Ataque de skinheads na Jornada Anti-Fascista, em São Paulo
Comunicado:
O último dia de atividades da Jornada Anti-Fascista 2011, sábado, 26 de fevereiro, organizada pelo Movimento Anarcopunk de São Paulo, foi marcado pelo ataque de um grupo de cerca de 10 skinheads nas imediações da Praça da Sé, em São Paulo.
Pela manhã foi organizado um ato público contra o fascismo na Praça da República, e um dos skinheads agressores (foto em anexo) já havia feito uma saudação nazista para os manifestantes quando por ali passava.
Durante a tarde, no Espaço Ay Carmela, acontecia uma atividade com bandas e denúncias contra o fascismo e a intolerância quando nas proximidades ocorreu a agressão. 4 companheiros foram feridos com facadas no braço, barriga e cabeça; um deles sofreu perfuração no crânio e será submetido a cirurgia.
Foram detidos pela polícia 5 skinheads com punhais, soco inglês, machadinha, espingarda de chumbinho, e facas - uma delas com inscrições nazistas. Os 5 skinheads continuam detidos no 1 DP (Distrito Policial), na Liberdade, e segundo a polícia dois deles já possuem antecedentes criminais.
Há algumas semanas atrás skinheads nazistas também haviam pixado uma suástica em frente ao espaço Ay Carmela.Fica mais uma vez evidente a necessidade urgente de um combate efetivo a ação violenta destes grupos skinheads. Este tipo de violência contra anti-fascistas, negros/as, nordestinos/as, imigrantes e outros/as é cada vez mais recorrente e não pode ser encarado como “briga entre gangues”, como muitas vezes a imprensa insiste em noticiar, e muito menos como casos isolados e sem relevância. Tem de ser combatidos com toda a força e amplamente discutidos e problematizados. Minimizar a gravidade deste tipo de ação fascista que ocorre há tempos em todo o mundo atingindo uma série de grupos é fechar os olhos para um problema que coloca em risco a liberdade de todos/as nós!
Todo apoio e solidariedade aos companheiros e força na luta anti-fascista!
Avante o/as que lutam, nem um passo atrás!
Infos atualizadas:
› anarcopunk.org/antifa | anarcopunk.org/noticias
Veja outras matérias na mídia:
› http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/02/487470.shtml
› http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4964672-EI5030,00.html
› http://blogs.estadao.com.br/jt-seguranca/cinco-skinheads-sao-presos-apos-agressao/
› http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/seis-possiveis-skinheads-sao-presos-por-agressao-na-se-20110226.html
› http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/881638-skinheads-sao-presos-apos-agredir-pessoas-no-centro-de-sp.shtml
Vídeo:
› http://video.globo.com/Videos/Player/0,,GIM1446544-7759-SKINHEADS+SAO+PRESOS+DEPOIS+DE+AGREDIR+CONVIDADOS+DE+UMA+FESTA,00.html
agência de notícias anarquistas-ana
moleque maroto
sobe na perna de pau
para tocar o céu
Paladino
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Negri e Hardt escrevem sobre a revolta árabe - por Bruno Cava
Negri e Hardt escrevem sobre a revolta árabe - por Bruno Cava
Um desafio para quem observa as revoltas disseminadas pelo norte da África e no Oriente Médio está em interpretá-las não como mais uma repetição do passado, mas como experiências originais, que abrem novas e relevantes possibilidades políticas, inclusive para além da região, de liberdade e democracia. De fato, nossa expectativa é que, através desse ciclo de lutas, o mundo árabe se torne na próxima década o que a América Latina foi na década passada — isto é, um laboratório de experimentação política entre potentes movimentos sociais e governos progressistas: da Argentina à Venezuela, e do Brasil à Bolívia.
Essas revoltas imediatamente realizaram um tipo de faxina ideológica, varrendo as concepções racistas de choque de civilizações que comprometiam a política árabe no passado. As multidões em Túnis, Cairo e Benghazi destroçaram os estereótipos políticos que amarravam os árabes na opção entre ditaduras seculares e teocracias fanáticas, ou que atribuíam aos muçulmanos uma certa incompatibilidade para a liberdade e a democracia. Mesmo chamar essas lutas “revoluções” parece confundir os comentadores, que consideram que a progressão de eventos obedece à lógica de 1789 ou 1917, ou de alguma outra rebelião européia no passado contra reis e czares.
As revoltas árabes inflamaram a partir da questão do desemprego, e o centro delas tem sido a juventude altamente educada, mas cujas ambições são frustradas — uma população que tem muito em comum com os estudantes nos protestos em Londres e Roma. Apesar de a principal demanda no mundo árabe se concentre no fim da tirania e de governos autoritários, atrás disso existe uma série de demandas sociais relativas ao trabalho e à vida, não somente para acabar com a dependência e a pobreza, mas também empoderar e dar autonomia à população inteligente e altamente capaz. Daí a deposição de Zine Ben Ali, Hosni Mubarak ou Muammar Gaddafi tenha sido apenas o primeiro passo.
A organização da revolta lembra o que tínhamos visto por mais de uma década em outras partes do mundo, de Seattle a Buenos Aires e Gênova e Cochabamba: uma rede horizontal sem líder central ou único. Órgãos tradicionais de oposição podem participar dessa rede, mas não a guiar. Observadores de fora tentaram identificar um líder nas revoltas egípcias desde sua origem: talvez seja Mohamed ElBaradei, talvez o diretor de publicidade do Google, Wael Ghonim. Eles temem que a Fraternidade Muçulmana ou outro grupo possam assumir o controle dos acontecimentos. O que eles não entendem é que a multidão consegue organizar-se sem um centro — que a imposição de um líder ou a cooptação por algum organismo tradicional solapariam sua força. O predomínio das ferramentas das redes sociais nas revoltas, como o facebook, o youtube e o twitter, são sintomas, não causas, dessa estrutura organizacional. Elas são formas de expressão de uma população inteligente, hábil para usar as ferramentas à mão e organizar-se autonomamente.
Embora os movimentos organizados em rede recusem liderança central, eles ainda assim precisam consolidar suas demandas num novo processo constituinte que conecta os segmentos mais ativos da rebelião às necessidades da população como um todo. As insurreições da juventude árabe certamente não almejam pela constituição liberal tradicional, que meramente garante a separação dos poderes e a dinâmica eleitoral regular. Porém, na verdade, visam a uma forma de democracia adequada aos novos modos de expressão e às necessidades da multidão. Isto deve incluir, primeiramente, o reconhecimento constitucional da liberdade de expressão — não na forma típica da mídia dominante, que é constantemente sujeita à corrupção de governos e elites econômicas, mas sim uma representada pelas experiências comuns de relações interconectadas.
Dado que os levantes foram iniciados não apenas pelo desemprego e pobreza disseminados, mas também como sentimento generalizado de não poder produzir e expressar-se, especialmente da parte dos jovens, uma resposta radical constitutiva precisa inventar um plano comum para administrar a produção social e os recursos naturais. Esta é a fronteira que o neoliberalismo não pode ultrapassar, onde o próprio capitalismo é posto em questão. E um regime islâmico é completamente inadequado para atender a essas necessidades. Aqui, a insurreição atinge não só a estabilidade do norte da África e do Oriente Médio, mas também o sistema global de governança econômica.
Portanto, nossa expectativa de o ciclo de lutas pelo mundo árabe tornar-se semelhante à América Latina, inspirar movimentos políticos e incitar aspirações por liberdade e democracia além da região. Cada revolta, é claro, pode falhar: tiranos podem desencadear uma repressão sangrenta; juntas militares podem tentar manter-se no poder; grupos tradicionais de oposição podem tentar aparelhar os movimentos; e hierarquias religiosas podem ardilosamente assumir o controle. Mas o que não vai morrer são as demandas políticas e os desejos que foram deflagrados, as expressões de uma geração jovem e inteligente por uma vida em que eles possam aplicar as suas habilidades.
Enquanto essas demandas e desejos pulsarem de vida, o ciclo de lutas continuará. A questão é: o que os novos experimentos de liberdade e democracia podem ensinar ao mundo, através da próxima década.
Antônio Negri, militante e filósofo italiano, escreveu junto de Michael Hardt, professor de literatura norte-americano, Império (2001), considerado o primeiro manifesto político do novo milênio, bem como suas seqüências Multidão (2005) e Commonwealth (2009).
Fonte: http://www.outraspalavras.net
Um desafio para quem observa as revoltas disseminadas pelo norte da África e no Oriente Médio está em interpretá-las não como mais uma repetição do passado, mas como experiências originais, que abrem novas e relevantes possibilidades políticas, inclusive para além da região, de liberdade e democracia. De fato, nossa expectativa é que, através desse ciclo de lutas, o mundo árabe se torne na próxima década o que a América Latina foi na década passada — isto é, um laboratório de experimentação política entre potentes movimentos sociais e governos progressistas: da Argentina à Venezuela, e do Brasil à Bolívia.
Essas revoltas imediatamente realizaram um tipo de faxina ideológica, varrendo as concepções racistas de choque de civilizações que comprometiam a política árabe no passado. As multidões em Túnis, Cairo e Benghazi destroçaram os estereótipos políticos que amarravam os árabes na opção entre ditaduras seculares e teocracias fanáticas, ou que atribuíam aos muçulmanos uma certa incompatibilidade para a liberdade e a democracia. Mesmo chamar essas lutas “revoluções” parece confundir os comentadores, que consideram que a progressão de eventos obedece à lógica de 1789 ou 1917, ou de alguma outra rebelião européia no passado contra reis e czares.
As revoltas árabes inflamaram a partir da questão do desemprego, e o centro delas tem sido a juventude altamente educada, mas cujas ambições são frustradas — uma população que tem muito em comum com os estudantes nos protestos em Londres e Roma. Apesar de a principal demanda no mundo árabe se concentre no fim da tirania e de governos autoritários, atrás disso existe uma série de demandas sociais relativas ao trabalho e à vida, não somente para acabar com a dependência e a pobreza, mas também empoderar e dar autonomia à população inteligente e altamente capaz. Daí a deposição de Zine Ben Ali, Hosni Mubarak ou Muammar Gaddafi tenha sido apenas o primeiro passo.
A organização da revolta lembra o que tínhamos visto por mais de uma década em outras partes do mundo, de Seattle a Buenos Aires e Gênova e Cochabamba: uma rede horizontal sem líder central ou único. Órgãos tradicionais de oposição podem participar dessa rede, mas não a guiar. Observadores de fora tentaram identificar um líder nas revoltas egípcias desde sua origem: talvez seja Mohamed ElBaradei, talvez o diretor de publicidade do Google, Wael Ghonim. Eles temem que a Fraternidade Muçulmana ou outro grupo possam assumir o controle dos acontecimentos. O que eles não entendem é que a multidão consegue organizar-se sem um centro — que a imposição de um líder ou a cooptação por algum organismo tradicional solapariam sua força. O predomínio das ferramentas das redes sociais nas revoltas, como o facebook, o youtube e o twitter, são sintomas, não causas, dessa estrutura organizacional. Elas são formas de expressão de uma população inteligente, hábil para usar as ferramentas à mão e organizar-se autonomamente.
Embora os movimentos organizados em rede recusem liderança central, eles ainda assim precisam consolidar suas demandas num novo processo constituinte que conecta os segmentos mais ativos da rebelião às necessidades da população como um todo. As insurreições da juventude árabe certamente não almejam pela constituição liberal tradicional, que meramente garante a separação dos poderes e a dinâmica eleitoral regular. Porém, na verdade, visam a uma forma de democracia adequada aos novos modos de expressão e às necessidades da multidão. Isto deve incluir, primeiramente, o reconhecimento constitucional da liberdade de expressão — não na forma típica da mídia dominante, que é constantemente sujeita à corrupção de governos e elites econômicas, mas sim uma representada pelas experiências comuns de relações interconectadas.
Dado que os levantes foram iniciados não apenas pelo desemprego e pobreza disseminados, mas também como sentimento generalizado de não poder produzir e expressar-se, especialmente da parte dos jovens, uma resposta radical constitutiva precisa inventar um plano comum para administrar a produção social e os recursos naturais. Esta é a fronteira que o neoliberalismo não pode ultrapassar, onde o próprio capitalismo é posto em questão. E um regime islâmico é completamente inadequado para atender a essas necessidades. Aqui, a insurreição atinge não só a estabilidade do norte da África e do Oriente Médio, mas também o sistema global de governança econômica.
Portanto, nossa expectativa de o ciclo de lutas pelo mundo árabe tornar-se semelhante à América Latina, inspirar movimentos políticos e incitar aspirações por liberdade e democracia além da região. Cada revolta, é claro, pode falhar: tiranos podem desencadear uma repressão sangrenta; juntas militares podem tentar manter-se no poder; grupos tradicionais de oposição podem tentar aparelhar os movimentos; e hierarquias religiosas podem ardilosamente assumir o controle. Mas o que não vai morrer são as demandas políticas e os desejos que foram deflagrados, as expressões de uma geração jovem e inteligente por uma vida em que eles possam aplicar as suas habilidades.
Enquanto essas demandas e desejos pulsarem de vida, o ciclo de lutas continuará. A questão é: o que os novos experimentos de liberdade e democracia podem ensinar ao mundo, através da próxima década.
Antônio Negri, militante e filósofo italiano, escreveu junto de Michael Hardt, professor de literatura norte-americano, Império (2001), considerado o primeiro manifesto político do novo milênio, bem como suas seqüências Multidão (2005) e Commonwealth (2009).
Fonte: http://www.outraspalavras.net
Fórum Social Mundial, Egito e a transformação - por Immanuel Wallerstein
Fórum Social Mundial, Egito e a transformação
O debate em torno do tema de uma crise civilizatória tem grandes implicações para o tipo de ação política que se defende e quanto ao papel que os partidos de esquerda em busca do poder do Estado desempenhariam na transformação do mundo que está em discussão. Isso não será resolvido com facilidade, mas é um debate crucial desta década. Se a esquerda não conseguir resolver suas diferenças sobre esse assunto crucial, então o colapso da economia e do mundo capitalista poderia conduzir ao triunfo da direita mundial e à construção de um sistema e de um mundo piores dos que existem agora.
Immanuel Wallerstein – La Jornada
O Fórum Social Mundial (FSM) está vivo e bem. Acaba de se reunir em Dakar, Senegal, de 6 a 11 de fevereiro. Por uma coincidência imprevisível, essa foi a semana na qual o povo do Egito conseguiu derrubar Hosni Mubarak, o que finalmente ocorreu enquanto o FSM celebrava sua sessão de encerramento. O FSM passou a semana aplaudindo os egípcios e debatendo o significado das revoluções na Tunísia e Egito pelo que contém de transformação, por almejar outro mundo que é possível. Disse possível, não determinado.
Entre 60 e 100 mil pessoas participaram do Fórum, o que em si mesmo é uma cifra notável. Para realizar um evento assim, o FSM requer movimentos sociais fortes (que existem no Senegal) e um governo que ao menos tolere as sessões do evento. O governo senegalês de Abdoulaye Wade dispôs-se a tolerar a celebração do FSM, embora tenha há poucos meses de sua realização cortado a assistência financeira que havia prometido, retirando três quartas partes dela.
Mas logo vieram os levantes tunisiano e egípcio e o governo teve. Que tal se a presença do FSM inspirasse um levante semelhante no Senegal? O governo não podia cancelar o evento, não com a presença de Lula, do Brasil, de Evo Morales, da Bolívia, e de numerosos presidentes africanos. Assim, limitou-se a fazer o que pôde para sabotar o fórum. Demitiu o reitor da principal universidade onde ia ser realizado o evento há quatro dias da abertura e nomeou um novo reitor que, de imediato, reverteu a decisão do antigo reitor de suspender as aulas durante o FSM para que houvesse salas disponíveis para as atividades.
O resultado é que houve um caos organizativo pelo menos nos dois primeiros dias. Ao final, o novo reitor permitiu que se usassem 40 salas das mais de 170 solicitadas. Com imaginação, os organizadores ergueram tendas de campanha por todo o campus universitário e as reuniões ocorreram apesar da sabotagem.
O governo senegalês tinha razão em ter tanto medo do FSM? O próprio FSM debateu qual seria sua relevância para os levantes populares no mundo árabe e em outras partes, protagonizadas por gente que talvez nunca ouviu falar do FSM. A resposta dada pelos participantes do debate reflete a divisão existente entre suas fileiras há algum tempo. Há aqueles que acreditam que 10 anos de reuniões do FSM contribuíram significativamente para solapar a legitimidade da globalização neoliberal e que a mensagem penetrou em todas as partes. Por outro lado, há aqueles que acham que os protestos recentes mostram que a política de transformação está em outros lados e não passa pelo FSM.
Eu mesmo descobri duas coisas surpreendentes da reunião realizada em Dakar. A primeira é que quase ninguém mencionou o Fórum Econômico Mundial em Davos. Quando surgiu, em 2001, o FSM se apresentou como um contraponto ao encontro de Davos. Em 2011, Davos é visto como algo politicamente sem importância pelos participantes do Fórum Social, que simplesmente o ignoraram. A segunda foi o grau em que todos os presentes notaram a interconexão de todos os assuntos que se discutiam. Em 2001, o FSM esteve preocupado primordialmente com as consequências econômicas negativas do neoliberalismo.
Mas em cada uma das reuniões posteriores, o FSM foi agregando outras preocupações: o gênero, o meio ambiente (em particular a mudança climática), o racismo, a saúde, os direitos dos povos indígenas, as lutas trabalhistas, os direitos humanos, o acesso à água, os alimentos e a disponibilidade de energia. E assim, em Dakar, sem importar o tema da sessão, ficaram evidenciadas as conexões com outras preocupações. Esta me parece uma das grandes conquistas do FSM: abraçar mais e mais preocupações e fazer com que todo o mundo veja as profundas interconexões que há entre elas.
Houve, no entanto, uma queixa subjacente ente os participantes. As pessoas disseram, corretamente, que todos sabemos contra o que estamos lutando, mas que deveríamos expressar com mais clareza em favor do que estamos lutando. Assim, poderemos contribuir com a revolução egípcia e com as outras que vão ocorrer em todas as partes.
O problema é que se mantém uma diferença sem resolver entre os que querem outro mundo. Há aqueles que acreditam que o mundo precisa de mais desenvolvimento, mais modernização e, portanto, uma distribuição de recursos mais equitativa. E há outros que consideram que o desenvolvimento e a modernização são a maldição civilizatória do capitalismo e que temos que repensar as premissas culturais básicas para um mundo futuro, algo que chamam de “mudança civilizatória”.
Aqueles que defendem uma mudança civilizatória o fazem sob vários tipos de guarda chuvas. Os movimentos indígenas do continente americano (e de outras partes) dizem que querem um mundo baseado no que os latino-americanos chamam “bem viver”; essencialmente um mundo baseado em bons valores, que exige baixar a velocidade do crescimento econômico ilimitado que, dizem, um planeta tão pequeno não pode sustentar.
Se os movimentos indígenas centram suas demandas em torno da autonomia com o fim de controlar os direitos agrários de suas comunidades, os movimentos urbanos de outras partes do mundo enfatizam modos pelos quais o crescimento ilimitado está conduzindo ao desastre climático e a novas pandemias. E há os movimentos feministas que destacam o vínculo entre as demandas de crescimento ilimitado e a manutenção do patriarcado.
Esse debate em torno do tema de uma crise civilizatória tem grandes implicações para o tipo de ação política que se defende e quanto ao papel que os partidos de esquerda em busca do poder do Estado desempenhariam na transformação do mundo que está em discussão. Isso não será resolvido com facilidade, mas é um debate crucial desta década. Se a esquerda não conseguir resolver suas diferenças sobre esse assunto crucial, então o colapso da economia e do mundo capitalista poderia conduzir ao triunfo da direita mundial e à construção de um sistema e de um mundo piores dos que existem agora.
Até o momento, todos os olhos estão direcionados para o mundo árabe e no grau em que os heroicos esforços do povo egípcio poderão transformar a política em todo o mundo árabe. Mas as brasas para tais levantes existem em todas as partes, inclusive nas regiões mais ricas do mundo. No momento, estamos justificados a ser semi-otimistas.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Fonte: Carta Maior
O debate em torno do tema de uma crise civilizatória tem grandes implicações para o tipo de ação política que se defende e quanto ao papel que os partidos de esquerda em busca do poder do Estado desempenhariam na transformação do mundo que está em discussão. Isso não será resolvido com facilidade, mas é um debate crucial desta década. Se a esquerda não conseguir resolver suas diferenças sobre esse assunto crucial, então o colapso da economia e do mundo capitalista poderia conduzir ao triunfo da direita mundial e à construção de um sistema e de um mundo piores dos que existem agora.
Immanuel Wallerstein – La Jornada
O Fórum Social Mundial (FSM) está vivo e bem. Acaba de se reunir em Dakar, Senegal, de 6 a 11 de fevereiro. Por uma coincidência imprevisível, essa foi a semana na qual o povo do Egito conseguiu derrubar Hosni Mubarak, o que finalmente ocorreu enquanto o FSM celebrava sua sessão de encerramento. O FSM passou a semana aplaudindo os egípcios e debatendo o significado das revoluções na Tunísia e Egito pelo que contém de transformação, por almejar outro mundo que é possível. Disse possível, não determinado.
Entre 60 e 100 mil pessoas participaram do Fórum, o que em si mesmo é uma cifra notável. Para realizar um evento assim, o FSM requer movimentos sociais fortes (que existem no Senegal) e um governo que ao menos tolere as sessões do evento. O governo senegalês de Abdoulaye Wade dispôs-se a tolerar a celebração do FSM, embora tenha há poucos meses de sua realização cortado a assistência financeira que havia prometido, retirando três quartas partes dela.
Mas logo vieram os levantes tunisiano e egípcio e o governo teve. Que tal se a presença do FSM inspirasse um levante semelhante no Senegal? O governo não podia cancelar o evento, não com a presença de Lula, do Brasil, de Evo Morales, da Bolívia, e de numerosos presidentes africanos. Assim, limitou-se a fazer o que pôde para sabotar o fórum. Demitiu o reitor da principal universidade onde ia ser realizado o evento há quatro dias da abertura e nomeou um novo reitor que, de imediato, reverteu a decisão do antigo reitor de suspender as aulas durante o FSM para que houvesse salas disponíveis para as atividades.
O resultado é que houve um caos organizativo pelo menos nos dois primeiros dias. Ao final, o novo reitor permitiu que se usassem 40 salas das mais de 170 solicitadas. Com imaginação, os organizadores ergueram tendas de campanha por todo o campus universitário e as reuniões ocorreram apesar da sabotagem.
O governo senegalês tinha razão em ter tanto medo do FSM? O próprio FSM debateu qual seria sua relevância para os levantes populares no mundo árabe e em outras partes, protagonizadas por gente que talvez nunca ouviu falar do FSM. A resposta dada pelos participantes do debate reflete a divisão existente entre suas fileiras há algum tempo. Há aqueles que acreditam que 10 anos de reuniões do FSM contribuíram significativamente para solapar a legitimidade da globalização neoliberal e que a mensagem penetrou em todas as partes. Por outro lado, há aqueles que acham que os protestos recentes mostram que a política de transformação está em outros lados e não passa pelo FSM.
