Para Toni Negri, já surgem os movimentos que reverterão a onda
conservadora. Mas é preciso sacudir os programas e métodos da esquerda no
século 20 — e abraçar a Renda Universal
Quando
nos sentamos ao redor da grande mesa de seu apartamento em Paris, Antonio
Negri, aos 84, traz nas mãos um monte de anotações, olhar tenso e ar exigente.
Está impaciente com a gripe que o atormenta desde que voltou de viagem ao
Brasil, onde lançou seus livro Negri no Trópico e As
Verdades Nômades.
“Não
estou conseguindo trabalhar como gostaria”, diz ele, autor, com Michael Hardt,
de uma tetralogia sobre as mutações do capitalismo, composta por Império, Multidão, Bem
Comum e Assembly [este, ainda sem tradução para o
português]. Filósofo de renome internacional, está agora trabalhando na
segunda parte de sua autobiografia. O título da primeira parte é revelador: Storia
di un comunista (História de um comunista).
Ele
já tem planejado um novo volume a ser escrito com Hardt. Entre o desejo
spinozista e a prática marxista, Negri não deixa tempo para reminiscências, e
conversamos a partir de uma posição contemporânea. Eis sua entrevista.
Hoje,
uma palavra como “revolução” parece merecer crédito apenas de assessores de
imprensa pagos para inventar programas eleitorais. Para você, que acreditou tão
intensamente na revolução a ponto de mudar radicalmente seu próprio estilo de
vida, que significa essa palavra?
Para
mim, significa que uma revolução não é feita – ela faz você. É preciso parar
desmistificá-la: A revolução significa viver e construir momentos de inovação e
ruptura constantemente. A revolução é uma ontologia, não um evento. Não está
incorporada num nome, seja Jesus Cristo, Lênin, Robespierre ou Saint-Just.
A
revolução é o desenvolvimento de forças produtivas, dos modos de vida comuns, o
desenvolvimento da inteligência coletiva. Nunca pensei em fazer uma revolução e
assumir o poder no dia seguinte.
Quando
era jovem, pensava que o Comitê dos Trabalhadores de Marghera [em Veneza]
organizaria a própria sociedade em torno de um conselho de trabalhadores e seus
ideais, a partir do modelo da fábrica. Isso foi nos anos 1970. Hoje as coisas
são muito diferentes, e existe outro modo de produção: você pode organizar a
sociedade a partir de uma renda básica universal, de novos tipos de trabalho,
de novas escolas e formas de associação, de novas formas de lazer, escapando do
tédio e do desespero em que vivemos.
Nunca
pensei que a revolução seria alguma coisa que leva ao poder, mas antes algo que
muda o próprio poder. Significa adquirir poder de outra maneira. Essa é uma
diferença fundamental: significa não ser concebida de cima pra baixo, mas a
partir de baixo. A revolução acontece quando alguém é capaz de mostrar que,
hoje, o Comum está emergindo no modo de produção que informa a vida. A
revolução não é mais a “parteira da história”, que tem o fórceps nas mãos – é
antes a própria criança.
Em
comparação com a linguagem e as imagens correntes, sua abordagem sempre foi
não-conformista, para dizer o mínimo. Em geral você recebe uma resposta polida
de que está sendo otimista, utópico, visionário. Há na esquerda essa atitude
sempre impiedosa, realista, ocupada com o esforço voluntarista de unir, ou de
evocar aquilo que falta. Onde você se encontra, dessa perspectiva?
Posso
responder narrando certo episódio, um caso bem concreto. Há alguns dias,
Michael Hardt apresentou nosso livro Assembly em Londres. Ele teve um
encontro com a “Momentum”, uma rede de trabalho de base que apoia o Partido
Trabalhista e Jeremy Corbyn. O encontro entre jovens e velhos corbynistas é
impressionante, pessoas que viveram 1968 e as lutas dos anos 70 e que hoje são
puxadas pelo entusiasmo dos mais jovens, que participaram das lutas
altermundistas e do movimento Occupy, as mais recentes dessa geração. Quem
falta são as pessoas entre 35 e 60 anos, a geração Blair. É nesses encontros
que está sendo formada a nova esquerda, e é nessas condições que estamos
conseguindo, hoje, nos encontrar e superar as velhas barreiras da cultura
social democrata.
