Rumores: o Irã estaria enganando o Ocidente?
Na edição de 7 de agosto, o jornal israelense Haaretz publicou notícias assustadoras.
Novas informações de fontes diplomáticas indicavam que o Irã estaria fazendo mais progressos na produção de componentes para seu programa de armas nucleares do que o Ocidente e Israel imaginavam.
Este fato só teria chegado ao conhecimento deles depois que o Irã recusou-se a permitir que inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica visitassem a base de Parchin. E que fotos de satélites publicadas pelo Institute for Science and International Security (ISIS) mostrassem uma tentativa de “limpar” totalmente o local para esconder o que está sendo feito ali.
Meses atrás, notícias semelhantes foram publicadas na imprensa de Israel.
Como nessa ocasião, também agora não se identificou sua origem, nem se forneceram quaisquer fatos que detalhassem e permitissem a comprovação da acusação.
O Haaretz fala em “fontes diplomáticas”, mas não informa quais nações. Nem diz em que consistiram os “progressos” iranianos.
Gareth Porter, especialista em Oriente Médio , nota no Inter Press Service que as fotografias apontadas como provas das intenções iranianas de enganar a vigilância ocidental nada têm de novo, uma vez que já foram apresentadas anteriormente.
Naquela ocasião, a Associated Press pediu a opinião de seis fontes diplomáticas a respeito das fotos. Pelo menos quatro dessas fontes as consideraram inconvincentes.
Para a inteligência dos EUA não eram reveladoras do que se pretendia acusar o Irã.
Na verdade, a própria ISIS, que havia levantado dúvidas sobre a possível tentativa iraniana de esconder atividades suspeitas em novembro passado, mais tarde pronunciou-se no outro sentido.
Paul Brennen, um especialista em interpretação de fotos de satélites para a ISIS, informou ao New York Times que: “Não há jeito de saber ou não se as atividades que você vê nessa imagem particular de satélites são de limpeza (de vestígios de produção de armas nucleares) ou apenas trabalho de rotina”. E acrescentou: “Há muita atividade lá – sempre”.
Outras supostas evidências da atividade nuclear militar do Irã foram levadas ao Haaretz pelo Mujahideen-al-Khalj (MEK), cuja credibilidade é absolutamente discutível.
Trata-se de uma organização, rotulada como terrorista pelo próprio Departamento de Estado dos EUA, que tem em sua folha corrida atentados praticados contra alvos americanos e apoio a Saddam Hussein na guerra contra o Irã.
Nos últimos tempos, praticou alguns atentados no território do Irã, matando policiais e civis. Milicianos do grupo são treinados pelo Mossad em locais remotos do Iraque para realizar ações contra o Irã, sendo acusados de participação nos assassinatos de cinco cientistas nucleares iranianos.
Neste ano, o MEK contratou uma firma de relações públicas americana para promover uma caríssima campanha pela sua retirada da lista de organizações terroristas dos EUA.
Apesar de estarem recebendo o apoio de algumas personalidades militares e políticas (especialmente republicanos) dos EUA, ainda não conseguiram seu objetivo.
O Haaretz reporta que membros do MEK afirmaram ao jornal inglês Daily Telegraph que o trabalho dos cientistas iranianos do “grupo de armas” acha-se numa fase avançada, envolvendo ogivas e detonadores”.
O MEK não apresentou nenhuma prova de suas revelações. A não ser sua palavra, que não vale grande coisa.
Por enquanto, o que prevalece é a posição dos 16 serviços secretos civis e militares dos EUA: eles reafirmam que o programa nuclear iraniano não oferece perigo.
Na opinião desses serviços, o Irã não só não está desenvolvendo um programa nuclear militar, como também não demonstrou tais intenções.
“Recentes avaliações das agências de espionagem americanas”, diz o New York Times, em 24 de fevereiro deste ano, “são bastante consistentes com as revelações da inteligência em 2007, concluindo que o Irã havia abandonado seu programa de armas nucleares há anos. Os chefes das agências afirmaram que as avaliações de 2007 foram confirmadas em 2010 pela National Inteligent Estimative e elas representam a visão consensual de 16 agências de inteligência”.
Testemunham estas afirmações nada menos do que James R. Clapper, o diretor da inteligência nacional; David Petraeus, diretor da CIA; Leon Panetta, secretário da Defesa, e o General Martin Dempsey, comandante do Estado Maior das Forças Americana.
Notícias alarmistas como a do Haaretz parecem fazer parte de uma campanha de Bibi Netanyahu para convencer seu povo e a opinião pública mundial da necessidade de deter o Irã enquanto ainda dá tempo.
Há alguns dias, o primeiro-ministro declarou que estava perfeitamente consciente dos danos humanos e materiais que o conflito com os iranianos traria a Israel. Mas que seriam muitas vezes menores do que os causados por um Irã equipado com armamentos nucleares.
Na semana passada, na visita de Mitt Romney, Bibi afirmou, aplaudido pelo candidato republicano, que as sanções não haviam mesmo dado resultado.
Pouco antes, defendeu o provável bombardeio das instalações nucleares iranianas. Quando repórteres lembraram que os principais generais e chefes dos serviços de segurança ou eram contra ou achavam que só se justificava com a participação dos EUA, ele foi categórico: em assuntos assim, a última palavra cabia aos políticos, não aos militares.
Lembro que, na última pesquisa, Netanyahu só obteve 31% de opiniões favoráveis.
É fato reconhecido que, numa guerra, o povo do país costuma cerrar fileiras em torno do chefe de estado.
É possível que Bibi queira recuperar-se, criando um clima de guerra iminente ou mesmo bombardeando o Irã, antes das eleições americanas de novembro, para desgosto de Obama.
Nesse caso, Bibi aposta que o presidente americano fatalmente seria obrigado a tomar posição ao lado de Israel.
É claro, haveria o risco de Obama ficar em cima do muro e Israel ter de enfrentar o Irã sozinho, com perdas muito grandes, o que poderia voltar o povo contra o líder israelense.
Enquanto mede os prós e contras, Bibi vai apresentando ao mundo argumentos a favor da guerra.
Inclusive rumores, provavelmente inventados, de avanços iranianos no perigoso caminho do armamentismo nuclear.
Luiz Eça é jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário