Contradição moral: Por que estamos tão horrorizados com a carne de cavalo?
Foto: Reprodução
Ao longo dos últimos dias, enquanto as notícias apareciam relatando o ‘escândalo’ da carne de cavalo que acontece por toda a Europa, consumidores americanos e europeus ficaram igualmente horrorizados. Caso você tenha perdido, DNA de cavalo foi encontrado em produtos como lasanha e hambúrguer no Reino Unido. Entre as companhias de carne responsáveis pela falha estão grandes organizações alimentícias como o Burger King do Reino Unido, e a gigante do fast food já enfrentou uma espantosa reação. Clientes usaram o facebook e o twitter para expressar sua indignação e preocupação sobre o escândalo de modo que forçaram o Burger King a colocar anúncios em vários jornais importantes se desculpando pelo incidente.
Por que, eu quero saber, os consumidores estão tão horrorizados?
O (jornal britânico) The Guardian entrevistou clientes de um restaurante em Londres sobre o escândalo da carne de cavalo, a entrevista revelou algumas respostas interessantes.
Kashyap Raja, 28, comentou que apenas queria saber o que estava comendo. Outro cliente, Amit Bhadd, 30, vegetariano, expressou o mesmo tipo de preocupação, mas atentou para o fato de que ele ficaria “preocupado se traços de carne fossem encontrados em alguma coisa que deveria ser vegetariana.”
Existe um argumento apresentado de que os clientes devem estar conscientes do que exatamente está nos seus produtos e talvez seja por isso que eles estejam com raiva. No entanto, ao menos nos EUA, não nos importamos quando os alimentos embalados contêm coisas como gelatina, que o Google descreve como “uma substância sólida, translúcida, incolor, quebradiça, derivada do colágeno de diversos subprodutos animais.” Diversos subprodutos animais – com certeza soa apetitoso, não é?
Não nos importamos também, quando há insetos moídos na nossa comida. Não podemos argumentar que a fraude nesse caso tenha sido mais notória do que qualquer outra, então por que tanta indignação?
Se o argumento de informação ao cliente é eliminado, então parece que as pessoas em geral ficam chateadas de estarem comendo cavalos. Cavalos, na maioria das culturas, são tratados quase como animais de estimação. Nós não os mantemos dentro de casa e os levamos em viagens de família, mas para aqueles que têm cavalos de companhia, eles certamente se tornam membros da família. Mesmo que você não se considere um orgulhoso pai/mãe de um equino, a reação instintiva é geralmente fazer carinho no animal ou admirar sua beleza, não matá-lo.
Isso se dá por que há algo especial sobre cavalos? Eles são mais espertos, mais parecidos com os humanos ou mais especiais de algum modo do que outros animais que comemos?
Talvez. Mas o fato é que porcos são considerados mais inteligentes que ambos, cavalos e vacas. Então a inteligência animal, como informação ao consumidor, também não pode ser tida como métrica para a indignação.
É interessante o fato de um consumidor francês entrevistado pelo The Guardian comentar que não estava chateado sobre a carne de cavalo. “Sou francês, nós comemos carne de cavalo na França, então eu não me importo,” ele disse.
Isso é cultural? Talvez. No Reino Unido eles não comem cavalo, mas comem peixe. Na Índia não se come vacas, mas come-se cordeiro. Nos EUA, não comemos cachorro, mas comemos frango. Por quê?
Isso é cultural? Talvez. No Reino Unido eles não comem cavalo, mas comem peixe. Na Índia não se come vacas, mas come-se cordeiro. Nos EUA, não comemos cachorro, mas comemos frango. Por quê?
Algumas culturas comem animais que outras culturas achariam ofensivo, mas o tema principal é que todos ficam horrorizados ao descobrir que estão comendo um animal sem saberem antes de qual se trata. O que me leva de volta a questão do porquê. Por que é tão diferente descobrir que você está comendo um animal e não outro?
Talvez os consumidores que estão tão chateados com o incidente da carne de cavalo devessem perguntar a si mesmos sobre a resposta. Por que é aceitável imaginar que você está comendo uma vaca – um animal inteligente, amável e lindo – mas se você descobrir que se trata de outro animal inteligente, amável e lindo, de repente isso vira um problema? Não pode ser por causa de nenhuma diferença inerente às espécies, então o que torna isso tão vil?
Eis a resposta: nada. Nada relacionado a comer cavalos ou cachorros é diferente de comer vacas ou frangos. Ambos os atos estão tirando a vida de um animal inocente e o colocando no seu prato. A diferença é que nós, enquanto cultura, parecemos ter decidido arbitrariamente que é confortável fazer de gatos e cachorros nossos animais de companhia e fazer de porcos e peixes nosso jantar.
O fato de tirarmos a vida de um animal para nos alimentarmos deveria nos fazer sentir chateados e indignados, não importa qual. Na verdade não há nenhuma boa razão para distinções entre as espécies, no entanto de alguma maneira nós decidimos fazê-la.
Da próxima vez que você se sentar para comer um bife ou um frango ou peixe, pergunte a si mesmo como você se sentiria se descobrisse que é o cachorro da sua família que está no prato ao invés do animal que você achava que estaria. Você ficaria tremendamente chateado, não ficaria?
Então, por que você não se preocupa com a vida do animal que está diante de você?
Tradução por Kalyne Melo (da Redação)
Fonte: http://www.anda.jor.br/
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