No
ano passado falou-se muito de Bernie Sanders, nos Estados Unidos. O que pensa
da experiência dele?
Estamos
em contato com uma amiga que ocupa posição de liderança no movimento de
Sanders. Pelo que ela conta, entendemos que o Partido Democrata norte-americano
é uma máquina poderosa que é péssima na gestão de si mesma, não reage ao que é
novo e impulsiona os clássicos temas social democratas que não são efetivos.
Neste
seu livro, você descreve a emergência extraordinária e dramática do movimento
norte-americano Black Lives Matter [Vidas Negras Importam]. O que pensa sobre
ele?
Black
Lives Matter é o futuro. É a expressão de um movimento sem liderança. Há muitos
como ele no mundo, e a esquerda deve compreendê-los em toda a sua amplitude: os
movimentos dos indígenas, por exemplo, que lutam pela propriedade comum, oferecem
experiências extraordinárias. E da mesma forma os novos movimentos feministas,
com sua forte subjetividade.
É
a própria forma do capitalismo que revela essas novas forças produtivas e essas
experiências de ruptura. Isso não é somente um discurso marxista, é um discurso
realista, se queremos finalmente nos libertar do “breve século 20″, escapar
dessa agonia de uma vez por todas.
Você
sempre fala do ponto de vista dos movimentos. Em Assembly, você não faz
reticências à análise da crise desses movimentos, e sugere que não deveríamos
subestimar “o poder duradouro daqueles que lutam e são derrotados”. O que quer
dizer com isso?
Voltemos
ao paradoxo Corbyn: a geração de 68 que se encontra com os jovens de hoje.
Basta que lhes deem um sinal, e aqueles que então foram derrotados se
levantarão novamente. Porque como parte da luta eles aprenderam a generosidade,
a cooperação, e conseguiram uma vitória pela solidariedade. Esses são “vícios”
que você adquire um dia, e não consegue mais livrar-se deles.
Se
alguém pudesse traçar uma história foucaultiana dos movimentos na Itália, seria
possível entender como muitos “cínicos”, militantes comunistas coléricos,
são encontrados por todo lado. Falo de pessoas que cresceram com o “desejo de
saber” e de ação revolucionária, e essa foi a maneira como aprenderam a amar
aos outros e à própria vida.
Você
escreve que, de 2001 pra cá, os movimentos têm reivindicado um novo começo para
a esquerda, mas têm mostrado “pobreza organizacional” e não cresceram ao nível
do problema que apresentaram. Não há risco de repetirem os velhos fracassos sem
avançar um milímetro sequer?
Precisamos,
de uma vez por todas, livrar-nos da ilusão de que alguma outra coisa pode
surgir dos movimentos. Os movimentos quase sempre expressam o fim de um discurso
– não produzem um evento, antes marcam sua conclusão. Sessenta e oito não foi
um evento específico, mas uma construção feita no tempo. Porque antes houve os
anos 60, houve uma massa política em nível global durante algum tempo. Na
Itália, esse tipo de política foi poderosa o suficiente para durar 10 anos, e
foi até o movimento de 1977. Os movimentos hoje não entendem que precisam
construir, não apenas colher os frutos.
Tenho
ouvido companheiros que vêm do movimento antiglobalização, ou das lutas universitárias,
dizendo que depois das manifestações era tempo de criar uma organização. Mas se
ainda não tivessem criado antes delas, nunca teriam conseguido realizá-las.
Teriam sido apenas identificados pela polícia como aqueles a ser derrotados.
Precisamos acabar com essa noção de que o movimento depois vai formar o
partido, a coalisão, ter alguma forma de resultado. Os movimentos são eles
próprios a força, a essa força será reconhecida.
Os
movimentos são a estratégia. Eles não nasceram de um alento do espírito, ou por
um mistério que de repente se incorpora à sociedade. Eles são construídos
concretamente, passo a passo, junto com milhares de outras pessoas, cada um
começando de si próprio. A política é construída em conjunto.
