Ativistas pedem ao mundo que detenha massacre - Por Emad MekayCairo, Egito, 22/2/2011 – Grupos de direitos humanos criticam a falta de ação da comunidade internacional diante dos “massacres” cometidos pelo regime de Muammar Gadafi, que lançou uma sangrenta repressão contra manifestantes pró-democráticos, matando centenas de pessoas em apenas cinco dias de protestos. Os distúrbios chegaram no dia 20 à capital Trípoli, vindo da cidade portuária de Bengazi. A forte repressão do regime e um ameaçador discurso feito pelo filho de Gadafi, Seif el Islam, não detiveram os manifestantes, que ontem chegaram inclusive a atacar a sede central do governo na capital, segundo informou a rede pan-árabe Al Jazeera.
A Organização pelos Direitos Humanos, com sede no Cairo, condenou o uso da violência contra os manifestantes e pediu uma investigação internacional. Por sua vez, o grupo Humanity, com sede em Viena, disse que o massacre cometido pelo regime líbio equivale a “crime de guerra”. Há informes diversos sobre o número de mortos, e a estimativa é que chegaria a centenas. A organização Human Rights Watch (HRW) informou que 173 pessoas teriam morrido. O jornal londrino Libya Al-Youm citou um médico local informando que 285 pessoas morreram na cidade de Bengazi. Segundo uma testemunha que falou à Al Jazeera por telefone, cerca de 300 pessoas teriam morrido em Bengazi, a segundo maior cidade do país.
Gadafi, que está no poder desde 1969, tenta evitar ter o mesmo destino que os presidentes da Tunísia e do Egito, derrubados nas últimas semanas por protestos populares semelhantes. Por isso, lançou uma repressão muito mais dura do que as desses países. Sua tática inclui suspender a distribuição de alimentos, combustível e remédio, bem como eletricidade, nas cidades onde há protestos. O regime também cortou as comunicações para impedir que os protestos se espalhem para outras cidades. Entretanto, tudo isto não impediu que as manifestações chegassem a Trípoli, no dia 20.
Meios de comunicação pan-árabes dizem que as tropas de Gadafi usaram balas reais e armas militares pesadas, como mísseis antitanques, para reprimir os protestos em Bengazi. O jornal Libya Al Youm divulgou em seu site, no dia 20, que as forças governamentais utilizavam “armas pesadas” e disparavam ao acaso. O jornal também fez um apelo para que sejam enviados com urgência suprimentos para os hospitais de Bengazi, incluindo sangue. “As forças de segurança da Muammar Gadafi disparam contra cidadãos líbios e matam dezenas apenas porque pedem mudança e exigem responsabilidade”, disse o subdiretor para o Oriente Médio e Norte da África da HRW, Joe Stork.
Enquanto isso, o governo tenta apresentar a revolta como um complô estrangeiro para desestabilizar o país, argumento usado por muitos outros regimes árabes. Depois de uma longa história de colonização por parte de potências ocidentais e de Israel nos territórios palestinos, os povos árabes sentem uma grande desconfiança quanto à interferência externa.
A estatal Agência de Notícias Líbia (Jana) informou no dia 20 que o governo lutava contra um complô inspirado por Israel para criar a anarquia no país. Também afirmou que não havia genuínas reclamações populares por trás das manifestações. Israel financia forças de “separação” na região árabe, acrescentou a Jana. O jornal Al Shams, controlado por um ramo do Ministério da Informação, disse que o governo havia exposto uma “rede de elementos externos” em várias cidades líbias.
Porém, informações publicadas na Internet por manifestantes líbios mostram que os participantes dos protestos realmente querem uma mudança de regime e democracia. Os distúrbios se concentram em torno das cidades orientais, em particular em Bengazi. Também foram informados protestos em Baida, Ajdabiya, Zawiya e Derna, antes de se propagarem até Trípoli.
Os protestos começaram no dia 17, depois que ativistas convocaram pela Internet para um “Dia de Fúria” contra as condições políticas e econômicas impostas pelo regime de Gadafi. No dia 20, o site LibyaFeb17.com divulgou comentários condenando a indiferença internacional à repressão. “Precisamente este silêncio é a principal preocupação nesta situação aterradora”, disse. O site publicou estes comentários após o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, dizer, no dia 19, que não “molestaria” Gadafi.
Em 2009, o governo líbio fez investimentos na ENI, companhia petroleira italiana que operava na Líbia desde 1959. A ENI é a principal produtora estrangeira de petróleo em território líbio. A Grã-Bretanha informou no dia 18 que revogaria as licenças para exportação de armas para Líbia e Bahrein, outro país árabe cujo governo reprime protestos populares. A proibição limitará a venda de gás lacrimogêneo e balas que poderiam ser usados contra manifestantes. Gadafi havia se mostrado firme e tranquilo depois que seus aliados Zine El Abidine Ben Ali e Hosni Mubarak foram derrubados, respectivamente, na Tunísia e no Egito, nas últimas semanas.
O canal estatal líbio Al Jamhiriya TV, transmitido via satélite para outras nações árabes, divulgou entrevistas com altos funcionários do governo que pediam calma, garantindo estar “iniciando um diálogo”. Os funcionários diziam que o governo investia “centenas de milhões” de dólares para melhorar a vida dos líbios, remodelando a infraestrutura, as estradas, escolas e universidades. O canal continua difundindo cançoes de elogio a Gadafi, enquanto cada vez mais manifestantes estão nas ruas. Envolverde/IPS
Fonte: (IPS/Envolverde)
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
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