quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

SP: 3 reais é um roubo! Um transporte público medíocre, e o povo não se mexe!!!

O Sistema Mercantil Totalitarista - por Rahu

O Sistema Mercantil Totalitarista. Servir é o que todos gostam. Aos motivos, diversos. A questão é como serve, para servir mais correto. Um e dois somando bilhões, de desejos tão concretos. Tem os vivos encarando os mortos, nas lembranças de outros tempos. O passado não volta, no entanto se volta ao passado. A lógica de agora, é que só servem ao dinheiro e assim se valorizam. No mundo das aparências, as máquinas conectadas, lá fora os ruídos dos veículos. Do efêmero se consome há centenas de anos. Enriquecendo uma economia de bens controladores. O cuidado é pra não se tornar escravo de alguma mercadoria. Então, para muitas pessoas o tempo custa dinheiro. Se trabalha de manhã, de tarde e de noite. Dizem que ninguém gosta mais de trabalho tanto quanto o escravo. Não lhe deem o que fazer e logo o verão sofrer, mas para amenizar o sofrer, consomem mais e mais em um círculo vicioso de ganhar para comprar. E quem é que controla esse circulo? E existem outros círculos? Quando plantar, regar e colher acabar. Nem tudo se esqueceram, os que agora vivem cá, pois só lembram de trabalhar para comprar. Outros contemplam a morte nas TV's, e assim, hipnotizados, todos vivem uma parte da tragédia alheia. Nos fazem assim pensar, quando acontecerá conosco? Sua ingenuidade me comove o coração. Existem outros que também exercem muita força. Aqueles que dizem que devem ser todos iguais? E os que dizem que são mais sagrados que os outros? Isso no meio das tradições que ornamentam a beleza de várias formas. A mais seguida sempre consideram a "mais nobre". Ao passo de que vendem todo seu tempo, e sabe-se que se existe aquele que compra, com algum interesse qualquer. Ambições todos têm, das formas que ela vier. Alguns podem mais que outros. Logo pensam, para que tanta inveja? O que te leva à mentir para si mesmo. Todos querem ser reis, por isso destroem a imagem do rei. Essa é a política do dia. O torne normal, comum. Todos comuns. Como te soa essa palavra? Comum. E inclusão? Ressoa também do sonho da igualdade? Quantos labirintos para se pensar... E estratégias para desmistificar... E os pensadores sonham com a obra escrita. Quanta razão jogada aos cantos da vida. Eu não poderia dizer tudo. Nunca foi permitido isso a ninguém. E a memória total se disfarça no infinito das galáxias. O consciente e o inconsciente, na neurose se confundem. Outros falam sobre algum tipo de mal-estar. Há os que preferem o deixe estar. Ainda há para que lutar? Nunca se não há um propósito. Pois o mercado quer tudo abarcar. É que se comercializavam as pessoas, e agora se consomem o tempo das pessoas. A continuidade da novidade de consumo. A ambição pela moda. Como efêmera se tão duradoura? Todos pela conquista foi o que mais se viu na guerra. Mas ainda lutam pela conquista, e ainda mais pelo dinheiro. Uma luta um pouco diferente, da que envolveu o aço, o cavalo e a pólvora. De alguma forma, pelo investimento de ogivas nucleares e pela inserção dos maquinários modernos nas vidas das pessoas. Uma revolução das máquinas? Isso eu não posso dizer ao certo.
Fonte: http://neptuneon.blogspot.com/

Tariq Ali: “A maioria do povo sírio quer que o clã Assad saia” - Carta Maior

Tariq Ali: “A maioria do povo sírio quer que o clã Assad saia”O escritor e ativista diz que uma intervenção externa na Síria seria desastrosa e conduziria a um enorme banho de sangue, muito pior do que ocorreu na Líbia. Para Tariq Ali, China e Rússia estão numa posição forte para conseguir uma mudança sem ações violentas. "E é preciso que a pressão se mantenha internamente. É preciso dizer a Assad, em termos claros, que ele tem de ir embora, que o pai dele derramou muito sangue na Síria, ele está a fazer o mesmo", defende.
Tariq Ali

Transcrição da entrevista de Tariq Ali à Russia Today em 15 de fevereiro.

O presidente Assad parece estar agarrado ao poder na Síria. Acha que existe alguma hipótese de que ele saia num futuro próximo?
Parece improvável que saia de vontade própria. Precisa ser empurrado. O povo sírio evidentemente está a fazer o possível, dentro do país. O que é mais perigoso são as pressões externas, especialmente em Istambul e da OTAN para tentar organizar uma intervenção. Isso seria desastroso e conduziria a um enorme banho de sangue. Muito, muito pior do que aconteceu na Líbia.

A melhor forma seria a pressão externa de países que não são vistos como hostis à Síria, como a Rússia e a China, e outros. E é preciso que a pressão se mantenha internamente. É preciso dizer a Assad, em termos claros, que ele tem de ir embora, que o pai dele derramou muito sangue na Síria, ele está a fazer o mesmo, que esta família é inaceitável e que este país precisa de um governo nacional não sectário que prepare uma nova Constituição.

Os líderes árabes estão defendendo o envio para a Síria de uma força de manutenção de paz da Liga Árabe e da ONU. O presidente Assad já rejeitou esta proposta. O que pensa da ideia?
Não penso que seja uma boa ideia o envio de qualquer chamada “força de manutenção de paz”. Primeiro, temos de ver o que é a Liga Árabe. A Liga Árabe é essencialmente uma organização moribunda que é trazida à vida quando o Ocidente precisa dela. Não teve qualquer papel ativo, nos últimos 25 anos, em qualquer sentido positivo na região. Não impediu a guerra no Iraque, apoiou a guerra na Líbia, e está provavelmente a ser usada como representante para tentar empurrar tropas estrangeiras para uma intervenção na Síria, à qual me oponho totalmente. Se há coisa que acho que a Síria não precisa é de exércitos estrangeiros. Vimos o que isso significou no Iraque, vimos o que aconteceu na Líbia.

Mas o envolvimento da Liga Árabe, que é uma espécie de grupo regional, não seria melhor que o envolvimento da ONU ou da OTAN, que são organizações externas?
É bom ter observadores, desde que façam o seu trabalho corretamente. Mas tropas estrangeiras? Quem serão as tropas estrangeiras enviadas pela Liga Árabe? Sauditas ou qataris? São esses os grandes exemplos de democracia na região? Ridículo, não faz qualquer sentido. Penso que é preciso manter a pressão externa sobre Assad. Uma pressão externa não violenta que lhe diga que tem de se ir embora. Penso que chineses e russos estão agora em posição de força para fazer isto, dizendo: nós efetivamente evitámos uma intervenção na Síria, mas Assad tem de ir embora. E pôr de pé um governo nacional.

Os outros que evidentemente são capazes de pressionar Assad são os iranianos e o Hezbollah. Todas estas forças deveriam agora ver que é impossível a Síria continuar a ser governada por esta família, a clique sectária que governa. Quanto mais cedo saírem, melhor para a Síria.

Em termos de forças externas, a Liga Árabe decidiu suspender todas as relações económicas e políticas com o governo sírio. Acha que isso terá algum efeito prático?
Provavelmente não. Porque outros países não o vão fazer, os iranianos não vão fazer o mesmo e são um importante parceiro comercial, e o Líbano também não creio que se vá envolver a esse nível. Assim, não vai ter grande impacto. Acho que a única língua que entende o clã Assad e os militares em volta dele é uma postura muito firme da China e da Rússia. Creio que eles estão numa posição muito forte para conseguir uma mudança sem ações violentas.

Vê a Síria a ficar crescentemente isolada na região, e que efeito terá esse isolamento no Irã?
Acho que estão ficando isolados. Acho que os iranianos são um estado independente, um dos poucos estados soberanos na região e que sabem cuidar de si próprios. Não creio que a queda de Assad afetasse o Irã, porque seria do interesse do governo sírio, se fosse democrático e representativo, manter boas relações com todos estes países.

Eu tenho de dizer que quando olhamos para o que o Ocidente fez em relação ao levante e à crise no Iêmen, onde a matança continua, o que estão a fazer na Síria não se sustenta. O ex-presidente iemenita está a ter tratamento médico nos Estados Unidos. Esta duplicidade de critérios levanta muitas suspeitas sobre os motivos do Ocidente. E os principais países a pressionar por uma intervenção externa na Síria são a Arábia Saudita e o Qatar. Essencialmente, eles gostariam de ter uma versão síria da Irmandade Muçulmana que governasse o país. É esse o novo arranjo para a região árabe, e os Estados Unidos vão segui-lo, como fizeram no passado.

Diz que a China e a Rússia estão agora num posição negocial muito forte. Contudo, a visita do ministro Lavrov à Síria parece não ter tido quaisquer efeitos até agora.

Penso que se continuar assim, e o clã e a família Assad se recusarem a sair e a abandonar a sua mão de ferro sobre o país, tarde ou cedo alguma coisa desastrosa vai acontecer. Possivelmente incluirá alguma forma de intervenção externa. E como vai isso acabar? Não creio que queiram acabar como Khadafi ou Saddam Hussein, linchados pela multidão ou por tropas estrangeiras. Esse é o futuro que têm pela frente, não há outro.

Vamos falar da complexidade de forças presentes na Síria neste momento. Tivemos relatos de que há forças britânicas e do Qatar a operar clandestinamente na Síria. Pensa que possa ser verdade?
É perfeitamente possível. As forças britânicas e do Qatar atuaram clandestinamente na Líbia, muito antes de isso se ter tornado público, agora sabemos. Isto é o que eles fazem, intervir nestes conflitos para desviarem-nos na direção que pretendem. Não tenho provas disso, mas não me surpreenderia nada que o estivessem a fazer.

E quanto aos iranianos? Houve relatos, que foram desmentidos, de que haveria 15 mil soldados iranianos a caminho da Síria.
Isso não sei. Creio que diante das pressões que o Irã está a sofrer, de momento, do Ocidente, com a União Europeia a impor sanções, os americanos a fazer ameaças e os israelitas a querer bombardear, seria muito estranho que estivessem a enviar tropas para fora do país. Mas não temos provas, nem das tropas britânicas e qataris, nem das iranianas. Se eu digo que uma é possível, a outra também pode ser possível, ambas seriam loucura.

Vimos a violência a espalhar-se de Homs para uma segunda cidade, Alepo, e os Estados Unidos dizem que a Al Qaeda está envolvida nisso. Se a Síria está substancialmente infiltrada por terroristas, que pensa que vai acontecer? Dará ao Ocidente um pretexto para promover algum tipo de operação militar no país? Ou, pelo outro lado, deixarão os terroristas fazer o trabalho sujo de derrubar o presidente Assad?
Podem fazer isso, a Al Qaeda é atualmente muito fraca, é usada essencialmente para assustar as crianças em casa. Tem muito pouca força militar. O seu líder, Zawahiri, tornou pública uma declaração dizendo que ele é parte da luta para derrubar Assad. Mas têm muito pouca força e não creio que devamos levar a muito sério a conversa da Al Qaeda ou exagerar a ameaça que ela representa. O fato é que a esmagadora maioria do povo sírio quer que a família Assad saia. Essa é a questão-chave que devemos compreender e que ele tem de compreender.