Os
sovietes são um modelo para pensarmos, nascidos de um modo de produção
especifico, reunindo forças produtivas e sociais. Hoje, num mundo completamente
diferente, continuam a ser um instrumento poderoso.
Os
sovietes ainda são relevantes?
Hoje
temos de construir instituições não-governamentais e não-corporativas. Elas
funcionariam tanto na gestão da água como bem comum como na batalha contra a
violência policial na França ou nos Estados Unidos, nas grandes lutas indígenas
da América Latina e nas lutas feministas. A invenção de uma nova estrutura
política pode nascer apenas da conexão entre essas forças. Uma instituição não
é criada por um soberano, mas pela necessidade de estar juntos, de produzir e
viver juntos.
Essa
era a ideia básica dos sovietes: organizar o modo como existimos juntos numa
sociedade industrial, onde a cooperação social está num nível avançado e tem
capacidade de exercer o poder por meio da construção política de uma força
produtiva.
No
livro, você usa uma expressão interessante para descrever essa construção: “o
empreendedorismo de multidão”. O que isso significa?
Estão
nos atacando por causa desse conceito em algumas críticas no mundo anglo-saxão.
Empreender, dizem eles, não pode ser separado de neoliberalismo. Mas penso que,
hoje, a relação entre empreendedorismo e instituição – do verbo latino instituere
– é algo que poderia ser estudado em toda a sua profundidade. O trabalho é
sempre um istitutio. Mas atualmente essa capacidade está sendo destruída
ou escondida sob um falso conceito de liberdade.
Criar
um empreendimento significa deixar a força de trabalho livre para organizar-se.
Esse é o discurso político que o capitalismo está roubando dos trabalhadores.
Acreditamos porém que se começa a fazer política quando a força de trabalho
ganha capacidade de organizar-se produtivamente.
E
tudo isso deve ser alcançado por meio de um partido? É isso que você sustenta?
Absolutamente
não. Hoje, a autonomia da política não é mais leninista – ela é o populismo. Em
cada tempo, a autonomia da política é qualificada de um modo, se o desejo é de
evitar falar dela em termos gerais. E atualmente a autonomia da política foi
reduzida a um jogo de linguagem que usa categorias institucionais, com a
intenção de construir um povo submisso.
Estou
lendo sobre o que está acontecendo na Itália, onde a legislação eleitoral
tornou-se há muito tempo o locus central desse uso discriminatório da política.
É manipulação pura e simples das pessoas e do consenso geral.
Em
jogo encontra-se não apenas um critério mínimo de representação, que penso
estar cada vez mais em crise, mas algo mais profundo: O objetivo é impedir que
as pessoas façam experimentos com novas formas institucionais e produtivas de
autogovernar-se.
A
social democracia está em crise, que muita gente acredita poder ser superada
através de uma “versão de esquerda” do populismo. Você pensa que o Podemos ou o
trabalhismo de Corbyn podem ser interpretados dessa maneira?
O
populismo de esquerda é um populismo de “substituição”. Duvido que essa lógica,
teorizada pelo filósofo argentino Ernesto Laclau, possa algum dia inventar
fórmulas diferentes das do “socialismo nacional”. Na Espanha houve um grande
debate dentro do Podemos sobre essa questão. E a tendência nacional-populista
venceu.
A
controvérsia foi com os movimentos, em torno do papel do partido em relação a
eles: se deveria apoiar os movimentos e criar uma coalizão ou ser um partido
clássico capaz de encontrar seus eleitores. Venceu o populismo de
“substituição”, não um projeto de reforma da esquerda.
Na
outra ponta do espectro do populismo, Alice Weidel, do partido Alternativa para
a Alemanha (AfD), representa uma reversão sensacional das posições dos
movimentos: lésbica, casada com uma cidadã do Sri Lanka, trabalhou para a
Goldman Sachs e a Allianz, ao mesmo tempo apoia políticas xenofóbicas e
islamofóbicas e é contra o casamento de pessoas do mesmo sexo. O que essa
figura representa?
