/12/2011

2ª Feira Anarquista de São Paulo -Dia 04/12/2011 Em 2006 foi realizada a 1ª Feira Anarquista de São Paulo, que contou com diversas atividades, dentre elas mostra de filmes, debates, exposição de materiais, shows e leitura de poesias. Ao longo de um dia cerca de 1000 pessoas circularam pelo evento.

Cinco anos depois, a Biblioteca Terra Livre e o Coletivo Ativismo ABC organizam a 2ª Feira Anarquista de São Paulo, inspirada nas feiras que vem ocorrendo em várias cidades do mundo e na tradição dos festivais operários de propaganda e difusão do anarquismo no Brasil.

Acontecerá, como no evento anterior, uma mostra editorial e venda de livros, jornais, revistas, fanzines e outros materiais libertários. A Feira de São Paulo pretende reunir as editoras libertárias do país e do exterior.

Paralelamente à mostra editorial haverá palestras e debates, assim como diversas atividades culturais, como exibição de filmes e vídeos, exposições, poesias, apresentações teatrais e musicais.

Todos estão convidados!
PROGRAMAÇÃO:

10h - Debate: Grupos de Estudos como Práticas de Educação Anarquista – Geipa (Joinville), Grupo de Estudos José Gomez Rojas (Chile), Ativismo ABC (Santo André) e Biblioteca Terra Livre (São Paulo)

10h - Filme: A Patagonia Rebelde, 1974. 107 min

11h - Lançamento dos Livros e apresentação do Coral Filhos do Povo

11.30h - Debate: Análise conjuntural de 9 anos do PT no Governo, rearticulação das organizações de direita e estratégia de luta libertária neste contexto – Núcleo Anarquista de Curitiba

13h - Filme: Flor do Asfalto

13.30h - Musica: Ronald e Ordinaria Hit

14h - Filme: Louise Michel, a rebelde, 2009. 90 min.

14h - Debate: Perspectivas do Anarquismo e dos Movimentos Sociais na França – Philiipe Pelletier, Federação Anarquista (Lyon/França)

15.30h - Teatro: Leitura Dramática: Louise Michel na Comuna de Paris – Beatriz Tragtenberg

16h - Debate: Movimento Estudantil e Autogestão no Chile - Grupo de Estudios José Domingo Gomez Rojas

17h - Debate: Ocupe o Mundo: o movimento mundial de ocupações e sua relação com princípios e práticas do anarquismo histórico - Ocupa Sampa, Ocupa Anhangabau, Acampadas USP (Geografia e Pscicologia)

17h - Debate: Conversa para interessados no especifismo - OASL.

18h - Debate: Arte e Anarquia – Ronald Creagh (Montpellier/França)

19.30h - Musica: Menininha Pirracenta

A atividade de Muralismo e as Exposições ocorrerão ao longo de todo o dia.

Data: Domingo - 04 de dezembro de 2011

Horário: das 10h às 20h
Local: Espaço Cultural Tendal da Lapa
Rua Constança, 72 – Lapa, São Paulo, SP, Brasil
Próximo à estação de trem e terminal de ônibus Lapa.

Entrada Gratuita.

Organização:
Biblioteca Terra Livre
http://bibliotecaterralivre.noblogs.org
Caixa Postal 195
CEP: 01031-970 São Paulo, SP – Brasil

Fonte: http://feiranarquistasp.wordpress.com/

Egito: eles estão cumprindo a ordem: de matar – por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Entre a vida e a morte do sistema - Por Pablo Chacón

Entre a vida e a morte do sistemaVivemos a passagem para o capitalismo do comum, dos bens imateriais—diz Toni Negri. E avisa: a transição não será pacífica

Toni Negri esteve quatro vezes na Argentina. Em 2002, 2005, em março deste ano e na semana passada, quando participou de um fórum de intelectuais organizado pela Secretaria de Cultura na Nação. Embora tenha se mostrado avesso a entrevistas, o pensador italiano aceitou responder a algumas perguntas formuladas pela revista Ñ Digital.

Antes de Buenos Aires, Toni Negri esteve realizando palestras em Santiago do Chile, onde aproveitou para expressar publicamente seu apoio ao movimento estudantil que está colocando o governo de Sebastián Piñera em maus lençóis. O italiano comparou os chilenos com os indignados espanhóis e estadunidenses, e com os ativistas da chamada primavera árabe.

Na Argentina, deu uma palestra na Universidade Nacional San Martín (Unisam) e outra no lançamento da revista Debates e Combates. Negri recordou a Cúpula das Américas de 2005, em Mar da Prata, onde parte do bloco latino-americano, dirigido pelo então presidente argentino, Néstor Kichner, disse não à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Também elogiou o movimento piquetero, e até se surpreendeu (ou fingiu supreender-se) quando lhe disseram que nem todos os movimentos sociais estão de acordo com a estratégia econômica do governo.Você deu muita importância para o movimento dos indignados, mas também foi criticado por não propor uma forma de organização.
Sim, essa é uma das críticas que me fazem. Ontem me perguntaram como fazer para introduzir a noção comum num país como a Argentina, absolutamente atravessado por um conflito (latente ou não) entre o setor agropecuário e o governo, onde os desequilíbrios são notáveis. Bom, a verdade é que eu não sei como fazer isso. É um problema que os políticos argentinos deveriam resolver. Mas eu acredito que a questão dos indignados é produzida num contexto de relativa riqueza, como é na Europa e nos Estados Unidos, que, por uma série de manobras especulativo-financeiras que levam anos, explodiu. Explodiu deixando vários endividados, além de uma juventude que não tem recursos para atingir uma renda mínima. O homem de hoje é um homem explorado. É um homem endividado. Isso também é uma consequência da fossilização das estruturas sindicais clássicas.

Em que sentido isso se dá?
É uma questão velha, que discutíamos desde os anos 1970, quando nasce na Itália a Autonomia Operária, que é uma reação contra a burocracia do Partido Comunista Italiano (PCI), acomodado com a situação de mediador entre capital e trabalho, e corrompido por essa mesma mediação. A ponto—como se diz do outro lado—de que esse capitalismo não foi sequer capaz de distribuir a renda. Mas o problema atual é que a dissociação entre capital e trabalho não existe mais. A sociedade industrial está em transição para outra sociedade, onde o valor mais avaliado é—e será cada vez mais—a produção imaterial. A produção social da riqueza, estruturalmente, será um bem comum. O capitalismo cognitivo se organiza em torno de um bem comum, sem hierarquias, produz ideias, conceitos, é horizontal. Assim, o estudo desses procedimentos—com Michael Hardt—nos fez construir outra noção: o comum, que não é público nem privado, que se autogoverna.

É um compromisso? Diz respeito à crise de representação?
Não, de maneira alguma é uma solução de compromisso. É uma transição para outra forma de capitalismo, definida pelo valor imaterial das ideias. Nessa direção, pode-se falar de um capitalismo cognitivo, e voltar à necessidade de um novo pensamento sobre a emancipação. Precisamente porque a produção social do conhecimento é um bem comum, compartilhável, suscetível de solidariedade e reprodução por fora dos cortes impostos pelo sistema de acumulação baseado no fordismo que Michel Foucault tão bem definiu em seu momento. Estamos indo para um lugar novo, onde não se administra a coisa pública porque o deslocamento do valor é intangível.

Um bem comum—repito—não precisa de um centro de gravidade, a fábrica, o sindicato, o escritório. O próprio corpo, o pensamento operam no espaço público, geram seus atos, podem inventar saberes e formas de organização. Deixamos claro que a transição não será pacífica, e eu não acredito que será. Se não se pensa que os organismos internacionais de crédito são uma extensão dos bancos, não se entendem as medidas que está tomando a Europa para salvar a Grécia, endividando todos os seus habitantes.

Não se entende o disciplinamento a que a Islândia está submetida, ou a Irlanda, que até muito pouco tempo eram consideradas exemplos de capitalismo “responsável”. Sobre a crise de representação, acredito que tudo já foi dito: só vou dizer que ela não é causada apenas por um aumento da demanda dos direitos sociais, mas também por essa divisão entre capital e trabalho. Porque precisará trabalhar sobre esse terreno baldio. E volto pela última vez a falar sobre Barack Obama, sua reforma do sistema de saúde. Ele pensou a reforma junto a movimentos sociais que o apoiaram para que alcançasse o governo. Mas, uma vez no governo, os abandonou. Agora, os movimentos sociais estão instalados em Wall Street, Los Angeles etc. E me animaria dizer que a reforma do sistema de saúde, que era pouco, mas melhor que nada, será boicotado. Não deveríamos ter vergonha de dizer que os presidentes desses países são reféns ou empregados da especulação financeira, dos bancos.

E qual seu julgamento quanto à América Latina?
É o único lugar do mundo onde os movimentos sociais têm certa potência, apesar da crise da forma-partido. Se articularam, mas não sem condições. O problema é que, na medida em que a crise monetária se agrava, também entra em crise a forma-Estado. E ainda não acredito que esse dilema esteja próximo de uma solução imediata. Se existem movimentos sociais, não é apenas por uma crise de representação, mas porque o público e o privado não se distinguem. Dependem dos mesmos insumos. E existe muita corrupção. Brasil, Chile, Argentina, Bolívia, Venezuela são laboratórios políticos: não estão totalmente nas mãos do capital, ao contrário da Europa. Centro-esquerda e centro-direita estão completamente subordinadas ao capital. A crise europeia é a crise do capital financeiro. Para repetir um velho ditado: estamos na presença de algo que não acabou de morrer e algo que não acabou de nascer.

Por Pablo Chacón, Revista Ñ | Tradução: Daniela Frabasile
Fonte: www.outraspalavras.net

[EUA] O FBI utiliza um programa de televisão para encontrar a um fugitivo pela libertação animal - por ANA

[EUA] O FBI utiliza um programa de televisão para encontrar a um fugitivo pela libertação animal [O ativista Daniel Andreas foi incluído há meses na lista dos “Terroristas mais buscados” dos Estados Unidos.]

O programa de televisão “America’s Most Wanted” (“Mais procurados da América”) afirmou ter recebido uma nota que afirmava que um suspeito de atentar com dispositivos explosivos contra uma empresa de experimentação animal poderia estar vivendo no oeste de Massachusetts. Daniel Andreas já foi mencionado no mesmo programa três vezes, depois de ter sido acusado em 2004 por dois ataques explosivos contra empresas que mantinham negócios com a Huntingdon Life Sciences (HLS). Vive na clandestinidade faz 7 anos.

Em coletiva de imprensa, o FBI disse que havia recebido uma “recente e atual” nota em que localizava Daniel em Massachusetts, e pediu a ajuda do público para capturá-lo.

Estão à procura de Daniel por duas ações:

Um ataque explosivo em 28 de agosto de 2003 contra a Chiron, uma empresa de biotecnologia de Emeryville, Califórnia. Células Revolucionárias-Brigada de Libertação Animal assumiu a responsabilidade pela ação direta incendiária.

Um ataque explosivo em 26 de setembro de 2003 contra a Shaklee, outro cliente da HLS em Pleasenton, Califórnia. Também reivindicado por Células Revolucionárias-Brigada de Libertação Animal.

Se fosse condenado por todas as acusações, receberia uma sentença mínima de 30 anos de prisão.

Esta é a terceira vez que o FBI assegura que têm “pistas sólidas” sobre o paradeiro de Daniel. Nos últimos oito anos, também disse que ele estava na Costa Rica e Virgínia, mas nunca fez nenhuma prisão. E, embora o FBI tenha concentrado muita atenção sobre o caso por coletivas de imprensa ou programas de TV, e até mesmo incluindo Daniel na lista dos “terroristas mais procurados”, Daniel tem conseguido ficar na clandestinidade desde 2004. O FBI até incluiu uma lista de características que identificam Daniel, chegando a dizer que “segue uma dieta vegana, não come carne ou produtos que contenham derivados animais”.

Daniel é o primeiro cidadão dos EUA a ser adicionado à lista de “terroristas mais procurados” do FBI. As ações de que é acusado apenas causaram danos relativamente leves a edifícios vazios.

Fonte: Voice of the voiceless (Voz dos sem voz)

agência de notícias anarquistas-ana
Venha senhor trovão
Só não vá virar o vinho,
Nem deitar o pão ao chão.
Analucía

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Pelo Fim da Violência Contra Mulher - por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

[EUA] O que eles querem? - por Mumia Abu-Jamal

[EUA] O que eles querem?Com poucas exceções, a maioria da mídia corporativa, cadeias de televisão, jornais nacionais, etc. têm tratado os protestos do Okupa Wall Street do mês passado como algo semelhante a um OVNI: curioso, estranho e inescrutável.

Desde os microfones de todo o país ouvimos as mesmas perguntas: O que eles querem? Quais são as suas exigências? ou Por que fazem isso?

Ao fazer isso, a mídia tem difundido mais confusão do que informação e tem prejudicado seus ouvintes, telespectadores e leitores. Tornaram-se provedores de desinformação e, para dizer o mínimo, não são muito honestos.

O movimento okupa não poderia ter sido mais claro sobre as suas metas e objetivos. De fato, apenas alguns dias após o início de sua ocupação, publicaram um jornal de 4 páginas a cores chamado Wall Street Jornal Ocupado. Traz uma declaração na 3ª página, anunciando exatamente o que os uniu e por quê. É intitulado “A Declaração da Ocupação” e em sua linguagem e tom, é muito semelhante à Declaração da Independência.

Fala da “solidariedade” com os outros e busca acabar com a “injustiça massiva” enfrentada por milhões de americanos e outras pessoas que “se sentem ofendidas pelas forças corporativas do mundo”.

Em suma, levantam a voz contra a ganância corporativa, as execuções hipotecárias, os resgates financeiros de Wall Street, a discriminação, os empréstimos estudantis a taxas exorbitantes, a corrupção política, a degradação ambiental, as guerras no exterior, e o controle corporativo dos meios de comunicação que “mantém as pessoas desinformadas e com medo”.

Aha. Aí está.

Não é ciência nuclear. Não poderia ser mais clara.

O jornal é doado.

Se os jornalistas não puderam ter tempo para ir ao centro de Manhattan, ou ao centro de sua cidade, para encontrar uma cópia, poderão ver em seu computador em: occupywallst.org.

Sério.

Note que eu não tenho acesso a um computador. Isso não é permitido no corredor da morte. E não só isso. Não é permitido em qualquer prisão do estado da Pensilvânia.

Mas um contato me enviou uma cópia do Wall Street Jornal Ocupado por correio e eu li. Por que não poderiam ter feito o mesmo os jornalistas da grande mídia? A menos que queriam “manter as pessoas desinformadas”.

Do corredor da morte, sou Mumia Abu-Jamal.

Quarta-feira, 2 de novembro de 2011

[Mumia livre já! No dia 9 de dezembro de 2011 completa 30 anos de detenção e prisão do jornalista revolucionário Mumia Abu-Jamal. Mumia é um prisioneiro político condenado à morte NÃO por assassinar o policial Daniel Faulkner na Filadélfia, em 9 de dezembro de 1981, como alegam seus inimigos liderados pela Ordem Fraternal da Polícia (FOP) e a Promotoria daquela cidade, mas por seu ativismo com os Panteras Negras, a sua proximidade com a organização MOVE e seu jornalismo honesto e combativo. Sua sentença vingativa só reflete o medo dos ricos e poderosos ao seu exemplo de luta que poderia ser seguido pela juventude de hoje. Mumia livre já!]

agência de notícias anarquistas-ana
pica-pau pinica
na fenda da amendoeira
o suco da vida
Wagner Marim

O que sobrou para os intelectuais?

O que sobrou para os intelectuais?

A enorme função de disciplinar o pensamento, de moralizar, que foi a dos intelectuais humanistas, passou para o âmbito dos meios eletrônicos. Por Ronan.A questão dos intelectuais é um velho tema interno à esquerda. Desde o desenvolvimento do movimento operário vimos serem desenvolvidas teorias de crítica social ao capitalismo. A concomitância das lutas e teorias alimentou um grande mito sobre o papel dos intelectuais para a luta social. A aposta, por vezes religiosa no papel do intelectual, levava à crença generalizada no potencial da educação para a prática anticapitalista. De Marx a Bakunin, passando pelos reformistas, vimos uma aposta profunda na educação que nunca parou para questionar se os trabalhadores seriam pessoas abertas ao que eles denominavam formação crítica. Muito dessa aposta no intelectual compõe a paisagem humana que herdamos. Mas será que se trata do mesmo tipo de intelectual? Será que as condições estruturais modernas permitem aos intelectuais de hoje um papel tão destacado quanto outrora?

Durante bom espaço de tempo, os intelectuais emergiram como porta-vozes dos oprimidos e explorados, defensores também dos privilegiados e puderam atuar tranquilamente. Eles possuíam autonomia e controle sobre a produção do saber. Não havia a concorrência do rádio, da televisão, da Internet, do brutal urbanismo funcionalista, da publicidade. A maioria dos teóricos críticos do capitalismo eram intelectuais, de forma que a teoria socialista foi sobretudo desenvolvida por elementos externos à classe trabalhadora, como Fourier, Marx, Owen, Bakunin, Kropotkin, Malatesta. Houve exceções, sendo mais conhecido o caso de Proudhon, de origem plebeia, mas ainda ligado a um mundo de trabalho pré-capitalista na rural França de meados do século XIX. Se, como dizia a frase símbolo da Primeira Internacional, a emancipação dos trabalhadores haveria de ser obra dos próprios trabalhadores, o desenvolvimento da teoria socialista havia sido obra dos intelectuais! E eles puderam atuar desde finais do século XVIII até meados do século XX, ou quase meados, conforme as trajetórias nacionais.No entanto, o desenvolvimento do capitalismo, que com sua máquina implacável é capaz de submeter e reorganizar tudo conforme os ditames da economia, tratou de alterar completamente o campo de produção, organização e difusão das ideias, sufocando os intelectuais autônomos. O mesmo capitalismo, que com a escolarização massiva da população pôde oferecer uma massa de leitores aos intelectuais contestatários, tratou depois de tirar aos intelectuais o público que lhes havia acompanhado ao fazer da história. De um lado, preparava uma massa de leitores, mas, de outro, criava outros mecanismos de enquadramento mental.