Eu mesmo descobri duas coisas surpreendentes da reunião realizada em Dakar. A primeira é que quase ninguém mencionou o Fórum Econômico Mundial em Davos. Quando surgiu, em 2001, o FSM se apresentou como um contraponto ao encontro de Davos. Em 2011, Davos é visto como algo politicamente sem importância pelos participantes do Fórum Social, que simplesmente o ignoraram. A segunda foi o grau em que todos os presentes notaram a interconexão de todos os assuntos que se discutiam. Em 2001, o FSM esteve preocupado primordialmente com as consequências econômicas negativas do neoliberalismo.
Mas em cada uma das reuniões posteriores, o FSM foi agregando outras preocupações: o gênero, o meio ambiente (em particular a mudança climática), o racismo, a saúde, os direitos dos povos indígenas, as lutas trabalhistas, os direitos humanos, o acesso à água, os alimentos e a disponibilidade de energia. E assim, em Dakar, sem importar o tema da sessão, ficaram evidenciadas as conexões com outras preocupações. Esta me parece uma das grandes conquistas do FSM: abraçar mais e mais preocupações e fazer com que todo o mundo veja as profundas interconexões que há entre elas.
Houve, no entanto, uma queixa subjacente ente os participantes. As pessoas disseram, corretamente, que todos sabemos contra o que estamos lutando, mas que deveríamos expressar com mais clareza em favor do que estamos lutando. Assim, poderemos contribuir com a revolução egípcia e com as outras que vão ocorrer em todas as partes.
O problema é que se mantém uma diferença sem resolver entre os que querem outro mundo. Há aqueles que acreditam que o mundo precisa de mais desenvolvimento, mais modernização e, portanto, uma distribuição de recursos mais equitativa. E há outros que consideram que o desenvolvimento e a modernização são a maldição civilizatória do capitalismo e que temos que repensar as premissas culturais básicas para um mundo futuro, algo que chamam de “mudança civilizatória”.
Aqueles que defendem uma mudança civilizatória o fazem sob vários tipos de guarda chuvas. Os movimentos indígenas do continente americano (e de outras partes) dizem que querem um mundo baseado no que os latino-americanos chamam “bem viver”; essencialmente um mundo baseado em bons valores, que exige baixar a velocidade do crescimento econômico ilimitado que, dizem, um planeta tão pequeno não pode sustentar.
Se os movimentos indígenas centram suas demandas em torno da autonomia com o fim de controlar os direitos agrários de suas comunidades, os movimentos urbanos de outras partes do mundo enfatizam modos pelos quais o crescimento ilimitado está conduzindo ao desastre climático e a novas pandemias. E há os movimentos feministas que destacam o vínculo entre as demandas de crescimento ilimitado e a manutenção do patriarcado.
Esse debate em torno do tema de uma crise civilizatória tem grandes implicações para o tipo de ação política que se defende e quanto ao papel que os partidos de esquerda em busca do poder do Estado desempenhariam na transformação do mundo que está em discussão. Isso não será resolvido com facilidade, mas é um debate crucial desta década. Se a esquerda não conseguir resolver suas diferenças sobre esse assunto crucial, então o colapso da economia e do mundo capitalista poderia conduzir ao triunfo da direita mundial e à construção de um sistema e de um mundo piores dos que existem agora.
Até o momento, todos os olhos estão direcionados para o mundo árabe e no grau em que os heroicos esforços do povo egípcio poderão transformar a política em todo o mundo árabe. Mas as brasas para tais levantes existem em todas as partes, inclusive nas regiões mais ricas do mundo. No momento, estamos justificados a ser semi-otimistas.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Fonte: Carta Maior
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
“Como mudar o mundo” Eric Hobsbawn - por Terry Eagleton
"Como muda o mundo"Resenha de Hobsbawm, Eric; Como mudar o mundo: Marx e o marxismo 1840-2011 (How to change the world: Marx and Marxism 1840-2011), 2011: Little Brown, 470 pp.
Por Terry Eagleton, do London Review of Books | Tradução: Coletivo VilaVudu
Em 1976, muita gente no ocidente pensava que o marxismo era ideia a favor da qual se podia facilmente argumentar. Em 1986, a maioria das mesmas pessoas já não pensavam como antes. O que aconteceu nesse entretempo? Estarão todos aqueles marxistas enterrados sob uma pilha de filhos engatinhantes? Todo o marxismo terá sido desmascarado, com seus vícios expostos por novas pesquisas revolucionárias fortes? Terá alguém tropeçado em manuscrito perdido, no qual Marx confessou que era tudo mentira, piadinha?
Estamos falando, atenção, sobre 1986, poucos anos antes do colapso do bloco soviético. Como Eric Hobsbawm lembra nessa coleção de ensaios, não foi o colapso do bloco soviético que levou tantos crentes tão fiéis a mandar para a lixeira os cartazes de Guevara. O marxismo já estava em pandarecos desde alguns anos antes de o muro de Berlim vir abaixo. Uma das razões da debacle foi que o tradicional agente das revoluções marxistas, a classe trabalhadora, havia sido varrida do mundo por mudanças do sistema capitalista – ou, pelo menos, já não era maioria significativa. É verdade que o proletariado industrial encolheu muito, mas Marx jamais disse que a classe trabalhadora fosse composta só de proletários da indústria.
Em Das Kapital, os trabalhadores do comércio aparecem no mesmo nível que os trabalhadores da indústria. Marx também sabia muito bem que o maior, e muito maior, grupo de trabalhadores assalariados de seu tempo não eram os trabalhadores da indústria, mas os empregados domésticos, a maioria dos quais eram mulheres. Marx e seus discípulos jamais supuseram que alguma classe trabalhadora pudesse avançar sozinha, sem construir alianças com outros grupos oprimidos. E, embora o proletariado industrial devesse ter papel de liderança, nada permite supor que Marx supusesse que tivesse de ser maioria, para desempenhar seu papel.
Mas, sim, algo aconteceu, sim, entre 1976 e 1986. Acossada por uma crise de lucros, a produção de massa à moda antiga deu lugar a produção em menor escala, mais versátil, descentralizada e pós-industrial, a uma cultura ‘pós-industrial’ de consumo, de tecnologia da informação e da indústria de serviços. A terceirização e a globalização viraram a nova ordem do dia. Mas isso não implicou mudança essencial no sistema; só levou a geração de 1968 a trocar Gramsci e Marcuse por Said e Spivak. Ao contrário, o sistema estava então mais poderoso que nunca, com a riqueza ainda mais concentrada em poucas mãos e as desigualdades de classe crescendo rápidas. Foi isso, ironicamente, que fez disparar as esquerdas em busca da saída mais próxima.
As ideias radicais degradadas, oferecidas como mudança radical, pareciam cada vez mais implausíveis. A única figura pública que denunciou o capitalismo nos últimos 25 anos, diz Hobsbawm, foi o Papa João Paulo II. Duas ou três décadas depois, os covardes e fracos de coração assistiram à glória de um sistema tão exultante e impregnável, que só precisava cuidar de manter abertas as caixas de autoatendimento dos bancos em todas as ruas e esquinas.
Eric Hobsbawm, que nasceu no ano da Revolução Bolchevique, permanece amplamente comprometido com o campo marxista – fato que se deve destacar, porque é fácil ler seu livro sem se aperceber desse compromisso. Isso, pela consistência do saber do autor, não porque salte de galho em galho. O autor conviveu com tantas das turbulências históricas sobre as quais discorre, que é fácil fantasiar que a própria história falaria nessas páginas – efeito da sabedoria enxuta, que tudo vê, desapaixonada. Difícil pensar em outro crítico do marxismo, assim tão competente para refletir sobre as próprias crenças com tanta honestidade e equilíbrio.
Hobsbawm, é claro, não tem a onisciência do Espírito Absoluto hegeliano, apesar do saber cosmopolita e enciclopédico. Como muitos historiadores, não é muito afiado no campo das ideias e erra ao sugerir que os discípulos de Louis Althusser trataram O Capital de Marx como se fosse, basicamente, trabalho de epistemologia. Nem o Espírito de Hegel trataria o feminismo, sequer o feminismo marxista, com tão gélida indiferença, ou dedicaria só rápidas notas laterais a uma das mais férteis correntes do marxismo moderno – o trotskismo. Hobsbawm também pensa que Gramsci seja o mais original pensador que o ocidente produziu desde 1917. Talvez queira dizer o mais original pensador marxista, mas nem isso está absolutamente claro. Walter Benjamin, com certeza, seria candidato mais bem qualificado para esse trono.
Mas fato é que até os mais eruditos estudiosos de marxismo têm muito a aprender nesses ensaios. É parte, por exemplo, do fundo de comércio do materialismo histórico que Marx esgrimiu com decisão contra os vários socialistas utópicos que o cercavam. (Um deles acreditava que, no mundo ideal, o mar viraria limonada. Marx, sem dúvida, preferiria Riesling.) Hobsbawm, ao contrário, insiste em que Marx teria dívida substancial com esses pensadores, que iam “dos penetrantemente visionários, até os psiquicamente perturbados”. Fala claramente do caráter fragmentário dos escritos políticos de Marx, e insiste, acertadamente, em que a palavra “ditadura”, na expressão “ditadura do proletariado”, que Marx usou para descrever a Comuna de Paris, tem significado absolutamente diferente do que hoje se conhece. A revolução deveria ser vista não simplesmente como repentina transferência do poder, mas como prelúdio de longo, complexo, imprevisível período de transição. Dos últimos anos da década dos 1850 em diante, Marx já não considerava nem iminente nem provável qualquer repentina tomada do poder. Por mais que tenha elogiado entusiasticamente a Comuna de Paris, Marx pouco esperava dela. Nem a ideia de revolução seria simploriamente oposta à ideia de reforma, da qual Marx foi defensor persistente.
Como Hobsbawm poderia ter acrescentado, houve revoluções praticamente sem derramamento de sangue, e alguns espetacularmente sanguinolentos processos de reforma social.
No absorvente ensaio sobre A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra de Engels, o livro é apresentado como o primeiro estudo de todos os tempos sobre como lidar com toda a classe trabalhadora, não só com específicos setores das indústrias. Na opinião de Hobsbawm, a análise que ali se fez do impacto social do capitalismo ainda não foi superada, em vários aspectos. O livro não pinta seu objeto com cores suaves: a ideia de que todos os trabalhadores fossem famintos ou vivessem em miséria absoluta, ou que jamais ultrapassariam a linha da sobrevivência, não tem qualquer fundamento. Tampouco tem fundamento a burguesia que lá se vê, apresentada como bando de vilões de coração de pedra. Como tantas vezes acontece, cada um só vê o que já conhece: Engels, ele próprio, era filho de uma rico industrial alemão proprietário de uma fábrica de tecidos em Salford, e usava seus mal-havidos lucros para ajudar a alimentar, vestir e dar teto à família Marx — essa, sim, sempre à beira da miséria. Engels gostava de caçar raposas; herói de dois mundos, do proletariado e dos colonizadores irlandeses, sabia unir teoria e prática e amou apaixonadamente sua amante irlandesa da classe operária.
Marx antevia como inevitável a vitória do socialismo? Sim, como se lê no Manifesto Comunista, que Hobsbawm não concorda que seja documento determinista. Isso, em parte, porque Hobsbawm não discute o tipo de inevitabilidade que estaria em questão. Marx escreve às vezes como se as tendências históricas fossem forças da natureza e operassem como as leis naturais; mas, ainda assim, nada explica por que, depois do capitalismo, viria o socialismo, como resultado lógico.
Se o socialismo é historicamente predeterminado, por que tanto empenho na luta política? A explicação está em que Marx esperava que o capitalismo se tornasse cada vez mais explorador; e que a classe trabalhadora cresceria muito, em poder, em números e em experiência acumulada. Nesse quadro, os homens e mulheres trabalhadores, satisfatoriamente racionais, rapidamente encontrariam todos os motivos necessários para levantar-se contra seus opressores. Mais ou menos como, para os cristãos, o livre arbítrio que rege as ações humanas é parte de um plano preordenado por Deus, assim também, para Marx, o acirramento das contradições do capitalismo forçaria os homens e mulheres a, livremente, decidirem dar cabo dele. A ação humana consciente traria a revolução. O paradoxo está em que a ação livre consciente é, em certo sentido, predeterminada como em escrituras.
A verdade é que não se pode falar sobre o que homens e mulheres livres seriam obrigados a fazer em dadas circunstâncias, porque, se são obrigados a fazer, seja o que for, não são livres. É possível que o capitalismo esteja nas últimas, à beira da ruína, mas nada assegura que, depois dele, venha algum socialismo. Pode vir algum fascismo, ou a barbárie.
Hobsbawm nos lembra uma frase curta mas muito significativa do Manifesto Comunista pela qual, universalmente, todos os especialistas sempre passam apressados: o capitalismo, escreve Marx sinistramente, pode terminar “na ruína comum das classes concorrentes”. Não se deve descartar a possibilidade de que o único socialismo que talvez venhamos a conhecer seja o que nos for imposto por circunstâncias materiais, depois de uma catástrofe nuclear ou ecológica.
Como outros crentes do progresso infinito no século 19, Marx não considera a possibilidade de o engenho humano avançar tanto no campo da tecnologia, que acabe por se autodetonar. Aí está uma das várias vias pelas quais se pode demonstrar que o socialismo não é historicamente inevitável, como, de fato, nada é. Marx não viveu o suficiente para ver como a democracia social consegue subornar qualquer paixão revolucionária.
Poucos trabalhos mereceram tantos elogios das classes médias, com tanto embaraçoso fervor, quanto O Manifesto Comunista. Do ponto de vista de Marx, as classes médias foram, de longe, a força mais revolucionária na história humana, e sem seu empenho na luta pelos próprios objetivos e a riqueza espiritual que acumularam, o socialismo fracassaria. Esse, desnecessário dizer, foi dos mais agudos e certeiros prognósticos de Marx.
O socialismo no século 20 tornou-se mais necessário precisamente onde era menos possível: em regiões atrasadas do mundo, socialmente devastadas, politicamente obscurantistas, economicamente estagnadas, onde nenhum pensador marxista apareceu antes que Stalin sequer sonhasse em ali deitar raízes. Ou, pelo menos, tentar deitar raízes com o socorro massivo de nações azeitadas. Nessas condições terríveis, o projeto socialista está destinado a converter-se em monstruosa paródia dele mesmo.
Assim também, a ideia de que o marxismo leva inevitavelmente a essas monstruosidades, como Hobsbawm observa, “é tão racional e justificável quanto a tese de que o cristianismo levará necessariamente ao absolutismo papal; ou que todo o darwinismo levará à glorificação do livre mercado”. (Hobsbawm não considera a possibilidade de o darwinismo levar ao absolutismo papal – que bem se aplica, como descrição racional, a Richard Dawkins.)
Hobsbawm, contudo, lembra também que Marx foi, de fato, generoso demais com a burguesia, vício do qual não é muito frequentemente acusado. No momento em que surgiu o Manifesto Comunista, os sucessos econômicos eram muito mais modestos do que Marx imaginava. Numa curiosa arquitetura de tempos, o Manifesto descreveu, não o mundo que o capitalismo havia criado em 1848, mas o mundo que haveria depois de transformado, como era seu destino, pelo capitalismo. O que Marx tinha a dizer não era exatamente verdade, mas viria a ser verdade, digamos, à altura do ano 2000, resultado da transformação operada pelo capitalismo.
Até os comentários sobre a abolição da família foram proféticos: mais da metade das crianças nos países ocidentais avançados nascem hoje, ou são criadas, por mães solteiras; e metade de todas as moradias nas grandes cidades são ocupadas por um só morador.
O ensaio de Hobsbawm sobre o Manifesto comenta “a eloquência obscura, lacônica” e nota que, como retórica política “tem força quase bíblica”. “O novo leitor”, escreve ele, “dificilmente deixará de ser fascinado pela convicção apaixonada, pela brevidade concentrada, pela força intelectual e estilística desse extraordinário panfleto.” O Manifesto inaugurou um novo gênero, um tipo de declaração política do qual se serviram artistas como os Futuristas e os Surrealistas, cuja redação e vocabulário audaciosos e as hipérboles de escândalo fizeram, dos próprios manifestos, obras de arte.
O gênero literário “manifesto” é uma mistura de teoria e retórica, de fato e ficção, programático e performativo, que ainda não foi tomado seriamente como objeto de estudo.
Marx, ele próprio, também foi artista. Pouco se fala sobre o quanto era extraordinariamente estudado e culto e o quanto investiu, de aplicado trabalho, no estilo literário de seus escritos. Ansiava por livrar-se do “lixo econômico” de Das Kapital, para poder dedicar-se integralmente ao seu grande livro sobre Balzac.
O marxismo trata de lazer, não de trabalho. É projeto que deve ser apoiado por todos que detestam ter de trabalhar. O marxismo afirma que as mais preciosas atividades são feitas “porque sim e deixe-me em paz”[1], e que a arte é, nesse sentido, o paradigma da autêntica atividade humana. O marxismo diz também que os recursos materiais que tornariam possível a sociedade onde seria possível essa vida humana já existem em princípio, mas são geridos de tal modo que a maioria é obrigada a trabalhar tão duro quanto trabalhavam nossos ancestrais no Neolítico. Fizemos, pois, extraordinários progressos e, ao mesmo tempo, progresso nenhum.
Nos anos 1840, argumenta Hobsbawm, não era de modo algum improvável concluir que a sociedade estivesse às portas da revolução. Improvável, isso sim, seria a ideia de que, em meia dúzia de décadas a política da Europa capitalista estaria transformada pela ascensão de partidos e movimentos das classes trabalhadoras. Pois foi o que aconteceu.
E foi nesse momento que a discussão sobre Marx, pelo menos na Grã-Bretanha, passou, de admiração cheia de cautelas, a, praticamente, histeria.
Em 1885, Balfour – e ninguém menos revolucionário que Balfour – comentou os escritos de Marx, elogiando a força intelectual e o brilho do raciocínio econômico. Muitos comentaristas liberais e conservadores levaram realmente muito a sério aquelas ideias econômicas. Quando as mesmas ideias assumiram a forma de força política, porém, começaram a aparecer os primeiros trabalhos ferozmente antimarxistas. A apoteose foi a espantosíssima revelação, por Hugh Trevor-Roper, de que Marx não trazia qualquer contribuição original à história das ideias.
A maioria desses críticos, aposto, teriam rejeitado a ideia marxista de que o pensamento humano é muitas vezes modelado, curvado, pela pressão de interesses políticos, fenômeno que atende quase sempre pelo nome de “ideologia”.
Só recentemente o marxismo voltou à agenda planetária, ali metido, ironicamente, por um capitalismo agonizante. “Capitalismo em Convulsão” – em manchete do Financial Times em Londres, em 2008. Quando os capitalistas começam a falar sobre o capitalismo, aposte: o sistema está em estado crítico. Nos EUA, nenhum jornal (e nenhum capitalista), até agora, se atreveu tanto.
Há muito mais a admirar em How to Change the World. Numa passagem sugestiva sobre William Morris, o livro mostra que era lógico que brotasse em Londres uma crítica baseada nas artes e nos artesanatos, do capitalismo; em Londres, onde o capitalismo industrial avançado impunha ameaça mortal a todas as artes e artesanatos. Um capítulo sobre os anos 1930 traz fascinante relato das relações entre o marxismo e a ciência – e foi o único período, Hobsbawm anota, em que os cientistas naturais deixaram-se atrair em números significativos, pelo marxismo. Aparecia no horizonte a ameaça de um fascismo irracionalista; e os traços “iluministas” do credo marxista – a fé na razão, na ciência, no progresso humano e no planejamento social – atraíram homens como Joseph Needham e J.D. Bernal. Durante o renascimento histórico seguinte do marxismo, nos anos 1960 e 1970, essa versão do materialismo histórico seria deslocada pelos parâmetros mais culturais e filosóficos do chamado Marxismo Ocidental. De fato, a ciência, a razão, o progresso e o planejamento já eram então mais inimigos que aliados, em guerra contra novos cultos libertários, do desejo e da espontaneidade. Hobsbawm mostra, no máximo, uma simpatia ilustrada pelo pessoal de 1968, o que não surpreende, em membro eterno do Partido Comunista. A idealização, naqueles anos, da Revolução Cultural na China, ele sugere, com bastante razão, teria tanto a ver com a China quanto o culto do “bon sauvage”, no século 18, teria a ver com o Tahiti.
“Se algum pensador deixou marca que ainda se vê no século 20”, diz Hobsbawm, “foi Marx”. Setenta anos depois da morte de Marx, para o bem ou para o mal, um terço da humanidade vivia sob regimes políticos inspirados por seu pensamento. Bem mais de 20% continuam a viver. O socialismo foi descrito como o maior movimento de reforma da história da humanidade. Poucos intelectuais mudaram o mundo, de modo tão objetivo e prático. É coisa que se diz, mais, de estadistas, cientistas e generais, não de filósofos ou teóricos da política. Freud pode ter mudado a vida de muita gente, mas não se sabe que tenha mudado governos.
“Os únicos pensadores individualmente identificáveis que alcançaram status comparável” – escreve Hobsbawm – “são os fundadores das grandes religiões do passado; e, com a única possível exceção de Maomé, nenhum deles triunfou nem tão rapidamente, nem em escala comparável”. Mas poucos, como Hobsbawm destaca, previram que seriam tão célebres também pela miséria extrema ou pelo exílio de judeu atormentado por furúnculos, homem que observou um dia, falando de si próprio, que ninguém jamais escrevera tanto sobre dinheiro, nem vivera com menos dinheiro, que ele.
Vários dos ensaios reunidos nesse livro já foram publicado, mas dois terços deles eram inéditos em inglês. Os que não leiam italiano podem, agora, ler vários importantes ensaios de Hobsbawm editados primeiro naquela língua, entre os quais três importantes revisões da história do marxismo, de 1880 a 1983. Bastariam esses ensaios, para tornar valiosíssimo o novo volume, mas há mais, sobre o socialismo pré-Marx, Marx sobre as formações pré-capitalistas, Gramsci, Marx e o trabalhismo, que ampliam consideravelmente o âmbito da nova seleção.
How to Change the World é o trabalho de um homem que chegou a idade em que a maioria de nós dar-se-á por feliz se conseguir sair sozinho do fundo da poltrona, sem precisar de duas enfermeiras e um guindaste, mestre também da pesquisa histórica. Não será, com absoluta certeza, o último trabalho desse espírito indomável.
[1] Orig. “the most precious activities are those done simply for the hell of it”. Tradução impossível, sem perder o que o autor escreveu. Mais uma tradução tentativa precária. Há outras. (NTs)
Fonte: http://www.outraspalavras.net/
Por Terry Eagleton, do London Review of Books | Tradução: Coletivo VilaVudu
Em 1976, muita gente no ocidente pensava que o marxismo era ideia a favor da qual se podia facilmente argumentar. Em 1986, a maioria das mesmas pessoas já não pensavam como antes. O que aconteceu nesse entretempo? Estarão todos aqueles marxistas enterrados sob uma pilha de filhos engatinhantes? Todo o marxismo terá sido desmascarado, com seus vícios expostos por novas pesquisas revolucionárias fortes? Terá alguém tropeçado em manuscrito perdido, no qual Marx confessou que era tudo mentira, piadinha?