Muitos comentadores, referindo-se à Primavera Árabe em geral, têm dito que a violência e a incerteza dos resultados vão permitir que a Irmandade Muçulmana apareça como a única organização que tem capacidade de tirar vantagem dela. Teme que isso aconteça na Síria?
Bem, eu não os apoio politicamente, não creio que seja do interesse da Síria ter um governo islamista, moderado ou extremista. Parece que o padrão agora é dizer que o modelo turco, o do governo turco, é o melhor modelo para o mundo árabe. Discordo fortemente disto. Aliás, nem creio que seja um bom modelo para a Turquia. Mas o fato é que se for o único poder no país e houver eleições, vai chegar ao poder, como aconteceu na Tunísia e no Egito. Temos de lidar com isso. Vejo estes grupos como partidos muçulmanos semelhantes à democracia cristã, organizações conservadoras socialmente, mas perfeitamente satisfeitas por seguir as tendências econômicas que dominam o Ocidente e por manter relações com os Estados Unidos. Fizeram-no antes – os turcos são um forte membro da OTAN – e estes países provavelmente seguirão o mesmo caminho.

Agora se isto é o que realmente quer o povo árabe, isso é uma questão muito diferente.

Isso faz parecer a Irmandade Muçulmana uma alternativa benigna. Acha que as minorias cristãs e outras têm algo a temer deles?
Há sempre no interior dos partidos islâmicos moderados uma corrente que acha que não podendo oferecer ao povo o que ele realmente quer, que é um padrão de vida decente, uma rede de segurança social, desviam as atenções atacando minorias. A Irmandade Muçulmana já o fez em relação aos coptas no Egito e não é impossível que, se aparecerem na Síria, venham a fazer o mesmo. Isso não é de forma alguma uma coisa boa, mas temos de esperar e ver. Se for o que realmente a maioria do povo quer, então vai acabar por acontecer.

(*) Transcrição e tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Estado Assassino: Israel e USA construindo suas guerras sujas – por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

[EUA] Entrevista com Will Potter, autor do livro “Green is the new red” - por ANA

[EUA] Entrevista com Will Potter, autor do livro “Green is the new red”[Will Potter, jornalista estadunidense, é o autor de “Green Is The New Red” (Verde é o Novo Vermelho), leitura essencial para todas as pessoas interessadas nos recentes casos de perseguição e criminalização que ativistas ambientalistas e animalistas estão sofrendo nos Estados Unidos com base em interesses corporativos.]

Pergunta > Por favor, apresente-se e apresente também seu livro, “Green Is The New Red”.
Resposta < Olá a todos. Sou um jornalista indepentende de Washington, DC. Meu trabalho tem sido editado em publicações como Los Angeles Times, Mother Jones e National Public Radio. Centro meus artigos e entrevistas em como os ativistas políticos estão sendo rotulados como “terroristas” por parte das empresas e do governo dos Estados Unidos. “Green Is The New Red” enfoca como ativistas de direitos animais e ativistas ambientais tornaram-se a “ameaça número um do terrorismo doméstico” pelo FBI. Meu livro está escrito de forma narrativa, contando a história de vários membros da Frente de Libertação da Terra, do Stop Huntingdon Animal Cruelty e outros grupos, ao mesmo tempo que investiga como as corporações fabricaram a idéia de “eco-terrorismo”.

Pergunta > Quando falamos de AETA¹, de Green Scare²... Podemos dizer que eles atingiram seu objetivo? Quero dizer, notou-se que nos Estados Unidos o trabalho dos ativistas pelos animais e pela terra diminuiu desde que começaram essas estratégias repressivas?
Resposta < Esta pergunta é muito difícil de responder, porque os movimentos sociais, por sua própria natureza, mudam constantemente. No entanto, não podemos negar que essas táticas tem tido um efeito inibidor, o que significa que muitos ativistas pensam duas vezes antes de dizer ou fazer algo, porque estão preocupados em ser estigmatizados como terroristas. Dito isso, tanto o movimento pelos direitos dos animais como o movimento ambiental dos Estados Unidos são vibrantes e estão crescendo. Ressurgiram as ações de desobediência civil não-violentas em protestos relativos às mudanças climáticas, e os ativistas dos direitos dos animais estão, muito eficazmente, usando investigações sigilosas.

Pergunta > Suponho que os meios de comunicação têm apoiado esse tipo de repressão. Que importância teve (ou tem) quando criminalizam ativistas? Algum jornal, canal de televisão... mostraram-se de alguma forma críticos com todo esse assunto?
Resposta < Na maioria dos casos, os jornalistas dos Estados Unidos não conseguiram examinar criticamente estas táticas. Eu diria que uma das razões pelas quais o “eco-terrorismo” se tornou uma ameaça deste calibre foi porque os jornalistas convencionais usavam esse termo, sem questionar sua fonte. Nos últimos meses temos visto mais e mais crítica às leis como a AETA, mas no geral não têm recebido muita atenção.

Pergunta > Como você sabe, na Espanha vários ativistas foram acusados de atividades ilegais relacionadas com a libertação animal. Todos estão (ou estiveram) trabalhando em campanhas legais. As comparações com o SHAC 7 ou o caso dos animalistas austríacos é inevitável. Você acha que pode aparecer em outros países, que não seja nos Estados Unidos, leis parecidas à AETA?
Resposta < Totalmente. Espanha, Áustria, Finlândia e em um monte de lugares estão vivendo processos que copiam tais táticas. As campanhas dirigidas por corporações para demonizar o movimento pelos animais e o movimento ambientalista tachando-os de “eco-terroristas” tornaram-se internacionais, nas áreas de aplicação. Diria que este é um exemplo de que essas táticas não são “a repressão do Estado”, como esquerdistas tendem a descrevê-las, e sim como “repressão corporativa”. O Estado pode estar colocando em prática estas táticas, mas apenas porque as corporações procuram proteger seus lucros em todo o mundo.

Pergunta > Quais são, na sua opinião, os “pontos fracos” do movimento para torná-lo vulnerável a ataques repressivos como estes?
Resposta < A estratégia por trás dessas táticas do governo é a fragmentação. Ao falar sobre isso eu acho que ajuda a visualizar os movimentos sociais com componentes “horizontais” e “verticais”.

A intenção é separar esses movimentos horizontalmente, e criar divisões entre eles e, chamemo-as, esquerda mais ampla. Defensores dos direitos dos animais e ambientalistas estão, portanto, sendo representados como extremistas ideológicos que, se não forem detidos, não deixarão que coma carne ou dirija carros ou tenha animais de estimação. Claro que, por si só, já existam tensões entre esses movimentos e a esquerda tradicional, mas os políticos e corporações tentam levá-las ao extremo. Se esses movimentos não são vistos como parte de uma luta social para uma maior justiça, é mais fácil para outros grupos de esquerda ou progressistas se afastarem quando reprimidos.

Da mesma forma, é uma tentativa de fragmentar estes movimentos de forma vertical. Se diz aos grupos legais que deve condenar os grupos clandestinos, e que se não o fazem também serão tratados como terroristas. Com esta estratégia, matam dois coelhos com uma cajadada só. Por um lado, rompem os laços desses movimentos com os de outros movimentos sociais, e por outro lado, rompem as ligações entre os grupos legais e grupos clandestinos. Ou seja, isolam as suas metas e intensificam a repressão.

Então, para responder sua pergunta mais diretamente, a tática mais eficaz para suprimir esses movimentos tem sido a de confrontar os ativistas, seja pressionando-os a tornarem-se informantes ou pressionando-os a condenar publicamente uns aos outro.

Pergunta > No caso dos presos que decidiram cooperar e delatar outros companheiros, eles receberam realmente sentenças reduzidas ou estão cumprindo sentenças semelhantes aos prisioneiros que optaram em não cooperar? Estão estes prisioneiros (que colaboraram) recebendo algum apoio do movimento?
Resposta < As penas variam de um preso a outro, mas os que cooperaram com o governo receberam sentenças comparáveis aos que não o fizeram. Alguns dos prisioneiros que colaboraram receberam algum apoio de algumas pessoas do movimento, mas a maioria das pessoas mais “radicais” ou de base deste movimento se opõem fortemente a apoiá-los de qualquer forma.

Pergunta > Por favor, recomende as que, para você, seja as melhores fontes de informação sobre a repressão contra ativistas, o Green Scare... (sites, fanzines, livros... seja qual for)
Resposta < Uma boa visão geral de muitas táticas usadas contra ativistas na história dos Estados Unidos é “Beyond Bullets: The Suppression of Dissent in the United States”, de Jules Boykoff. Para obter informações sobre presos, o “Earth Liberation Prisoners Network” disponibiliza uma grande lista de e-mails que informam todas as novidades.

E, claro, www.GreenIsTheNewRed.com tornou-se uma referência de noticias sobre estes temas. Espero que as pessoas que estejam lendo isto também considerem a opção de ler meu livro, “Green Is The New Red: An Insider’s Account of a Social Movement Under Siege”.

[1] AETA: Siglas de Animal Enterprise Terrorism Act, uma lei federal dos Estados Unidos que dá margem de manobra para o Departamento de Justiça para aumentar a repressão contra ativistas pelos animais.

[2] Green Scare: termo com o qual se denomina as novas estratégias de repressão contra os ambientalistas e ativistas pelos animais. Caracteriza-se pela imposição de longas penas de prisão para os ativistas, a pressão exercida sobre eles a testemunhar contra seus companheiros.

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Coletivojuventude do Hai-Kai

A matança como política na Síria - por Eduardo Febbro

A matança como política na SíriaBachar Al-Assad não quer saber de “primavera árabe” em suas terras. Até aqui, conseguiu fazer isso graças ao poderoso regime policial no qual se apóia, à inoperância das Nações Unidas, à tibieza da Liga Árabe, à hipocrisia da comunidade internacional e ao apoio explícito da Rússia e da China. Pequim e Moscou, que ditam hoje os destinos da Síria, desbarataram o plano de intervenção da Liga Árabe enquanto que a grande maioria dos dirigentes ocidentais parece ter perdido a língua e as boas intenções.

Os herdeiros do terror seguem o rumo de seus mentores. O presidente sírio Bachar Al-Assad é uma cópia de seu pai, Hafez Al-Assad. Pai autocrata e torturador de seu povo, seus traços e os do regime se refletem no filho que o substituiu na liderança do país em junho de 2000. Ambos sufocaram rebeliões internas arrasando cidades inteiras ante o manso olhar da comunidade internacional. Dois nomes distintos e 30 anos separam o horror de Assad pai e do Assad Filho: Hama para Hazfez Al-Assad, Homs para Bachar. Estas duas cidades sírias, quase fronteiriças, viveram sob o jugo das bombas e da intervenção das forças especiais.