A enorme função de disciplinar o pensamento, de moralizar, que foi a dos intelectuais humanistas por longo tempo, também da igreja, com o desenvolvimento assustador da técnica durante o século XX passou para o âmbito dos meios eletrônicos como a TV, rádio, internet, além de outdoors e urbanismo e, secundariamente, os grandes jornais. Digo secundariamente porque a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo - maiores jornais brasileiros - possuem tiragem de 350 mil exemplares, enquanto a TV atua sobre o cérebro de milhões. Ainda, para ser influenciado pela Folha ou pela Veja, é necessária uma posição ativa do leitor, o que é talvez dispensável no caso do rádio e TV, outdoors etc.

O grande intelectual eletrônico representado pela indústria do entretenimento e da comunicação, por toda esta maquinaria de enquadramento mental, acabou por sufocar completamente os intelectuais autônomos. E tudo isto com a vantagem de passar ao público que as ideias deste ou daquele são políticas, mas as da publicidade, o videogame, os outdoors, os shoppings, o cinema, a TV, o rádio não o são.A esquerda no poder traçou o mesmo caminho. Temos a CUT com seus programas televisivos, de rádio e a Revista do Brasil. Recorrem também à internet e à publicidade. Se no passado houve uma produção material e intelectual autônoma inscrita na robusta imprensa operária, hoje são os mesmos publicitários e as mesmas empresas que servem tanto aos empresários quanto aos sindicatos. O mesmo publicitário que num ano trabalha para um partido no outro serve ao concorrente.

E nem é preciso fazer considerações a respeito da proletarização e profundo controle que atingiu os trabalhadores das ideias, responsáveis pelos desenhos, pelas novelas, pelos programas de rádio, roteiros de filmes e outros. Se o Macartismo ficou conhecido pela perseguição a escritores, atores e diretores, e sabemos hoje o envolvimento de Walt Disney com a direita americana, em outros cantos a censura interna supria a função exercida pelo famoso senador.

Sobrou a universidade, dirão alguns. Mas os intelectuais foram deglutidos também pelo seu aprisionamento nas instituições universitárias, onde são docilizados e permanecem envoltos à carreira. Esses intelectuais perderam a aura que tinham, com a proletarização da universidade. Como proletários do conhecimento, o horizonte ofertado é o de inserir-se em algum grupo de estudo que faça pesquisa para o poder público ou para as empresas. Quanto mais útil o conhecimento produzido for para as empresas ou para o Estado, maiores serão as verbas recebidas. Tais grupos de estudo são verdadeiras encubadoras de gestores. O aluno começa hoje pesquisando violência na cidade tal e amanhã estará dando palestra para a polícia, assessorando prefeitura e, se for bem sucedido, pode tornar-se secretário, presidente de um conselho de segurança ou dono de ONG. Feminismo, educação, ambiente e vários temas permitem o mesmo percurso.

Há os que afloram aos jornais. Mas estes entram no esquema da autocensura – publicar algo que agrade para receber um novo convite para publicação. Não temos hoje na imprensa jornalística a presença de outrora de um Mário Pedrosa, um Cláudio Abramo, um Maurício Tragtenberg, este último demitido por pressão de empresários, sem contar os inúmeros processos que recebeu.Utopia pode ser a resposta para alguns de seus problemas. DEIXE-ME EXPLICAR.
No espaço da universidade, quem não se enquadra não tem muitas oportunidades e os financiamentos são menores ou inexistentes. A bem da verdade, uma pequena parcela faz pesquisa que tenha utilidade para além da própria formação, que não seja mera sistematização de leitura. Pesquisas do tipo “o que pensava Paulo Freire, o que pensava Gramsci, o que pensava Malatesta” abundam. Em outros casos trata-se mesmo de inutilidades ou temas de interesse estritamente local. E o que resulta disto tudo vira teses e dissertações que nem os orientadores leem ou vai parar em revistas que não somente são limitadas na tiragem como não são lidas nem pelos membros dos grupos de pesquisa que as editam. Quer dizer, ninguém lê a revista toda – cada um lê o seu artigo. Enfim, a revista serve para comprovar materialmente que o grupo de estudo existe e alargar o Lattes de seus membros.

Resumo do quadro: o intelectual eletrônico predomina e sufocou os intelectuais autônomos. Os que estão na universidade fazem pesquisa para empresas e governo, alguns servem aos jornais e revistas, TV. Há os radicais, mas com espaço e verbas restritas, sem saltar a bolha da universidade e com poucas pesquisas significativas.Mas alguma coisa sobra. Há uns pesquisadores que produzem conhecimento que é útil e apropriado pelos movimentos sociais, assim como pelos trabalhadores em suas entidades. E este conhecimento é depois trabalhado nos espaços de formação próprios. Há escolas, há posses, há cursos de sindicatos, há cursinhos populares, grupos de estudo. E há a difusão. Nos últimos anos temos visto proliferar e difundir-se uma, embora fragmentada, prolífica imprensa eletrônica, e meios de comunicação que têm servido como instrumento de formação, debate e inter-relacionamento aos que lutam.

De movimentos por um transporte público e contra o aumento de tarifas, passando por sem-teto, sem-terra, minorias, movimento de literatura periférica, contra opressão carcerária, contra opressão policial, posses e associações, greves e paralisações por melhorias salariais e laborais, há formas variadas de luta. Para essas lutas têm servido as rádios livres, ditas piratas, os blogs, os sites, as redes, as mensagens de celular; têm surgido filmes e fotos, palestras e discursos, debates e polêmicas que servem aos participantes como palco educativo coletivo.

Parece que é conectando-se com tais meios que o pesquisador interessado poderá dar finalidade às suas pesquisas. Mas agora não existe mais o Partido que ofereceria a massa a ser educada. Ainda, o grau de auto-organização é bem mais elevado e são os movimentos que costumam chamar a quem lhes interessa. Há os meios de difusão e de discussão próprios. Por mais especializado que seja alguém em dado assunto, não há mais tanta diferença em termos de saber entre o pensador e o público, como havia antes. A população hoje possui uma maior instrução e, com dedicação, tantos podem desenvolver estudos sobre temas variados.

Nota[1] Temos a Revista do Brasil, publicação da CUT com tiragem de mais de 300 mil exemplares, mas esta é claramente uma correia de transmissão do governo encabeçado pelo PT e nela pouco há que diga respeito ao mundo do trabalho.
Fonte: http://passapalavra.info/

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Surfe em luto: Morre aos 94 anos de idade o primeiro surfista do Brasil

Morre aos 94 anos de idade o primeiro surfista do BrasilRittscher e Picuruta Salazar, em 2008, em manifesto para a criação do Museu do Surfe

O surfe brasileiro está de luto em razão da morte do pioneiro da modalidade no Brasil, o norte-americano Thomas Ernest Rittscher Júnior, primeiro homem a surfar no litoral brasileiro. Ele teve morte natural na manhã desta quinta-feira e foi velado na Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, antes de ter o corpo cremado.

Nascido em New Jersey, em 1917, Rittscher mudou-se para Santos, no litoral de São Paulo, em 1930, e quatro anos depois criou a primeira prancha de surfe que se tem registro no Brasil. Além de fabricar a prancha com base em uma reportagem da revista norte-americana “Popular Mechanics”, Rittscher surfou a primeira onda do Brasil, em 1934, na Praia do Gonzaga, em Santos.

Depois de iniciar o esporte, ele ajudou João Roberto Haffers, o Juá, e Osmar Gonçalves, a criarem a segunda prancha do país. Eles então passaram a chamar atenção para o surfe pelas praias de Santos, dando os primeiros passos para a modalidade, que teve um crescimento nos anos 60 e 70 no Rio de Janeiro e hoje está espalhada pelo Brasil.

Além de pioneiro e incentivador dos primeiros surfistas do Brasil, Rittscher também influenciou a sua irmã, Margot Rittscher, a iniciar no esporte e ela é a primeira mulher a surfar no Brasil. Rittscher teve uma vida dedicada ao esporte e praticou outras modalidades, como vela, remo, atletismo e natação. Em 2002, ele recebeu o título de Cidadão Santista.
Fonte: UOL

Mansour El-Essawy o ministro da Gestapo Egípcia – por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

[México] Um punhado de anarquistas desaloja a políticos, líderes sindicais e militares do túmulo de Ricardo Flores Magón - por ANA

[México] Um punhado de anarquistas desaloja a políticos, líderes sindicais e militares do túmulo de Ricardo Flores MagónNa Rotunda dos Homens lustres do panteão de Dolores há um túmulo significativo.

Cercado por túmulos em homenagem a poetas, escritores, militares, etc. Todas as outras sepulturas são bustos e tumbas por estilo. Decorações luxuosas que os mortos já não podem contemplar, mas com as quais são honrados.

O túmulo a que nos referimos é mais modesto: uma tumba comum, uma lápide proletária. Uma lápide pobre e humilde como sempre foi quem agora se encontra abaixo dela: Ricardo Flores Magón.

Esta lápide cujo epitáfio se lê “Terra e Liberdade!” recebeu em 21 de novembro a presença de um punhado de anarquistas que vieram realizar um comício em luto no túmulo de quem em vida foi um dos mais significativos de anarquistas do México.

Este grupo de ácratas, cujos ideais anarquistas empurram-lhes a trabalhar pela construção de uma sociedade anarquista pela qual lutava Ricardo Flores Magón, foram suficientes para impedir que uma centena de personagens - entre os quais dirigentes sindicais, familiares estadistas de Ricardo e representantes de associações civis patrióticas - realizassem seu já desgastado circo democrático no túmulo de nosso Ricardo.Era cerca de 10 da manhã quando uma enorme bandeira negra foi exibida diante o túmulo de Ricardo Flores Magón, cuja lápide era guardada por um pequeno grupo de anarquistas que, agitando bandeiras vermelhas e negras, impediram que os estadistas se aproximassem e realizassem seu ato no túmulo de nosso companheiro.

Claro, não poderia faltar o fato de que a polícia estava presente no ato, prezando pela segurança daqueles que vêm a cada 21 de novembro distorcer a memória do anarquista mexicano.

Tiveram que realizar seu ato a metros da lápide do anarquista, em pleno sol.
Aqueles que por ser burgueses (que havia em quantidade suficiente), líderes de sindicatos charros e outros da mesma laia nunca foram queimados na cara pelo sol no trabalho, tiveram de suportar o calor que queima a pele curtida dos pobres e dos explorados, dos quais obtêm os impostos para ter uma vida de luxo e execráveis banalidades.

Honras militares, senhora encapetadas, jóias, senhores vestidos de preto olhando como corvos... nada faltava este circo daqueles que pretendiam homenagear a quem foi o pior inimigo de sua instituição.

O ato oficial foi iniciado com o hino nacional mexicano, cujo ato os anarquistas deram as costas a uma bandeira, uma nação e a um país que não reconhecemos.

O que mais pode ser destacado é o discurso do membro da família Magón (Augusto Ponce Coronado), que no momento que se apresentava no microfone não se levantou sequer de sua cadeira, pois escrevia freneticamente sobre uma folha de papel. Esta folha foi seu discurso: ele modificava porque a presença dos anarquistas, resguardando o túmulo do rebelde anarquista, obrigava a mudar um discurso que, certamente, não teria sido o mesmo se não estivéssemos ali.

Atacou, criticou, lançou palavras poderosas para os que representavam sindicatos à serviço do empregador, associações civis, etc. que não sabiam onde se esconder devido às acertadas e duras palavras do orador, que os chamou “ninho de ladrões”, “usurpadores”, “traidores da revolução”, reconhecendo o valor que tinha os anarquistas terem impedido a realização da cerimônia oficial no túmulo de Ricardo.

Infelizmente foi pequeno o favor que o senhor Augusto Ponce Coronado fez à memória de Ricardo, ao apresentar-se acompanhado de personagens tão obscuros quanto esses.

Para concluir o ato oficial, se aproximou o agora sobrinho-neto de Ricardo Flores Magón e outro personagem do túmulo para tirar a foto de lembrança. Porque para eles as idéias de Ricardo são apenas uma memória pela qual eles não lutam, mas sim que traem com a participação no governo.

Claro, a foto saiu cercada por bandeiras vermelhas e pretas que, para o incômodo dos fotógrafos oficiais, saíram em todas as fotos.

O ato de tirar a foto não foi menor, uma vez que trouxe palavras que foram ditas e contestadas:

Eles - Vândalos.

Nós - Burgueses.

Eles - Delinqüentes.

Nós - Ladrões, assassinos, déspotas, tiranos.

A cerimônia terminou com a retirada dos corpos de honra militares, burgueses representantes de organizações estatais, deixando o túmulo de Magón descansar em paz por pelo menos por mais um ano.

Alguns momentos mais tarde compareceram companheiros das comunidades de Oaxaca de Chilchotla e Eloxochitlan (terra natal do anarquista mexicano), para lembrar Ricardo Flores Magón.A eles, a nós, aos indígenas, aos explorados, aos pobres, aos anarquistas, aos excluídos do banquete social, é a quem corresponde recordar a memória do anarquista Ricardo Flores Magón; os chamados para continuar seu trabalho, os chamados para a luta, os herdeiros da luta dos nossos companheiros de PLM.

As grossas paredes da lápide que mantêm seus restos mortais e as grossas convicções dos anarquistas participantes têm impedido por hoje que a sujeira governamental manche a memória de nosso companheiro.

Mas nem essas paredes nem nenhuma outra foram ou vão ser suficientes para encerrar as idéias anarquistas de quem deu toda a sua vida pela liberdade.

Essas idéias continuam vivas, vigentes e têm sido inspiração para toda uma geração anarquista que continua a luta pelo comunismo anarquista pelo que lutou nosso companheiro Ricardo.

Fora dos museus, das academias, das ruas, escolas e associações com o nome de Ricardo Flores Magón, suas idéias continuam em luta contra os novos porfiristas que, hoje como ontem, continuam a exploração do povo trabalhador.

As ideias anarquistas do nosso irmão Ricardo não pertenceram ou pertencem às alturas do poder, mas para os famintos e explorados, ao lado dos quais cresceu e morreu Ricardo Flores Magón.

Aos 89 anos do assassinato covarde de Ricardo Flores Magón, pelas mãos do império ianque, os anarquistas rendem a seu companheiro a melhor das homenagens: continuar a luta pelo anarquismo.

Saúde e revolução social.

México DF, 22 de novembro de 2011.
Erick Benítez Martínez
Fotos: http://www.megaupload.com/?d=SVWY7CRH

agência de notícias anarquistas-ana
A princípio: "O que é aquilo?",
Mas depois...
"Campos de arroz!"
Paulo Franchetti

terça-feira, 22 de novembro de 2011

USP – como a elite que se forma em Direito vêem as outras pessoas...

[Reino Unido] Southampton: okupar o mar - por ANA

[Reino Unido] Southampton: okupar o marQuem disse que o movimento okupa limita suas atividades apenas ao setor imobiliário? Ou em outras palavras, quem disse que só pode se apropriar de imóveis, ou seja, aqueles que estão intimamente ligados ao solo, com um local fixo e que não possa ser movido sem causar danos aos mesmos? Isto deveria se perguntar, faz alguns anos atrás, uma dezena de homens e mulheres (e um cão) quando decidiram embarcar na aventura de okupar barcos abandonados, semi-abandonados e praticamente prontos para a demolição. Não se trata de piratas ou mendigos, mas sim de pessoas que cobrem as suas necessidades básicas com uma imaginação sem limites recuperando o quê, não fosse por eles, o robin devoraria irremediavelmente.

Ancorados nas águas barrentas e malcheirosas do Itchen, onde o rio e o mar se confundem sem saber exatamente onde termina um e começa o outro, exercem seu direito à habitação. Esta peculiar pequena colônia de barcos okupados é composta, em sua maioria, por ingleses e irlandeses de meia-idade, desempregados e andarilhos (por exemplo, um deles disse ter vivido mais de um ano em uma caverna em Alicante) que foram condenados pelos truques sujos do sistema para sobreviver de uma maneira diferente do resto.

Até agora, nem a polícia nem as autoridades da cidade chamaram-lhes a prestar contas. Mas não devem baixar a guarda, pois parte do rio, do mar e das praias, além de contaminados, são propriedade privada: pertencem às indústrias de navegação que fazem fronteira ou a hotéis de luxo e, não nos enganemos, à classe de turismo de cruzeiro não agrada encontrar em águas de Southampton com esse espetáculo okupa tão distante de sua sensibilidade naif. Para eles, Southampton é apenas a famosa cidade do sul da Inglaterra, da qual zarpou em 10 de abril de 1912 o luxuoso Titanic; ou que em 1937 a cidade acolheu 4000 crianças bascas do lado republicano ou, na melhor das hipóteses, uma das primeiras cidades inglesas a ser destruída por bombardeios alemães durante a Segunda Guerra Mundial, mas nada a ver com experiências de okupação.

No entanto, embora seja apenas seis barcos de médio porte dilapidados com menos de doze pessoas no total, podem tornar-se pioneiros da okupação marítima. E na falta de bens imóveis, bem vindos sejam os móveis.

Pedro García Guirao
Jornal “CNT” Nº 383 – novembro de 2011

agência de notícias anarquistas-ana
Em cima do túmulo,
cai uma folha após outra.
Lágrimas também...
H. Masuda Goga

O transbordo do copo de cólera: entrevista de Michael Löwy sobre a (des)ocupação da reitoria da USP - por Julaina Sayuri

O transbordo do copo de cólera: entrevista de Michael Löwy sobre a (des)ocupação da reitoria da USPMatéria de Julaina Sayuri, publicada originalmente no jornal O Estado de S. Paulo no dia 13 de novembro de 2011.