Estamos falando, atenção, sobre 1986, poucos anos antes do colapso do bloco soviético. Como Eric Hobsbawm lembra nessa coleção de ensaios, não foi o colapso do bloco soviético que levou tantos crentes tão fiéis a mandar para a lixeira os cartazes de Guevara. O marxismo já estava em pandarecos desde alguns anos antes de o muro de Berlim vir abaixo. Uma das razões da debacle foi que o tradicional agente das revoluções marxistas, a classe trabalhadora, havia sido varrida do mundo por mudanças do sistema capitalista – ou, pelo menos, já não era maioria significativa. É verdade que o proletariado industrial encolheu muito, mas Marx jamais disse que a classe trabalhadora fosse composta só de proletários da indústria.
Em Das Kapital, os trabalhadores do comércio aparecem no mesmo nível que os trabalhadores da indústria. Marx também sabia muito bem que o maior, e muito maior, grupo de trabalhadores assalariados de seu tempo não eram os trabalhadores da indústria, mas os empregados domésticos, a maioria dos quais eram mulheres. Marx e seus discípulos jamais supuseram que alguma classe trabalhadora pudesse avançar sozinha, sem construir alianças com outros grupos oprimidos. E, embora o proletariado industrial devesse ter papel de liderança, nada permite supor que Marx supusesse que tivesse de ser maioria, para desempenhar seu papel.
Mas, sim, algo aconteceu, sim, entre 1976 e 1986. Acossada por uma crise de lucros, a produção de massa à moda antiga deu lugar a produção em menor escala, mais versátil, descentralizada e pós-industrial, a uma cultura ‘pós-industrial’ de consumo, de tecnologia da informação e da indústria de serviços. A terceirização e a globalização viraram a nova ordem do dia. Mas isso não implicou mudança essencial no sistema; só levou a geração de 1968 a trocar Gramsci e Marcuse por Said e Spivak. Ao contrário, o sistema estava então mais poderoso que nunca, com a riqueza ainda mais concentrada em poucas mãos e as desigualdades de classe crescendo rápidas. Foi isso, ironicamente, que fez disparar as esquerdas em busca da saída mais próxima.
As ideias radicais degradadas, oferecidas como mudança radical, pareciam cada vez mais implausíveis. A única figura pública que denunciou o capitalismo nos últimos 25 anos, diz Hobsbawm, foi o Papa João Paulo II. Duas ou três décadas depois, os covardes e fracos de coração assistiram à glória de um sistema tão exultante e impregnável, que só precisava cuidar de manter abertas as caixas de autoatendimento dos bancos em todas as ruas e esquinas.
Eric Hobsbawm, que nasceu no ano da Revolução Bolchevique, permanece amplamente comprometido com o campo marxista – fato que se deve destacar, porque é fácil ler seu livro sem se aperceber desse compromisso. Isso, pela consistência do saber do autor, não porque salte de galho em galho. O autor conviveu com tantas das turbulências históricas sobre as quais discorre, que é fácil fantasiar que a própria história falaria nessas páginas – efeito da sabedoria enxuta, que tudo vê, desapaixonada. Difícil pensar em outro crítico do marxismo, assim tão competente para refletir sobre as próprias crenças com tanta honestidade e equilíbrio.
Hobsbawm, é claro, não tem a onisciência do Espírito Absoluto hegeliano, apesar do saber cosmopolita e enciclopédico. Como muitos historiadores, não é muito afiado no campo das ideias e erra ao sugerir que os discípulos de Louis Althusser trataram O Capital de Marx como se fosse, basicamente, trabalho de epistemologia. Nem o Espírito de Hegel trataria o feminismo, sequer o feminismo marxista, com tão gélida indiferença, ou dedicaria só rápidas notas laterais a uma das mais férteis correntes do marxismo moderno – o trotskismo. Hobsbawm também pensa que Gramsci seja o mais original pensador que o ocidente produziu desde 1917. Talvez queira dizer o mais original pensador marxista, mas nem isso está absolutamente claro. Walter Benjamin, com certeza, seria candidato mais bem qualificado para esse trono.
Mas fato é que até os mais eruditos estudiosos de marxismo têm muito a aprender nesses ensaios. É parte, por exemplo, do fundo de comércio do materialismo histórico que Marx esgrimiu com decisão contra os vários socialistas utópicos que o cercavam. (Um deles acreditava que, no mundo ideal, o mar viraria limonada. Marx, sem dúvida, preferiria Riesling.) Hobsbawm, ao contrário, insiste em que Marx teria dívida substancial com esses pensadores, que iam “dos penetrantemente visionários, até os psiquicamente perturbados”. Fala claramente do caráter fragmentário dos escritos políticos de Marx, e insiste, acertadamente, em que a palavra “ditadura”, na expressão “ditadura do proletariado”, que Marx usou para descrever a Comuna de Paris, tem significado absolutamente diferente do que hoje se conhece. A revolução deveria ser vista não simplesmente como repentina transferência do poder, mas como prelúdio de longo, complexo, imprevisível período de transição. Dos últimos anos da década dos 1850 em diante, Marx já não considerava nem iminente nem provável qualquer repentina tomada do poder. Por mais que tenha elogiado entusiasticamente a Comuna de Paris, Marx pouco esperava dela. Nem a ideia de revolução seria simploriamente oposta à ideia de reforma, da qual Marx foi defensor persistente.
Como Hobsbawm poderia ter acrescentado, houve revoluções praticamente sem derramamento de sangue, e alguns espetacularmente sanguinolentos processos de reforma social.
No absorvente ensaio sobre A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra de Engels, o livro é apresentado como o primeiro estudo de todos os tempos sobre como lidar com toda a classe trabalhadora, não só com específicos setores das indústrias. Na opinião de Hobsbawm, a análise que ali se fez do impacto social do capitalismo ainda não foi superada, em vários aspectos. O livro não pinta seu objeto com cores suaves: a ideia de que todos os trabalhadores fossem famintos ou vivessem em miséria absoluta, ou que jamais ultrapassariam a linha da sobrevivência, não tem qualquer fundamento. Tampouco tem fundamento a burguesia que lá se vê, apresentada como bando de vilões de coração de pedra. Como tantas vezes acontece, cada um só vê o que já conhece: Engels, ele próprio, era filho de uma rico industrial alemão proprietário de uma fábrica de tecidos em Salford, e usava seus mal-havidos lucros para ajudar a alimentar, vestir e dar teto à família Marx — essa, sim, sempre à beira da miséria. Engels gostava de caçar raposas; herói de dois mundos, do proletariado e dos colonizadores irlandeses, sabia unir teoria e prática e amou apaixonadamente sua amante irlandesa da classe operária.
Marx antevia como inevitável a vitória do socialismo? Sim, como se lê no Manifesto Comunista, que Hobsbawm não concorda que seja documento determinista. Isso, em parte, porque Hobsbawm não discute o tipo de inevitabilidade que estaria em questão. Marx escreve às vezes como se as tendências históricas fossem forças da natureza e operassem como as leis naturais; mas, ainda assim, nada explica por que, depois do capitalismo, viria o socialismo, como resultado lógico.
Se o socialismo é historicamente predeterminado, por que tanto empenho na luta política? A explicação está em que Marx esperava que o capitalismo se tornasse cada vez mais explorador; e que a classe trabalhadora cresceria muito, em poder, em números e em experiência acumulada. Nesse quadro, os homens e mulheres trabalhadores, satisfatoriamente racionais, rapidamente encontrariam todos os motivos necessários para levantar-se contra seus opressores. Mais ou menos como, para os cristãos, o livre arbítrio que rege as ações humanas é parte de um plano preordenado por Deus, assim também, para Marx, o acirramento das contradições do capitalismo forçaria os homens e mulheres a, livremente, decidirem dar cabo dele. A ação humana consciente traria a revolução. O paradoxo está em que a ação livre consciente é, em certo sentido, predeterminada como em escrituras.
A verdade é que não se pode falar sobre o que homens e mulheres livres seriam obrigados a fazer em dadas circunstâncias, porque, se são obrigados a fazer, seja o que for, não são livres. É possível que o capitalismo esteja nas últimas, à beira da ruína, mas nada assegura que, depois dele, venha algum socialismo. Pode vir algum fascismo, ou a barbárie.
Hobsbawm nos lembra uma frase curta mas muito significativa do Manifesto Comunista pela qual, universalmente, todos os especialistas sempre passam apressados: o capitalismo, escreve Marx sinistramente, pode terminar “na ruína comum das classes concorrentes”. Não se deve descartar a possibilidade de que o único socialismo que talvez venhamos a conhecer seja o que nos for imposto por circunstâncias materiais, depois de uma catástrofe nuclear ou ecológica.
Como outros crentes do progresso infinito no século 19, Marx não considera a possibilidade de o engenho humano avançar tanto no campo da tecnologia, que acabe por se autodetonar. Aí está uma das várias vias pelas quais se pode demonstrar que o socialismo não é historicamente inevitável, como, de fato, nada é. Marx não viveu o suficiente para ver como a democracia social consegue subornar qualquer paixão revolucionária.
Poucos trabalhos mereceram tantos elogios das classes médias, com tanto embaraçoso fervor, quanto O Manifesto Comunista. Do ponto de vista de Marx, as classes médias foram, de longe, a força mais revolucionária na história humana, e sem seu empenho na luta pelos próprios objetivos e a riqueza espiritual que acumularam, o socialismo fracassaria. Esse, desnecessário dizer, foi dos mais agudos e certeiros prognósticos de Marx.
O socialismo no século 20 tornou-se mais necessário precisamente onde era menos possível: em regiões atrasadas do mundo, socialmente devastadas, politicamente obscurantistas, economicamente estagnadas, onde nenhum pensador marxista apareceu antes que Stalin sequer sonhasse em ali deitar raízes. Ou, pelo menos, tentar deitar raízes com o socorro massivo de nações azeitadas. Nessas condições terríveis, o projeto socialista está destinado a converter-se em monstruosa paródia dele mesmo.
Assim também, a ideia de que o marxismo leva inevitavelmente a essas monstruosidades, como Hobsbawm observa, “é tão racional e justificável quanto a tese de que o cristianismo levará necessariamente ao absolutismo papal; ou que todo o darwinismo levará à glorificação do livre mercado”. (Hobsbawm não considera a possibilidade de o darwinismo levar ao absolutismo papal – que bem se aplica, como descrição racional, a Richard Dawkins.)
Hobsbawm, contudo, lembra também que Marx foi, de fato, generoso demais com a burguesia, vício do qual não é muito frequentemente acusado. No momento em que surgiu o Manifesto Comunista, os sucessos econômicos eram muito mais modestos do que Marx imaginava. Numa curiosa arquitetura de tempos, o Manifesto descreveu, não o mundo que o capitalismo havia criado em 1848, mas o mundo que haveria depois de transformado, como era seu destino, pelo capitalismo. O que Marx tinha a dizer não era exatamente verdade, mas viria a ser verdade, digamos, à altura do ano 2000, resultado da transformação operada pelo capitalismo.
Até os comentários sobre a abolição da família foram proféticos: mais da metade das crianças nos países ocidentais avançados nascem hoje, ou são criadas, por mães solteiras; e metade de todas as moradias nas grandes cidades são ocupadas por um só morador.
O ensaio de Hobsbawm sobre o Manifesto comenta “a eloquência obscura, lacônica” e nota que, como retórica política “tem força quase bíblica”. “O novo leitor”, escreve ele, “dificilmente deixará de ser fascinado pela convicção apaixonada, pela brevidade concentrada, pela força intelectual e estilística desse extraordinário panfleto.” O Manifesto inaugurou um novo gênero, um tipo de declaração política do qual se serviram artistas como os Futuristas e os Surrealistas, cuja redação e vocabulário audaciosos e as hipérboles de escândalo fizeram, dos próprios manifestos, obras de arte.
O gênero literário “manifesto” é uma mistura de teoria e retórica, de fato e ficção, programático e performativo, que ainda não foi tomado seriamente como objeto de estudo.
Marx, ele próprio, também foi artista. Pouco se fala sobre o quanto era extraordinariamente estudado e culto e o quanto investiu, de aplicado trabalho, no estilo literário de seus escritos. Ansiava por livrar-se do “lixo econômico” de Das Kapital, para poder dedicar-se integralmente ao seu grande livro sobre Balzac.
O marxismo trata de lazer, não de trabalho. É projeto que deve ser apoiado por todos que detestam ter de trabalhar. O marxismo afirma que as mais preciosas atividades são feitas “porque sim e deixe-me em paz”[1], e que a arte é, nesse sentido, o paradigma da autêntica atividade humana. O marxismo diz também que os recursos materiais que tornariam possível a sociedade onde seria possível essa vida humana já existem em princípio, mas são geridos de tal modo que a maioria é obrigada a trabalhar tão duro quanto trabalhavam nossos ancestrais no Neolítico. Fizemos, pois, extraordinários progressos e, ao mesmo tempo, progresso nenhum.
Nos anos 1840, argumenta Hobsbawm, não era de modo algum improvável concluir que a sociedade estivesse às portas da revolução. Improvável, isso sim, seria a ideia de que, em meia dúzia de décadas a política da Europa capitalista estaria transformada pela ascensão de partidos e movimentos das classes trabalhadoras. Pois foi o que aconteceu.
E foi nesse momento que a discussão sobre Marx, pelo menos na Grã-Bretanha, passou, de admiração cheia de cautelas, a, praticamente, histeria.
Em 1885, Balfour – e ninguém menos revolucionário que Balfour – comentou os escritos de Marx, elogiando a força intelectual e o brilho do raciocínio econômico. Muitos comentaristas liberais e conservadores levaram realmente muito a sério aquelas ideias econômicas. Quando as mesmas ideias assumiram a forma de força política, porém, começaram a aparecer os primeiros trabalhos ferozmente antimarxistas. A apoteose foi a espantosíssima revelação, por Hugh Trevor-Roper, de que Marx não trazia qualquer contribuição original à história das ideias.
A maioria desses críticos, aposto, teriam rejeitado a ideia marxista de que o pensamento humano é muitas vezes modelado, curvado, pela pressão de interesses políticos, fenômeno que atende quase sempre pelo nome de “ideologia”.
Só recentemente o marxismo voltou à agenda planetária, ali metido, ironicamente, por um capitalismo agonizante. “Capitalismo em Convulsão” – em manchete do Financial Times em Londres, em 2008. Quando os capitalistas começam a falar sobre o capitalismo, aposte: o sistema está em estado crítico. Nos EUA, nenhum jornal (e nenhum capitalista), até agora, se atreveu tanto.
Há muito mais a admirar em How to Change the World. Numa passagem sugestiva sobre William Morris, o livro mostra que era lógico que brotasse em Londres uma crítica baseada nas artes e nos artesanatos, do capitalismo; em Londres, onde o capitalismo industrial avançado impunha ameaça mortal a todas as artes e artesanatos. Um capítulo sobre os anos 1930 traz fascinante relato das relações entre o marxismo e a ciência – e foi o único período, Hobsbawm anota, em que os cientistas naturais deixaram-se atrair em números significativos, pelo marxismo. Aparecia no horizonte a ameaça de um fascismo irracionalista; e os traços “iluministas” do credo marxista – a fé na razão, na ciência, no progresso humano e no planejamento social – atraíram homens como Joseph Needham e J.D. Bernal. Durante o renascimento histórico seguinte do marxismo, nos anos 1960 e 1970, essa versão do materialismo histórico seria deslocada pelos parâmetros mais culturais e filosóficos do chamado Marxismo Ocidental. De fato, a ciência, a razão, o progresso e o planejamento já eram então mais inimigos que aliados, em guerra contra novos cultos libertários, do desejo e da espontaneidade. Hobsbawm mostra, no máximo, uma simpatia ilustrada pelo pessoal de 1968, o que não surpreende, em membro eterno do Partido Comunista. A idealização, naqueles anos, da Revolução Cultural na China, ele sugere, com bastante razão, teria tanto a ver com a China quanto o culto do “bon sauvage”, no século 18, teria a ver com o Tahiti.
“Se algum pensador deixou marca que ainda se vê no século 20”, diz Hobsbawm, “foi Marx”. Setenta anos depois da morte de Marx, para o bem ou para o mal, um terço da humanidade vivia sob regimes políticos inspirados por seu pensamento. Bem mais de 20% continuam a viver. O socialismo foi descrito como o maior movimento de reforma da história da humanidade. Poucos intelectuais mudaram o mundo, de modo tão objetivo e prático. É coisa que se diz, mais, de estadistas, cientistas e generais, não de filósofos ou teóricos da política. Freud pode ter mudado a vida de muita gente, mas não se sabe que tenha mudado governos.
“Os únicos pensadores individualmente identificáveis que alcançaram status comparável” – escreve Hobsbawm – “são os fundadores das grandes religiões do passado; e, com a única possível exceção de Maomé, nenhum deles triunfou nem tão rapidamente, nem em escala comparável”. Mas poucos, como Hobsbawm destaca, previram que seriam tão célebres também pela miséria extrema ou pelo exílio de judeu atormentado por furúnculos, homem que observou um dia, falando de si próprio, que ninguém jamais escrevera tanto sobre dinheiro, nem vivera com menos dinheiro, que ele.
Vários dos ensaios reunidos nesse livro já foram publicado, mas dois terços deles eram inéditos em inglês. Os que não leiam italiano podem, agora, ler vários importantes ensaios de Hobsbawm editados primeiro naquela língua, entre os quais três importantes revisões da história do marxismo, de 1880 a 1983. Bastariam esses ensaios, para tornar valiosíssimo o novo volume, mas há mais, sobre o socialismo pré-Marx, Marx sobre as formações pré-capitalistas, Gramsci, Marx e o trabalhismo, que ampliam consideravelmente o âmbito da nova seleção.
How to Change the World é o trabalho de um homem que chegou a idade em que a maioria de nós dar-se-á por feliz se conseguir sair sozinho do fundo da poltrona, sem precisar de duas enfermeiras e um guindaste, mestre também da pesquisa histórica. Não será, com absoluta certeza, o último trabalho desse espírito indomável.
[1] Orig. “the most precious activities are those done simply for the hell of it”. Tradução impossível, sem perder o que o autor escreveu. Mais uma tradução tentativa precária. Há outras. (NTs)
Fonte: http://www.outraspalavras.net/
Crônica do Segundo Encontro de Libertação Animal na Bolívia - por ANA
Crônica do Segundo Encontro de Libertação Animal na Bolívia[Na Bolívia, neste verão de 2011, entre 20 e 24 de janeiro, aconteceu o Segundo Encontro de Libertação Animal. A seguir uma breve descrição do que foi a jornada.]
Com o objetivo de afiar a filosofia de libertação animal para usá-la como uma ferramenta que ajude a desmantelar o atual sistema de dominação antropocêntrica (capitalista, patriarcal, tecnoindustrial) e não como uma alternativa de consumo “livre de crueldade”, foi realizado o segundo Encontro de Libertação Animal, de 19 a 25 de janeiro, na região de Los Yungas, Bolívia.
Cerca de 200 pessoas de diferentes partes do mundo compartilharam a partir de sua realidade, conceitos, erros, acertos, críticas e diferentes formas de interpretar e exercitar a libertação animal.
A organização do Encontro foi autogerida e horizontal. Algumas reuniões virtuais foram realizadas para tomar decisões pontuais e, conforme as pessoas foram chegando a La Paz, elas foram se envolvendo com diversas tarefas como, por exemplo, o planejamento do cronograma ou as compras de alimentos. Depois de iniciado o Encontro, todos participantes colaboraram com as tarefas cotidianas (limpeza, cozinha etc.) e houve espaço para propor e realizar novas atividades. Decisões, como, por exemplo, a de não utilização de registro fotográfico ou áudio, de segurança, foram tomadas em conjunto entre todos. Outra decisão conjunta foi a de doar o dinheiro que sobrou do Encontro aos presos de Chile e México.
Pouco menos da metade dos custos (comida, aluguel e transporte) foram cobertos por doações realizadas por indivíduos, jantares veganos e jornadas beneficentes, como as realizadas em Barcelona (Espanha) e São Paulo (Brasil).
Somando a totalidade dos gastos, se dividiu pela quantidade de pessoas inscritas, em uma tentativa de fazer restar algum excedente para investir em causas de interesse geral. Portanto, a sugestão de colaboração voluntária por pessoa foi de U$10,00 (10 dólares), o que incluía a alimentação dos 5 dias (4 refeições diárias), aluguel do espaço e transporte de La Paz até o local do Encontro (3h de viagem e difícil acesso). Essa colaboração não era obrigatória e cada pessoa colaborou conforme sua possibilidade.
Sempre levando em consideração os objetivos do Encontro, qualquer pessoa pôde sugerir e responsabilizar-se por uma atividade, sempre e quando expusesse os objetivos e fundamentos. Por este motivo, duas atividades foram negadas; uma de caráter de proteção/bem-estarista/legalista e outra de um grupo religioso. Infelizmente seis pessoas que haviam se comprometido a apresentar atividades não compareceram ao Encontro, quatro delas avisaram com antecedência, o que prejudicou significativamente o cronograma. Independentemente disso, as outras 16 atividades (e mais outras 5 que surgiram durante o Encontro), foram de grande importância e geraram intensos debates e aprendizados. Vale citar a crítica ao reformismo e ao capitalismo verde, bem como a vinculação da libertação animal com a libertação da terra, humana e total, que esteve presente na maioria das propostas.
Sex. 21/9h – Ecologismo Revolucionário X Ambientalismo: O chamado ecocapitalismo, o desenvolvimento sustentável, as políticas verdes, tratados, convênios etc., são somente reformas, que por meio do discurso verde, continuam destruindo grande parte da natureza, animais, plantas, “recursos” com megaprojetos, do progresso e do desenvolvimento capitalista fazendo desaparecer etnias, animais, ecosistemas. É uma guerra silenciosa. Além de uma introdução sobre o tema, o grupo também comentou sobre o avanço do progresso na região ocupada pelo estado boliviano.
Sex. 21/10h45 – Ecologia Descolonizada: Como em muitos lugares se conseguiu conservar uma forma de vida não antropocêntrica, resistindo à colonização e a imposição de novos costumes, políticas e religiões?
Sex. 21/17h – O Sistema Tecnoindustrial e a dominação de nossas vidas: Se vivemos amontoados nas cidades, destruímos os “recursos naturais” do planeta, contaminamos o meio ambiente ou temos uma vida totalmente dominada e vigiada é única e exclusivamente porque o tecnossistema precisa para continuar progressando. O responsável pela apresentação não compareceu, porém um grupo de pessoas decidiu improvisar e seguir com a atividade programada.
Sex. 21/19h – Apresentação do documentário “La Boa Negra” [A Jiboia Preta]: Em 19 de junho de 2010, novamente o rio Marañon (Peru) sofre um derramamento de petróleo. Este documentário não somente mostra o desastre ambiental causado pela extração de hidrocarbonetos na Amazônia Peruana, mas também serve como ponto de partida para criticar o modelo de desenvolvimento industrial. Com a presença dos realizadores do documentário, houve uma conversa informativa muito rica e um debate sobre as realidades destrutivas em lugares onde atuam empresas petroleiras.
Sáb. 22/9h – Mapeamento de grupos de libertação animal no Brasil: Pesquisa que mostra como diferentes grupos abolicionistas no Brasil estão atuando, segundo as características de suas respectivas regiões. O responsável pela apresentação não compareceu, porém um grupo de pessoas decidiu improvisar e seguir com a atividade programada.