Em fevereiro de 1982, o regime de Hafez Al-Assad enfrentou uma revolta armada na cidade de Hama protagonizada pela Irmandade Muçulmana, o grupo religioso que surgiu no Egito nas primeiras décadas do século XX e cuja influência se expandiu por toda a região. Hafez de Hama um exemplo para aqueles que tivessem a intenção de imitar os habitantes de Hama: quebrou a revolta em duas fases: primeiro mandou bombardear a cidade com armas pesadas e logo depois fez entrar as forças especiais para que limpassem, rua por rua e casa por casa, a insurreição popular. Assassinatos de crianças, violação massiva de mulheres, torturas, saques: o balanço daqueles dias “exemplares” deixou um saldo entre 10 mil e 35 mil mortos.

Três décadas depois, o descendente de Hafez Al-Assad repete a experiência em Homs: bombardeios com artilharia pesada, uso de unidades especiais, morte e destruição, especialmente no bairro de Baba Amro, onde vivem mais de 30 mil pessoas de confissão sunita hoje totalmente cercadas pelos tanques de Bachar Al-Assad. O ditador sírio sequer concedeu ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha a possibilidade de evacuar os feridos. A revolta síria segue o movimento que iniciou no início do ano passado às margens do Mediterrâneo com as explosões populares que derrubaram dinossáuricos poderes na Tunísia, Egito e Líbia. Bachar não quer “primavera árabe” em suas terras.

Ele pode fazer isso graças ao poderoso regime policial no qual se apóia, à inoperância das Nações Unidas, à tibieza da Liga Árabe, à hipocrisia da comunidade internacional e ao apoio explícito da Rússia e da China. Estas duas potências membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas se opõem a qualquer resolução que condene a Síria ou conduza a um apoio a oposição síria (muito dividida) agrupada no Conselho Nacional Sírio. Pequim e Moscou desbarataram o plano de intervenção da Liga Árabe enquanto que a grande maioria dos dirigentes ocidentais parece ter perdido a língua e as boas intenções.

Onde estão agora os salvadores do mundo? O que houve com as vozes de Nicolas Sarkozy, Angela Merkel, o herói das decepções estropiadas, o primeiro ministro britânico e tantos outros que, no ano passado, não duvidaram em usar os aviões e canhões da OTAN para atacar a Líbia e derrubar o coronel Kadafi? Agora que, semana após semana, o regime sírio de Bachar Al-Assad assassina seu povo a portas fechadas em que se converteram todas aquelas ilustres palavras que justificaram que a Líbia recebesse um tapete de bombas.

A pergunta é extensiva aos progressistas do mundo: onde estão as forças de esquerda que se escandalizaram com os bombardeios da OTAN na Líbia e agora parecem emudecidas, como se a moral e os valores valessem em um território e não no outro. A União europeia se limitou a impor um ridículo embargo de armas. Washington, por sua vez, dá a impressão de flutuar em um mar de ignorância e indecisões. No entanto, ninguém pode ignorar o que ocorre: a internet, as redes sociais e os telefones celulares oferecem a cada dia um apavorante desfile de imagens e testemunhos sobre a metodologia da família Assad: governar com o terror e a matança.

A reunião realizada na Tunísia com os “Amigos da Síria”, com a meta de elaborar um marco de ação para conter o regime sírio e pactuar uma transição apenas desenhou um plano para criar hipotéticos corredores humanitários. “Haverá forças opositoras cada vez com mais capacidade”, disse na Tunísia a Secretária de Estado norteamericana Hilary Clinton. A responsável estadunidense esboça assim uma provável entrega de armas à oposição ao regime de Bachar Al-Assad. Mas Moscou e Pequeim se negam a contemplar qualquer ação militar ou fornecimento de armas e se opõem a aprovar qualquer plano de transição que inclua a saída do presidente Bachar Al-Assad.

Para completar a tragédia, ao ONU nomeou o ex-secretário geral das Nações Unidas e prêmio Nobel da Paz em 2011, Kofi Anan, para negociar o fim da violência na Síria e a promoção de uma “solução pacífica” para a crise interna. O ex-secretário geral da ONU tem um passado tão prestigioso quanto maculado por um dos maiores escândalos internacionais que atingiram a ONU: sob seu mandato, a ONU organizou no Iraque o famoso programa “Petróleo por alimentos”. Trata-se de uma trama mafiosa e corrupta na qual estão envolvidos Estados, corporações, ministros ocidentais, bancos, altos funcionários da ONU e até o próprio filho de Anan, Kojo, ligado a uma empresa suíça que fornecia serviços dentro deste plano.

Esse é o mediador da comunidade internacional. O regime sírio mata e se diverte brincando de democracia. Ao mesmo tempo em que promove matanças em Homs, Damasco entrou em um processo de reformas internas cujo eixo é o referendo constitucional de 26 de fevereiro e as eleições legislativas que o seguirão. Mas desde a ditadura do partido Baas instaurada em 1963, a Síria não conheceu nenhuma eleição democrática propriamente dita. A República da Síria está governada pelo partido Baas – que chegou ao poder com um golpe de Estado – cujos responsáveis pertencem quase todos à minoria alauita. Em 2000, Bachar Al-Assad introduziu reformas no sistema político. Levantou a proibição que pesavam sobre alguns partidos e aproveitou a decadência do partido Baas para dar espaço à Frente Nacional Progressista (FNP), onde estão agrupados vários partidos entre os quais figuram alguns que estavam proibidos sob o mandato do pai de Bachar.

Mas a democracia é uma ficção: a grande maioria das decisões é tomada no interior do circulo constituído pelo exército e pelo partido Baas. Em 2000, o Ocidente apostou em Bachar Al-Assad. Viu nele um homem jovem, formado em Londres, um reformista pan-árabe carregado de valores democráticos que ia modernizar um país sufocado pela polícia secreta e pela repressão. A política de matança como princípio orientador demonstra que nada mudou, que a herança paterna persiste e se desenrola com tanta mais impunidade na medida em que as novas cartas da geopolítica mundial mudaram o peso dos atores tradicionais: Pequim e Moscou ditam hoje os destinos da Síria. A história, entretanto, agregou mais um nome à extensa lista de cidades mártires que constituem a memória do horror do poder contra os povos: Homs.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br

O cão guia de Obama - por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

Crônica do evento “10 anos do Ativismo ABC” - por ANA

Crônica do evento “10 anos do Ativismo ABC”[Neste último 28 de janeiro, na Casa da Lagartixa Preta, em Santo André (SP), o Coletivo Ativismo ABC realizou um evento em comemoração aos seus 10 anos de existência. A seguir um relato do acontecimento enviado pelo Coletivo.]

Pensar nestes 10 anos, não é como completar aniversário. É pensar que há 10 anos atrás fizemos uma escolha política e social, escolhemos construir uma sociedade sem opressão (em todas as suas formas), mesmo que no princípio essa outra sociedade fosse mais ingênua, foi essa ingenuidade que nos trouxe aos 10 anos de hoje. Atualmente mais velhos e com um acúmulo teórico e prático tanto do dia-a-dia, quanto das relações macro, aquela ingenuidade, que nunca deixou de ser lutadora, rebelde e anticapitalista, enxerga melhor o mundo e propõe com mais afinco aquilo que se quer no presente, visando abrir novas possibilidades para o futuro. Não somos todos do Ativismo ABC que estão desde o começo, alguns saíram, outros se aproximaram, porque 10 anos são suficientes para se mudar muita coisa e pensamentos, mas estas pessoas que hoje não mais estão presentes, desempenharam um papel importante nos seus momentos dentro do coletivo, pessoas que recordamos com carinho.

A comemoração não poderia ter sido melhor. Pela primeira vez em 10 anos escrevemos um texto coletivo. No "El Saleroso" nº 10, ele pode ser lido. A Casa da Lagartixa Preta estava cheia, companheiros e companheiras históricos apareceram, mostrando que ainda que o anarquismo tenha suas diferentes linhas, podemos construir ações pontuais!!!

Havia muita comida e conversas... O início do dia se deu com o lançamento dos livros do geógrafo e anarquista Élisée Reclus, pelo Selo Editorial da Biblioteca Terra Livre e Edições Negras Tormentas. Acompanhada posteriormente de um debate sobre os 10 anos de coletivo.

A noite se adentrava e em meio as atividades foi declarado o vencedor da rifa Durruti, não poderia ter sido outro: o Ativismo ABC (não foi marmelada!) ganhou de presente para a biblioteca dois lindos livros do Buenaventura Durruti. A noite agradável foi acompanhada com a música dos companheiros do Ordinaria Hit, Minininha Pirracenta e um sambinha para fechar a noite!!! Assim como o já cotidiano futebol de rua!!!

São 10 anos, que não construímos sós, o apoio de outros companheiros e companheiras, familiares, amigos e amigas e "desconhecidos" foram importantes para manter em pé nossa ideia. Foram relações de apoio mútuo, alianças políticas, que demonstram na prática que uma sociedade com liberdade e sem opressão é possível e realizável agora. Que não precisamos ter alguém decidindo por nós, que lado a lado podemos fazer essa escolha, e que ela não significa um único caminho, mas caminhos diversos construídos com outros valores!!!

Ativismo ABC
Se passaram dez anos
A vida deixou de ser a mesma
Dizem que um pode ter tudo
E nós escolhermos outro caminho
O caminho da liberdade
Se passaram dez anos
E se foi tempo de nossas vidas
Lutando
Criando
Amando
Imaginando que uma vida em igualdade
Não se consegue
Vendo televisão
Ou
Sentado no sofá
Se passaram dez anos
E de jovens rebeldes
Passamos a libertadores
De nós mesmos
Ainda com rebeldia
Mas também construtores da sociedade futura
Com diversidade, apoio mútuo e liberdade

Mais infos:
http://www.ativismoabc.org

Link do “El Saleroso” especial de 10 anos:

http://www.4shared.com/office/3ljsl_TI/El_Saleroso_10.html

agência de notícias anarquistas-ana
caem as mangas
no pátio do sonho
talvez em outros
Jorge B. Rodríguez

sábado, 18 de fevereiro de 2012

“Perdendo o mundo”: o declínio dos EUA em perspectiva - por Noam Chosmky - Al Jazeera

“Perdendo o mundo”: o declínio dos EUA em perspectivaO declínio dos Estados Unidos entrou, há algum tempo, em uma nova fase: a do declínio autoinfligido. Desde os anos 70 tem havido mudanças significativas na economia dos EUA, à medida que estrategistas, estatais e do setor privado, passaram a conduzi-la para a financeirização e à exportação de plantas industriais. Essas decisões deram início ao círculo vicioso no qual a riqueza e o poder político se tornaram altamente concentrados, os salários dos trabalhadores ficaram estagnados, a carga de trabalho aumentou e o endividamento das famílias também.

Aniversários significativos são comemorados solenemente – o do ataque japonês à base da Marinha norteamericana de Pearl Harbor, por exemplo. Outros são ignorados, e podemos sempre aprender importantes lições que eles nos dão de como é possível seguir mentindo adiante. Na verdade, agora.

No momento, estamos errando em não comemorar o 50° aniversário da decisão do presidente John F Kennedy de promover a mais assassina e destrutiva agressão do período pós-Segunda Guerra: a invasão do Vietnã do Sul, e depois de toda a Indochina, deixando milhões de mortos e quatro países devastados, com perdas ainda crescentes causadas pela exposição do país aos carcinogênicos mais letais de que se tem conhecimento, que comprometerem a cobertura vegetal e a produção de alimentos.

