#Eleições2018Nãovote!
És tu o criminoso, ó Povo, já que és tu o Soberano. És, é
verdade, o criminoso inconsciente e ingénuo. Votas e não vês que és vítima de
ti mesmo.
Contudo, não reparaste ainda por experiência própria que
os deputados, que prometem defender-te, como todos os governos do mundo
presente e passado, são mentirosos e impotentes?
Sabe-lo e queixas-te disso! Sabe-lo e nomeia-los! Os
governantes, quaisquer que sejam, trabalharam, trabalham e trabalharão pelos
seus interesses, pelos das suas castas e das suas súcias.
Onde foi e como poderia ser de maneira diferente? Os
governados são subalternos e explorados: conheces algum que o não seja?
Enquanto não tiveres compreendido que só a ti cabe
produzir e viver à tua maneira, enquanto suportares – por medo – e fabricares –
por crença na autoridade necessária – chefes e directores, fica também a
sabê-lo, os teus delegados e os teus amos viverão do teu labor e da tua
patetice. Queixas-te de tudo! Mas não és tu o autor das mil chagas que te
devoram?
Queixas-te da polícia, do exército, da justiça, das
casernas, das prisões, das administrações, das leis, dos ministros, do governo,
dos financeiros, dos especuladores, dos funcionários, dos patrões, dos padres,
dos proprietários, dos salários, dos desempregados, do parlamento, dos impostos,
dos fiscais da alfândega, dos possuidores de rendimentos, da carestia dos
víveres, das rendas dos prédios rústicos e urbanos, dos longos dias de trabalho
na oficina e na fábrica, da magra ração, das privações sem conta e da massa
infinita das iniquidades sociais.
Queixas-te, mas queres a manutenção do sistema em que
vegetas. Revoltas-te, por vezes, mas para recomeçar sempre no mesmo. És tu que
produzes tudo, que lavras e semeias, que forjas e teces, que amassas e
transformas, que constróis e fabricas, que alimentas e fecundas!
Porque não consomes até à saciedade? Porque és tu o mal
vestido, o mal alimentado, o mal abrigado? Sim, porque és o Zé Ninguém sem pão,
sem sapatos, sem morada? Porque não és o senhor de ti mesmo? Porque te curvas,
obedeces, serves? Porque és tu o inferior, o humilhado, o ofendido, o servidor,
o escravo?
Elaboras tudo e nada possuis? Tudo é por ti e tu nada és.
Engano-me. És o eleitor, o maníaco do voto, o que aceita
o que é; o que, pelo boletim de voto, sanciona todas as misérias; o que, ao
votar, consagra todas as suas servidões.
És o criado voluntário, o doméstico amável, o lacaio, o
serviçal, o cão que lambe o chicote, que rasteja diante do pulso teso do dono.
És o chui, o carcereiro e o bufo. És o bom soldado, o guardaportão modelo, o
locatário benévolo. És o empregado fiel, o servidor dedicado, o camponês
sóbrio, o operário resignado com a sua própria escravatura. És o carrasco de ti
mesmo. De que te queixas?
És um perigo para nós, homens livres, para nós,
anarquistas. És um perigo de igual modo que os tiranos, os senhores que crias
para ti próprio, que nomeias, que apoias, que alimentas, que proteges com as
tuas baionetas, que defendes com a tua força de bruto, que exaltas com a tua
ignorância, que legalizas com os teus boletins de voto – e que
nos impõem com a tua imbecilidade.
És bem o Soberano que bajulam e levam à certa. Os
discursos lisonjeiam-te. Os cartazes prendem-te a atenção; gostas das parvoíces
e que te façam a corte: satisfaz-te, enquanto aguardas que te fuzilem nas
colónias, te massacrem nas fronteiras, à sombra ensanguentada da tua bandeira.
Se línguas interesseiras lambem à volta da tua real
bosta, ó Soberano!; se candidatos sedentos de posições de chefia e atafulhados
de banalidades escovam o espinhaço e a garupa da tua autocracia de papel; se te
embriagas com as lisonjas e as promessas que te vertem os que sempre te
traíram, te enganam e vender-te-ão amanhã: é porque te pareces com eles. É
porque não vales mais que a horda dos teus famélicos aduladores. É porque, não
tendo podido elevares-te à consciência da tua individualidade e da tua
independência, és incapaz de te emancipar por ti mesmo. Não queres, portanto,
não podes ser livre.
Vamos, vota bem! Tem confiança nos teus
mandatários, acredita nos teus eleitos.
Mas deixa de te queixar. Os jugos que suportas, és tu
mesmo que tos impões. Os crimes de que padeces, és tu que os cometes. És o
senhor, és o criminoso e, ó ironia!, és o escravo, és a vítima.
Nós, saturados da opressão dos amos que nos dás,
saturados de suportar a sua arrogância, saturados de suportar a tua
passividade, vimos chamar-te à reflexão, à acção.
Vamos, tem um bom movimento: despe o hábito estreito da
legislação, lava o teu corpo rudemente, a fim de que rebentem os parasitas e a
bicharia que te devoram. Só então poderás viver plenamente.
O CRIMINOSO É O ELEITOR!
Albert Libertad, Proclamação do jornal “L´anarchie”,
Março de 1906
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Torna-se vento —
Coleta de cogumelos.
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Fonte: https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2018/08/06/o-criminoso/
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