Sáb. 22/10h45 – Apresentação do projeto “Red Verde por la Liberacion”: coletivo de La Paz, apresenta sua proposta para coordenar atividades em rede.
Sáb. 22/15h – Espaço de intercâmbio de experiências: Em pequenos grupos, ativistas de diferentes latitudes compartilham suas experiências, acertos, erros, projetos etc.
Dom. 23/10h45 – Apresentação do livro: Liberacion animal: Mas que Palabras: A libertação animal não é uma dieta e com a apresentação do livro se pretende debater sobre os diferentes métodos que podem ser utilizados para consegui-la. O livro espanhol foi reeditado pela editorial argentina Mas Que Palavras, e pode ser encontrado na internet.
Dom. 22/15h – Libertação Animal ou Libertação Total?: São nossas atividades reformistas ou revolucionárias? Após a leitura do conto “O Navio dos Tolos”, realizamos uma reflexão a respeito. O conto foi lido entre todos e houve discussões, numa das quais se criticou o universalismo.
Dom. 22/19h – Repressão e Solidariedade na luta pela libertação animal: Porque existem tantos ativistas presos? Como é possível sermos solidários com eles? Quais são as medidas que devemos tomar? Em uma conversa informativa, presos pela libertação animal e suas causas de todo mundo foram lembrados, assim como a campanha SHAC e formas de como ser solidário.
Seg. 23/9h – Animais não humanos, humanos e máquinas de hierarquização: Quais são os mecanismos que sustentam o especismo? Quais similaridades existem com o sexismo e/ou racismo? Coletivo CALEP de Bogotá apresenta o tema.
Seg. 23/10h45 – Ecofeminismo: Por que será que os animais mais explorados na indústria alimentícia (vacas leiteras e galinhas botadoras) são fêmeas?
Seg. 23/15h - Refletindo sobre o patriarcado: O que é o sistema patriarcal e de que maneira este repercute sobre nossas relações com nós mesmos e o resto da natureza? O tema foi discutido em grupos exclusivos de mulheres, de homens e também mistos.
Fóruns, debates, noturnos e informais: todas as noites, qualquer pessoa poderia sugerir um tema para debate (podendo-se aprofundar algum tema abordado durante a jornada ou qualquer outro) para ser discutido entre quem estivesse interessado. Temas como segurança cibernética, amor livre, crudivorismo, entre outros foram propostos e discutidos.
Atividade Corporal: Nada melhor que começar a manhã com uma atividade física, por isso a partir das 7h foram realizadas oficinas de autodefesa, aikido e yoga.
Oficinas: Fitoterapia, pemacultura, autogestão da saúde feminina e outras oficinas que aconteceram de forma simultânea.
Mais infos:
› http://liberacionanimalbolivia2011.blogspot.com/
agência de notícias anarquistas-ana
subindo e descendo
com folhas nas costas-formigas
garantem o alimento
Paladino
Com o objetivo de afiar a filosofia de libertação animal para usá-la como uma ferramenta que ajude a desmantelar o atual sistema de dominação antropocêntrica (capitalista, patriarcal, tecnoindustrial) e não como uma alternativa de consumo “livre de crueldade”, foi realizado o segundo Encontro de Libertação Animal, de 19 a 25 de janeiro, na região de Los Yungas, Bolívia.
Cerca de 200 pessoas de diferentes partes do mundo compartilharam a partir de sua realidade, conceitos, erros, acertos, críticas e diferentes formas de interpretar e exercitar a libertação animal.
A organização do Encontro foi autogerida e horizontal. Algumas reuniões virtuais foram realizadas para tomar decisões pontuais e, conforme as pessoas foram chegando a La Paz, elas foram se envolvendo com diversas tarefas como, por exemplo, o planejamento do cronograma ou as compras de alimentos. Depois de iniciado o Encontro, todos participantes colaboraram com as tarefas cotidianas (limpeza, cozinha etc.) e houve espaço para propor e realizar novas atividades. Decisões, como, por exemplo, a de não utilização de registro fotográfico ou áudio, de segurança, foram tomadas em conjunto entre todos. Outra decisão conjunta foi a de doar o dinheiro que sobrou do Encontro aos presos de Chile e México.
Pouco menos da metade dos custos (comida, aluguel e transporte) foram cobertos por doações realizadas por indivíduos, jantares veganos e jornadas beneficentes, como as realizadas em Barcelona (Espanha) e São Paulo (Brasil).
Somando a totalidade dos gastos, se dividiu pela quantidade de pessoas inscritas, em uma tentativa de fazer restar algum excedente para investir em causas de interesse geral. Portanto, a sugestão de colaboração voluntária por pessoa foi de U$10,00 (10 dólares), o que incluía a alimentação dos 5 dias (4 refeições diárias), aluguel do espaço e transporte de La Paz até o local do Encontro (3h de viagem e difícil acesso). Essa colaboração não era obrigatória e cada pessoa colaborou conforme sua possibilidade.
Sempre levando em consideração os objetivos do Encontro, qualquer pessoa pôde sugerir e responsabilizar-se por uma atividade, sempre e quando expusesse os objetivos e fundamentos. Por este motivo, duas atividades foram negadas; uma de caráter de proteção/bem-estarista/legalista e outra de um grupo religioso. Infelizmente seis pessoas que haviam se comprometido a apresentar atividades não compareceram ao Encontro, quatro delas avisaram com antecedência, o que prejudicou significativamente o cronograma. Independentemente disso, as outras 16 atividades (e mais outras 5 que surgiram durante o Encontro), foram de grande importância e geraram intensos debates e aprendizados. Vale citar a crítica ao reformismo e ao capitalismo verde, bem como a vinculação da libertação animal com a libertação da terra, humana e total, que esteve presente na maioria das propostas.
Sex. 21/9h – Ecologismo Revolucionário X Ambientalismo: O chamado ecocapitalismo, o desenvolvimento sustentável, as políticas verdes, tratados, convênios etc., são somente reformas, que por meio do discurso verde, continuam destruindo grande parte da natureza, animais, plantas, “recursos” com megaprojetos, do progresso e do desenvolvimento capitalista fazendo desaparecer etnias, animais, ecosistemas. É uma guerra silenciosa. Além de uma introdução sobre o tema, o grupo também comentou sobre o avanço do progresso na região ocupada pelo estado boliviano.
Sex. 21/10h45 – Ecologia Descolonizada: Como em muitos lugares se conseguiu conservar uma forma de vida não antropocêntrica, resistindo à colonização e a imposição de novos costumes, políticas e religiões?
Sex. 21/17h – O Sistema Tecnoindustrial e a dominação de nossas vidas: Se vivemos amontoados nas cidades, destruímos os “recursos naturais” do planeta, contaminamos o meio ambiente ou temos uma vida totalmente dominada e vigiada é única e exclusivamente porque o tecnossistema precisa para continuar progressando. O responsável pela apresentação não compareceu, porém um grupo de pessoas decidiu improvisar e seguir com a atividade programada.
Sex. 21/19h – Apresentação do documentário “La Boa Negra” [A Jiboia Preta]: Em 19 de junho de 2010, novamente o rio Marañon (Peru) sofre um derramamento de petróleo. Este documentário não somente mostra o desastre ambiental causado pela extração de hidrocarbonetos na Amazônia Peruana, mas também serve como ponto de partida para criticar o modelo de desenvolvimento industrial. Com a presença dos realizadores do documentário, houve uma conversa informativa muito rica e um debate sobre as realidades destrutivas em lugares onde atuam empresas petroleiras.
Sáb. 22/9h – Mapeamento de grupos de libertação animal no Brasil: Pesquisa que mostra como diferentes grupos abolicionistas no Brasil estão atuando, segundo as características de suas respectivas regiões. O responsável pela apresentação não compareceu, porém um grupo de pessoas decidiu improvisar e seguir com a atividade programada.
Sáb. 22/10h45 – Apresentação do projeto “Red Verde por la Liberacion”: coletivo de La Paz, apresenta sua proposta para coordenar atividades em rede.
Sáb. 22/15h – Espaço de intercâmbio de experiências: Em pequenos grupos, ativistas de diferentes latitudes compartilham suas experiências, acertos, erros, projetos etc.
Dom. 23/10h45 – Apresentação do livro: Liberacion animal: Mas que Palabras: A libertação animal não é uma dieta e com a apresentação do livro se pretende debater sobre os diferentes métodos que podem ser utilizados para consegui-la. O livro espanhol foi reeditado pela editorial argentina Mas Que Palavras, e pode ser encontrado na internet.
Dom. 22/15h – Libertação Animal ou Libertação Total?: São nossas atividades reformistas ou revolucionárias? Após a leitura do conto “O Navio dos Tolos”, realizamos uma reflexão a respeito. O conto foi lido entre todos e houve discussões, numa das quais se criticou o universalismo.
Dom. 22/19h – Repressão e Solidariedade na luta pela libertação animal: Porque existem tantos ativistas presos? Como é possível sermos solidários com eles? Quais são as medidas que devemos tomar? Em uma conversa informativa, presos pela libertação animal e suas causas de todo mundo foram lembrados, assim como a campanha SHAC e formas de como ser solidário.
Seg. 23/9h – Animais não humanos, humanos e máquinas de hierarquização: Quais são os mecanismos que sustentam o especismo? Quais similaridades existem com o sexismo e/ou racismo? Coletivo CALEP de Bogotá apresenta o tema.
Seg. 23/10h45 – Ecofeminismo: Por que será que os animais mais explorados na indústria alimentícia (vacas leiteras e galinhas botadoras) são fêmeas?
Seg. 23/15h - Refletindo sobre o patriarcado: O que é o sistema patriarcal e de que maneira este repercute sobre nossas relações com nós mesmos e o resto da natureza? O tema foi discutido em grupos exclusivos de mulheres, de homens e também mistos.
Fóruns, debates, noturnos e informais: todas as noites, qualquer pessoa poderia sugerir um tema para debate (podendo-se aprofundar algum tema abordado durante a jornada ou qualquer outro) para ser discutido entre quem estivesse interessado. Temas como segurança cibernética, amor livre, crudivorismo, entre outros foram propostos e discutidos.
Atividade Corporal: Nada melhor que começar a manhã com uma atividade física, por isso a partir das 7h foram realizadas oficinas de autodefesa, aikido e yoga.
Oficinas: Fitoterapia, pemacultura, autogestão da saúde feminina e outras oficinas que aconteceram de forma simultânea.
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subindo e descendo
com folhas nas costas-formigas
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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Ato contra o aumento das tarifas - Por Passe Livre de São Paulo
Ato contra o aumento das tarifas - Por Passe Livre de São PauloPasse Livre São Paulo
No dia 5 de janeiro, a passagem de ônibus em São Paulo subiu para 3 reais, tornando-se a mais cara do Brasil. No dia 13, a primeira manifestação contra esse aumento reuniu cerca de mil pessoas no Centro, mas foi duramente reprimida pela PM. Mas o movimento não se calou. Pelo contrário, cresceu: nas semanas seguintes, cinco grandes atos reuniram milhares de pessoas no Centro da cidade.
Graças à pressão nas ruas, o movimento conquistou uma audiência publica com o Secretário de Transportes, Marcelo Branco, que aconteceu no dia 12 de fevereiro. Lá, foram contestados os dados das planilhas sobre o aumento – por exemplo, o valor diesel, que estava errado. Foi marcada, então, uma reunião entre pessoas do movimento e membros do Poder Executivo para a manhã do dia 17.
Infelizmente, nenhum representante do executivo compareceu. O movimento se dirigiu para a Secretaria dos transportes, onde recebeu a notícia de que a Prefeitura não estava aberta à negociações, pois a decisão do aumento não era técnica, e sim política!
Tendo recebido a notícia, seis ativista do movimento de luta contra o aumento se acorrentaram nas catracas do prédio da prefeitura. Por volta das 18h da tarde, pouco mais de mil pessoas haviam se reunido do lado de fora do edifício em apoio aos acorrentados. Entretanto, a manifestação na rua foi violentamente reprimida pela PM com gás lacrimogênio, pomba de estilhaço, gás pimenta e balas de borracha.
MAIS DO QUE NUNCA NÃO PODEMOS NOS CALAR! Em Florianópolis e Vitória, a população organizada e mobilizada conseguiu barrar o aumento! A luta tem se mostrado forte e podemos estar prestes a conseguir o mesmo em São Paulo !
DIA 24, QUINTA-FEIRA: TODOS NO TEATRO MUNICIPAL CONTRA ESSE AUMENTO! É POSSÍVEL: VAMOS DERRUBAR ESSA TARIFA ABSURDA!
Fonte: http://tsavkko.blogspot.com
No dia 5 de janeiro, a passagem de ônibus em São Paulo subiu para 3 reais, tornando-se a mais cara do Brasil. No dia 13, a primeira manifestação contra esse aumento reuniu cerca de mil pessoas no Centro, mas foi duramente reprimida pela PM. Mas o movimento não se calou. Pelo contrário, cresceu: nas semanas seguintes, cinco grandes atos reuniram milhares de pessoas no Centro da cidade.
Graças à pressão nas ruas, o movimento conquistou uma audiência publica com o Secretário de Transportes, Marcelo Branco, que aconteceu no dia 12 de fevereiro. Lá, foram contestados os dados das planilhas sobre o aumento – por exemplo, o valor diesel, que estava errado. Foi marcada, então, uma reunião entre pessoas do movimento e membros do Poder Executivo para a manhã do dia 17.
Infelizmente, nenhum representante do executivo compareceu. O movimento se dirigiu para a Secretaria dos transportes, onde recebeu a notícia de que a Prefeitura não estava aberta à negociações, pois a decisão do aumento não era técnica, e sim política!
Tendo recebido a notícia, seis ativista do movimento de luta contra o aumento se acorrentaram nas catracas do prédio da prefeitura. Por volta das 18h da tarde, pouco mais de mil pessoas haviam se reunido do lado de fora do edifício em apoio aos acorrentados. Entretanto, a manifestação na rua foi violentamente reprimida pela PM com gás lacrimogênio, pomba de estilhaço, gás pimenta e balas de borracha.
MAIS DO QUE NUNCA NÃO PODEMOS NOS CALAR! Em Florianópolis e Vitória, a população organizada e mobilizada conseguiu barrar o aumento! A luta tem se mostrado forte e podemos estar prestes a conseguir o mesmo em São Paulo !
DIA 24, QUINTA-FEIRA: TODOS NO TEATRO MUNICIPAL CONTRA ESSE AUMENTO! É POSSÍVEL: VAMOS DERRUBAR ESSA TARIFA ABSURDA!
Fonte: http://tsavkko.blogspot.com
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Sea Shepherd comemora dia de vitória para as baleias
Sea Shepherd comemora dia de vitória para as baleiasÉ oficial – a matança de baleias no Santuário de Baleias do Oceano Antártico acabou por esta temporada, e os baleeiros não atingiram nem 10% da sua quota. A Sea Shepherd estima que mais de 900 baleias foram salvas este ano. O navio da Sea Shepherd, Bob Barker, estava perseguindo o navio-fábrica japonês Nisshin Maru desde 9de fevereiro, o que torna impossível para os baleeiros continuarem suas operações de caça.
É oficial – A frota baleeira japonesa está deixando o Oceano Antártico. Pelo menos por esta temporada. Se eles retornarem na próxima temporada, a Sea Shepherd Conservation Society estará pronta para retomar os nossos esforços para obstruir e desativar as operações baleeiras japonesas.
“O Nisshin Maru fez uma mudança de rumo significativa imediatamente após o governo japonês tornar oficial que a frota baleeira foi chamada de volta”, disse o Capitão do Bob Barker, Alex Cornelissen. “Parece que eles estão indo para casa!”
O navio da Sea Shepherd, Bob Barker, estava perseguindo o navio-fábrica japonês Nisshin Maru desde 9 de fevereiro, o que torna impossível para os baleeiros continuarem suas operações de caça.
“Tenho uma equipe de 88 pessoas muito felizes, de 23 nações diferentes, incluindo o Japão, e eles estão absolutamente encantados que os baleeiros estão indo para casa, e o Santuário de Baleias do Oceano Austral é agora, de fato, um santuário real”, disse o Capitão Paul Watson.
Os navios da Sea Shepherd, Steve Irwin, Bob Barker e Gojira, permanecerão no Oceano Antártico para escoltar os navios japoneses para o norte. “Nós não vamos deixar o santuário de baleias até o último navio baleeiro partir”, disse o capitão do Gojira, Locky MacLean.
“Esta é uma grande vitória para as baleias”, disse o Capitão Paul Watson. “Mas nós não fizemos isso sozinhos. Sem o apoio do povo da Austrália e da Nova Zelândia, não teríamos sido capazes de organizar estas viagens por sete temporadas, dos portos da Austrália e da Nova Zelândia. Somos gratos ao senador Bob Brown e ao Partido Verde australiano. Somos muito gratos ao senhor Bob Barker, por nos dar o navio que forçou a frota japonesa a deixar essas águas. Somos gratos a todos os voluntários e nossos membros de apoio. Somos gratos à Marinha do Chile e ao governo da França por seu apoio. É um dia muito feliz para todos os povos que amam as baleias e os oceanos”.
É oficial – a matança de baleias no Santuário de Baleias do Oceano Antártico acabou por esta temporada, e os baleeiros não atingiram nem 10% da sua quota. A Sea Shepherd estima que mais de 900 baleias foram salvas este ano.
“É um grande dia para as baleias”, afirmou a Chefe de Cozinha da Sea Shepherd no Steve Irwin, Laura Dakin, de Canberra, na Austrália. “E é um grande dia para a humanidade!”.
Traduzido por Raquel Soldera, voluntária do ISSB.
Fonte: Carta Maior
É oficial – A frota baleeira japonesa está deixando o Oceano Antártico. Pelo menos por esta temporada. Se eles retornarem na próxima temporada, a Sea Shepherd Conservation Society estará pronta para retomar os nossos esforços para obstruir e desativar as operações baleeiras japonesas.
“O Nisshin Maru fez uma mudança de rumo significativa imediatamente após o governo japonês tornar oficial que a frota baleeira foi chamada de volta”, disse o Capitão do Bob Barker, Alex Cornelissen. “Parece que eles estão indo para casa!”
O navio da Sea Shepherd, Bob Barker, estava perseguindo o navio-fábrica japonês Nisshin Maru desde 9 de fevereiro, o que torna impossível para os baleeiros continuarem suas operações de caça.
“Tenho uma equipe de 88 pessoas muito felizes, de 23 nações diferentes, incluindo o Japão, e eles estão absolutamente encantados que os baleeiros estão indo para casa, e o Santuário de Baleias do Oceano Austral é agora, de fato, um santuário real”, disse o Capitão Paul Watson.
Os navios da Sea Shepherd, Steve Irwin, Bob Barker e Gojira, permanecerão no Oceano Antártico para escoltar os navios japoneses para o norte. “Nós não vamos deixar o santuário de baleias até o último navio baleeiro partir”, disse o capitão do Gojira, Locky MacLean.
“Esta é uma grande vitória para as baleias”, disse o Capitão Paul Watson. “Mas nós não fizemos isso sozinhos. Sem o apoio do povo da Austrália e da Nova Zelândia, não teríamos sido capazes de organizar estas viagens por sete temporadas, dos portos da Austrália e da Nova Zelândia. Somos gratos ao senador Bob Brown e ao Partido Verde australiano. Somos muito gratos ao senhor Bob Barker, por nos dar o navio que forçou a frota japonesa a deixar essas águas. Somos gratos a todos os voluntários e nossos membros de apoio. Somos gratos à Marinha do Chile e ao governo da França por seu apoio. É um dia muito feliz para todos os povos que amam as baleias e os oceanos”.
É oficial – a matança de baleias no Santuário de Baleias do Oceano Antártico acabou por esta temporada, e os baleeiros não atingiram nem 10% da sua quota. A Sea Shepherd estima que mais de 900 baleias foram salvas este ano.
“É um grande dia para as baleias”, afirmou a Chefe de Cozinha da Sea Shepherd no Steve Irwin, Laura Dakin, de Canberra, na Austrália. “E é um grande dia para a humanidade!”.
Traduzido por Raquel Soldera, voluntária do ISSB.
Fonte: Carta Maior
USP faz campanha contra os casos de abandono de animais - por Cristina Moreno de Castro
USP faz campanha contra os casos de abandono de animais - por Cristina Moreno de CastroQuem entra na USP, no Butantã, na zona oeste de São Paulo, vê a imagem do olho de um cão e o alerta: "Abandono de animais é crime. Estamos de olho."
Há dez anos, a universidade vem se empenhando para proteger os animais abandonados, desde que o programa USP Convive foi criado. Nesse período, a iniciativa conseguiu a adoção para cerca de 2.000 animais.Os outdoors "ameaçadores", instalados no ano passado, surtiram algum efeito: em vez de 30 cães abandonados no fim de ano, que é a época em que os casos mais ocorrem, foram cerca de dez.
Mas o campus não para de receber os despejos, que são feitos por pessoas que levam os animais escondidos no porta-malas dos carros."Já deixaram até coelhos, patos, galinhas, maritacas", afirma Elizabeth Rabóczkay, uma das voluntárias que trabalham no canil-destino dos cães abandonados.À medida que os animais são entregues para adoção --cerca de dez por mês-- novos hóspedes recebem comida e são vacinados, castrados e vermifugados.
Eles costumam ser abandonados quando já estão velhos ou doentes, e muitos morrem atropelados ou vitimados por tiros, venenos, esfaqueamentos e água quente jogada por vândalos.Quem se interessar em adotar um animal pode acessar o site Patinhas Online (www.patinhasonline.com.br), parceiro do programa, ou agendar uma visita ao canil por meio do telefone 0/xx/11/3091-4591.
Fonte: UOL
Há dez anos, a universidade vem se empenhando para proteger os animais abandonados, desde que o programa USP Convive foi criado. Nesse período, a iniciativa conseguiu a adoção para cerca de 2.000 animais.Os outdoors "ameaçadores", instalados no ano passado, surtiram algum efeito: em vez de 30 cães abandonados no fim de ano, que é a época em que os casos mais ocorrem, foram cerca de dez.
Mas o campus não para de receber os despejos, que são feitos por pessoas que levam os animais escondidos no porta-malas dos carros."Já deixaram até coelhos, patos, galinhas, maritacas", afirma Elizabeth Rabóczkay, uma das voluntárias que trabalham no canil-destino dos cães abandonados.À medida que os animais são entregues para adoção --cerca de dez por mês-- novos hóspedes recebem comida e são vacinados, castrados e vermifugados.
Eles costumam ser abandonados quando já estão velhos ou doentes, e muitos morrem atropelados ou vitimados por tiros, venenos, esfaqueamentos e água quente jogada por vândalos.Quem se interessar em adotar um animal pode acessar o site Patinhas Online (www.patinhasonline.com.br), parceiro do programa, ou agendar uma visita ao canil por meio do telefone 0/xx/11/3091-4591.