O primeiro alvo foi o Vietnã do Sul. A agressão depois se espalhou para o Norte, e então para a sociedade remota do nordeste do Laos, até finalmente chegar ao rural Camboja, que foi bombardeado de tal maneira que chegou ao nível impressionante de ser alvo de todas as operações aéreas aliadas da região do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial, incluindo as duas bombas lançadas em Hiroshima e Nagasaki. Aí, as ordens de Henri Kissinger estavam sendo obedecidas – “qualquer coisa que voe ou se mova”; uma rara convocação para o genocídio na história.

Pouco disso tudo é lembrado. A maior parte desses massacres é escassamente conhecida para além dos estreitos círculos de ativistas.
Quando a invasão teve início, há cinquenta anos, a preocupação era tão pouca que havia poucos esforços de justificação; dificilmente iam além do impassível apelo do presidente de que “estamos nos opondo, ao redor do mundo, a uma conspiração monolítica e brutal que opera principalmente em meios disfarçados de expansão de sua esfera de influência” e se a conspiração consegue realizar seus objetivos no Laos e no Vietnã, “os portões estarão amplamente abertos".

Em outro lugar, ele alertou em seguida que “as sociedades leves, complacentes e autoindulgentes estavam para ser varridas para os escombros da história [e] só a força... pode sobreviver”, neste caso refletindo a respeito do fracasso da agressão e do terror estadunidenses para esmagar a independência cubana.

Quando os protestos começaram a crescer, meia dúzia de anos depois, o respeitado historiador militar e especialista em Vietnã Bernard Fall, nenhum pacifista, previu que “o Vietnã como uma entidade histórica e cultural...está ameaçada de extinção...[enquanto]...a sua área rural literalmente morre sob as explosões da maior máquina militar jamais em operação numa área deste tamanho”. Ele estava, mais uma vez, referindo-se ao Vietnã do Sul.

Quando a guerra acabou oito horrendos anos depois, a opinião dominante estava dividida entre aqueles que a descreviam como uma “causa nobre” que poderia ter sido vencida com mais dedicação e o extremo oposto, os críticos, para quem se tratou de “um erro” que se provou altamente custoso. Por volta de 1977, o Presidente Carter chamou pouca atenção quando explicou que “não havia dívida” nossa com o Vietnã porque “a destruição foi mútua”.

Há lições importantes em tudo isso para hoje, mesmo deixando de lado os fracos e derrotados que são chamados para responder por seus crimes. Uma lição é que para entender o que está acontecendo devemos buscar não apenas criticar os acontecimentos no mundo real, frequentemente dispensados pela história, mas também aquilo em que os líderes e a opinião da elite acreditam, mesmo que com tintas de fantasia. Uma outra lição é que, ao lado dos frutos da imaginação fabricados para aterrorizar e mobilizar o público (e talvez acreditados por aqueles enganados pela própria retórica), há também planejamento geoestratégico baseado em princípios que são racionais e estáveis em longos períodos, porque estão enraizados em instituições estáveis e na agenda destas. Isso também é verdade no caso do Vietnã. Eu voltarei a isso, só destacando aqui que os elementos persistentes na ação estatal são geralmente bastante opacos.

A guerra do Iraque é um caso instrutivo. Ela foi vendida para um público aterrorizado com as ameaças usuais da autodefesa contra uma formidável ameaça à sobrevivência: a “única questão” que George W. Bush e Tony Blair declararam foi se Saddam Hussein iria encerrar o seu programa de desenvolvimento de armas de destruição em massa. Quando a única questão recebeu a resposta errada, a retórica do governo mudou rapidamente para o nosso “anseio por democracia”, e a opinião pública educada seguiu devidamente o curso; o de sempre.

Mais tarde, à medida que a escalada da derrota no Iraque se tornou difícil de esconder, o governo quietamente concedeu o que estava claro para todo mundo. Em 2007-2008, a administração anunciou oficialmente que um acordo final deve assegurar a permanência de bases militares dos EUA e o direito de operações de combate, no país, e deve privilegiar os investidores estadunidenses na exploração de seu rico sistema energético – demandas que mais tarde foram relutantemente abandonadas diante da resistência iraquiana. E tudo ficou bastante escondido da maioria das pessoas.

Padronizando o declínio americano
Com essas lições em mente é útil dar uma olhada ao que é destacado na manchete dos maiores jornais de política e opinião, hoje. Peguemos a mais prestigiada das publicações do establishment, Foreign Affairs. A manchete estrondosa da capa de dezembro de 2011 estampava em negrito: “A América acabou?”.

O artigo da capa pedia “corte de gastos” nas “missões humanitárias” no exterior, que estavam consumindo a riqueza do país, para impedir o declínio americano, que é o maior tema nos discursos do ambiente de negócios, que frequentemente vem acompanhado do corolário de que o poder está mudando para o Leste, para a China e (talvez) a Índia.

Agora os principais artigos são a respeito de Israel e Palestina. O primeiro, de autoria de dois altos oficiais israelenses, é intitulado “O Problema é a Rejeição Palestina”: o conflito não pode ser resolvido porque os palestinos se recusam a reconhecer Israel como Estado Judeu – então em conformidade com a prática diplomática padrão: estados são reconhecidos, mas não seus setores privilegiados. A demanda é dificilmente outra coisa que um novo dispositivo para deter a ameaça de solução política para os assentamentos ilegais que minaria os objetivos expansionistas israelenses.

A posição oposta é defendida por um professor estadunidense tem o título “O Problema é a Ocupação”. No subtítulo se lê: “Como a Ocupação está Destruindo a Nação”. Qual nação? A de Israel é claro. Ambos os artigos aparecem com o título, em cache: “Israel sitiado”.

A edição de janeiro de 2012 lança ainda um outro chamamento para o bombardeio do Irã, agora, antes que seja tarde demais. Alertando contra “os perigos da dissuasão”, o autor sugere que “céticos com relação à ação militar falham em avaliar o verdadeiro perigo que um Irã com armas nucleares imporia aos interesses dos EUA no Oriente Médio e além. E em suas previsões sombrias imaginam que a cura pode ser pior do que a doença – quer dizer, que as consequências de um ataque estadunidense ao Irã seriam tão ruins ou piores do que se o país conseguisse levar a cabo suas ambições nucleares. Mas essa é uma suposição falsa. A verdade é que um ataque militar visando a destruir o programa nuclear iraniano, se for feito com cuidado, poderia significar para a região e para o mundo uma ameaça muito real e melhorar dramaticamente a segurança nacional dos Estados Unidos no longo prazo”.

Outros argumentam que os custos seriam altos demais e no limite alguns chegam a dizer que um ataque [ao Irã] violaria o direito internacional – como o fazem os moderados, que regularmente fazem ameaças de violência, em violação à Carta das Nações Unidas.

Vamos rever cada uma dessas preocupações dominantes

O declínio americano é real, embora a visão apocalíptica reflita a percepção bastante familiar da classe dominante de que algum controle menor ou total implica o desastre total. A despeito desses lamentos piedosos, os EUA persevera como poder dominante mundial por larga margem, e não há competidores à vista, não apenas em dimensões militares, a respeito das quais os EUA reina supremo.

A China e a Índia registraram crescimento rápido (embora altamente desigual), mas permanecem países muito pobres, com problemas internos enormes não enfrentados pelo Ocidente. A China é o maior centro industrial do mundo, mas majoritariamente como uma linha de montagem para as potências industriais avançadas em sua periferia e para as multinacionais ocidentais. É provável que isso mude com o tempo. A indústria em regra provê as bases para a inovação e a invenção, como vem ocorrendo às vezes, na China. Um exemplo que impressionou os especialistas ocidentais foi a tomada chinesa da liderança no mercado crescente de painéis solares, não apenas com base na mão de obra barata, mas no planejamento coordenado e, crescentemente, na inovação.

Mas os problemas que a China enfrenta são sérios. Alguns são demográficos, reportados na Science, o líder dos semanários estadunidenses de divulgação científica. O estudo mostra que a mortalidade caiu bruscamente na China durante os anos maoístas, “principalmente um resultado do desenvolvimento econômico e das melhorias nos serviços educacionais e de saúde, especialmente ao movimento de higiene pública que resultou num golpe drástico à mortalidade por doenças infecciosas”. Esse progresso acabou com o início das reformas capitalistas no país, há 30 anos, e a taxa de mortalidade desde então tem aumentado.

Além disso, o crescimento econômico chinês recente contou substancialmente com um “bônus demográfico”, uma grande população em idade economicamente ativa. “Mas a janela para o uso desse bônus pode fechar logo”, com um “impacto profundo no desenvolvimento”: “o excesso de mão de obra barata, que é um dos maiores fatores de condução do milagre econômico chinês não estará mais disponível”. A demografia é apenas um dos muitos problemas sérios pela frente. No que concerne a Índia, os problemas são ainda mais graves.

Nem todas as vozes proeminentes anteveem o declínio americano. Na mídia internacional, não há nada mais sério e respeitável que o Financial Times. O jornal recentemente dedicou uma página inteira às expectativas otimistas de que nova tecnologia para extrair combustível fóssil norteamericano pode fazer com que os EUA se torne energeticamente independente, mantendo portanto sua hegemonia por um século. Não há menção ao tipo de mundo que os EUA comandará nesse acontecimento feliz, mas não por falta de evidência.

Quase ao mesmo tempo, a Agência Internacional de Energia reportou que, com o aumento rápido das emissões de carbono dos combustíveis fósseis, o limite de uso seguro será atingido por volta de 2017, se o mundo continuar no atual curso. “A porta está fechando”, disse o economista-chefe da AIE, e em muito breve “fechará de vez”.

Pouco antes, o Departamento de Energia dos EUA informou que as imagens mais recentes das emissões de dióxido de carbono, com “a elevação para o maior índice já registrado”, chegaram num nível mais elevado do que os piores cenários antecipados pelo Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC). Isso não é surpresa para muitos cientistas, inclusive os do programa do MIT para mudança climática, que por anos alertou que os prognósticos do IPCC eram conservadores demais.

Esses críticos das previsões do IPCC receberam virtualmente atenção pública nenhuma, ao contrário dos grupos denegadores do aquecimento global, que são apoiados pelo setor corporativo, juntamente a imensas campanhas de propaganda que tem levado os americanos para fora do espectro internacional dessas ameaças. O apoio das corporações também se traduz diretamente no poder político. A denegação é parte do catecismo que deve ser entoado pelos candidatos republicanos na ridícula campanha eleitoral em curso, e no Congresso eles são poderosos o suficiente para abortar até investigações sobre o efeito do aquecimento global, deixando de lado qualquer ação séria a respeito. Numa palavra, o declínio americano pode talvez ser interditado se abandonarmos a esperança pela sobrevivência decente, prognóstico também bastante real, dado o equilíbrio de forças no mundo.