Quando era um jovem de 18 anos, estudante de ciências sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), ainda nos tempos da Rua Maria Antônia, ele assistia às conferências de Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, José Arthur Giannotti, Otávio Ianni e Paul Singer, mentores que o convidaram a participar do prestigiado núcleo de estudos de O Capital. Aos 26, pupilo de Lucien Goldmann e laureado sociólogo pela Sorbonne, em Paris, foi estudar hebraico num kibutz e lecionar história na Universidade de Tel-Aviv, em Israel. Aos 30, com o Maio de 68 sacudindo a França, recebeu (e aceitou) um convite para lecionar na Universidade de Manchester, na Inglaterra. Em 1970, ainda longe dos 40, descobriu-se persona non grata no Brasil do general Médici, tornou-se um judeu paulistano sem passaporte brasileiro e se estabeleceu definitivamente em Paris para estudar Marx, Lukács e Guevara.

Agora, rejuvenescido aos 73, o sociólogo Michael Löwy anda entusiasmado com a volta dos estudantes às ruas brandindo livros de Marx e Walter Benjamin. “Não pode haver um movimento que não se refira às lutas, às vítimas, aos mártires e aos pensadores do passado porque nós nunca partimos do zero”, diz. Objeto de estudo em As Utopias de Michael Löwy: Reflexões sobre um Marxista Insubordinado, organizado por Ivana Jinkings e João Alexandre Peschanski (Boitempo, 2007), organizador de Revoluções (da mesma editora) e atualmente pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) de Paris, nas últimas semanas Löwy acompanhou o noticiário da ocupação (e a posterior desocupação) da reitoria da USP. Interpretou como “faíscas” o clamor dos estudantes contra a presença policial e os berros por liberdade para se fumar maconha no câmpus. “O que se passa é muito maior que isso. Há uma indignação com a ordem das coisas no mundo. Um sentimento de cólera. E, diante dessa percepção de injustiça, os estudantes têm um papel essencial, começando movimentos de protesto. Não podemos subestimá-los.” A seguir, a entrevista que Löwy concedeu ao Aliás, por telefone, de sua residência na capital francesa.

Estudantes ocupando praças em Nova York, Madri, ruas em Santiago, a reitoria na USP. Estamos diante de um arrastão de rebeldia ou são episódios isolados?
Não são episódios isolados. São parte de um processo internacional que lembra os anos 1960. Quando há um sentimento de injustiça e insatisfação na sociedade, os estudantes são os primeiros a se organizar e a protestar. Agora, na maioria dos casos, seja na Europa, no Chile ou nos Estados Unidos, não são apenas estudantes. É a juventude em geral. Os estudantes naturalmente têm um papel importante, mas é um movimento bem mais amplo, ao qual vão se agregando outros grupos – desempregados, trabalhadores, sindicalistas. Torna-se algo muito plural. O que há de comum é a indignação. Essa palavra está servindo como um sinal de identidade dos protestos. Há uma indignação muito grande que pode estourar por com um pretexto mínimo. No caso de São Paulo foi uma intervenção policial na USP. Mas poderia ter sido outra faísca.

Indignação com o quê? No caso da USP, pode-se ter a impressão de que é com a impossibilidade de fumar maconha no câmpus.
É muito maior que isso. Há uma indignação com a ordem das coisas no mundo. Um sentimento de cólera – e cólera com alta qualidade ética e política. O começo de qualquer movimento ou mudança social sempre se dá com um estado de espírito indignado, a começar na juventude. E fácil de entender o porquê de tanta indignação. Estamos numa situação em que a ordem social parece cada vez mais irracional, promovendo desigualdades gritantes, promovendo os excessos do mercado financeiro, a destruição do meio ambiente. As razões para a indignação são evidentes. Têm a ver com o sistema. Por mais que comece com uma história de maconha e confronto com a polícia, acaba se transformando em um protesto antissistêmico. Em última análise, o objeto de indignação é o poder exorbitante do capital mostrando a sua irracionalidade e desumanidade. Muitas vezes, isso é formulado explicitamente nesses termos. Outras, não. Mas a questão está subjacente em todos os protestos recentes. Nós, sociólogos, precisamos tentar entender por que isso não começou mais cedo. Porque as razões para a indignação já existiam. Pelo jeito, foi necessário uma acumulação de descontentamento e um sentimento de que não é mais possível tolerar tal situação. E de que é preciso se revoltar, sabendo ou não se se conseguirá impor alguma mudança. Há um imperativo categórico de revolta, no sentido kantiano. Há coisas que você precisa fazer, mesmo sem ter certeza de em que vai dar. E quanto maior a participação ativa dos jovens, dos estudantes e de outros setores, cria-se uma relação de forças que pode pelo menos impor limites ao sistema e, sobretudo, criar uma tomada de consciência. Isso talvez seja o mais importante: a tomada de consciência. O Ocupe Wall Street não conseguiu arranhar o capital financeiro, mas despertou consciência crítica em grandes setores. Eis um evento importante. Histórico até.

Ocupações, greves e passeatas ainda são formas eficazes de protesto?
São as formas clássicas de protesto, que reaparecem sempre. Mas também há formas novas surgindo. Por exemplo, a comunicação através dos meios eletrônicos, como o Facebook e o Twitter, que permitem uma mobilização muito rápida. E as mobilizações de agora têm um caráter festivo, lúdico, com música, dança, festa, o que é próprio da expressão da juventude. O Facebook e o Twitter têm lugar importante, mas não é o caso de mitificá-los. Eles não bastam. Para que alguma coisa aconteça, você tem que sair de sua casa, descer à rua, reunir-se com outras pessoas, ir lá, brigar, protestar, talvez enfrentar a polícia. Então, o Facebook é um suporte, não vai substituir a ação direta das pessoas.

A juventude tem voz além do Facebook? Ela se sente representada politicamente?
Pouco, porque a representação política está nas mãos de setores sociais mais acomodados e de “mais idade”. Os jovens não se sentem representados. Há uma grande desconfiança em relação aos partidos e às instituições políticas existentes. Há certo rechaço a isso, muitas vezes com razão. Uma atitude cética diante da política institucional. Mas isso não quer dizer que haja desinteresse por eventos políticos. No meu tempo de aluno da FFLCH, nos anos 50, poucos estudantes achavam necessário ou sentiam vontade de se engajar em organizações políticas. Havia politização, mobilização em torno de determinadas causas, mas atividade política organizada era para uma minoria. Tenho a impressão de que atualmente a politização e a militância política são maiores do que nos anos 50, mas menores do que nos 60 e 70, durante a ditadura militar.

E podemos interpretar os protestos como um grito por participação política?
Analisemos o caso do Chile, que teve o movimento mais amplo até agora. Não é só um grito, é um protesto em cima de uma questão concreta: a privatização do ensino público desenvolvida no governo Pinochet, que não foi mudada pelos governos de centro-direita ou centro-esquerda que o sucederam. Trata-se de uma questão que concerne a todos os estudantes: o quase desaparecimento do ensino público gratuito, os preços exorbitantes da educação. E isso se coloca também no Brasil, na Inglaterra. Por toda a parte há essa tendência de transformar a educação em mercadoria, em indústria que deve dar lucro. E assim vai desaparecendo a educação pública gratuita, que era uma conquista de muitos anos de luta. O protesto dos estudantes chilenos começou criticando a privatização do ensino e depois tomou um caráter mais amplo, porque eles perceberam que os problemas na educação são parte de uma orientação geral de um sistema neoliberal. Notaram que esse modelo de educação é inseparável de questões maiores e, assim, o movimento ganha apoio de outros setores da sociedade.

A ideia de autonomia universitária está sendo colocada em xeque?
Autonomia universitária significa que o papel da universidade é transmitir conhecimento, cultura, ciência – e não mercadorias. Quando o papel do ensino se resume a permitir que estudantes adquiram um diploma, ou a prepará-los para encontrar um posto a serviço do management, do marketing, perde-se a qualidade humana, cultural e pedagógica da universidade. As universidades estão se tornando meras empresas voltadas para a produtividade, a racionalidade instrumental mercantil. E, obviamente, boa parte dos estudantes e professores resiste a isso, defende o estatuto da universidade como lugar de produção de cultura e conhecimento, com autonomia em relação ao mercado, à economia e às empresas.

No caso da USP, os estudantes se tornaram massa de manobra de partidos e sindicatos?
Não, pelo contrário. Há uma relação de desconfiança dos estudantes em relação aos sindicatos e sobretudo aos partidos. Uma parte do movimento sindical, geralmente a parte mais radical, se aproxima do movimento estudantil em busca de aliança. Mesmo que haja certo interesse dos jovens nessa aliança, ela não se dá com facilidade, porque os objetivos dos sindicatos são mais limitados. Os ritmos não são os mesmos, a cultura política não é a mesma. Então, há uma diferença que dificulta essa aliança. Mas, para os estudantes, é importante conseguir criar uma situação em que os sindicatos resolvam participar da mobilização. Isso tem acontecido no Chile, na Espanha, na Grécia, nos EUA. Longe de serem manipulados pelos sindicatos, esses movimentos de protesto têm grande autonomia. Eles buscam estabelecer a aliança, mas não no sentido de se tornarem apêndice dos sindicatos. Com os partidos políticos é mais complicado, porque a desconfiança é maior. Não há um único partido que controle ou manipule esses movimentos mundo afora.