Representa
o vazio que se reproduz a si mesmo. Como outras figuras, ela não é um sujeito,
mas um produto. Tal produto nasce apelando ao pior dos instintos e chega ao
ponto da contradição mais absurda com o que realmente acontece em sua própria
vida. É a isso que leva o populismo, em sua essência: criar um povo que é
inclusive contra a própria realidade. Essa contradição está ligada ao conceito
de nação, e depois, na ordem, ao de pertencimento regional e familiar.
Articulam-se dessa maneira formas de propriedade e de fronteira. O grande risco
é o da corrupção que emerge daí. Vi no decorrer da minha vida muita gente fazer
coisas terríveis em nome da família, incluindo as piores formas de corrupção.
Por trás dessas formas de filiação há apenas barbárie e tribalismo.
Quais
os outros tipos de populismo?
Trump
é um exemplo claríssimo. Macron, na França, é parecido com ele à sua própria
maneira, embora se comporte como um tecnocrata que leva direita e esquerda em
direção ao centro, de acordo com o projeto de Juppé.
À
esquerda e à direita, encontramos vários populismos “renovados”. No grupo
Mediaset, no caso de Berlusconi; online no caso do Movimento 5 Estrelas.
Melenchon, na França, distingue entre a soberania popular – a da Revolução de
1789 – e o soberanismo, que seria um conceito de direita; entre o ideal de
“nação” e o de “nacionalismo como etnicismo”.
Nesse
e em outros casos, tais como entre os bolivarianos da América do Sul, as
pessoas nunca refletem suficientemente sobre o fato evidente de que são os
setores dominantes e os ricos que conduzem o processo e falam em nome dos
muitos.
É
possível inclusive que essa ideia de “populismo” produza uma reviravolta contra
os movimentos, particularmente nos de imigrantes, amplificando um “senso comum”
xenófobo e racista. Um risco que se pode entrever também no trabalhismo inglês
ou no Partido de Esquerda [Die Linke] alemão. Como explicar essa ambivalência?
Há
duas ideias que jamais seremos capazes de separar da social democracia herdeira
do “século breve”: as de propriedade e de fronteira. São uma bactéria mortal,
hoje enraizada no coração da Europa, quando se constroem muros ou quando se
movem as fronteiras através do Mediterrâneo, condenando imigrantes à morte nos
campos da Líbia.
Rousseau
dizia que o maior criminoso já nascido foi aquele que disse, antes de todos:
“Isso é meu”. Mas houve um criminoso ainda maior, Rômulo, que disse: “Essa é
minha fronteira”. São a mesma coisa, propriedade e fronteira.
A
social democracia amadureceu essa cultura depois de 1848, com a revolução
romântica. Estou pensando em Mazzini. Ele foi,
desse ponto de vista, o primeiro democrata social – apoiou a República Popular
e a centralidade da nação, dois elementos que sempre exibiram uma síntese
reacionária, popular-nacionalista. A segunda Internacional Socialista foi
atravessada por esse espírito contra o internacionalismo comunal e tentou combinar
nacionalismo e revolução.
Por
outro lado, o bolchevismo foi formidável do ponto de vista da revolução mundial
porque unificou o comunismo, o anti-imperialismo e o anticolonialismo. A
tragédia do anticolonialismo foi o retorno do nacionalismo.
Isso
levou a um grande erro, ainda hoje recorrente nas decadentes políticas
centristas: pensar que a aliança do proletariado com as classes médias e
progressistas é um passo estratégico, e não meramente tático. Os vários tipos
de populismo estão repetindo atualmente o mesmo erro: pensam que o conceito de
nação anula o de classe. É um problema que ainda temos de confrontar.
Ouvimos
cada vez mais frequentemente que a alternativa ao neoliberalismo e a crise são
o trabalho, o pleno emprego, o keynesianismo, as nacionalizações. Isso é um
solução?
Essas
são propostas que continuam presas à agonia do “século breve”, em que ainda nos
encontramos. Estamos até agora discutindo alternativas que já se mostraram
ineficazes: formas de socialismo nacional e de Estado, e um liberalismo
corporativo e privado. Continuamos reféns da distinção entre público e privado,
e não enxergamos tudo o que se passou por baixo e atravessou o século 20 até
hoje. E o que aconteceu?