“Perdendo” a China e o Vietnã
Deixando de lado essas coisas desagradáveis, um olhar de perto para o declínio americano mostra que a China na verdade joga um grande papel nele, tanto como o jogava há 60 anos. O declínio que agora gera tanta preocupação não é um fenômeno recente. Ele remonta ao fim da Segunda Guerra Mundial, quando os EUA tinha metade da riqueza do mundo e dispunha de níveis globais de segurança incomparáveis. Os estrategistas políticos estavam naturalmente bastante conscientes dessa enorme disparidade de poder e pretendiam mante-la assim.

O ponto de vista básico foi apresentado com admirável franqueza num grande documento de 1948. O autor era um dos arquitetos da Nova Ordem Mundial da época, o representante da equipe de Planejamento Político do Departamento de Estado dos EUA, o respeitado estadista e acadêmico George Kennan, um pacifista moderado, dentre os estrategistas. Ele observou que o objetivo político central era manter a “posição de disparidade” que separava a nossa enorme riqueza da pobreza dos outros. Para alcançar esse objetivo, advertiu, “nós deveríamos para de falar de objetivos vagos e... irreais, como direitos humanos, a elevação do padrão de vida e a democratização”, e devemos “lidar com conceitos estritos de poder”, não “limitados por slogans idealistas” a respeito de “altruísmo e o benefício do mundo”.

Kennan estava se referindo especificamente à Ásia, mas as observações dele se generalizam, com exceções, aos participantes do atual sistema de dominação global dos EUA. Ficou bastante claro que os “slogans idealistas” deveriam ser apresentados sobretudo quando dirigidos aos outros, inclusive às classes intelectualizadas, das quais se esperava que os disseminassem.

O plano de Kennan ajudou a formular e a implementar a tomada de controle dos EUA do Hemisfério Oeste, do Extremo Leste e das regiões do ex-império britânico (incluindo os incomparáveis recursos energéticos do Oriente Médio), e o quanto foi possível da Eurásia, sobretudo seus centros comerciais e industriais. Esses não eram objetivos irreais, dada a distribuição do poder. Mas o declínio foi então definido de vez.

Em 1949, a China declarou independência, um evento conhecido no discurso do Ocidente como “a perda da China” – nos EUA, com algumas recriminações amarguradas e o conflito interpretativo a respeito de quem tinha sido o responsável por essa perda. A terminologia é reveladora. Só é possível perder o que em algum momento se teve. A assunção tácita era que os EUA tinham a China, por direito, juntamente à maior parte do resto do mundo, tanto como os estrategistas do pós-guerra pensavam.

A “perda da China” foi o primeiro grande passo do “declínio americano”. Foi o que teve grandes consequências políticas. Uma delas foi a decisão imediata de apoiar o esforço francês de reconquista da sua ex-colônia da Indochina, para que esta também não fosse “perdida”.

A Indochina mesma não era motivo de preocupação maior, a despeito das afirmações de suas riquezas naturais por parte do presidente Eisenhower e outros. A preocupação maior era antes com a “teoria do efeito dominó”, a qual é frequentemente ridicularizada quando os dominós não caem, mas permanece um princípio regulador da política, porque é bastante racional. Para adotar a versão Henri Kissinger dele, uma localidade que cai fora do controle pode se tornar um “vírus” que irá “contagiar”, induzindo outros a seguirem o mesmo caminho.

No caso do Vietnã, a preocupação era que esse vírus do desenvolvimento independente pudesse infectar a Indonésia, que de fato é rica em recursos. E isso pode levar o Japão – o “superdominó”, como o proeminente historiador da Ásia John Dower chamava – a “acomodar” uma Ásia independente como seu centro tecnológico e industrial num sistema que escaparia do alcance do poder dos EUA. Isso significaria, com efeito, que o EUA tinha perdido a fase Pacífico da Segunda Guerra, na qual lutou para tentar impedir que o Japão estabelecesse uma Nova Ordem na Ásia.

O modo de lidar com um problema desse é claro: destruir o vírus e “inocular” aqueles que podem ser infectados. No caso do Vietnã, a escolha racional era destruir qualquer esperança de desenvolvimento independente bem sucedido e impor ditaduras brutais nos arredores. Essas tarefas foram levadas a cabo com sucesso – embora a história tenha sua própria astúcia, e algo similar ao que foi temido desde então tenha se desenvolvido no Leste da Ásia, a maior parte para consternação de Washington.

A vitória mais importante das guerras da Indochina deu-se em 1965, quando um golpe de estado militar, com o apoio dos EUA, liderado pelo general Suharto significou crimes massivos comparados pela CIA aos de Hitler, Stalin e Mao. A “assombrosa matança massiva”, como descreveu o New York Times, foi acuradamente reportada nos meios dominantes, e com euforia desenfreada.

Foi um “brilho de luz na Ásia”, como observou o comentarista liberal James Reston, no Times. O golpe encerrou as ameaças à demoracia ao demolir o partido político de massas, dos pobres, estabelecendo uma ditadura que registrou as piores violações aos direitos humanos no mundo, e deixou as riquezas do país abertas aos investidores ocidentais. Poucos questionaram que depois de tantos horrores, inclusive a quase genocida invasão do Timor Leste, Suharto ter sido bem recebido pela administração Clinton, em 1995, como “nosso tipo de cara”.

Anos após os grandes eventos de 1965, o Conselheiro para Assuntos de Segurança Nacional de Kennedy e Johnson, McGeorge Bundy refleteria que teria sido sensato acabar com a guerra do Vietnã a tempo, com o “vírus” virtualmente destruído e, o principal, o dominó solidamente no lugar, no esteio de outras ditaduras apoiadas pelos EUA pela região.

Procedimentos similares são rotineiramente seguidos em outros lugares. Kisssinger estava se referindo especificamente à ameaça da democracia socialista no Chile. Essa ameaça acabou em outra data esquecida, que os latino-americanos chamam de “O Primeiro 11 de Setembro”, que em violência e efeitos nefastos excedeu em muito o 11 de Setembro comemorado no Ocidente. Uma ditadura viciosa foi imposta ao Chile, como uma parte da praga de repressão brutal que se espalhou pela América Latina, chegando até a América Central, nos anos Reagan.

Esse vírus tem gerado preocupações profundas aqui e ali, inclusive no Oriente Médio, onde a ameaça de um nacionalismo secular tem consternado os estrategistas britânicos e estadunidenses, induzindo-os a apoiar o fundamentalismo islâmico a opor-se a isso.

A concentração da riqueza e o declínio americano
Mesmo com essas vitórias, o declínio americano continuou. Por volta de 1970, a parte da riqueza do mundo dos EUA saltou para 25%, basicamente onde está hoje, concentração ainda colossal, mas bastante inferior àquela de fins da Segunda Guerra. Nessa época, o mundo industrial era “tripolar”: a base norte americana, dos EUA, a europeia, da Alemanha, e a do Leste da Ásia, já a região industrial mais dinâmica, naquele tempo com base no Japão, mas hoje incluindo as ex-colônias japonesas de Taiwan e o Sul da Coreia, e mais recentemente a China.

Nesse período o declínio americano entrou numa nova fase: a do declínio autoinfligido. Desde os anos 70 tem havido mudanças significativas na economia dos EUA, à medida que estrategistas, estatais e do setor privado, passaram a conduzi-la para a financeirização e à exportação de plantas industriais, levada a cabo em parte pelo declínio da taxa de lucro na indústria doméstica. Essas decisões deram início ao círculo vicioso no qual a riqueza se tornou altamente concentrada (dramaticamente nos 0,1% da população), levou à concentração de poder político, e então a uma legislação que o levou adiante, no que concerne à tributação e outras políticas fiscais, à desregulação, às mudança nas regras da administração corporativa - o que permitiu imensos ganhos para os executivos - e por aí vai.

Enquanto isso, para a maioria, os salários reais foram majoritariamente estagnados e ao povo só restou aumentar a carga de trabalho (muito além da europeia), a dívida insustentável e as repetidas bolhas, desde os anos Reagan; criando riquezas de papel que desapareceram inevitavelmente quando a bolha estourou (e os perpretadores foram resgatados pelos contribuintes). Em paralelo a isso, o sistema político foi cada vez mais fragmentado, enquanto ambos os partidos mergulharam cada vez mais nos bolsos das corporações, com a escalada do custo das eleições (os republicanos ao nível do absurdo e os democratas – agora majoritariamente os “ex-republicanos moderados” – não ficaram muito atrás).

Um estudo recente do Instituto de Política Econômica, que tem sido a maior fonte de dados respeitáveis sobre o desenvolvimento, intitula-se Failure by Design [no contexto, algo como Fracasso por Ecomenda]. A frase “by design” é acurada. Outras escolhas eram certamente possíveis. E como mostra o estudo, o “fracasso” tem um corte de classe. Não há fracasso para os “designers”. Longe disso. Antes, as políticas fracassaram para a imensa maioria, os 99% na imagem dos movimentos Occupy – e para o país, que tem declinado e irá continuar a fazê-lo, sob essas políticas.

Um fator que o explica é a transferência das plantas industriais. Como ilustra o exemplo do painel solar, mencionado acima, a industrialização tem a capacidade de promover as bases e o estímulo para a inovação, levando a estágios mais avançados de sofisticação na produção, no design e na invenção. Isso, também, está sendo terceirizado, o que não é um problema para os “mandarins do dinheiro”, que cada vez mais mandam na política, mas é um sério problema para o povo trabalhador e as classes médias, e um desastre real para os mais oprimidos, os afroamericanos, que nunca escaparam do legado da escravidão e de sua mais feia consequência, cuja magra riqueza desapareceu virtualmente depois do colapso da bolha imobiliária, em 2008, originando a mais recente crise financeira, a pior até agora.

(*) Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofia do MIT. É o maior linguista do mundo e um dos mais, senão o mais rigoroso e consequente anarquista vivo.

Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

[EUA] Visita a Mumia Abu-Jamal e primeira oportunidade de fotografá-lo na População Geral! - por ANA

[EUA] Visita a Mumia Abu-Jamal e primeira oportunidade de fotografá-lo na População Geral!Heidi Boghosian e eu acabamos de regressar de uma visita muito comovente a Mumia. Visitamos ele ontem (2 de fevereiro). Este foi o segundo contato de Mumia em mais de 30 anos, desde sua transferência para a População Geral na última sexta-feira, 27 de janeiro. Seu primeiro contato foi com sua mulher, Wadiya, na segunda-feira, 30 de janeiro.

Diferente de nossas visitas anteriores ao corredor da morte em SCI Greene e ao confinamento de solitária em SCI Mahanoy, nossa visita de ontem se deu em uma grande área de visita, em meio a numerosas famílias e esposas que estavam visitando outros reclusos. Comparadas às intensas e focadas conversas que tivemos com Mumia em uma pequena e isolada cela de visita do corredor da morte, por trás de um vidro, este intercâmbio foi mais relaxado e informal e mais imprevisivelmente interativo com as pessoas ao nosso redor... foi mais humano. Houve muitas cenas de afeição ao nosso redor, de crianças pulando e puxando seus pais, de famílias inteiras conversando intimamente em torno de pequenas mesas, de casais sentados e silenciosamente abraçados, e namoradas e esposas roubando beijos proibidos dos homens que estavam visitando (beijos são permitidos apenas no início e no fim das visitas). Estas cenas foram tocantes e belas, e marcadamente diferentes das imagens dos prisioneiros apresentadas a nós pelos que estão no poder. Nosso trabalho coletivo pode beneficiar muito essas imagens íntimas e humanas.