Fonte: UOL
A graça da revoltação - por Muniz Sodré
A graça da revoltação
Talvez nem "revolta", nem "revolução", sejam as denominações justas, devido a suas velhas conotações militares e ideológicas. O que nos leva a pensar numa invenção linguística de Antonio Conselheiro no manuscrito que deixou: "revoltação". É a indignação forte que se propaga por contágio verbal e conduz a uma ação coletiva, como vem se dando no mundo árabe.
A imprensa parisiense fez pouco caso de uma manifestação estudantil na Place de la Concorde, na primeira semana de fevereiro, em que os jovens agitavam cartazes com a palavra de ordem Dégages! O alvo era o presidente Sarkozy. A expressão significa "cai fora", "sai da frente", por aí. O mais comum seria a popular foutez l´camp ("dê o fora") nos cartazes. Mas era uma maneira de devolver ao presidente francês o insulto por ele lançado ao jovem que se recusou a lhe apertar a mão numa de suas recentes aparições públicas. Destemperado, Sarkozy gritou ao refratário: Dégages, pauvre con! Ou seja, algo como "cai fora, babaca".
Isso, claro, foi largamente explorado pela mídia. Sarkozy herdou algo da grossura dos velhos líderes de direita, paradigma mussoliniano, bem diferente do que agora acontece, por exemplo, com Marine Le Pen (filha do dito cujo), que sabe falar à mídia doucement, como agrada aos franceses, sem o estilo paquidérmico do pai. Sarkozy, não: fora o lado Carla Bruni, ele é seco como uma baguette dormida. Era ministro do Interior quando, a propósito de manifestações vigorosas de imigrantes, declarou que era preciso cachériser os subúrbios de Paris. O verbo é grosseiro: significa limpar a sujeira com jatos de água.
Na Concorde, entretanto, além da resposta simbólica dos estudantes, havia uma clara repercussão dos acontecimentos no mundo árabe, que muito vêm mobilizando a mídia e o meio intelectual francês. O que ali se sugeria era, sem mais nem menos, que Sarkozy tivesse o mesmo destino pretendido para Ben Ali (Tunísia), Mubarak (Egito) et caterva, ou seja, "cair fora" do poder.
Invenção linguística de Antonio Conselheiro
Há um toque risível na demanda porque a situação não é a mesma das ditaduras no mundo árabe. Mas no pequeno episódio transparece um fenômeno que tende a crescer em amplitude, em função das novíssimas ferramentas da comunicação, isto é, a internet com suas muitas possibilidades expressivas em rede. O contato imediato entre os indivíduos está, como bem se sabe, levando a sociedade contemporânea a ganhar um novo tipo de autonomia, que tem menos a ver com independência nacional do que com uma espécie de "interdependência global". Trata-se de relações que passam ao largo dos canais tradicionais do Estado, confluindo para o espaço virtual das redes. Em vez de "relações internacionais" – que se dão entre Estados – vale pensar em "relações intersociais", mantidas entre associações e cidadãos comuns, em qualquer escala de distância.
É prudente não se deixar levar longe demais pela euforia cidadã frente aos acontecimentos na Tunísia e no Egito (não se pode subestimar o potencial da reação conservadora, nem dos interesses econômicos e militares em jogo), mas o que ali ocorre não pode deixar de mobilizar uma forma de consciência mundial em jovens e adultos. Se antes um "bem" necessário era público e nacional, agora ele é deve ser mundial.
Talvez nem "revolta", nem "revolução", sejam as denominações justas para esses eventos, devido a suas velhas conotações militares e ideológicas. O que nos leva a pensar numa invenção linguística de Antonio Conselheiro (ele mesmo, o "gnóstico bronco" de Canudos) no manuscrito que deixou: "revoltação". É a indignação forte que se propaga por contágio verbal e conduz a uma ação coletiva, como vem se dando no mundo árabe.
Estado treme nas bases
Essa primeira "revoltação" do mundo globalizado pode ser entendida como um movimento de massa que dispensa organização política, liderança carismática etc. É lícito pensar, no caso egípcio, em organizações como a Irmandade Muçulmana, ou em figuras influentes como Mohamed El-Baradei, o Prêmio Nobel da Paz. Mas nada disso foi decisivo para o que ocorreu. Eles apenas tomaram carona no "bonde" em movimento, cujo motor é o "tsunami" social, vindo de baixo, inesperado e convulsivo como uma força natural. Se, para as potências mundiais, Hosni Mubarak se afigurava como garantia de paz na região, para as massas ele era tão-só o congelamento das coisas, a "placa tectônica" a ser abalada por uma erupção vital.
Quem quiser dar tratos à bola marxista, poderá ensaiar explicações à luz da luta de classes, o que também é viável. O que será difícil de negar, entretanto, é que essa nova forma de autonomia das massas, por mais flutuante (termo criado pela professora Raquel Paiva para um certo tipo de minoria social) ou efêmera que pareça, tem um eixo comunicacional que não se engata diretamente na arquitetura explicativa do tipo infraestrutura/superestrutura.
Há uma dimensão sócio-comunicacional (propiciada pelas redes) em que se dá um intercâmbio instantâneo entre o local e o global capaz de desestabilizar a excessiva rigidez do social. O Estado e seus aparelhos podem manter o poder repressivo, mas o xis do problema é que, como nenhum poder se garante apenas pela força (a hegemonia consensual é indispensável), os canais tradicionais de consenso estão tremendo nas bases.
Historinha sintomática
Tremor, tsunami e temor: os jovens estão aí, como sempre (maio de 1968 em Paris, Praça Tianmen em Pequim, caras-pintadas em Brasília etc.), transmitindo aos mais velhos a pedagogia da inquietude. A ironia só se dá na escuta, certo, mas pode ser muito pedagógica. É parente do riso que, na visão de Henri Bergson, resulta da crítica afetiva a uma rigidez externa. Por exemplo, a rigidez da mumificação em que parecia ter se convertido a sociedade egípcia por efeito da múmia viva com aspirações a faraó chamada Mubarak.
Daí, a lição irônica e risível dos jovens franceses na Concorde. Sarkozy não é nenhum Obama, para quem "o Egito mostra que nós podemos ser definidos por uma humanidade comum". Também não chega a ser um Mubarak, mas se sair não faz falta – é o que queriam dizer os cartazes de Dégages! O riso é também uma mensagem implícita aos autocratas árabes, aqueles de longa barba: é bom botar as barbas de molho!
Ah, sim, em plena manifestação na Concorde, circulava uma historinha sintomática. Nela, Mubarak se encontra no outro mundo com Sadat e Nasser, longevos no poder antes dele, assassinados. Nasser diz: "Morri envenenado"; Sadat: "Morri de tiro"; Mubarak: "Morri de Facebook..."
Faz todo sentido.
Fonte: http://www.revistaforum.com.br/
Talvez nem "revolta", nem "revolução", sejam as denominações justas, devido a suas velhas conotações militares e ideológicas. O que nos leva a pensar numa invenção linguística de Antonio Conselheiro no manuscrito que deixou: "revoltação". É a indignação forte que se propaga por contágio verbal e conduz a uma ação coletiva, como vem se dando no mundo árabe.
A imprensa parisiense fez pouco caso de uma manifestação estudantil na Place de la Concorde, na primeira semana de fevereiro, em que os jovens agitavam cartazes com a palavra de ordem Dégages! O alvo era o presidente Sarkozy. A expressão significa "cai fora", "sai da frente", por aí. O mais comum seria a popular foutez l´camp ("dê o fora") nos cartazes. Mas era uma maneira de devolver ao presidente francês o insulto por ele lançado ao jovem que se recusou a lhe apertar a mão numa de suas recentes aparições públicas. Destemperado, Sarkozy gritou ao refratário: Dégages, pauvre con! Ou seja, algo como "cai fora, babaca".
Isso, claro, foi largamente explorado pela mídia. Sarkozy herdou algo da grossura dos velhos líderes de direita, paradigma mussoliniano, bem diferente do que agora acontece, por exemplo, com Marine Le Pen (filha do dito cujo), que sabe falar à mídia doucement, como agrada aos franceses, sem o estilo paquidérmico do pai. Sarkozy, não: fora o lado Carla Bruni, ele é seco como uma baguette dormida. Era ministro do Interior quando, a propósito de manifestações vigorosas de imigrantes, declarou que era preciso cachériser os subúrbios de Paris. O verbo é grosseiro: significa limpar a sujeira com jatos de água.
Na Concorde, entretanto, além da resposta simbólica dos estudantes, havia uma clara repercussão dos acontecimentos no mundo árabe, que muito vêm mobilizando a mídia e o meio intelectual francês. O que ali se sugeria era, sem mais nem menos, que Sarkozy tivesse o mesmo destino pretendido para Ben Ali (Tunísia), Mubarak (Egito) et caterva, ou seja, "cair fora" do poder.
Invenção linguística de Antonio Conselheiro
Há um toque risível na demanda porque a situação não é a mesma das ditaduras no mundo árabe. Mas no pequeno episódio transparece um fenômeno que tende a crescer em amplitude, em função das novíssimas ferramentas da comunicação, isto é, a internet com suas muitas possibilidades expressivas em rede. O contato imediato entre os indivíduos está, como bem se sabe, levando a sociedade contemporânea a ganhar um novo tipo de autonomia, que tem menos a ver com independência nacional do que com uma espécie de "interdependência global". Trata-se de relações que passam ao largo dos canais tradicionais do Estado, confluindo para o espaço virtual das redes. Em vez de "relações internacionais" – que se dão entre Estados – vale pensar em "relações intersociais", mantidas entre associações e cidadãos comuns, em qualquer escala de distância.
É prudente não se deixar levar longe demais pela euforia cidadã frente aos acontecimentos na Tunísia e no Egito (não se pode subestimar o potencial da reação conservadora, nem dos interesses econômicos e militares em jogo), mas o que ali ocorre não pode deixar de mobilizar uma forma de consciência mundial em jovens e adultos. Se antes um "bem" necessário era público e nacional, agora ele é deve ser mundial.
Talvez nem "revolta", nem "revolução", sejam as denominações justas para esses eventos, devido a suas velhas conotações militares e ideológicas. O que nos leva a pensar numa invenção linguística de Antonio Conselheiro (ele mesmo, o "gnóstico bronco" de Canudos) no manuscrito que deixou: "revoltação". É a indignação forte que se propaga por contágio verbal e conduz a uma ação coletiva, como vem se dando no mundo árabe.
Estado treme nas bases
Essa primeira "revoltação" do mundo globalizado pode ser entendida como um movimento de massa que dispensa organização política, liderança carismática etc. É lícito pensar, no caso egípcio, em organizações como a Irmandade Muçulmana, ou em figuras influentes como Mohamed El-Baradei, o Prêmio Nobel da Paz. Mas nada disso foi decisivo para o que ocorreu. Eles apenas tomaram carona no "bonde" em movimento, cujo motor é o "tsunami" social, vindo de baixo, inesperado e convulsivo como uma força natural. Se, para as potências mundiais, Hosni Mubarak se afigurava como garantia de paz na região, para as massas ele era tão-só o congelamento das coisas, a "placa tectônica" a ser abalada por uma erupção vital.
Quem quiser dar tratos à bola marxista, poderá ensaiar explicações à luz da luta de classes, o que também é viável. O que será difícil de negar, entretanto, é que essa nova forma de autonomia das massas, por mais flutuante (termo criado pela professora Raquel Paiva para um certo tipo de minoria social) ou efêmera que pareça, tem um eixo comunicacional que não se engata diretamente na arquitetura explicativa do tipo infraestrutura/superestrutura.
Há uma dimensão sócio-comunicacional (propiciada pelas redes) em que se dá um intercâmbio instantâneo entre o local e o global capaz de desestabilizar a excessiva rigidez do social. O Estado e seus aparelhos podem manter o poder repressivo, mas o xis do problema é que, como nenhum poder se garante apenas pela força (a hegemonia consensual é indispensável), os canais tradicionais de consenso estão tremendo nas bases.
Historinha sintomática
Tremor, tsunami e temor: os jovens estão aí, como sempre (maio de 1968 em Paris, Praça Tianmen em Pequim, caras-pintadas em Brasília etc.), transmitindo aos mais velhos a pedagogia da inquietude. A ironia só se dá na escuta, certo, mas pode ser muito pedagógica. É parente do riso que, na visão de Henri Bergson, resulta da crítica afetiva a uma rigidez externa. Por exemplo, a rigidez da mumificação em que parecia ter se convertido a sociedade egípcia por efeito da múmia viva com aspirações a faraó chamada Mubarak.
Daí, a lição irônica e risível dos jovens franceses na Concorde. Sarkozy não é nenhum Obama, para quem "o Egito mostra que nós podemos ser definidos por uma humanidade comum". Também não chega a ser um Mubarak, mas se sair não faz falta – é o que queriam dizer os cartazes de Dégages! O riso é também uma mensagem implícita aos autocratas árabes, aqueles de longa barba: é bom botar as barbas de molho!
Ah, sim, em plena manifestação na Concorde, circulava uma historinha sintomática. Nela, Mubarak se encontra no outro mundo com Sadat e Nasser, longevos no poder antes dele, assassinados. Nasser diz: "Morri envenenado"; Sadat: "Morri de tiro"; Mubarak: "Morri de Facebook..."
Faz todo sentido.
Fonte: http://www.revistaforum.com.br/
Ativistas pedem ao mundo que detenha massacre - Por Emad Mekay
Ativistas pedem ao mundo que detenha massacre - Por Emad MekayCairo, Egito, 22/2/2011 – Grupos de direitos humanos criticam a falta de ação da comunidade internacional diante dos “massacres” cometidos pelo regime de Muammar Gadafi, que lançou uma sangrenta repressão contra manifestantes pró-democráticos, matando centenas de pessoas em apenas cinco dias de protestos. Os distúrbios chegaram no dia 20 à capital Trípoli, vindo da cidade portuária de Bengazi. A forte repressão do regime e um ameaçador discurso feito pelo filho de Gadafi, Seif el Islam, não detiveram os manifestantes, que ontem chegaram inclusive a atacar a sede central do governo na capital, segundo informou a rede pan-árabe Al Jazeera.
A Organização pelos Direitos Humanos, com sede no Cairo, condenou o uso da violência contra os manifestantes e pediu uma investigação internacional. Por sua vez, o grupo Humanity, com sede em Viena, disse que o massacre cometido pelo regime líbio equivale a “crime de guerra”. Há informes diversos sobre o número de mortos, e a estimativa é que chegaria a centenas. A organização Human Rights Watch (HRW) informou que 173 pessoas teriam morrido. O jornal londrino Libya Al-Youm citou um médico local informando que 285 pessoas morreram na cidade de Bengazi. Segundo uma testemunha que falou à Al Jazeera por telefone, cerca de 300 pessoas teriam morrido em Bengazi, a segundo maior cidade do país.
Gadafi, que está no poder desde 1969, tenta evitar ter o mesmo destino que os presidentes da Tunísia e do Egito, derrubados nas últimas semanas por protestos populares semelhantes. Por isso, lançou uma repressão muito mais dura do que as desses países. Sua tática inclui suspender a distribuição de alimentos, combustível e remédio, bem como eletricidade, nas cidades onde há protestos. O regime também cortou as comunicações para impedir que os protestos se espalhem para outras cidades. Entretanto, tudo isto não impediu que as manifestações chegassem a Trípoli, no dia 20.
Meios de comunicação pan-árabes dizem que as tropas de Gadafi usaram balas reais e armas militares pesadas, como mísseis antitanques, para reprimir os protestos em Bengazi. O jornal Libya Al Youm divulgou em seu site, no dia 20, que as forças governamentais utilizavam “armas pesadas” e disparavam ao acaso. O jornal também fez um apelo para que sejam enviados com urgência suprimentos para os hospitais de Bengazi, incluindo sangue. “As forças de segurança da Muammar Gadafi disparam contra cidadãos líbios e matam dezenas apenas porque pedem mudança e exigem responsabilidade”, disse o subdiretor para o Oriente Médio e Norte da África da HRW, Joe Stork.
Enquanto isso, o governo tenta apresentar a revolta como um complô estrangeiro para desestabilizar o país, argumento usado por muitos outros regimes árabes. Depois de uma longa história de colonização por parte de potências ocidentais e de Israel nos territórios palestinos, os povos árabes sentem uma grande desconfiança quanto à interferência externa.
A estatal Agência de Notícias Líbia (Jana) informou no dia 20 que o governo lutava contra um complô inspirado por Israel para criar a anarquia no país. Também afirmou que não havia genuínas reclamações populares por trás das manifestações. Israel financia forças de “separação” na região árabe, acrescentou a Jana. O jornal Al Shams, controlado por um ramo do Ministério da Informação, disse que o governo havia exposto uma “rede de elementos externos” em várias cidades líbias.
Porém, informações publicadas na Internet por manifestantes líbios mostram que os participantes dos protestos realmente querem uma mudança de regime e democracia. Os distúrbios se concentram em torno das cidades orientais, em particular em Bengazi. Também foram informados protestos em Baida, Ajdabiya, Zawiya e Derna, antes de se propagarem até Trípoli.
Os protestos começaram no dia 17, depois que ativistas convocaram pela Internet para um “Dia de Fúria” contra as condições políticas e econômicas impostas pelo regime de Gadafi. No dia 20, o site LibyaFeb17.com divulgou comentários condenando a indiferença internacional à repressão. “Precisamente este silêncio é a principal preocupação nesta situação aterradora”, disse. O site publicou estes comentários após o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, dizer, no dia 19, que não “molestaria” Gadafi.
Em 2009, o governo líbio fez investimentos na ENI, companhia petroleira italiana que operava na Líbia desde 1959. A ENI é a principal produtora estrangeira de petróleo em território líbio. A Grã-Bretanha informou no dia 18 que revogaria as licenças para exportação de armas para Líbia e Bahrein, outro país árabe cujo governo reprime protestos populares. A proibição limitará a venda de gás lacrimogêneo e balas que poderiam ser usados contra manifestantes. Gadafi havia se mostrado firme e tranquilo depois que seus aliados Zine El Abidine Ben Ali e Hosni Mubarak foram derrubados, respectivamente, na Tunísia e no Egito, nas últimas semanas.
O canal estatal líbio Al Jamhiriya TV, transmitido via satélite para outras nações árabes, divulgou entrevistas com altos funcionários do governo que pediam calma, garantindo estar “iniciando um diálogo”. Os funcionários diziam que o governo investia “centenas de milhões” de dólares para melhorar a vida dos líbios, remodelando a infraestrutura, as estradas, escolas e universidades. O canal continua difundindo cançoes de elogio a Gadafi, enquanto cada vez mais manifestantes estão nas ruas. Envolverde/IPS
Fonte: (IPS/Envolverde)
A Organização pelos Direitos Humanos, com sede no Cairo, condenou o uso da violência contra os manifestantes e pediu uma investigação internacional. Por sua vez, o grupo Humanity, com sede em Viena, disse que o massacre cometido pelo regime líbio equivale a “crime de guerra”. Há informes diversos sobre o número de mortos, e a estimativa é que chegaria a centenas. A organização Human Rights Watch (HRW) informou que 173 pessoas teriam morrido. O jornal londrino Libya Al-Youm citou um médico local informando que 285 pessoas morreram na cidade de Bengazi. Segundo uma testemunha que falou à Al Jazeera por telefone, cerca de 300 pessoas teriam morrido em Bengazi, a segundo maior cidade do país.
Gadafi, que está no poder desde 1969, tenta evitar ter o mesmo destino que os presidentes da Tunísia e do Egito, derrubados nas últimas semanas por protestos populares semelhantes. Por isso, lançou uma repressão muito mais dura do que as desses países. Sua tática inclui suspender a distribuição de alimentos, combustível e remédio, bem como eletricidade, nas cidades onde há protestos. O regime também cortou as comunicações para impedir que os protestos se espalhem para outras cidades. Entretanto, tudo isto não impediu que as manifestações chegassem a Trípoli, no dia 20.
Meios de comunicação pan-árabes dizem que as tropas de Gadafi usaram balas reais e armas militares pesadas, como mísseis antitanques, para reprimir os protestos em Bengazi. O jornal Libya Al Youm divulgou em seu site, no dia 20, que as forças governamentais utilizavam “armas pesadas” e disparavam ao acaso. O jornal também fez um apelo para que sejam enviados com urgência suprimentos para os hospitais de Bengazi, incluindo sangue. “As forças de segurança da Muammar Gadafi disparam contra cidadãos líbios e matam dezenas apenas porque pedem mudança e exigem responsabilidade”, disse o subdiretor para o Oriente Médio e Norte da África da HRW, Joe Stork.
Enquanto isso, o governo tenta apresentar a revolta como um complô estrangeiro para desestabilizar o país, argumento usado por muitos outros regimes árabes. Depois de uma longa história de colonização por parte de potências ocidentais e de Israel nos territórios palestinos, os povos árabes sentem uma grande desconfiança quanto à interferência externa.
A estatal Agência de Notícias Líbia (Jana) informou no dia 20 que o governo lutava contra um complô inspirado por Israel para criar a anarquia no país. Também afirmou que não havia genuínas reclamações populares por trás das manifestações. Israel financia forças de “separação” na região árabe, acrescentou a Jana. O jornal Al Shams, controlado por um ramo do Ministério da Informação, disse que o governo havia exposto uma “rede de elementos externos” em várias cidades líbias.
Porém, informações publicadas na Internet por manifestantes líbios mostram que os participantes dos protestos realmente querem uma mudança de regime e democracia. Os distúrbios se concentram em torno das cidades orientais, em particular em Bengazi. Também foram informados protestos em Baida, Ajdabiya, Zawiya e Derna, antes de se propagarem até Trípoli.
Os protestos começaram no dia 17, depois que ativistas convocaram pela Internet para um “Dia de Fúria” contra as condições políticas e econômicas impostas pelo regime de Gadafi. No dia 20, o site LibyaFeb17.com divulgou comentários condenando a indiferença internacional à repressão. “Precisamente este silêncio é a principal preocupação nesta situação aterradora”, disse. O site publicou estes comentários após o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, dizer, no dia 19, que não “molestaria” Gadafi.
Em 2009, o governo líbio fez investimentos na ENI, companhia petroleira italiana que operava na Líbia desde 1959. A ENI é a principal produtora estrangeira de petróleo em território líbio. A Grã-Bretanha informou no dia 18 que revogaria as licenças para exportação de armas para Líbia e Bahrein, outro país árabe cujo governo reprime protestos populares. A proibição limitará a venda de gás lacrimogêneo e balas que poderiam ser usados contra manifestantes. Gadafi havia se mostrado firme e tranquilo depois que seus aliados Zine El Abidine Ben Ali e Hosni Mubarak foram derrubados, respectivamente, na Tunísia e no Egito, nas últimas semanas.
O canal estatal líbio Al Jamhiriya TV, transmitido via satélite para outras nações árabes, divulgou entrevistas com altos funcionários do governo que pediam calma, garantindo estar “iniciando um diálogo”. Os funcionários diziam que o governo investia “centenas de milhões” de dólares para melhorar a vida dos líbios, remodelando a infraestrutura, as estradas, escolas e universidades. O canal continua difundindo cançoes de elogio a Gadafi, enquanto cada vez mais manifestantes estão nas ruas. Envolverde/IPS
Fonte: (IPS/Envolverde)
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
[EUA] Declaração de Walter Bond em seu julgamento condenatório: “Toda a ferocidade e amor em meu coração seguem vivo” - por ANA
[EUA] Declaração de Walter Bond em seu julgamento condenatório: “Toda a ferocidade e amor em meu coração seguem vivo”[No dia 12 de fevereiro, Walter Bond foi finalmente condenado à pena mínima de 5 anos de prisão e 3 anos de liberdade condicional. Christine Arguello, a juíza, afirmou ter lido as cartas que lhe tinha enviado os solidários com Walter, assim como os ensaios que ele foi tornando público da prisão. Ela comentou que considera Walter muito inteligente e o incentivou a, no futuro, focar seus escritos sobre a libertação animal e não praticar incêndios como método de luta. A seguir palavras de Walter Bond para o tribunal no dia de seu julgamento de condenação.]