Ao serem presos, estudantes da USP brandiam livros de Marx, Foucault e Walter Benjamin, imagens de Mao e Che Guevara. Essas referências continuam atuais?
É normal que cada vez que apareça um movimento de crítica antissistêmica as pessoas se refiram a personagens e pensadores que já exprimiram essa crítica. Então, Marx aparece como referência importante, porque ele foi o primeiro a elaborar uma crítica radical do sistema capitalista. Em muitos pontos, essa crítica é até mais atual hoje do que na época em que ele a escreveu. Fico feliz de saber que há estudantes que se referem ao pensamento desses autores. Benjamin tem uma reflexão profunda sobre o que é a modernidade capitalista, a ideologia do progresso. Ele dá elementos que Marx não dava. Guevara também é importante, sobretudo, como homem de ação e símbolo do compromisso ético com os ideais de libertação e emancipação. Tudo isso é necessário. Não pode haver um movimento, qualquer que seja, que não se refira às lutas, às vítimas, aos mártires e aos pensadores do passado, porque nós nunca partimos do zero. Mas, evidentemente, isso não basta. Precisamos também pensar com novos instrumentos teóricos para dar conta das questões que estão aparecendo neste começo do século 21. Por exemplo, a catástrofe ecológica que está se perfilando. Ela precisa de uma reflexão atual, utilizando elementos teóricos mais atualizados.

O sr. é um estudioso das revoluções dos séculos 19 e 20. Qual foi o papel dos jovens e estudantes nelas?
Depende, porque as revoluções são diferentes entre si. Em geral se pode dizer que a juventude sempre jogou um papel importante em qualquer movimento revolucionário. É uma constante. Movimentos revolucionários são levados por jovens, muitas vezes. Agora, se são estudantes ou não, isso depende da época, do país. Na Revolução Russa os estudantes não tiveram muito espaço. Na Revolução Cubana, sim. O Maio de 1968 em Paris foi um movimento totalmente estudantil. E um dos gatilhos foi a invasão da Sorbonne pela polícia. Na França, ainda hoje, a polícia entra raramente na universidade. Justamente porque se sabe que há o estatuto de autonomia das universidades e intervenções policiais provocam a reação dos estudantes. A polícia simboliza o autoritarismo do Estado contra a juventude, contra os estudantes. Esse choque com a polícia é frequente e, em certas circunstâncias, se transforma na faísca que mencionei antes, a que faz um protesto eclodir. Não podemos subestimar o papel dos estudantes nas revoluções.

Os da USP foram chamados de bichos grilos de grife, filhinhos de papai, rebeldes sem causa, maconheiros mimados… Como o sr. avalia esse tipo de tratamento?
Qualquer questionamento da ordem sempre é ridicularizado. Agora, sobre os estudantes serem meninos ricos… É uma mitificação, porque a maioria deles é de origem popular. Não são filhos de latifundiários, como eram os estudantes de antes da 2ª Guerra Mundial. Hoje em dia, a educação se tornou mais popular. Sobre a maconha: na minha opinião, não há razão para transformar o consumo de maconha em assunto de polícia. A maconha não é nem melhor nem pior do que o tabaco e a cerveja e tem um caráter bem diferente das drogas mais perigosas, como cocaína e crack. Então, essa reivindicação de descriminalizar o consumo da maconha me parece bastante razoável. Mas isso foi só um pretexto, porque em cima do tema se armou uma briga e, quando se manifestou o autoritarismo da polícia e do governo, aí assim o protesto cresceu. Muitos estudantes que aderiram à manifestação não o fizeram devido à questão da maconha e sim devido à repressão indiscriminada e arbitrária sobre alunos.

A sociedade brasileira clama por ordem?
Não é a sociedade em seu conjunto que se volta contra os estudantes com esse discurso de ordem e repressão. É a imprensa e os representantes da ordem e do governo. Eu me pergunto se parte da população não simpatiza com esses protestos da USP. Pelo menos foi o caso em outros países onde protestos dos jovens e estudantes se tornaram a expressão de um grande movimento popular. Não estou dizendo que isso vá acontecer já no Brasil, mas não há essa dicotomia entre jovens e estudantes de um lado e o restante da sociedade do outro. Essa separação é do interesse da classe dominante, dos governantes mais reacionários, como tentativa de mobilizar a população contra os estudantes.

O governador Geraldo Alckmin disse que os estudantes da USP precisavam de uma aula de democracia…
Nós sabemos que no Brasil não há nada mais democrático do que a Polícia Militar (risos). Ela tem uma tradição de várias dezenas de anos de democracia, não é? Democracia do cassetete – que não acho que deva ser a forma mais avançada de democracia. Não deve ser muito sério o argumento do sr. Alckmin. Uma intervenção policial brutal não tem nada de democrático.

Alguns autores contemporâneos, como o irlandês John Holloway, valorizam a articulação dos novos movimentos. Ao contrário do que dizia Marx, agora é possível mudar o mundo sem tomar o poder?
Holloway me deu o livro dele e pediu para que eu fizesse uma resenha, sabendo que eu iria criticá-lo. O livro Mudar o Mundo sem Tomar o Poder tem muitas ideias interessantes e toda a crítica que ele faz ao sistema me parece muito profunda. Mas acho que a proposta dele não faz sentido, porque qualquer ação social e política inevitavelmente implica uma forma de poder ou de contrapoder. O que se coloca é garantir que esse poder seja efetivamente democrático. O movimento, ele mesmo, tem formas de poder, de organização e de gestão democrática. Protesto, revolta e revolução, tudo isso não pode existir se não houver uma organização de uma forma de poder. Não podemos contornar a questão do poder, porque na política não existe vazio. A necessidade é que esse poder seja democrático. Essa é a resposta.

No livro Revoluções, o sr. destaca como os revolucionários muitas vezes são vencidos pela história. Os estudantes de hoje serão vencidos?
Não posso dizer. Mas podemos já constatar, nos países árabes concretamente, que esses movimentos de protestos da juventude não foram vencidos. Eles derrubaram duas ditaduras sinistras, na Tunísia e no Egito, com uma mobilização desarmada. Não estou dizendo que isso será uma regra, mas mostra que não há nenhuma fatalidade. As revoluções são sempre imprevisíveis, acontecem onde ninguém espera.
Fonte: http://boitempoeditorial.wordpress.com/

Castells sugere o fim do euro - Por Manuel Castells

Castells sugere o fim do euroIndignado com atitude antidemocrática das elites e planos seguidos de salvamento dos banqueiros, ele afirma: outro sonho europeu é possível

Já não existem dúvidas quanto ao espírito antidemocrático da União Europeia. A proposta do ex-primeiro-ministro grego, que queria perguntar a seus concidadãos se aceitam viver em austeridade espartana para poder pagar a dívida desencadeou uma tempestade financeira e política – que, entre ameaças e xingamentos de Angela Merkel, Nicolas Sarkozy e David Cameron, provocou a crise do governo grego e deixou o país de pernas para o ar.

O que há de errado se as pessoas priorizarem sua saúde, sua educação e seu emprego? São temas muito complexos para a população? Não exagerem, que alguns de nós estudamos mais do que os governantes. Com alguns colegas, me comprometo a explicar claramente aos cidadãos o que vai acontecer com o euro, com a crise, com aqueles que se beneficiam e que se prejudicam, e quais são as diferentes opções possíveis, incluindo a repatriação do euro em Bruxelas. À condição, é claro, de ter a mesma informação que os banqueiros e governantes reservam para si.

O problema não é a complexidade, mas a democracia. O que os políticos mais temem nesses momentos é que os substituamos, que roubemos deles esse poder delegado que mantêm, por um mecanismo controlado de eleições entre opções enquadradas nos limites do sistema, e legitimadas pela mídia. Um referendo, mesmo que não seja uma forma perfeita de decisão popular, abre um leque de possibilidades. Mas persistem uma arrogância elitista e uma repulsa à vontade popular, por mais que seja dissimuladas. Porque ainda que cidadãos se equivocassem, teriam direito a este erro. Já passou o tempo dos que nos salvavam porque não sabíamos o que fazer.

Na realidade, não se trata de salvar o povo, mas de salvar o euro, como se fossem a mesma coisa. Por que tanto interesse? E de quem? Porque dez dos 27 membros da União Europeia vivem sem o euro e algumas de suas economias (Reino Unido, Suécia, Polônia) são muito mais sólidas que a média da União Europeia? Defender o euro até o último grego é a primeira linha de defesa para uma moeda que está condenada porque expressa economias divergentes e que não têm um estado que a respalde.

Com Portugal e Irlanda na UTI, a Espanha na corda bamba, e uma Itália em permanente crise política e endividada até o pescoço de seu ex-líder, a defesa franco-germânica do euro tem outras explicações. São muito diferentes da história de terror que nos contam, sobre a catástrofe financeira que implicaria, com efeitos devastadores em nosso cotidiano – como se a vida dependesse da bolsa de valores.

A primeira razão é obvia: salvar os bancos, principalmente os alemães e franceses, que emprestaram sem garantias para a Grécia e aos demais PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha) mediante a manipulação de contas praticada, pelo menos no caso da Grécia, pela consultoria da Goldman Sachs (certamente, deve ser sismples coincidência que Draghi, o novo presidente do Banco Central Europeu também foi empregado da Goldman Sachs).