Quando entramos, vimos imediatamente Mumia de pé do outro lado da sala. Caminhamos em direção a ele, e fomos abraçadas simultaneamente. Estávamos ambas atordoadas de que nos abraçasse tão carinhosamente e compartilhasse seu espaço pessoal tão generosamente após tantos anos de isolamento.

Ele nos olhou jovialmente, e nós o contamos muitas coisas. Ele respondeu: “Negros não quebram!”. Nós rimos.

Ele nos contou sobre as novidades de cada passo que deu desde sua mudança para a população geral uma semana antes. Muito do que nós consideramos como cotidiano é novo para ele, do microondas na sala de visitas ao tremor que ele sentiu quando, pela primeira vez em 30 anos, beijou sua mulher. Como ele disse, com suas próprias palavras, “a única coisa mais drasticamente diferente do que o que estou vivendo agora seria a liberdade”. Ele também observou que todos na sala o estavam observando.

A experiência de partir o pão com nosso amigo e camarada foi emocionante. Foi maravilhoso poder falar e partilhar sanduíches de queijo grelhado, maçãs, biscoitos e chocolate quente da máquina da sala de visitas.

Um dos destaques da visita foi a oportunidade de tirar uma foto. Esta foi uma das primeiras oportunidades do tipo para Mumia em décadas, e tivemos a bola! Ajeitar o cabelo, se certificar de que não tínhamos comida nos dentes, e nervosamente se preparar para o grande momento da foto foi como uma gargalhada! E Mumia estava se divertindo abertamente a cada segundo disso.

Quando chegou a hora de ir embora, nos abraçamos e fomos orientados a nos alinhar contra a parede e sair com os outros visitantes. Enquanto saíamos da prisão, uma irmã nos puxou de lado e contou que não conseguia parar de cantar Kelly Clarkson: “algumas pessoas esperam por toda a vida por um momento como esse”. Nos contou que ela e seus pais seguiram o caso de Mumia desde 1981 e que ficou muito feliz de que Mumia esteja vivo e na população geral apesar da sanguinária perseguição da Pensilvânia por sua execução. Nós lhe contamos que no dia 24 de abril estaríamos lançando a luta que iria ganhar a libertação de Mumia: que neste dia iríamos ocupar o Departamento de Justiça em Washington DC. Ela nos contou que por ter sobrevivido recentemente ao câncer, acredita agora na possibilidade, e desde que Mumia está na população geral, ela pode ver que podemos vencer.

Ela nos enviou uma linha da canção de Laverne e Shirley – “nunca ouvi a palavra impossível!” – Deu-nos o seu número, e nos pediu que a incluísse para a luta.

Ainda estamos levando tudo isso. A jornada foi simples e humana, e estamos re-energizadas e re-inspiradas!! Nas palavras do editor de City Lights, Greg Ruggiero:

“Objetivo de Longo Prazo: Fim do encarceramento em massa.

Objetivo de Curto Prazo: Libertar Mumia Abu-Jamal!”

Johanna Fernandez
Tradução > Marina Knup

agência de notícias anarquistas-ana
Sabiá no galho —
O vento sobe na árvore
para ver o canto
Teresa Cristina flordecaju

Pelo fim da crueldade: Protestos na Colômbia e no México pedem a abolição das touradas - Por Graziella Belliato

Pelo fim da crueldade: Protestos na Colômbia e no México pedem a abolição das touradas
Ativistas pelos direitos dos animais se despiram e pintaram seus corpos de preto e vermelho para protestar contra a morte de milhares de animais vítimas das cruéis touradas. (Foto: AnimaNaturalis)
Com a proibição de touradas na região da Catalunha (Espanha), no início desse ano, países como México, Equador, Venezuela e Colômbia começaram uma séria discussão sobre a possibilidade de proibir atos de barbárie com animais para a diversão de uma minoria da população.

O protesto “Ponte en la piel del Toro” (Ponha-se na pele do Touro) realizado em duas cidades colombianas, Medellín e Bogotá e na capital mexicana Cidade do México, teve como objetivo chamar a atenção das autoridades e da população para a crueldade a que são submetidas as vítimas da tauromaquia.

Em 04 de fevereiro, centenas de ativistas reuniram-se no “Parque de los Deseos” de Medellín para participar do protesto. Juntos, formaram a palavra STOP para pedir a abolição dos eventos tauromáquicos nos oito países em que estes ainda são permitidos por lei.

Edisson Duque, coordenador geral da ONG AnimaNaturalis na cidade disse: “Pedimos a líderes políticos, sociais e aos cidadãos em geral que assumam uma posição a favor dos animais. Colômbia deseja a abolição da tauromaquia JÁ”.

No dia posterior à ação realizada em Medellín, dia 05 de fevereiro, foi a vez da Cidade do México de alertar a população acerca da necessidade da abolição deste “espetáculo” cruel. Reunidos em frente ao monumento histórico “Angel de la Independencia”, mais de mil ativistas seminus com os corpos tingidos de preto e vermelho, representando pele e sangue do touro, deitados ao chão formaram a figura de um animal vítima da tauromaquia. Durante o protesto, outros ativistas atuaram na divulgação de informações sobre a crueldade praticada nas touradas e a importância da sociedade se posicionar contra o evento.Ativistas fazem manifestação em Bogotá (Foto: Reprodução/AnimaNaturalis)
Felizmente, a tauromaquia mexicana está passando por momentos difíceis. Há décadas o público não lota as arenas onde ocorrem as barbáries. Pesquisas recentes demonstram o crescimento do número de mexicanos que se opõem aos eventos realizados com touros: cerca de 90% da população é contra esta prática quando em 2007 o percentual era de 68%. Anualmente, esse tipo de espetáculo tira a vida de cerca de 9.000 touros e 400 cavalos no país.

O evento “Ponte em la piel del Toro” também aconteceu em Bogotá. Na última quinta feira, dia 09, ativistas convocados pela AnimaNaturalis realizaram uma performance na “Plaza de Bolivar” onde saíram em marcha fúnebre e silenciosa, enquanto um deles exclamava: “Se escuta a música anunciando o início da Festa Brava, se abrem as portas e aqui estou eu, com o coração agitado, com a pele suando, com os olhos feridos pelo sol. A morte se esconde atrás de uma capa, a morte se clava em meu corpo e choro lágrimas vermelhas pelo meu lombo, a morte está de pé, em minha frente”.

Com a ação, a ONG buscou pressionar o prefeito da capital colombiana a realizar, o mais breve possível, um referendo no qual a população possa decidir o futuro da tauromaquia na cidade. Houve também a distribuição de material informativo.

“Com este protesto simbólico estamos buscando a abolição das touradas na Colômbia. Fizemos este ato hoje em Bogotá por ser a capital do país. Além disso, pedimos também que se proíbam as “corralejas” (é uma festa popular da Colômbia onde a população faz o papel do toureiro), as rinhas de cães, ou seja, os espetáculos que utilizam animais, porque tudo isso é cruel, bárbaro e desnecessário”, disse Andrea Padilla da associação AnimaNaturalis.

Fonte: http://www.anda.jor.br/

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

[EUA] Almas geladas - por Mumia Abu-Jamal

[EUA] Almas geladasQuando soube do chamado apenas enviado em Oakland, Califórnia, para “Ocupar as prisões”, fiquei boquiaberto.

Não é um chamado particularmente radical, mas é muito oportuno, porque as prisões tornaram-se uma metáfora para o lado sombrio dos Estados Unidos, por assim dizer. São pronunciados mares de palavras sobre a liberdade no Movimento Ocupa; já é hora de se concentrar na realidade: que os Estados Unidos é líder da indústria do encarceramento.

Durante décadas, os Estados Unidos foi o maior carcereiro do mundo, em grande parte devido aos efeitos insidiosos da chamada “guerra contra a droga”, melhor descrito, segundo eu, como “a guerra contra os pobres”.

E para o Ocupa, agora um movimento internacional, não faltam prisões para escolher. Cada estado, cada distrito rural, cada aldeia nos Estados Unidos tem uma prisão - um lugar onde a Constituição não existe e onde a escravidão é praticamente legalizada.

Quando a professora de Direito MichelIe Alexader abordou o tema, seu livro “The New Jim Crow” foi vendido como pão quente - 100.000 cópias em poucos meses.

E onde há prisões, há tortura, espancamentos brutais, graves humilhações, uma censura perversa, até mesmo assassinato, e tudo sob um sistema jurídico tão cego quanto aquela estátua que levanta uma balança, enquanto seus olhos são cobertos com uma frígida dobra de tecido.

Então o que é que o Ocupa deve fazer?

A princípio, deve apoiar os movimentos que pedem a liberdade do irmão Lakota, Leonard Peltier, dos veteranos do MOVE de 8 de agosto de 1978, dos dois membros restantes dos “3 de Angola”: Herman Wallace e Albert Woodfox, de Sundiata Acoli, de Russell “Maroon” Shoatz e das irmãs que tem passado vidas em infernos de aço e tijolos.

Mas o Movimento Ocupa deve fazer muito mais.

Da mesma forma que mudou seu debate e seu paradigma sobre temas econômicos, deve fazer girar a roda do chamado “Sistema de Justiça Penal” nos Estados Unidos, o que é, na realidade, um destrutivo e contraproducente desperdício de 69.000 bilhões de dólares gastos a cada ano na repressão, mais conhecido entre os ativistas como o Complexo Industrial Carcerário.

Isto implica mais do que um evento de um dia, não importa quão grande ou impressionante seja. Isso significa a construção de um movimento massivo que exige e luta por uma mudança real e, eventualmente, pela abolição das estruturas que trazem muito mais dano social do que benefício.

Significa a abolição das unidades de confinamento solitário, porque estas não são outra coisa que modernas câmaras de tortura para os pobres. Significa a revogação de leis repressivas que suportam estas estruturas. Significa a mudança social - ou não significa nada. Então, vamos começar. Abaixo o Complexo Industrial Carcerário!
Mumia Abu-Jamal

Quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

agência de notícias anarquistas-ana
Cai elástica
Por cima
Do dia a noite.
Calaça Farias

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

[EUA] A Comuna de Oakland - por ANA

[EUA] A Comuna de OaklandEm setembro de 2011, se estendeu a ocupação de praças ou parques públicos em cidades dos Estados Unidos, começando com o Occupy Wall Street em Nova York e chegando a dezenas de milhares de pessoas. “Occupy” foi uma mistura bastante estranha e muitas vezes contraproducente. Em algumas cidades foi tomada por “conspiranóicos” sem nenhuma experiência em assembleiarismo, em muitas outras serviram mais como veículo para as preocupações de uma classe média cada vez menor que impôs uma não-violência extrema, pedindo permissão para os acampamentos (mesmo mudando-os para outros locais indicados pelos conselhos locais), colaborando com a polícia e tentando proibir a participação anarquista. Em outras cidades, no entanto, tem sido um lugar onde se podia livremente discutir e desenvolver uma prática e uma análise radical.