"Estou aqui hoje porque eu queimei a fábrica de pele de carneiro, em Glendale, Califórnia; uma empresa que vende peles e couros de animais mortos. Eu sei que muitas pessoas pensam que eu deveria sentir remorso pelo que fiz. Suponho que este é o momento em que, de costume, deve se humilhar e implorar por misericórdia. Eu lhes asseguro, que se fosse isso que sentisse, eu o faria. Mas eu não me arrependo de nada que fiz. Também não estou assustado com a autoridade deste tribunal, já que qualquer sistema jurídico que valorize os direitos do opressor sobre o oprimido é um sistema injusto. E quando este tribunal tem o poder real e atual, eu questiono a sua moralidade. Duvido que o tribunal esteja interessado nas precauções que tomei para não prejudicar qualquer pessoa ou pessoal em serviço, e muito menos com as miseráveis vidas que ovelhas, vacas e visons têm que suportar, até a morte, e com as quais uma empresa do Colorado se beneficiou de sua prisão, escravidão e assassinato.
Obviamente, os proprietários e empregados da fábrica de pele de ovelha não se importam muito se são parte do comércio sinistro e macabro de sangue. Então eu não vou perder meu tempo com eles, pois só cairia em ouvidos surdos. É por isso que me voltei para a ação direta ilegal para começar, porque, a eles, não importa. Não importa o quanto os ativistas lhes falem e argumentem sobre os direitos dos animais, não importa para eles. Bem, Sr. Livaditis [proprietário da fábrica de pele de carneiro], você realmente não me importa. Não existe terreno comum entre as pessoas como você e eu. Eu quero que você saiba que não importa com o que o tribunal condene-me hoje, você não ganhou nada! A prisão não é uma grande dificuldade para mim. Em uma sociedade que valoriza o dinheiro acima da vida, considero uma honra ser um prisioneiro de guerra; a guerra contra a escravidão entre espécies e a objetivação! Eu também quero que saiba nunca vou estar disposto a pagar um dólar, nem um! Espero que o seu negócio fracasse e te sufoque até a morte, a cada centavo que entra do benefício que é para você matar os animais! Espero que sufoque e queime no inferno!
Às pessoas que me apóiam, quero agradecê-las por se juntar a mim e mostrar a este tribunal, e a estes exploradores de animais, que apoiamos uns aos outros e, como movimento, não pediremos desculpas por ter um senso de urgência. Não vamos colocar os interesses do comércio sobre a sensibilidade! E nunca deixaremos de educar, agitar e enfrentar os responsáveis pela morte de nossa Mãe Terra e suas nações animais. Minhas irmãs e irmãos vegans, nossas vidas não são nossas. O egoísmo é a forma dos gananciosos, pervertidos e fornecedores de injustiça. Já foi dito que todo o necessário para o mal vencer é que as pessoas de bem não façam nada. Já pelo contrário, todo o necessário para acabar com a escravidão, o uso de drogas, abuso e assassinato de outros animais além dos humanos, é a vontade de lutar em seu nome!
Faça o que puder, faça o que deve fazer: ser guerreiros vegans e verdadeiros defensores dos animais, e nunca se comprometer com seus assassinos e especuladores. A Frente de Libertação Animal (FLA) é a resposta. Raramente houve um movimento de grande alcance e eficaz a nível internacional na história humana. Não podes se somar a FLA, mas então se converta nela. E é o de mais orgulhoso e mais poderoso que eu fiz. Ao sair desta sala hoje não fique consternado com a minha prisão. Toda a ferocidade e amor em meu coração seguem vivo. Toda vez que alguém liberta um animal e quebra sua gaiola, sigo vivo! Cada vez que um ativista se recusa a curvar-se às leis que protegem o assassinato, sigo vivo! E eu vivo cada vez que o céu a noite é iluminado pelas chamas de uma outra empresa exploradora de animais em ruínas!
Isso é tudo, senhor juiz; estou pronto para ir para a prisão.”
Walter Bond
Mais infos:
› http://www.supportwalter.org/index.htm
agência de notícias anarquistas-ana
as pálpebras da noite
fecham-se
sem ruído
Rogério Martins
"Estou aqui hoje porque eu queimei a fábrica de pele de carneiro, em Glendale, Califórnia; uma empresa que vende peles e couros de animais mortos. Eu sei que muitas pessoas pensam que eu deveria sentir remorso pelo que fiz. Suponho que este é o momento em que, de costume, deve se humilhar e implorar por misericórdia. Eu lhes asseguro, que se fosse isso que sentisse, eu o faria. Mas eu não me arrependo de nada que fiz. Também não estou assustado com a autoridade deste tribunal, já que qualquer sistema jurídico que valorize os direitos do opressor sobre o oprimido é um sistema injusto. E quando este tribunal tem o poder real e atual, eu questiono a sua moralidade. Duvido que o tribunal esteja interessado nas precauções que tomei para não prejudicar qualquer pessoa ou pessoal em serviço, e muito menos com as miseráveis vidas que ovelhas, vacas e visons têm que suportar, até a morte, e com as quais uma empresa do Colorado se beneficiou de sua prisão, escravidão e assassinato.
Obviamente, os proprietários e empregados da fábrica de pele de ovelha não se importam muito se são parte do comércio sinistro e macabro de sangue. Então eu não vou perder meu tempo com eles, pois só cairia em ouvidos surdos. É por isso que me voltei para a ação direta ilegal para começar, porque, a eles, não importa. Não importa o quanto os ativistas lhes falem e argumentem sobre os direitos dos animais, não importa para eles. Bem, Sr. Livaditis [proprietário da fábrica de pele de carneiro], você realmente não me importa. Não existe terreno comum entre as pessoas como você e eu. Eu quero que você saiba que não importa com o que o tribunal condene-me hoje, você não ganhou nada! A prisão não é uma grande dificuldade para mim. Em uma sociedade que valoriza o dinheiro acima da vida, considero uma honra ser um prisioneiro de guerra; a guerra contra a escravidão entre espécies e a objetivação! Eu também quero que saiba nunca vou estar disposto a pagar um dólar, nem um! Espero que o seu negócio fracasse e te sufoque até a morte, a cada centavo que entra do benefício que é para você matar os animais! Espero que sufoque e queime no inferno!
Às pessoas que me apóiam, quero agradecê-las por se juntar a mim e mostrar a este tribunal, e a estes exploradores de animais, que apoiamos uns aos outros e, como movimento, não pediremos desculpas por ter um senso de urgência. Não vamos colocar os interesses do comércio sobre a sensibilidade! E nunca deixaremos de educar, agitar e enfrentar os responsáveis pela morte de nossa Mãe Terra e suas nações animais. Minhas irmãs e irmãos vegans, nossas vidas não são nossas. O egoísmo é a forma dos gananciosos, pervertidos e fornecedores de injustiça. Já foi dito que todo o necessário para o mal vencer é que as pessoas de bem não façam nada. Já pelo contrário, todo o necessário para acabar com a escravidão, o uso de drogas, abuso e assassinato de outros animais além dos humanos, é a vontade de lutar em seu nome!
Faça o que puder, faça o que deve fazer: ser guerreiros vegans e verdadeiros defensores dos animais, e nunca se comprometer com seus assassinos e especuladores. A Frente de Libertação Animal (FLA) é a resposta. Raramente houve um movimento de grande alcance e eficaz a nível internacional na história humana. Não podes se somar a FLA, mas então se converta nela. E é o de mais orgulhoso e mais poderoso que eu fiz. Ao sair desta sala hoje não fique consternado com a minha prisão. Toda a ferocidade e amor em meu coração seguem vivo. Toda vez que alguém liberta um animal e quebra sua gaiola, sigo vivo! Cada vez que um ativista se recusa a curvar-se às leis que protegem o assassinato, sigo vivo! E eu vivo cada vez que o céu a noite é iluminado pelas chamas de uma outra empresa exploradora de animais em ruínas!
Isso é tudo, senhor juiz; estou pronto para ir para a prisão.”
Walter Bond
Mais infos:
› http://www.supportwalter.org/index.htm
agência de notícias anarquistas-ana
as pálpebras da noite
fecham-se
sem ruído
Rogério Martins
Ditaduras na África e no Oriente Médio? Que surpresa! - por Ignacio Escolar
Ditaduras na África e no Oriente Médio? Que surpresa!
Graças às revoltas árabes, o Ocidente acaba de descobrir com grande assombro que o Bahrein não é só esse exótico lugar onde voam os bólidos da Fórmula 1 e onde amarram os porta-aviões da Quinta Frota. Qual será a próxima tirania que descobriremos no Oriente Médio ou África? A da Guiné? A de Marrocos, que possui uma "relação privilegiada" com a União Europeia? Que grande contrarieddade para o cinismo da realpolitik!
O país que os Estados Unidos apresentava como exemplo para a região acaba por ser retratado também como uma brutal ditadura, capaz de colocar o Exército na rua com ordem de disparar contra o povo. Que terrível e inesperada notícia! Que grande contrariedade para o cinismo da realpolitik! Qual será a próxima tirania que descobriremos no Oriente Médio ou África? A da Guiné? A de Marrocos?
Comecemos por Guiné. “Mais coisas nos unem do que nos separam”, ressaltou o presidente do Congresso espanhol, José Bono, em recente visita oficial – junto a representantes do PP, PSOE e CiU – Convergência e União. É óbvio o que “nos une”: o petróleo e os interesses comerciais. E o que nos separa? Minúcias: as execuções de opositores políticos, as torturas, a corrupção do regime de Obiang, que não só conta com a cumplicidade tácita do Estado espanhol, como também com seu respaldo público a título de vacina, já que a liberdade é uma enfermidade contagiosa.
Prossigamos com o Marrocos, essa monarquia absoluta com um cenário democrático que pode presumir “uma relação privilegiada” com a União Europeia, nas palavras do comissário de Ampliação e Vizinhança, Stefan Füle. “Seu país pode estar orgulhoso do que conseguiu até hoje”, felicitou Fule não faz muito tempo ao ministro de Relações Exteriores do Marrocos, elogiando as “reformas políticas” que requerem microscópio para serem apreciadas em sua justa dimensão.
E a que vem tanto elogio? Fácil: neste domingo venceu o acordo de pesca com a Europa que terá que ser renegociado. Em cima da mesa, o incômodo assunto do Saara ou os direitos humanos são só outra moeda de troca.
(*) Ignacio Escolar é blogueiro e jornalista espanhol, colunista do jornal “Público”, de Madri (21/02/2011)
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior
Graças às revoltas árabes, o Ocidente acaba de descobrir com grande assombro que o Bahrein não é só esse exótico lugar onde voam os bólidos da Fórmula 1 e onde amarram os porta-aviões da Quinta Frota. Qual será a próxima tirania que descobriremos no Oriente Médio ou África? A da Guiné? A de Marrocos, que possui uma "relação privilegiada" com a União Europeia? Que grande contrarieddade para o cinismo da realpolitik!
O país que os Estados Unidos apresentava como exemplo para a região acaba por ser retratado também como uma brutal ditadura, capaz de colocar o Exército na rua com ordem de disparar contra o povo. Que terrível e inesperada notícia! Que grande contrariedade para o cinismo da realpolitik! Qual será a próxima tirania que descobriremos no Oriente Médio ou África? A da Guiné? A de Marrocos?
Comecemos por Guiné. “Mais coisas nos unem do que nos separam”, ressaltou o presidente do Congresso espanhol, José Bono, em recente visita oficial – junto a representantes do PP, PSOE e CiU – Convergência e União. É óbvio o que “nos une”: o petróleo e os interesses comerciais. E o que nos separa? Minúcias: as execuções de opositores políticos, as torturas, a corrupção do regime de Obiang, que não só conta com a cumplicidade tácita do Estado espanhol, como também com seu respaldo público a título de vacina, já que a liberdade é uma enfermidade contagiosa.
Prossigamos com o Marrocos, essa monarquia absoluta com um cenário democrático que pode presumir “uma relação privilegiada” com a União Europeia, nas palavras do comissário de Ampliação e Vizinhança, Stefan Füle. “Seu país pode estar orgulhoso do que conseguiu até hoje”, felicitou Fule não faz muito tempo ao ministro de Relações Exteriores do Marrocos, elogiando as “reformas políticas” que requerem microscópio para serem apreciadas em sua justa dimensão.
E a que vem tanto elogio? Fácil: neste domingo venceu o acordo de pesca com a Europa que terá que ser renegociado. Em cima da mesa, o incômodo assunto do Saara ou os direitos humanos são só outra moeda de troca.
(*) Ignacio Escolar é blogueiro e jornalista espanhol, colunista do jornal “Público”, de Madri (21/02/2011)
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
A truculência da PM de São Paulo contra estudantes!
Fonte: http://ohomemrevoltado.blogspot.com
SOB BOMBAS, BALAS DE BORRACHA E GÁS LACRIMOGÊNEO NÓS ESTAMOS RESISTINDO!
Dia 17 de fevereiro, seis manifestantes da frente contra o aumento da tarifa permaneceram acorrentados nas catracas da prefeitura de São Paulo enquanto cerca de 600 manifestantes permaneceram na rua para demonstra sua disposição de resistência. O acorrentamento progrediu até ás 23 horas unindo forças com o ato marcado para as 17 horas na frente da prefeitura. A guerra do lado de dentro se estendeu ao lado de fora, mostrando a necessidade de resistência por todas as formas e contra as velhas armas do Estado e das forças policiais.
O dia 17 de fevereiro foi um dia histórico na luta contra o aumento abusivo da tarifa de ônibus para R$ 3,00 e do metrô para R$ 2,90. A luta começou com o acorrentamento de seis militantes na catraca da prefeitura por volta do meio-dia. A resposta da prefeitura foi encher a rua com guardas civis e carros da policia militar. Do lado de fora pelo menos 200 pessoas permaneceram até às 17 horas panfletando e esclarecendo à população sobre o motivo do acorrentamento. Dentro ou fora da prefeitura os manifestantes se submeteram à gravação de todos os seus passos, apesar de muitos policiais militares e civis estarem sem a devida identificação. Na frente da prefeitura os mais de 600 manifestantes foram duramente reprimidos quando uma das grades colocadas a frente da prefeitura veio ao chão. A repressão já havia sido proposta antes de qualquer ação das pessoas e foi ordenada por policiais infiltrados. Muitas pessoas ficaram atordoadas e caídas, com seus rostos cobertos pelos sprays de pimenta ou com ferimentos pelas bombas e balas de borracha. Uma parte dos manifestantes correu em direção ao viaduto do cha em quanto outros ficaram para ajudar, demonstrando que existiam mais pessoas dispostas a resistir além daqueles que ocupavam a prefeitura. A multidão, apesar de parcialmente dispersa, crescia pelo encontro com outros grupos e apoiadores que saiam de seus trabalhos. Os trabalhadores que não participavam do ato, em geral, permaneciam na frente dos comércios em apoio ou sem dizer nada. Quando as pessoas voltaram para a frente da prefeitura agora em maior número, não era possível distinguir quem estava ou não na passeata, o que se via era uma grande massa de pessoas andando, indignadas e obstinadas a alcançar seu objetivo. Voltaram à frente da prefeitura, demonstrando que repressão nenhuma derrubaria o que foi até aqui construído. Sorrindo e machucadas, as pessoas gritavam, agora cara a cara com o Batalhão de choque da Policia Militar: (Se a tarifa não abaixar a cidade vai parar!). Em vigília muitos permaneceram e prometeram não sair dali enquanto não vissem os companheiros acorrentados saindo pela frente e sem serem identificados. Após mais de 11 horas de permanência houve grande comemoração quando os manifestantes foram libertos. Eles foram recebidos com abraços e gritos de luta. Unindo quem estava dentro com quem estava fora e nos tornando uma só classe de pessoas. Aqueles que permaneceram dentro da prefeitura não tiveram outra escolha se não apresentar seu documento de identidade. Porém, nesta luta nós todos nos solidarizamos e demonstramos que um ideal não pode ser ferido com balas de borracha ou sprays de pimenta. Nossos feridos, nossos heróis e nossas baixas demonstram que o amanhã é hoje! Devemos garantir que seu sacrifício não seja em vão!
Video abaixo retirado do: http://tsavkko.blogspot.com/
SOB BOMBAS, BALAS DE BORRACHA E GÁS LACRIMOGÊNEO NÓS ESTAMOS RESISTINDO!
Dia 17 de fevereiro, seis manifestantes da frente contra o aumento da tarifa permaneceram acorrentados nas catracas da prefeitura de São Paulo enquanto cerca de 600 manifestantes permaneceram na rua para demonstra sua disposição de resistência. O acorrentamento progrediu até ás 23 horas unindo forças com o ato marcado para as 17 horas na frente da prefeitura. A guerra do lado de dentro se estendeu ao lado de fora, mostrando a necessidade de resistência por todas as formas e contra as velhas armas do Estado e das forças policiais.
O dia 17 de fevereiro foi um dia histórico na luta contra o aumento abusivo da tarifa de ônibus para R$ 3,00 e do metrô para R$ 2,90. A luta começou com o acorrentamento de seis militantes na catraca da prefeitura por volta do meio-dia. A resposta da prefeitura foi encher a rua com guardas civis e carros da policia militar. Do lado de fora pelo menos 200 pessoas permaneceram até às 17 horas panfletando e esclarecendo à população sobre o motivo do acorrentamento. Dentro ou fora da prefeitura os manifestantes se submeteram à gravação de todos os seus passos, apesar de muitos policiais militares e civis estarem sem a devida identificação. Na frente da prefeitura os mais de 600 manifestantes foram duramente reprimidos quando uma das grades colocadas a frente da prefeitura veio ao chão. A repressão já havia sido proposta antes de qualquer ação das pessoas e foi ordenada por policiais infiltrados. Muitas pessoas ficaram atordoadas e caídas, com seus rostos cobertos pelos sprays de pimenta ou com ferimentos pelas bombas e balas de borracha. Uma parte dos manifestantes correu em direção ao viaduto do cha em quanto outros ficaram para ajudar, demonstrando que existiam mais pessoas dispostas a resistir além daqueles que ocupavam a prefeitura. A multidão, apesar de parcialmente dispersa, crescia pelo encontro com outros grupos e apoiadores que saiam de seus trabalhos. Os trabalhadores que não participavam do ato, em geral, permaneciam na frente dos comércios em apoio ou sem dizer nada. Quando as pessoas voltaram para a frente da prefeitura agora em maior número, não era possível distinguir quem estava ou não na passeata, o que se via era uma grande massa de pessoas andando, indignadas e obstinadas a alcançar seu objetivo. Voltaram à frente da prefeitura, demonstrando que repressão nenhuma derrubaria o que foi até aqui construído. Sorrindo e machucadas, as pessoas gritavam, agora cara a cara com o Batalhão de choque da Policia Militar: (Se a tarifa não abaixar a cidade vai parar!). Em vigília muitos permaneceram e prometeram não sair dali enquanto não vissem os companheiros acorrentados saindo pela frente e sem serem identificados. Após mais de 11 horas de permanência houve grande comemoração quando os manifestantes foram libertos. Eles foram recebidos com abraços e gritos de luta. Unindo quem estava dentro com quem estava fora e nos tornando uma só classe de pessoas. Aqueles que permaneceram dentro da prefeitura não tiveram outra escolha se não apresentar seu documento de identidade. Porém, nesta luta nós todos nos solidarizamos e demonstramos que um ideal não pode ser ferido com balas de borracha ou sprays de pimenta. Nossos feridos, nossos heróis e nossas baixas demonstram que o amanhã é hoje! Devemos garantir que seu sacrifício não seja em vão!
Video abaixo retirado do: http://tsavkko.blogspot.com/
A primavera árabe se espalha - por Wilson Sobrinho
A primavera árabe se espalhaDe onde o continente africano encontra o oceano Atlântico, no Marrocos, cruzando a extensão dos mares Mediterrâneo e Vermelho, englobando a península arábica para atravessar o golfo Pérsico até os limites da Ásia, no Irã, mais de 300 milhões de pessoas vivem em uma região sob ameaça de convulsão social decorrente de eventos que podem representar a maior redistribuição de forças no tabuleiro geopolítico global desde o fim do comunismo no Leste Europeu. A expressão barril de pólvora nunca fez tanto sentido.
A Primavera Árabe, como parte da imprensa tem se referido aos acontecimentos iniciados em dezembro na Tunísia e que na metade de fevereiro derrubaram o governo do Egito, transformou-se em uma rebelião tão grande que agora já transborda os limites daquele que é um dos verdadeiros parâmetros de grandeza do planeta Terra, o deserto do Saara.
De onde o continente africano encontra o oceano Atlântico, no Marrocos, cruzando a extensão dos mares Mediterrâneo e Vermelho, englobando a península arábica para atravessar o golfo Pérsico até os limites da Ásia, no Irã, mais de 300 milhões de pessoas vivem em uma região sob ameaça de convulsão social decorrente de eventos que podem representar a maior redistribuição de forças no tabuleiro geopolítico global desde o fim do comunismo no Leste Europeu. A expressão barril de pólvora nunca fez tanto sentido.
Argélia – Os argelinos primeiro foram as ruas para protestar contra a alta no preço dos alimentos em janeiro último. Os confrontos deixaram um saldo de 5 mortos e 800 feridos. No sábado (12/02) depois da queda do governo egípcio, mais protestos foram convocados pela oposição. Duas mil pessoas compareceram às ruas da capital Argel. 30 mil soldados os esperavam. Relatos dão conta de que 350 pessoas foram presas na ocasião. Mais protestos estão programados para este final de semana, apesar do estado de emergência, em vigor desde 1992, que proíbe manifestações públicas no país. Na segunda cidade da Argélia, Orã, por exemplo, as autoridades deram permissão para manifestações, contanto que aconteçam em locais fechado.
A dissolução da lei de emergência e a saída do presidente Abdelaziz Bouteflika são algumas das bandeiras dos manifestantes. Bouteflika, que está no poder desde 1999 e recentemente alterou a regra que limitava o número de vezes que pode concorrer à reeleição, anunciou que deverá revogar a lei de emergência em semanas. Nos anos 1990, uma guerra civil ceifou entre 150 e 200 mil vidas no país.
Arábia Saudita – Parcos foram os eventos até agora no país que guarda em seu subsolo um quinto das reservas de petróleo do mundo e que é o alicerce maior dos EUA no Oriente Médio. E poucos acreditam que o pavio saudita possa ser acesso, mas diante de tanta instabilidade ninguém ficará surpreso caso isso aconteça.
Neste sábado (19/02), membros da minoria xiitas do país teriam organizado uma manifestação pacífica e silenciosa em apoio aos seus pares de Bahrein, relata a agência Reuters.
