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Um pouco depois, os tweets e mensagens de texto – um serviço restaurado apenas agora – desde a praça conclamavam mais ativistas à região, diante do rumor de que o exército iria forçar a evacuação. Foram atendidos: mesmo com a noite avançada, os egípcios chegavam em massa à praça. E o exército, que tentava barrar a entrada e havia prometido fazer cumprir as horas do toque de recolher, foi obrigado a ceder e abrir a passagem.
A mobilização adquire um claro caráter de organização para a resistência passiva, tendo inclusive recusado as propostas para avançar em direção ao palácio presidencial. É um feito extraordinário que tenha resistido numa praça simplesmente gigantesca e arterial na cidade.
No entanto, sua maior vitória é ter conseguido se renovar constantemente, ao pontuar dias especiais em que os atos se enchem de uma carga sentimental poderosa. Foi o caso do dia da Fúria, do dia da Partida e certamente segunda-feira, no dia dos Mártires. E, assim, vem quebrando, uma por uma, as táticas de quem se opõe à vontade popular.
Não se trata mais apenas de Mubarak. Todos os que tentam pactuar nas coxias um acordo pra manter o status quo social e geopolítico do Egito arriscam somar-se ao rol de instituições que o povo não esquecerá no seu acerto de contas de 30 anos. Hoje (6/2), queimaram-se em especial o Exército e o governo norte-americano. O general Hassan el-Rawani entrou na praça para discursar pedindo a volta à casa, mas em resposta ouviu a palavra de ordem “Não vamos sair, ele é que vai!”.
*Publicado originalmente no blog Um brasileiro no Egito. Luiz Gustavo Porfirio é historiador, ativista da causa palestina e enviado especial ao Egito pelo jornal Opinião Socialista.
Fonte: Opera Mundi
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