O simples fato de ser um fenômeno em que pessoas desconhecidas se encontravam para discutir política, fazer reuniões e tomar o espaço público - em um país tão alienado e despolitizado – deu ao Occupy uma importância revolucionária difícil de negar. Além disso, a participação crítica de indivíduos anarquistas, a propagação no espaço Occupy de práticas como a horizontalidade, o assembleiarismo, a ação direta e a negação de petições aos políticos contribuiu substancialmente para a visibilidade anarquista, no aumento a nível nacional durante os últimos anos. Ainda mais quando veio à tona que um dos principais arquitetos do Occupy Wall Street era um acadêmico anarquista.

A cidade de Oakland (Califórnia), em particular, tem se destacado por uma natureza combativa e abertamente anticapitalista. Uma cidade com a experiência recente de vários distúrbios e sabotagens massivas em resposta às mortes cometidas por policiais, o Occupy de Oakland lutou para defender seu espaço. Tanto que foi conhecido como “A Comuna de Oakland”, e em 2 de novembro de 2011 organizou a primeira greve geral – em toda a cidade - que aconteceu nos EUA em muitas décadas. Posteriormente, em 12 de dezembro, Oakland junto com outras cidades da Costa Oeste organizaram bloqueios nos portos, fechando muitos com piquetes e com o apoio informal dos estivadores (cujo sindicato não endossou nem obstruiu a greve).

Desde 15 de novembro a “Comuna de Oakland” havia sido desalojada, havia recuperado sua praça (rebatizada de “Praça Oscar Grant” em memória a um jovem morto pela polícia) e foi desalojada novamente.

Em 28 de janeiro, 2 mil pessoas juntaram-se para ocupar um edifício e recuperar um espaço onde a Comuna poderia seguir se desenvolvendo. Encontrava-se um grande dispositivo de antidistúrbios, mas foram preparados com escudos, capacetes, pedras e tochas. Após várias horas de batalha, alguns policiais e muitos companheiros ficaram feridos (alguns permanentemente), a cidade de Oakland havia sido tomada e destruída por dentro, e 400 companheiros detidos. Dentro da prisão, muitos companheiros foram agredidos ou negaram-lhes seus medicamentos (incluindo alguns casos graves, por exemplo, vários compas com AIDS) e negaram-lhes comida e água. Enquanto isso, os progressistas e supostos aliados no movimento Occupy, incluindo muitos que haviam aplaudido os rebeldes no Egito ou na Grécia por terem atacado os bancos que fodiam suas vidas, em seus blogs condenaram a violência dos anarquistas e exigiam um pacifismo absoluto para evitar a repressão.

O que segue abaixo é uma carta escrita por algumas companheiras que participaram dos distúrbios do dia 28.

Informe sobre os acontecimentos de 28 de janeiro em Oakland
Começamos pedindo desculpas, já que nossas palavras podem ser incoerentes, nossos pensamentos tendenciosos e nosso tom muito emocional. Perdoe-nos, porque o zumbido em nossos ouvidos ainda interrompe nosso pensamento, porque nossos olhos seguem borrados e seguimos ansiosas e com o trauma de nossas feridas e a prisão das pessoas que queremos. Como muitos de vocês já estão cientes: após um longo dia e uma longa noite de batalhas de rua em Oakland, vimos derrotados os nossos esforços de ocupar um edifício grande para criar um centro social. Estamos escrevendo, em parte, para corrigir as falhas e enganos espalhados pela mídia-merda. Mas também para explicar a intensidade e urgência da situação em Oakland aos companheiros do exterior. Até certo ponto, esta é uma missão impossível. Os vídeos e meras palavras podem fracassar inevitavelmente em transmitir as inefáveis experiências coletivas das últimas 24 horas. Mas, como sempre, aqui vamos nós.

Ontem foi um dos dias mais intensos de nossas vidas. Dizemos isto sem hipérbole ou sobressaltos. O terror nas ruas de Miami ou de St Paul, o poder nas ruas de Pittsburgh ou no outono de Oakland; o afeto de ontem atingiu ou superou a qualquer uma dessas experiências. Os acontecimentos de ontem nos confrontou com uma série de momentos intensamente belos e igualmente terríveis.

Uma curta seqüência:
Belas palavras são transmitidas na praça Oscar Grant, incitando-nos a cultivar nosso ódio ao capitalismo. Centenas de pessoas abandonam a praça e logo somos milhares. A polícia tenta tomar o caminhão com o equipamento de som, mas é resgatado por uma onda de pessoas. Vamos então até o nosso destino e nos bloqueiam. Viramos para outro caminho e outra vez nos bloqueiam. Damos o seguinte passo lógico e de alguma forma a polícia não o havia antecipado. Estamos mais perto do edifício, agora rodeado por cercas e porcos armados. Derrubamos as cercas, criando alguns buracos. A polícia começa a sua primeira incursão de gás e fumaça. O medo inicial passa. Com calma, nos aproximamos de outro ângulo.

Os porcos criam suas linhas em Oakland. À nossa esquerda, o museu; à nossa direita, um complexo de apartamentos. Escudos e barricadas reforçadas à frente; empurramos. Lançam disparos de foguete e faíscas e bombas de gás. Respondemos com pedras e foguetes e garrafas. Os escudos avançam. Outro ataque dos porcos. Os escudos rebatem quase todos os projéteis. Nos agachamos, esperamos, avançamos todos de uma vez. Eles vêm até nós uma e outra vez. Lançamos sua própria merda, a nossa, e o que podemos jogar. Alguns de nós são atingidos por balas de borracha, outros se queimam com granadas de fumaça. Vemos alguns policiais caírem sob o peso das pedras perfeitamente lançadas. No que parece uma eternidade, nós mudamos o lançamento e os escudos. Nunca antes havíamos sentido isso. Almas adoráveis dos apartamentos nos jogavam jarras de água pela janela para limparmos os olhos. Encontramos um momento para agradecer a coragem sem precedentes e a delicadeza com que os estrangeiros que tinham os escudos realizaram sua tarefa. Recuamos para a praça, carregando e sendo carregados por outros.

Nos reagrupamos, fizemos esquemas, e mais mil coisas, nos preparamos uma hora depois. Falhando a nossa segunda opção, marchamos adiante com a terceira. A polícia implementa sua armadilha: tentam nos caçar no parque entre a rua 19 e o local da Broadway que havíamos ocupado. Instala-se o pânico; reforçaram todas as suas linhas. Eles começam a jogar gás novamente. Mais balas, nosso ataque é repelido. A inteligência da multidão avança rapidamente. Grupos de pessoas vão para as barreiras. Em uma inversão do momento em que ocupamos este terreno pela primeira vez, as cercas se voltam para ter uma rota de fuga. Não tentaremos explicar a alegria de mil selvagens correndo a toda velocidade pelo terreno, tirando uma segunda linha de barreiras e escapando para a liberdade da rua. Mais jogos de gato e rato. Em frente ao YMCA, outra armadilha. Desta vez é mais profunda e não há cercas ao redor para jogar. Suas linhas são profundas. Algumas dezenas agem rapidamente escalando uma porta próxima, saltando perigosamente perto do pavimento rígido abaixo. Passando a porta, o grupo encontra uma fila de furgões da polícia: podem imaginar o que acontece em seguida. Um trabalhador do YMCA abre uma porta. Inúmeras pessoas escapam para dentro do prédio e saem por outra porta. A polícia descobre ambas as rotas de fuga e começa a atacar e pegar aqueles que tentam passar, mas não conseguem. Aqueles que caem na armadilha são brutalizados e se resignam à sua prisão.

Algumas centenas continuam. Hora da vingança. As pessoas invadem a câmara municipal. Tudo o que encontram é destruído. Os arquivos jogados por todos os lugares, os computadores também, janelas estilhaçadas. A bandeira americana é puxada para fora e é cerimonialmente incendiada. Uma manifestação à prisão, muitas pichações, um furgão de notícias destruído, portas da prisão quebradas... Os porcos respondem com fúria. Impiedosamente batendo, empurrando, atirando em qualquer um que cruze seu caminho. Muitos dos que escaparam antes são presos por esquadrões de detenção. O centro da cidade parece uma zona de guerra. Os que sobram voltam às casas vazias e aos braços queridos.

Uma máquina de guerra também deve ser intrinsecamente uma máquina de amor. Quando escrevemos isto, centenas de compas estão atrás das grades. Inúmeros outros feridos e traumatizados. Passamos a noite passada literalmente ”papeando” e assegurando que todos os que conhecemos estão bem. Ainda não pudemos encontrar muitas pessoas no sistema, se ouve rumores, alguns foram libertados, a outros foram atribuídas graves acusações e colocados sob fiança. Esta máquina de afeto é muito do que temos chamado de Comuna de Oakland, tanto no acampamento como nas lutas de rua.

Passamos uma manhã ensolarada e a ilusão da paz social que se abateu sobre Oakland novamente. E em todos os lugares há provas do que aconteceu. Funcionários lutam para reerguer suas cercas patéticas. Mesas são colocadas nas janelas da prefeitura e bancos próximos (alguns para esconder o estrago, outros simplesmente para se esconder atrás). As mangueiras tentam limpar o resto do que sobra da estúpida bandeira. Não se pode literalmente olhar em qualquer lugar da Broadway sem ver pichações difamando a polícia ou elogiando nossa gente (anarquia, nortes, a comuna, incluindo Juggalos). Um olho entendido pode ainda encontrar os restos de latas de gás e resíduos dos foguetes. No refeitório, amigos se reúnem e compartilham notícias sobre quem foi ferido e quem tinha estado nos fatos. Nossas feridas estão começando a curar e serão finalmente cicatrizes ou desfigurações ridículas. Esperamos que nossos admiradores perdoem esta feiúra, ou podem vê-la como pequenos sinais de uma beleza única. Em ambos nossa adrenalina desaparece e encontramos momentos de solidão, nos vemos impressionados com a gravidade da situação.

Tendo fracassado na tomada de um edifício, nossa busca continua. Continuamos encontrando a combinação perfeita de confiança, planejamento, intensidade e ação que pode tornar a nossa luta uma presença permanente. A comuna tem e continuará ao longo do tempo, interrompendo a mortalidade e o horror do funcionamento cotidiano da sociedade. Os segmentos da comuna continuam de forma ininterrupta, assim como as afinidades e as relações construídas nos últimos meses. Um processo insurrecional é aquele que destaca essas relações e aumenta a freqüência com a qual a comuna emerge para interromper o vácuo da história capitalista. Para continuar esse processo, nossa missão é continuar incessantemente com a experimentação e a imaginação com que poderíamos iluminar as diferentes estratégias e caminhos para além dos limites atuais da luta. Às vezes, para esquecer, e outras para lembrar.

Concluímos com um apelo aos nossos amigos em todo o país e além fronteiras. Não deve olhar para todos os eventos aqui como uma seqüência separada de suas vidas. Entre a beleza e o espetáculo dos momentos na Baía, você vai descobrir a mesma alienação e exploração que caracteriza a sua própria situação. Por favor, não consuma as imagens da Baía como faria com as imagens de distúrbios estrangeiros ou de uma subscrição ao netflix. Nosso inferno é o seu, e o mesmo vale para a nossa luta.