Bahrein – As manifestações começaram no dia 14 de fevereiro, três dias depois da queda de Cairo. Quatro pessoas morreram quando as forças do governo tentavam retirar manifestantes da praça Pérola, na quinta-feira (17/02), em Manama, a capital dessa ilha do golfo Pérsico que abriga a Quinta Frota da marinha dos EUA. No enterro dos mortos, mais violência resultou em pelo menos 50 feridos. O governo, que primeiro pediu que os manifestantes abandonassem as ruas, passou chamar o diálogo, rejeitado pelas forças de oposição sob o argumento de que não há conversa possível com o exército nas ruas.
Com 1,2 milhões de habitantes apenas, essa ilha do golfo Pérsico espremida entre o Catar e a Arábia Saudita está longe de ser a mais desimportante das repúblicas em convulsão. Analistas alertam que Bahrein pode representar a porta de entrada da Arábia Saudita na crise. Já que as demandas da maioria xiita do país são semelhantes a dos xiitas árabes, minoria concentrada na região leste do país.
Egito – Uma semana depois da queda de Hosni Mubarak – o mais espetacular dos eventos alcançados pelos manifestantes nessa onda de revolta árabe até o momento – milhares de pessoas voltaram à praça Tahrir para celebrar o feito. Mas a manifestação pode ser compreendida também como um sinal de alerta às forças armadas que tomaram o poder depois da saída de Mubarak. Depois de derrubar um regime de 30 anos, em 18 dias de protestos, os egípcios sabem que sua revolução ainda não terminou até que o poder provisório dê lugar a um com regras bem claras e estabelecidas.
Iêmen – no sul da península arábica, esse país tem, segundo a revista britânica The Economist, o maior potencial para ruptura social entre todos os envolvidos na revolta até agora. Há 32 anos no poder, Ali Abdullah Saleh anunciou em início de fevereiro que não irá buscar um novo mandato em 2013, nem irá apontar seu filho como herdeiro político. O comprometimento veio depois de uma manifestação que levou 16 mil pessoas às ruas da capital, Sana, pedindo a queda do governo.
No dia seguinte ao anúncio, 20 mil pessoas voltaram às ruas da capital e de outras cidades para reforçar o pedido de fim do regime. Depois da queda de Mubarak, no Egito, manifestações diárias vem acontecendo no Iêmen. A maior delas, na sexta-feira, 18, quando milhares de manifestantes antigoverno foram às ruas da capital. Reprimidos pelo exército e por ativistas pró-governo, que chegaram a atirar uma granada em um grupo de pessoas, a contagem de mortos entre os manifestantes já chega a 12.
Irã – Embora aplauda o levante popular em outras partes do mundo islâmico, Teerã – que divide com a Líbia o posto de maior inimigo dos EUA na região – não quer que o mesmo aconteça em seu território. Por outro lado, a oposição pretende aproveitar a onda de rebeldia para recobrar forças e voltar a desafiar o governo de Mahmoud Ahmadinejad.
Dois manifestantes foram mortos na segunda-feira, dia 14, na capital, em confrontos envolvendo grupos de oposição e forças do governo. Como resposta, a oposição está chamando para domingo, dia 20, uma manifestação contra o governo, que por sua vez colocou os líderes oposicionistas em prisão domiciliar.
Jordânia – Outro país onde as manifestações começaram em janeiro, fomentadas por altas nos preços de comida e energia. Em 28 de janeiro, 3,5 mil ativistas tomaram as ruas da capital, Amã, exigindo a saída do primeiro-ministro e uma ação mais forte do governo em relação ao desemprego e a alta do custo de vida. O rei Abdullah II foi rápido ao intervir e a dissolução do governo foi anunciada em começo de fevereiro. As manifestações seguiram, agora com a oposição pedindo reformas políticas e democracia.
O único confronto registrado até agora na Jordânia aconteceu na sexta-feira, 18 de fevereiro, quando um grupo de manifestantes favoráveis ao governo atacou os oposicionistas com paus e pedras, até a polícia intervir.
Líbia – Excluindo-se o rei da Tailândia e a rainha da Inglaterra, ninguém está no poder há tanto tempo quanto Muammar al-Gaddafi. O homem que comanda a Líbia desde o fim dos anos 1960 viu a revolta oposicionista ser incensada pelos eventos do Egito e da Tunísia. Desde o dia 15 de fevereiro, terça-feira, as manifestações contra Gaddafi são diárias no país principalmente na cidade de Bengasi, a segunda maior do país. Segundo agências internacionais, mas de 80 pessoas já teriam morrido em confrontos entre manifestantes e forças do governo.
Em Trípoli, porém, não há relatos de grandes protestos até o momento e e o único evento relacionado à crise foi uma resposta de seguidores do governo ao protestos convocados pela oposição. Há relatos de que o governo teria bloqueado o acesso à internet no país, ou pelo menos a sites como Facebook e Twitter, armas reconhecidas dos oposicionistas em outros países.
Marrocos – Os protestos em massa no país ainda não ganharam as ruas, mas estão prestes a fazê-lo. A oposição está convocando uma manifestação neste domingo (20/02). Organizados via Internet os manifestantes afirmam não ser um movimento antimonarquia e que apenas querem “um governo que represente as pessoas e não a elite”, como descreveu para a Associated Press nessa semana um dos membros do grupo chamado 20 de Fevereiro.
Tunísia – Quando Mohamed Bouazizi colocou fogo em si mesmo, no dia 17 de dezembro de 2010, como um ato de desespero depois de ter suas mercadorias confiscadas pelas autoridades policiais da Tunísia, ele não teria como imaginar o que se seguiria. O ato do jovem vendedor de rua serviu de gatilho para a Primavera Árabe. Menos de um mês depois, o presidente de mais de 24 anos no comando do país africano havia sido colocado para correr e os portões do inferno haviam sido abertos para todos os déspotas da região.
Mais de 200 pessoas morreram no processo, que ainda não acabou. Apesar da mudança de governo, os manifestantes tunisianos seguem mobilizados para garantir que antigos membros do governo não voltem à cena e que a transição para a democracia ocorra de fato.
(*) Correspondente da Carta Maior em Londres.
Fonte: Carta Maior
A Primavera Árabe, como parte da imprensa tem se referido aos acontecimentos iniciados em dezembro na Tunísia e que na metade de fevereiro derrubaram o governo do Egito, transformou-se em uma rebelião tão grande que agora já transborda os limites daquele que é um dos verdadeiros parâmetros de grandeza do planeta Terra, o deserto do Saara.
De onde o continente africano encontra o oceano Atlântico, no Marrocos, cruzando a extensão dos mares Mediterrâneo e Vermelho, englobando a península arábica para atravessar o golfo Pérsico até os limites da Ásia, no Irã, mais de 300 milhões de pessoas vivem em uma região sob ameaça de convulsão social decorrente de eventos que podem representar a maior redistribuição de forças no tabuleiro geopolítico global desde o fim do comunismo no Leste Europeu. A expressão barril de pólvora nunca fez tanto sentido.
Argélia – Os argelinos primeiro foram as ruas para protestar contra a alta no preço dos alimentos em janeiro último. Os confrontos deixaram um saldo de 5 mortos e 800 feridos. No sábado (12/02) depois da queda do governo egípcio, mais protestos foram convocados pela oposição. Duas mil pessoas compareceram às ruas da capital Argel. 30 mil soldados os esperavam. Relatos dão conta de que 350 pessoas foram presas na ocasião. Mais protestos estão programados para este final de semana, apesar do estado de emergência, em vigor desde 1992, que proíbe manifestações públicas no país. Na segunda cidade da Argélia, Orã, por exemplo, as autoridades deram permissão para manifestações, contanto que aconteçam em locais fechado.
A dissolução da lei de emergência e a saída do presidente Abdelaziz Bouteflika são algumas das bandeiras dos manifestantes. Bouteflika, que está no poder desde 1999 e recentemente alterou a regra que limitava o número de vezes que pode concorrer à reeleição, anunciou que deverá revogar a lei de emergência em semanas. Nos anos 1990, uma guerra civil ceifou entre 150 e 200 mil vidas no país.
Arábia Saudita – Parcos foram os eventos até agora no país que guarda em seu subsolo um quinto das reservas de petróleo do mundo e que é o alicerce maior dos EUA no Oriente Médio. E poucos acreditam que o pavio saudita possa ser acesso, mas diante de tanta instabilidade ninguém ficará surpreso caso isso aconteça.
Neste sábado (19/02), membros da minoria xiitas do país teriam organizado uma manifestação pacífica e silenciosa em apoio aos seus pares de Bahrein, relata a agência Reuters.
Bahrein – As manifestações começaram no dia 14 de fevereiro, três dias depois da queda de Cairo. Quatro pessoas morreram quando as forças do governo tentavam retirar manifestantes da praça Pérola, na quinta-feira (17/02), em Manama, a capital dessa ilha do golfo Pérsico que abriga a Quinta Frota da marinha dos EUA. No enterro dos mortos, mais violência resultou em pelo menos 50 feridos. O governo, que primeiro pediu que os manifestantes abandonassem as ruas, passou chamar o diálogo, rejeitado pelas forças de oposição sob o argumento de que não há conversa possível com o exército nas ruas.
Com 1,2 milhões de habitantes apenas, essa ilha do golfo Pérsico espremida entre o Catar e a Arábia Saudita está longe de ser a mais desimportante das repúblicas em convulsão. Analistas alertam que Bahrein pode representar a porta de entrada da Arábia Saudita na crise. Já que as demandas da maioria xiita do país são semelhantes a dos xiitas árabes, minoria concentrada na região leste do país.
Egito – Uma semana depois da queda de Hosni Mubarak – o mais espetacular dos eventos alcançados pelos manifestantes nessa onda de revolta árabe até o momento – milhares de pessoas voltaram à praça Tahrir para celebrar o feito. Mas a manifestação pode ser compreendida também como um sinal de alerta às forças armadas que tomaram o poder depois da saída de Mubarak. Depois de derrubar um regime de 30 anos, em 18 dias de protestos, os egípcios sabem que sua revolução ainda não terminou até que o poder provisório dê lugar a um com regras bem claras e estabelecidas.
Iêmen – no sul da península arábica, esse país tem, segundo a revista britânica The Economist, o maior potencial para ruptura social entre todos os envolvidos na revolta até agora. Há 32 anos no poder, Ali Abdullah Saleh anunciou em início de fevereiro que não irá buscar um novo mandato em 2013, nem irá apontar seu filho como herdeiro político. O comprometimento veio depois de uma manifestação que levou 16 mil pessoas às ruas da capital, Sana, pedindo a queda do governo.
No dia seguinte ao anúncio, 20 mil pessoas voltaram às ruas da capital e de outras cidades para reforçar o pedido de fim do regime. Depois da queda de Mubarak, no Egito, manifestações diárias vem acontecendo no Iêmen. A maior delas, na sexta-feira, 18, quando milhares de manifestantes antigoverno foram às ruas da capital. Reprimidos pelo exército e por ativistas pró-governo, que chegaram a atirar uma granada em um grupo de pessoas, a contagem de mortos entre os manifestantes já chega a 12.
Irã – Embora aplauda o levante popular em outras partes do mundo islâmico, Teerã – que divide com a Líbia o posto de maior inimigo dos EUA na região – não quer que o mesmo aconteça em seu território. Por outro lado, a oposição pretende aproveitar a onda de rebeldia para recobrar forças e voltar a desafiar o governo de Mahmoud Ahmadinejad.
Dois manifestantes foram mortos na segunda-feira, dia 14, na capital, em confrontos envolvendo grupos de oposição e forças do governo. Como resposta, a oposição está chamando para domingo, dia 20, uma manifestação contra o governo, que por sua vez colocou os líderes oposicionistas em prisão domiciliar.
Jordânia – Outro país onde as manifestações começaram em janeiro, fomentadas por altas nos preços de comida e energia. Em 28 de janeiro, 3,5 mil ativistas tomaram as ruas da capital, Amã, exigindo a saída do primeiro-ministro e uma ação mais forte do governo em relação ao desemprego e a alta do custo de vida. O rei Abdullah II foi rápido ao intervir e a dissolução do governo foi anunciada em começo de fevereiro. As manifestações seguiram, agora com a oposição pedindo reformas políticas e democracia.
O único confronto registrado até agora na Jordânia aconteceu na sexta-feira, 18 de fevereiro, quando um grupo de manifestantes favoráveis ao governo atacou os oposicionistas com paus e pedras, até a polícia intervir.
Líbia – Excluindo-se o rei da Tailândia e a rainha da Inglaterra, ninguém está no poder há tanto tempo quanto Muammar al-Gaddafi. O homem que comanda a Líbia desde o fim dos anos 1960 viu a revolta oposicionista ser incensada pelos eventos do Egito e da Tunísia. Desde o dia 15 de fevereiro, terça-feira, as manifestações contra Gaddafi são diárias no país principalmente na cidade de Bengasi, a segunda maior do país. Segundo agências internacionais, mas de 80 pessoas já teriam morrido em confrontos entre manifestantes e forças do governo.
Em Trípoli, porém, não há relatos de grandes protestos até o momento e e o único evento relacionado à crise foi uma resposta de seguidores do governo ao protestos convocados pela oposição. Há relatos de que o governo teria bloqueado o acesso à internet no país, ou pelo menos a sites como Facebook e Twitter, armas reconhecidas dos oposicionistas em outros países.
Marrocos – Os protestos em massa no país ainda não ganharam as ruas, mas estão prestes a fazê-lo. A oposição está convocando uma manifestação neste domingo (20/02). Organizados via Internet os manifestantes afirmam não ser um movimento antimonarquia e que apenas querem “um governo que represente as pessoas e não a elite”, como descreveu para a Associated Press nessa semana um dos membros do grupo chamado 20 de Fevereiro.
Tunísia – Quando Mohamed Bouazizi colocou fogo em si mesmo, no dia 17 de dezembro de 2010, como um ato de desespero depois de ter suas mercadorias confiscadas pelas autoridades policiais da Tunísia, ele não teria como imaginar o que se seguiria. O ato do jovem vendedor de rua serviu de gatilho para a Primavera Árabe. Menos de um mês depois, o presidente de mais de 24 anos no comando do país africano havia sido colocado para correr e os portões do inferno haviam sido abertos para todos os déspotas da região.
Mais de 200 pessoas morreram no processo, que ainda não acabou. Apesar da mudança de governo, os manifestantes tunisianos seguem mobilizados para garantir que antigos membros do governo não voltem à cena e que a transição para a democracia ocorra de fato.
(*) Correspondente da Carta Maior em Londres.
Fonte: Carta Maior
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Os EUA, arrimo de Israel no Oriente Médio - por Kathleen Christison
Os EUA, arrimo de Israel no Oriente Médio
Há uma espécie de ‘ponto cego’ no panorama mental de muita gente sempre que se trata de Israel – fenômeno frequente também entre os pensadores progressistas. Ninguém fala contra Israel, porque quem fale sempre poderá ser dito antissemita, acusado de “selecionar” Israel como alvo preferencial de críticas. A imprensa não discute Israel nem noticia o que Israel faz no Oriente Médi, mais diretamente aos palestinos que vivem sob ocupação militar. O tema sempre dispara cartas de leitores indignados e cancelamento de assinaturas de jornais e revistas. Assim, silencia-se sobre o fato de que Israel é o fator determinante de praticamente todas as políticas e ações dos EUA no Oriente Médio.
Há cerca de dez dias, participei de discussão especialmente interessante sobre Israel e seu relacionamento com a política dos EUA para o Oriente Médio, considerados os atuais acontecimentos no Egito e em outros países do mundo árabe. Meu interlocutor foi um dos mais brilhantes comentaristas de política norte-americana da mídia alternativa, mas disse que, para ele, Israel não teria qualquer importância considerável no que os EUA fazem na região.
Devo dizer que pode ser caso de uma espécie de ‘ponto cego’ no panorama mental sempre que se trata de Israel – fenômeno frequente também entre os pensadores progressistas. E espero que o torvelinho pelo qual passa a região acabará abrindo os olhos também dos que ainda tendem a minimizar o papel central que Israel desempenha na política dos EUA.
Os recentes eventos no Egito e os “Documentos da Palestina” publicados por WikiLeaks e divulgados pela rede al-Jazeera, com conversações entre palestinos e israelenses, aí estão, como prova escrita, mais contundentes que qualquer outra divulgação, de que os EUA fazem o que fazem no Oriente Médio em vasta medida por causa de Israel – para proteger e salvaguardar Israel contra os vizinhos árabes que se revoltam contra o tratamento que Israel dá aos palestinos; contra muçulmanos, também revoltados pelos mesmos motivos; contra todos os críticos que reclamam das agressões militares dos israelenses contra Estados próximos; contra a ira de outros Estados eternamente ameaçados por Israel; contra governos na região que não aceitam que Israel seja o único Estado nuclear e insistem em desenvolver programas nucleares próprios, que lhes deem meios para conter Israel e defender-se das agressões dos israelenses.
É instrutivo lembrar que o Egito é importante para os EUA quase exclusivamente porque assinou um tratado de paz com Israel em 1979 e ajuda a garantir a segurança de Israel, defendendo a fronteira ocidental; ajudando em ataques militares contra outros países árabes; fechando os túneis que chegam a Gaza, pelos quais o Hamás contrabandeia algumas armas, e a população de Gaza obtém comida e outros artigos essenciais; e, claro, também porque o Egito ajuda a minar o poder do Hamás em Gaza. Os EUA também consideram o Egito como roldana importante em sua máquina de “guerra ao terror” e na guerra contra o radicalismo islâmico – função também intimamente ligada aos interesses de segurança de Israel.
Obviamente, o Egito é importante, de pleno direito, na Região. O tamanho do país e sua localização estratégica garantem que sempre terá influência considerável na política do Oriente Médio, e há séculos é o coração da cultura árabe, para o que não precisa de ajuda dos EUA.
As três últimas semanas de luta do povo egípcio por democracia aumentou a importância do Egito, capturando a imaginação dos povos do mundo inteiro (exceto de muitos, talvez a maioria, em Israel e da direita linha-dura nos EUA, com destaque para a ala daquela direita que apóia Israel).
Mas a parte fundamental que interessa destacar é que os EUA não teriam o relacionamento militar, político e econômico tão íntimo que têm com o Egito há mais de 30 anos, não fosse o Egito aliado de Israel e o fato de que, nas palavras de Rashid Khalidi, especialista em Oriente Médio, o Egito sempre aceitou “a hegemonia regional de Israel”. O 1,5 bilhão anual de dólares em ajuda militar, e os 28 bilhões em assistência econômica e para o desenvolvimento ao longo dos últimos 35 anos não seriam entregues ao Egito, se o antecessor de Mubarak, Anwar Sadat, não tivesse suplicado por eles e, afinal, não tivesse concordado em assinar um tratado de paz com Israel, que removeu o Egito – o mais poderoso exército do mundo árabe – da lista das ameaças ‘existenciais’ contra Israel, abandonando os palestinos e outros partidos árabes aos seus próprios (poucos) recursos.
Com o Egito fora do jogo e já, de fato, jogando a favor, Israel ficou livre para lançar vários ataques militares contra países vizinhos, duas vezes contra o Líbano e incontáveis vezes contra Gaza e a Cisjordânia, e livre para expandir as colônias exclusivas para judeus em territórios ocupados, roubar terra dos palestinos e massacrar rotineiramente os palestinos, sem medo de retaliação nem, sequer, de qualquer manifestação mais significativa vinda de qualquer exército árabe.
O comentarista israelense Aluf Benn já destacou além disso que, com Mubarak no poder, Israel sempre poderia sentir-se seguro em relação ao flanco ocidental no caso de atacar o Irã.
Hoje, Israel já não pode atrever-se a atacar o Irã, e assim continuará até que volte (se voltar) a poder confiar que receberá do Egito “apoio tácito a todos os seus atos”. Mas quem quer que substitua Mubarak, seguindo esse raciocínio, também terá de preocupar-se com não despertar a fúria das massas, no caso de mostrar muita disposição para apoiar Israel. “Sem Mubarak, desaparece qualquer possibilidade de Israel atacar o Irã.”
Para Israel e, portanto, também para os EUA, o investimento de bilhões que os EUA fizeram no Egito sempre valeu cada vintém. O fim da “estabilidade” que o Egito assegurava – ou seja, com Israel já sem poder confiar que se manterá em segurança, como potência regional dominante – é o fator de mudou muito dramaticamente todos os cálculos estratégicos dos EUA e de Israel.
Antes do tratado de paz Egito-Israel, os EUA jamais consideraram que o Egito fosse o item de alta importância estratégica que passou a ser depois de render-se e por toda a sua capacidade militar a serviço dos interesses de Israel. Pode-se dizer o mesmo sobre as relações dos EUA com inúmeros outros estados árabes. O envolvimento dos EUA no Líbano – inclusive os esforços para tirar o exército sírio do Líbano – também se explica quase completamente pela defesa dos interesses de Israel também ali.
O fracasso da invasão de Israel ao Líbano em 1982 ainda reverbera: em resposta àquela invasão, os EUA mandaram um contingente de Marines, que se envolveu em luta direta com facções libanesas, o que levou a um ataque a bomba devastador contra o quartel-general dos Marines que matou 241 militares e agentes dos EUA em 1983. O crescimento do Hezbollah, representando a população xiita sitiada no sul do Líbano, é resultado direto da invasão israelense; o aumento no número de pessoal norte-americano seqüestrado pelo Hezbollah ao longo dos anos 1980s é resultado da hostilidade que cresceu contra os EUA, por causa do apoio a Israel. Israel retirou-se em 2000 do sul do Líbano, depois de vinte anos de ocupação, deixando atrás de si um Hezbollah mais poderoso do que jamais fora. O continuado conflito ao longo da fronteira levou ao brutal ataque de Israel contra o Líbano no verão de 2006. Mas Israel não derrotou a organização islâmica nem fez diminuir sua popularidade. Como resultado disso, os EUA já há anos estão obrigados a trabalhar para minar o poder do Hezbollah e, essencialmente, para manter o Líbano como sinecura israelense.
A Jordânia foi aliada menor dos EUA durante décadas, até que concluiu um tratado de paz com Israel em 1994 e ganhou status aos olhos dos EUA. Então, o pequeno Estado na fronteira leste de Israel passou a receber gorda ajuda militar e econômica dos EUA. O perfil oficial da Jordânia nos arquivos do Departamento de Estado dos EUA expõe os argumentos que explicam o bom relacionamento com a Jordânia, todos ligados, mais ou menos diretamente, a Israel, mas sem jamais mencionar Israel: “A política dos EUA busca reforçar o comprometimento da Jordânia com a paz, a estabilidade e a moderação. O processo de paz e a oposição da Jordânia ao terrorismo seguem e indiretamente reforçam interesses mais amplos dos EUA. Assim também, mediante assistência militar e econômica e por vias de cooperação política, os EUA têm ajudado a Jordânia a manter-se estável e próspera.”
As referências a “reforçar” o comprometimento da Jordânia “com a paz, a estabilidade e a moderação” e à manutenção da estabilidade e da prosperidade da Jordânia dizem, de fato, sobre a Jordânia ajudar a manter a área – e sobretudo a fronteira com Israel – calma. Assim também, a expressão “indiretamente reforçam interessem mais amplos dos EUA” refere-se ao compromisso de cuidar da segurança de Israel. “Moderação”, no jargão do Departamento de Estado, é palavra-código para defesa dos interesses de Israel; “estabilidade” significa sempre ambiente seguro que atenda, primeiro, aos interesses de Israel.