A
derrota da ideologia do privado e do público, por causa da transformação do
modo de produção. Há um novo agrupamento das forças produtivas, determinado
pela transformação do trabalho, que o tornou comum e singularizado, removendo-o
tanto da esfera privada quanto da pública. É uma força de trabalho que funciona
apenas cooperativamente. Quer dizer, de maneira cada vez mais comum. O problema
hoje é a organização da produção social e a distribuição de renda, não o pleno
emprego.
A
distinção entre o trabalho/emprego e a nova capacidade laboral e cooperativa é
o elemento central do debate, e envolve consequências radicais na esfera
fiscal, assim como políticas sociais e industriais profundamente diferentes
daquelas do passado.
A
esquerda e os sindicatos sustentam que um Estado “inovador” será capaz de criar
tecnologias revolucionárias na green economy, nas telecomunicações, na
nanotecnologia ou na área farmacêutica. As novas instituições de que fala no
livro vão para além do Estado; qual a relação delas com essa categoria que
volta a ter sucesso?
Que
venha esse Estado, desejo que tenha boa sorte. Contudo, permita-me notar que
esses setores se encontram no mercado, organizados como mecanismos para extrair
valor socialmente produzido, e como tais são protegidos, ainda que
precariamente, pelo Estado.
Em
Assembly, nós nos perguntamos se essas maravilhas tecnológicas podem
estar sujeitas a escolhas e decisões democráticas. Respondemos que não. Não até
que se reconheça o sistema de exploração extrativo e proprietário (patentes,
rendas financeiras, organizações monetárias) no qual operam essas indústrias; e
até que esse reconhecimento seja seguido de um processo democrático de
reapropriação dos bens comuns.
Agora
é o momento de reapropriação do comum por parte de seus produtores, e de
reorientação democrática da gestão do comum: não é o Estado, mas os produtores
quem têm de dizer para que servem essas tecnologias, que benefícios e que
desvantagens acarretam.
A
força de trabalho está cada vez mais organizada por plataformas digitais: Uber,
Deliveroo ou Task Rabbit. O poder dos “senhores do silício” é tão amplo que
leva a acreditar que o algoritmo transmite uma ideia popular e transparente de
democracia. A revolução digital conduz a isso?
Nessas
plataformas, os trabalhadores não pensam desfrutar de um maior grau de
democracia! E lutam e resistem a uma exploração bestial. É importante, todavia,
que se coloque o problema: é possível reverter o funcionamento do algoritmo de
comando das plataformas digitais? Longe de imaginar reversões utópicas das
plataformas digitais em circuitos de cooperação, só será possível dominar esses
monstros mediante o desmantelamento das condições políticas nas quais o
algoritmo é imposto: as do direito privado e sua legitimação estatal.
Mark
Zuckergerg do Facebook admitiu a importância da renda básica. Será o Vale do
Silício a realizar aquela que é definida como uma utopia concreta?
Zuckerberg
nos obriga a estudar as maneiras por meio das quais a tecnologia e a atividade
laboral se entretecem na produção e no uso das mídias sociais. É lá, naquele
espaço, que paradoxalmente torna-se possível reconstruir a democracia. Creio
que é nesse espaço que vai ser reaberta a busca dos revolucionários: o espaço
que, mutatis mutandis, há 150 anos Marx analisou no primeiro volume de O
Capital. Lá, onde o homem se defronta com a exploração de novas máquinas e
de novos patrões, é que renasce a classe e que a revolução se repropõe.
Então
você está convencido de que somente uma renda básica nos salvará?
Não,
é óbvio que em si mesma ela não pode resolver o problema. É o elemento preliminar,
e também central, para a reorganização social baseada no Comum e a superação
das categorias de propriedade privada e pública. É no terreno financeiro que é
preciso confrontar-se. O problema é o comando das finanças. O Palácio de
Inverno hoje são os bancos centrais.
Entrevista
a Roberto Ciccarelli, na Euronomade | Tradução:
Inês Castilho | Imagem: Stelios Faitakis
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