E por favor... se nos queres como cremos que fazes, prová-lo. Queríamos tão desesperadamente que estivessem conosco presencialmente, mas sabemos que muitos de vocês não puderam. Estendam a comuna para os seus próprios lugares. Dez cidades já anunciaram as suas intenções para a realização de manifestações de solidariedade hoje à noite. Junte-se a eles, convoque a sua. Se você não estiver conectado o suficiente para ser uma força social para fazê-la, encontre então seus próprios caminhos para manifestá-la. Com seus colegas ou sozinho: destrua, ataque, exproprie, bloqueie, ocupe. Faça o que puder para aumentar a prevalência e a perversidade da nossa interrupção.

Por um conflito prolongado; por uma presença permanente; pela comuna:

Algumas amigas de Oakland
Fotos:
http://www.indybay.org/newsitems/2012/01/29/18705915.php
http://www.indybay.org/newsitems/2012/01/30/18706120.php
Vídeo da repressão policial:
http://www.youtube.com/watch?v=sFaviIoy4rg&feature=player_embedded

E como dito no manifesto, nos Estados Unidos ocorreram durante os últimos dias várias ações e manifestações em várias cidades, especialmente na Costa Oeste.

• Santa Barbara: http://anarchistnews.org/node/21578
• Portland: http://anarchistnews.org/node/21580
• Modesto: http://anarchistnews.org/node/21576

agência de notícias anarquistas-ana
Meus olhos não param:
a multidão de formigas
está de mudança.
Thiago Souza

Quem é pior? – por Latuff


Fonte|: Rede

'Se moradia é privilégio, ocupar é um direito', diz sem-teto acampada na Avenida São João - por André Cristi e Caio Sarack

'Se moradia é privilégio, ocupar é um direito', diz sem-teto acampada na Avenida São JoãoFamílias que há quatro meses ocupavam um edifício abandonado decidem levantar acampamento na rua, em frente a outro edifício inativo, e Frente de Luta por Moradia lamenta por "problema social ser tratado como caso de polícia".

São Paulo - Em uma única semana, 230 famílias que viviam no centro de São Paulo perderam suas casas e foram submetidas duas vezes à ação policial. No domingo, dia 5, a Guarda Civil Metropolitana tentou retirar as famílias de um acampamento montado pelos sem-teto na Avenida São João, depois de terem sido desalojados pela Polícia Militar, três dias antes, de um prédio abandonado que ocupavam desde 5 de novembro do ano passado.

Na última ofensiva contra os sem-teto, a Guarda Civil Metropolitana fez feridos, que foram encaminhados para o Hospital da Santa Casa, como informa em boletim a Frente de Luta por Moradia. (Ver neste endereço). No sábado, dia 11, as famílias foram levadas para um alojamento em Bom Retiro, em frente à quadra da Gaviões da Fiel.

A reintegração de posse foi objeto de um quiproquó jurídico: o Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu uma liminar obtida pelo Ministério Público Estadual, que condicionava a desocupação do prédio ao alojamento das famílias pela prefeitura. O Ministério Público
apelou contra essa decisão e obteve nova liminar, cassada posteriormente a pedido da gestão Gilberto Kassab (PSD).

Luiz Rocha Pombo, assessor de imprensa da Secretaria Municipal de Habitação (Sehab), argumentou que "garantir moradia no centro, como reivindica a FLM, seria injusto com os munícipes cadastrados na Cohab, que somam cerca de um milhão de famílias inscritas, que também aguardam moradia, mas nem por isso ocuparam imóveis particulares." A prefeitura se limitou a disponibilizar albergues municipais aos sem-teto.

Jussamara Leonor Manoel, paulistana de 46 anos, coordenadora da Frente de Luta por Moradia, contestou o argumento da Sehab. "Eu acredito que esse um milhão de famílias não ocupa porque não têm consciência de seus direitos. Toda pessoa quando nasce, nasce com o direito à habitação. Então, eu posso dizer ao prefeito que estou na fila de
famílias inscritas há 46 anos."

Sobre os embates por moradia que se espalham pelo centro de São Paulo, Jussamara disse: "Enquanto o imóvel está abandonado e sem função social, o dono não lembra dele. Quando ele passa a ter uma função social, o dono lembra e pede a posse do imóvel. Se moradia é privilégio, ocupar é um direito do trabalhador de baixa renda."

No que se refere à ação policial, as vozes no acampamento são consonantes. Assim como Jussamara, Maria de Fátima Sales elogiou o procedimento do Major Félix, da PM, enquanto preparava uma salada de ervilhas para o jantar. “O comandante repetia que a operação não era de seu agrado e que estava obedecendo uma ordem do Estado. A GCM é que veio depois, enxerida, com spray de pimenta e ignorância", contou
Maria de Fátima.

Segundo Adriana Aparecida Almeida dos Santos, 30, "teve gente que levou até gás-pimenta na cara" durante a operação de domingo, dia 5, da Guarda Civil Metropolitana. No site da Frente de Luta Pela Moradia, uma nota critica a ação da Guarda: "é lamentável ver problema social tratado como caso de polícia".

Maria do Socorro Valeriano, que auxiliava Maria de Fátima com o jantar, fez observações sobre a cobertura da mídia – e certificou-se, depois, se os repórteres não eram da Rede Bandeirantes. A emissora era a principal razão das queixas. Maria do Socorro disse não acreditar que sem-teto tenham ateado fogo em objetos numa reintegração de posse ocorrida na rua Conselheiro Nébias, a alguns metros do acampamento, como disse à Folha de São Paulo a Polícia Militar.

Alguns acampados e mesmo algumas pessoas que não participam do acampamento, mas vão até a calçada da Avenida São João levar alimentos e utensílios domésticos, preferem não dar entrevistas, com medo de verem cortados os R$ 350,00 que recebem como Auxílio Aluguel. Osmar Silva Borges, outro coordenador da Frente, falou das carências da ocupação: "Os alimentos não-perecíveis e leite são importantes, ajudam bastante, mas o acampamento, os moradores, têm sua autonomia. Se querem mesmo nos ajudar que espalhem a nossa luta pelo twitter, nas redes sociais."

Fotos: Frente de Luta por Moradia
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Os EUA na segunda armadilha de Bin Laden - Por Immanuel Wallerstein

Os EUA na segunda armadilha de Bin LadenWallerstein antecipa: depois de perder influência sobre Paquistão, Washington arrisca-se a ficar sem aliado ainda mais estratégico: a Arábia Saudita

Em outubro de 2001, logo depois do 11 de Setembro, escrevi o seguinte:
“Os regimes [do Paquistão e Arábia Saudita] apoiam-se numa coalizão entre as elites modernizantes pró-ocidentais e um establishment islâmico extremamente conservador, com bases populares. Os regimes mantêm-se estáveis por serem capazes de articular esta combinação. E podem alimentá-la graças à ambivalência de suas políticas e pronunciamentos públicos.

“Os Estados unidos dizem agora que chega de ambiguidades. Esta posição pode prevalecer, é claro. Mas no processo, os regimes saudita e paquistanês poderão descobrir que sua base popular está irremediavelmente erodida…

“Considere que este pode ter sido o plano de Bin Laden. O objetivo de sua própria missão suicida pode ter sido conduzir os Estados Unidos a tal armadilha”

Acredito que Bin Laden conseguiu agora o que planejou no Paquistão. O fim das ambiguidades acabou significando que o país já não opera geopoliticamente em favor dos interesses dos Estados Unidos. Bem ao contrário! Tomou distância e está promovendo, no Afeganistão e não só lá, políticas às quais os EUA opõem-se firmemente. Falta, agora, o segundo objetivo.

Que está ocorrendo na Arábia Saudita? Não há dúvidas de que, de alguma maneira, o país passou a agir mais independentemente dos Estados Unidos do que fizera nos últimos 70 anos. Mas não houve, ainda, uma ruptura definitiva, como no Paquistão. Ela ocorrerá, em futuro próximo? Penso que talvez.

Analise os múltiplos dilemas internos do regime. A riqueza de cerca de 10% dos sauditas provocou o crescimento agudo das demandas por “modernização” do Estado. São mais visíveis em temas ligados às mulheres (direito ao emprego e a conduzir carros). Mas tais reivindicações por mais direitos são a ponta de um iceberg, de um clamor mais amplo pelo afrouxamento das restrições impostas pela ortodoxia wahhabista. À medida em que o rei se move numa trajetória contínua, mas cautelosa, para atender a estas demandas, ele antagoniza-se ainda mais com o establishment religioso – que está se tornando muito inquieto.

Além disso, as elites “modernizantes” têm outras queixas. O governo saudita é, essencialmente, uma gerontocracia, conduzida por homens na faixa dos 70 e 80 anos. No curioso sistema de sucessão o regime lembra o da antiga União Soviética. Há algo similar a uma votação, no processo sucessório – mas ela se dá entre uma dezena de pessoas, ou um pouco mais. A probabilidade de que o poder passe para gente na faixa dos 50 e 60 é extremamente baixa, se não inexistente. Repare, no entanto, que este grupo de “jovens”, mesmo que formado apenas no interior da família real, cresceu consideravelmente em número, e está impaciente. Isso pode levar a uma séria cisão no próprio topo da elite? É bem possível que sim.

O regime saudita maneja algo como um estado de bem-estar social para os cidadãos comuns. Porém, as desigualdades de renda e riqueza estão crescendo, como em toda parte. E pequenas redistribuições, de tempos em tempos, não vão acalmar as camadas inferiores, mas apenas aguçar seu apetite por novas demandas. Os extratos médios e baixos podem inclusive (surpresa, surpresa!) ecoar os apelos da Primavera Árabe por “democracia”.

E há uma minoria xiita. Afirma-se que ele representa apenas cerca de 10% da população; mas é provável que seja maior e – mais importante – está estrategicamente localizada no sudeste do país, sobre as maiores reservas de petróleo. Por que tais xiitas seriam os únicos, nas nações do Oriente Médio dominadas por sunitas, a não lutar por suas reivindicações identitárias?

O regime saudita tem tentado jogar um papel de destaque na geopolítica da região. Está insatisfeito com as políticas e aspirações do Irã e com a intransigência do presidente Assad, na Síria. Mas, no frigir dos ovos, comporta-se de modo muito moderado, em relação a estes temas. Teme as consequências de guinadas bruscas. E julga as políticas norte-americanas orientadas demais pelos interesses internos dos EUA, e por seus infinitos compromissos com Israel.

Os sauditas têm sido muito “razoáveis” também com Israel. Não creem que esta moderação tenha sido bem recompensada – quer por Israel, quer pelos Estados Unidos. Podem estar prontos, agora, para apoiar o Hamas de forma muito mais aberta. Não enxergam nada “razoável” nas políticas do governo israelense, nem perspetiva alguma de que estas políticas sejam alteradas em breve.

Este quadro não contribui para um regime politicamente estável. Certamente, não ajuda a manter as “ambiguidades” que permitiram ao regime ser, no passado, um aliado inabalável dos Estados Unidos na região.

A segunda armadilha irá se fechar?

Tradução: Antonio Martins
Fonte: http://www.outraspalavras.net/