De início, já aceitam que precisarão esquecer 50% da dívida da Grécia, ainda que não esteja claro quem acabará pagando. Mas os outros 50% têm que ser tirados do sangue, suor e lágrimas dos gregos, para que o não pagamento não acabe impune. Se a Grécia repudiasse a dívida – como fez a Islândia, que hoje vai tão bem, um dracma desvalorizado em 60% faria com que fosse impagável o resto da dívida. Mais ainda, o efeito do contágio em mercados financeiros levaria ao não-pagamento de grande parte da dívida soberana, levando à quebra dos bancos que se aproveitaram do euro para emprestar sem garantias.

Ou seja, trata-se de salvar alguns bancos concretos e, em termos mais amplos, evitar uma nova crise do sistema financeiro. Quebram os países para que os bancos não quebrem. Mas por que se faz isso? No fim, os Merkozy [referência a Ângela Merkel e Nicolas Sarkozi] não são funcionários dos bancos. Têm seus interesses políticos, nacionais e pessoais. A Alemanha necessita realmente que o euro seja a moeda europeia e que seus sócios não possam desvalorizá-la. Porque o modelo de crescimento alemão, é na realidade, o mesmo que o chinês: crescer por meio de exportações favorecidas por uma moeda subvalorizada; e reduzir salários (houve redução de 2% em termos reais, nos últimos cinco anos). Se houvesse um euro-marco forte, a Alemanha perderia mercados na Europa perderia competitividade em relação a exportações espanholas ou italianas.

Mas há outra dimensão político-pessoal. Tanto Merkel quanto Sarkozy precisam estabelecer sua liderança europeia por razões de política interna e por projeto de grandeza nacional que é preciso disfarçar, para não despertar velhos fantasmas. E as outras elites políticas europeias? O sentimento de serem europeus, em um mundo em mudanças desde a América do Norte até a Ásia, dá-lhes a impressão de ser algo mais que produtos aldeanos do aparato de partido que tanto desprezam.

E nós em tudo isso? Certamente, a bagunça financeira que o advento do euro-peseta ocasionará (não há erro no tempo do verbo) causará problemas de transição na economia e em nossos bolsos – a depender de como se realize a transição. Mas a soberania de política econômica seria recuperada, a realidade monetária e financeira se ajustaria à economia real, a competitividade aumentaria com a conquista de mercados externos e internos, haveria uma explosão de turismo, que seria uma pechincha. Seria possível reativar a economia emitindo moeda. Aumentaria, portanto, o emprego. Porque o essencial é crescer, não flagelar-se. Claro: haveria inflação. Mas é a melhor receita para reduzir a dívida, incluindo a das hipotecas.

E o sonho europeu? Ele pode ser construído com as pessoas, amando-nos uns aos outros, em vez de ver quem para a conta. Quando pensar em euro, pense fraude. Quando pensar em Europa, pense amigos.

Tradução: Daniela Frabasile
Fonte: www.outraspalavras.net/

Egito: Como assar uma ditadura – por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

Escândalo Chevron: mentiras, multas irrisórias, politização e pré-sal - por André Barrocal e Najla Passos

Escândalo Chevron: mentiras, multas irrisórias, politização e pré-salPetroleira norte-americana responsável por desastre ambiental escondeu das autoridades informação sobre fim de vazamento e tentou iludi-las com vídeo editado. Multas iniciais e pedido de indenização chegam no máximo a R$ 250 mi, quase nada para quem fatura US$ 200 bi. Para PSDB, governo demorou a agir. Partido não se indignou com 'mentiras', como fez com ministro, nem pediu CPI da Chevron, suspeita de buscar pré-sal alheio, como fez com Petrobras.

BRASÍLIA - “É política do grupo preservar a segurança, a saúde das pessoas e o meio ambiente, bem como conduzir operações confiáveis e eficientes.” O grupo em questão, acredite, é o norte-americano Chevron, protagonista de um dos maiores desastres ambientais da história brasileira. Graças a operações nada confiáveis e eficientes com petróleo no Rio, a empresa é hoje alvo da Polícia Federal (PF) e da cobrança de indenização e de multas milionárias.

Recheado – segundo autoridades - de omissão de informações e inverdades, e com cheiro de atentado à soberania nacional diante de uma possível tentativa de explorar petróleo pré-sal alheio, o caso Chevron é revelador. Permite ver com nitidez como a legislação brasileira pode ser generosa com empresas privadas. E como a luta política entre governo e oposição às vezes ajuda a perder a noção de que algo verdadeiramente escandaloso está acontecendo.

No dia 8 de novembro, teve início um vazamento de petróleo de poço explorado pela multinacional a 1,2 mil metros de profundidade na Bacia de Campos, no litoral do Rio. No dia 12, a Chevron apresentou à Agência Nacional do Petróleo (ANP) um plano para “matar” o poço e acabar com o vazamento, aprovado no dia seguinte e implementado a partir do dia 16 – pelo menos, era isso que a Chevron dizia à ANP.

O plano, porém, dependia de um equipamento que só chegou dos Estados Unidos nesta segunda-feira (21), e isso a Chevron não contara antes.

Imagens submarinas que a empresa fornecera às autoridades para mostrar o fechamento do poço estariam incompletas e teriam sido editadas para iludir as mesmas autoridades. “Houve falsidade de informações”, disse o chefe da ANP, Haroldo Lima. “Isso é inaceitável”, afirmou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

Os dois mais o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, foram chamados pela presidenta Dilma Rousseff para uma reunião nesta segunda em que ela queria passar a história a limpo. Até então, Dilma tinha apenas divulgado uma nota, dia 11, na qual dizia que o governo estava acompanhando o caso e que haveria uma apuração rigorosa das responsabilidades.

Na reunião, Dilma ficou incomodada com a enrolação da Chevron e mandou a equipe levantar todos os contratos que a empresa tem com o governo, para verificar se é o caso de preservá-los.

Depois da conversa, a ANP informou que vai fazer pelo menos duas autuações contra a petroleira – uma pelas omissões, outra pela falta de equipamentos. Mais cedo, no Rio de Janeiro, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) também anunciara a aplicação de uma multa.

Pela lei atual, cada uma das multas pode chegar no máximo a R$ 50 milhões, uma ninharia para a Chevron mesmo que se some a autuação anunciada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), também no valor de R$ 50 milhões.

No ano passado, a multinacional faturou US$ 200 bilhões.No primeiro semestre de 2011, lucrou US$ 14 bilhões. Como comparação: em fevereiro, a mesma empresa foi condenada no Equador a pagar US$ 8 bilhões por um crime ambiental.

Talvez fosse mais adequado que a legislação atrelasse as multas ao faturamento das empresas, como o ministro da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, está defendendo em projeto de lei que pune corruptores com mais rigor. Para Hage, se a multa não pesar de fato no caixa das empresas, o comportamento ético delas não vai mudar. Um raciocínio que também pode servir para o comportamento ambiental.

“Para o tamanho do empreendimento [da Chevron] e do dano ambiental [que ela causou], o valor máximo da multa brasileira me parece muito pequeno”, disse o presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).

Nesta segunda (21), Rollemberg propôs – e aprovou – a realização de audiência pública no Senado no próximo dia 29 para escarafunchar o caso Chevron, com a presença de dirigentes da empresa e de autoridades.

Os adversários do governo Dilma – Rollemberg é aliado – também querem explorar o assunto politicamente. No domingo (20), um deputado oposicionista, Arnaldo Jardim (PPS-SP), informara que iria propor na Câmara a convocação da ANP e da Chevron para dar explicações. Nesta segunda (21), o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), divulgou nota em que diz que a sociedade “não consegue conceber” por que “somente agora” a presidenta tomou uma atitude.

Já as mentiras da Chevron denunciadas pelo governo não mereceram dos tucanos a mesma reação que tiveram com as confusas explicações dadas pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, sobre as relações dele com um empresário. Para o PSDB, Lupi teria cometido crime de responsabilidade por ter mentido.

O PSDB também não está a defender, por exemplo, uma CPI da Chevron, como fez contra a a Petrobras em 2009, para saber se a multinacional norte-americana tentou sugar petróleo pré-sal que não lhe pertencia. Essa é uma suspeita tanto da Polícia Federal, que abriu inquérito para apurar todo o caso e vai tomar os primeiros depoimentos de executivos da empresa nesta quarta-feira (23), quanto da ANP.

Para o delegado da PF que cuida do caso, Fabio Scliar, é estranho que a Chevron tenha sondas capazes de buscar petróleo a 7km de profundidade, sendo que o poço em que houve o acidente era "raso", de 1,2km - as camadas de pré-sal situam-se entre 5km e 7km.

“Vamos examinar a prazo curto o projeto dela de chegar ao pré-sal brasileiro legalmente”, disse Haroldo Lima, em referência a uma reunião da ANP marcada para quarta (23) que analisará uma proposta da Chevron de atuar em campos do pré-sal.