Pode-se afirmar com segurança que nem o Líbano nem a Jordânia jamais teriam a importância que têm para os EUA, se os EUA não considerassem importante manter calmas as áreas de fronteira desses dois países com Israel, sempre considerada, só, a segurança de Israel. O mesmo não se pode dizer da Arábia Saudita, onde os EUA têm interesses vitais no petróleo, além da preocupação com a segurança de Israel. Mas, ao mesmo tempo, os EUA controlaram todos os impulsos dos sauditas na direção de defender os palestinos ou quaisquer outros árabes sob sítio dos israelenses, e puseram os sauditas bem alinhados, pelo menos implicitamente, ao lado de Israel, em várias questões – seja quando Israel atacou o Líbano em 2006 seja em 2008-2009, quando Israel massacrou Gaza seja, ainda, no que tenha a ver com a suposta “ameaça iraniana”. Vai muito longe o tempo em que os sauditas enfureceram-se por conta do apoio dos EUA a Israel, a ponto de imporem um embargo ao petróleo, como aconteceu em 1973.
Os documentos recentemente divulgados por WikiLeaks de telegramas do Departamento de Estado e, sobretudo, a divulgação pela rede al-Jazeera de minutas de reuniões das negociações entre Israel e palestinos ao longo da última década também mostram com ofuscante clareza o quanto os EUA jogam duro, e que o jogo duro sempre funcionou, para ajudar Israel no processo de negociação com palestinos.
O apoio dos EUA a Israel jamais foi segredo, e cada vez é menos secreto ao longo dos últimos anos, mas os telegramas vazados fazem ver um quadro muito mais dramático do total desdém dos EUA pelos interesses dos palestinos nas negociações e o quanto os palestinos foram deixados sem qualquer poder de barganha ante a recusa de Israel a qualquer concessão.
Chama a atenção, naqueles documentos, que os EUA fazem o papel de “advogado de Israel” – descrição cunhada por Aaron David Miller, depois de trabalhar nas negociações durante a era Clinton. E é o mesmo papel sempre, seja nos governos Bill Clinton ou George W. Bush ou Barack Obama: sempre prevalecem os interesses e demandas de Israel.
Fora do mundo árabe, também a política dos EUA para o Irã é ditada praticamente toda, por Israel. A pressão para atacar o Irã – seja ataque direto dos EUA, ou apoio dos EUA a ataque de Israel – que está em pauta há quase oito anos, desde o início da guerra no Iraque, sempre veio toda de Israel e de seus apoiadores nos EUA. É pressão declarada, e é impossível negar o quanto Israel pressionou para que os EUA atacassem o Iraque.
Se algum dia os EUA se envolverem em ataque militar contra o Irã, diretamente, ou como força de apoio dos israelenses, acontecerá porque Israel decidiu que acontecesse. Se não houver ataque algum contra o Irã, como Aluf Benn prevê que não haverá, foi porque Israel tremeu, agora, depois de iniciada a Revolução Egípcia.
Israel e o desejo de defender a própria hegemonia regional foram fatores substancialmente importantes também para arrastar os EUA à guerra no Iraque – embora haja quem discorde, entre progressistas e conservadores, que entendem que aí haveria em jogo outras forças além das relações EUA-Israel-árabes.
Meu interlocutor progressista, por exemplo – que fez valente oposição ao envolvimento dos EUA na aventura do Iraque e também se opõe fortemente a qualquer ataque ao Irã, e está sem dúvida profundamente perturbado por os EUA não terem pressionado para a imediata partida de Mubarak – não concorda completamente com minha ideia de que Israel e seus apoiadores nos EUA são fator a considerar no envolvimento dos EUA na guerra do Iraque. No início da discussão, ele falou longamente sobre os neoconservadores, seu antigo think tank “Project for a New American Century (PNAC)” e o manifesto interesse do PNAC dos neoconservadores em fazer avançar a hegemonia global dos EUA; e defendeu a ideia de que, quando George W. Bush chegou ao poder, todo um completo think tank instalou-se na administração. Mas, embora reconheça os objetivos dos neoconservadores e o sucesso que alcançaram na implantação daqueles objetivos, nem assim concorda com que o PNAC e os neoconservadores também estivessem tão interessados em promover a hegemonia regional de Israel quanto em promover o imperialismo norte-americano.
Quando, contudo, observei que Bush não instalou só um think tank dentro do governo, mas também, simultaneamente, instalou efetivamente o lobby israelense, ou a ala mais ativa daquele lobby, nos mais altos escalões do governo, nos conselhos políticos, meu amigo logo concordou: oh, claro, ele concordou com vigor, eles (os neoconservadores) “são todos Likudniks.” Há aqui alguma espécie de desconexão, que meu interlocutor parece não perceber: além de reconhecer a íntima ligação entre os neoconservadores e Israel, ele também reconhece que os neoconservadores trabalharam, de algum modo, por Israel. Como se tudo se justificasse, porque escreveram suas simpatias pró-Israel nas portas da Casa Branca e do Pentágono, ao assumir os cargos. Como se tudo se justificasse por declararem que abdicavam de todas as suas longas histórias de serviços prestados a Israel e de orientação dada há anos a políticos israelenses – orientação que incluiu conselho muito real, por escrito, em 1996, para que Israel atacasse o Iraque.
Sempre foi muito claro para muitos analistas, durante anos, até décadas, que os EUA favorecem Israel, mas a realidade jamais foi revelada tão explicitamente, até que eventos recentes puseram a nu o relacionamento, e trouxeram à luz o fato de que no centro de praticamente todos os movimentos dos EUA na região sempre está Israel.
Sempre foi tabu falar dessas realidades, tabu que amordaçou gente como o meu interlocutor. Ninguém fala contra Israel, porque quem fale sempre poderá ser dito antissemita, acusado de “selecionar” Israel como alvo preferencial de críticas. A imprensa não discute Israel nem noticia o que Israel faz no Oriente Médio e, nunca, o que Israel faz mais diretamente aos palestinos que vivem sob ocupação militar, porque o tema sempre dispara cartas de leitores indignados e cancelamento de assinaturas de jornais e revistas, dos apoiadores de Israel que militam nos EUA. Candidatos a deputado e senador poriam em risco as gordas doações de campanha, se dissessem a verdade sobre Israel. E assim aconteceu que Israel sumiu do radar da opinião pública. Muitos progressistas até mencionam Israel “de passagem”, como meu amigo, mas nada além disso. E a crítica não avança.
Ultimamente, porque já não se fala sobre Israel, já ninguém nem pensa sobre Israel. Assim, já ninguém nem vê que Israel é o fator determinante de praticamente todas as políticas e ações dos EUA no Oriente Médio.
É tempo de começar a falar de Israel. Todos, no Oriente Médio, já começam a ver o que há para ver, como a Revolução Egípcia deixou tão claro. É provável que muitos outros, em todo o mundo, também estejam vendo. Temos de começar a ouvir a voz do povo – não dos políticos e líderes, que vivem de dizer o que supõem que nos interesse ouvir.
(*) Kathleen Christison é ex-analista política da CIA. É co-autora de Palestine in Pieces, com Bill Christison, seu marido.Recebe e-mails em kb.christison@earthlink.net
(*) Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/
Há uma espécie de ‘ponto cego’ no panorama mental de muita gente sempre que se trata de Israel – fenômeno frequente também entre os pensadores progressistas. Ninguém fala contra Israel, porque quem fale sempre poderá ser dito antissemita, acusado de “selecionar” Israel como alvo preferencial de críticas. A imprensa não discute Israel nem noticia o que Israel faz no Oriente Médi, mais diretamente aos palestinos que vivem sob ocupação militar. O tema sempre dispara cartas de leitores indignados e cancelamento de assinaturas de jornais e revistas. Assim, silencia-se sobre o fato de que Israel é o fator determinante de praticamente todas as políticas e ações dos EUA no Oriente Médio.
Há cerca de dez dias, participei de discussão especialmente interessante sobre Israel e seu relacionamento com a política dos EUA para o Oriente Médio, considerados os atuais acontecimentos no Egito e em outros países do mundo árabe. Meu interlocutor foi um dos mais brilhantes comentaristas de política norte-americana da mídia alternativa, mas disse que, para ele, Israel não teria qualquer importância considerável no que os EUA fazem na região.
Devo dizer que pode ser caso de uma espécie de ‘ponto cego’ no panorama mental sempre que se trata de Israel – fenômeno frequente também entre os pensadores progressistas. E espero que o torvelinho pelo qual passa a região acabará abrindo os olhos também dos que ainda tendem a minimizar o papel central que Israel desempenha na política dos EUA.
Os recentes eventos no Egito e os “Documentos da Palestina” publicados por WikiLeaks e divulgados pela rede al-Jazeera, com conversações entre palestinos e israelenses, aí estão, como prova escrita, mais contundentes que qualquer outra divulgação, de que os EUA fazem o que fazem no Oriente Médio em vasta medida por causa de Israel – para proteger e salvaguardar Israel contra os vizinhos árabes que se revoltam contra o tratamento que Israel dá aos palestinos; contra muçulmanos, também revoltados pelos mesmos motivos; contra todos os críticos que reclamam das agressões militares dos israelenses contra Estados próximos; contra a ira de outros Estados eternamente ameaçados por Israel; contra governos na região que não aceitam que Israel seja o único Estado nuclear e insistem em desenvolver programas nucleares próprios, que lhes deem meios para conter Israel e defender-se das agressões dos israelenses.
É instrutivo lembrar que o Egito é importante para os EUA quase exclusivamente porque assinou um tratado de paz com Israel em 1979 e ajuda a garantir a segurança de Israel, defendendo a fronteira ocidental; ajudando em ataques militares contra outros países árabes; fechando os túneis que chegam a Gaza, pelos quais o Hamás contrabandeia algumas armas, e a população de Gaza obtém comida e outros artigos essenciais; e, claro, também porque o Egito ajuda a minar o poder do Hamás em Gaza. Os EUA também consideram o Egito como roldana importante em sua máquina de “guerra ao terror” e na guerra contra o radicalismo islâmico – função também intimamente ligada aos interesses de segurança de Israel.
Obviamente, o Egito é importante, de pleno direito, na Região. O tamanho do país e sua localização estratégica garantem que sempre terá influência considerável na política do Oriente Médio, e há séculos é o coração da cultura árabe, para o que não precisa de ajuda dos EUA.
As três últimas semanas de luta do povo egípcio por democracia aumentou a importância do Egito, capturando a imaginação dos povos do mundo inteiro (exceto de muitos, talvez a maioria, em Israel e da direita linha-dura nos EUA, com destaque para a ala daquela direita que apóia Israel).
Mas a parte fundamental que interessa destacar é que os EUA não teriam o relacionamento militar, político e econômico tão íntimo que têm com o Egito há mais de 30 anos, não fosse o Egito aliado de Israel e o fato de que, nas palavras de Rashid Khalidi, especialista em Oriente Médio, o Egito sempre aceitou “a hegemonia regional de Israel”. O 1,5 bilhão anual de dólares em ajuda militar, e os 28 bilhões em assistência econômica e para o desenvolvimento ao longo dos últimos 35 anos não seriam entregues ao Egito, se o antecessor de Mubarak, Anwar Sadat, não tivesse suplicado por eles e, afinal, não tivesse concordado em assinar um tratado de paz com Israel, que removeu o Egito – o mais poderoso exército do mundo árabe – da lista das ameaças ‘existenciais’ contra Israel, abandonando os palestinos e outros partidos árabes aos seus próprios (poucos) recursos.
Com o Egito fora do jogo e já, de fato, jogando a favor, Israel ficou livre para lançar vários ataques militares contra países vizinhos, duas vezes contra o Líbano e incontáveis vezes contra Gaza e a Cisjordânia, e livre para expandir as colônias exclusivas para judeus em territórios ocupados, roubar terra dos palestinos e massacrar rotineiramente os palestinos, sem medo de retaliação nem, sequer, de qualquer manifestação mais significativa vinda de qualquer exército árabe.
O comentarista israelense Aluf Benn já destacou além disso que, com Mubarak no poder, Israel sempre poderia sentir-se seguro em relação ao flanco ocidental no caso de atacar o Irã.
Hoje, Israel já não pode atrever-se a atacar o Irã, e assim continuará até que volte (se voltar) a poder confiar que receberá do Egito “apoio tácito a todos os seus atos”. Mas quem quer que substitua Mubarak, seguindo esse raciocínio, também terá de preocupar-se com não despertar a fúria das massas, no caso de mostrar muita disposição para apoiar Israel. “Sem Mubarak, desaparece qualquer possibilidade de Israel atacar o Irã.”
Para Israel e, portanto, também para os EUA, o investimento de bilhões que os EUA fizeram no Egito sempre valeu cada vintém. O fim da “estabilidade” que o Egito assegurava – ou seja, com Israel já sem poder confiar que se manterá em segurança, como potência regional dominante – é o fator de mudou muito dramaticamente todos os cálculos estratégicos dos EUA e de Israel.
Antes do tratado de paz Egito-Israel, os EUA jamais consideraram que o Egito fosse o item de alta importância estratégica que passou a ser depois de render-se e por toda a sua capacidade militar a serviço dos interesses de Israel. Pode-se dizer o mesmo sobre as relações dos EUA com inúmeros outros estados árabes. O envolvimento dos EUA no Líbano – inclusive os esforços para tirar o exército sírio do Líbano – também se explica quase completamente pela defesa dos interesses de Israel também ali.
O fracasso da invasão de Israel ao Líbano em 1982 ainda reverbera: em resposta àquela invasão, os EUA mandaram um contingente de Marines, que se envolveu em luta direta com facções libanesas, o que levou a um ataque a bomba devastador contra o quartel-general dos Marines que matou 241 militares e agentes dos EUA em 1983. O crescimento do Hezbollah, representando a população xiita sitiada no sul do Líbano, é resultado direto da invasão israelense; o aumento no número de pessoal norte-americano seqüestrado pelo Hezbollah ao longo dos anos 1980s é resultado da hostilidade que cresceu contra os EUA, por causa do apoio a Israel. Israel retirou-se em 2000 do sul do Líbano, depois de vinte anos de ocupação, deixando atrás de si um Hezbollah mais poderoso do que jamais fora. O continuado conflito ao longo da fronteira levou ao brutal ataque de Israel contra o Líbano no verão de 2006. Mas Israel não derrotou a organização islâmica nem fez diminuir sua popularidade. Como resultado disso, os EUA já há anos estão obrigados a trabalhar para minar o poder do Hezbollah e, essencialmente, para manter o Líbano como sinecura israelense.
A Jordânia foi aliada menor dos EUA durante décadas, até que concluiu um tratado de paz com Israel em 1994 e ganhou status aos olhos dos EUA. Então, o pequeno Estado na fronteira leste de Israel passou a receber gorda ajuda militar e econômica dos EUA. O perfil oficial da Jordânia nos arquivos do Departamento de Estado dos EUA expõe os argumentos que explicam o bom relacionamento com a Jordânia, todos ligados, mais ou menos diretamente, a Israel, mas sem jamais mencionar Israel: “A política dos EUA busca reforçar o comprometimento da Jordânia com a paz, a estabilidade e a moderação. O processo de paz e a oposição da Jordânia ao terrorismo seguem e indiretamente reforçam interesses mais amplos dos EUA. Assim também, mediante assistência militar e econômica e por vias de cooperação política, os EUA têm ajudado a Jordânia a manter-se estável e próspera.”
As referências a “reforçar” o comprometimento da Jordânia “com a paz, a estabilidade e a moderação” e à manutenção da estabilidade e da prosperidade da Jordânia dizem, de fato, sobre a Jordânia ajudar a manter a área – e sobretudo a fronteira com Israel – calma. Assim também, a expressão “indiretamente reforçam interessem mais amplos dos EUA” refere-se ao compromisso de cuidar da segurança de Israel. “Moderação”, no jargão do Departamento de Estado, é palavra-código para defesa dos interesses de Israel; “estabilidade” significa sempre ambiente seguro que atenda, primeiro, aos interesses de Israel.
Pode-se afirmar com segurança que nem o Líbano nem a Jordânia jamais teriam a importância que têm para os EUA, se os EUA não considerassem importante manter calmas as áreas de fronteira desses dois países com Israel, sempre considerada, só, a segurança de Israel. O mesmo não se pode dizer da Arábia Saudita, onde os EUA têm interesses vitais no petróleo, além da preocupação com a segurança de Israel. Mas, ao mesmo tempo, os EUA controlaram todos os impulsos dos sauditas na direção de defender os palestinos ou quaisquer outros árabes sob sítio dos israelenses, e puseram os sauditas bem alinhados, pelo menos implicitamente, ao lado de Israel, em várias questões – seja quando Israel atacou o Líbano em 2006 seja em 2008-2009, quando Israel massacrou Gaza seja, ainda, no que tenha a ver com a suposta “ameaça iraniana”. Vai muito longe o tempo em que os sauditas enfureceram-se por conta do apoio dos EUA a Israel, a ponto de imporem um embargo ao petróleo, como aconteceu em 1973.
Os documentos recentemente divulgados por WikiLeaks de telegramas do Departamento de Estado e, sobretudo, a divulgação pela rede al-Jazeera de minutas de reuniões das negociações entre Israel e palestinos ao longo da última década também mostram com ofuscante clareza o quanto os EUA jogam duro, e que o jogo duro sempre funcionou, para ajudar Israel no processo de negociação com palestinos.
O apoio dos EUA a Israel jamais foi segredo, e cada vez é menos secreto ao longo dos últimos anos, mas os telegramas vazados fazem ver um quadro muito mais dramático do total desdém dos EUA pelos interesses dos palestinos nas negociações e o quanto os palestinos foram deixados sem qualquer poder de barganha ante a recusa de Israel a qualquer concessão.
Chama a atenção, naqueles documentos, que os EUA fazem o papel de “advogado de Israel” – descrição cunhada por Aaron David Miller, depois de trabalhar nas negociações durante a era Clinton. E é o mesmo papel sempre, seja nos governos Bill Clinton ou George W. Bush ou Barack Obama: sempre prevalecem os interesses e demandas de Israel.
Fora do mundo árabe, também a política dos EUA para o Irã é ditada praticamente toda, por Israel. A pressão para atacar o Irã – seja ataque direto dos EUA, ou apoio dos EUA a ataque de Israel – que está em pauta há quase oito anos, desde o início da guerra no Iraque, sempre veio toda de Israel e de seus apoiadores nos EUA. É pressão declarada, e é impossível negar o quanto Israel pressionou para que os EUA atacassem o Iraque.
Se algum dia os EUA se envolverem em ataque militar contra o Irã, diretamente, ou como força de apoio dos israelenses, acontecerá porque Israel decidiu que acontecesse. Se não houver ataque algum contra o Irã, como Aluf Benn prevê que não haverá, foi porque Israel tremeu, agora, depois de iniciada a Revolução Egípcia.
Israel e o desejo de defender a própria hegemonia regional foram fatores substancialmente importantes também para arrastar os EUA à guerra no Iraque – embora haja quem discorde, entre progressistas e conservadores, que entendem que aí haveria em jogo outras forças além das relações EUA-Israel-árabes.
Meu interlocutor progressista, por exemplo – que fez valente oposição ao envolvimento dos EUA na aventura do Iraque e também se opõe fortemente a qualquer ataque ao Irã, e está sem dúvida profundamente perturbado por os EUA não terem pressionado para a imediata partida de Mubarak – não concorda completamente com minha ideia de que Israel e seus apoiadores nos EUA são fator a considerar no envolvimento dos EUA na guerra do Iraque. No início da discussão, ele falou longamente sobre os neoconservadores, seu antigo think tank “Project for a New American Century (PNAC)” e o manifesto interesse do PNAC dos neoconservadores em fazer avançar a hegemonia global dos EUA; e defendeu a ideia de que, quando George W. Bush chegou ao poder, todo um completo think tank instalou-se na administração. Mas, embora reconheça os objetivos dos neoconservadores e o sucesso que alcançaram na implantação daqueles objetivos, nem assim concorda com que o PNAC e os neoconservadores também estivessem tão interessados em promover a hegemonia regional de Israel quanto em promover o imperialismo norte-americano.
Quando, contudo, observei que Bush não instalou só um think tank dentro do governo, mas também, simultaneamente, instalou efetivamente o lobby israelense, ou a ala mais ativa daquele lobby, nos mais altos escalões do governo, nos conselhos políticos, meu amigo logo concordou: oh, claro, ele concordou com vigor, eles (os neoconservadores) “são todos Likudniks.” Há aqui alguma espécie de desconexão, que meu interlocutor parece não perceber: além de reconhecer a íntima ligação entre os neoconservadores e Israel, ele também reconhece que os neoconservadores trabalharam, de algum modo, por Israel. Como se tudo se justificasse, porque escreveram suas simpatias pró-Israel nas portas da Casa Branca e do Pentágono, ao assumir os cargos. Como se tudo se justificasse por declararem que abdicavam de todas as suas longas histórias de serviços prestados a Israel e de orientação dada há anos a políticos israelenses – orientação que incluiu conselho muito real, por escrito, em 1996, para que Israel atacasse o Iraque.
Sempre foi muito claro para muitos analistas, durante anos, até décadas, que os EUA favorecem Israel, mas a realidade jamais foi revelada tão explicitamente, até que eventos recentes puseram a nu o relacionamento, e trouxeram à luz o fato de que no centro de praticamente todos os movimentos dos EUA na região sempre está Israel.
Sempre foi tabu falar dessas realidades, tabu que amordaçou gente como o meu interlocutor. Ninguém fala contra Israel, porque quem fale sempre poderá ser dito antissemita, acusado de “selecionar” Israel como alvo preferencial de críticas. A imprensa não discute Israel nem noticia o que Israel faz no Oriente Médio e, nunca, o que Israel faz mais diretamente aos palestinos que vivem sob ocupação militar, porque o tema sempre dispara cartas de leitores indignados e cancelamento de assinaturas de jornais e revistas, dos apoiadores de Israel que militam nos EUA. Candidatos a deputado e senador poriam em risco as gordas doações de campanha, se dissessem a verdade sobre Israel. E assim aconteceu que Israel sumiu do radar da opinião pública. Muitos progressistas até mencionam Israel “de passagem”, como meu amigo, mas nada além disso. E a crítica não avança.
Ultimamente, porque já não se fala sobre Israel, já ninguém nem pensa sobre Israel. Assim, já ninguém nem vê que Israel é o fator determinante de praticamente todas as políticas e ações dos EUA no Oriente Médio.
É tempo de começar a falar de Israel. Todos, no Oriente Médio, já começam a ver o que há para ver, como a Revolução Egípcia deixou tão claro. É provável que muitos outros, em todo o mundo, também estejam vendo. Temos de começar a ouvir a voz do povo – não dos políticos e líderes, que vivem de dizer o que supõem que nos interesse ouvir.
(*) Kathleen Christison é ex-analista política da CIA. É co-autora de Palestine in Pieces, com Bill Christison, seu marido.Recebe e-mails em kb.christison@earthlink.net
(*) Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/
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