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As tropas americanas disseram ter visto um homem armado com um disparador de foguetes numa das janelas do hotel. Sob a presumida ameaça de fogo inimigo, a tripulação do tanque – composta pelo sargento Shawn Gibson, o capitão Philip Wolford e o tenente-coronel Philip DeCamp – optou pelo disparo certeiro, que, numa fração de segundos, converteu o que seria um reflexo impecável, numa grave violação às normas da guerra, passível de ser interpretada até mesmo como um crime de guerra.
Hoje, sete anos após a tragédia do Hotel Palestine, um grupo de jornalistas e juristas espanhóis ainda luta pelo direito de saber exatamente o que aconteceu naquele dia 8 de abril. A elucidação dos fatos é o único caminho para punir os culpados. Em novembro do ano passado, o Wikileaks vazou uma série de correspondências diplomáticas sobre o caso, mostrando que o então embaixador americano em Madri, Eduardo Aguirre, pressionou o governo espanhol de José Luis Rodríguez Zapatero a ocultar o crime, impedindo que uma comitiva da Justiça espanhola viajasse a Bagdá para colher depoimentos e realizar as diligências necessárias para seguir adiante com a investigação. Um juiz espanhol chamou quatro jornalistas que estavam presentes no hotel para testemunhar, além de ter indicado três peritos para visitar o local dos fatos no fim de janeiro. Mas o governo espanhol diz ter “problemas para dar segurança à comitiva”, apesar de o Iraque receber todos os meses inúmeras visitas de chefes de Estado acompanhados por gigantescas comitivas de repórteres de todas as partes do mundo.
A família de Couso está colhendo assinaturas numa campanha que tenta persuadir o governo espanhol da dar seguimento à investigação (Clique aqui para acessar). Para o Comitê de Proteção dos Jornalistas, “ainda que não tenha sido deliberado, o ataque aos jornalistas poderia ter sido evitado”.
Julgar o resultado de operações militares à distância, longe das circunstâncias em que elas ocorreram, é sempre um risco, dizem as Forças Armadas de todo o mundo. Mas não há outra forma de fazê-lo. Por isso, a visita da comitiva ao terreno seria tão importante. De qualquer forma, a ação americana no Hotel Palestine já configura, pelo menos, uma clara violação aos princípios de distinção e precaução, previstos nas Convenções de Genebra de 1949.
*João Paulo Charleaux é jornalista.
Fonte: Opera Mundi
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