Coincidência ou não, o governo do Rio também resolveu se mexer nessa segunda (21). O secretário de Meio Ambiente, Carlos Minc, ex-ministro da área, informou que o estado vai entrar com uma ação civil pública cobrando R$ 100 milhões de indenização da Chevron. E que vai obrigar a empresa a se submeter a uma auditoria internacional para conferir se a empresa estava preparada para acidente. A auditoria deve custar R$ 5 milhões, e a própria auditada deverá pagar.
Fonte: www.cartamaior.com.br/

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Nossa sociedade do espetáculo - Por Arlindenor Pedro

Nossa sociedade do espetáculoContra a visão de mundo liberal-burguesa, as ideias do francês Guy Debord podem facilitar o entendimento do mundo contemporâneo

A Sociedade do Espetáculo é um filme que não iremos encontrar facilmente nas locadoras. Para assistirmos a essa obra, ou a algumas das outras obras cinematográficas do pensador, poeta, cineasta e ativista político Guy Debord, teremos que nos valer da internet, ou mesmo de cópias feitas por integrantes da imensa legião de admiradores que ele tem em todo mundo. Além de seus filmes, também é difícil ter acesso a suas publicações. Só recentemente uma editora em Paris resolveu publicar suas obras completas, num volume de 2.000 páginas. Mas, por incrível que pareça, suas ideias e mesmo sua militância política encontram cada vez mais ressonância no mundo atual.

Segundo o filosofo alemão Anselm Jappe, autor do livro Guy Debord, isto se dá devido ao fato de que sua obra como um todo é inaceitável para aqueles que dominam a mídia, e, quando são divulgadas, suas ideias são banalizadas. “Devemos lamentar essa desinformação?”, pergunta Jappe. “Quando li Marx pela primeira vez fiquei surpreendido por não ter ouvido falar dele nas escolas. Quando comecei a entender Marx, isso deixou de me surpreender.”

No caso de Debord, o entendimento de sua teoria vai muito além da constatação de ser ele um expoente das vanguardas artísticas, como os integrantes do seu grupo, A Internacional Situacionista, que queria superar a própria arte através do detournement (desvio), ou mesmo da “teoria da deriva”, que se tornou famosa e, inclusive, foi aplicada nas escolas de urbanismo em todo o mundo. Detournement seria, então, um procedimento utilizado na maioria de suas obras, inclusive em A Sociedade do Espetáculo, que consistiria na utilização de imagens retiradas de filmes variados, documentários históricos, spots publicitários, que são compartilhados por textos lidos em off, dentro da concepção de que a arte tem um valor universal, não cabendo a privatização de seus elementos por direitos autorais.

Seus filmes não eram comerciais, e tinham claramente um sentido político. Por isso, seu amigo Lebovici, que editou a maior parte de sua obra antes de ser assassinado misteriosamente, chegou, inclusive, a comprar um pequeno cinema no bairro parisiense do Quartier Latin, onde durante um tempo seriam exibidos somente filmes de Debord. Dentre muitas experiências, inclusive com a realização de filmes sem imagens, destaca-se o último de seus filmes: In girum imus nocte et consumimur igni (Movemo-nos na noite sem saída e somos devorados pelo fogo), polídromo latino que pode ser lido da mesma forma, da direita para a esquerda.

Para compreendermos a teoria de Guy Debord precisamos saber, preliminarmente, o que é, de fato, aquilo que chamamos de Sociedade do Conhecimento, fruto da revolução tecnológica que tomou força a partir dos anos 50, e que, grosso modo, tem como principais características: i) a globalização das economias e dos costumes, moldando um mundo cada vez mais igual, onde é reproduzindo o modus viventis da matriz ideológica — a sociedade americana; ii) rápidas mudanças tecnológicas, fazendo com que o tempo útil da mercadoria seja cada vez menor, acentuando nela o seu valor de troca; iii) desmaterialização das mercadorias, onde o mercado dos intangíveis vai substituindo o dos tangíveis, fazendo com que a imagem do produto tome o lugar dele próprio, como objeto de consumo; e iv) customização dos produtos, onde o consumo é cada vez mais dirigido, criando-se tribos definidas para este fim, além, é claro, da estrema concorrência a nível global.

Mas, o conceito de Sociedade do Conhecimento, por si só, não é suficiente para que possamos ter uma compreensão exata do mundo em que vivemos. Para isto teremos que utilizar outros conceitos, mais específicos e menos abrangentes.

Ora, tornou-se um lugar comum dizer que uma teoria tem caráter científico quando ela é demonstrável e pode ser aplicada numa realidade universal. Num caso específico da filosofia, e da forma de se observar a sociedade capitalista contemporânea, parece-me que as ideias desenvolvidas por Debord em A Sociedade do Espetáculo — e que é relatada através do filme do mesmo nome — podem ser plenamente demonstráveis no mundo contemporâneo: ele nos diz que a mercadoria é o nexo que estrutura a sociedade contemporânea, o mundo do presente-vivido, e me parece que este é um conceito plenamente demonstravel, passível de levarmos em consideração.

No espetáculo já não predominaria simplesmente a produção mercantil, mas a imagem. A separação, ou alienação do trabalho, consumada no âmbito da produção capitalista, retornaria como falsa unidade no plano da imagem. O espetáculo seria a autonomização das imagens, doravante contempladas passivamente por indivíduos que já não vivem em primeira pessoa. Por isso, o espetáculo não seria simplesmente um conjunto de imagens, um abuso do mundo visível, e sim um tipo particular de relação social entre pessoas mediada por imagens. Tratar-se-ia, evidentemente, das relações de produção capitalistas, radicadas na alienação do trabalho, isto é, na total indiferença da produção em relação à vontade e ás necessidades dos produtores. A contemplação passiva das imagens, que foram escolhidas por outros, substituiria o vivido e próprio poder de determinar o futuro do indivíduo. O espetáculo torna-se o capital concentrado a tal ponto que se transforma ele próprio em imagem.

Debord se preocupava com a impossibilidade do homem moderno encontrar sua plena existência num mundo de ampla oferta de mercadorias. Em ultima instância, entendemos o pensamento de Marx como uma constatação e uma crítica da redução de toda a vida humana, no capitalismo, ao valor, isto é, à economia. Opondo-se a interpretação dos partidários de Marx, que na sua geração, que viam a questão da exploração econômica como o mal maior do capitalismo e, desta forma, propunham uma nova sociedade onde a economia existiria mas não seria usada para a exploração de uma classe sobre a outra. Debord, remetendo ao próprio Marx, discorda desse conceito e concebe a esfera econômica, como ela própria, oposta à totalidade da vida. E aí está sua originalidade.

Recordemos duas conseqüências da critica do fetichismo que Debord soube aprender com grande antecedência. Nos diz Anselm Jappe: “Em primeiro lugar, a exploração econômica não é o único mal do capitalismo, dado este ser, necessariamente, a negação da própria vida em todas as suas manifestações concretas. Em segundo lugar, nenhuma das inúmeras variantes no interior da economia baseada na mercadoria pode realizar uma mudança decisiva. Por isso é que seria totalmente inútil esperar uma solução positiva do desenvolvimento da economia e da distribuição adequada dos seus benefícios. A alienação e a expropriação constituem o núcleo da economia mercantil que, além do mais, não poderia funcionar de modo diferente, e os progressos da ultima são, necessariamente, os progressos das duas primeiras. Isso constitui uma autêntica redescoberta., considerando que o “marxismo”, a par da ciência burguesa, não fazia “critica da economia política”, mas limitava-se a fazer economia política, levando em conta apenas os aspectos abstratos e quantitativos do trabalho, sem discernir ai a contradição com o seu lado concreto . Este marxismo já não via na subordinação da vida inteira às exigências da economia um dos efeitos mais desprezíveis do desenvolvimento capitalista,mas, pelo contrário,um dado ontológico cuja evidenciação até parecia um fato revolucionário.”

A “imagem” e o espetáculo de que fala Debord devem ser entendidas como um desenvolvimento posterior da forma-mercadoria. Tem em comum a característica de reduzir a multiplicidade do real a uma única forma abstrata e igual. De fato, a imagem e o espetáculo ocupam em Debord o mesmo lugar que a mercadoria e seus respectivos derivados ocupam na teoria marxiana.

Mas, é importante frisarmos aqui que esses caminhos já tinham sido trilhados por György Lukács, no seu polêmico livro História e Consciência de Classe, que, sem dúvidas, influenciou o pensamento de Debord, pois foi o primeiro dos estudiosos de Marx que retomou o conceito de fetichismo da mercadoria. Tal conceito que tinha aparecido em Marx na Crítica da Economia Política, foi relegado ao esquecimento pelos marxistas posteriores, tais como Engels Kautsky, Rosa de Luxemburgo e Lênin. E é esse conceito, a base do pensamento de Debord, quando elabora a teoria de A Sociedade do Espetáculo.

Num momento em que vemos em todo o mundo uma repulsa de pessoas esclarecidas à “visão de mundo” da burguesia liberal, levar as ideias de Debord para a praça pública, através de seus filmes, é umimportante instrumento didático para o entendimento das características do mundo contemporâneo, e pode ser uma estratégia para aqueles que querem enxergar uma civilização pós-capitalista, pois, como disse alguém: “Se queremos mudar o mundo, é necessário primeiro entendê-lo”.

Fonte: www.outraspalavras.net/